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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

D. Slattery: “Eles não deveriam ter visto a antiga liturgia ... como algo que precisava ser corrigido.”

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Trecho retirado de Rorate Coeli, a partir da entrevista de D. Edward Slattery, Bispo de Tulsa, EUA, ao National Catholic Register, publicada em 28 de outubro de 2011: D. Slattery sobre a oração, a Missa e as novas vocações.

Pergunta: O senhor tem feito declarações públicas sobre problemas com a liturgia. Que mudanças gostaria de ver?

image  Resposta: Eu gostaria de ver a liturgia se tornar aquilo que o Vaticano I pretendia que ela fosse. Isso não é algo que acontece do dia para a noite. Os Bispos que eram os Padres do Concílio vindos dos Estados Unidos voltaram para casa e fizeram mudanças muito rapidamente. Eles não deveriam ter visto a antiga liturgia, que chamamos de Missa Tridentina ou Missal do Papa João XXIII, como algo que precisava ser corrigido. Nada foi quebrado. Havia uma atitude a indicar que tínhamos que implementar o Vaticano II de um modo que afetasse radicalmente a liturgia.

O que nós perdemos em um curto período de tempo foi a continuidade. A nova liturgia deveria ser claramente identificada com a liturgia da Igreja pré-Vaticano II. Mudanças, como o deslocamento do altar, foram muito súbitas e muito radicais. Não há nada nos documentos do Vaticano II que justifique essas mudanças. Sempre tivemos a Missa de frente ao povo bem como a Missa ad Orientem ("em direção ao Oriente", com o sacerdote e o povo olhando para a mesma direção). Todavia, a Missa ad Orientem era a norma. Essas normas não vieram do Vaticano II.

Ademais, não foi uma sábia decisão acabar com o latim na Missa. Como isso aconteceu, eu não sei; mas os Padres Conciliares nunca pretenderam acabar com o latim. Eles queriam conservá-lo e, ao mesmo tempo, abrir espaço para o vernáculo, notadamente para que as pessoas pudessem entender as Escrituras.

P: O senhor mesmo já começou a celebrar Missas ad Orientem.

image  R: Sim, em nossa catedral e em umas poucas paróquias onde os sacerdotes me pedem. Na maioria das vezes, eu digo a Missa de frente para o povo quando viajo pela Diocese ou quanto tenho um grande número de padres concelebrantes, porque funciona melhor assim.

Alguns sacerdotes têm seguido meu exemplo e celebrado ad Orientem também. Eu não requisitei que mudassem. Prefiro dar o exemplo e deixar o sacerdote pensar sobre isso, rezar por isso, estudar,, e então olhar para suas igrejas e ver se é viável implementar.

P: E é positivo quando o povo pensa e fala sobre a liturgia.

image  R: Quando o povo faz da liturgia parte de suas conversas, isso é uma boa coisa. Quando sacerdotes e leigos discutem liturgia, eles verão quão importante ela é e quanto ela é obra de Deus e não nossa.

Porém, nós devemos nos aproximar da liturgia de joelhos e com uma tremenda humildade, reconhecendo que ela não nos pertence. Ela pertence a Deus. Ela é um dom. Adoramos a Deus não por criar nossas próprias liturgias, mas por receber a liturgia como ela vem até nós pela Igreja. A liturgia deve ser formada e moldade pela Igreja mesma para ajudar as pessoas a rezar melhor. E todos nós rezamos melhor quando estamos dispostos a receber o que Deus tem oferecido, ao invés de criar algo próprio.

domingo, 30 de outubro de 2011

Campanha de Consagração, com o “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria”, por Pe. Paulo Ricardo (Parte 4)

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Parte 4:




Para baixar o Áudio, clique AQUI.

