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quarta-feira, 6 de abril de 2011

Um casamento ad Orientem

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Celebrou-se, no dia 5 de fevereiro do corrente ano, o Sagrado Matrimônio de dois leitores do Salvem a Liturgia: o filósofo e mestre em sociologia Rudy Albino de Assunção e a psicóloga Renata Silva.

O rito do casamento se deu durante a Missa, celebrada versus Deum, ainda que na forma ordinária (i.e., rito moderno, pós-conciliar), e em vernáculo, pelo Pe. Lourenir Geraldo Nascimento (conhecido como “Pe. Hiko”), na Capela de São Sebastião, em Gravatal, SC, Diocese de Tubarão.

Acompanharam a Missa, cantos dignos ao som do órgão e de um violino, junto de um coro, e os acólitos (não-instituídos) usaram a batina com a sobrepeliz.

Nas palavras do noivo:

Buscamos fazer uma Liturgia em que resplandecesse o Mistério Pascal de Cristo, que se nos revela também no Matrimônio Cristão, como imagem perene e insubstituível da entrega de Cristo pela Igreja.

Algumas fotos do casamento:

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terça-feira, 5 de abril de 2011

Os enganos da carne

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Artigo da Profª. Evelyn Mayer de Almeida, publicado em seu blog, como excelente reflexão para a Quaresma:

Sois vós tão insensatos? Tendo começado pelo Espírito, é pela carne que agora acabareis? (Gal 3,3)



Se há uma coisa em que somos mestres em fazer é iniciar algo e não terminar. Se eu perguntasse a você quantos livros começou a ler e não terminou; quantas vezes prometeu que rezaria o Santo Terço diariamente e nada; quantas vezes decidiu não comer algo e comeu; você perderia as contas. Eu também! Sou rainha de começar algo e não terminar. E isso mostra o quanto você e eu somos inconstantes, o quanto somos infiéis e o quanto não perseveramos em nossa caminhada rumo ao amor do Pai. E estas atitudes influenciam diretamente nosso espírito. Explico.

Algo que deixamos de considerar em nossa caminhada rumo ao Pai é que as atitudes da nossa carne influenciam diretamente em nosso espírito; e, como os nossos olhos só conseguem ver o que é mortal - e por isso não enxergam o que é eterno, não veem o sobrenatural - não vemos mal algum em assistir a um reality show que traz tanta pornografia; em ler uma obra que tenha teor maçônico; em ouvir músicas que excitem profundamente nossa sexualidade... Porém, todas estas coisas podem (e contribuem) perder a nossa alma, levando-nos para a desgraça eterna.

Não se deixe levar pelos enganos da carne. Sabemos que o que a carne nos oferece é enganador, não tem constância. As paixões, as devassidões, as promiscuidades... todas elas se originam da carne. O que há de bom em nós não provém da nossa carne, mas é mérito exclusivo de Deus, que por seu amor, nos doou todos os dons que fossem necessários para que prosseguíssemos firmes rumo à nossa salvação.

Uma vez resgatados pelo Sangue do Cordeiro; uma vez batizados, não podemos mais nos submeter ao homem velho. As práticas da vida velha devem ficar para trás, crucificadas na cruz. No Domingo da Páscoa a única coisa que pode ressurgir é a nossa vida nova, uma vida glorificada com Cristo. Só que para isso, precisamos viver o que vem ANTES da ressurreição, que é a morte. Portanto, se não queremos viver como o homem velho, precisamos morrer diariamente para nós, para a nossa carne, para as nossas vontades todos os dias, pois se morrermos cada dia para nós mesmos, a cada dia viveremos para Deus e sua vontade.

Que esta meditação de hoje sirva-lhe como desafio para todos os dias de sua vida.

Penitência:

Reflita sobre como você tem se colocado diante do Senhor, em como você tem observado seus mandamentos. Pergunte-se se as coisas que você tem feito têm colaborado para a perdição ou a salvação de sua alma. Questione-se sobre o caminho que você tem trilhado, se está caminhando rumo à Pátria ou a Desgraça Eterna.

