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terça-feira, 3 de maio de 2011

A Beleza na Liturgia: Entervista com Mons. Guido Marini

A seguinte entrevista com mons. Guido Marini, mestre das cerimônias papais, foi publicada na revista eletrônica polonesa Sunday Catholic Weekly, traduzido por nós a partir do Pe. Z.

Wlodzimierz Redzioch: Como podemos entender a colaboração entre o Papa Bento XVI e seu Mestre de Cerimônias? O Papa não decide sobre tudo?
Mons. Guido Marini: Em primeiro lugar, eu gostaria de frisar que as celebrações que Santo Padre preside devem ser tomadas como pontos de referência para toda a Igreja. O Papa é o sumo sacerdote, aquele que oferece o sacrifício da Igreja, aquele que transmite o ensinamento litúrgico a ser usado no decorrer das celebrações – o ponto de referência para tudo. Levando isso em conta, fica mais fácil compreender qual deve ser o tipo de colaboração entre o Mestre de Cerimônias Papais e o Santo Padre. Deve-se agir de modo a tornar a liturgia papal a expressão de sua autêntica orientação litúrgica. Portanto, o Mestre de Cerimônias Papais deve ser um humilde e fiel servo da liturgia da Igreja. Eu sempre procurei compreender desssa forma o meu trabalho no Ofício de Celebrações Litúrgicas Papais.

W.R.: Nós todos podemos ver as mudanças introduzidas nas celebrações litúrgicas por Bento XVI. Como podemos sintetizá-las?
Mons.: Penso que tais mudanças podem ser sintetizadas da seguinte maneira: primeiramente, são mudanças feitas de acordo com a lógica de desenvolvimento da continuidade com o passado. Assim, não simplesmente tratamos de quebrar com o passado, justapondo as liturgias pontificais que nos precederam. Em segundo lugar, as mudanças introduzidas servem para evocar a verdadeiro espírito da liturgia como desejava o Concíio Vaticano Segundo, "O 'assunto' da beleza intrínseca da liturgia é o próprio Cristo, ressureto e glorificado no Espírito Santo, que inclui a Igreja em seu trabalho."

W.R.: Celebrações feitas de frente para a cruz, a Sagrada Comunhão recebida diretamente na boca e de joelhos, momentos mais prolongados de silêncio e meditação – essas são as mudanças litúrgicas mais visíveis introduzidas por Bento XVI. Infelizmente, muitas pessoas não compreendem os significados teológicos e históricos dessas mudanças e, o que é pior, podem ver isso como um "retorno ao passado". Você poderia explicar brevemente os significados dessas mudanças?
Mons.: Para dizer a verdade, nosso ofício tem recebido muitos depoimentos de fiéis que receberam positivamente as mudanças introduzidas pelo Papa porque eles as reconhecem como a autêntica renovação da liturgia. Em relação ao significado de algumas mudanças, direi umas poucas e sintéticas reflexões. Celebrar de frente para a cruz indica a correta direção da oração litúrgica, i.e., de frente para Deus; durante as orações os fiéis não devem olhar para si mesmos, mas dirigir o olhar ao Salvador. A distribuição das hóstias para o povo de joelhos busca dar valor ao aspecto de adoração tanto como o elemento fundamental da celebração e como a atitude necessária de quem se coloca de frente ao mistério da presença real de Deus na Eucaristia. Durante a celebração litúrgica a oração assume várias formas: palavras, cânticos, música, gestos e silêncio. Além disso, os momentos de silêncio nos permitem participar verdadeiramente do ato de adoração, e mais ainda, evoca do interior todas as outras formas de oração.

W.R.: O Papa dá grande importância às vestes litúrgicas. É uma questão de puro esteticismo?
Mons.: Para entender melhor as idéias do Papa sobre o sentido da beleza como um elemento importante das celebrações litúrgicas eu gostaria de citar a exortação apostólica "Sacramentum Caritatis": "A relação entre mistério acreditado e mistério celebrado manifesta-se, de modo peculiar, no valor teológico e litúrgico da beleza. De facto, a liturgia, como aliás a revelação cristã, tem uma ligação intrínseca com a beleza: é esplendor da verdade (veritatis splendor). [...] [Isso não é] mero esteticismo, mas como modalidade com que a verdade do amor de Deus em Cristo nos alcança, fascina e arrebata, fazendo-nos sair de nós mesmos e atraindo-nos assim para a nossa verdadeira vocação: o amor. [...] A verdadeira beleza é o amor de Deus que nos foi definitivamente revelado no mistério pascal. [...] A beleza da liturgia pertence a este mistério; é expressão excelsa da glória de Deus e, de certa forma, constitui o céu que desce à terra [...]. [A] beleza não é um factor decorativo da acção litúrgica, mas seu elemento constitutivo, enquanto atributo do próprio Deus e da sua revelação.

W.R.: Bento XVI trocou de báculo pastoral – atualmente ele está usando o báculo com a cruz. Por quê?
Mons.: Eu gostaria de recordar que até o pontificado do Papa Paulo VI os papas não usavam báculos; em ocasiões especiais eles levavam uma férula (cajado em forma de cruz). O Papa Montini, Paulo VI, foi quem introduziu o báculo em forma de cruz. E assim fez Bento XVI até o Domingo de Pentecostes de 2008. Desde então ele vem usando a férula porque ele acredita que é um item mais apropriado para a liturgia papal.

W.R.: Por que é tão importante que a Igreja preserve o uso do Latim na liturgia?
Mons.: Embora o Concílio Vaticano II tenha introduzido línguas vernáculas, ele recomenda o uso do Latim na liturgia. Eu acredito que há duas razões pelas quais não devemos deixar de lado o Latim. Acima de tudo, temos um grande legado litúrgico do Latim: desde o canto Gregoriano até a polifonia, bem como os "testi venerandi" (textos sagrados) que os Cristãos usaram desde épocas remotas. Além disso, o Latim permite-nos demonstrar a catolicidade e universalidade da Igreja. Nós podemos experimentar essa universalidade de uma forma peculiar na Basílica de São Pedro e durante outros encontros internacionais quando homens e mulheres de todos os continentes, nacionalidades, línguas, cantam e rezam na mesma língua. Quem não se sentirá em casa quando, ao estar na Igreja, pode se unir a seus irmãos e irmãs na fé pelo menos em alguns momentos pelo Latim?

W.R.: Você concorda que a fé do sacerdote é expressa de modo especial na liturgia?
Mons.: Eu não tenho dúvidas quanto a isso. Uma vez que a liturgia é a celebração do mistério de Cristo, aqui e agora, o sacerdote é chamado a expressar sua fé em uma "via de mão dupla". Primeiramente, ele deve celebrar com os olhos de quem vê além da realidade visível pra "tocar" o que é invisível, i.e., a presença e a ação de Deus. É a "ars celebrandi" (arte da celebração) que permite ao fiel perceber quando a liturgia é apenas uma performance, uma espetáculo para o sacerdote, de quando é uma relação viva e atraente ao mistério de Cristo. Em segundo lugar, depois da celebração o padre está renovado e pronto para seguir o que ele experimentou, i.e., fazer de sua vida uma celebração do mistério de Cristo.
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