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sábado, 2 de novembro de 2013

Falecidos, não mortos, por Dom Fernando Rifan

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Celebramos hoje liturgicamente o Dia dos Fiéis Defuntos. Rezamos não por qualquer falecido, mas por aqueles que abraçaram a fé cristã ainda em vida e morreram em Cristo. Por conta disto, trago o último texto de Dom Fernando Rifan, sobre a data (as imagens foram acrescentadas por mim).

Missa pelos fiéis defuntos. Fonte: Pinterest

FALECIDOS, NÃO MORTOS

Por Dom Fernando Arêas Rifan*

No próximo dia 2 celebraremos a memória dos fieis defuntos, dos nossos falecidos, daqueles que estiveram conosco e hoje estão na eternidade, os “finados”, aqueles que chegaram ao fim da vida terrena e já começaram a vida eterna. Portanto, não estão mortos, estão vivos, mais até do que nós, na vida que não tem fim, “vitam venturi saeculi”. Sua vida não foi tirada, mas transformada. Por isso, o povo costuma dizer dos falecidos: “passou desta para a melhor!” Olhemos, portanto, a morte com os olhos da fé e da esperança cristã, não com desespero pensando que tudo acabou. Uma nova vida começou eternamente. 

Os pagãos chamavam o local onde colocavam os seus defuntos de necrópole, cidade dos mortos. Os cristãos inventaram outro nome, mais cheio de esperança, “cemitério”, lugar dos que dormem. É assim que rezamos por eles na liturgia: “Rezemos por aqueles que nos precederam com o sinal da fé e dormem no sono da paz”.

Os santos encaravam a morte com esse espírito de fé e esperança. Assim São Francisco de Assis, no cântico do Sol: “Louvado sejais, meu Senhor, pela nossa irmã, a morte corporal, da qual nenhum homem pode fugir. Ai daqueles que morrem em pecado mortal. Felizes dos que a morte encontra conformes à vossa santíssima vontade. A estes não fará mal a segunda morte”. “É morrendo que se vive para a vida eterna!”. S. Agostinho nos advertia, perguntando: “Fazes o impossível para morrer um pouco mais tarde, e nada fazes para não morrer para sempre?”

Quantas boas lições nos dá a morte. Assim nos aconselha o Apóstolo São Paulo: “Enquanto temos tempo, façamos o bem a todos” (Gl 6, 10). “Para mim o viver é Cristo e o morrer é um lucro... Tenho o desejo de ser desatado e estar com Cristo” (Fl 1, 21.23). “Eis, pois, o que vos digo, irmãos: o tempo é breve; resta que os que têm mulheres, sejam como se as não tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que se alegram, como se não se alegrassem; os que compram, como se não possuíssem; os que usam deste mundo, como se dele não usassem, porque a figura deste mundo passa” (1 Cor 7, 29-31).
Casula para missas dos fiéis defuntos (datada entre o séc. XVII e XVIII).
Recorda-nos que nada levamos para a vida eterna: nem títulos, nem riquezas.
Fonte: New Liturgical Movement
Diz o célebre livro A Imitação de Cristo que bem depressa se esquecem dos falecidos: “Que prudente e ditoso é aquele que se esforça por ser tal na vida qual deseja que a morte o encontre!... Não confies em amigos e parentes, nem deixes para mais tarde o negócio de tua salvação; porque, mais depressa do que pensas se esquecerão de ti os homens. Melhor é fazeres oportunamente provisão de boas obras e enviá-las adiante de ti, do que esperar pelo socorro dos outros” (Imit. I, XXIII). O dia de Finados foi estabelecido pela Igreja para não deixarmos nossos falecidos no esquecimento.

Três coisas pedimos com a Igreja para os nossos falecidos: o descanso, a luz e a paz. Descanso é o prêmio para quem trabalhou. O reino da luz é o Céu, oposto ao reino das trevas que é o inferno. E a paz é a recompensa para quem lutou. Que todos os que nos precederam descansem em paz e a luz perpétua brilhe para eles. Amém!

* Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney.

"Por que sentimos medo diante da morte?"

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Depois de ter celebrado a Solenidade de Todos os Santos, hoje a Igreja convida-nos a comemorar todos os fiéis defuntos, a dirigir o nosso olhar para os numerosos rostos que nos precederam e que concluíram o caminho terreno. Na Audiência deste dia, então, gostaria de vos propor alguns pensamentos simples sobre a realidade da morte, que para nós cristãos é iluminada pela Ressurreição de Cristo, e para renovar a nossa fé na vida eterna.

