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terça-feira, 31 de agosto de 2010

Ordenações Diaconais e Presbiterais em Braga - Portugal

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A cripta do Santuário de Nossa Senhora do Sameiro, em Braga, tornou-se pequena para o mar de gente que quis assistir as Ordenações Presbiteral e Diaconal, no dia 18 de Julho passado. A Ordem dos Frades Menores associou-se à Arquidiocese de Braga no dia em que esta ordenava cinco novos sacerdotes, e pediu a Dom Jorge Ortiga que ordenasse diáconos dois frades franciscanos: Frei Henrique Perdigão, como diácono permanente, e Frei Pedro Santos, tendo em vista futura ordenação sacerdotal.

Durante a celebração, presidida pelo Arcebispo Primaz, e concelebrada pelo Superior Provincial da Ordem dos Frades Menores, Frei Vítor Melícias, vários bispos e numeroso clero secular e regular, Dom Jorge Ortiga afirmou, perante os milhares de crentes que o ouviam, que "amar Cristo é partir e situar-se onde a Igreja precisa, com coincidência ou não com os gostos pessoais".

O Arcebispo metropolita também não escondeu que, no envio em missão, "uns sentirão maiores dificuldades", mas assegurou que "a Igreja está com todos", pois "quando reconhecemos que a Palavra de Deus é o caminho a percorrer assumimos que a prioridade lhe pertence".

Para a Ordem Franciscana a ordenação diaconal destes dois irmãos, cada um em vista da sua missão específica - um em função do exercício permanente da caridade, outro em função da caridade e do culto no exercício do ministério sacerdotal - constitui, por si só, sinônimo da vitalidade do espírito que continua a suscitar na Igreja e na Ordem os ministérios de que necessita.


Algumas fotos da celebração:

Dom Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz de Braga


Cabido Metropolitano e Primacial de Braga e Episcopado


Diálogo com os candidatos ao Diaconato


Imposição das mãos sobre frei Pedro Nuno Mendes dos Santos,OFM


Entrega dos Evangelhos


Os bispos concelebrantes impondo as mãos sobre os diáconos candidatos ao Presbiterato


Unção das mãos


Fatias de pão e rodelas de limão destinadas a enxugar o óleo excedente das unções


O ósculo


A bênção final


Para ver mais fotos clique em flickr

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Uma esperança para a música litúrgica no Brasil

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Não é novidade para ninguém que a liturgia no Brasil sofre uma crise sem precedentes, especificamente no que concerne à observância íntegra dos ritos sagrados. Talvez o aspecto que mais salte aos olhos (ou aos ouvidos) dos fiéis e que denuncia a decadência da sacralidade litúrgica é a qualidade musical. Em nome de diversos pretextos, que não convém serem listados aqui, as lideranças da Igreja no Brasil adotaram como que um caminho de relaxamento e empobrecimento da beleza musical, e de total desprezo pela tradição milenar de uma música mais sóbria e sacra.

É bastante patente que a música litúrgica popular no Brasil se tornou um fator mais lúdico do que sacramental; mais dispersivo do que compenetrante; mais extravagente do que discreto; e mais emotivo do que teológico. Hoje essa realidade se tornou norma universal no Brasil; quando não defendidas explicitamente por alguns “liturgistas” de laboratório, ao menos na prática já se proliferou em praticamente todas as paróquias Brasil afora. Mas esse cenário pode mudar em breve.







Em Campinas, em meio a uma situação nada distante da descrita acima, eis que começam a brotar os primeiros frutos de um empenho da parte de pessoas que vem lutando para a promoção de um repertório litúrgico verdadeiramente sacro e em consonância com a espiritualidade que a Igreja e a Tradição Apostólica nos pedem.


O CEMULC (Curso de Extensão em Música Litúrgica de Campinas) é o primeiro curso de formação litúrgica regular que se tem notícia no país. Não é apenas um pequeno curso de música, aos moldes dos que estamos acostumados a ter notícias, que tão somente reúnem os fiéis para aprender novas melodias de gostos duvidosos, mas trata-se realmente de uma escola de música, com duração de três anos, em que são ensinados todos os princípios para se formar músicos competentes. O curso inclui na sua matriz disciplinar as matérias de Apreciação Musical, Canto Coral, Canto gregoriano, Estruturação Musical (Teoria Musical, Solfejo, Percepção Musical, Harmonia e Análise Musical), História da Música, História da Música na Liturgia, Iniciação à Composição, Liturgia, Pastoral da Música Litúrgica, Regência, Pedagogia e Didática Musical, Religiosidade Popular e Liturgia, Salmos e Cânticos Bíblicos, Sonorização para a Liturgia, além dos cursos específicos dos seguintes instrumentos musicais: Teclado, Órgão, Violão, Violino, Flauta-doce, Flauta-transversal e Canto.





O objetivo do curso é formar lideranças em toda a arquidiocese, preparando os fiéis leigos de cada paróquia a dominarem não apenas a técnica musical, mas a formarem uma bagagem sólida e esclarecida no conhecimento do mistério sagrado a que são chamados a colaborar dentro da liturgia. São abordados temas que escapam ao que é oferecido atualmente pela maioria dos cursos regulares, como a evolução orgânica do canto dentro da história da Igreja, o estudo das sensações e contemplações que a música é capaz de oferecer (em contraste com a euforia que se vê tão comumente dentro do culto sagrado), um estudo das partes da missa que não fuja das determinações do Missal Romano, bem como a importância e necessidade de se seguir o ritual prescrito pela Igreja como forma de se conservar a fé e a própria história da Igreja de todos os tempos como sagrado tesouro da fé.

Todos os professores do curso possuem formação superior nas áreas que lecionam no curso, que desde sua fundação, em 2007, já contou com a matrícula de 1089 alunos das diversas paróquias da Arquidiocese. A primeira turma a concluir o curso, com 190 formandos, celebrou sua formatura em 03. 12. 2009, em cerimônia solene e precedida pela Santa Missa cantada pelos formandos do curso e celebrada por D. Bruno Gamberini, arcebispo metropolitano de Campinas.

Desde sua existência, o CEMULC também tomou por função, a pedido do Arcebispo, cuidar da música para a Missa Solene de Corpus Christi, realizada no centro da cidade. Nesta ocasião, todos os alunos dos três anos são preparados para tomar parte num grande e majestoso coro para o enriquecimento desta importante celebração da cidade, com uma participação de uma orquestra de instrumentistas convidados.



O diretor geral do curso, Clayton Júnior Dias, é o responsável pelo setor de Música Litúrgica da Diocese de Campinas, e faz parte da Comissão Regional de Liturgia do Regional Sul 1 da CNBB. Clayton é graduado em música com especialização e canto erudito e regência e, juntamente com a administração do CEMULC, está trabalhando na confecção de uma coletânea de Hinários litúrgicos para a Arquidiocese. Pouco a pouco as paróquias têm passado a adotar estes hinários como modelo ou mesmo na íntegra para o repertório a se utilizar nas celebrações. Dessa forma o curso tem se mostrado bem-sucedido no objetivo que se propõe de agir como um multiplicador de bons formadores musicais.

Outra contribuição extraordinária do curso, e que mereceria um artigo a parte, é a fundação do Coral da Arquidiocese de Campinas, formado em sua maioria por estudantes do curso. Atualmente o coral é designado para cantar nas missas solenes a pedido do Arcebispo, atuar nas paróquias em que são convidados em ocasiões especiais, promover recitais de música sacra durante o ano, e gravar os CD’s com as músicas do Hinário Litúrgico. No último dia 15 de agosto, Vigília da Assunção de Nossa Senhora, o coral comemorou seu 2º aniversário de existência cantando em uma missa na Catedral da Sé, São Paulo, a convite de Dom Frei João Mamede, Arcebispo Auxiliar de São Paulo.


