Ora, a Ir. Ione Buyst foi uma das criadoras desta técnica estranha e mais propriamente “anti-litúrgica” do que “litúrgica”. Mais a Ir. Ione Buyst cria mais do que exóticas técnicas litúrgicas: cria também exóticas “doutrinas litúrgicas”, distantes do ensinamento da Igreja ao longo destes dois milênios de Magistério e que poderíamos classificar com certeza maior como heresias litúrgicas. Apesar disso, as obras da Ir. Ione Buyst são utilizadas em muitos seminários para formação dos futuros padres. Muitas Missas podem estar sendo inválidas porque os sacerdotes que as celebram não crêem na presença real de Cristo na Eucaristia e no sacerdócio ministerial e assim não têm a intenção da Igreja na celebração dos mais altos mistérios, graças às doutrinas esquisitas da Ir. Ione Buyst que lhes foram ensinadas nos Seminários. E que prejuízo isto deverá estar causando à Igreja Católica do Brasil e à vida espiritual do povo católico, que sem os Sacramentos é árido como um deserto!
Este é o primeiro de uma série de artigos cujo objetivo será refutar as estranhas e não-católicas doutrinas [anti-]litúrgicas da Ir. Ione Buyst. Mais que isso: doutrinas particulares, criadas pela mente fértil de uma religiosa desejosa de renegar dois milênios de Magistério da Santa Madre Igreja para criar o seu próprio “magistério”.
Começaremos esta nossa série pela refutação da “Doutrina da Confusão dos Sacerdócios” da Ir. Ione Buyst. Refutaremos esta esquisita doutrina a partir da obra “A Missa - Memória de Jesus no Coração da Vida” (São Paulo: Paulinas, 2004), de autoria da referida religiosa “liturgista”.
1. A “Doutrina da Confusão dos Sacerdócios”, por Ione Buyst
Consiste esta esquisita e particular doutrina da Ir. Ione Buyst – que nomeamos “Doutrina da Confusão dos Sacerdócios” – na afirmação de que o sacerdócio do Padre e o sacerdócio dos fiéis, iniciado com o Batismo, são iguais em natureza e ministério. Para Ione Buyst, muitos leigos há que recebem direto do Espírito santo o “dom da coordenação” e deveriam ser como ministros ordenados:
“Acabamos dando mais importância à ordenação em si, como poder sagrado, do que ao dom que a pessoa recebe do Espírito Santo para o serviço a ser prestado à comunidade. Limitamos o acesso à ordenação: na Igreja Católica somente homens não-casados, com longe preparação intelectual, são admitidos à ordenação. Resultado: seguramente mais de 70% das comunidades existentes no Brasil dependem de um ministro ordenado que vem de fora e que atende [...] De outro lado, sabe lá Deus quantas pessoas (homens e mulheres, casados e solteiros, leigos ou religiosos), atuantes pelo Brasil e fora, recebem do Espírito Santo o dom da coordenação e não estão sendo reconhecidas pela Igreja, conferindo-lhes a ordenação!” (p. 102-103, grifos nossos).
“Não estaria na hora de reconhecer com urgência esse problema e ordenar, em cada comunidade organizada, as lideranças já existentes, possibilitando assim que se celebre a eucaristia a cada domingo?” (p. 15, grifos nossos), indaga Ione Buyst à Igreja.
“A missa é realizada de maneira muito formal e centralizada no padre. [...] É como se a missa não pertencesse à comunidade, mas ao padre... Não deveria ser o inverso? Não deveria ser o padre que pergunta: ‘Como será a celebração? O que vocês prepararam? O que vocês querem que eu faça?’ As comunidades deveriam preparar normalmente a celebração da missa a partir da sua realidade e com seu modo de celebrar...” (p. 29, grifos nossos).
“Quem fará o gesto da fração do pão, enquanto se canta o Cordeiro de Deus ou outro canto adequado? É muito significativo o presidente não fazê-lo sozinho, mas justamente com as pessoas que irão distribuir a comunhão. É mais uma maneira de expressar que somos uma Igreja toda ela ministerial” (p. 137, grifos nossos).
“Quem deve comungar primeiro: o padre e os ministros? Ou o povo? Qualquer dona ou dono de casa serve primeiro a família toda antes de se servir, não é mesmo? É um sinal de educação. Não parece estranho, então, que na missa façamos o inverso?” (p. 142).