Por fim, não deixe de olhar o Cristo Crucificado. Adore-o. Prostre-se diante do Senhor crucificado. Observe suas chagas, seu lado aberto. Contemple sua face. Analise o amor extremo e constrangedor que existe por você. Ouça, como bem ouviu Santa Tereza de Ávila, a bendita frase do Senhor: "Olha a quem te Olha" e olhe o Senhor. Contemple-o. Adore-o. Depois disso, deseje sepultar com o Senhor toda a sua vida de pecado, todo homem velho, todos os enganos da carne, para que, no Domingo de Páscoa, você possa bradar o verdadeiro Aleluia! Não mais aquele Aleluia sem verdade, e sim o Aleluia do homem novo, que não se corrompe, mas que vive conforme a vontade do Espírito.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Ad Orientem - a direção do culto divino no Antigo e no Novo Testamentos

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Instigante texto do Pe. Clécio, em seu Oblatvs:

O Ofício das Leituras desta 2ª feira da IV semana da Quaresma traz uma leitura do Levítico (16, 2-28) sobre o Dia da Expiação. A segunda leitura é uma homilia de Orígenes em que comenta o texto veterotestamentário.

Há não muitos anos o debate sobre a orientação da Santa Missa era um tabu. O grande responsável pela mudança de ambiente é o Papa Bento XVI. Também João Paulo II celebrava ad Orientem em sua capela particular. Mas é Bento XVI quem o faz publicamente, na Capela Sistina, além de sua contribuição teórica, em inúmeros escritos anteriores ao Sumo Pontificado.

Argumenta Joseph Ratzinger, segundando liturgistas e historiadores, que a celebração versus populum é contrária à Tradição. Segundo o Papa teólogo, tal desorientação é um mito difundido pelos teóricos e reformadores que souberam dar uma roupagem supostamente "restauracionista" ao que era, na realidade, uma inovação absoluta. Outros preferiram amparar a mudança radical no falso pressuposto de que tal arranjo seria espiritual e pastoralmente benéfico.

Não se discute a validade da Santa Missa versus populum; não é o que faz Joseph Ratzinger. Discutem-se os benefícios de sua correta orientação e, consequentemente, os prejuízos de sua desorientação.

Por que o Papa não determina, já que pode fazê-lo, um retorno à prática apostólica, zelosamente preservada no Oriente e no Ocidente nos últimos 20 séculos?

Porque uma das virtudes mais valiosas que deve ornar um Sumo Pontífice é a prudência. Proibir a celebração versus populum daria a impressão de autoritarismo, arbitrariedade, insensibilidade pastoral e espírito de mudancismo - tudo o que fizeram os reformados do século passado. Mais importante é formar as novas gerações, educá-las no espírito da Liturgia, apresentá-las à genuína orientação litúrgica e, sobretudo, derrubar os velhos mitos.

Que tal uma demitização?

Não! Na Igreja primitiva NÃO se celebrava versus populum.

Não! O simples fato de se celebrar versus populum NÃO traz benefícios pastorais e espirituais.

Não! O Vaticano II NÃO mandou que se celebrasse versus populum.

Segue abaixo a homilia de Orígenes, ordenado sacerdote por volta do ano 230!

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Cristo, sumo sacerdote, é a nossa propiciação

Uma vez por ano o sumo sacerdote, afastando-se do povo, entra no lugar onde estão o propiciatório, os querubins, a arca da aliança e o altar do incenso; ninguém pode entrar aí, exceto o sumo sacerdote.

Mas consideremos o nosso verdadeiro sumo sacerdote, o Senhor Jesus Cristo. Tendo assumido a natureza humana, ele estava o ano todo com o povo – aquele ano do qual ele mesmo disse: O Senhor enviou-me para anunciar a boa-nova aos pobres; proclamar um ano da graça do Senhor e o dia do perdão (cf. Lc 4,18.19) – e uma só vez durante esse ano, no dia da expiação, ele entrou no santuário, isto é, penetrou nos céus, depois de cumprir sua missão redentora, e permanece diante do Pai, para torná-lo propício ao gênero humano e interceder por todos os que nele creem.

Conhecendo esta propiciação que reconcilia os homens com o Pai, diz o apóstolo João: Meus filhinhos, escrevo isto para que não pequeis. No entanto, se alguém pecar, temos junto do Pai um Defensor: Jesus Cristo, o Justo. Ele é a vítima de expiação pelos nossos pecados (1Jo 2,1-2).