Todas as informações a respeito da II Campanha Nacional de Consagrações a Santíssima Virgem estão em:

http://www.consagrate.com

Aulas ao Vivo disponíveis também em: PadrePauloRicardo.org

sábado, 29 de outubro de 2011

Usando vestes negras

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Tradução nossa do New Liturgical Movement:

 

O Dia de Finados está bem próximo, e por isso eu gostaria de continuar nossa tradição anual do New Liturgical Movement em aproveitar esta ocasião para apelar aos nossos sacerdotes que usem paramentos negros tanto para Finados quanto para Missas de Réquiem, genericamente, de acordo com o rito romano moderno - eu especifico a liturgia moderna porque no usus antiquior o preto é o que está previsto para esses dias e, então, nenhum apelo é necessário, enquanto que nas rubricas da liturgia moderna, o preto, o roxo ou branco são permitidos como opções válidas. (Nota: Eu falo em geral, excluindo a consideração específica de Requiem para jovens e crianças batizadas, onde a tradição é o uso do branco).

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Mas por que fazê-lo? Nas últimas décadas, por vezes alguns indivíduos têm tentado usar o argumento de que o uso do negro é contrário à esperança cristã na ressurreição dos mortos. Assim, alguns desses mesmos indivíduos têm protestado contra o uso do preto - e mesmo o roxo - para tais ocasiões, a despeito do uso continuado pela Igreja dessa cor litúrgica. Em respostra, eu gostaria de salientar que este não é um caso de "ou isso, ou aquilo", mas de "isso e aquilo". Em que pese os cristãos serem um povo de esperança enraizada na ressurreição, issto não invalida a resposta naturalmente emocional da tristeza ou do pranto, nem o fato de que estamos cientes também da realidade do pecado, da morte e do julgamento. Tal consciência e reserva é simplesmente uma consciência e uma reserva que brota do reconhecimento de uma realidade espiritual genuína, e o mero fato de que isso não pode ser equiparado a um desespero ou a uma esperança insuficiente na ressurreição dos mortos. Na verdade, não dar o reconhecimento adequado a essas realidades já é, em si, um problema.

Se olharmos para o ano litúrgico da Igreja, nós vemos como ele traz consigo momentos de festa, bem como momentos de jejum; que traz momentos de exuberância e alegria, e momentos da mais sombria reserva, penitência e jejum. As liturgias da Semana Santa dão, sozinhas, um exemplo particularmente condensado disto. Cada uma dessas partes ajuda-nos em aspectos particulares dentro de seus tempos determinados e nas ocasiões específicas, e também são necessariamente entendidos em relação ao e como parte de um todo maior. A perde de qualquer dessas partes resulta em uma pintura incompleta.

O uso do preto, o qual corresponde ao reconhecimento da tristeza e do lamento, do pecado, da morte e do juízo, é uma manifestação ou parte desse quadro mais completo. (E, neste ponto, gostaria de referir este está sendo considerado principalmente no contexto litúrgico e cultural do Ocidente.)

Em um nível simbólico e teológico, o tom sombrio e reservado dos paramentos negros pode ser entendido como uma lembrança da realidade dolorosa do pecado (pessoal e original) e da realidade da morte que entrou no mundo com a Queda. Ele manifesta uma espécie de santa e prudente reserva. Ele pode enfatizar a realidade do purgatório e a necessidade de orações que devemos oferecer pelos mortos - uma das sete obras de misericórdia espiritual. Da mesma forma, nós, os vivos, somos relembrados dos "quatro novíssimos" e da necessidade de cuidar do estado de nossas próprias almas, trabalhando por nossa salvação.

Em um nível cultural e pastoral, no Ocidente o preto tem uma associação particularmente forte com o simbolismo da dor e do luto. Consequentemente, o negro pastoralmente reconhece e se une à natural e perfeitamente normal resposta emocional frente a perda de um ente querido: ou à tristeza que entrou no mundo mediante o pecado e a morte.

Como um símbolo, pois, o uso do preto fala forte e pungentemente sobre uma variedade de níveis e seu uso é tão meritório que deve ser encorajado.

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Halloween: a Vigília de Todos os Santos!

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Halloween (All Hallow’s Eve, Vigília de Todos os Santos) não é satânico coisa nenhuma.