Trata-se de uma confusão completa entre o sacerdócio ministerial do Padre, que lhe é conferido pelo Sacramento da Ordem, e o sacerdócio comum dos fiéis, conferido a todos os membros da Igreja pelo Batismo.
Estes sacerdócios, contudo, são completamente diferentes, distintos em natureza e em grau. Não podem ser tratados com tamanho igualitarismo, como se fossem a mesma coisa: um não pode ser confundido com o outro, como faz a Ir. Ione Buyst em sua exótica “Doutrina da Confusão dos Sacerdócios”.
Demonstraremos a falácia destas afirmações da religiosa “liturgista” a seguir, amparados no ensino bimilenar do Magistério da Igreja.
2. Refutação da “Doutrina da Confusão dos Sacerdócios”
Mas esta doutrina que a Ir. Ione Buyst prega em suas obras não tem respaldo algum na Doutrina Católica à qual Ir. Ione Buyst deveria ser fiel, mas não é.
A Ir. Ione Buyst ignorou por completo o documento mais básico da Fé Cristã: o Catecismo. O que não é de admirar, porque se a Ir. Ione Buyst ignora o Missal Romano nos seus “Laboratórios Litúrgicos”, cedendo o lugar do Missal às invencionices de mentes criativas, quanto mais não ignorará o Catecismo em seus livros, cedendo o lugar da Doutrina Cristã a seus próprios desvarios doutrinários!
A saber, antes de tudo: o sacerdócio comum dos batizados difere substancialmente do sacerdócio ministerial. Os fiéis cristãos participam do sacerdócio de Cristo pelo Batismo na medida em que buscam a santidade de suas próprias vidas, rendem culto a Deus com elas e oferecem cada obra e sacrifício próprio ao Altíssimo. Os padres, contudo, são tirados do meio dos fiéis para o serviço dos fiéis; exercem um ministério diverso, cujo sentido é ajudar os fiéis cristãos comuns a encontrarem a santidade em suas vidas, por meio dos Sacramentos – que o sacerdote dispensa –, especialmente na Santa Missa, culto mais excelso de Deus, e na Confissão, o perdão sublime dos pecados; no desempenho deste ministério, deste serviço, o próprio sacerdote encontra sua santidade. São dois sacerdócios completamente distintos que não se confundem: o dos fiéis rende culto a Deus com suas vidas e sacrifícios cotidianos; o dos sacerdotes rende culto a Deus na celebração e dispensa dos sacramentos, onde os padres representam a Cristo, e no serviço do povo cristão. Não há confusão entre estes sacerdócios: são duas coisas distintas.
Uma consulta rápida ao Catecismo demonstra que a “Doutrina da Confusão dos Sacerdócios” da Ir. Ione Buyst está errada.
O Catecismo Romano ensina, diferenciando os sacerdócios em interno (aquele que é comum a todos os batizados) e externo (aquele que pertence apenas aos ministros ordenados):
“Relativamente ao sacerdócio interno, todos os fiéis são considerados sacerdotes, a partir do momento em que receberam a regeneração do Batismo; mas, de primazia, os justos que possuem o Espírito de Deus, e pela graça de Deus se tornaram membros vivos de Jesus Cristo, o Sumo Sacerdote. São eles que, no altar de seus corações, oferecem a Deus sacrifícios espirituais, naquela fé que se abrasa na caridade. A tais sacrifícios pertencem todas as obras boas e virtuosas que se praticam, na intenção de glorificar a Deus. Por isso, lemos no Apocalipse: ‘Em Seu Sangue, Cristo lavou-nos de nossos pecados, e fez de nós um Reino, e instituiu-nos sacerdotes para Deus, Seu Pai’. [...] O sacerdócio externo, porém, não pertence à coletividade de todos os fiéis, mas só a certos indivíduos, ordenados e consagrados a Deus, pela legítima imposição das mãos, segundo o solene cerimonial da Santa Igreja, e que se destinam de modo particular ao sagrado ministério. Esta distinção, entre dois sacerdócios, também se verificava no Antigo Testamento. [...] David falou do sacerdócio Interno. De outro lado, todos sabem perfeitamente que o Senhor havia dado muitas prescrições a Aarão e Moisés acerca do sacerdócio externo. Além do mais, reservou toda a tribo de Levi, para o serviço do Templo, e assentou por lei que ninguém de outra tribo ousasse ingerir-se nesse ministério. E, de fato, o rei Ozias foi ferido de lepra pelo Senhor, porque havia usurpado o ministério sacerdotal, e assim expiou durissimamente a sua sacrílega arrogância” (Parte II, Cap. VII, §§ 23-24, grifos nossos).
