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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Partituras de "Tota Pulchra es, Maria!"

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Disponibilizamos aqui as partituras da antífona mariana "Tota Pulchra"; Valem sobretudo, para os que não conseguiram enviar a solicitação por e-mail, no último dia 08/12, Solenidade da Imaculada Conceição. A primeira, é a pauta gregoriana e as doze seguintes, compõem sequencialmente, a peça polifônica a quatro vozes, do Frei Alessandro Boroni, OFMConv.















domingo, 11 de dezembro de 2011

Terceiro Domingo do Advento pelo Beato Cardeal Schuster

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Hoje, Terceiro Domingo do Advento, publicamos o texto do Beato Schuster sobre este dia litúrgico, assim como nos dois Domingos passados trouxemos os textos respectivos escritos pelo Cardeal.

Beato Ildefonso [Alfredo Ludovico], Cardeal Schuster, OSB - do segundo tomo de Liber Sacramentorum - Notes historiques et liturgiques sur le Missel Romain: Terceiro Domingo do Advento. Estação em São Pedro.
Como não se tinha estação em Roma, o Quarto Domingo do Advento – devido às grandes ordenações de padres e de diáconos mense decembri, que ocorriam na noite precedente – esta terceira estação preparatória para o Natal era celebrada em São Pedro, com um insólito esplendor de ritos e de procissões que, no espírito da Igreja, deviam como que inaugurar as santas alegrias do ciclo da Natividade.
Tal é a semana dos grandes escrutínios e jejuns solenes que precedem as sagradas ordenações. É por isto que os fiéis se juntam ainda hoje ao redor da tumba do Príncipe dos apóstolos, para se assegurar de sua proteção celeste e compartilhar com o Pastor Ecclesiae o júbilo que inunda a alma do rebanho ao feliz anúncio da parusia próxima: Prope est iam Dominus [o Senhor está próximo].
O Papa se dirigia à basílica Vaticana na noite do Sábado e, assistindo às Vésperas, entoava a primeira e a última antífonas que lhe indicava um cânon. (...)
Ao capítulo vaticano cabia a obrigação de fornecer ao papa o jantar e a hospedagem na primeira parte da noite; esta não era longa, pois ofício da vigília devia começar pouco depois da meia-noite. O Papa, precedido pelos acólitos com tochas, incensava os altares dos Santos Leão I, Gregório Magno, Sebastião, Tibúrcio, Apóstolos Simão e Judas, da Santa Face, da Santa Virgem e do Santo Pastor. Feito isto, descia ao hipogeu da Confissão de São Pedro, e, depois de oferecer incenso sobre a tumba do apóstolo, começava o primeiro ofício da vigília. O clero cantava três salmos e três leituras da Escritura; em seguida, o decano entoava o Te Deum, o Papa recitava a coleta e assim terminava a primeira parte da salmodia noturna ad corpus.
Então, na mesma ordem em que tinha vindo, o cortejo voltava à basílica superior e, depois da incensação do altar sobre o qual repousava São Pedro, começava o ofício de Matinas propriamente dito. O rito se desenrolava sem particularidades especiais. Os cânones do Vaticano cantavam as lições do primeiro noturno; as duas primeiras do segundo noturno, extraídas da carta de São Leão I ao patriarca Flaviano, eram reservadas aos bispos; a terceira do segundo noturno e a primeira do terceiro noturno a dois cardeais; a penúltima ao chefe do capítulo vaticano e a última ao papa. O ofício da aurora vinha em seguida; o Pontífice entoava a antífona para o Cântico de Zacarias e recitava a coleta final.
A Missa estacional deste dia, precedendo imediatamente o ciclo do Natal, tinha, como dito, um caráter claramente festivo. Sabe-se que as novenas e os tríduos de preparação para as grandes festas são de origem posterior; na idade de ouro da liturgia, esses períodos que precediam a Páscoa e o Natal, estas missas de vigília e estas sinaxes estacionais nas basílicas mais veneradas da Cidade eterna tinham precisamente o propósito de preparar a alma dos fiéis e lhes obter do Céu a graça de percorrer frutuosamente as diversas solenidades do ciclo litúrgico.
Na Missa, o Papa entoava o hino angélico, que todo o clero cantava. Depois da coleta, os cantores, sob a direção dos cardeais-diáconos, dos subdiáconos apostólicos e dos notários, recitavam aclamações ou “Laudes” em honra do Pontífice, do clero e do povo romano. Este rito ainda se conserva na coroação dos Soberanos Pontífices. Realizado o santo Sacrifício, os diáconos coroavam o papa com a tiara e, todos retornando a seus assentos, faziam a solene cavalgada até o Latrão, onde ocorria o banquete. 
A cerimônia atual conservou bem pouco de todo esse ritual, de todo esse fausto esplendor. O júbilo realmente não é a nota dominante da sociedade moderna. Na Missa, ao invés dos habituais ornamentos violeta, os ministros sagrados se revestiam de rosa e o órgão inundava com suas harmonias as naves do templo. O ofício divino não sofreu alterações e conserva intacto seu primitivo caráter de festa, pleno de entusiasmo em razão da vinda próxima do Salvador.