É um dia que celebra a Vigília de Todos os Santos. E os católicos irlandeses é que começaram a se vestir de diabo e bruxas. Sabem por quê? Para debochar do paganismo, para mostrar, num jeito bem celta, que os “antigos costumes” não valem nada, que o diabo não tem poder sobre Cristo. E também para manter o seu folclore (duendes, gnomos etc – mas tudo folclore, eles não acreditam nisso).

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O Halloween é a cristianização da festa pagã anterior, dos celtas, mas não é paganismo na Igreja. Até porque o festival pagão se chamava Samhain. Halloween é nome católico.

Identificar o Halloween com paganismo, como se fosse errado e satânico, é coisa recente. Fantasiar-se de bruxa é algo muito católico.

O fantasiar-se de monstro e bruxa pode até ter começado com os pagãos (mas no Samhain, não no Halloween). De qualquer forma, os católicos adotaram esse costume, mas mudando a finalidade: manifestar a supremacia de Cristo sobre o paganismo, do qual debochavam pelo uso de máscaras (inclusive de bruxas, que eram as sacerdotisas do druidismo celta).

Pagãos não teriam que se vestir de bruxas, pois eles eram adeptos da religião das mesmas (seria como se os católicos se vestissem de padre, coisa sem função). Eles se vestiam é de monstros. Nós adotamos o tal costume e ainda nos vestimos de bruxa, para debochar do paganismo.

Festas semelhantes existem no Peru e na Colômbia, com máscaras indígenas pagãs, mas para igualmente debochar do paganismo. E a Igreja lá nunca proibiu (como a da Irlanda também nunca proibiu as máscaras de Halloween).

Só considero que seja estranho esse costume no Brasil, pois não é parte de nossa cultura. Nos EUA, tudo bem, porque os irlandeses foram em massa para lá. Mas aqui? Se querem debochar do capeta e, ao mesmo tempo, celebrar o folclore, o mais sensato seria nos vestirmos de saci-pererê e mula-sem-cabeça.

A coisa é muito simples. O que significa “All Hallows Eve” (de onde vem a contração “Halloween”)? Significa “Vigília de Todos os Santos”. Era uma festa cristã, que constava do calendário litúrgico até a reforma de 1962. Logo, é uma festa cristã, não pagã. Uma cristianização do antigo Samhain (esse, sim, pagão).

Já o vestir-se de bruxa é um deboche do paganismo.

Agora se alguém faz isso para brincar de bruxo, sinto muito. Não tira a origem cristã nem da festa nem do costume.

O Halloween foi criado para combater o Samhain, esse sim um dia pagão. O Halloween é o Samhain batizado, cristianizado, purificado. Se outros o paganizaram novamente, isso é outro problema. Mas a festa é nossa!

O Natal, por exemplo, está extremamente comercial, e mesmo em alguns países é totalmente laicizado, sem nenhuma referência a Jesus. Se a moda pega, e os pagãos assumem o Natal para eles (até porque a origem também é pagã, como o Samhain), deixaremos de comemorar?

Assim como o Dia do Sol foi cristianizado e se transformou no Natal, o Samhain foi cristianizado também e se transformou no Halloween (All Hallows Eve – Vigília de Todos os Santos). Ou seja, o pagão é o Dia do Sol, e é o Samhain. Se evitarmos o Halloween por ser originado do Samhain, evitemos o Natal por ter sido o Dia do Sol. O raciocínio é IDÊNTICO!

Estamos fazendo com o Halloween, festa católica, o mesmo que fazem os testemunhas de Jeová com o Natal.

Concordo que o Halloween tenha sido deturpado por grupos esotéricos, por sua origem ser o Samhain, mas a resposta católica será repudiar uma festa que é nossa? Então, se inimigos da Igreja se apropriarem do Natal, deturparem-no e retomarem para si por causa de sua origem no Dia do Sol, passaremos a não mais comemorar o Nascimento do Salvador?

Ou vamos negar que a Vigília de Todos os Santos (All Hallows Eve, em inglês, cuja contração fica Halloween) seja uma festa católica? Festejar todos os santos é coisa pagã? Não confundam: o Samhain é pagão, porém o Halloween é católico. Agora, se os pagãos “seqüestraram” o Halloween para eles nos dias de hoje, isso é outro assunto.