“O sacerdócio ministerial ou hierárquico dos bispos e dos presbíteros e o sacerdócio comum de todos os fiéis, embora ‘ambos participem, cada qual a seu modo, do único sacerdócio de Cristo’, diferem, entretanto, essencialmente, mesmo sendo ‘ordenados um ao outro’. Em que sentido? Enquanto o sacerdócio comum dos fiéis se realiza no desenvolvimento da graça batismal, vida de fé, de esperança e de caridade, vida segundo o Espírito o sacerdócio ministerial está a serviço do sacerdócio comum, refere-se ao desenvolvimento da graça batismal de todos os cristãos. É um dos meios pelos quais Cristo não cessa de construir e de conduzir sua Igreja. Por isso, é transmitido por um sacramento próprio, o sacramento da Ordem” (§ 1547, grifos nossos).
“O sacerdócio ministerial difere essencialmente do sacerdócio comum dos fiéis porque confere um poder sagrado para o serviço dos fiéis. Os ministros ordenados exercem seu serviço com o povo de Deus por meio ensinamento (munus docendi: ‘encargo de ensinar’), do culto divino (munus liturgicum: ‘encargo litúrgico’) e do governo pastoral (munus regendi: ‘encargo de governar)” (§ 1592, grifos nossos).
“Cristo Nosso Senhor, Pontífice escolhido de entre os homens (cfr. Hebr. 5, 1-5), fez do novo povo um ‘reino sacerdotal para seu Deus e Pai’ (Apor. 1,6; cfr. 5, 9-10). Na verdade, os batizados, pela regeneração e pela unção do Espírito Santo, são consagrados para serem casa espiritual, sacerdócio santo, para que, por meio de todas as obras próprias do cristão, ofereçam oblações espirituais e anunciem os louvores daquele que das trevas os chamou à sua admirável luz (cfr. 1 Ped. 2, 4-10). Por isso, todos os discípulos de Cristo, perseverando na oração e louvando a Deus (cfr. Act., 2, 42-47), ofereçam-se a si mesmos como hóstias vivas, santas, agradáveis a Deus (cfr. Rom. 12,1), dêem testemunho de Cristo em toda a parte e àqueles que lha pedirem dêem razão da esperança da vida eterna que neles habita (cfr. 1 Ped. 3,15). O sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial ou hierárquico, embora se diferenciem essencialmente e não apenas em grau, ordenam-se mutuamente um ao outro; pois um e outro participam, a seu modo, do único sacerdócio de Cristo. Com efeito, o sacerdote ministerial, pelo seu poder sagrado, forma e conduz o povo sacerdotal, realiza o sacrifício eucarístico fazendo as vezes de Cristo e oferece-o a Deus em nome de todo o povo; os fiéis, por sua parte, concorrem para a oblação da Eucaristia em virtude do seu sacerdócio real, que eles exercem na recepção dos sacramentos, na oração e ação de graças, no testemunho da santidade de vida, na abnegação e na caridade operosa” (§ 10, grifos nossos).
Estas características do sacerdócio interno, enumeradas pelo Papa João Paulo II, distinguem este do sacerdócio externo dos ministros ordenados. O sacerdócio ordenado – ou externo – segundo o mesmo Papa João Paulo II, na Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis, sobre a formação dos sacerdotes, difere essencialmente do outro por estar a seu serviço e por lhe ser conferido um poder sagrado na dispensa dos sacramentos a todo o povo cristão:
“Finalmente os presbíteros, dado que a sua figura e o seu papel na Igreja não substitui, mas antes promovem o sacerdócio batismal de todo o Povo de Deus, conduzindo-o à sua plena atuação eclesial, encontram-se numa relação positiva e promotora com os leigos. Eles estão ao serviço da fé, esperança e caridade destes. Reconhecem e sustentam a sua dignidade de filhos de Deus como amigos e irmãos, ajudando-os a exercitar em plenitude o seu papel específico no âmbito da missão da Igreja. O sacerdócio ministerial conferido pelo sacramento da Ordem e o comum ou ‘real’ dos fiéis, que diferem entre si essencialmente e não apenas em grau, estão coordenados entre si, ambos derivando - em forma diversa - do único sacerdócio de Cristo. O sacerdócio ministerial, de fato, não significa, de per si, um maior grau de santidade relativamente ao sacerdócio comum dos fiéis; mas, através dele, é outorgado aos presbíteros, por Cristo no Espírito, um dom particular para que possam ajudar o Povo de Deus a exercitar com fidelidade e plenitude o sacerdócio comum que lhes é conferido” (§ 17).