As peças cantadas pelo coral são em sua maioria de origem estrangeira, uma vez que o repertório nacional não apenas peca por estética, mas também por faltas graves ao texto exigido para os ritos sagrados. Assim, a solução para o coral tem sido adaptar composições de grandes e respeitados liturgistas, como Mons. Marco Frisina, Mons. Valentino Miserachs, Pe. Antonio Parisi, (Itália), Pe. Cartageno, Pe. Manuel Luís (Portugal), Pe. Gelineau, Jean Paul Lécot, Jacques Berthier e Lucien Deiss (França), entre outros de renome. O repertório utilizado para a missa de Corpus Christi desse ano e dos dois anteriores conta com peças do Pe. J. P. Lecót, como o belíssimo Gloria in excelsis Deo e o Credo, da "Missa de Lourdes".

Também há um trabalho de resgate do canto gregoriano, trazendo-o de volta ao seu lugar na celebração eucarística, de onde nunca deveria ter saído. Dentre algumas peças já ensaiadas e cantadas pelo coral, destacam-se o Veni Creator (em missas crismais e de Pentecostes), Attende Domine (como ofertório para a Quaresma) e Regina Caeli (como canto final para as missas na Páscoa).

Muitas das peças que o coral utiliza estão incluídas nos fascículos já lançados do Hinário Litúrgico da Arquidiocese. Alguns liturgistas já consideram este trabalho como superior ao próprio Hinário Litúrgico da CNBB.


Eu, como aluno do CEMULC e integrante do Coral da Arquidiocese, sinto-me honrado em acompanhar esse belíssimo trabalho em prol de uma liturgia verdadeiramente bela e digna. Abaixo, divulgo um pouco de nosso trabalho nas paróquias da cidade:









Canto de Entrada para a Missa da Assunção de Nossa Senhora, do Pe. Antonio Cartageno, de Portugal. Cantado na Catedral da Sé.

Kyrie, de Antonio Parisi, Itália.








Aleluia, de Mons. Marco Frisina, Itália.









Cordeiro de Deus, de Vincenzo Guidici, Itália.








O Cântico de Maria, de Pe. Gelineau, França.

Mais vídeos podem ser encontrados no meu canal pessoal: www.youtube.com/user/Zakatos. Note-se que há outros corais, também de Campinas, contribuindo para popular a lista de contribuições do canal.

Em breve o Coral da Arquidiocese terá o seu próprio blog, onde se pretenderá divulgar os locais das celebrações próximas, bem como as gravações dos vídeos do repertório cantado, e o download das partituras.

Creio que posso falar, em nome de toda a diretoria do CEMULC, que desejamos ardentemente que esse trabalho, ainda que em seus primeiros passos, possa inspirar outras pessoas a buscar um maior empenho no conhecimento, estudo e formação musical, para que possamos adorar a Deus em espírito e em verdade, contribuindo para um culto eucarístico verdadeiramente santo e agradável a nosso Senhor.

domingo, 29 de agosto de 2010

Links e pequeno poema para o Beato Schuster

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Com a finalidade de organizá-los um pouco melhor, listo aqui os links nos quais se encontram as traduções até agora publicadas de textos do Beato Ildefonso Cardeal Schuster, OSB aqui no Salvem a Liturgia.

Lembro que as traduções foram realizadas a partir de uma edição francesa, e não do original italiano. Mesmo assim, creio que nossos leitores poderão encontrar nelas coisas muito úteis, pois o Beato Schuster é um grande mestre.

Poesia e música nas sinaxes eucarísticas - capítulo sétimo do tomo primeiro do Liber Sacramentorum
Parte II, final

A Santa Liturgia, suas divisões e suas fontes - capítulo primeiro do tomo primeiro do Liber Sacramentorum
Parte IV, final

Finalmente, um pequeno poema para este príncipe da Igreja:



Beato Ildefonso, olha o filho
Da Igreja, recorrendo a teu vulto
No afã de entender o santo culto
De Deus, e compreender-lhe todo o brilho.

O efeito de tua pena sobre o estulto
É tal que abaixo os olhos e me humilho.
A Fé, por tuas mãos, retorna ao trilho.
Restaura-se o mistério antes oculto.

Colores esta dia que, cinzento,
Bramia com rugidos de algum vento
Ruindo o altar do santo sacrifício.

Que rogues a teu mestre e pai, São Bento,
Pedindo de Jesus o benefício:
Da Santa Liturgia o entendimento.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Por que o silêncio durante o Cânon?

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Postamos o trecho inicial de um excelente artigo que achamos no blog de nossos confrades da Associação Redemptionis Sacramentum. Para ler o restante, entre no link dado abaixo.

Por que o silêncio durante o Cânon?
Por Pe. Hubert Bizard, FSSP

Bernanos escreve que o mundo moderno é uma conspiração organizada e ávida contra todo tipo de vida interior. É verdade que é particularmente difícil, como todos já experimentaram, não ser quase constantemente solicitado por este mundo que nos envolve; propagandas, barulhos de toda sorte; se você vai ao dentista, ou fazer compras, ou à garagem de um estacionamento, parece que sempre deve haver uma televisão ou um rádio ligado; "ruído de fundo". Como é que, sob essas condições, estamos ao menos um pouquinho aptos para nos recolhermos e escutarmos aquele que bate, como dizem as Escrituras, à porta de nosso coração? Este barulho ambiente tem se tornado tão familiar que, para muitos, o silêncio é quase insuportável.

Entre os fiéis que participam de uma Missa de acordo com o Missal tradicional pela primeira vez, você encontrará alguns que ficarão imediatamente cativados e conquistados pelas santas e sagradas cerimônias que são realizadas diante de seus olhos.

Outros, contudo, ficarão desconcertados. Certamente esta liturgia é bela e digna, eles prontamente dirão, mas por que o silêncio durante o Canon? Esses pouco minutos parecem-lhes tão longos e às vezes tão vazios. Por essa razão parece ser uma boa idéia fazer alguns comentários nesta matéria.



(continue lendo
aqui)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O rito carmelita celebrado regularmente no Brasil! Entrevista com os frades carmelitas eremitas

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O Salvem a Liturgia acompanha, com vivo interesse, a fundação de novos institutos religiosos. É nesse sentido que nossa atenção foi despertada para a recente ereção do Carmelo Eremítico no Brasil.

Trata-se de uma congregação que não faz parte nem da Ordem dos Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo ou Ordem Carmelita da Antiga Observância (OCarm) nem da Ordem dos Irmãos Descalços da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo ou Ordem Carmelita Descalça (OCD). A OCarm, até onde sabemos, mantém eremitérios tanto femininos quanto masculinos, mas esta de que tratamos é uma instituição autônoma.

Abaixo, na entrevista que fizemos com o prior, Fr. Tiago de São José, ECarm, temos acesso a mais informações.

Adiantamos que o mosteiro brasileiro, dedicado a Santo Elias, fundador ideal da Ordem do Carmo, foi aprovado pelo Bispo de Bragança Paulista, estando em plena comunhão com a Santa Igreja.

O novo ramo da grande família carmelita - que, aliás, não é tão novo, e sim a vida primitiva dos carmelitanos - leva a denominação justamente de Irmãos Eremitas da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo (ECarm). E uma de suas distinções, além da vida contemplativa masculina - de vez que na OCarm e na OCD, as monjas são contemplativas, mas os frades são mendicantes, de vida ativa -, é a celebração exclusiva no rito próprio carmelitano. Sim, esses carmelitas não usam o rito romano moderno, nem o rito romano tradicional, mas o seu próprio, específico, que nem mesmo, s.m.j, os carmelitas da antiga observância e descalços utilizam.

Fotos do rito carmelita celebrado no Mosteiro Santo Elias podem ser vistas abaixo:







Segue a entrevista:

1. Reverendo frei, vemos que se trata de uma congregação nova, não fazendo parte da OCarm nem da OCD. Estamos certo nessa nossa impressão?

Caro Dr. Rafael: somos sim uma nova fundação mas que se trata de uma restauração do carisma monástico original do carmelo que já tinha se perdido desde o fim do século XIII. De fato Santa Teresa quis recuperá-lo ao propor o seguimento da Regra primitiva na sua reforma descalça. Entretanto, na metade do Século XIX, o Beato Francisco Palau movido por uma revelação mística fundou o Carmelo Eremítico na Espanha, com esse mesmo objetivo. Este grupo existiu até a década de 30. Nós agora estamos recomeçando com as mesmas Constituições que ele escreveu.