Abram um calendário litúrgico anterior ao código de rubricas de João XXIII, e verão no dia 31 de outubro: “Vigília de Todos os Santos”. Se for em inglês estará “All Hallows Eve, also know as Halloween”.

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No fundo, a grande questão é se é lícito ou não aderir a essa festa. E é, porque é católica!

E se é lícito ou não fantasiar-se de bruxa, duende, vampiro. E é, pois tanto a origem é católica (irlandesa), quanto o fim pode ser neutro (crianças brincando de assustar) ou bom (debochar do paganismo). Se o fim for ruim (exaltar o paganismo, ou festejar o Samhain disfarçado em festa católica), é errado.

Alguém poderia contrapor: “A expressão “Dia das bruxas”, considerada atualmente como sinônimo fosse de Halloween, dá a idéia de um dia em que as mesmas são homenageadas ou debochadas???”

Dá a impressão que são homenageadas, eu sei. É por isso que insisto em “Halloween”, pois é o nome católico, e não em “Dia das bruxas”.

Aliás, nos EUA eles não chamam de “Dia das Bruxas”. Essa tradução portuguesa é mal feita e desconexa com a realidade. Lá é Halloween, pura e simplesmente. Se aqui querem traduzir, que traduzam direito: “Vigília de Todos os Santos”. Ou deixem em inglês mesmo: “Halloween”. Aqui no Brasil é que se inventou uma tradução ridícula e sem sentido como “Dia das bruxas”.

Um artigo da Quadrante confirma o que eu digo!

Algumas linhas, enfim, do conhecido apologista católico, Prof. Carlos Ramalhete, sobre o tema:

“As fantasias de seres malignos postas em crianças é uma forma de mostrar como eles são fracos e ridículos (como as crianças, que na Europa são tradicionalmente vistas como adultos que ainda não estão “prontos”). As fantasias de Halloween têm, assim, um sentido simbólico mais ou menos parecido com o uso de fantasias de políticos no Carnaval brasileiro.

Como, contudo, com a descristianização da sociedade americana houve um ressurgimento dos medos pagãos, atribuindo aos demônios poderes maiores que a realidade, criando-se novas formas de culto demoníco (Wicca, etc.), no que a visão calvinista de mundo não ajudou pouco (basta lembrar-se do episódio das Bruxas de Salém para ver este medo em ação), esta festa derivou até ter par alguns o significado presente de celebração da bruxaria. O que era ridículo tornou-se “mágico”, o que era uma demonstração de fraqueza tornou-se demonstração de força.

Podemos assim dizer que o Halloween atualmente adicionou conotações não-cristãs a uma festa cristã (a festa celta foi completamente perdida e submergida no cristianismo, como a nossa festa de S. João – originalmente data magna da comemoração celta do solstício de verão -, o uso de alianças de casamento, etc.). Estas conotações, porém, dentro do “mainstream” americano, não tem em absoluto um sentido de protesto aberto contra a Igreja, sendo apenas uma festa algo farsesca (logo ainda preservando algo do espírito cristão original). Apenas alguns amalucados (Wiccans e outros) a vêem como celebração da bruxaria e não como uma espécie de Carnaval.”

Evidentemente, não estamos, com isso, de modo algum, legitimando o abuso que hoje se faz em relação à data.

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Comentário litúrgico:

Mesmo entre os que usam o Missal e o breviário de 1962 (forma extraordinária, portanto), não existe mais a “Vigília de Todos os Santos”. Liturgicamente, então, não há como comemorar “Halloween” nem na forma ordinária, nem na extraordinária.

Todavia, embora não haja Missa ou Ofício próprios no dia 31 de outubro (ou no sábado anterior ao Domingo para o qual a Solenidade de Todos os Santos é transferida, onde ela o é, como no Brasil), pode-se aproveitar para reunir os fiéis na recitação pública das I Vésperas de Todos os Santos. Não é A Vigília de Todos os Santos, como um dia assinalado no calendário, mas não deixa de ser UMA vigília (não em preparação, mas a própria festa, como já é I Vésperas). Não há Missa específica da vigília, contudo se pode celebrar publicamente as I Vésperas, com grande solenidade, paramentos brancos, e mesmo Exposição e Bênção do Santíssimo Sacramento. Um Ofício público das Vésperas diante do Santíssimo exposto seria uma grande oportunidade para, na Igreja, celebrar bem o “Halloween”.

