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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Homilia da Ordenação Diaconal de Frei Paulo Maria, OFMConv.

Com a permissão expressa de sua Excelência Reverendíssima, Dom Adair José Guimarães, Bispo de Rubiataba/Mozarlândia-GO, publicamos a linda, catequética e litúrgica homilia, proferida na ordenação diaconal de Frei Paulo Maria, OFMConv., no último 27 de novembro. Todos os grifos são nossos.

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“O zelo pela tua casa me consumirá” (Jo 2,17).

Reverendíssimo Senhor Provincial, Comunidade Franciscana, Sacerdotes, Diáconos, Seminaristas, religiosos e consagrados, benfeitores, Povo de Deus e familiares do ordinando.
  
A Província São Maximiliano Maria Kolbe celebra duas alegrias neste dia: a ordenação diaconal do Frei Paulo Maria e a bênção de reinauguração deste maravilhoso Santuário Nossa Senhora Imaculada Conceição, edificado neste lugar de grande significado para nós: o Jardim da Imaculada. Quantas pessoas encontram neste ambiente o caminho de sua conversão e santificação. O desejo da Santíssima Virgem será sempre este: nossa conversão e santificação. Dom frei Agostinho, na sua carta de 04 de outubro último aos seus confrades e amigos diz “esperar que o Jardim da Imaculada seja sempre um lugar muito especial para todos os Frades da Província. Que seja o lugar de inspirações, de formação e de muitas obras de apostolado”.

Este santuário será um espaço importante para o cultivo da espiritualidade e do amor a Nosso Senhor. A Santíssima Virgem quer nos levar sempre mais ao Cristo. Tudo se encaminha bem na vida do cristão que não dispensa a boa e oportuna companhia de Nossa Senhora. Ela faz parte da História de nossa salvação. Na leitura de Números (Nm 3,5-9o Senhor Deus ordena aos seus ministros a obrigação e o dever de cuidar do templo, pois ele é o lugar teofânico, lugar de Deus, lugar dos filhos e filhas de Deus que a ele acorrem para receber as luzes do amor do próprio Deus. Aos servidores dos deveres sagrados recomenda o Apóstolo Paulo na Carta aos Efésios (Ef 4,1-7.11-13que vivam santamente a vocação à qual foram chamados, com humildade e mansidão, suportando uns aos outros com amor. As pessoas chamadas por Deus a qualquer estado de vida terá em vista, segundo o Apóstolo a vida e a unidade na força do Espírito Santo que nos moldura ao vínculo da paz.

A unidade é um dom a ser acolhido com todo ardor possível. Ela é possível quando temos o conhecimento do próprio Cristo que nos conduz à própria unidade que antagoniza com a divisão, com os rompimentos dos relacionamentos e rejunta as fendas deixadas pela conseqüência do pecado original que trazemos conosco, como consequência da desobediência. Jesus na oração Sacerdotal no Capítulo 17 de João (Jo 17,6.14-19) ora por nós, os seus, justamente pedindo a unidade, geradora de bênçãos e unção. Ele volta ao Pai, mas fica conosco através do seu Espírito. Recomenda-nos a termos cuidado com o mundo que está sob a influência do Maligno, gerador de divisão, desconforto na missão e desolação na vida comunitária. Somos enviados a uma missão: dar continuidade da Obra de Cristo através da Igreja. Estamos no mundo, lugar de conflitos e rinhas de toda espécie; de lutas antagônicas, mas não pertencemos a este quadro de guerra e de divisões. Pela graça de Cristo, através da ação bastimal que a Trindade plasmou em nós, temos o gládio da Palavra de Deus, a espada que penetra, que corta, que nos impulsiona a irmos adiante como testemunhas das maravilhas da santidade de Deus em nós que cria laços de amor, justiça e empenho para fecundar os tempos difíceis com os quais os homens sempre estão às voltas.

A diaconia é serviço, é amor, é entrega, é viver como Jesus viveu, é percorrer o caminho da unidade pedida por Cristo. Amado Frei Paulo Maria, dentro de alguns instantes o senhor será marcado com o selo indelével do Sacramento da Ordem, no primeiro grau, o de diácono. Com este gesto estamos remontando aos primórdios de nossa amada Igreja Católica. A ação da Igreja de ordenar é uma ação do Espírito Santo. O diácono é um servidor da Palavra, do altar e da caridade. Imediato colaborador do Bispo e de seu presbitério.

Como ministro do altar, o diácono proclama o Santo Evangelho, prepara o Santo Sacrifício da Divina Liturgia Eucarística e distribui aos fiéis o Corpo e o Sangue do Senhor. São maravilhosas as atribuições do serviço diaconal que, em conformidade com o mandado do Bispo, o diácono “poderá exortar e instruir na sagrada doutrina, não só os não crentes, mas também os fieis; poderá ainda presidir as orações, administrar o Batismo, assistir e abençoar os Matrimônios, levar o Viático aos agonizantes e oficiar as Exéquias” (Pontifical Romano, nº 199).

