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sexta-feira, 7 de março de 2014

A "Velatio" das Imagens na Quaresma

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Do ponto de vista espiritual, o costume da velatio foi interpretado como sinal da penitência à qual todos os fiéis são chamados como sinal da antecipação do luto da Igreja pela morte do seu Esposo e da humilhação de Cristo, que teve de esconder-se para escapar da ameaça de morte. (Cf.: Jo 8,59).

O motivo principal para a orientação de COBRIR AS IMAGENS NAS IGREJAS, COM VÉUS ROXOS, é para que os fiéis não "se distraiam" com os Santos e que a sua devoção deve estar fundamentada no Mistério Pascal de Cristo, ou seja, na Sua paixão, morte e ressurreição.

Assim, cobrindo-se todas as imagens dos Santos e os crucifixos, surge com maior evidência o que há de essencial nas igrejas: o altar, onde se opera e atualiza o Mistério Pascal de Cristo, por seu Sacrifício incruento.

A rubrica no Missal Romano, 2ª edição típica, no sábado da IV semana da Quaresma (pág. 211, em português) e também a contida na Paschalis Sollemnitatis: A Preparação e Celebração das Festas Pascais, nº 26, nos ensina que: 
“o uso (costume) de cobrir as cruzes e as imagens na igreja, desde o V Domingo da Quaresma, pode ser conservado segundo a disposição da Conferência Episcopal. As cruzes permanecem cobertas até ao término da celebração da Paixão do Senhor na Sexta-feira Santa; as imagens até ao início da Vigília Pascal”.
A grande diferença entre as rubricas dos dois Missais (de Trento e do Vaticano II) consiste no seguinte: no primeiro, cobrir as Cruzes e Imagens era obrigatório (“cobrem-se...”); No segundo, deixou de sê-lo (“pode ser conservado...”). 

Com os sinais externos da penitência, do recolhimento, da purificação da visão e do coração, de tudo o que é secundário ou mesmo supérfluo, poderemos concentrar o nosso sentir, pensar e agir no Cristo Crucificado. Com os olhos fixos no Senhor, percorrendo com Ele a Via Dolorosa, chegaremos às núpcias do Cordeiro Redivivo, à Páscoa da Ressurreição.

(Compilação de diversas fontes, com atualizações e adaptações).

quinta-feira, 6 de março de 2014

Solene Entronização do Santíssimo Sacramento no "QG da Imaculada", GO

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No último dia 04 de Março, nos limites da Paróquia Imaculada Conceição, no município de Novo Gama-GO, aconteceu a Solene Entronização do Santíssimo Sacramento, na "Capela da Grande Promessa do Sacratíssimo Coração de Jesus", da "Associação de Fiéis Filhos da Imaculada", no chamado "QG da Imaculada", com a Santa Missa, seguida da rasura com o Santíssimo Sacramento e canto solene do Te Deum

A Santa Missa foi votiva à Sagrada Face e a homilia, baseada na Encíclica do Papa Pio XII Haurietis aquas, sobre o culto do Sagrado Coração de Jesus.

A ASSOCIAÇÃO:

Trata-se de "um grupo de fiéis da Paróquia São Francisco de Assis, Diocese de Luziânia – Goiás, que a partir de meados do ano de 2006 começaram a reunir-se para o Cenáculo de Oração, rezando o santo Terço e estudando a doutrina cristã.