2. Há outros mosteiros desse instituto no Brasil e no mundo?

Não. A nossa fundação está nascendo agora em Atibaia. O Mosteiro Santo Elias (monges) e o Mosteiro Santa Maria (monjas).

3. Os monges carmelitas dos EUA são da mesma congregação que os senhores ou se trata de um instituto distinto?

Eles são um instituto distinto apesar de terem surgido na mesma época com os mesmos elementos fundamentais do carisma. Estivemos interessados numa eventual união, porém, não concordamos com algumas posturas deles. Por exemplo: nós não vendemos nada; não pedimos dinheiro para ninguém; não desejamos construir grandes abadias, mas pobres e simples ermidas; não temos uma vida comunitária tão intensa, ou seja, destacamos mais a solidão.

4. Os senhores celebram a liturgia própria do rito carmelita. Qual o motivo que os levou a isso?

O principal motivo é esse: não há como nos identificarmos com os primeiros carmelitas seguindo a regra primitiva se não celebramos a mesma liturgia, pois a liturgia é parte essencial de nossa vida.

5. Os carmelitas da antiga observância (OCarm) e os descalços (OCD) ainda usam esse rito, ainda que esporadicamente?

Os Descalços renunciaram à liturgia própria desde a edição pós-tridentina do missal carmelitano (1585). Entretanto, os Carmelitas da Antiga Observância preservaram o rito do Santo Sepulcro de Jerusalém até 1971. Depois desta data não puderam mais celebrar nem esporadicamente, conforme decisão do Capítulo Geral. Eles argumentavam que o Rito era impróprio para suas atividades paroquiais. Como não temos paróquia, mas vivemos em mosteiros, o rito para nós é perfeitamente bem-vindo.

6. O senhor poderia nos descrever algumas particularidades desse rito?

Uma particularidade é que o salmo de entrada é rezado pelo sacerdote em silêncio. As primeiras palavras após o início são: Confitemini Domino quoniam bonus, quoniam in saeculum misericordia ejus. Esta frase nos introduz na liturgia da ressurreição, pois o rito nasceu no santo sepulcro. Entretanto, isso torna o rito carregado de mais de 50 cruzes feitas de diversas formas e marca a força do Calvário.

7. Como aprenderam o rito? Ainda existem os livros litúrgicos e manuais de rubricas?

O próprio missal traz as rubricas e as diversas variações. Também vimos um vídeo de uma missa celebrada na década de 50 que nos ajudou a melhorar alguns aspectos da liturgia solene.

8. Quais os frutos dessa liturgia bem celebrada no mosteiro e na vida dos fiéis que os visitam?

Para mim celebrar neste rito desde outubro do ano passado tem incrementado muito minha espiritualidade sacerdotal. Nos outros irmãos percebemos também um acréscimos de piedade e introspecção. Igualmente no povo, temos observado muitos frutos espirituais.

9. Usam, eventualmente, o rito romano antigo? E o rito romano moderno? Se o fazem, é em latim ou em vernáculo?

Não. Celebramos somente o Rito Carmelitano, ou Rito do Santo Sepulcro, todo em latim.

10. A Missa dos senhores é versus Deum, correto? O que poderiam nos falar a respeito dessa orientação?

Acostumamos a falar assim, mas a orientação verdadeira é versus orientem, ou seja, de frente para o oriente. Assim a Igreja nos primeiros tempos celebrava a eucaristia. Há tantos que querem valorizar a participação do povo e por isso se viram para o povo. Nunca a Igreja conheceu isto. A pregação é para o povo. O sacrifício é para Deus Pai, com o povo "por Cristo, com Cristo e em Cristo".

11. Como recuperar uma autêntica espiritualidade litúrgica no Brasil? Os fiéis estão sedentos de uma piedade que nasça da Eucaristia, não lhe parece?

Acredito nisto também. Também vejo o Brasil como um grande celeiro de vocações. Porém a ignorância do clero e do povo torna essa missão um árduo desafio, mas a graça do Espírito Santo nos ajuda.

12. Quais os planos de seu Carmelo? Pretendem construir novas casas no Brasil?

Fui ordenado padre em 2000 e queria celebrar o rito tradicional. Não tive nenhuma chance nem oportunidade. Fui para a Itália e para a França, mas não estava feliz longe da minha nação.

Entrei nesse Carmelo em 2002 que havia sido recém fundado por um carmelita descalço que eu já conhecia. Este meu superior tinha bons propósitos sobre usar o hábito e viver a regra mas não aceitava a liturgia tradicional. Enfim, em 2007 ele foi para sua diocese e se tornou padre secular.

Eu permaneci sozinho e no ano passado estruturamos as coisas e começamos a receber vocações. Acredito que seja uma obra de Nossa Senhora e sinto que temos condição de crescer muito. Ela é que sabe...

13. Por fim, uma palavra aos membros e leitores do blog, e um conselho para que os pretendem "salvar a liturgia".

Peço a Deus que abençoe todos os que buscam com zelo salvar a liturgia, pois isso significa salvar a Igreja. Os inimigos da Igreja sabem disto... Portanto vamos em frente reconstruir os altares do Senhor!!!

domingo, 22 de agosto de 2010

Missa na Capela privada do Papa

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Segue abaixo um vídeo, trecho de um documentário, que mostra como é uma Missa celebrada pelo Papa na capela privada do Palácio Apostólico. O papa celebra Missa nessa capela todas as manhãs. Atente-se para a sobriedade litúrgica e pelo decoro desta celebração simples. Note-se também a beleza da capela, que é um exemplo de arte sacra moderna decente, sem modernismos e estéticas de ruptura.

sábado, 21 de agosto de 2010

Beato Cardeal Schuster: A Santa Liturgia, suas divisões e suas fontes, parte IV, final

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Publica-se hoje a quarta e última parte de A Santa Liturgia, suas divisões e suas fontes, primeiro capítulo do primeiro tomo do Liber Sacramentorum do beato Ildefonso Cardeal Schuster, OSB. A terceira parte está publicada neste link. Esperamos que esta leitura tenha sido útil aos nossos leitores, e mais uma vez desculpo-me, pessoalmente, pelas imprecisões e insuficiências da tradução.

Planejo colocar aqui, em breve, um arquivo PDF com o texto completo deste capítulo em português.

*

Como estamos falando de missais, devemos advertir que este nome, assim como a obra litúrgica designada por ele, data somente da Idade Média, no período carolíngio; os antigos conheciam os sacramentários, que não correspondem, a não ser parcialmente, ao conteúdo do Missale plenarium. Para se entender melhor, é preciso ter presente o caráter especial da sinaxe religiosa na Igreja primitiva. Diferentemente dos modernos que, na Igreja, sem nada compreender, se contentam em se unir em espírito ao padre que reza, os antigos queriam que a actio fosse verdadeiramente social, coletiva, eminentemente dramática, de modo que não apenas o bispo, mas os padres, os diáconos, os clérigos, os cantores, o povo, cada um tinha seu papel específico a desempenhar. Daí surge a necessidade de ter separadamente os textos destas diferentes partes, de modo que o bispo e o padre tenham para seu uso o Liber Sacramentorum, o solista tenha o responsorial, os membros da Schola o antifonário, o subdiácono o epistolário e assim por diante.

O sacramentário, ou Liber Sacramentorum, continha então todas as orações que recitava o padre ou o bispo, não apenas na Missa, mas na administração de todos os outros sacramentos que eram intimamente unidos à ação eucarística. Assim, as fórmulas do Batismo e da Confirmação faziam parte da Liturgia da Vigília Pascal; as da absolvição estavam compreendidas nos ritos da reconciliação dos penitentes na Quinta-feira Santa; as orações da Extrema Unção seguiam a absolvição dos enfermos ad succurrendum, antes da Missa e do Viático; as ordenações se fundiam com as cerimônias da estação noturna em São Pedro no Sábado das Quatro Têmporas, e as bênçãos nupciais faziam parte de uma espécie de apêndice, no qual estavam contidas as Missas de ocasião, para as bodas, por exemplo, para os funerais, dedicações de igrejas, aniversários de consagrações de bispos ou de padres etc. O todo com uma ligação, uma ordem, um nexus íntimo que, até em sua disposição bibliográfica, fazia ver como a Eucaristia é o verdadeiro centro do culto cristão, de modo que todos os outros sacramentos são a ele coordenados, preparando a alma para dele participar, ou conservando a graça recebida.