Após as Vésperas, pode-se, ainda diante do Santíssimo e antes de dar a bênção, no tempo previsto para a adoração, recitar a Ladainha de Todos os Santos, prevista no Ritual Romano.

Uma atividade “para-litúrgica”, outrossim, pode ser feita em sua igreja, família ou comunidade religiosa, com textos da antiga Liturgia das Horas pré-1962, retirando toda e qualquer idéia que vincule tal atividade à liturgia. Os textos de antigas liturgias não são mais litúrgicos, porém podem ser usados como devoção pessoal.

E, depois da liturgia ou para-liturgia, se quiserem as crianças se fantasiar e pedir doces, que o façam, sendo-lhes explicado o sentido de tudo isso que acabamos de expor.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Tradições da Missa de finados: o uso das velas de cera crua de abelha

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As Missas Requiem, entre as quais as três celebradas no próximo dia 2 de novembro, pedem, segundo antiquísima tradição presente ainda na forma extraordinária do rito romano, o uso não de velas comuns de cera, mas de cera exclusivamente de abelha e, mais, ceras cruas, aquelas amareladas, não tratadas.

Quem sabe não retomamos essa tradição, nunca proibida, também na forma ordinária, dado que são as duas formas usos de um mesmo rito romano?

Um dos sentidos do uso dessas velas de cera crua é o seu tom mais escuro e sombrio, que combina perfeitamente com o luto sentido nas cerimônias, ao contrário da vela branca, que confere uma clara conotação de alegria e júbilo. É a mesma idéia dos paramentos pretos, em contraste com os paramentos brancos ou dourados das festividades.

Os candelabros podem ser em um tom mais escuro também, bem como a cruz do altar, que, juntos, compõem o arranjo beneditino.

Fotos das velas de cera de abelha crua:







segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Carta do Patriarca Melquita, Gregório III, sobre a liturgia

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image  Sua Beatitude, o Patriarca Gregório III de Antioquia e Todo o Oriente, de Alexandria e de Jerusalém, dos Católicos Greco-Melquitas, escreveu recentemente uma Carta sobre a Divina Liturgia. O New Liturgical Movement destacou alguns trechos, que foram traduzidos ao português por um leitor que quer se manter no anonimato, aluno brasileiro do Seminário Patriarcal Melquita de Sant’Ana, em Rabouè, Líbano.
Vale muito a pena a leitura, dado que toca não só em aspectos do rito bizantino, mas da própria teologia litúrgica católica como um todo, defendendo o ad Orientem ou versus Deum, e, com respeito, insinuando uma crítica, de passagem, a invenção “latina nova e recente” de se celebrar voltado para o povo. Os comentários entre os textos de Sua Beatitude são do NLM, também traduzidos pelo seminarista.
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A Eucaristia é o Mistério dos Mistérios assim como a Páscoa é a Festa das Festas