“De fato, como ensina o Concílio Vaticano II, ‘os fiéis por sua parte concorrem para a oblação da Eucaristia, em virtude do seu sacerdócio real’, mas é o sacerdote ministerial que ‘realiza o sacrifício eucarístico fazendo as vezes de Cristo e oferece-o a Deus em nome de todo o povo’. Por isso se prescreve no Missal Romano que seja unicamente o sacerdote a recitar a oração eucarística, enquanto o povo se lhe associa com fé e em silêncio. A afirmação, várias vezes feita no Concílio Vaticano II, de que ‘o sacerdote ministerial realiza o sacrifício eucarístico fazendo as vezes de Cristo (in persona Christi)’, estava já bem radicada no magistério pontifício. Como já tive oportunidade de esclarecer noutras ocasiões, a expressão in persona Christi ‘quer dizer algo mais do que ‘em nome’, ou então ‘nas vezes’ de Cristo. In persona, isto é, na específica e sacramental identificação com o Sumo e Eterno Sacerdote, que é o Autor e o principal Sujeito deste seu próprio sacrifício, no que verdadeiramente não pode ser substituído por ninguém’. Na economia de salvação escolhida por Cristo, o ministério dos sacerdotes que receberam o sacramento da Ordem manifesta que a Eucaristia, por eles celebrada, é um dom que supera radicalmente o poder da assembléia e, em todo o caso, é insubstituível para ligar validamente a consagração eucarística ao sacrifício da cruz e à Última Ceia. A assembléia que se reúne para a celebração da Eucaristia necessita absolutamente de um sacerdote ordenado que a ela presida, para poder ser verdadeiramente uma assembléia eucarística. Por outro lado, a comunidade não é capaz de dotar-se por si só do ministro ordenado. Este é um dom que ela recebe através da sucessão episcopal que remonta aos Apóstolos. É o Bispo que constitui, pelo sacramento da Ordem, um novo presbítero, conferindo-lhe o poder de consagrar a Eucaristia. Por isso, ‘o mistério eucarístico não pode ser celebrado em nenhuma comunidade a não ser por um sacerdote ordenado, como ensinou expressamente o Concílio Ecumênico Lateranense IV’” (§§ 28-29).
E, contra a sugestão de Ione Buyst de que, para resolver os problemas das comunidades sem padres dever-se-ia ordenar as “lideranças” que receberam “o dom da coordenação” – numa inteira ignorância do que é, realmente, a vocação ao sacerdócio, que não se resume a “liderança” ou “coordenação” –, o Papa João Paulo II diz coisa diversa: a comunidade deve, isto sim, rezar por vocações ao sacerdócio, “rezar mais fervorosamente ao Senhor para que mande trabalhadores para a sua messe [...] sem ceder à tentação de procurar soluções que passem pela atenuação das qualidades morais e formativas requeridas nos candidatos ao sacerdócio” (idem).
Conclusão
Do exposto, fica claríssimo que a doutrina da religiosa “liturgista” Ione Buyst não tem qualquer respaldo na Doutrina Católica e nem deve ser ensinada como se fosse doutrina certa. Ione Buyst confunde o sacerdócio comum dos batizados com o sacerdócio ministerial dos ordenados e, com isso, dá azo a abusos litúrgicos e problemas gravíssimos em termos de Fé.
Como ensina o Concílio Vaticano II, “o sacerdote ministerial, pelo seu poder sagrado, forma e conduz o povo sacerdotal, realiza o sacrifício eucarístico fazendo as vezes de Cristo e oferece-o a Deus em nome de todo o povo; os fiéis, por sua parte, concorrem para a oblação da Eucaristia em virtude do seu sacerdócio real, que eles exercem na recepção dos sacramentos, na oração e ação de graças, no testemunho da santidade de vida, na abnegação e na caridade operosa” (loc. cit.). São duas coisas essencialmente diversas, que não podem ser vítimas de confusão, como faz a Ir. Ione Buyst.
Contra tais desvarios doutrinários, cabe unicamente exaltar a doutrina dos Concílios e dos Papas, que com tanta exatidão ensinaram a doutrina cristã e louvaram a Cristo, louvando a Verdade.
Mas quem louva o erro, louva o pai de todo erro.