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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Música litúrgica - o Gloria

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O Gloria, fazendo parte do Ordinário, é (ou deve ser) muito bem conhecido pelos fiéis, pois figura em todas as Missas dominicais. Todas? Bem – não exatamente em todas, mas já chegaremos lá. A maioria das Missas dominicais utiliza, sim, o Gloria, que vou escrever sem acento neste texto por usar a palavra latina.

Maioria das Missas Dominicais, isto é, não todas; donde já concluímos que o Gloria é uma daquelas partes do Ordinário que se omitem em certas datas litúrgicas. Não se trata de regra e exceção; a Missa com o Gloria não é a regra, e a Missa sem Gloria também não é a regra. A regra é, de acordo com a data, usá-lo ou não.

Acredito ser interessante começarmos com a distinção entre as datas litúrgicas conforme seu uso ou omissão do Gloria. Vamos pensar na Forma Ordinária. Nestes dias o Gloria não aparece:

1-) Dias de semana (Segunda a Sábado) de qualquer tempo. A não ser que ocorra uma Festa ou Solenidade.

2-) Todos os dias (inclusive Domingo) do Advento e da Quaresma. A não ser que ocorra Solenidade.

Solenidade que costuma ocorrer durante a Quaresma é a Solenidade de São José, em 19 de Março; a Missa tem o Gloria. No Advento sempre ocorre a Solenidade da Imaculada Conceição, em 8 de Dezembro; também então a Missa tem o Gloria.

O Gloria aparece em:

1-) Todos os Domingos. A não ser na Quaresma e no Advento.

2-) Festas e Solenidades.

O texto do Gloria se origina, como se pode notar, do canto dos anjos na noite do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim diz a Escritura em Lc 2, 14:

Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens, objetos da benevolência (divina) [Bíblia Ave Maria]

Gloria in altissimis Deo et in terra pax in hominibus bonae voluntatis [Vulgata]

Gloria in altissimis Deo, et super terram pax in hominibus bonae voluntatis [Neo Vulgata]

Com estas palavras a abri-lo, este texto foi composto em grego; era um dos inúmeros psalmi idiotici que se escreveram nos séculos II e III. Esta designação pode nos causar a nós, falantes de português, um certo estranhamento, por idiotici nos fazer lembrar da palavra idiota, que tem para nós significado bastante negativo. Entretanto, mesmo o nosso idiota vem do grego idiôtés, referindo-se ao homem privado, particular (e não público). Os psalmi idiotici são “salmos privados”, de composição nova, diferentemente dos poemas do Saltério hebraico.

Antes mesmo que São Jerônimo empreendesse a tradução da Bíblia Sagrada para a língua latina, o Gloria foi traduzido para esse mesmo idioma, embora não tão antes. Isto explica a diferença entre o Gloria in excelsis com que começa o Gloria propriamente dito e o Gloria in altissimis que São Jerônimo preferiu para traduzir o versículo evangélico.

Quando o Gloria foi introduzido na Santa Missa em Rito Romano, era exclusivo da celebração litúrgica do Natal do Senhor. A extensão do uso se deu lentamente, passando a ser usado nos Domingos, em algumas festas, mas sempre só pelos bispos; posteriormente, foi concedido aos padres usar o Gloria, embora apenas no dia de sua ordenação e na Páscoa.

No século XII, finalmente, pode-se dizer que estava pronta a configuração que conhecemos na Forma Extraordinária, que omite o Gloria desde a Septuagésima até a Semana Santa; e a introdução do caráter mais penitencial do Advento, do qual o Gloria passou a ser omitido também.

Infelizmente, já na Idade Média o texto do Gloria se submetia, com certa freqüência, a adições não previstas pela Liturgia. É verdade que a natureza de tais adições se mostra muito diferente daquelas que vemos em nossos dias; porém, tratam-se, da mesma maneira, de elementos novos colocados sem autoridade e sem autorização na celebração Litúrgica, cujas normas devem ser dadas somente pela Igreja. Aqueles tempos talvez pudessem, aqui, gozar de alguma complacência devido à existência de Missais diversos. A partir de 1570, entretanto, esta desculpa não existe; nesse ano, o Santo Padre, o papa São Pio V promulgou o que chamamos de Missal Tridentino e deixou mais claro ainda como devia ser a celebração da Liturgia. As regras para inclusão e omissão do Gloria continuam válidas para a Forma Extraordinária do Rito Romano em nossos dias, e para incluí-las neste texto me vem em socorro a Catholic Encyclopaedia:

