Nossos Parceiros

segunda-feira, 2 de março de 2015

Cardeal Ratzinger: "Liturgias diferentes. Uma riqueza para a única Igreja" (excerto do recém-publicado "Ser Cristão na Era Neopagã")

View Comments

Recentemente foi lançado pela Editora Ecclesiae o primeiro volume de "Ser Cristão na Era Neopagã", trazendo material do então Cardeal Joseph Ratzinger, futuro Papa Bento XVI, nunca antes publicado no Brasil. Trata-se de discursos, homilias, debates e entrevistas concedidas pelo cardeal à revista italiana 30 giorni nella Chiesa e nel mondo (30 dias na Igreja e no mundo).


Organizado por meu amigo Rudy Albino de Assunção, ratzingeriano de carteirinha*, que também escreveu a apresentação do livro e a maioria das notas que introduzem cada artigo, este primeiro volume reúne diversos discursos e homilias de Ratzinger. O terceiro volume, composto por entrevistas, será de especial interesse dos nossos leitores, trazendo inúmeras menções à Reforma Litúrgica que seguiu ao Concílio Vaticano II.

Rudy, que acompanha este nosso apostolado em defesa da sagrada Liturgia, teve a bondade de enviar-nos - com a devida permissão da Editora Ecclesiae, a quem desde já agradecemos - um trecho em que Ratzinger fala do que se convencionou chamar de as duas formas do Rito Romano.

É interessante notar como Ratzinger já havia refletido ali sobre muitos dos pontos relacionados à Forma Extraordinária os quais tocaria durante seu pontificado, a saber: o reconhecimento do zelo apostólico das comunidades ligadas ao rito antigo; as dificuldades que muitas dessas comunidades enfrentaram (e continuam enfrentando!), fruto do preconceito e de um entendimento errôneo e ideológico de unidade; a falta de diferenciação entre o Concílio e a Reforma Litúrgica que o seguiu; e, por fim, a aplicação excessiva de criatividade em boa parte das missas segundo o rito moderno.


* * *



LITURGIAS DIFERENTES.
UMA RIQUEZA PARA A ÚNICA IGREJA**
(Novembro de 1998)