O Introito provém da epístola de São Paulo aos Filipenses (4, 4) e se adapta bem à circunstância. O Senhor está próximo, e este anúncio inunda o coração de alegria: alegria, a propósito, muito diferente daquela à qual o mundo se abandona, porque é fruto da paz interior que o Espírito Santo comunica à alma quando ela se mantém fiel à santa vontade de Deus. Esta fidelidade, este cumprimento exato dos deveres do estado de vida, é chamada modéstia por São Paulo, como o modo e a medida exata de todas as virtudes. A paz interior pode encontrar obstáculos, é verdade, nas dores e nas inquietudes da vida exterior; mas São Paulo deseja que desapeguemos nosso coração de todas as solicitudes desordenadas. Recorramos a Deus em nossa oração com humilde confiança e apresentemos nossas necessidades àquEle que é chamado Pai das misericórdias e Deus de toda consolação. O salmo que segue a antífona é o 84, que é propriamente um cântico da libertação.
Na coleta, rezamos a Deus para que dê ouvidos a nossos gemidos e dissipe rapidamente as trevas do pecado pelo esplendor de sua vinda.
A leitura é tirada da mesma passagem da epístola aos Filipenses que o Introito (4, 4-7). O Apóstolo termina desejando a seus fiéis que a paz inefável do Espírito Santo os guarde no amor do Cristo. Esta paz sobrenatural, que é um dos frutos do Paráclito, é a estabilidade inabalável da alma no serviço divino.
O Gradual é tirado do salmo 79, que já víramos no Introito do Domingo anterior. AquEle que está sentado no trono sobre os Querubins da glória, e dirige a sorte dos homens, virá com todo o seu poder para combater o antigo adversário.
O versículo aleluiático pertence ao mesmo salmo.
Na leitura evangélica (Jo 1, 19-28), João Batista continua sua missão de preparar as vias dos corações a Jesus, afim de que acolham de maneira frutuosa a semente sagrada. O mundo parece cansado em sua longa espera e, pela voz de seus representantes mais autorizados, interroga João para saber se finalmente é ele o Profeta prometido por Moisés, e que, já há tanto tempo, devia vir. Mas o Amigo do Esposo não lhe usurpa os direitos; antes, rebaixa-se em sua humildade para proclamar a dignidade messiânica de Jesus e sua eterna preexistência. Quanto a si mesmo, não é mais do que um eco, uma sombra, indigno até mesmo de prestar a Jesus os humildes serviços que os escravos faziam para seus donos. Tamanha humildade é verdadeiramente igual à grandeza do Precursor, sobre quem o Verbo disse não haver pessoa maior. Nos primeiros tempos da pregação apostólica, o testemunho que João dera da divindade de Jesus facilitou muito a difusão da fé entre os sacerdotes e entre os discípulos e admiradores do austero pregador do rio Jordão. Em Éfeso, São Paulo encontrou grupos inteiros de crentes que haviam recebido somente o batismo do Precursor.
O Ofertório é tomado de empréstimo, como o Introito, ao salmo 84. A vinda de Jesus sobre a terra é a bênção prometida pelo Senhor a Abraão; é a libertação da escravidão, é a remissão do pecado.
Na coleta sobre as oblações, pede-se a Deus a graça de renovar o sacrifício incruento com uma devoção perseverante. Que o mistério eucarístico a se realizar nos seja garantia da salvação eterna.
Durante a Comunhão, ressoa um último convive aos pusilânimes. Não temais; não é um profeta, nem um jurista, nem um escriba, como no Antigo Testamento, mas o próprio Deus que vem para nos salvar (Is 35, 4).
Na coleta de ação de graças – “Eucaristia” – rezamos a Deus para que o Dom sagrado nos purifique, afim de nos prepararmos dignamente para a solenidade próxima. Importa muito dispor-se às graças divinas, preparar-se convenientemente antes de se aproximar dos sacramentos por meio da oração e da meditação. Se Jerusalém renegou o Messias, foi precisamente por falta de preparação para a graça messiânica. Mergulhada na vaidade e no sensualismo, Jerusalém estava mal disposta para reconhecer o Rei da glória no Homem das dores. O ritualismo e as práticas exteriores de devoção são louváveis e necessários, mas a preparação para o bom uso da graça é muito mais íntima, muito mais necessária.

sábado, 10 de dezembro de 2011

"A Heresia Anti-litúrgica", por Dom Prosper Guéranger, OSB

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Após ler este belíssimo texto traduzido pelo Luís Augusto, da ARS, o leitor deveria se perguntar: “Como é que os progressistas advogam ser herdeiros do movimento litúrgico de D. Guéranger, OSB, se fazem exatamente tudo o que ele condenava???”

Pax et bonum!
Há poucos dias encontrei um interessante texto que logo procurei traduzir. Tendo terminado há pouco, disponibilizo-a aos queridos leitores.

Trata-se de um trecho da obra Institutions Liturgiques do conhecido liturgista e sacerdote beneditino Dom Prosper Guéranger, Servo de Deus.