(...) [o Gloria] é omitido nos dias de semana (exceto no Tempo da Páscoa), Têmporas, Vigílias, durante o Advento e da Septuagésima até a Páscoa, quando a Missa é de tempore. A festa dos Santos Inocentes, mas não sua oitava, é mantida com vestimentas roxas e sem o Te Deum ou Gloria. Tampouco se diz o Gloria nas Missas de Requiem ou votivas, com três exceções: Missas Votivas da Santíssima Virgem aos Sábados, dos Anjos e aquelas ditas pro re gravi ou por causa pública da Igreja, a não ser que as vestimentas sejam roxas. (...)
A menção ao Te Deum se refere ao Ofício Divino, e não precisamos nos preocupar com ela agora.

A tradução portuguesa do Gloria que utilizamos na Missa traz a curiosidade de inverter dois blocos de texto, quando a comparamos com o Gloria em latim. Não encontrei até hoje nenhuma explicação para esta ocorrência. Agradeço a quem puder esclarecer este fato. O quadro abaixo mostra a inversão, ao mesmo tempo em que coloca para o estimado leitor, lado a lado, o Gloria em latim e o Gloria em português. Para vê-lo maior, clique no quadro.


De qualquer forma, isto se encontra muito distante de ser o maior problema que temos com o Gloria. Esta simples inversão se conserta com a publicação de uma nova versão oficial; o que parece difícil de consertar é o uso de outros textos no lugar do Gloria.

ATUALIZAÇÃO [12.8.2010] Leia os comentários feitos a este texto. Lá o nosso leitor Irmão Tomás de Aquino e o Rafael Brodbeck nos explicam essa questão.
São dois pensamentos básicos que dão origem a abusos no Gloria. O primeiro é que, por se tratar de um hino de louvor, qualquer “hino de louvor” pode ser colocado neste momento. Engano gravíssimo. O Gloria faz parte do Ordinário da Missa e não dá lugar a nenhum outro texto. A IGMR diz, textualmente: o Glória é um hino antiquíssimo e venerável, pelo qual a Igreja, congregada no Espírito Santo, glorifica e suplica a Deus Pai e ao Cordeiro. O texto deste hino não pode ser substituído por outro.

O texto não pode ser substituído por nenhum outro. Isto exclui textos parecidos, paráfrases, extensões, abreviações etc. Tampouco vejo como seria possível admitir versões métricas.

O segundo pensamento é o de que o Gloria é um “louvor trinitário”. Pois bem; ainda que consideremos o Gloria como louvor à Trindade, não é nisto que ele se concentra; e mesmo que fosse o caso, o fato de ser um louvor trinitário não autoriza ninguém a substitui-lo por outro texto que seja considerado “louvor trinitário” por quem quer que seja.

Daí provêm canções, freqüentemente utilizadas em nossos dias no lugar do Gloria, cujo texto dedica uma estrofe para cada Pessoa da Santíssima Trindade, com as quais se alterna um refrão que costuma conter a palavra “Glória” – e estes simples elementos ficam considerados suficientes para que a tal canção seja colocada neste momento da Liturgia. Ainda que a música não fosse péssima, seria um erro litúrgico muito grave.

É urgente abolir essas canções. Certamente há muita música que precisa ser extirpada da Liturgia, atualmente, mas o Gloria realmente clama aos céus. Não é possível que se jogue no lixo um texto de mais de quinze séculos para pôr, em seu lugar, uns versos fraquíssimos de péssimo gosto musicados com o que há de mais medíocre na música. O que há algum tempo temos visto no Gloria é comparável ao uso de vasos de plástico no altar, comparável à substituição dos paramentos por bermudas e camisetas.

Em alguns fóruns da internet ainda se faz a pergunta: é permitido bater palmas no Gloria? Esta pergunta encerra um pensamento bastante curioso: seria permitido bater palmas na Missa, mas não em todas as partes. Tal assunto já foi bastante debatido, e a resposta definitiva é não; não se batem palmas em nenhum momento da Missa. E é especialmente desagradável que, indo a uma Missa, deparemo-nos com música que poderia ser acompanhada de palmas (mesmo que efetivamente não seja).

*

Por ser um texto relativamente longo, no canto gregoriano o Gloria nunca é melismático, mantendo-se no silábico e se aventurando um pouco no neumático. Recordemo-nos: melismático, muitas notas para uma sílaba; neumático, algumas notas para uma sílaba; silábico, uma nota por sílaba.