No dia 02 de julho de 1998 a Pontifícia Comissão Ecclesia Dei completava 10 anos de sua criação por parte do papa João Paulo II. Ela for criada para facilitar a comunhão com todos aqueles que estavam ligados de alguma maneira com Monsenhor Marcel de Lefebvre e também de possibilitar que os bispos fossem mais abertos a dar o indulto para a celebração da missa segundo o Missal de São Pio V. Na época se deram muitas comemorações, inclusive uma grande peregrinação a Roma de milhares de sacerdotes e fiéis tradicionalistas. Mas aliada à peregrinação, foi promovida uma mesa redonda no hotel Erfige, com a presença de Gérard Calvet, Camille Perl, Michael Davies, Robert Spaemann e do Cardeal Ratzinger, que fez a conferência de abertura. O que se segue é o texto da conferência de Ratzinger .
***
Que balanço podemos fazer hoje, há dez anos da publicação do motu proprio Ecclesia Dei? Creio que antes de tudo seja uma ocasião para expressar o nosso agradecimento. As várias comunidades que surgiram graças a este documento pontifício presentearam a Igreja com um grande número de vocações sacerdotais e religiosas que com zelo e alegria e em comunhão profunda com o Papa trabalham pelo Evangelho nesta época histórica. Graças a elas muitos fiéis reforçaram ou conheceram pela primeira vez a alegria de poder participar da liturgia e do amor para com a Igreja. Em numerosas dioceses espalhadas pelo mundo elas servem à Igreja colaborando ativamente com os bispos e instaurando um relacionamento positivo e fraterno com os fiéis que se sentem à vontade na forma renovada da liturgia. Tudo isso hoje merece todo o nosso agradecimento.
Todavia seria irrealista calar sobre os muitos lugares onde não faltam dificuldades, então como agora, porque alguns bispos, sacerdotes e fiéis consideram o apego à antiga liturgia (a dos textos litúrgicos de 1962) como um elemento de divisão que perturba a paz da comunidade eclesial e deixa supor uma certa reserva na aceitação do Concílio e, mais em geral, na obediência devida aos pastores legítimos da Igreja. Portanto, as perguntas que devemos nos colocar são as seguintes: como se podem superar estas dificuldades? Como podemos criar o clima de confiança necessário para fazer com que os grupos e as comunidades ligadas à antiga liturgia se insiram pacificamente e proficuamente na vida da Igreja? Porém, estas questões subentendem uma outra; qual é a razão profunda desta desconfiança ou, até mesmo, da recusa do prosseguimento da antiga liturgia? Sem dúvida há razões pré-teológicas ligadas ao temperamento de cada indivíduo, ao contraste entre os diversos caráteres, ou a outras circunstâncias externas. Mas certamente existem outras causas, mais profundas e menos fortuitas.
Há duas razões que se apresentam com maior frequência: a não obediência ao Concílio que reformou os textos litúrgicos e a ruptura da unidade derivante da existência de formas de liturgia diferentes. É relativamente simples contradizer ambos os raciocínios. Não foi propriamente o Concílio quem reformou os textos litúrgicos, ele apenas ordenou a sua revisão e, para tal fim, ficou algumas linhas fundamentais. O Concílio deu principalmente uma definição de liturgia que fixa a medida interna de cada uma das reformas e, contemporaneamente, estabelece o critério válido para cada celebração litúrgica legítima. A obediência ao Concílio seria violada no caso em que não fossem respeitados tais critérios fundamentais internos e fossem colocadas à parte as normae generales, formuladas nos números 34-36 da Constituição sobre a Sagrada Liturgia (Sacrosanctum Concilium). É necessário julgar as celebrações litúrgicas segundo estes critérios, sejam elas baseadas em velhos ou em novos textos. Com efeito, o Concílio, como já foi acenado, não prescreveu ou aboliu textos, mas deu normas de base que todos os textos devem respeitar. Neste contexto, é útil recordar o que foi declarado pelo Cardeal Newman: a Igreja no decorrer da sua história, nunca aboliu ou proibiu formas ortodoxas de liturgia, por que isso seria alheio ao próprio espírito da Igreja. Uma liturgia ortodoxa, ou seja que é expressão da verdadeira fé, de fato, jamais é uma simples reunião de cerimônias diferentes feita em bases a critérios pragmáticos, das quais pode-se dispor de maneira arbitrária, hoje de um modo, amanhã de outro. As formas ortodoxas de um rito são realidades vivas, nascidas do diálogo de amor entre a Igreja e o seu Senhor. São expressões da vida da Igreja, nas quais se condensam a fé, a oração e a própria vida das gerações e nas quais encarnaram-se numa forma concreta e num momento a ação de Deus e a reposta do homem. Estes ritos podem se extinguir se historicamente desaparece o sujeito que foi o seu portador ou se este sujeito está inserido com a sua herança num outro contexto de vida. Em situações históricas diferentes, a autoridade da Igreja pode definir e limitar o uso dos ritos, mas jamais os proíbe tout-court. Assim, o Concílio ordenou uma reforma dos textos litúrgicos e, consequentemente, das manifestações rituais mas não abandonou os velhos livros. O critério expresso pelo Concilio é, ao mesmo tempo, mais amplo e mais exigente: ele convida todos a um exame de consciência.
Mais tarde voltaremos a falar sobre este ponto. Por enquanto é necessário examinar um outro assunto, o da – pressuposta – ruptura da unidade. Sobre este propósito, é preciso distinguir na questão o aspecto teológico do prático. No que se refere a componente teorética e fundamental, devemos constatar que sempre existiram mais formas no rito latino que foram progressivamente caindo em desuso devido à unificação dos espaços de vida na Europa. Até a época do Concílio, ao lado do rito romano, conviviam o ambrosiano, o moçárabe de Toledo, o rito dos Dominicanos, e talvez muitos outros que eu não conheço. Jamais alguém se escandalizou pelo fato de que os Dominicanos, muitas vezes presentes em nossas paróquias, não celebrassem a missa como os párocos, mas seguissem um seu próprio rito. Todos nós sabíamos que o rito dele era católico assim como o romano e éramos orgulhosos da riqueza de tantas tradições diferentes. Além disso, não se pode esquecer que muitas vezes abusa-se da liberdade de espaço que o novo Ordo Missae deixa à criatividade e que a diferença entre os vários modos em que a liturgia é colocada em prática e celebrada nos diferentes lugares em base aos novos textos, muitas vezes é maior do que entre a antiga e a nova liturgia. Um cristão destituído de uma cultura litúrgica particular pouco distingue de uma missa cantada em latim segundo o velho Missal de uma cantada em latim segundo o novo, enquanto que pode ser enorme a diferença entre uma liturgia celebrada respeitando fielmente os ditames do Missal de Paulo VI e as várias formas de celebrações litúrgicas em língua viva amplamente difusas, que deixam grande espaço à criatividade e à imaginação. [...]