7. A comunidade dos fiéis vive pela fé no mistério de Cristo. Os sacramentos são facetas, transfigurações ou aparências do mistério de Deus que tomou forma humana para dar à humanidade sua forma divina. Uma vez que a Eucaristia é o sacramento de todos sacramentos, ela coroa todas as várias orações e serviços litúrgicos.A Eucaristia é como a Páscoa: não está no rol comumdas festas, poisé seu pináculo, como nossas orações litúrgicas costumam dizer, a "festa das festas e a celebração das celebrações"(Oitavo Ode do Cânon Pascal).
Em verdade, existe um elo essencial entre a Páscoa ea Eucaristia, pois esta é o lugar sacramental em que a Páscoa de Cristo é dilatadae se torna a Páscoa da Igreja, "a oferta da ressurreição", segundo São Gregório Nazianzeno, no quarto século, ou ainda "o ícone da economia do Salvador", de acordo com a expressão de Nicolau Cabasilas, no décimo quarto século.Por isso, espiritualidade eucarística da Liturgia condensa-se e encontra a espiritualidade do ano litúrgico nestas três linhas principais:
i. O serviço da Palavra corresponde à Teofania (ao Natal, Batismo e à pregação do Evangelho)
ii. O serviço da anáfora corresponde à Páscoa (à Paixão, Crucificação e Ressurreição)
iii. O serviço da Comunhão corresponde à theosis [NT: divinização, santificação].
Em uma seção posterior, voltamos a esse tão familiar tema da sagrada liturgia como um antegozo do céu:
A liturgia como um antegozo do Reino
14. Na Divina Liturgia, vivemos de uma maneira especial, conquanto ainda na terra, a liturgia celeste, na qual as miríades de anjosrendem glória e louvor à Divina Trindade, indivisívelem essência, dizendo: "Santo, santo, santo é o Senhor Deus dos Exércitos. O céu ea terra estão cheios de vossa glória "(cf. Isaías 6, 3). É a canção celestial que ouvimos ressoar no coração da igreja. E a ela nós adicionamos o hino terreno, em que Jerusalém saúda o Rei vindo para salvar: "Bendito o que vem em nome do Senhor; Hosana nas alturas" (Mateus 21, 9b).
15. A Divina Liturgia translada-nos para o céu, pois nos abre uma dimensão escatológica e faz com que assim "tomamos parte em uma antecipação da liturgia celeste, que é celebrada na cidade santa de Jerusalém, para a qual caminhamos como peregrinos" (Vaticano II Constituição sobre a Sagrada Liturgia, no. 8).
16. A Divina Liturgia traz-nos também o próprio céu eproporciona a entradadele em nossa vida cotidiana. A Igreja ou comunidade eucarística é o lugar do novo nascimento através do Espírito Santo, o nascimento que o nosso Senhor Jesus Cristo entregou-nos no mistério de sua morte e ressurreição. É uma comunidade do Evangelho e da Eucaristia. É o Corpo de Cristo o lugar de Pentecostes, onde o Espírito Santo descee torna o pão eo vinho Corpo e Sangue de Cristo, assim como Ele torna os fiéis outros Cristos, e transforma toda a criação no templo vivo de Deus, em que, em suas câmaras, são repetidoscânticos e hinos de agradecimento e louvor, pois toda a criação "geme... esperandoredenção..." (Romanos 8,22-23)
17. Então, a terra torna-se céu ea vida torna-se, na visão cristã, uma DivinaLiturgia universal, cósmica. É por essa razão que se diz que a Divina Liturgia é o céu na terra.
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Sobreo ad orientem, ou a oração litúrgica voltada para o Oriente:
41. A Instrução ["Aplicação das prescrições litúrgicas do Código dos Cânones das Igrejas Orientais", Congregação para as Igrejas Orientais, 1996 - em inglês, aqui] menciona a importância de se orar voltado para o Oriente no No. 107, "Desde antigostempos que tem sido habitual na oração das Igrejas Orientais prostrar-se até o chão, voltando-se para o oriente; os próprios edifícios foram construídos de tal forma que o altar estivesse virado para o oriente. São João Damasceno explica o significado dessa tradição: "Não é por simplicidade, nem por acaso, que oramos voltados para as regiões do Oriente .... Uma vez que Deus é luz inteligível (1 João 1, 5), e nas Escrituras, Cristo é chamado o Sol da justiça (Malaquias 3, 20) e do Oriente (Zacarias 3,8 da LXX [NT: Septuaginta]), é necessário dedicar o Oriente a ele, a fim de render-lhe adoração. A Escritura diz: "Então o Senhor Deus plantou um jardim no Éden, no oriente, e colocou ali o homem que tinha formado" (Gênesis 2: 8). ... Em busca da pátria antiga e tendendo para ela, nós adoramos a Deus. ... Esperando por ele, nós nos prostramos em direção ao Oriente. É uma tradição tácita, decorrente dos Apóstolos" .