Às vésperas da divulgação de que o Santo Padre Bento XVI promulgaria um Motu Proprio para tratar da celebração da Missa Tradicional, o que ocorreria em setembro de 2007, o mesmo grupo passou a interessar-se pelo conhecimento desta forma de celebração do Rito Romano no usus antiquior, nascendo, assim, a devoção pela expressão tradicional da lex orandi da Igreja – tesouro da antiga liturgia do Santo Sacrifício da Missa.
Em razão do patrocínio da Santíssima Virgem, foi inevitável a aproximação ao Santuário Jardim da Imaculada e dos ideais de São Maximiliano Maria Kolbe, tendo em vista, ainda, o carisma franciscano da paróquia em Valparaíso de Goiás. Com ardente expectativa, esta realidade levou muitos dos integrantes do grupo a fazer a consagração à Imaculada Conceição, no dia 8 de dezembro de 2009, vivendo de forma singular e espontânea a devoção à Imaculada, segundo o Estatuto Original da Mílicia fundada pelo “Padre Kolbe”.
O grupo, no entanto, queria manter a devoção à Virgem Imaculada, com os ideais de São Maximiliano, aliada ao conhecimento da doutrina do Magistério solene e perene da Santa Igreja, bem como a estima pela forma extraordinária do Rito Romano, conforme o Motu Proprio Summorum Pontificum. Nasceu, naquela ocasião, a ideia de constituir os FILHOS DA IMACULADA como associação privada de fiéis – mantendo ligação afetiva à Milícia da Imaculada.
O amadurecimento na caminhada tem reunido membros associados e cooperadores, além de outros participantes, na consecução de um apostolado de piedade, através do cenáculo de oração nas casas em Valparaíso e Cidade Ocidental. Nessas oportunidades, nos reunimos para rezar o Santo Terço, fazer a leitura espiritual de um trecho das Sagradas Escrituras, seguida de uma meditação, e encerrando com a recitação do Pequeno Ofício da Imaculada. Este exercício de piedade, aliado às reuniões de formação têm sido motivo de auxílio para fomentar a união entre fé e vida de nossas famílias.
No cumprimento das finalidades espirituais do grupo e na busca por um apostolado de caridade, as orações e o incentivo do Revmo. Frei José de Arimatéia, OFMConv., animado pelo seu carisma franciscano, tem sido de fundamental importância para a motivação da persecução das finalidades associativas.
Convém mencionar, ainda, a identificação do Revmo. Frei José de Arimatéia com os princípios e finalidades de nossa associação e a sua disposição e devoção à liturgia segundo o usus antiquor, não afastando em nenhum momento – assim como aos FILHOS DA IMACULADA – a assistência e reverência à forma ordinária do Rito Romano. 
FINALIDADES:

1. Promover atividades sociais, culturais, educativas e comunitárias, colaborando com a santificação de todos e de cada um em particular, exortando à observância da lei de Deus e a comunhão com a Igreja, com o auxílio da Imaculada Conceição;

2. Difundir a devoção à Imaculada Conceição da Santíssima Virgem Maria, dogma de fé proclamado pela Santa Igreja, incentivando a recitação do Ofício da Imaculada;

3. Incentivar a devoção ao ‘Saltério da Virgem’, o Santo Rosário pregado por São Domingos de Gusmão como ‘arma contra o pecado e a heresia’ e ‘artilharia contra o demônio’, assim como o Terço do Rosário recomendado por Nossa Senhora nas aparições aos pastorinhos de Fátima;

4. Incentivar o conhecimento das excelências e do valor do Santo Sacrifício da Missa, considerando a forma ordinária ou extraordinária da 'lex orandi' da Igreja Católica de rito latino;

5. Incentivar e apoiar, cuidando para o que dispõe o cânone 214 CIC, a devoção ao Rito Romano na forma extraordinária, observando o ‘Motu Proprio Summorum Pontificum’;

6. Incentivar e apoiar o conhecimento da doutrina cristã, conforme os ensinamentos do Magistério solene e perene da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, tendo em vista o cânone 229 CIC;

7. Motivar os inscritos na Associação, pela união fraterna, à perseverança da oração e ao exercício da caridade, para que o Senhor possa derramar ‘a vida e uma bênção eterna’ (cf. Salmo 132).

A partir disso, em 26 de Dezembro de 2013, o Bispo diocesano de Luziânia, Dom Afonso Fioreze, CP, autorizou a instalação do Sacrário na capela da Associação, cujas fotos da celebração ora publicamos. Devoção ao Santo Sacrifício da Missa, especialmente na forma extraordinária do Rito Romano, iluminados pela sã Doutrina da única Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, através da união fraterna dos filhos da Imaculada Conceição da Virgem Maria - conforme os ideais de São Maximiliano."
Vale salientar que a presença dos Militares junto à Associação, desde o seu início, foi e é de grande valia, uma vez que os mesmos são ativos e o diretor espiritual é quem os assistem.
Os álbuns completos, podem ser acessados AQUI (Fotos de Bárbara Cabral) e AQUI.




























terça-feira, 4 de março de 2014

Modo de imposição das cinzas

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Alguns leitores em nossa página no Facebook questionaram a respeito do modo de imposição das cinzas: se esta deve ser deitada sobre a cabeça, ou se imposta sobre a testa, em forma de cruz.