Passeando pela "prática litúrgica" dos reformadores protestantes até o seu tempo, Dom Guéranger enumera doze princípios basilares na reforma protestante da liturgia, o que ele chama de "heresia anti-litúrgica".

Se este não fosse um estudo de fatos históricos, se assim podemos chamar, nós o contemplaríamos como uma grande profecia a apontar para tantas coisas denunciadas desde Pio XII até Bento XVI, no que diz respeito à Liturgia.

Infelizmente poderemos encontrar algumas ou várias destas características no seio da Igreja, até mesmo bem perto de cada um de nós.

Servo de Deus Dom Guéranger, rogai por nós, rogai pelo Novo Movimento Litúrgico!

Obs: Recomendo vivamente que acessem a versão em PDF disponível no Gloria.TV. A ela foram acrescentadas algumas notas explicativas.
Favor avisar sobre quaisquer erros ou imprecisões na tradução.
***
Dom Guéranger



A Heresia Anti-litúrgica
Servo de Deus Dom Prosper Louis Paschal Guéranger, OSB
Abade de Solesmes
Extraído de sua obra “Institutions Liturgiques”
(Cap. XIV – Da heresia anti-litúrgica e da Reforma Protestante do séc. XVI,
considerada em sua relação com a liturgia)
1840

Tradução do francês, com consultas ao inglês,

Para se dar uma ideia dos estragos da seita anti-litúrgica, parece-nos necessário resumir a marcha dos pretensos reformadores do cristianismo ao longo de três séculos, e apresentar o conjunto de suas ações e de sua doutrina sobre a purificação do culto divino. Não há espetáculo mais instrutivo e mais apropriado para se fazer compreender as causas da rápida propagação do protestantismo. Certamente aí se verá a obra de uma sabedoria diabólica agindo e levando infalivelmente a vastos resultados.

I. A primeira característica da heresia anti-litúrgica é o ódio pela Tradição nas fórmulas do culto divino. Não se pode negar esta característica especial em todos os hereges, desde Vigilâncio até Calvino, e a razão é fácil de se explicar. Todo sectário, querendo introduzir uma nova doutrina, encontra-se inevitavelmente na presença da Liturgia, que é a tradição em seu mais alto poder, e não consegue encontrar repouso até ter feito calar esta voz, até estarem rasgadas as páginas que contêm a fé dos séculos passados. Com efeito, como se estabeleceram e se mantiveram em meio às massas o luteranismo, o calvinismo e o anglicanismo? Tudo se consumou através da substituição dos livros e fórmulas antigos por livros e fórmulas novos. Nada mais incomodaria os novos doutores; poderiam pregar à vontade: a fé das gentes estava doravante sem defesas. Lutero cumpriu esta doutrina com uma sagacidade digna de nossos jansenistas, dado que no primeiro período de suas inovações, à época em que se via obrigado ainda a guardar uma parte das formas exteriores do culto latino, estabeleceu o seguinte regulamento para a Missa reformada:

Nós aprovamos e conservamos os intróitos dos domingos e das Festas de Jesus Cristo, a saber, da Páscoa, de Pentecostes e de Natal. Nós preferiríamos de bom grado os salmos inteiros de que são tirados estes intróitos, como se fazia outrora, mas queremos bem nos conformar ao uso presente. Nem mesmo culpamos aqueles que desejam reter os intróitos dos Apóstolos, da Virgem e dos outros Santos, desde que estes três intróitos sejam tirados dos Salmos ou de outras passagens da Escritura”.

Ele tinha grande ódio dos cânticos sacros compostos pela própria Igreja para expressão pública da fé. Neles ele sentia pesado o vigor da Tradição que ele desejava banir. Reconhecendo à Igreja o direito de unir sua voz, nas santas assembleias, aos oráculos das Escrituras, ele se exporia a ouvir milhões de bocas a anatematizar os seus novos dogmas. Portanto, ódio a tudo que, na Liturgia, não era exclusivamente extraído das Sagradas Escrituras.

II. Com efeito, é o segundo princípio da seita anti-litúrgica a substituição das fórmulas de estilo eclesiástico pelas leituras da Sagrada Escritura. Ela aí encontra duas vantagens: a primeira, a de fazer calar a voz da Tradição que ela sempre teme; em seguida, um meio de propagar e de apoiar os seus dogmas, pela via da negação ou da afirmação. Pela via da negação, passando em silêncio, através de escolhas astutas, os textos que exprimem a doutrina oposta aos erros que eles querem fazer prevalecer; pela via da afirmação, pondo à luz passagens cortadas que só apresentam um lado da verdade, escondendo o outro dos olhos dos mais simples. Sabe-se, desde muitos séculos, que a preferência dada, por todos os hereges, às Sagradas Escrituras sobre as definições eclesiásticas, não tem outra razão que a facilidade que eles têm de fazer dizer pela Palavra de Deus tudo o que quiserem, apresentando-a segundo o que lhes convém. (...) Quanto aos protestantes, eles quase reduziram a Liturgia inteira à leitura da Escritura, acompanhada de discursos nos quais ela é interpretada pela razão. Quanto à escolha e à determinação dos livros canônicos, acabaram por cair no capricho do reformador, que, como último recurso, decide não somente o sentido da palavra de Deus, mas se esta palavra é verdadeira ou não. Assim, Martinho Lutero conclui, em seu sistema panteísta, que a inutilidade das obras e a suficiência da fé são dogmas a serem estabelecidos e a partir daí declara que a Carta de São Tiago é uma carta de palha, e não uma carta canônica, somente pelo fato de aí se ensinar a necessidade das obras para a salvação. Em todos os tempos e sob todas as formas, funcionará sempre do mesmo jeito: nada de fórmulas eclesiásticas, somente a Escritura, mas interpretada, escolhida e apresentada por aquele ou por aqueles que sabem tirar proveito para a inovação. A armadilha é perigosa para os simples, e somente depois de um longo tempo é que se percebe o engano em que se caiu, e que a palavra de Deus, esta espada de dois gumes, como diz o Apóstolo, abriu grandes feridas, pois foi manuseada pelos filhos da perdição.

