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sábado, 4 de fevereiro de 2012

Homilia do V Domingo do Tempo Comum (Ano B)

Por Padre Samuel Pereira Viana, Diocese de Santo Amaro e professor no Seminário Maria Mater Ecclesiae.

Caros irmãos, hoje o Senhor nos quer ajudar a compreender, ao menos um pouco, o mistério do sofrimento humano. Ele o pode fazer, pois a partir da sua Encarnação, tornou-se igual a nós em tudo, menos no pecado, como nos afirmam as Sagrada Escrituras, em Hebreus.

Nós sempre ensinamos e afirmamos que o sofrimento é o fruto podre do pecado, nosso e/ou dos outros. Ora, como então afirmar que o Senhor nos pode conduzir à uma melhor compreensão do sofrimento, uma vez que Ele não pecou? E se não pecou, foi seu sofrimento verdadeiro a ponto de poder guiar-nos no enfrentamento dele?

O sofrimento, caros irmãos, nós não devemos somente padecer, mas também enfrentar, mesmo nos arriscando perigosamente. É esta luta ou guerra a que Jó faz referência, na leitura que ouvimos: “Não vive o homem sobre a terra como um soldado (numa vida de luta)”? Recordemos que Jó é aquele justo que não cometera nenhum delito contra Deus, mas que foi tentado, tendo perdido tudo e ficado com o corpo cheio de chagas. Jó tudo isto sofreu e enfrentou, com permissão divina, demonstrando não só sua paciência, mas muito mais a sua fé. É a fé que é a mãe da paciência neste caso, e não o contrário. Jó não conseguiria ter agido do modo como agiu se antes não tivesse se entregado confiante nas mãos de Deus. Mesmo sem compreender e lamentando, uma vez que é humano, não peca sofrimento e na dor, nos deixando belíssimas expressões com as quais podemos nos dirigir a Deus quando também não compreendemos por que sofremos... Lamenta-se, não blasfema. Tem consciência da sua humana condição: “Recordai-Vos que a minha vida não passa de um sopro e que os meus olhos nunca mais verão a felicidade”.

Deste modo, Jó antecipa em figura, não em realidade o próprio Senhor que sendo Deus, se faz homem sem pecado. E ao assumir nossa humana condição, também assume nossos sofrimentos. Dirijamo-nos em pensamento para o Horto das Oliveiras... “Pai, se quiseres, afasta de Mim este cálice, não se faça, contudo, a minha vontade mas a tua”. Então vindo do Céu, apareceu-Lhe um anjo que O confortava. Cheio de angústia, pôs-se a orar mais instantementee o suor tornou-se-Lhe como grossas gotas de sangue, que caíam na terra. Por nossos sofrimentos que assume, procura indicar-nos o caminho para retornarmos à perfeita saúde. Esta palavra é tradução da palavra latina salus. Por sua vez, também se traduz como SALVAÇÃO. Procuremos compreender o que popularmente nós dizemos: “Saúde é o que interessa, o resto não tem pressa”. Este bordão exprime, mesmo que inconscientemente, a importância que tem a saúde/salvação. Como disse, salus pode-se traduzir porsalvação. É isto que nos deve importar. Encontrar a salvação que vem de Deus é encontrar saúde. Melhor, observemos, hoje o Senhor que se desloca do seu caminho para Jerusalém, ainda na Galiléia, e vai à casa de Simão Pedro, pois sua sogra estava doente [um parênteses: não se menciona sua esposa jamais. Mas se tinha sogra é porque teve esposa, indicando assim, pelo silêncio, a possível viuvez dele]. Retornemos...
Lá, Nosso Senhor a cura. A salvação, a saúde vem ao seu encontro. É o próprio Senhor. Recobrada a saúde, nos dá o segredo de mantê-la, como salvação: “A febre deixou-a e ela começou a servi-los”...

Serviço ao Senhor e aos outros que necessitam é o fruto da salvação-saúde que Ele quer que tenhamos.

É um milagre, que São João chama de sinal. Sinal de quê? Nosso Senhor nos indica ao curar muitos, mas não todos os que se puseram em frente da casa de Pedro. Ele não curou todos, mas curou muitos. Depois do quê se retira, sozinho, num lugar deserto para rezar. Ora, Ele assim nos indica que a nossa saúde é que deve tornar-se sempre para nós ocasião de nos aproximar mais de Deus pela oração e agradecermos nos colocando a serviço, como Ele próprio no Horto: “Depois de ter orado, levantou-Se e foi ter com os discípulosencontrando-os a dormir devido à tristeza.”. Não é a doença que deveria em primeiro lugar nos fazer lembrar de Deus, mas a saúde, que é seu dom, embora por ela, experimentamos como Jó, nossa condição de limitados e necessitados da sua visita.

Nosso Senhor curou muitos, mas não todos, pois não quer reduzir sua missão simplesmente à dimensão terrena, por isso, diante da insistência dos discípulos ele já os corrige, para o verdadeiro sentido da sua missão: “Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de pregar aí também, porque foi para isso que Eu vim”. Veio, pois, para anunciar o Evangelho. Tal palavra significa boa notícia. A boa notícia, caros irmãos é que somente nEle nós encontramos o que buscamos e a cura para tudo quanto nos faz ficar prostrados. Não somente doenças físicas, mas também espirituais. No Horto, os discípulos dormiam devido à tristeza. Tudo, pois, quanto nos faz permanecer prostrados e inativos, queimando de febre espiritual ou dormindo. Por isso o Senhor os alerta e a nós: “"Porque dormis? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação". Todos sabemos que a febre é sempre sintoma, como a dor de cabeça, de que algo não vai bem...

Esta boa notícia, tem tamanha importância que São Paulo diz, com referencia a si, e a nós, por extensão: “Ai de mim se não anunciar o Evangelho”! Isto deveria nos levantar e nos colocar a serviço (como a sogra de Pedro), depois de termos recebido o Senhor na Eucaristia. Ele, que é nossa salvação presente em nós pela comunhão. Para nos colocar em estado de missão e ganhar, como São Paulo se não todos, ao menos, alguns para Cristo, é necessário estar vigilantes e atentos, não buscando repouso e fuga da realidade!

Tenhamos disposição e procuremos pedir-Lhe que nos conceda sempre saúde corporal, que nos sirva não para o pecado e afastamento dEle, mas para a salvação, intimidade com Ele na oração e, por Ele, no Espírito, com o Pai. Deste modo, não fiquemos querendo transformá-Lo em milagreiro [lembrem-se da resposta que deu a Pedro e aos discípulos. Ele se furta a este tipo de gente que só O procura para isto!], mas unidos a Ele, imitemos Paulo fazendo-nos “tudo para todos, a fim de ganhar alguns a todo o custo”, menos na cumplicidade no pecado.

Visitados por Cristo, levantemos e O sirvamos! E por Ele, com Ele e n'Ele, no Espírito para a glória do Pai nos dediquemos a aproximar os que estão longe e sem a firmeza da fonte da saúde e salvação!
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