Como disse ontem no Angelus, nestes dias vamos ao cemitério para rezar pelas pessoas queridas que nos deixaram, é quase como ir visitá-las para lhes manifestar, mais uma vez, o nosso carinho, para as sentir ainda próximas, recordando também, deste modo, um artigo do Credo: na comunhão dos Santos há um vínculo estreito entre nós que ainda caminhamos nesta terra e muitos irmãos e irmãs que já alcançaram a eternidade.

Desde sempre, o homem preocupou-se pelos seus mortos e procurou conferir-lhes uma espécie de segunda vida, através da atenção, do cuidado e do carinho. De certa maneira, deseja-se conservar a sua experiência de vida; e, paradoxalmente, como eles viveram, o que amaram, o que temeram e o que detestaram, nós descobrimo-lo precisamente a partir dos túmulos, diante dos quais se apinham recordações. Estas são como que um espelho do seu mundo.

Por que é assim? Porque, não obstante a morte seja com frequência um tema quase proibido na nossa sociedade, e haja a tentativa contínua de eliminar da nossa mente até o pensamento da morte, ela diz respeito a cada um de nós, refere-se ao homem de todos os tempos e de todos os espaços. E diante deste mistério todos, também inconscientemente, procuramos algo que nos convide a esperar, um sinal que nos dê consolação, que abra algum horizonte, que ofereça ainda um futuro. Na realidade, o caminho da morte é uma senda da esperança, e percorrer os nossos cemitérios, como também ler as inscrições sobre os túmulos é realizar um caminho marcado pela esperança de eternidade.

Mas perguntamo-nos: por que sentimos medo diante da morte? Por que motivo uma boa parte da humanidade nunca se resignou a acreditar que para além dela não existe simplesmente o nada? Diria que as respostas são múltiplas: temos medo diante da morte, porque temos medo do nada, este partir rumo a algo que não conhecemos, que nos é desconhecido. E então em nós existe um sentido de rejeição, porque não podemos aceitar que tudo quanto de belo e grande foi realizado durante uma existência inteira seja repentinamente eliminado e precipite no abismo no nada. Sobretudo, nós sentimos que o amor evoca e exige a eternidade, e não é possível aceitar que ele seja destruído pela morte num só instante.

Além disso, temos medo diante da morte porque, quando nos encontramos próximos do fim da existência, há a percepção de que existe um juízo sobre as nossas obras, sobre o modo como conduzimos a nossa vida, principalmente sobre aqueles pontos de sombra que, com habilidade, muitas vezes sabemos anular ou tentamos remover da nossa consciência. Diria que precisamente a questão do juízo está com frequência subjacente ao cuidado do homem de todos os tempos pelos finados, a atenção pelas pessoas que foram significativas para ele e que não estão mais ao seu lado no caminho da vida terrena. Num certo sentido, os gestos de carinho e de amor que circundam o defunto constituem um modo para o proteger, na convicção de que eles não permaneçam sem efeito na hora do juízo. Podemos ver isto na maior parte das culturas que caracterizam a história do homem.

Hoje o mundo tornou-se, pelo menos aparentemente, muito mais racional, ou melhor, difundiu-se a tendência a pensar que cada realidade deve ser enfrentada com os critérios da ciência experimental, e que também à grandiosa interrogação da morte é necessário responder não tanto com a fé, mas a partir de conhecimentos experimentais, empíricos. Porém, não nos damos conta de modo suficiente, de que precisamente desta maneira terminamos por cair em formas de espiritismo, na tentativa de manter algum contato com o mundo para além da morte, quase imaginando que existe uma realidade que, no final, seria uma réplica da vida presente.

Caros amigos, a Solenidade de Todos os Santos e a Comemoração de todos os fiéis defuntos dizem-nos que somente quem pode reconhecer uma grande esperança na morte, pode também levar uma vida a partir da esperança. Se nós reduzirmos o homem exclusivamente à sua dimensão horizontal, àquilo que se pode sentir de forma empírica, a própria vida perde o seu profundo sentido. O homem tem necessidade de eternidade, e para ele qualquer outra esperança é demasiado breve, é demasiado limitada. O homem só é explicável, se existir um Amor que supere todo o isolamento, também o da morte, numa totalidade que transcenda até o espaço e o tempo. O homem só é explicável, só encontra o seu sentido mais profundo, se Deus existir. E nós sabemos que Deus saiu do seu afastamento e fez-se próximo, entrou na nossa vida e diz-nos: «Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá» (Jo 11, 25-26).