III. O terceiro princípio dos hereges acerca da reforma da Liturgia é, digamos, depois de ter expulsado as fórmulas eclesiásticas e proclamado a necessidade absoluta de se empregar apenas as palavras da Escritura no serviço divino, visto que a Escritura nem sempre se dobra, como eles gostariam, a todas as suas vontades, fabricar e introduzir fórmulas novas, cheias de perfídia, pelas quais as pessoas sejam mais solidamente ainda acorrentadas ao erro, e todo o edifício da ímpia reforma venha a se consolidar pelos séculos.

IV. Alguém poderá se admirar da contradição que a heresia apresenta em suas obras, quando vier a saber que o quarto princípio, ou, se assim se desejar, a quarta necessidade imposta aos sectários pela própria natureza de seu estado de revolta, é uma habitual contradição frente aos seus próprios princípios. Deverá ser assim, para a confusão deles, naquele grande dia, que cedo ou tarde vem, quando Deus revelar a nudez deles à vista dos povos que foram por eles seduzidos, e também porque não é da natureza do homem ser coerente, consistente. Somente a verdade pode sê-lo. Por isso, todos os sectários, sem exceção, começam por reivindicar as prerrogativas da antiguidade. Eles querem abstrair o cristianismo de tudo o que o erro e as paixões dos homens nele misturaram de falso ou de indigno de Deus; tudo o que querem é o que é primitivo, e pretendem fazer voltar ao berço a instituição cristã. Para isto, eles podam, cortam e arrancam; tudo cai sob os seus golpes, e quando alguém esperar ver reaparecer em sua pureza primeva o culto divino, encontrar-se-á coberto de fórmulas novas que mal datam de ontem e que são incontestavelmente humanas, posto que aqueles que as redigiram ainda vivem. Toda seita sofreu esta necessidade; vimos isto nos Monofisitas, nos Nestorianos; reencontramos a mesma coisa em todos os ramos do protestantismo. Sua afetação ao pregar a antiguidade é a medida usada para fazer sumir diante de si todo o passado, e assim se põem diante do povo seduzido e lhe juram que tudo está muito bem, que o aparato papista supérfluo foi-se embora, que o culto divino retornou à sua santidade primitiva. Observemos ainda uma coisa característica na mudança da Liturgia por parte dos hereges. É que, em sua sanha inovadora, eles não se contentam em retirar as fórmulas de estilo eclesiástico, que eles menosprezam sob o nome de palavra humana, mas estendem sua rejeição até mesmo às leituras e orações que a Igreja tomou emprestadas da Escritura. Mudam-nas, substituem-nas. Não querem mais rezar com a Igreja. Excomungam, por isso, a si mesmos, e temem assim a menor parcela da ortodoxia que ordenou a escolha daquelas passagens.

V. Sendo a reforma da Liturgia realizada pelos sectários com o mesmo objetivo que a reforma do dogma, de que é consequência, segue-se que, assim como os protestantes se separaram da unidade para crer menos, eles são levados a subtrair do culto todas as cerimônias e todas as fórmulas que exprimem mistérios. Tacharam de superstição e de idolatria tudo o que não lhes pareceu puramente racional, restringindo assim as expressões da fé e obstruindo, pela dúvida e até pela negação, todas as vias que se abrem para o mundo sobrenatural. Por isso, nada mais de sacramentos, a não ser o Batismo, à espera do Socinianismo que o deixaria ao arbítrio de seus adeptos; nada de sacramentais, bênçãos, imagens, relíquias de santos, procissões, peregrinações, etc. Nada também de altar, mas simplesmente uma mesa; nada de sacrifício, como em toda religião, mas simplesmente uma ceia; nada de igreja, mas só um templo, como nos Gregos e Romanos; nada mais de arquitetura religiosa, dado que aí não há mistérios; nada de pintura ou escultura cristãs, dado que aí não há uma religião sensível; enfim, nada de poesia, num culto que não foi fecundado nem pelo amor e nem pela fé.