Do sacramentário estão então excluídos os introitos, as leituras, as antífonas e os graduais, porque todas estas partes éram destinadas aos ministros inferiores; tudo o que, ao contrário, pertencia ao padre na administração dos sacramento, e que agora aparece esparso no Missal, no pontifical e no ritual romanos, estava compreendido no sacramentário e justificava plenamente o título antigo de Liber Sacramentorum que lhe era dado.

Este sistema, por um lado possível em Roma e nas grandes igrejas episcopais, onde um lugar especial era destinado, perto do presbyterium, aos livros litúrgicos, a fim de que estivessem à mão, apresentava, entretanto, graves dificuldades nas paróquias rurais e nas igrejas onde, por falta de clero ou recursos, a liturgia estacional romana tinha sido reduzida à sua expressão mais simples.

Imaginemo-nos um pobre padre de vila, idoso, assistido apenas por três ou quatro meninos turbulentos que fazem as partes dos lectores. Este sacerdote, para celebrar a Missa, terá necessidade de uma biblioteca inteira: sacramentário, evangeliário, epistolário, antifonário e responsorial, para não mencionar o trabalho de procurar aqui e ali, nos livros, as coletas, as perícopes escriturísticas, os cantos apropriados, as diferentes partes, em suma, de sua função. O mais simples teria sido juntar todas essas coleções, transcrevendo, diariamente, a Missa correspondente às diversas festas do ano. Tal é a origem do Missale plenarium da época carolíngia; plenarium, porque, diferentemente dos antigos sacramentários, continha inteira a liturgia eucarística, sem que houvesse necessidade de outro livro.

Se comparamos agora o Missal atual, depois da reforma do Concílio de Trento, com o Missal medieval e com o sacramentário gregoriano, a diferença não nos parece substancial. O nosso é mais rico e mais variado no que se refere ao ciclo hagiográfico; mas as missas estacionais dos Domingos, do Advento, da Quaresma, das festas e santos compreendidos no sacramentário de São Gregório, salvo pequeno número de diferenças, são quase as mesmas. Pode-se dizer, em suma, que nosso livro eucarístico (tendo em conta o desenvolvimento ocorrido no decurso dos séculos) é substancialmente o mesmo que aquele do qual se serviam os grandes doutores da Igreja na Idade Média, e que levavam no título o nome de Gregório Magno.

Dissemos que é substancialmente o mesmo, mas aqui não nos referimos a uma identidade absoluta. Há, com efeito, mudanças e acréscimos, e havia ainda mais antes da reforma do Concílio de Trento; mas, felizmente, os rígidos princípios nos quais se inspiraram os papas da segunda metade do século XVI desembaraçaram o Missal Romano de muitas adições, tropos, seqüências, coletas e Missas da Baixa Idade Média que desfiguravam a harmonia das linhas do grandioso monumento litúrgico erigido pelos pontífices do século IV ao século VII. Suprimiram-se as Missas dos auxiliatorum, as Missas para os julgamentos de Deus, o uso de celebrar, nos Domingos do ano, a Missa de Trinitate no lugar daquela marcada pelo Missal, as festas dos loucos, dos asnos e outras bobagens que haviam sido introduzidas no lugar santo.

Algumas coisas boas teriam, talvez, podido ser reinstituídas, mas não foram, certamente, por causa da insuficiência de material científico à disposição dos liturgistas do século XVI. Assim, entre as lacunas do Missal atual, é de se deplorar a supressão das diferentes praefationes, de que eram muito ricos os sacramentários leonino e gregoriano, de modo que cada festa do ano, cada Domingo um pouco mais importante tinha a sua própria. A Idade Média, por economia de papel e de tempo, desfez-se com facilidade excessiva de toda a bagagem romana, conservando apenas umas poucas praefationes especiais, para a Quaresma, Páscoa, Pentescostes etc. Para o restante foi considerado suficiente o praefatio communis, aquele se ainda hoje se recita cotidianamente. Será permitido esperar que, numa futura revisão do Missal, a Autoridade suprema honre uma tão bela e importante parte do venerável depósito litúrgico de Leão, de Gelásio e de Gregório Magno? É verdade que a tradição romana primitiva se mostrou contrária à admissão, em seu próprio Canon Missae, de todas aquelas partes móveis e variáveis que ficaram tão bem no gênio dos galicanos, mas é certo que a tradição das praefationes próprias remonta, em Roma, ao tempo de Leão I, pelo menos.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Teologia do sacrifício e da Aliança

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Mesmo afastada de Deus, a humanidade reconhece Sua dependência do Criador. O pecado original afetou o relacionamento do homem com Seu Senhor, privando a natureza humana de santidade e de justiça. Todavia, já os filhos de Adão e Eva sentiram a necessidade de aplacar a ira divina e tentar restituir a Deus pela ofensa causada pelo pecado. O capítulo 4 do livro do Gênese descreve Caim e Abel oferecendo sacrifícios ao Criador.

Em todas as civilizações do mundo antigo, vemos o homem procurando Deus, ainda que não O encontre em Sua plenitude. Isso se deve ao desejo por Deus, que está impresso em nossos corações. A vontade do homem em buscar o sobrenatural foi algo que o pecado original não afetou. Pela própria razão, diz São Tomás, podemos concluir que existe um Deus. O universo é simplesmente inexplicável sem Sua presença.
“O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar.” (Catecismo da Igreja Católica, 27)
Apesar do pecado, continuou no homem, não só um desejo por Deus, mas também uma certa consciência do que é reto – ainda que não o pratique sem a ajuda da graça. Essa consciência é fruto da lei natural, “que permite ao homem discernir, pela razão, o que é o bem e o mal, a verdade e a mentira.” (Catecismo da Igreja Católica, 1954) Não se trata de uma revelação do Senhor ao homem, mas de algo que se encontra em seu próprio coração, e que não foi atingido pela queda original. Essa norma natural é uma verdadeira Lei Moral, universal e absoluta. Pertence ao campo da Ética, e a podemos encontrar, de formas mais ou menos perfeitas, em todos os povos e culturas do mundo, mesmo nas mais afastadas de Deus.

Essa Lei Moral manda ao homem que não cometa assassinato, que não roube nem furte, que não violente o próximo, que tenha senso de justiça, que adore um ser superior, que tenha práticas religiosas (das mais elaboradas às primitivas e anímicas), faça o bem etc.

A partir da consciência dessa Lei Moral, o homem deduziu, pela razão – e pelo impulso do seu coração desejoso de Deus –, que deveria encontrar-se com seu Criador. Para tanto, notou que seu afastamento da divindade devia-se a uma falta que deveria ser paga e satisfeita. Todo ato pecaminoso, diz a razão à luz da lei natural, necessita de algo que o extirpe: um sacrifício. É por isso que, em quase todas as religiões, vemos a noção de sacrifícios aos deuses. Inclinado que estava o coração do homem à Lei Moral, conhecia ele a exigência da mesma em relação ao relacionamento com suas deidades. Vemos nos filmes, nos livros e nas aulas de História no colégio e na faculdade, que essas religiões sempre sacrificavam aos seus deuses. Esses sacrifícios eram de animais e até de seres humanos, porque a mente dessas pessoas lhes dizia que algo deveria ser feito para purificá-los de seus erros e aplacar a ira dos espíritos.

Se essa norma universal pertence somente à Moral, nos povos da terra, foi tornada positiva nos vários ordenamentos jurídicos existentes ao redor do mundo. Tanto é que as legislações conceberam como Direito a proibição de várias daquelas coisas já condenadas pela Ética. Em um povo, entretanto, essa positivação (codificação, tornar algo como pertencente ao Direito, ao conjunto de normas jurídicas de um povo) foi feita pelo próprio Deus, e de maneira completa. Em Moisés, líder dos descendentes de Abraão cativos no Egito, Deus apresentou a Lei Moral em forma de dez artigos, que conhecemos como decálogo. Ao longo dos primeiros livros da Bíblia, encontramos a descrição desses mandamentos, bem como de outros dispositivos jurídicos, oriundos também da Lei Moral natural, alguns dos quais meros instrumentos interpretativos do resumo que é o decálogo.