O Gloria possivelmente mais simples é o Gloria chamado ambrosiano. O leitor pode ver na figura abaixo suas primeiras linhas, e poderá perceber que é bastante silábico. Somente na sílaba bi de tibi é que surge um melisma (de treze notas), o qual marquei em verde.


Assim ele continua, alternando muitas frases silábicas com ocasionais melismas. Seu Amen é melismático – dezenove notas na segunda sílaba!


Este Gloria ambrosiano é o quarto das melodias ad libitum, não fazendo parte dos dezoito ordinários do Kyriale. O Gloria colocado como primeira ilustração deste texto é o Gloria IV do Kyriale. Aquela imagem é de um livro mais antigo. Vejamos a mesma partitura (com a continuação, claro) impressa em 1961:


Este Gloria IV também é eminentemente silábico, com poucos melismas; mais numerosos, entretanto, que os do Gloria ambrosiano. Um aspecto do ambrosiano que o faz mais fácil é seu constante uso de notas repetidas, como se fosse um canto salmódico. Observe o leitor que o Gloria IV se move bem mais.

Na música polifônica sempre se deixou a primeira frase – Gloria in excelsis Deo – para o celebrante entoar, entrando o coro a partir de et in terra pax. Na verdade, isto acontece também no gregoriano, mas o efeito é mais forte na música polifônica, pois a primeira frase é cantada por um homem só e, de repente, se ouvem múltiplas vozes cantando a várias partes.

Aproveitando que no texto do Kyrie ouvimos o Kyrie da Missa Papae Marcelli, de Palestrina, vamos ouvir também seu Gloria. Se no começo o volume estiver baixo e o leitor não tiver ouvido bem o início, volte para perceber as primeiras palavras cantadas pelo solista e a entrada do coro todo em et in terra.

Veja o leitor, na partitura, que a música do coro começa com et in terra, e o Gloria in excelsis Deo ali escrito é meramente o título da composição. Na gravação abaixo, o solista canta o início do Gloria VIII.


A Missa Papae Marcelli, lembremo-nos, foi assim intitulada por Palestrina em homenagem ao papa Marcelo II, que em 1555 reinou por apenas 22 dias.

Palestrina (1525-1594), Gloria da Missa Papae Marcelli

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Novo Livro-Aula do Pe. Paulo Ricardo

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A Editora Ecclesiae acaba de lançar o novo livro-aula do Padre Paulo Ricardo, que se encontra à venda em nossa loja.

Na terceira aula do curso de “Introdução à Teologia” da Coleção Teologia das Fontes, o Pe. Paulo Ricardo completa os estudos sobre Teologia Fundamental e ainda nos traz um tocante depoimento sobre a sua conversão. Esta aula gira em torno do famoso trinômio da Igreja: Sagradas Escrituras, Tradição e Magistério. As explicações também abordam detalhes da tradição, com a apresentação do legado dos Santos Padres, mostrando em parte, a teologia desses que ajudam a formar a grande riqueza doutrinal da Igreja.

Capítulos
1. Sagradas Escrituras, Tradição e Magistério
2. Camadas de Interpretação das Sagradas Escrituras
3. Tradição e Escritura nas Primeiras Pregações
4. Riqueza do Magistério
5. A Geração Sub-Apostólica
6. Princípio da Tradição em São Basílio
7. Os Quatro Legados dos Santos Padres

Extra
Uma Tertúlia ao Cair da Tarde - Pe. Paulo nos conta sobre o seu processo de conversão.

Ficha Técnica:
  • Número de Páginas: 68
  • Editora: Ecclesiae
  • Idioma: Português (Brasil)
  • ISBN: 978-85-63160-02-7
  • Dimensões do pacote (Livro+DVD+CD): 13,5 x 19 x 2,2 cm

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Diocese de Franca fará celebrar Missa Solene na forma extraordinária

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É o que diz o sempre bem-informado blog Fratres in Unum:

No dia 21 de agosto, às 15 horas, na Catedral de Franca, SP, será celebrada uma missa solene no Rito Latino-Gregoriano pelo Padre Michel Rosa da Silva, por ocasião de seu aniversário de ordenação sacerdotal.

Segundo informa o leitor Ícaro de Faria Luis, “na diocese de Franca temos dois padres que sabem rezar a missa na forma extraordinária do rito romano, que está em vias de tornar-se semanal com o apoio de nosso bispo diocesano, Dom Pedro Luiz Stringhini, e existem mais padres com interesse em conhecer a missa tridentina”.