VI. A supressão das coisas misteriosas na Liturgia protestante produziu infalivelmente a extinção total do espírito de oração que se chama de Unção no Catolicismo. Um coração revoltado não tem amor, e um coração sem amor no máximo poderá gerar expressões de respeito ou de temor, com aquele frio orgulho farisaico. Tal é a Liturgia protestante. Sente-se que aquele que a reza aplaude a si mesmo por não ser contado no número dos cristãos papistas, que trazem Deus até a sua baixeza pela familiaridade de seu linguajar vulgar.

VII. Tratando nobremente com Deus, a liturgia protestante não tem necessidade de intermediários criados. Ela creria faltar com o respeito devido ao Ser soberano ao invocar a intercessão da Santa Virgem, a proteção dos santos. Ela exclui toda esta idolatria papista que roga à criatura aquilo que se deve rogar a Deus somente. Ela remove do calendário todos os nomes dos homens que a Igreja temerariamente inscreveu ao lado do nome de Deus. Ela tem, sobretudo, um horror àqueles monges e outros personagens dos tempos passados que aí se vê figurar ao lado dos veneráveis nomes dos apóstolos que Jesus Cristo escolheu, e pelos quais foi fundada a Igreja primitiva, a única que foi pura na fé e livre de toda superstição no culto e de todo relaxamento na moral.

VIII. Tendo, a reforma litúrgica, como um de seus principais fins a abolição dos atos e fórmulas místicas, segue-se necessariamente que seus autores devam reivindicar o uso da língua vulgar no serviço divino. Por isso, este é um dos pontos mais importantes aos olhos dos sectários. O culto não é algo secreto, dizem; é preciso que o povo entenda o que canta. O ódio à língua latina é inato ao coração de todos os inimigos de Roma. Nela eles vêem o elo entre os católicos de todo o universo, o arsenal da ortodoxia contra todas as sutilezas do espírito das seitas, a arma mais poderosa do Papado. O espírito da revolta que os leva a confiar a oração universal ao idioma de cada povo, de cada província, de cada século, já deu seus frutos, e os reformados estão diariamente a perceber que os povos católicos, não obstante suas orações latinas, têm mais gosto e cumprem com mais zelo os deveres do culto que os povos protestantes. A cada hora do dia, o serviço divino tem lugar nas igrejas católicas; o fiel que aí participa deixa sua língua mãe na porta; com exceção das horas de pregação, ele só ouve os misteriosos acentos [do latim], que até cessam de ressoar no momento mais solene, no Cânon da Missa; e, contudo, este mistério o encanta de tal forma que não inveja a sorte do protestante, embora o ouvido deste último nunca escute um som sem perceber seu significado. Enquanto o Templo Reformado reúne, com grande dificuldade, uma vez por semana, os cristãos puristas, a Igreja Papista vê incessantemente os seus numerosos altares cercados pelos seus filhos religiosos. Cada dia eles deixam seus trabalhos para ouvir as palavras misteriosas que devem ser de Deus, pois elas alimentam a fé e aliviam as dores. Admitamos: é um golpe de mestre do protestantismo o ter declarado guerra à língua sagrada; se conseguir êxito em a destruir, seu triunfo já estará bem avançado. Entregue aos gostos profanos, como uma virgem desonrada, a Liturgia, a partir deste momento, perdeu seu caráter sagrado, e o povo logo achará que não vale a pena deixar os trabalhos ou os prazeres para ir até aí e ouvir alguém falar como qualquer um fala na praça pública. (…)

IX – Tirando da Liturgia o mistério, que rebaixa a razão, o protestantismo tem o cuidado de não esquecer a consequência prática, ou seja, a libertação da fadiga e do desconforto que as práticas da Liturgia Papista impõem ao corpo. Primeiramente, nada mais de jejum e de abstinência; nada de genuflexão para rezar; para o ministro do templo, nada mais de ofícios diários a serem cumpridos, nem mesmo preces canônicas para se recitar em nome da Igreja. Tal é uma das formas principais da grande emancipação protestante: diminuir a quantidade de orações públicas e particulares. O decorrer dos fatos tem mostrado rapidamente que a fé e a caridade, que se alimentam da oração, foram sendo extintas na Reforma, enquanto elas não cessam, entre os católicos, de alimentar todos os atos de devoção a Deus e aos homens, fecundados que são pelas fontes inefáveis da oração litúrgica, realizada pelo clero secular ou regular, ao qual se une a comunidade dos fieis.