Todos os povos, culturas e religiões sacrificavam aos deuses, buscando reatar o relacionamento com eles, e com o fim de expiar suas faltas, agradecer as bênçãos, pedir graças e adorar aqueles que consideravam seres superiores. A intenção desses homens era a mais correta possível, eis que fruto da Lei Moral inscrita em seus corações. Também, em parte, a forma era corretíssima, pois concluíram, pela razão, que o reatar do relacionamento com o Criador se daria através do sacrifício.

Oferecer um sacrifício, concluímos, é algo próprio da natureza humana, em vista da Lei Moral e do desejo de Deus inscrito no coração do homem. Contudo, Deus mostrou, no Antigo Testamento, como Ele queria que fosse celebrado tal sacrifício.

Deus revelou, pois aos hebreus, o Povo Eleito, como deveria ser adorado em vista da vinda do Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo.

Durante da História da Salvação, que antecedeu a vinda de Cristo, o Senhor Deus foi se revelando aos poucos, como que preparando seu povo para reconhecer seu Filho quando Ele viesse. Mediante símbolos e sinais que deveriam apontar para uma realidade perfeita em Jesus, quando Ele viesse à terra morrer pelos nossos pecados, Deus foi preparando o Povo de Israel.

Usando de uma pedagogia, Deus vai mostrando aos hebreus que realmente são necessários sacrifícios para que o relacionamento com Ele, afetado desde o pecado original, seja purificado, de tal forma que os pecados sejam apagados.

No Antigo Testamento, cremos que o que está descrito é histórico, realmente aconteceu. Entretanto, não é só esse sentido literal – ainda que verdadeiro – que nos interessa. Deus, que é o Autor da Sagrada Escritura, nos presenteia, pelo Espírito Santo, com a graça de entendermos a Bíblia conforme seus vários sentidos, todos complementares e submetidos ao juízo infalível da Santa Igreja fundada por Nosso Senhor. “Segundo uma antiga tradição, podemos distinguir dois sentidos da Escritura: o sentido literal e o sentido espiritual, sendo este último subdividido em alegórico, moral e anagógico. A concordância profunda entre os quatro sentidos garante toda a sua riqueza à leitura viva da Escritura na Igreja.” (Catecismo da Igreja Católica, 115)

Os acontecimentos históricos, descritos no Antigo Testamento, são, para os cristãos, como que sinais que apontam para o Novo. Assim, a passagem do Mar Vermelho a pé enxuto pelos hebreus, na fuga do Egito, é algo que realmente aconteceu. Mas, seu sentido não se esgota no histórico, em que podemos perceber o poder de Deus ao realizar tamanho milagre, bem como Sua disposição em fazer de tudo para preservar Seu Povo Eleito. Para nós, tudo isso é importante, mas encontramos, também, um sinal da vitória de Cristo sobre a morte, e um símbolo do Batismo. São Paulo mesmo já interpretava assim: “todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar.” (1Co 10,2)

Dessa maneira, o sacrifício, como ordenado por Deus a Moisés e ao Povo de Israel, é como um símbolo, uma preparação de um sacrifício mais excelente que estava por vir. A lei é apenas “a sombra dos bens futuros.” (Hb 10,1) E mais: “o culto que estes celebram é, aliás, apenas a imagem, sombra das realidades celestiais.” (Hb 8,5)

O ânimo de sacrificar a Deus, para obter o perdão dos pecados e a remissão dos efeitos da queda original, permeia todo o Antigo Testamento, mesmo antes da Aliança com Moisés no Sinai, após a libertação do Egito rumo à Terra Prometida. Como dissemos, Caim e Abel preocupavam-se com isso, embora o primeiro tenha sacrificado de forma indigna (podemos perceber, desde já uma certa forma ritual que agrada a Deus, por ser de Seu desejo, e outra que o desagrada). “Pela fé Abel ofereceu a Deus um sacrifício nem superior ao de Caim, e merecer ser chamado justo, porque Deus aceitou as suas ofertas. Graças a ela é que, apesar de sua morte, ele ainda fala.” (Hb 11,4) Esse “ainda fala” refere-se não só ao seu covarde assassinato por seu irmão Caim, porém, num sentido espiritual, também ao testemunho de sua fé e de seu sacrifício, modelo para todos os cristãos.

Esse testemunho propagou-se por sua descendência, de quem sairia Abraão e seu filho, Isaac, sinal da promessa cumprida. Após o dilúvio, Noé, como forma de agradecer a Deus pela sua sobrevivência na arca, como também para buscar o perdão dos pecados, celebrou um sacrifício. “E Noé levantou um altar ao Senhor: tomou de todos os animais puros e de todas as aves puras, e ofereceu-os em holocausto ao Senhor sobre o altar. O Senhor respirou um agradável odor, e disse em Seu coração: ‘Doravante, não mais amaldiçoarei a terra por causa do homem – porque os pensamentos do seu coração são maus desde a sua juventude –, e não ferirei mais todos os seres vivos como o fiz.’” (Gn 8,20-21) Em virtude do sacrifício oferecido por Noé, a ira divina foi aplacada, como pede a Lei Moral natural, e o benefício propiciatório das ofertas sacrificadas foi alcançado: o perdão e a misericórdia.

“Voltando Abrão da derrota de Codorlaomor e seus reis aliados, o rei de Sodoma saiu-lhe ao encontro no vale de Savé, que é o vale do rei. Melquisedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, mandou trazer pão e vinho, e abençoou Abrão, dizendo: ‘Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que criou o céu e a terra! Bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos em tuas mãos!’ E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo.” (Gn 14,17-19)

Melquisedeque, personagem misterioso, cuja história não é conhecida, é uma das primeiras figuras ou símbolos do Cristo que há de vir. Ele é o rei de Salém, primeiro núcleo da futura Jerusalém, como Cristo é o Rei dos Judeus, o Rei de Israel, que instalará Sua capital na Jerusalém Celeste (cf. Ap 21). Trazendo pão e vinho, simboliza Jesus que, por esses elementos, perpetuará a Eucaristia. Sacerdote que era, Melquisedeque, não era da linhagem do Povo Eleito, o que aponta para a Lei Moral que não se limitava aos descendentes de Abraão. Mais tarde, o salmista irá dizer, profeticamente, do Cristo: “Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque.” (Sl 109,4) O sacerdote, como veremos, é figura essencial em um sacrifício, que não se faz sem ele, sem altar e sem vítima.

Após o encontro com Melquisedeque, Abraão, na época chamado simplesmente Abrão, permaneceu firme em seu chamado por parte de Deus. Nele foram depositadas as promessas de que seria o patriarca de um grande povo, de onde sairia o Messias, o Salvador. Sendo sua mulher, Sara, idosa e estéril, só um milagre poderia fazer tal promessa ser cumprida. E foi o que aconteceu. A fidelidade de Deus, que não se deixa vencer em generosidade, permitiu-lhe contemplar as Suas maravilhas. “O Senhor visitou Sara, como Ele tinha dito, e cumpriu em seu favor o que tinha prometido. Sara concebeu e, apesar de sua velhice, deu à luz um filho a Abraão, no tempo fixado por Deus. Abraão pôs o nome de Isaac ao filho que lhe nascera de Sara.” (Gn 21,1-3)

Tempos depois, o mesmo Deus que tinha lhe dado Isaac, pede a Abraão que o sacrifique em Sua honra. Na verdade, trata-se de uma prova, a qual Abraão passou. Amando mais a Deus que qualquer outra coisa, estava pronto a sacrificar seu filho para a remissão dos pecados. Por conhecer suas disposições, o Senhor deu-se por satisfeito e, no altar do Monte Moriá, mandou um anjo seu interromper a oferta que Abraão fazia de Isaac, indicando-lhe, outrossim, um cordeiro para o sacrifício. “Abraão, levantando os olhos, viu atrás dele um cordeiro preso pelos chifres entre os espinhos; e, tomando-o, ofereceu-o em holocausto em lugar de seu filho.” (Gn 22,13) Estamos diante de um outro símbolo messiânico, no qual um cordeiro é sacrificado no lugar de outros. O cordeiro substituiu Isaac, como se o próprio fosse sacrificado, e não o animal.