Pensemos por um momento na cena do Calvário e voltemos a ouvir as palavras que Jesus, do alto da Cruz, dirige ao malfeitor crucificado à sua direita: «Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso» (Lc 23, 43). Pensemos nos dois discípulos no caminho de Emaús quando, depois de terem percorrido um trecho da estrada com Jesus Ressuscitado, O reconhecem e, sem hesitar, partem rumo a Jerusalém para anunciar a Ressurreição do Senhor (cf. Lc 24, 13-35). Voltam à mente com clareza renovada as palavras do Mestre: «Não se turve o vosso coração: credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, ter-vo-lo-ia dito; pois vou preparar-vos um lugar?» (Jo 14, 1-2). Deus revelou-se verdadeiramente, tornou-se acessível e amou de tal modo o mundo, «que lhe deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna» (Jo 3, 16), e no supremo gesto de amor da Cruz, mergulhando no abismo da morte, venceu-a, ressuscitou e abriu também para nós as portas da eternidade. Cristo sustém-nos através da noite da morte que Ele mesmo atravessou; é o Bom Pastor, a cuja guia podemos confiar sem qualquer temor, porque Ele conhece bem o caminho, até através da obscuridade.

Cada domingo, recitando o Credo, nós confirmamos esta verdade. E visitando os cemitérios para rezar com afeto e com amor pelos nossos defuntos, somos convidados, mais uma vez, a renovar com coragem e com força a nossa fé na vida eterna, aliás, a viver com esta grande esperança e testemunhá-la ao mundo: por detrás do presente não existe o nada. E é precisamente a fé na vida eterna que confere ao cristão a coragem de amar ainda mais intensamente esta nossa terra e de trabalhar para lhe construir um futuro, para lhe dar uma esperança verdadeira e segura. 


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Papa Francisco celebra ad orientem

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Ontem (31/10) o Papa Francisco celebrou uma missa versus deum no altar sob o qual está o túmulo do Beato João Paulo II na Basílica de São Pedro no Vaticano. Ao que tudo indica, trata-se da primeira vez que o Santo Padre reza uma missa pública ad orientem, enquanto Papa.


Embora esta seja a única orientação que aquele altar permita, posto que está fixo à parede, é interessante perceber que um altar móvel poderia ter sido preparado ali e não o foi. Não nos cabe fazer extrapolações apressadas do fato, mas o que certamente se pode depreender é que o Papa não é ideologicamente contrário a esta orientação litúrgica.

Por outro lado, lembremos que na missa com os cardeais após o Conclave em que foi eleito, na Capela Sistina, Sua Santidade optou por utilizar um altar móvel ao invés do altar fixo da capela, de modo que não sabemos os motivos pastorais que motivaram sua decisão em ambas as ocasiões.

Seguem outras fotos da missa, publicadas numa rede social:













quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Ad Limina Apostolorum: O sacerdote é servidor da liturgia e não o seu inventor nem o seu produtor

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quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Dom Rifan participará da Peregrinação Summorum Pontificum em Roma

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Dom Fernando Rifan, Ordinário da Administração Apostólica São João Maria Vianney, ligada à Forma Extraordinária do Rito Romano, estará participando da Peregrinação do Povo Summorum Pontificum (Una Cum Papa Nostro) deste ano.

Além dele, participam da peregrinação, que acontece de 24 a 27 de outubro em Roma, o Cardeal Castrillón Hoyos, presidente da Comissão Ecclesia Dei, e Dom Athanasius Schneider. A programação prevê uma Missa Pontifical na Basílica de São Pedro no sábado (26), dia em que o Cardeal Hoyos celebra seu 61° aniversário de ordenação sacerdotal.


O secretário-geral da peregrinação, Guillaume Ferluc, em entrevista à revista americana The Remnant, comentou o convite a Dom Rifan e os frutos da Jornada Mundial da Juventude do Rio (grifos meus):
Para o acompanhamento da nossa prática religiosa, para se poder ir à missa tradicional nas próprias paróquias, é preciso que haja sacerdotes, e por conseguinte, seminários que os formem e bispos que os ordenem. Actualmente, Dom Fernando Rifan é o único bispo em todo o mundo que tem por missão pastoral fazer isso mesmo; por isso, pareceu-nos importante tê-lo entre nós!