Esta rica e fascinante interpretação também explica o motivo pelo qual o celebrante que preside a celebração litúrgica rezavoltado para o leste [NT: que nem sempre pode coincidir com o Oriente geográfico], assim como as pessoas participantes. Não é uma questão, como se costuma afirmar, de presidir a celebração com as costas viradas para o povo, mas sim de orientar as pessoas em peregrinação rumoao Reino, que é invocado em nossa oração até o retorno do Senhor.
Tal prática, ameaçada em tantas Igrejas Orientais Católicas por uma influência latina nova e recente, é, portanto, de profundo valor e deveria ser preservada como verdadeiramente coerente com a espiritualidade oriental litúrgica.
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Na fidelidade à tradição (permitindo, ao mesmo tempo, o desenvolvimento em continuidade com a mesma):
43. A Instrução destaca a importância da fidelidade à tradição. Lemos no. 109, "Não se pode negar que as Igrejas católicas orientais foram expostas, em tempos bastante recentes, à influência dos estilos de arte sacra completamente estrangeiros a sua herança, tanto na forma externa dos edifícios sagrados, quanto à organização do espaço interior e às imagens sacras. Ainda, das observações precedentes,emerge uma unidade harmoniosa entreas palavras, gestos, espaço e os objetos próprios e específicos de cada uma das liturgias orientais. A este aspecto, deve-se referir continuamenteplanejar de novos lugares de culto. E naturalmente exige-seda parte do clero um conhecimento aprofundado da sua própria tradição, alémde um plano de formação para os fiéis que seja constante, bem estabelecido e sistemático, para que eles sejam plenamente capacitados a perceber a riqueza dos sinais que lhes foram confiados. Fidelidade não implica fixação anacrônica, como a própria evolução da arte sacra -- até mesmo no Oriente --demonstra, mas sim uma desenvolvimento que seja totalmente coerente com o significado profundo e imutável atribuído pela celebração a tais sinais."
Finalmente, não posso deixar de partilhar o seguinte comentário, bastante franco, obviamente dirigido aos que reclamam sobre o comprimento da Divina Liturgia melquita:
70. Já tivemos de ouvir o bastante sobre uma Divina Liturgia longa ou curta, sobre um serviço longo ou curto. Esse comentário só ouvimos quando o assunto concerne à Liturgia ou ao serviço de oração. Nunca ouvimos falar de uma visita longa ou curta,deuma mais ou menos demoradasessão diante da televisão ou do computador, nem sobre a duração de um encontro com amigos numa praça, bar oudanceteria. Pensamos, pois, que tais observações sobreos serviços de oração são fúteis e sem valor. Tiremosdo pulso nossos relógios quando entrarmosna atmosfera de oração [sugestão do tradutor: façamos isso literalmente!]. Deixemos os nossos relógios e horários terrenos quando penetrarmos na casa de Deus. "É tempo para o Senhor agir". É assim que a Divina Liturgia começa[i]: completamente voltada para o Senhor. Para isso,nossas orações litúrgicas muitas vezes nos exortam: "Ponhamos de lado toda apreocupação temporal ...", "ninguém que está vinculado a preocupações terrenas e materiais ..." e, ainda, "elevemos nossos corações ao Senhor ... fiquemos atentos ". São Basílio, o Grande diz: "Não apresse-te durantetua oração. Não a abrevie para gerar tempo para os negócios mundanos. Não preste atenção aos rostos das pessoas, mas direciona totalmente teu coração para o Rei entronizado diante de ti,cercado de anjos que lhe tem atenção completamente dedicada”.

[i] NT: Refere-se à aclamação do diácono, que ele deve suceder com uma ordem dirigida ao sacerdote: “Abençoai, Mestre”. Seguindo essa indicação, o presbítero entoa a solene bênção, bem conhecida para alguns, que tão bem expressa onde estamos quando a Liturgia começa: “Bendito seja o Reino do Pai, do Filho e do Espírito Santo, agora e sempre e pelos séculos dos séculos”.
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