Paulo lembra igualmente esta propiciação, ao falar de Cristo: Deus o destinou a ser, por seu próprio sangue, instrumento de expiação mediante a realidade da fé (Rm 3,25). Por isso, o dia da expiação continua para nós até o fim do mundo.

Diz a palavra divina: Na presença do Senhor porá o incenso sobre o fogo, de modo que a nuvem de incenso cubra o propiciatório que está sobre a arca da aliança; assim não morrerá. Em seguida, pegará um pouco do sangue do bezerro, e com o dedo, aspergirá o lado oriental do propiciatório (cf. Lv 16,13-14). Ensinou assim aos antigos como havia de ser celebrado o rito de propiciação, oferecido a Deus em favor dos homens.

Tu, porém, que te aproximaste de Cristo, o verdadeiro sumo sacerdote que, como seu sangue, tornou Deus propício para contigo e te reconciliou com o Pai, não fixes tua atenção no sangue das vítimas antigas. Procura antes conhecer o sangue do Verbo e ouve o que ele mesmo te diz: Isto é o meu sangue, que será derramado por vós, para remissão dos pecados (cf. Mt 26,28).

Também a aspersão para o lado do oriente tem o seu significado. Do oriente nos vem a propiciação. É de lá que vem aquele homem cujo nome é Oriente e que foi constituído mediador entre Deus e os homens. Por esse motivo és convidado a olhar sempre para o oriente, de onde nasce para ti o Sol da justiça, de onde a luz se levanta sobre ti, para que nunca andes nas trevas, nem te surpreenda nas trevas o último dia; a fim de que a noite e a escuridão da ignorância não caiam sorrateiramente sobre ti, mas vivas sempre na luz da sabedoria, no pleno dia da fé e no fulgor da caridade e da paz.

Ainda a reforma da reforma. Ou, "Sem Missa tridentina, ao menos, Missa moderna bem celebrada!"

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Para trabalharmos com o real - que faria ser uma utopia a proibição pura e simples do rito moderno -, uma solução seria que a "reforma da reforma" procurasse é fazer "retroceder" o rito NOVO, introduzindo nele rubricas e práticas, pouco a pouco, que o fizessem cada vez mais similar ao rito tradicional.

Quando falamos em "reforma da reforma", não se trata de mexer no Missal de 1962, ao menos não por enquanto, e sim no Missal de 1970. Se o rito tradicional ficasse como o de 1965, seria um erro, mas se o rito moderno é que voltasse ao de 1965, ou ao de 1962 mas com algumas práticas do rito novo preservadas, já seria uma boa notícia.

E, depois, quando o rito moderno ficasse muito mais "inserido na tradição litúrgica", aí, sim, uma unificação seria algo natural, e só se introduziria pontos positivos do rito novo no rito antigo se fosse respeitado o princípio do desenvolvimento orgânico.

Um maior rigor na vigilância do rito novo, io incentivo ao gregoriano e à polifonia, a obrigatoriedade do versus Deum e da Comunhão de joelhos e na boca, bem como um mais amplo uso do latim, seriam primeiros passos. Depois, a troca do atual ofertório pelo tradicional, o uso exclusivo do Cânon Romano, regras mais claras quanto aos tipos de Missa, restauração das Quatro Têmporas, das Rogações, da Septuagésima, das Missas de Réquiem tradicionais, etc, seriam outros passos a serem implementados no rito moderno, mantendo, NELE - e só nele, nada de, por enquanto, mexer no rito tradicional -, os pontos positivos.

Em conversa com o Paulo Ghetti Frade, ouvi dele uma preciosa analogia:

Após o que eu chamo de antidoto inicial que ajudaria o Rito Novo a se aproximar do Rito Antigo ficaria bem mais fácil fazer as modificações mais profundas como as do ofertório.

De um certo modo, o antídoto inicial pode também ser comparado a uma anestesia geral antes de uma complicada cirurgia.

Gostei da analogia com os procedimentos médicos. É esse, aliás, o "goal" do Salvem a Liturgia, e penso ser o mote do Papa. Ampliar o uso da forma extraordinária e favorecer um modo "tradicional" de celebrar a forma ordinária.