X – Como falta ao protestantismo uma regra para discernir entre as instituições papistas quais as que poderiam ser as mais hostis aos seus princípios, foi-lhe preciso cavar até os fundamentos do edifício católico, e encontrar a pedra fundamental que sustenta tudo. Seu instinto fez descobrir tudo que segue este dogma que é inconciliável com toda inovação: o poder Papal. Daí Lutero ter escrito em seu estandarte: “Ódio a Roma e às suas leis”. Ele não fazia nada mais que proclamar uma vez por todas o grande princípio de todos os ramos da seita anti-litúrgica. Daqui vem a necessidade de abrogar em massa o culto e as cerimônias, como idolatria de Roma; a língua latina, o ofício divino, o calendário, o breviário, todas as abominações da grande Prostituta da Babilônia. O Romano Pontífice oprime a razão pelos seus dogmas e os sentidos pelas suas práticas rituais; é preciso proclamar que os dogmas não passam de blasfêmia e erro, e suas observâncias litúrgicas, um meio de assegurar mais fortemente uma dominação usurpada e tirânica. Eis por que, em suas ladainhas emancipadas, a Igreja luterana continua a cantar inocentemente: “Do furor homicida, da calúnia, da ira e da ferocidade do Turco e do Papa, livrai-nos, Senhor”. Cabe aqui recordar as admiráveis considerações de Joseph de Maistre, em seu livro “Sobre o Papa”, onde ele mostra, com tamanha sagacidade e profundidade, que, não obstante as dissonâncias que isolam as diversas seitas separadas umas das outras, há uma característica que reúne todas elas: a de serem não-Romanas. Imaginai uma inovação qualquer, seja em matéria de dogma, seja em matéria de disciplina, e vereis se é possível empreendê-la sem incorrer, queira ou não queira, no apelido de não-Romana, ou se quiserdes, de meio Romana, se falta audácia. Resta saber que tipo de descanso poderá encontrar um católico seja na primeira ou na segunda das duas situações.

XI – A heresia anti-litúrgica, para estabelecer para sempre o seu reinado, tem necessidade de destruir de fato e de princípio todo o sacerdócio no cristianismo, pois ela sente que, onde há um pontífice, há um altar, e aí onde há um altar, há um sacrifício e, portanto, um cerimonial misterioso. Depois de ter abolido a qualidade de Sumo Pontífice, é preciso aniquilar o caráter episcopal, donde emana a mística imposição das mãos que perpetua a hierarquia sagrada. Resulta daí um vasto presbiterianismo, que é exatamente a consequência imediata da supressão do soberano Pontificado. Daí, não há mais um padre propriamente dito. Como a simples eleição, sem uma consagração, fará dele um homem sagrado? A reforma de Lutero e de Calvino não conhecerá outra coisa senão Ministros de Deus, ou dos homens, como se queira. Mas é impossível ficar só nisso. Escolhido e empossado por leigos, portando no templo uma toga de alguma bastarda magistratura, o ministro não passa de um leigo revestido de funções acidentais; não há nada mais que leigos no protestantismo. E assim deve ser, posto que não há mais Liturgia. Bem como não há mais Liturgia, posto que não há nada mais que leigos.

XII – Por fim, no último degrau de embrutecimento, não existindo mais o sacerdócio, dado que a hierarquia está morta, o príncipe, única autoridade possível entre leigos, proclamar-se-á chefe da Religião, e se verá os mais orgulhosos reformadores, depois de ter lançado fora o jugo espiritual de Roma, reconhecerem o soberano temporal como sumo pontífice, e colocarem o poder sobre a Liturgia entre as atribuições de direito majestático. Não mais haverá dogma, moral, sacramentos, culto e cristianismo, a não ser que agrade ao príncipe, dado que o poder absoluto lhe foi entregue sobre a Liturgia, pela qual todas aquelas coisas têm sua expressão e sua aplicação na comunidade de fieis. Tal é, portanto, o axioma fundamental da Reforma, na prática e nos escritos dos doutores protestantes. Este último traço completará o quadro, e permitirá ao próprio leitor julgar sobre a natureza desta pretensa libertação, operada com tanta violência no que tange ao papado, para estabelecer, em seguida, porém necessariamente, uma destrutiva dominação sobre a própria natureza do cristianismo. É verdade que, no começo, a seita anti-litúrgica não tinha o costume de bajular os poderosos: albigenses, valdenses, wycliffitas, hussitas, todos ensinaram que era preciso resistir e mesmo atacar todos os príncipes e magistrados que se encontrassem em estado de pecado, pretendendo que um príncipe perdia o direito no momento em que não estivesse mais na graça de Deus. A razão disso é que os sectários temiam a espada dos príncipes católicos, bispos de fora, tendo tudo a ganhar minando sua autoridade. Mas a partir do momento em que os soberanos, associados à revolta contra a Igreja, quiseram fazer da religião uma coisa nacional, um meio de governo, a Liturgia, bem como o dogma, reduzida aos limites de um país, ficou submetida naturalmente à mais alta autoridade do país, e os reformadores não tinham como deixar de prestar um vivo reconhecimento àqueles que davam, assim, o auxílio de um braço poderoso para estabelecer e conservar suas teorias. É bem verdade que aí há toda uma apostasia nesta preferência dada ao temporal sobre o espiritual, em matéria de religião; mas agem assim pela necessidade de se manter. Precisam não só ser consistentes, mas sobreviver. É por isso que Lutero, que se separou brilhantemente do Pontífice Romano, este considerado como fautor de todas as abominações da Babilônia, não teve vergonha de si mesmo ao declarar teologicamente legítimo um duplo casamento para o landgrave de Hesse, e é por isso também que o Abade Gregório encontrou em seus princípios o meio de associar, de uma vez, a Convenção inteira no voto de execução contra Luís XVI, e de se fazer o defensor de Luís XIV e de José II contra os pontífices romanos.