* * *
Para mais informações, visite o site da editora.

* Não deixem de visitar o site Ratzinger Brasil.
** RATZINGER, Joseph. Ser cristão na era neopagã. Campinas, Ecclesiae, 2014, pp. 183-186.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

O canto por parte do Presidente da Assembleia Eucarística

View Comments

Por Dom Jerônimo Pereira Silva, OSB.

O canto por parte do Presidente da Assembleia Eucarística é apropriado, recomendado e louvado. A rigor o Rito Romano é também um rito cantado, para tal fim foi publicado pelos monges de Solesmes em 1975, como parte do Missale Romanum auctoritate Pauli PP VI promulgatum o Ordo Missae in Cantu (OMC), em forma manuscrita (caligrafado). No recente ano 2000 a Libreria Editrice Vaticana (LEV) havia se encarregado de tal publicação apresentando uma reedição do OMC “computadorizada” em 2012, em parceria com as Éditions de Solesmes

O Papa Emérito Bento XVI entoa o canto do Prefácio, na Santa Missa
durante a visita apostólica a República Tcheca, em
26 de Setembro de 2009
O Ordo Missae in Cantu iuxta editionem typicam tertiam, embora na presente edição não tenha ainda o caráter de livro litúrgico oficial, assume tal característica somente porque reproduz o quanto de oficial apresenta o Graduale Sacrosanctae Romanae Ecclesiae de Tempore, de Sanctis de 1979 (GR), páginas 798-802.809-821.

O atual OMC apresenta as seguintes formas musicais (notação gregoriana, texto, obviamente em latim, pois se trata de uma obra typica):

- Ritos Iniciais (Sinal da Cruz, 3 formulários para a Saudação Inicial, mais uma própria para o bispo, Ato Penitencial com uma única fórmula);
- Bênção da água (Introdução, duas fórmulas para uso fora do Tempo Pascal, uma fórmula para o Tempo Pascal, uma fórmula para bênção do sal, quando se mistura com a água e absolvição);
- Entoações do Glória (15 entoações, mais 4 dos Glórias ad libitum todos presentes no Kyriale);
- Entoações da Profissão de Fé (2 entoações);
- Preparação dos dons (sem notação musical);
- Prefácios (85 dos quais 41 apresentam as formas simples e solene);
- Orações Eucarísticas (as 4 OE mais 13 variações próprias da OE I);
- Rito da Comunhão (3 melodias para o Pai Nosso, com suas devidas introduções; o “Livrai-nos de todos os males...” com a sua resposta; o rito da paz: “Senhor Jesus Cristo, dissestes...” com o “Amém”; “A paz do Senhor...”, “Saudai-vos...”. As Secretas, a apresentação da eucaristia [“Felizes os convidados...], as fórmulas para a comunhão [presbítero e assembleia] e a oração de purificação, sem notação musical);
- Ritos Conclusivos ou Ritos Finais (Diálogo, também para a missa pontifical, Bênção e despedida);
- Bênçãos Solenes (27 formulários);
- Formulário da Oração Universal da Sexta-Feira Santa;
- Precônio Pascal.

Por causa da sua forma silábica o canto do Ordo Missae pode ser adaptado para muitas línguas. O português é uma das línguas que muito se presta para tal fim. Infelizmente, às vezes, encontramos adaptações mal feitas ou erros melódicos. 

Abaixo apresento a Doxologia Final da Oração Eucarística em português com notação gregoriana em tom simples e tom solene (de acordo com as melodias presentes no OMC e no GR), com a correção melódica do erro que muitos de nós aprendemos quase por intuição. 

Com a ajuda de um instrumento, um pouco de paciência e desejo de solenizar o centro da nossa fé, que é a celebração do Mistério Pascal de Cristo, um presbítero pode fazer o culto a Deus se tornar mais sutilmente refinado. Recordemo-nos que o canto da presidência é sempre a cappella.





terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Campanha "Salve um Padre": Homilia

View Comments
A Martyria Cursos e Editora, que já divulgamos em nosso blog algumas vezes, lançou recentemente uma campanha para suprir a formação deficitária de muitos dos sacerdotes desta nossa Terra de Santa Cruz.