Um breve histórico sobre as cinzas. A imposição das cinzas é um sacramental de cunho penitencial, lembra-nos da humildade e de nossa morte: somos pó e a ele retornaremos. Antigamente era destinado apenas aos pecadores públicos. O Papa Urbano II expandiu a prática para todos os fiéis. Para a confecção das cinzas são utilizados, a princípio, ramos de oliveira do Domingo de Ramos do ano anterior.

O Missal Romano para a rito moderno, em sua terceira edição (2002), diz apenas que as cinzas são impostas. O Cerimonial dos Bispos, em seu n. 258, pede que as cinzas sejam impostas "aos concelebrantes, aos ministros e aos fiéis", também não especificando o modo de imposição.

Outrossim, não encontrei tal detalhamento no Missal Romano para a Forma Extraordinária. Ao celebrante fica claro que as cinzas são colocadas sobre sua cabeça. Aos fiéis, o texto diz apenas que recebem-nas ajoelhados.

Torna-se necessário, então, recorrer a fontes secundárias. Mons. Peter J. Elliott, referindo-se à Forma Ordinária, diz que é consuetudinário que as cinzas sejam tomadas com o polegar e o sinal da cruz marcado na testa. Acrescenta, contudo, que clérigos podem receber as cinzas sobre a coroa da cabeça, enquanto se inclinam (ELLIOTT, 2002, p. 57). (Atualização: Descobri recentemente que este é o costume vaticano, i.e. na cabeça aos clérigos, na testa aos fiéis).



Já Pe. Reus diz que, para impôr as cinzas, o sacerdote "deixa cair sobre a cabeça, aos clérigos sobre a coroa, às mulheres no cabelo que aparece na fronte perto do véu, às religiosas sobre o véu, de nenhuma maneira na testa". (REUS, 1944, p. 146)




Em seguida, Pe. Reus enumera duas razões para que a imposição não se dê na testa. A primeira, de ordem prática, é que a cruz pintada na testa pode ocasionar risos. A segunda, de ordem teológica, mais para corroborar a imposição na cabeça, é que o contato mediato (i.e. indireto) não diminui a eficácia do sacramento da ordem, nem da água benta, logo, tampouco da cinza.

Fiéis nas ruas, com as testas marcadas com a cruz feita das cinzas

Fiel em uma cafeteria após ter recebido as Cinzas

Particularmente, vi a imposição sendo feita das duas formas, embora, tenha-me sido mais comum a imposição sobre a cabeça. Contudo, isto pode variar conforme a região do país.

Portanto, vemos que, em se tratando da Forma Ordinária, a questão não está fechada, cabendo ao celebrante escolher a forma de imposição. A razão de ordem prática dada pelo Pe. Reus não me parece fazer mais tanto sentido nos dias de hoje, uma vez que o rito é bem disseminado em um país com raízes cristãs como o nosso. Ainda assim, é algo que pode ocorrer. Talvez neste caso seja melhor adotar a opção de impôr as cinzas sobre a cabeça dos fiéis, abraçando o costume litúrgico do rito romano tradicional. Não se trata, contudo, de obrigação.

A respeito da recepção das cinzas pelos fiéis, Mons. Elliott diz que esta acontece geralmente no local onde eles recebem a Comunhão, podendo permanecer em pé ou ajoelhados enquanto as cinzas são impostas, conforme o costume local.


Referências
  • Missale Romanum, Editio Typica Tertia, 2002.
  • Cerimonial dos Bispos, 1986.
  • Missale Romanum, Editio Typica. 1962.
  • Peter J. Elliott. Ceremonies of the Liturgical Year According to the Modern Roman Rite: A Manual for Clergy and All Involved in Liturgical Ministries. San Francisco: Ignatius Press. 2002
  • Pe. João Batista Reus. Curso de Liturgia. Editora Vozes. 1944.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O tesouro da arte e liturgia católicas

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O Pe. Fernando Antonio, SJ, português e jesuíta da pura cêpa inaciana, nos manda esse belo artigo de sua autoria, publicado no site do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura da Conferência Episcopal lusa.