Eu insisto na celebração "ortodoxa" da forma ordinária não porque a considere exatamente igual em seus acidentes à extraordinária, ou para fingir que tudo está ótimo, e sim para evitar uma dicotomia que muito prejudicaria uma correção de percurso: qual seja, o isolamento da forma extraordinária como "rito dos que não querem bagunça", como se a forma ordinária pudesse ser feita de qualquer jeito. Se assim acontecer, tenho pena de nossos irmãos nas paróquias que não têm acesso ao rito tradicional.

Ora, se o privilégio da correção litúrgica, da sobriedade (por mais que o rito novo tenha defeitos em comparação com o antigo, ele pode, sim, ser sóbrio), da solenidade (idem), estiver com o rito antigo, aqueles católicos que não têm acesso a ele, por falta de formação, por preferência teológica ou espiritual (da qual eu discordo, mas penso ser legítima dado o atual estado de coisas), por "birra" do pároco ou do Bispo (a que eles não têm direito, mas que, na prática, sabemos que acontece), estarão condenados a ter Missa no rito novo em sua pior variação. Tiramos deles a possibilidade de, já que não têm Missa tridentina, ter, ao menos, Missa moderna bem celebrada.

Primeiros passos são esses: popularizar o rito tridentino (a forma extraordinária), e celebrar de modo ortodoxo o rito moderno. Segundo passo: introduzir no rito novo elementos tradicionais, paulatinamente, até que ambas as formas fiquem muito parecidas. Só no fim, poderá haver uma unificação e, aí, sim, os pontos positivos que sobreviverem do rito novo podem ir para o único rito romano que haveria.

Não sei a opinião dos leitores, mas eu vejo pontos positivos no rito moderno e que poderiam permanecer na eventual e futura unificação. Evidentemente, dado o atual estado de coisas, não é nada prudente tomar qualquer decisão agora. Em tempos de crise, não se decidem assuntos tão sérios. É até a aplicação de uma das regras de Santo Inácio. Todos somos afetados pelas paixões, e é natural que elas desempenhem alguma influência na tomada de decisão. Em tempos de crise, as paixões aumentam, e são más conselheiras.

Alguns poderiam indagar: "Não seria melhor voltar logo o rito tridentino e abandonar o novo?"

Fazer as coisas no "canetaço" é ignorar as disposições de alma dos fiéis. Pode ser tão traumático como foi a implementação do rito novo. As coisas devem seguir um desenvolvimento harmônico. De modo natural, com passos firmes, mas prudentes, de Roma e seus colaboradores, as coisas entram nos eixos.

Não nos cabe forçar as coisas, mas, além de rezar, criar as condições para que o Papa e seus auxiliares, seja na Santa Sé, seja nos institutos especialmente preocupados com a liturgia, possam fazer o seu trabalho.

De toda sorte, quais pontos positivos do rito de Paulo VI poderiam permanecer não só em sua reforma, como em um eventual e futuro rito unificado? Um elemento penso ser pacífico: maior número de leituras nos Domingos e Solenidades.

Poderia elencar outros: as preces dos fiéis, os novos prefácios e as novas coletas (desde que, em nenhum dos dois casos, se perca as antigas), algumas bênçãos do Ritual Romano, o Ritual de Iniciação Cristã de Adultos, a possibilidade do uso do incenso mesmo na Missa não-solene, talvez (TALVEZ, pois não estou bem certo quanto a isso) a possibilidade do canto do Ordinário (e só do Ordinário) mesmo nas Missas rezadas, a possibilidade de EVENTUAL concelebração (não como está atualmente, mas em algumas ocasiões bem definidas pelo Direito), o "omissões" no Confiteor (embora esteja presente implicitamente no "atos", é bom para lembrar o fiel atual, tão acomodado, que se peca desse modo, a meu ver, o tipo de pecado predominante na época hodierna), algumas duplicidades evitadas (como o coro cantar o Gloria, e o padre, em vez de simplesmente cantar junto, rezá-lo vox submissa), a introdução do Pater Noster nas Laudes e nas Vésperas, as coletas distintas para cada dia da semana nas Completas, a melhor disposição das Matinas/Ofício de Leituras (em que pese ter sido um desastre modificar o tradicional Ofício de Trevas), a possibilidade de se fazer o Matrimônio e a Crisma DENTRO da Missa (após a homilia), a obrigatoriedade da homilia nos dias de festas de preceito.

domingo, 3 de abril de 2011

Homilia de Mons. José Francisco Falcão

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Venha a nós o vosso reino!
http://www.materecclesiaedobrasil.com/

Homilia de Mons. José Francisco Falcão, Bispo auxiliar eleito da Arquidiocese Militar do Brasil, na Cerimônia de Acolitato e Leitorato.