Tais são as principais máximas da seita anti-litúrgica. De modo algum estão exageradas. Apenas enfatizamos a doutrina centenas de vezes professada nos escritos de Lutero, de Calvino, dos Centuriadores de Magdeburgo, de Hospiniano, de Kemnitz, etc. Estes livros são fáceis de consultar, ou melhor, a obra que resultou daí está sob os olhos de todo o mundo. Cremos ter sido útil pôr à luz estas principais características. Sempre é bom ter conhecimento acerca do que é errado. O conhecimento prático e direto é, às vezes, menos vantajoso e menos fácil.

Cabe aos pensadores católicos tirar a conclusão.
Dom Guéranger
***
O texto francês utilizado para a tradução esteve disponível em:
Ele confere com o original do autor, disponível em:
O texto inglês utilizado como fonte secundária está disponível em:

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Forma Extraordinária no Pontificio Collegio Internazionale "Maria Mater Ecclesiae"

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" Aos Ordinários se pede que ofereçam ao clero a possibilidade de obter uma preparação adequada às celebrações na forma extraordinária, o que também vale para os Seminários, onde se deve prover à formação conveniente dos futuros sacerdotes com o estudo do latim e oferecer, se as exigências pastorais o sugerirem, a oportunidade de aprender a forma extraordinária do Rito." (instrução Universae Ecclesiae, n 21)

Aconteceu hoje (09/12/2011), a Primeira Santa Missa na Forma Extraordinária do Rito Romano no Pontifício Collegio Internazionale Maria Mater Ecclesiae (seminário para diocesanos dirigido pela Congregação dos Legionários de Cristo).

A Santa Missa foi oficiada pelo Padre Alain Contat, professor de Filosofia do Ateneo Pontifício Regina Apostolorum (também dos Legionários) residente no Pontifício Colégio. 

Estiveram presentes mais 30 seminaristas e um diácono, provenientes de vários países, (06 eram brasileiros). A Santa Missa será celebrada todas as sextas-feiras à tarde.








quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

"Tota Pulchra es, Maria!"

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Republicamos nesta Solenidade, a antífona própria deste dia da Imaculada Conceição, com uma lindíssima peça de Frei Alessandro Boroni, OFMConv. (Polifônico a 4 Vozes).



Para pedir as partituras completas desta peça (Coral), CLIQUE AQUI 


Tota Pulchra es, Maria!
Tota Pulchra es, Maria!
Toda Bela sois, Maria!
Toda Bela sois, Maria!
Et macula originalis non est in te!
Et macula originalis non est in te!
E a mancha original não há em ti!
E a mancha original não há em ti!
Tu, Gloria Ierusalem!
Tu, Glória de Jerusalém!
Tu, Laetitia Israel!
Tu, Alegria de Israel!
Tu, honorificentia populi nostril!
Tu, Honra do nosso povo!
Tu, advocata peccatorum!
Tu, Advogada dos pecadores!
O Maria!
O Maria!
Ó Maria!
Ó Maria!
Virgo Prudentissima,
Virgem Prudentíssima,
Mater Clementissima,
Mãe Clementíssima,
Ora pro nobis.
Rogai por nós.
Intercede pro nobis
Intecedei por nós
ad Dominum Iesum Christum!
ao Senhor Jesus Cristo!


V. In Conceptione tua, Virgo, Immaculata fuisti.
V. Vós fostes, ó Virgem, imaculada em vossa conceição.
R. Ora pro nobis Patrem, cuius Filium peperisti.
R. Rogai por nós ao Pai, cujo Filho destes à luz.
Oremus. Deus, qui per immaculatam Virginis Conceptionem dignum Filio tuo habitaculum praeparasti, quaesumus, ut qui ex morte eiusdem Filii tui praevista eam ab omni labe praeservasti, nos quoque mundos eius intercessione ad te pervenire concedas. Per eumdem Christum Dominum nostrum.
Amen.
Oremos. Ó Deus que preparastes uma digna habitação para o vosso Filho, pela imaculada conceição da Virgem Maria, preservando-a de todo pecado, em previsão dos méritos de Cristo, concedei-nos chegar até vós purificados também de toda culpa, por sua maternal intercessão. Pelo mesmo Cristo Senhor nosso.
Amém.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Liturgia doméstica: a "faxina de Advento"

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É preciso tornar os tempos litúrgicos da Igreja bem vivos. Coordenei, nesse sentido, faz poucos dias, a "faxina de Advento" da minha casa, uma tradicional devoção católica bem feminina - e muito necessária... 

Limpa-se tudo, na faxina mais completa do ano (e esta durou três dias e pouco), por uma questão de higiene combinada com devoção: esperar o Menino Jesus com a casa limpíssima!