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O tesouro da arte e liturgia católicas

Habituámo-nos a olhar quase com inveja e com um estranho e injustificado sentimento de inferioridade as tradições litúrgicas orientais… quando nós, Católicos Romanos, temos uma tradição litúrgica belíssima, feita sobretudo de Pão e de Vinho e da Palavra de Deus, gestos e palavras que herdámos de Cristo, pelos Apóstolos, e que unem Céu e terra pela nova Árvore da Vida, a Cruz de Cristo.

A nossa liturgia é feita de luz e de fogo, de treva e de silêncio, de gesto e de repouso… É feita do mais puro incenso e do óleo perfumado do Crisma, e daqueles gestos que foram exprimindo na nossa história e na nossa cultura a presença consoladora de Deus entre nós: «Eu estarei convosco todos os dias…».

A nossa tradição produziu textos belíssimos, herdados dos nossos primeiros pais na fé, na era dos mártires, e escritos por grandes Padres da Igreja e autores eclesiásticos como S. Leão Magno, S. Agostinho, S. Tomás de Aquino…

A nossa tradição ergueu a maioria dos mais belos edifícios sagrados construídos na história da humanidade, onde trabalharam os melhores arquitetos, os melhores escultores, os melhores pintores, e tudo isto para o culto divino... E na Casa de Deus sempre encontraram o conforto do lar paterno os filhos de Deus, ricos e pobres, santos e pecadores... e mesmo os filhos pródigos...

E que dizer da música inspirada que ao longo da história os compositores escreveram para a nossa liturgia… desde o Canto Gregoriano, continuando com Palestrina, Byrd, Mozart… e por tantos outros contemporâneos?…

E tudo isto, puro dom de Deus que, pela Igreja, foi sendo comunicado, vivido e realizado de geração em geração, e que agora, como tesouro precioso e imerecido é depositado na fragilidade das nossas mãos pobres, feridas e pecadoras…

Como acontece, por exemplo, com “Ave verum corpus”, hino eucarístico de William Byrd (1543-1623), grande compositor inglês que manteve a sua fé católica mesmo no meio das perseguições, interpretado aqui pelo coro britânico Tallis Scholars, dirigido por Peter Phillips.

«Ave verum corpus natum de Maria Virgine. Vere passum, immolatum in cruce pro homine. Cuius latus perforatum unda fluxit et sanguine. Esto nobis praegustatum mortis in examine. O Iesu dulcis, o Iesu pie, o Iesu fili Mariae. Miserere mei. Amen.»
(«Avé, ó verdadeiro corpo nascido da Virgem Maria. Padeceu verdadeiramente, imolado na cruz pelo Homem. De cujo lado trespassado fluiu água e sangue. Faz que nós Te possamos saborear na prova suprema da morte. Ó doce Jesus, ó piedoso Jesus, ó Jesus filho de Maria. Tem misericórdia de mim. Ámen»)

domingo, 16 de fevereiro de 2014

A Liturgia é um culto prestado a Deus porque Ele é Deus! O interesse é Deus, o centro é Deus!

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Dom Henrique Soares da Costa, Bispo auxiliar de Aracaju, nos presenteou com estas belas palavras e ensinamentos neste último domingo, 16 de fevereiro de 2014, em sua página pessoal no Facebook.



A liturgia é para nosso alimento, alento e transformação espiritual: ela nos cristifica, isto é, é obra do próprio Cristo que, na potência do Espírito, nos dá Sua própria Vida, aquela que Ele possui em plenitude na Sua humanidade glorificada no Céu.


Participar da liturgia é participar das coisas do Céu, é entrar em comunhão com a própria Vida plena e glorificada do Cristo nosso Senhor.

A liturgia não é feita produzida por nós, não é obra nossa! Ela é instituição do próprio Senhor.