Pietro di Sano - São Bernardo Pregando na Piazza del Campo em Sena (1445)
Nesta primeira etapa, o enfoque é dado na homilia. Como consta na postagem que lançou a campanha:
Como dizer ao padre que sua homilia não é boa? Nós lhe enviaremos o melhor livro sobre pregação, juntamente com uma carta, indicando respeitosamente que está sendo presenteado por alguém que lhe quer bem, e que quer ver-lhe salvando mais almas através da homilia.
Para colaborar com a campanha você pode indicar vários sacerdotes a quem deseja ajudar (preenchendo seus dados num formulário e/ou doar algum valor em dinheiro para auxiliar com os custos de correio e de impressão do livro.

O valor calculado para presentar a um sacerdote é de R$17,00.


Para mais informações, acesse o site da editora.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

O vencedor do concurso de presépios paroquiais 2014

View Comments

-------> ATENÇÃO <------ - Os vencedores, DEVEM entrar contato via e-mail para: daniel@salvemaliturgia.com com o endereço para o qual o(s) prêmio(s) devem ser enviados em até 48 horas. Caso não seja, o ganhador perde direito à premiação; sendo o primeiro colocado, sua premiação passará ao segundo colocado.

Cortesia: Loja Arte Sacro


-------> ATENÇÃO <------ - Os vencedores, DEVEM entrar contato via e-mail para: daniel@salvemaliturgia.com com o endereço para o qual o(s) prêmio(s) devem ser enviados em até 48 horas. Caso não seja, o ganhador perde direito à premiação; sendo o primeiro colocado, sua premiação passará ao segundo colocado.

Post by Salvem a Liturgia!

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Você decidirá o vencedor do Concurso de Presépios 2014!

View Comments

No último dia de 2014, nossa equipe escolheu os finalistas do Concurso de Presépios Paroquiais do Salvem a Liturgia!, edição 2014. Os três presépios que se classificaram para a segunda fase já foram publicados em nossa página no Facebook e os votos já estão sendo computados (basta "curtir" a foto do presépio).

Todas as três paróquias finalistas serão premiadas por nossa parceira, a Arte Sacro, conforme enunciado nas regras desta edição.


Premiação:
  
1º lugar: conjunto de estola e casula neste modelo (cor a decidir)
2º e 3º lugares: jogo de altar (imagem meramente ilustrativa)

Eis os finalistas (clique na foto para ser direcionado à página de votação):

Diocese de Franca-SP.
Cidade de Restinga-SP.
Pároco: Pe. Michel Rosa

Diocese - Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro 
Cidade/estado - Rio de Janeiro/RJ
Nome do pároco: Padre Jorge Lutz, SVC (Sodalício de Vida Cristã)
Foto enviada por: Thiago de Oliveira Tavares


Cura: Padre José Gonçalo Vieira
Arquidiocese de Belém - PA
Enviada por: André Magno Vilhena

sábado, 27 de dezembro de 2014

Concurso de Presépios 2014: Inscrições abertas!

View Comments
As inscrições para o Concurso de Presépios Paroquiais do Salvem a Liturgia!, em parceria com a Arte Sacro, estão abertas.


Não deixe de inscrever sua paróquia até o dia 29 de dezembro, quando encerra-se a primeira fase, e concorrer a uma estola e casula neste estilo (cor a escolher), além de outros prêmios:




As inscrições já realizadas estão sendo divulgadas em nossa página no Facebook.

Inscreva-se já, lendo as regras aqui!



quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

O que é o presépio? Especialistas respondem

View Comments
Amanhã (25), Natal do Senhor, inicia-se a segunda edição do Concurso de Presépios Paroquiais do Salvem a Liturgia!, em parceria com a Arte Sacro Paramentos Litúrgicos. Não deixe de visitar as regras do concurso e inscrever tua paróquia. Além de fomentar uma maior piedade aos fiéis neste tempo tão importante da vida da Igreja, estarão concorrendo a belíssimos prêmios.

Para aprofundarmo-nos no presépio, trago logo abaixo o capítulo introdutório do livro "O Presépio das Crianças" (Editora Quadrante), de autoria do Pe. Flávio Sampaio de Paiva, que explica o presépio sob ângulos diversos.

Presépio do Vaticano (2014) | Foto: REUTERS/Giampiero Sposito | D.R.

O livro traz dois contos natalinos que servem como ótima meditação para este Tempo do Natal que se aproxima. Os contos também foram gentilmente publicados pelo autor em blogues e podem ser encontrados em: O Conto do Presépio das Crianças e O Conto dos Animais do Presépio.