Na África não tem Missa Afro…

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Pois é… Tanto se fala em colocar cultura afro na Missa romana por aqui, e, da África mesmo, a real, a de verdade, não a ideologicamente inventada, temos um belíssimo exemplo: Dom Gregory Ochiagha, Bispo Emérito de Orlu, Nigéria, celebrou seu Jubileu de Ouro com uma Solene Missa Pontifical na forma extraordinária.

 

Isso mesmo. Na África não tem Missa Afro. Na África tem Missa Tridentina!

 

Mas não diziam que o povo negro quer Missas com atabaques, falando “axé”, dançando no altar, com roupas extravagantes?

 

As fotos, que nos chegam via New Liturgical Movement, falam por si e nos dão esperança de que a liturgia será salva!

 

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Após a Comunhão. Inspirador!

domingo, 8 de agosto de 2010

Santa Missa em Latim na forma Ordinária - Aracaju - SE

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Postamos um convite da Paróquia Bom Jesus dos Navegantes em Aracaju - SE.

Será oficiada uma vez por mês uma Santa Missa na forma Ordinária do Rito Romano em Latim. A primeira Missa acontecerá no próximo domingo, Solenidade da Assunção da Virgem Maria.


Entrevista com o Pe. Darvan da Rosa, da Diocese de Pelotas, RS

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Apresentamos, com alegria, uma entrevista que fizemos com o Pe. Darvan Hernandez da Rosa, pároco de Nossa Senhora da Conceição, em Piratini, RS, Diocese de Pelotas. O Pe. Darvan é amigo de alguns membros do Salvem a Liturgia, e celebrou, em latim, na forma ordinária, o Batismo de Maria Antônia Taddei Brodbeck, minha filha com a Aline, também de nossa equipe.

O Pe. Darvan, em sua paróquia...

Agradecemos ao senhor pela disponibilidade em atender ao nosso convite. O senhor é um leitor do Salvem a Liturgia? O que mais gosta em nosso blog?
Sim. Gosto sobretudo do zelo pela liturgia de jovens, na maioria leigos. Perceber como estudam, como se esforçam para que a Liturgia seja bem celebrada. O conteúdo também é muito bom. Quanto à entrevista é um grande prazer.

O senhor considera que esse tipo de apostolado virtual tem repercussão real entre os católicos do Brasil?
Sem dúvida. Já tem me ajudado muito. Tenho aprendido e também tenho sido contagiado pelo desejo de melhorar a Liturgia em minha Paróquia. Surpreendo-me quando chego em algum lugar e vejo um jovem que tem carinho pela Liturgia. Indico-lhe o "Salvemaliturgia" e ele me responde: já o conheço - com ar de estima. Ele chega em mais pessoas do que imaginamos. Penso que a repercussão maior vem da ação do Espírito Santo. Estou convencido que Ele está levando os cristãos a quererem Liturgias bem feitas e fiéis ao Espírito da Igreja, sem abusos, com toda a riqueza multissecular. Neste sentido o "Salvemaliturgia" tem sido um grande instrumento de Deus.

E entre os padres e Bispos?
É o Espírito Santo que renova constatemente a Igreja de Cristo. Vendo tantos católicos verdadeiros - fiéis, coerentes, perseverantes, com espírito de comunhão - no "Salvemaliturgia", percebo que com o tempo este espírito repercutirá também em outros, inclusive nos Pastores. A verdade e o bem se espalham com a graça de Deus, quando a testemunhamos, mais do que esperamos. A internet faz com que aquilo que parecia impossível, ou seja, que quem se preocupa com aprimorar e tornar a Liturgia fiel às normas emanadas pela Autoridade competente da Igreja, pudessem ter proximidade para se ajudarem nos diversos lugares do Brasil. Isto faz o Salvem. Sei que nossos irmão leigos poderão ajudar muito a nós sacerdotes, se forem humildes, leais e amigos. Não existe má vontade na grande maioria de nós padres em celebrar corretamente a Santa Missa.