Para se ter uma idéia, basta pensar em Moisés, que vai ao faraó e lhe diz: “Assim fala o Senhor: deixa o Meu povo partir para fazer-Me uma liturgia no deserto”. E, mais adiante, explica ao faraó que somente lá, no deserto, o Senhor dirá precisamente que tipo de culto e que coisas o povo Lhe oferte.


Isto tem a ação litúrgica de específico e encantador: não entramos nela para fazer do nosso modo, mas do modo de Deus; não entramos nela para nos satisfazer, mas para satisfazer a vontade de Deus.

Por isso digo tantas vezes que o espaço litúrgico não é primeiramente antropológico, mas teológico: a liturgia é espaço privilegiado para a manifestação e atuação salvífica de Deus em Cristo Jesus nosso Senhor. Nela, a obra salvífica de Cristo é perenemente continuada na Igreja: Deus é perfeitamente louvado e os que dela participam e toda a Igreja são santificados!

A Liturgia é um culto prestado a Deus porque Ele é Deus! O interesse é Deus, o centro é Deus, o foco é Deus, o ponto focal para o qual se orienta a ação litúrgica é Deus, o Deus Santo a Quem elevamos o nosso louvor e adoração através do Filho, Sumo e Eterno Sacerdote na potência do Espírito Eterno; o mesmo Deus que, respondendo ao nosso louvor e oração, vem a nós através de Jesus, imolado e ressuscitado, na potência do Espírito. Deus vem a nós com a Sua Vida divina.

A Liturgia é algo devido a Deus e instituído pelo próprio Deus. Quando alguém participa de uma liturgia celebrada como a Igreja determina e sempre celebrou, se reorienta, se reencontra, toma consciência de sua própria verdade: sou pequeno, dependente de Deus e profundamente amado por Ele: Nele está minha vida, meu destino, minha verdade, minha paz. Nada é mais libertador que isto!





Na ação litúrgica, que é primeira e principalmente ação do Cristo ressuscitado, Eterno Sacerdote da Nova Aliança, e, somente de modo derivado, ação da Igreja unida a Cristo no Espírito, como Seu Corpo, estamos diante da Verdade que é Deus; verdade que não produzimos nem inventamos, mas vem a nós e enche o nosso coração! Devemos procurá-la? Certamente sim: "Fizeste-nos para ti, Senhor, e nosso coração andará inquieto enquanto não descansar em Ti!" Mas para isto é indispensável a capacidade de silêncio, de escuta, de abrir os olhos do coração para a beleza de Deus. A Liturgia nos dá isto - e não simplesmente como sentimento ou emoção, mas de modo real, efetivo, sacramental: aqueles gestos, símbolos, palavras, ritos, são cheios de Espírito Santo, Espírito de Vida divina, pois são gestos de Cristo feitos pela misericórdia do senhor, gestos da Igreja, ministra da obra da salvação!

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

"Miados inafáveis", pelo professor Carlos Ramalhete

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Recebemos do professor Carlos Ramalhete um artigo de sua autoria para publicação no Salvem a Liturgia, o que nos honra e alegra. Como de hábito, seu texto é muito instrutivo e interessante. Temos certeza da grande importância destas palavras para todos os católicos.