Além disso, recebemos excelentes testemunhos das Jornadas Mundiais da Juventude do Rio de Janeiro, durante as quais, Dom Fernando Rifan esteve encarregado da catequese dos jovens do Juventutem, um grupo cujo apostolado assenta na liturgia tradicional. A igreja esteve cheia, as celebrações tiveram grande dignidade e as pregações foram muito apreciadas.

Até há pouco, quem poderia imaginar que, no Brasil, centenas de jovens poderiam seguir três dias de pregações e missas, e confessar-se a sacerdotes ligados à tradição da Igreja? E tudo isso com o apoio oficial da Igreja? Naturalmente, poder-se-á objectar que era apenas um bispo entre 300, mas já é um primeiro passo dado e algo de adquirido, tanto mais que o lugar que aí se destinou ao Juventutem foi um lugar simbólico: a antiga Catedral do Rio de Janeiro, um local carregado de história e marcado pela fé das gerações passadas.

Sobretudo, as Jornadas foram uma boa ilustração de como a liturgia tradicional atrai os jovens. Por essa razão, não temos o direito de ficarmos apenas abrigados debaixo das nossas certezas, mas devemos antes ir ao encontro de todos aqueles que desejam ter uma maior presença do sagrado e da solenidade na sua vida de fé.
Desta mesma entrevista, destaco a resposta de Ferluc quando questionado sobre a relação entre este novo pontificado do Papa Francisco e os católicos tradicionais (grifos meus):
Sabemos bem que a história da Igreja não ficou parada em 1962, como também não se completou com o pontificado de Bento XVI. Este novo pontificado do Papa Francisco parece dever ser visto como um convite para uma reflexão sobre o facto de que a liturgia e a tradição da Igreja não são algo de um grupo restrito, isto é, de uma elite, como alguns parecem achar.

Partindo das palavras do Papa, inclinar-me-ia mesmo a defender que a liturgia tradicional, com todo o seu esplendor que nos manifesta a presença de Deus, é de facto uma liturgia que nos leva à humildade. Na liturgia tradicional, a actuosa participatio dos fiéis é uma participação humilde, feita de silêncio, de adoração, de genuflexões, de súplica, de acção de graças… tudo atitudes que nos lembram alguém que sofre, que são próprias do homem que está em dificuldade e que pede ajuda.

Não esqueçamos que por entre os sacerdotes mais célebres elevados à honra dos altares, muitos são os que foram simples padres que poderíamos dizer “do campo”, na medida em que estiveram em contacto com os estratos mais humildes do povo. Penso no Santo Cura d’Ars, no Padre Orione, no Padre Pio… Mesmo se as suas celebrações eram marcadas pela maior das solenidades, elas não excluíam quem quer que fosse, desde o camponês à mãe de família, pessoas que nunca precisaram de estudar latim na Universidade ou em qualquer outra escola de prestígio para se poderem sentir parte integrante da liturgia e do culto que assim se prestava a Deus.
O restante da entrevista pode ser lida no Paix Liturgique.

Já a programação completa e mais informações em português encontram-se no site oficial.

Atualização: Dom Fernando Rifan publicou um texto sobre sua participação na peregrinação, que pode ser lido em seu blog pessoal.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Peregrinação ao Cristo contará com padre da Fraternidade São Pedro

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Um padre da Fraternidade Sacerdotal São Pedro (FSSP) estará participando da III Peregrinação Nacional ao Cristo Redentor, cujas edições anteriores já divulgamos aqui.

Fica a todos o convite para a edição deste ano:
A peregrinação de 2013 será dia 27 de OUTUBRO! Com a presença do Pe. Romanovski, FSSP, que celebrará a Santa Missa às 10:00 na Capela do Colégio das das Irmãs Marcelinas [Colégio Santa Marcelina].

Estr. do Açude, 250 - Tijuca, Rio de Janeiro, 20531-330

Depois seguiremos para o CRISTO Redentor!

Obs.: Nos encontraremos na Praça Afonso Viseu como de costume antes da Missa, para quem não souber como chegar no colégio.

Compartilhem, amigos peregrinos!