Desejo, antes de tudo, saudar afetuosamente o Reverendíssimo Reitor desse Seminário, Pe. Deomar, em cuja pessoa contemplo, abraço e reverencio todos os demais membros da equipe de formadores, os professores, os alunos e os funcionários do Seminário Maria Mater Ecclesiae. Como sacerdote eleito para o Episcopado e para o ofício de Bispo Auxiliar do Ordinariado Militar do Brasil, trago o ósculo santo, o carinho e a bênção do Sr. Arcebispo, D. Osvino José Both, que se encontra neste momento em retiro espiritual com o clero do nosso Ordinariado, em Itaici. Com a minha presença, desejo que possais reconhecer o apreço e a admiração do nosso presbitério militar e dos leigos e leigas que integram a nossa Igreja particular por todos vós, família legionária do Senhor. Desejo também manifestar a minha estima, a minha proximidade em orações e o meu particular reconhecimento por todos os Legionários de Cristo espalhados no mundo inteiro. Vós, diletos Legionários, sois amados filhos da Igreja. Vós já fizestes e ainda continuais a fazer um bem imenso à Igreja Católica, pois a formação que dispensais aos jovens que se preparam para o sacerdócio ministerial ou ordenado é absolutamente fiel ao Sucessor de Pedro e à grande Tradição da Igreja. Desejamos que essa Obra perdure sempre. Não esqueçais: a vossa dor é a nossa dor, as vossas alegrias são as nossas alegrias. Se estais com o Papa e o Papa vos ama, nós vos amamos com o Santo Padre! Muito obrigado por esse serviço eclesial tão relevante!


Daqui a pouco, serão conferidos pela Igreja os ministérios de Leitor e Acólito a três dos seminaristas do Ordinariado Militar do Brasil que aqui estudam. Nós nos rejubilamos em Deus por esse significativo acontecimento eclesial, pois se trata de um passo importante que dão esses nossos irmãos rumo ao sacerdócio ministerial ou ordenado.

Na Carta Apostólica sob a forma de Motu Proprio Ministeria Quaedam, com a qual se estabelecem algumas normas a respeito da ordem sacra do Diaconado, o Servo de Deus Papa Paulo VI afirma: “Os Ministérios de Leitor e de Acólito sejam confiados àqueles que desejam consagrar-se especialmente a Deus e à Igreja, enquanto candidatos à Ordem do Diaconado ou do Presbiterado. A Igreja, que não deixa nunca de tomar o Pão da Vida, da mesa tanto da Palavra de Deus quanto do Corpo de Cristo, e de distribuí-lo aos fiéis, julga ser muito oportuno que os candidatos às Ordens sacras, quer com o estudo quer com o exercício gradual dos ministérios da Palavra e do Altar, através de um contato íntimo, meditem nesse duplo aspecto da função sacerdotal e se familiarizem com ele. Disso resultará a autenticidade do mesmo ministério, que lhe dará também grande eficácia. Os candidatos, então, aproximar-se-ão das Ordens sacras plenamente conscientes da sua vocação, ferventes de espírito, desejosos de servir ao Senhor, dispostos a perseverar na oração e generosos no prover às necessidades dos santos”.

Amados irmãos, o leitor é instituído para uma função que lhe é própria: ler a Palavra de Deus na assembleia litúrgica. Por isso, na Missa e em outras ações sagradas, é ele quem faz as leituras, exceto a do Evangelho; na falta do salmista, recita o salmo entre as leituras; e, na falta do diácono, enuncia as intenções da oração universal. Tem também a seu cuidado, quando necessário, preparar os fiéis que, nas ações litúrgicas, hão de ler a sagrada Escritura.