*   *   *

Miados inafáveis 

Há algumas décadas eu digo que a minha impressão é que o estado da liturgia de hoje na imensa maior parte das paróquias é semelhante ao que teria acontecido se os adultos houvessem morrido e deixado às crianças tomar conta de tudo. Quem tem filhos sabe como é quando eles resolvem preparar um lanche para os pais, de surpresa: a mesa está posta, mas com tudo no lugar errado, faltando coisas essenciais e com quantidades enormes de coisas desnecessárias. Isto decorre de as crianças não dominarem os códigos desenvolvidos ao longo de séculos, que determinam como a mesa deve ser posta. O que eles fazem é reproduzir a impressão deles, desordenada e incompleta por falta de compreensão, do que é uma mesa de lanche. Tudo, evidentemente, com muito amor. 
O mesmo ocorre na liturgia: coisas que chegam a ser farsescas (como a colher de arroz que as crianças acham que deve ser boa para servir mingau), misturadas com mensagens fora de lugar (como os cartazes pendurados no presbitério), mas tudo com muito amor. E é neste sentido que eu vejo um site como o Salvem a Liturgia: é uma tentativa de educar estas amorosas crianças para que aprendam a botar a mesa do lanche. Faz parte da nossa civilização, e, no caso da liturgia, da nossa religião. 
No caso, escrevo devido a um acontecimento engraçado – como são engraçados os esforços amorosos das crianças – que testemunhei há alguns dias. Um padre da Administração Apostólica, que só celebra a Missa na Forma Extraordinária, fez 39 anos de ordenação. Um rapaz amigo dele, que costuma tocar teclado e cantar, divinamente, canto gregoriano nas suas Missas, compareceu à festa acompanhado de duas mocinhas da paróquia de origem dele. Mais ainda: duas mocinhas do coral da paróquia dele. Na hora da festa, as mocinhas resolveram cantar uma música em homenagem ao padre, acompanhadas no teclado pelo rapaz. Abriram as boquinhas e soltaram um daqueles miados melismáticos pseudo-gospel que estão na moda, em que não é incomum que se glisse dois ou três tons, indo e voltando, com um tremolo soando a compungido no final. 
Ora, para elas, pobrezinhas, aquilo era música religiosa. A cara do padre, que daria um bom jogador de pôquer, conseguiu esconder parte do seu espanto: ele não conhece a horrenda mania que acomete muitas paróquias de, especialmente no Salmo Responsorial, botar lá na frente uma moça para miar como um gato sendo estrangulado, numa demonstração de talento vocal absoluta e completamente alheia ao espírito da liturgia. 
Notem que o problema não é o melisma (termo técnico para a ocorrência de várias notas numa só sílaba – pense na canção americana “I’ll Always love you”, em que o “I” se estende por vários compassos), mas o próprio estilo destes salmos pseudo-gospel, que é contrário aos princípios da música litúrgica católica. Alguns podem ser boa música, mas não música litúrgica. Na igreja, infelizmente, em geral nem isso ocorre. O que se tem é um miado oscilante e sincopado, com glissandi passando por microtons completamente fora de qualquer escala ocidental. 
O uso de melismas na música litúrgica – de que o canto gregoriano é a forma mais perfeita – é uma longa tradição. Na verdade, é uma tradição não apenas no nosso Rito mas, mais ainda, nos ritos orientais. Os melismas do gregoriano, contudo, caracterizam-se pela perfeita pertença à escala própria àquele canto. Esta pertença é tão perfeita que, quando um instrumento temperado é usado para acompanhar os cantores, é comum que diminua a qualidade e a afinação, pois não se trata de uma escala temperada, sim de uma escala natural.
Em outras palavras: no canto gregoriano – a fortiori, no canto litúrgico católico – o canto salta limpa e claramente de uma nota a outra da escala, sem glissar e, principalmente, sem oscilar. Isto permite que o coro cante em uníssono perfeito, preservando – mesmo através de longos melismas – a compreensão do texto litúrgico. Afinal, o que se tem na liturgia é o texto litúrgico cantado, não uma “letra de música” que pode perfeitamente não ser compreendida para que a melodia seja apreciada.
Já no pseudo-gospel que assola nossas paróquias (e no seu irmão mais velho e mais agradável aos ouvidos, o gospel verdadeiro, tipo de música que não condiz com a liturgia mas pode e deve ser apreciada fora da igreja, bem como seus descendentes – soul, blues, etc.), o que seria o texto litúrgico praticamente desaparece, em uma demonstração de virtuosismo que consiste principalmente na capacidade de cantar fora da escala. Na música negra americana tradicional, bemolizam-se (abaixa-se meio tom) algumas notas, para dar à melodia um jeitão inesperadamente “triste”, forçando um tom menor onde normalmente se esperaria um maior. Nas demonstrações de virtuosismo que se tornaram parte das formas mais novas deste tipo de música, contudo, em que um solista massacra a melodia ao ponto de torna-la mera referência, o que se faz é muito mais do que isso: a voz do cantor oscila, glissa de uma nota a outra, criando uma outra melodia em microtons que faz de cada melisma não uma sequência de notas distintas, mas um longo glissando oscilante digno de um trombone de vara tocado por um trombonista com mal de Parkinson. Dizem que é o que ocorre no programa de TV “The Voice”, que nunca assisti. Mas é possível; é uma moda que, se não estivesse presente, não teria invadido e depreciado a música sacra.
O resultado disto é que o texto do salmo é, na prática, substituído por uma mera desculpa para uma demonstração de virtuosismo que nada tem de litúrgica. Mais ainda: os habituados a este tipo de coisa frequentemente propõem, como melodia para o responsório do salmo, algo no mesmo estilo, o que o torna simplesmente incantável pela multidão.
Outro problema sério deste tipo de invasão é o ritmo sincopado que têm, tradicionalmente, as melodias gospel em que se inspiram os invasores. Ora, uma seita protestante nada mais tem que a oralidade: é a oração (frequentemente cantada) entremeada com oratória, e nada mais. Um culto protestante é basicamente um falatório, sem que nada de sobrenatural possa ali acontecer.
Isto faz com que seja necessário, para que os frequentadores continuem voltando semana após semana para cantar e ouvir alguém explicando o que a teologia deles afirma não ser necessário explicar (a Escritura), que haja algo mais. No caso das seitas compostas por negros no Sul americano, onde se originou o gospel, este “algo mais” é a dança, além de fenômenos histéricos pseudo-pneumatológicos. O ritmo sincopado das músicas gospel (em geral em 16/8) foi desenvolvido justamente para levar as pessoas à movimentação física, ao requebro que as torna mais propensas a aceitar sem racionalizar o que lhes é dito do púlpito (é a mesma função da tradição protestante de responder ao que o “pastor” diz com brados teoricamente espontâneos de “amém”, etc.).
Ora, na liturgia católica, tudo o que não se quer é que as pessoas tenham vontade de requebrar. A Santa Missa é o Sacrifício do Calvário, tornado novamente presente de forma incruenta. Estar na Missa é como estar aos pés da Cruz, na companhia excelsa de Maria Santíssima e São João. Quem estaria requebrando, ali? Creio que nem mesmo os judeus e romanos teriam tamanha desfaçatez!
Há quem se dedique a transpor para o vernáculo as melodias gregorianas; é possível, hoje em dia, baixar o próprio de cada Missa em melodias gregorianas e em português (ainda que o Concílio Vaticano II tenha determinado que os fiéis devam aprender a cantar suas partes no canto gregoriano original, em latim). É uma opção para quando, por alguma razão, não se considera adequado usar a língua da Santa Madre Igreja. 
Outra opção é simplesmente ler os salmos, em voz pausada, para que, como deve ser, o texto litúrgico – não o talento, ou ausência de talento, do cantor – sobressaia.
Em todo caso, urge eliminar, o quanto antes, os miados pseudo-gospel que assolam nossas igrejas.
Na Quinta São Tomás, em Carmo de Minas, na festa de São Rugero,