Como atingir mais pessoas, despertando-as para um maior amor à liturgia bem celebrada, de acordo com as normas, respeitando a tradição do rito romano? Há alguma receita?
Fazendo a experiência de celebrar bem, sem improvisar nem inventar. Colocando todo nosso coração no que estamos celebrando. Quando celebramos bem com todo o coração a Liturgia atrai as pessoas paro o que devia atrair: Deus ali presente. Não é o carisma humano e particular da pessoa do celebrante que deve atrair as pessoas para a Liturgia, mas o Deus inefável ali presente em Seu Mistério sagrado. Repito, não é o carisma humano. Com isto a edificação espiritual dos crentes é sólida. As pessoas começam a gostar cada vez mais, e lhes dói a improvisação, o chamar atenção, a inclusão de palavras pessoais em desacordo com o estabelecido. Isto é mecher em algo que não pode ficar a mercê da improvisação, pois é algo infinitamente grande. Por perceber que é tão sagrado os fiéis respeitam, buscam com avidez e profundidade. Isto repercute na vida. Não se pode querer outra coisa maior. Esta é a melhor maneira de despertar as pessoas para um amor profundo pela Liturgia, além, é claro, da oração.


De quem o senhor recebeu esse gosto pela liturgia? Há alguma inspiração maior?
Penso que de Deus mesmo. Na minha caminhada cristã senti que Cristo me pedia com força para ajudar os irmãos neste sentido: Celebrar de maneira fiel, correta, sem rubricismo e mera exteriorizaçao. Sempre que via uma Liturgia celebrada com decoro, sacralidade, fidelidade, sobriedade... Deus me fazia ver que Ele espera isto para toda a Igreja. Podia ser uma percepção arbitrária, subjetiva, coisa da minha cabeça, mas Ele me confirmava isto vendo as manifestações do Magistério eclesiástico. Confirmou-me também os frutos que observo.

Que papel os padres do Opus Dei e a espiritualidade de São Josemaria Escrivá possuem nesse tema da liturgia em relação ao sacerdócio?
Sem dúvida que confirmaram esta moção interior. São Josemaria tinha um amor indizível pela Santa Missa. E sua Missa era sóbria, bela, profunda, sacra. E a repercussão na salvação e santificação do mundo foi impressionante. Esta atitude do Santo - refletida nos seus filhos espirituais - me ajudou a perceber o que é a Missa mesmo, mais do que com palavras (aliás, como deve ocorrer conosco: como dizer que a Missa é tão importante, sagrada e decisiva para o mundo, se abusamos com inovações, estilos próprios, improvisações, tirando o foco do essencial?).

Como cultivar uma espiritualidade litúrgica?
Colocando todo nosso coração no Rito sagrado, em cada gesto, palavra, símbolo. Ter vida profunda de oração diante do Sacrário, tendo como base a Palavra de Deus. Estudando os textos do Magistério sobre liturgia e os bons autores. Procurando ser coerente com o que celebramos, ou seja, ser santo.

A reza diária do breviário tem ainda seu lugar na oração do padre moderno?
Claro. É a Palavra de Deus. Quase todo o breviário é extraído da Bíblia. É o trabalho fundamental do sacerdote: rezar pelo Povo e no lugar do Povo. É impressionante como a perseverança na oração do Breviário dá frutos na vida pessoal e no ministério do presbítero, e também da Igreja e do Povo a ele confiado.

O senhor usa batina, anda sempre de clergyman, veste a casula, celebra a Missa com rigor na liturgia, prega homilias ortodoxas, gosta de latim. Não tem receio da incompreensão de alguns leigos e mesmo colegas padres?
Não. Fazer tudo com amor e espírito de unidade com a Igreja é um grande bem. Mesmo que não se entenda bem no momento. Tudo isto que o senhor falou na pergunta é a Igreja que orienta que deve ser feito, não é iniciativa pessoal minha.

Sabemos que o senhor é um apóstolo da confissão. Ao chegar em Piratini, tomou como uma das primeiras medidas atender as pessoas no confessionário. O que pode nos dizer dessa experiência? Quais os frutos para a vida espiritual dos paroquianos? Que conselhos daria aos párocos nesse tema?
Teria mais que aprender do que falar. Digo no entanto: rezar pelos paroquianos, falar da confissão, estar a disposição. O uso do confessionário é muito positivo. Ajuda o fiel perceber que está se encontrando com Cristo, dá mais liberdade aos que estão pouco acostumado com esta experiência. A profundidade da vida cristã passa por este sacramento.