Por sua vez, o acólito é instituído para ajudar o diácono e ministrar ao sacerdote. O seu serviço, portanto, é cuidar do altar, ajudar o diácono e o sacerdote nas ações litúrgicas, principalmente na celebração da Missa. Também lhe pertence, como ministro extraordinário, distribuir a sagrada comunhão, segundo as normas do direito. Quando necessário, ele deverá ensinar aqueles que exercem algum ministério nas ações litúrgicas, seja os que levam o livro, a cruz, as velas, o turíbulo, seja os que exercem outras funções semelhantes.

Diletos seminaristas, como leitores, lembrai-vos da dignidade da Palavra de Deus e da importância do vosso ofício. Prestai assídua atenção à maneira de dizer e pronunciar os textos sagrados, de modo que a Palavra de Deus seja percebida com toda a clareza pelos que participam do culto divino. Ao anunciardes a palavra divina aos outros, vós mesmos deveis acolhê-la com docilidade e meditá-la com diligência, para dela dardes testemunho com o vosso modo de viver.

Caro seminarista, para mais dignamente exerceres a função de acólito, procura participar diariamente da sagrada Eucaristia com fervor e piedade, busca alimentar-te dela e adquire a respeito dela um conhecimento cada vez mais elevado. Empenha-te em penetrar o sentido íntimo e espiritual das ações que realizarás, de modo que, todos os dias, te ofereças inteiramente a Deus e te entregues com sincero amor ao Corpo místico de Cristo, quer dizer, ao povo de Deus, cuidando principalmente dos fracos e dos enfermos.

Não foi casual, mas providencial, que a liturgia da instituição dos ministérios de leitor e acólito ocorresse no tempo sagrado da Quaresma. Esse precioso período do Ano Litúrgico, que tem como finalidade preparar os nossos corações para a digna celebração da Páscoa do Senhor, é um convite a cada um de nós, especialmente aos seminaristas, para que voltemo-nos para Deus com sinceridade de espírito, retidão de consciência e honestidade de coração, e busquemo-Lo enquanto Ele se deixa achar, invoquemo-Lo enquanto Ele está perto. Nesse tempo favorável, a Igreja nos convida, segundo as primeiras palavras do capítuto 12 da Carta aos Hebreus, a nos desvencilhar do pecado e a correr para o certame que nos é proposto, tendo os nossos olhos fixos no autor e consumador da nossa fé, Cristo Jesus. Na luta contra o pecado, ainda não resistimos até à efusão de sangue. Deus não nos quer apenas bons, Deus não nos quer apenas melhores; Deus nos quer Santos: Sede Santos como Eu sou santo (Lv 19, 2). Jesus nos quer perfeitos: Sede perfeitos, como vosso Pai celeste é perfeito (Mt 5, 48)!

A liturgia que nós acabamos de ouvir é um rico ensinamento sobre como buscar essa santidade almejada.

Na primeira leitura, escutamos a denúncia de Jeremias contra os pecados do povo e, em especial, os pecados dos chefes do povo e dos representantes oficiais da religião de Israel. Ao se pronunciar daquela forma, o profeta cumprira o seu dever; fora intransigente com o pecado, pois tinha consciência de que agira em nome de Deus para suscitar a conversão. Por causa disso, fora envolvido em uma perseguição. Acusado de “perturbador da ordem”, era caçado pelos seus inimigos que buscavam surpreendê-lo em algo de que pudessem acusá-lo, para acabar com a sua vida. Por outro lado, esses seus adversários não podiam deixar de reconhecê-lo como profeta. Diziam que, se acabassem com ele, não iriam contra o profetismo nem contra as instituições religiosas que regiam a Israel. O profeta lamenta-se diante de Deus porque os mesmos a quem ele serviu a Palavra e por quem intercedeu, agora querem a sua morte.