Foto da I Peregrinação
Pe. Jonathan Romanoski, FSSP
Mais informações no site oficial.

Atualização: O Pe. Romanoski estará no Brasil a partir desta quarta-feira (23).

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A grandeza na Liturgia aponta para a Beleza de Deus

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Os sinais externos da sagrada Liturgia não são um insulto à pobreza material dos filhos da Igreja, mas um incentivo à piedade dos fiéis



O venerável Papa Pio XII, em sua encíclica sobre a sagrada Liturgia, explicava que "todo o conjunto do culto que a Igreja rende a Deus deve ser interno e externo". Esta realidade decorre da própria constituição humana, ao mesmo tempo física e espiritual, e da vontade do Senhor, que "dispõe que pelo conhecimento das coisas visíveis sejamos atraídos ao amor das invisíveis".

Este ensinamento explica porque os atos litúrgicos da Igreja sempre foram realizados em templos majestosos, com materiais tão nobres e paramentos trabalhados com inúmeros detalhes. Assim é, não porque a Igreja esteja apegada aos bens materiais ou preocupada em entesourar riquezas, mas porque ao Senhor deve ser oferecido sempre o melhor e o mais belo.

Assim pensava São Francisco, o poverello de Assis. Ele passou toda a sua vida como um pobre entre os pobres, mas, quando falava de Jesus eucarístico, condenava o desprezo e o pouco caso com que muitos celebravam os santos mistérios. Em uma carta aos sacerdotes, Francisco pedia a eles que considerassem dentro de si "como são vis os cálices, os corporais e panos em que é sacrificado" muitas vezes nosso Senhor. E insistia: "Onde quer que o Santíssimo Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo for conservado de modo inconveniente ou simplesmente deixado em alguma parte, que o tirem dali para colocá-lo e encerrá-lo num lugar ricamente ordenado" [01]

Na França do século XIX, os lojistas comentavam entre si: "No campo há um pároco magro e mal arranjado, com ares de não ter um centavo no bolso, mas que compra para sua igreja tudo o que há de melhor". Era São João Maria Vianney, que vivia em pobreza extrema, mas não hesitava em ornar a casa de Deus com o mais nobre e o mais digno. Em 1820, escreveu ao prefeito de Ars: "Desejaria que a entrada da igreja fosse mais atraente. Isso é absolutamente necessário. Se os palácios dos reis são embelezados pela magnificência das entradas, com maior razão as das igrejas devem ser suntuosas" [02].

Toda esta preocupação do Cura d’Ars mostrava um verdadeiro amor a Deus e às almas. Ele encheu a igreja de sua cidade com belíssimas imagens e pinturas, porque, dizia ele, "não raro as imagens nos abalam tão fortemente como as próprias coisas que representam". O santo francês compreendia mais do que ninguém como não só era possível, mas também salutar, que o material e o terreno apontassem para as realidades celestes.

No entender do cardeal Giovanni Bona, um monge cisterciense do século XVII citado por Pio XII, "Se bem que, com efeito, as cerimônias, em si mesmas, não contenham nenhuma perfeição e santidade, são todavia atos externos de religião que, como sinais, estimulam a alma à veneração das coisas sagradas, elevam a mente à realidade sobrenatural, nutrem a piedade, fomentam a caridade, aumentam a fé, robustecem a devoção, instruem os simples, ornam o culto de Deus, conservam a religião e distinguem os verdadeiros dos falsos cristãos e dos heterodoxos." [03]

Percebe-se, deste modo, como pondera mal quem diz que a beleza das igrejas do Vaticano e o esplendor dos vasos e ornamentos sagrados deveriam ser renunciados, como se, com isto, a Igreja estivesse se exibindo indevidamente ou ofendendo os mais pobres.

Quem pensa desta forma ainda não compreendeu o que é verdadeiramente a Liturgia e qual é o seu verdadeiro tesouro. Não entendeu que até os sinais externos das ações litúrgicas, manifestados especialmente na Santa Missa, devem indicar Aquele que é a Beleza. E não pense que, persistindo nesta mentalidade, diverge em um ponto pouco importante da fé da Igreja. Nunca é tarde para recordar o anátema do Concílio de Trento: "Se alguém disser que as cerimônias, as vestimentas e os sinais externos de que a Igreja Católica usa na celebração da Missa são mais incentivos de impiedade do que sinais de piedade — seja excomungado".



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