O senhor, há pouco, teve a feliz idéia de, na Semana Santa fazer celebrar a Missa em latim e versus Deum, no rito novo mesmo, pós-conciliar. Ao mesmo tempo em que o parabenizamos pela decisão, aproveitamos para pedir que o senhor nos descreva a celebração e como a preparou.
Foi sobretudo pelos 200 anos da Paróquia. A maioria das Missas na história da Paróquia foram celebradas em latim e no altar antigo. Influenciado por Bento XVI e João Paulo II rezei muito e percebi que é importante manter nos fiéis a percepção de continuidade e não de ruptura com a Igreja de todos os tempos. Fizemos em latim as orações próprias, o Kyrie (cantado), o Sanctus (cantado), a Oração Eucarística, o Pater Noster e o Agnus Dei (cantado). As mudanças têm que serem feitas com prudência, formação, gradualidade, tendo por objetivo o crescimento espiritual dos fiéis, na comunhão da Igreja, sem espaço para os meros gostos pessoais do sacerdote, que é o que menos conta.

Qual a reação dos fiéis após essa Missa? Sofreu muita perseguição, comentários maldosos ou incompreensões?
A reação foi muito boa. Tratou-se de uma experiência muito positiva para mim e para os fiéis. Claro que é necessário uma boa explicação e Catequese. Surpreendi-me com a alegria e aprovação sobretudo dos jovens. Houve uma pessoa que com toda lealdade e franqueza veio me perguntar o porquê. Foi muito bom também, neste clima de diálogo e crescimento, ajudarmo-nos a melhor entender a Liturgia e o "sentir com a Igreja".



Quais passos o senhor pretende dar a partir de agora? Há chance de ter um coro gregoriano, um grupo estável de coroinhas, Missas periódicas em latim?
Os passos são continuar rezando, pedindo inspiração de Deus, sem deixar de estar em sintonia com meu Bispo e Diocese. Temos verdadeira dificuldade de cantos, de coroinhas, mas sei que Deus provê Sua amada Igreja. Tudo é para o crescimento espiritual dos fiéis, para que sejam cristãos adultos na fé, capazes de transformar o mundo pela santidade de suas vidas e de sua ligação vital com Cristo e Sua Igreja.

E quanto à Missa na forma extraordinária, o senhor pretende aprendê-la?
Gostaria muito.

O que pensa a respeito da "reforma da reforma" levada a cabo pelo Papa? Essa revalorização de aspectos tradicionais, de Missas versus Deum, de mais latim e gregoriano, a tomada de posição pelo arranjo beneditino, a liberação da Missa tridentina... O que tem isso a ver com a Nova Evangelização, tão pedida pela Igreja?
Para a Nova Evangelização precisamos de cristãos fortes e maduros, prontos a testemunharem Cristo na sociedade que se paganiza. Isto só é possível com a centralidade da Eucaristia e da Palavra de Deus em suas vidas. E como conseguir eficazmente esta centralidade senão com Liturgias celebradas com profundidade, com sacralidade, com fidelidade, exalando o mistério divino que se aproxima de nós? O Papa Bento XVI tem dedicado grande parte de seu Magistério neste sentido, porque o Espírito Santo está conduzindo com força a Igreja nesta direção.

E os jovens? Como explicar que alguns não queiram Missas mais sóbrias alegando que eles não irão mais à igreja, mas que, ao contrário dessas previsões, sejam eles na linha-de-frente pela Missa tridentina, pela Missa nova bem celebrada, pelo latim, pelo véu nas mulheres, pela valorização da sacralidade?
Para mim é claramente obra do Espírito Santo na Igreja. Este é o futuro da Igreja. Pois o confirma isto também o Magistério. Se os cristão não encontram o Mistério e a sacralidade em nossas Liturgias ficam enfraquecidos na fé, na esperança e caridade. Alguns procuram outros caminhos. O coração do jovem quer experimentar Deus. Percebo que a renovação litúrgica passa pela juventude. Tenhamos confiança no Senhor e paciência.

Que apelo o senhor faz aos seus irmãos sacerdotes quanto à observância das normas litúrgicas?
Se não experimentaram, que experimentem. Com o tempo se pode ver a ação de Deus de maneira mais profunda e eficaz. Se já o fazem, perseverem, sem se deixar mudar pelos elogios ou criticas, em espírito de humildade e comunhão.

sábado, 7 de agosto de 2010

Primeira Missa - Pe. Horácio - Arquidiocese de Aracaju

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Primeira Missa do Padre José Horácio Fraga realizada na Paróquia Nossa Senhora do Loreto, Eduardo Gomes, em Aracaju - SE no dia 20 de julho de 2010.

A Santa Missa foi assistida por sua Excelência Reverendíssima Dom Henrique Soares da Costa, bispo titular de Acúfida e Auxiliar da Arquidiocese de Aracaju que proferiu a homilia, conforme prevê as rubricas. As fotos da Ordenação Sacerdotal do Padre Horácio podem ser vistas aqui.






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