Amados irmãos, o texto de Jeremias recorda-nos que não é simples nem fácil aceitar as consequências de nossa ação profética perante os homens. Por vezes, o cristão, na fidelidade a Jesus e à sua Igreja, deverá levantar a sua voz contra os pecados dos homens que ferem a Deus e as suas criaturas. Em muitas situações, tais denúncias podem suscitar maus propósitos no coração dos que vierem a se considerar afetados em seu interesses cheios de maldades e de injustiças. Nem por isso devemos ficar mudos. Assim pensaram os confessores da fé, assim agiram os mártires da nossa Igreja. A angústia do profeta Jeremias faz-nos lembrar das angústias da Igreja em todos os tempos. Pensemos, por exemplo, na dor que o Santo Padre tem experimentado, recentemente, pelos ataques ferozes à sua pessoa e a nossa Igreja... Não obstante, o Senhor nos ensina que devemos rezar pelos nossos inimigos, por todos os que nos perseguem e maltratam. Rezemos pelos que atacam a nossa Igreja. O esforço sincero de conversão é a melhor resposta que podemos dar aos que nos desejam o mal. Nos momentos mais difíceis da história da nossa Igreja, em que ela foi atacada e perseguida, o que a revigorou, o que a levantou, o que a sustentou, o que a dignificou foi a santidade. Precisamos de santos! Santidade, apenas santidade, nada mais que santidade é o que precisa a Igreja de Jesus!

O Santo Evangelho que escutamos é um precioso ensinamento sobre aquilo que o Senhor Jesus considera essencial para os pretendem segui-lo: o serviço humilde, radical, incondicional ao próximo, em contraposição à busca do prestígio, das glórias, das primeiras posições, do reconhecimento dos outros. Escutamos a bem intencionada mãe dos filhos de Zebedeu fazer um pedido a Jesus: Manda que estes meus dois filhos se sentem no teu Reino, um à tua direita e outro à tua esquerda (Mt 20, 21). A resposta de Jesus a esse apelo nos mostra que não existe prêmio sem esforço, recompensa sem luta, triunfo sem labuta, vitória sem batalha, conquista sem disputa. De fato, o céu é prêmio, que será dado a quem perseverar em Cristo; é recompensa, que será concedida a quem não desanimar no seguimento de Cristo; é repouso, que será oferecido a quem não desistir de ser fiel a Cristo; é vitória, que obterá aquele que não desertar de militar em Cristo, por causa de Cristo e para a glória de Cristo.

Perseveremos na fé. Busquemos, nesta vida, a fidelidade ao Senhor Jesus. Até o último instante de nossas vidas, pertençamos a Ele, para, em breve, habitarmos com e Ele e com o Pai, na unidade do Espírito Santo.

Amém.

sábado, 2 de abril de 2011

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Para não tornar inútil o jejum

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Um artigo do Arquimandrita. Manuel Nin, Reitor do Pontifício Colégio Grego de Roma, e sacerdote católico de rito bizantino, sobre o jejum e a Quaresma, nos chega do Oblatvs, via Sinaxe, o blog sobre ritos orientais do Philippe Gebara, que em breve embarcará para o Líbano, onde será recebido como aluno do Seminário Patriarcal Melquita.

Para não tornar inútil o jejum

por Arquimandrita Manuel Nin,

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“Jejuando de alimentos, ó minha alma, sem que te purifiques das paixões, em vão te alegras pela abstinência, porque se esta não se torna para ti ocasião de correção, como mentirosa, tendes ódio a Deus e te tornas semelhante aos pérfidos demônios que jamais se alimentam. Não tornais, pois, inútil o jejum, pecando, mas permanecei firme sob os impulsos desregrados, considerando que estás junto do Salvador crucificado, ou melhor, estás crucificada junto d’Aquele que por ti foi crucificado, gritando-lhe: recorda de mim, Senhor, quando vieres no teu reino”. Este tropário da terceira semana da pré-quaresma na tradição bizantina resume de modo incisivo o que é o período quaresmal de cada uma das tradições cristãs: o jejum e a abstinência são vãos se não correspondem a uma verdadeira conversão do coração.

Na tradição bizantina, o período de dez semanas que precede a Páscoa é chamado “Triodion” – nome que indica as três odes bíblicas cantadas no ofício da manhã – e compreende a pré-quaresma e a quaresma. O período pré-quaresmal é comum a todas as tradições litúrgicas cristãs, do “Triodion” bizantino, ao “Jejum dos ninivitas” siríaco, ao “Jejum de Jonas” dos coptas, à “Septuagésima” na antiga tradição latina. A quaresma bizantina propriamente dita compreende quarenta dias – da segunda-feira da primeira semana à sexta-feira antes do Domingo de Ramos – e desenvolve as semanas de segunda-feira a domingo, apresentando o caminho semanal em direção ao domingo, como modelo da própria quaresma em direção à Páscoa. Faz ainda uma clara distinção entre o sábado e o domingo e os outros dias: nos primeiros se celebra a Divina Liturgia (aos domingos com a Anáfora de São Basílio, aos sábados com a de São João Crisóstomo), enquanto nos dias de semana celebra somente o ofício das horas, com o acréscimo durante as vésperas de quarta-feira e sexta-feira da Liturgia dos Pré-santificados, isto é a comunhão com o Corpo e o Sangue do Senhor consagrados no domingo precedente.