Aproveita-se para enfeitar a casa com os adereços natalinos.











terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O papel indispensável da Família no Novo Movimento Litúrgico

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Original em New Liturgical Movement
Tradução por Salvem a Liturgia

(Obs: Notas do tradutor, sejam no rodapé, sejam no decorrer do texto, estão indicadas pela sigla NdT)

Duas semanas atrás, o Santo Padre encorajou todos dentro da Igreja para assumirem a oração dos salmos e o Ofício Divino, e ainda ontem [01 de dezembro de 2011, NdT] o Papa destacou que “a nova evangelização é inseparável da família cristã”. Enquanto isso, no New Liturgical Movement, falamos ontem de uma família cristã ortodoxa que assumiu o canto do Ofício como parte de sua oração em família, e uma semana e meia atrás, falamos de alguns costumes do Advento como a Coroa do Advento e a Árvore de Jessé, que poderiam ajudar a trazer o ano litúrgico para dentro de casa.

Então, como todas estas coisas se interligam?

Bem, verdade seja dita, elas se interligam de várias maneiras, mas há uma maneira em particular que eu gostaria de destacar e que está ligada a um tema que temos discutido e rediscutido ao longo dos anos: a Igreja doméstica e a vivência de uma vida litúrgica.

Alguns leigos podem experimentar uma sensação de impotência quando consideram as “sombras” (para usar a imagem adotada por alguns dentro da Cúria Romana) dentro da Igreja. Mesmo que eles não se sintam completamente impotentes, particularmente quando consideram a questão da sagrada liturgia eles podem sentir que têm pouco a contribuir – além de, quem sabe, uma voz no coro ou um ou dois coroinhas no presbitério. Eles podem sentir como se tivessem que, em última análise, sentar e esperar para que Roma ou o clero entreguem a solução para eles. Mas se alguém fosse pensar assim, estaria realmente errado, mais ainda, drasticamente errado.

Certamente Roma e o clero têm um papel muito importante a desempenhar, mas o novo movimento litúrgico não se trata de uma questão apenas para o Santo Padre, para a Santa Sé ou para o clero e os religiosos cuidarem. O novo movimento litúrgico é uma tarefa a ser assumida por todos, e todos, de fato, tem um papel importante a desempenhar. Isto inclui a família. Na verdade, não apenas inclui a família; eu ouso dizer que a família tem um papel absolutamente crítico e altamente influente.

Se for para o novo movimento litúrgico florescer e avançar para sua máxima extensão, ele deve ser vivido não apenas dentro de nossas paróquias e instituições, ele deve também enraizar-se e ser atualizado dentro de nossas casas; não devemos apenas tentar fomentar a vida litúrgica tardiamente na vida, devemos plantar a semente e regá-la cedo dentro da vida de nossas crianças. E, de fato, uma vez que as famílias são, como dizia o Papa João Paulo II,a sementeira das vocações[1], esta educação antecipada na vida litúrgica, esta formação litúrgica será seguramente de grande importância e influência também com relação aos futuros padres e bispos. Na verdade, se as famílias não incutirem esta formação litúrgica logo no início, nós dificilmente poderemos não nos surpreender se a tarefa parecer o lenta e árdua mais tarde. A este respeito, talvez possamos pensar na família não apenas como sementeira de vocações, mas também como sementeira de um novo movimento litúrgico.

Voltando nosso olhar para o Movimento Litúrgico do século XX, este mesmo ponto foi feito por Emerson Hynes em seu artigo Before All Else (Orate Fratres, 21 de março de 1943. Vol. XVII, n. 5). Lá ele fez a pergunta “quão importante é a família no movimento litúrgico”? E comentou:
Nós reconhecemos a força da família em moldar os hábitos e o caráter das crianças. Nós sabemos também que nem a fé nem as idéias são herdadas. Elas são incutidas, e a família é o instrumento ordinário por meio do qual isto é realizado... Porque a família é uma sociedade tão básica e tão íntima, ela é a unidade mais poderosa para a preservação da herança. Antes que um movimento possa estabelecer-se permanentemente ele deve ter o apoio das famílias, deve tornar-se parte da tradição familiar. O movimento litúrgico permanecerá um movimento e nada mais até o momento em que ele se torne uma herança familiar. Pois embora a fonte da liturgia seja Cristo, através de Sua Igreja, e os seus guardiões próprios sejam os padres, através da paróquia, o florescimento da liturgia nas vidas dos membros [da Igreja, NdT] não será permanente até que ela se torne uma parte e parcela da vida da família cristã. Neste sentido, nós não podemos falar das famílias cristãs como os guardiões populares da liturgia, meios subordinados, porém essenciais para sua [maior, NdT] força e expansão?
 Assim, também nossa resposta para a questão “quão importante é a família no movimento litúrgico?” deve ser que a família tem um papel absolutamente indispensável a desempenhar antecipando-o, proporcionando a faísca e o fogo que lançarão a luz necessária, a qual ajudará a dissipar as “sombras”. Mas se isso for acontecer, as famílias devem assumir o desafio agora, “moldando os hábitos e o caráter de [suas] crianças” de uma forma litúrgica, fazendo-a “parte e parcela da vida da família cristã”.

Vamos ao trabalho.

[1] NdT: Optou-se por uma tradução mais literal, embora a tradução oficial para português desta expressão, conforme a Familiaris Consortio (n. 53), seja “seminário da vocação”.




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