Presente em todos os povos, como vimos, a noção de sacrifício foi aperfeiçoada pelo povo de onde sairia o Messias. Apesar de alguns serem verdadeiros holocaustos (os realizados pelos legítimos adoradores do Deus único), Deus só foi revelar o ritual com o qual queria ser adorado mediante os sacrifícios, quando da libertação do Povo Eleito da terra do Egito. Isso pela vontade de Deus em estabelecer uma Revelação de caráter progressivo, para que o homem fosse entendendo os Seus desígnios em formar um povo santo, à Sua imagem e semelhança. Respeitando a própria limitação do homem, Deus usou de acontecimentos históricos, mandamentos, ordens e rituais, para apontar ao Messias, que viria quando chegasse a plenitude dos tempos.

De tal modo aconteceu, que Moisés, o legislador de Israel e guia do Povo Eleito em sua fuga e peregrinação pelo deserto rumo a Canaã, estabeleceu, por ter ouvido da boca do próprio Deus, as leis específicas quanto ao sacrifício. Encontramo-las, principalmente, no livro do Levítico.

Todo sacrifício requer um sacerdote, um altar e uma vítima. De todo o Israel, somente uma tribo, a de Levi, foi escolhida para, de seus membros, saírem os que ocupariam as funções afeitas ao sacerdócio. Os levitas eram os responsáveis pelo culto do Deus de Israel. Alguns desses levitas, quando descendentes do sacerdote Arão (irmão de Moisés), formariam a classe sacerdotal, que ofereceria diretamente o sacrifício.

O altar era, enquanto não havia o Templo, na Tenda da Reunião, no lugar chamado de Santo dos Santos, onde ficava a Arca da Aliança, contendo os Dez Mandamentos. Após a construção do Templo por Salomão, em Jerusalém, lá foi edificado o altar onde os sacerdotes, levitas descendentes de Arão, ofereceriam como sacrifício pelos pecados dos israelitas, vítimas tais como diversos animais, entre os quais, por excelência, figurava o cordeiro. Esse sacrifício era uma figura, um sinal, um símbolo do verdadeiro e único sacrifício que viria: o de Cristo.

Diz a Bíblia: “No dia seguinte, João viu Jesus que vinha a ele e disse: ‘Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.’” (Jo 1,29)

De fato, no Novo Testamento, por sua vez, o sacerdote era o próprio Cristo, Deus e Homem ao mesmo tempo, que ofereceu um sacrifício perfeito; a vítima também foi Jesus Cristo, o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo; o altar do novo sacrifício já não ficava no Templo de Jerusalém, mas era a Cruz do Calvário. Lá, Cristo ofereceu um sacrifício perfeito para, por sua morte, conquistar-nos novamente a graça de Deus e dar a vida eterna, a salvação nos céus e o perdão de todos os nossos pecados, reconciliando-se com o Criador, ao qual tínhamos traído em Adão e Eva. “Nesse Filho, pelo Seu Sangue, temos a Redenção, a remissão dos pecados, segundo as riquezas da Sua graça.” (Ef 1,7)

Se, por nossos primeiros pais, encontramos a desgraça, a morte eterna, o sofrimento, a separação de Deus e a inclinação ao mal (concupiscência), por Cristo, nos tornamos salvos. “Como efeito, todos pecaram e todos estão privados da glória de Deus, e são justificados gratuitamente por Sua graça; tal é a obra da Redenção, realizada em Jesus Cristo. Deus O destinou para ser, pelo Seu Sangue, vítima de propiciação mediante a fé.” (Rm 3,23-25)

Jesus, o Messias prometido e preparado no seio do Povo de Israel, viria, essencialmente, para morrer pelos nossos pecados. Na Cruz, se ofereceu por todos nós, sendo que éramos injustos e pecadores. Não merecíamos essa salvação, mas Deus enviou a Cristo por amor e misericórdia. “Com efeito, quando éramos ainda fracos, Cristo a seu tempo morreu pelos ímpios. Em rigor, a gente aceitaria morrer por um justo, por um homem de bem quiçá se consentiria em morrer. Mas eis aqui uma prova brilhante de amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós (...) Quando éramos ainda inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de Seu Filho.” (Rm 5,6-8.10a) “Porque aprouve a Deus fazer habitar nele toda a plenitude, e por Seu intermédio reconciliar consigo todas as criaturas, por intermédio daquele que, ao preço do próprio Sangue na Cruz, restabeleceu a paz a tudo quanto existe na terra e nos céus.” (Cl 1,19-20)

Em Jesus Cristo, temos a paz com Deus, e voltamos ao estado em que vivíamos antes do pecado original, eis que ele está definitivamente pago. “Por este motivo, o Pai Celestial, o Pai de Misericórdia e Deus Todo Poderoso e Todo Consolo, enviou aos homens, quando chegou aquela ditosa plenitude do tempo, Jesus Cristo, Seu Filho Manifestado e Prometido a muitos santos Padres antes da lei, e em seu tempo, para que redimisse os Judeus que viviam na Lei, e aos gentios que não aspiravam a santidade a conseguissem e para que todos recebessem a adoção de filhos. A seu filho, Deus nomeou como Reconciliador de nossos pecados, mediante a fé em sua paixão, e não somente de nossos pecados, mas também aqueles de todos os homens.” (Concílio Ecumênico de Trento, Decreto sobre a Justificação). Resta-nos, pois, apropriarmo-nos dessa salvação, conforme o ensinamento da Santa Igreja.

No culto levítico, estabelecido por Deus, víamos como que figuras que apontavam para Cristo. O Sumo-sacerdote da Antiga Aliança entrava no Santo dos Santos, para oferecer o sacrifício do cordeiro sobre o altar de Jerusalém. Jesus é o nosso Sumo-sacerdote (cf. Hb 4,14), aquele de quem os antigos eram apenas símbolos, e entra não num santuário terrestre, mas na própria glória de Deus, diante de Sua Divina Majestade (cf. Hb 8,1-2;9,11).

O sacrifício de Cristo, vítima e sacerdote, cordeiro e oferecedor, holocausto do qual todos os outros eram sinais que o preparavam, é suficiente para a remissão dos pecados. “Pois se o sangue de carneiros e de touros e a cinza de uma vaca, com que se aspergem os impuros, santificam e purificam pelo menos os corpos, quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu como vítima sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência das obras mortas para o serviço do Deus vivo? (...) Se os meros símbolos das realidades celestes exigiam uma tal purificação, necessário se tornava que as realidades mesmo fossem purificadas por sacrifícios ainda superiores. Eis porque Cristo entrou, não em santuário feito por mãos de homens, que fosse apenas uma figura do santuário verdadeiro, mas no próprio céu, para agora se apresentar intercessor nosso ante a face de Deus.” (Hb 9,13-14.23-24)

Nos antigos sacrifícios buscava-se a reconciliação do homem com Deus. Quando oferecidos ao divindades pagãs, não tinha valor propiciatório, porém ainda assim demonstrava-se que o desejo de buscar o absoluto estava no coração do homem, e este estava disposto a cumprir as exigências da Lei Moral natural, que ordenava que fossem celebrados sacrifícios. Todavia, oferecidos ao Deus Vivo, eram um sinal do legítimo sacrifício que viria, prova de amor do Criador que não hesita em matar Seu Filho em nosso lugar. Cristo é aquele cordeiro encontrado por Abraão entre os espinhos, e que é oferecido em lugar de Isaac. O Senhor Jesus se ofereceu em nosso lugar. Da mesma forma que Ele é o Cordeiro, somos como que à imagem de Isaac, substituídos pelo Filho de Deus. “Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado. Mas ele foi castigado por nossos crimes, e esmagados por nossas iniqüidades; o castigo que nos salva estava sobre ele; fomos curados graças às suas chagas.” (Is 53,4-5)

O sacrifício de Jesus Cristo foi único e suficiente. Não como os feitos pelos sacerdotes do Antigo Testamento, que eram carentes de renovação periódica. “Cristo ofereceu pelos pecados um único sacrifício (...). Por uma só oblação Ele realizou a perfeição definitiva daqueles que recebem a santificação.” (Hb 10,12a-14) Já não é mais necessário novos sacrifícios. Jesus é “sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque” (Hb 5,6), e, portanto, não morre mais. Morreu uma só vez, e, sendo esta suficiente, ressuscitou ao terceiro dia, e hoje vive no céu, intercedendo por nós diante do Trono, e constantemente enviando o Seu Santo Espírito sobre nós, Ele que procede eternamente do Pai.