A quaresma bizantina é um período muito rico na escolha dos textos bíblicos: salmos, leituras; na hinografia e nas leituras dos padres. Os textos hinográficos se concentram sobretudo no tema da alma humana, dominada pelo pecado, que encontra, por meio da quaresma, a possibilidade de salvação. Nos quatro domingos da pré-quaresma encontramos os grandes temas que marcam o percurso quaresmal: a humildade (domingo do publicano e do fariseu); o retorno a Deus misericordioso (domingo do filho pródigo); o juízo final (domingo de carnaval), o perdão (domingo dos laticínios). Neste último domingo, comemora-se a expulsão de Adão do paraíso: Adão, criado por Deus para viver em comunhão com Ele no paraíso, é dele expulso por causa do pecado, mas na quaresma começa o caminho de retorno que culminará quando o próprio Cristo, no mistério pascal, desce aos infernos e lhe dá sua mão para arrancá-lo da morte e reconduzi-lo ao paraíso, que é quase personificado na oração da Igreja. No final da véspera do quarto domingo se celebra o rito de perdão com o qual se inicia a quaresma.

A quaresma dura quarenta dias, com cinco domingos. Em cada um deles vemos um duplo aspecto: de uma parte as leituras bíblicas que preparam para o batismo, de outra os aspectos históricos ou hagiográficos. No domingo da ortodoxia, a vocação de Felipe e Natanael é modelo da vocação de todo ser humano e se celebra o triunfo da ortodoxia sobre o iconoclasmo e o restabelecimento da veneração dos ícones. No domingo de São Gregório Palamas se recorda a fé do paralítico curado por Cristo [Nota minha: e se veneram as relíquias dos santos]. O domingo da exaltação da santa Cruz é dedicado à veneração da Cruz vitoriosa de Cristo, levada solenemente ao centro da Igreja e venerada pelos fiéis durante toda a semana como sinal de vitória e de alegria, não de sofrimento. No domingo de São João Clímaco, modelo de ascese, celebra-se a cura do endemoninhado, e no de Santa Maria Egípcia, modelo de arrependimento, o anúncio da ressurreição. No sábado da quinta semana se canta o hino “Akathistos”, ofício dedicado à Mãe de Deus.

A sexta e última semana da quaresma, chamada de Ramos, tem como centro a figura de Lázaro, o amigo do Senhor, desde o momento da doença até a morte e à sua ressurreição. Os textos litúrgicos nos aproximam daquilo que se manifestará plenamente nos dias da Semana Santa, isto é, a filantropia de Deus manifestada em Cristo, o seu amor real e concreto pelo homem. Toda a semana se enquadra na contemplação do encontro, já próximo, entre Jesus e a morte, a do amigo em primeiro lugar, e sua própria na semana seguinte. Os textos litúrgicos visam a nos envolver neste caminho de Jesus em direção a Betânia, em direção a Jerusalém. Na liturgia bizantina jamais somos expectadores, mas sempre participantes e concelebrantes, presentes na liturgia e no evento de salvação que a liturgia celebra. Com as vésperas do sábado de Lázaro se conclui o período quaresmal.

Ao longo de toda a quaresma, a tradição bizantina recita, ao final de todas as horas do ofício, a oração atribuída a Santo Efrém, o Sírio, que resume o caminho de conversão de todo cristão: “Senhor e soberano de minha vida, que não me dês [ou em outra tradução "afaste de mim..."] um espírito de preguiça, de indolência, de soberba, de vanglória. Dá-me, a mim teu servidor, um espírito de sabedoria, de humildade, de paciência e de amor. Sim, Senhor e rei, dá-me enxergar os meus pecados e não condenar o meu irmão, a fim de que sejas bendito pelos séculos”.

(©L’Osservatore Romano – 25 de fevereiro de 2009)

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