Carlos Ramalhete

sábado, 18 de janeiro de 2014

Papa Francisco celebra versus deum o Batismo do Senhor

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Muitos de vocês já devem ter visto esta notícia nas redes sociais (divulgamos também em nossa fan page no Facebook), mas creio ser importante trazê-la aqui, com mais fotos, e comentá-la melhor.

Sim, o Papa celebrou novamente a missa ad orientem. Desta vez na Capela Sistina, onde celebrou também sua primeira missa como Papa, aos cardeais do Conclave. Naquela ocasião, por motivos que desconhecemos, ele optou por usar um altar móvel e celebrar versus populum. Desta vez não, usou o altar fixo à parede, como vinha fazendo seu predecessor, Bento XVI.

Como eu já havia dito na outra ocasião em que o Santo Padre celebrou a missa "voltada para Deus", "o Papa não é ideologicamente contrário a esta orientação litúrgica".

Como foi possível interpretar de seus discursos e atitudes, o Santo Padre manteve, no essencial, a hermenêutica de interpretação do Concílio Vaticano II de Bento XVI, da "reforma na continuidade", e definitivamente não pertence àquela linha danosa que atribui ao Concílio Vaticano II certas coisas que ele não disse, como o "fim da celebração de costas para o povo", algo que é não só mentiroso como teologicamente incorreto.













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