Jesus Cristo, Nosso Senhor, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, veio ao mundo para morrer por nossos pecados, assim pagando a dívida que tínhamos contraído em Adão para como Deus. Encarnou-se no seio da Virgem Maria, tornando-se verdadeiramente homem, igual a nós em tudo, exceto no pecado.

Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Essas Suas duas naturezas, divina e humana, estão intimamente unidas, aliás, hipostaticamente unidas, i.e., ligadas na única Hipóstase ou Pessoa divina. Sua Personalidade divina, essência que Lhe é comum ao Pai e ao Espírito Santo, manifesta-se na natureza divina, gerada pelo Pai, que não foi perdida quanto de sua união com a natureza humana, gerada pela Santíssima Virgem Maria.

Por nossos pecados, contraímos uma dívida para com Deus, que deve ser paga, resgatada. Ora, diante de uma ofensa de tal magnitude, uma ofensa a um Deus, só um resgate de igual valor teria mérito. É a lei da proporção e da justiça: a uma pequena ofensa, um pequeno preço a ser pago; a uma grande ofensa, um grande preço a ser pago; a uma ofensa de valor infinito, um preço de valor infinito a ser pago! “O salário do pecado é a morte!” (Rm 6,23) Esse é o preço do pecado. E se o pecado é uma ofensa contra Deus, portanto de valor infinito, a morte a ser oferecida também deve ter valor infinito. Diante de nossa condição humana, nunca nossa morte teria valor suficiente para satisfazer o preço do pecado. A justiça requer algo maior! Para tanto, era necessário que um Deus morresse! Por isso, Deus não mandou um profeta para morrer a fim de resgatar o mundo, mas Seu próprio Filho!

Por outro lado, quem ofendeu a Deus fomos nós, os homens. Não bastaria simplesmente a morte de Deus, de Cristo, para satisfazer a justiça. Nós precisaríamos oferecer um dos nossos para pagar o salário do pecado. Nesse pensamento, concluímos o motivo de Deus ter vindo Encarnar-Se, i.e., assumir nossa natureza humana!

Jesus Cristo, por ser homem e Deus ao mesmo tempo, tem plenas condições de oferecer um sacrifício que satisfaça a justiça em seu valor (pela Sua natureza divina), e na razão de ser o ofensor que o apresenta (pela Sua natureza humana).

Jesus Cristo ofereceu Seu sacrifício na Cruz do Calvário. Completou-se o tempo necessário e, durante a Páscoa judaica, com a idade de aproximadamente 33 anos, subiu a Jerusalém e aceitou ser julgado pelos homens e receber a pena de crucifixão. Para remover a barreira que nos separava do Pai, fazendo-nos Seus filhos adotivos pela graça, o Salvador morreu na Cruz, ressuscitando ao terceiro dia, conforme prometera. O que Ele é por Sua natureza, nós, por Sua morte sacrifical, nos tornamos: filhos de Deus! Morrendo, Cristo mereceu-nos a graça, perdoando nossos pecados e nos dando por herança o Reino dos céus!

O sacrifício de Jesus Cristo foi oferecido na Cruz, e é tornado novamente presente em cada Missa celebrada. Missa, portanto, é um dos nomes que nós damos ao sacrifício da Cruz tornado novamente presente diante de nós.

A Santa Missa é o mesmo, único e suficiente sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo, oferecido de uma vez por todas, ao Pai, na Cruz do Calvário, pelo perdão de nossos pecados, tornado real e novamente presente, ainda que de outro modo, incruento, no altar da igreja pelas mãos do sacerdote validamente ordenado.

Mesmo, único e suficiente: a Missa não é um novo sacrifício para saldar nossa dívida para com Deus. Oferecido de uma vez por todas, ao Pai, na Cruz do Calvário: a Missa é o mesmo sacrifício da Cruz, não um outro. Pelo perdão de nossos pecados: como a Cruz foi a causa de nosso perdão, merecendo-nos a graça de Deus, assim também é a Missa. Tornado real e novamente presente: a mesma Cruz é tornada presente diante de nós, pois para Deus não há limite de espaço ou tempo. Ainda que de outro modo, incruento: na Cruz, Cristo derramou Seu Preciosíssimo Sangue; na Santa Missa, a Cruz é tornada novamente presente, mas de outro modo, sem derramamento de Sangue – não é, repetimos, uma nova morte de Cristo, mas a mesma e única, porém de modo incruento. No altar da igreja: todo sacrifício precisa de um altar; a Cruz foi o altar onde Cristo ofereceu o sacrifício de Seu Corpo Santíssimo; na Missa não há uma Cruz física onde Cristo deva morrer, mas um altar onde é celebrado o sacrifício e os dons são oferecidos. Pelas mãos do sacerdote: num sacrifício, além do altar, é preciso uma vítima e um sacerdote, i.e., um sacrificador; quando o altar foi a Cruz, Jesus Cristo foi a Vítima, mas também o Sacerdote, pois ninguém O matou, antes Ele mesmo Se entregou à morte por nós; na Santa Missa, se o altar é o da igreja, e a vítima é Cristo, eis que o sacrifício é o mesmo, também há identidade quanto ao sacerdote, o sacrificador. Validamente ordenado: Jesus mandou que os Apóstolos realizassem o sacrifício feito na Cruz e antecipado na última Ceia, e eles passaram o mandato a seus sucessores e aos colaboradores destes; os sucessores dos Apóstolos são os Bispos, e os colaboradores os padres, unidos a Cristo pelo sacramento da Ordem.

Então, não são dois sacrifícios, o da Cruz e o da Missa, mas um só, o da Cruz, tornado presente na Missa?

Isso mesmo! É o que afirmamos na resposta à última pergunta. Acompanhemos o que escreveu o Papa João Paulo II na Encíclica Ecclesia de Eucharistia:

“Este aspecto de caridade universal do sacramento eucarístico está fundado nas próprias palavras do Salvador. Ao instituí-lo, não Se limitou a dizer ‘isto é o meu corpo’, ‘isto é o meu sangue’, mas acrescenta: 'entregue por vós (...) derramado por vós' (Lc 22, 19-20). Não se limitou a afirmar que o que lhes dava a comer e a beber era o seu corpo e o seu sangue, mas exprimiu também o seu valor sacrifical, tornando sacramentalmente presente o seu sacrifício, que algumas horas depois realizaria na cruz pela salvação de todos. ‘A Missa é, ao mesmo tempo e inseparavelmente, o memorial sacrifical em que se perpetua o sacrifício da cruz e o banquete sagrado da comunhão do corpo e sangue do Senhor.’

A Igreja vive continuamente do sacrifício redentor, e tem acesso a ele não só através duma lembrança cheia de fé, mas também com um contacto atual, porque este sacrifício volta a estar presente, perpetuando-se, sacramentalmente, em cada comunidade que o oferece pela mão do ministro consagrado. Deste modo, a Eucaristia aplica aos homens de hoje a reconciliação obtida de uma vez para sempre por Cristo para humanidade de todos os tempos. Com efeito, ‘o sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são um único sacrifício.’ Já o afirmava em palavras expressivas S. João Crisóstomo: ‘Nós oferecemos sempre o mesmo Cordeiro, e não um hoje e amanhã outro, mas sempre o mesmo. Por este motivo, o sacrifício é sempre um só. [...] Também agora estamos a oferecer a mesma vítima que então foi oferecida e que jamais se exaurirá.’