O diácono, mesmo que a caminho do presbiterado, deverá vivenciar o tempo diaconal com profundidade e zelo. É próprio do ministro ordenado o testemunho de homem consagrado, verdadeiro discípulo missionário do Senhor, com estilo de vida proba e santa. O diácono vive um tempo favorável de amor e afeto à Divina Liturgia; amor que deve ser intensamente vivido e compreendido, pois temos presente que nos últimos anos muitos abusos e práticas irresponsáveis, entraram na prática litúrgica, causando grande prejuízo à liturgia e à santificação do ministro que a preside e do povo de Deus que nela toma parte. Ninguém na Igreja tem autorização para alterar a normatividade litúrgica ou introduzir elementos subjetivos na ritualidade da Igreja.

O diácono é um servidor da liturgia e, como tal, deve aprofundar o conhecimento da mesma na prática e na leitura das introduções aos ritos sagrados, compreendendo também as rubricas inclusas no ordenamento da ritualidade. A Divina Liturgia é fruto da ação do Espírito Santo ao longo dos Séculos da Igreja e não cabe a este ou àquele ministro ordenar introduções danosas à essência da liturgia sob o pretexto da boa inculturação ou de uma apressada criatividade que atende simplesmente aos desejos subjetivos ou simplesmente à guisa de caprichos pessoais. A experiência nos atesta que a infidelidade do ministro de Deus começa sempre pela inobservância das orientações litúrgicas. A liturgia bem preparada e realizada de forma orante e não mecanicamente, fala por si mesma e ajuda os ministros e fiéis a mergulhar nas riquezas do Mistério Pascal!


Entendo que a dimensão da Caridade, do amor ao pobre, do serviço ao progresso social e do nosso empenho em favor das mudanças estruturais, passa inexoravelmente pela conversão pessoal e pela santificação que vem da vivência da ação litúrgica bem vivida e alegremente celebrada. É “conditio sine qua” do ministro ordenado, sobremaneira do diácono, a opção preferencial pelos pobres. Quando esta opção vem como conseqüência de uma espiritualidade calcada na vivência litúrgica, ela não descamba para o lado simplesmente ideológico que não ajuda na santificação dos discípulos e missionários. Muitos optaram pelos pobres, numa linha meramente social e excludente, sem espiritualidade e conteúdo de fé, desrespeitando a religiosidade popular e a fé pura de nossa gente, ao passo que muitos pobres optaram pelas seitas com a justificativa que não encontraram espiritualidade e a prática dos sacramentos da parte dos ministros da Igreja. A fé não é uma opção ideológica e à Igreja não se mede e entende com categorias sociais e política, pois ela é simplesmente Mistério de Deus.

O diácono promete recitar a Liturgia das Horas em comunhão com toda a Igreja. Quanto bem nos faz a oração das Horas. Longe de ser um peso, é um abençoado fragor para nossa comunhão. Quando se reza o saltério, o breviário, reza-se a oração litúrgica de toda a Igreja. Daí nunca estarmos realmente sozinhos.

O diácono não casado exerce seu ministério no estado do celibato perpétuo. Grande gesto de beleza a promessa a vivência do celibato por “amor ao Reino dos Céus”. O ministro celibatário, entregue ao anúncio do Evangelho, ao serviço aos pobres e à vida de oração viverá com alegria o celibato, pois este é um gesto profundo de amor. Longe de ser um fardo e um desastre para a Igreja, como muitos verbalizam, o celibato é um meio de profunda configuração a Cristo e dá vigor à Igreja e a orna com a beleza de sua vivência. “O celibato é um sinal e, ao mesmo tempo, um incentivo da caridade pastoral e incomparável fonte de fecundidade no mundo. Impelido por sincero amor a Cristo, caro Frei Paulo Maria, e vivendo em total dedicação neste estado, consagrar-te-ás mais facilmente a Cristo, com um coração indiviso; poderá dedicar-te mais livremente ao serviço de Deus e da humanidade e trabalhar com mais solicitude na obra da salvação eterna”(Pontifical Romano, nº 199).

Em síntese, o Diácono é o homem da Palavra, não só porque a proclama na Liturgia, mas porque dela ele é um ouvinte fiel. Por isso ele anuncia a palavra com aquela autoridade de quem dela se fez servo, ouvinte e praticante. O Diácono é o homem liturgo, pois preside a celebração de certos sacramentos e demais cerimônias próprias do seu ministério.

Assim, a Igreja entende que o diaconato é de instituição divina. A Comunidade Eclesial não pode ser privada da graça de possuir no seu seio este amável ministério que o Divino Esposo da Igreja quis e quer que se estenda, por toda a sua Amada, a obra que ele começou nas primícias da comunidade apostólica.

Não deixe, meu caro ordinando, abalar-se pelas investidas do mundo através da chamada cultura do hedonismo, do relativismo, da morte, bem como pela futilidade e pela falsa aparência do atual momento da história que apregoa que Deus não é mais necessário na vida das pessoas e da humanidade. “Combata o bom combate da fé” como nos ensina o Apóstolo Paulo, siga em frente com coragem e destemor. Que a intercessão de Nossa Senhora, de São Francisco de Assis e São Maximiliano Maria Kolbe te acompanhe ao longo de sua vida para que nunca perca o entusiasmo da consagração, tendo sempre presente o que disse Nosso Senhor: “o zelo pela tua casa me consumirá” (Jo 2, 17).  Amém!


+ Adair José Guimarães
Bispo de Rubiataba/Mozarlândia-GO
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