A Missa torna presente o sacrifício da cruz; não é mais um, nem o multiplica. O que se repete é a celebração memorial, a ‘exposição memorial’ (memorialis demonstratio), de modo que o único e definitivo sacrifício redentor de Cristo se atualiza incessantemente no tempo. Portanto, a natureza sacrifical do mistério eucarístico não pode ser entendida como algo isolado, independente da cruz ou com uma referência apenas indireta ao sacrifício do Calvário.” (Papa João Paulo II. Encíclica Ecclesia de Eucharistia, 12)

“O augusto sacrifício do altar não é, pois, uma pura e simples comemoração da paixão e morte de Jesus Cristo, mas é um verdadeiro e próprio sacrifício, no qual, imolando-se incruentamente, o sumo Sacerdote faz aquilo que fez uma vez sobre a cruz, oferecendo-se todo ao Pai, vítima agradabilíssima. ‘Uma... e idêntica é a vítima: aquele mesmo, que agora oferece pelo ministério dos sacerdotes, se ofereceu então sobre a cruz; é diferente apenas, o modo de fazer a oferta.’” (Papa Pio XII. Encíclica Mediator Dei, 61)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Patriarca celebra Missa na Catedral Melquita de SP no dia de sua padroeira!

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Fotos do nosso amigo Rommel Werneck da Divina Liturgia celebrada no dia 15 de agosto, por Sua Beatitude, o Patriarca Melquita de Antioquia e Todo o Oriente, Alexandria e Jerusalém, Gregório III, na Catedral Eparquial Nossa Senhora do Paraíso, em São Paulo.

A festa da Dormição da Mãe de Deus é equivalente à titularidade da catedral, de vez que Nossa Senhora está no Paraíso justamente por conta de sua Dormição e Assunção.

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D. Edgar Madi, Eparca dos Maronitas, e, atrás, D. Fares Maakarou, Eparca dos Melquitas

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O Patriarca

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O Patriarca e o Eparca

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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

"Meu Breviário": Um modo de união com Deus!

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Como é o modo de ser da experiência de Deus e como aparece o Senhor nesta forma de oração?

Vamos aqui nos restringir no modo de ser da oração chamada "Ofício Divino", ou “Liturgia das Horas” ou ainda, “oração do Breviário”.

Por Ofício Divino, aqui na nossa reflexão, entendemos toda a oração particular ou comunitária que tem uma determinada forma oficial. Assim, o Breviário, a Santa Missa, as diferentes formas de penitência sacramental, os ritos das liturgias, as orações comunitárias predeterminadas, etc.

Talvez essa definição não seja muito correta liturgicamente, mas serve só para encaminhar uma reflexão que diz respeito a uma dificuldade, a saber: que sentido e importância têm essas estruturas prefixadas, muitas vezes impostas, para o modo de ser da experiência e para a experiência de Deus? Por quê nos devemos sujeitar a uma forma, se a essência da oração não está nessas formas exteriores?

Hoje temos uma boa sensibilidade contra tudo que tem o sabor de formalismo, de letra morta, de oração mecânica sem espírito, sem alma, sem coração, sem participação. Por isso, é que fazemos um real esforço para animar a participação nas orações oficiais e comunitárias. Esse esforço é certamente positivo.

No entanto, há um ponto a refletir para que esse nosso esforço de “animar as orações comunitárias” para que não caia no fogo de palha de um acionar irreal e de vivências sem consistência real do crescimento na oração. E um dos pontos fundamentais que hoje esquecemos no nosso afã de boa renovação é a compreensão da verdadeira importância das formas e dos ritos na experiência da oração.

Ofício, em latim officium (opi-ficium, obra feita) significa: obra do fazer crescente, na tenacidade, na constância, na paciência do trabalho artesanal per-feito.

A nossa atenção só se fixa na obrigatoriedade da imposição estruturada e esquece que o ofício, oficial, estruturado, imposto, originariamente significa: o que surge como a obra perfeita, como a obra mestra da experiência.

Em todas as atividades humanas, a obra é importante. E a obra não significa tolhimento, coerção da liberdade, da espontaneidade, mas sim a concreção real, o fruto da espontaneidade. O humano jamais é escancarado. O humano só vem a si, só se torna ele mesmo na de-terminação no concreto. Sem essa determinação no concreto toda energia humana se esvai no vazio, não produz fruto.

Com outras palavras, a interioridade humana sempre toma forma concreta de expressão. É na expressão concreta que vem à fala a firmeza e o crescimento real da identidade do vigor humano. E o vigor da experiência, o vigor da identidade que cresceu na experiência sempre vem à fala como ofício no sentido acima explicitado.

Tal expressão, o ofício, a obra perfeita da identidade crescida na experiência é firme, tem sua forma bem determinada, coerente em si, nada ali é arbitrário, tudo é necessário, até o mínimo ponto no i. Não admite, pois, tão facilmente a modificação de forma conforme o gosto e a necessidade subjetiva de cada indivíduo, se impõe como norma, lei e estrutura objetiva. Tudo isso, no entanto, não é o resultado do desejo de assegurar-se, de domínio, não vem do medo de mudanças, mas sim da firmeza e coerência da concreção que tornou necessária como a obra.

Se pensarmos, por exemplo, no ballet, na ginástica artística, logo compreenderemos o que queremos dizer.

Uma pessoa que não cresceu na identidade, no trabalho lento e tenaz da experiência, não pode compreender a imposição, a firmeza e as exigências de tais obras. Pois, o seu modo de ser só pode entender a liberdade vital como uma espontaneidade oposta a limites e estruturas.

Em tal nível de identidade se vive no dualismo de espontaneidade e necessidade, sem se conseguir encarnar o material da estrutura com o vigor do espírito que tudo vivifica. Por isso, se busca novidade de formas em que se possa gozar o elã de sentimento e vivências, que, se repetidas, tornam-se corriqueiras e rotineiras e nos acossam à busca insatisfeita de novas formas e estruturas.

Quando há muita repugnância em relação à oração oficial bem estruturada, ao mesmo tempo uma busca excitada de novidade de formas, quando há a incapacidade de deixar-se afeiçoar pelas formas concretas bem disciplinadas de um rito, pode ser que atrás de tudo isso esteja o problema da fraqueza da identidade, portanto a falta de crescimento na experiência.

Se for o caso, a oração oficial, formas e formulações estruturadas têm a função de nos desafiar à recordação de que a essência, o vigor da oração não está em eu fazer o que mais me agrada, não está em eu ter vivências, mas sim em trabalhar paciente e diligentemente o trabalho da experiência, o trabalho artesanal do ofício, para deixar vir à fala na concreção necessária e coerente a fala de Deus. A fala de Deus é Espírito e Vida, sopra onde lhe apraz.

A liberdade da fala de Deus, portanto, exige de nós disciplina e rigor fora de série na ausculta e na ob-audiência. Tal rigor e precisão de audiência eu jamais consigo em explosões e em veleidades sentimentais e vivenciais do meu querer, mas na rotina assumida, na repetição, na demora e na paciência do trabalho da experiência: ora et labora!

O que chamamos de interioridade da oração, portanto, não é um sentimento vivencial fogo de palha. É antes uma transformação de todo o meu ser, doada através de um trabalho lento e continuado, fiel e disciplinado, como no caso de um artista.



Uma fórmula morta, um rito esvaziado, uma nova fórmula, rito antigo, rito novo, não recuperam o seu vigor sem essa transformação do nosso ser. E se na experiência nos transformamos no vigor orante, perceberemos que as fórmulas e os ritos antes mortos eram mortos porque eu no meu modo de ser estava fraco e anêmico de identidade do vigor humano, não era capaz de encarnar a terra dos homens.

Se na busca de interiorização na oração não trabalharmos assim, sóbria e tenazmente, para esse tipo de crescimento na experiência, a nossa interiorização pode nos alienar para a busca de sentimentos e vivências sem realidade e assim falsificar o espírito de oração, enfraquecendo aos poucos o nosso ser, de tal sorte que não conseguiremos fazer ressoar o louvor de Deus no cotidiano banal da nossa vida. Cotidiano banal que, na realidade, se soubermos repercutir o toque de Deus, nada tem de banal e de cotidiano!

Não blasfememos, confundindo a Inspiração de Deus e a obra da sua Liberdade com o “cio” da nossa subjetividade.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

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