O primeiro conto, aliás, conta a história de um sacerdote que deseja, através do presépio, ajudar seus paroquianos a meditarem melhor no mistério do Natal. O cura pensava consigo: "As pessoas não sabem entrar no presépio, não descobriram as chaves que abrem as portas do verdadeiro presépio de Belém. E assim não abrem as portas do seu coração para que Deus entre nele e ali possa nascer."Tudo a ver com nosso Concurso de Presépios, não?

Presépio do Vaticano (2014) | Foto: REUTERS/Giampiero Sposito | D.R.
***
Perguntei a um especialista em línguas: O que é o presépio? Ele respondeu-me:

Presépio é uma obra de arte sacra, composta de figuras de materiais diversos, que representa o estábulo de Belém e as cenas relacionadas com o nascimento de Jesus. Contém a representação da manjedoura (cocho) em que Jesus foi posto ao nascer.

A palavra presépio vem do latim praesepium, que por sua vez vem de prae – “antes”, “na frente de” – e de saepes – “sebe”, “cerca”, “grade” –. O significado original dessa palavra era, pois, o de um recinto fechado onde se encerravam os animais: um curral, uma estrebaria. E como os animais confinados no curral precisavam comer, o significado dessa palavra estendeu-se também ao lugar em que os animais comem, à manjedoura.


Perguntei a um crítico de arte brasileiro: O que é o presépio? E ele respondeu-me:

Os cristãos celebram o Natal desde fins do século III,  quando já peregrinos se dirigiam ao local de nascimento de Cristo, a gruta de Belém. No século seguinte, a cena da Natividade aparece em relevos de sarcófagos, instrumentos litúrgicos ou afrescos, que mostram a Virgem Maria, a Adoração dos Reis Magos e o Menino a repousar na manjedoura.

A primeira dessas imagens de que se tem notícias foi esculpida em um sarcófago do século IV, e encontra-se hoje no Museu das Termas, em Roma. É um baixo-relevo em que uma árvore faz o papel de cabana, um pastor medita apoiado em um bastão, o Menino está em um cocho rústico envolto em panos, ladeado por um burro e um boi.

Bem depois, em 1223, na Itália, ocorre um fato marcante na história dos presépios. São Francisco de Assis, em vez de festejar a noite do Natal na igreja, como se fazia habitualmente, decidiu levar uma manjedoura, um boi, um burro e outros elementos do presépio a uma gruta nos arredores da cidadezinha de Greccio, fazendo uma representação ao vivo da cena. Assim, Francisco ganhou a fama de ter criado o presépio, embora somente séculos mais tarde os presépios tenham adquirido a forma atual.

No século XV, passou a haver representações do Natal em forma de esculturas, muitas vezes em tamanho natural, expostas em oratórios (capelas) nas igrejas. Sempre havia aí uma preocupação didática: pretendia-se que os espectadores, ao olharem o presépio, tivessem a sensação de estar penetrando no palco da História Sagrada.

No século seguinte, as figuras libertam-se das capelas e começam a aparecer soltas, em grupos. Nasce assim o presépio como o concebemos hoje: capaz de ser modificado por cada artista que o constrói ou por cada pessoa que o monta, em sua casa, ano após ano. Aliás, a graça do presépio está em ser criativo, tornando cada um deles diferente, pessoal e único. O primeiro presépio deste tipo que se conhece em uma casa privada foi provavelmente elaborado em 1567: sabemos pelo seu testamento que a Duquesa de Amalfi, Constanza Piccolomini, possuía dois baús com 116 figuras, utilizadas para representar o Nascimento e a Adoração dos Reis Magos.

No século XVIII, conventos e cortes dedicaram-se à construção de presépios. Em Nápoles, Carlos III, rei das Duas Sicílias, investiu fortunas para construir presépios de madeira talhada ou pedra esculpida com um enorme número de personagens coloridos e cenas da vida popular; daí proveio a tradição dos presépios napolitanos.

Se Nápoles, Sicília, Munique e a região alpina alemã estabeleceram uma tradição em presépios, o Brasil não ficou atrás. Já em 1532, o padre José de Anchieta, ajudado pelos índios, modelava em barro pequenas figuras representando o presépio, com o propósito de inculcar nos indígenas a tradição de honrar o Menino Jesus no dia de Natal. Mais tarde, começaram a aparecer cenas com características nacionais, como lavadeiras que carregavam trouxas, fazendeiros que cuidavam de animais, mulheres que davam milho a galinhas, monjolos, montes, árvores da terra e igrejinhas iluminadas.

No século XX, surgem legítimos representantes nacionais da arte do presépio. Um caso é o presépio do Pipiripau, em Belo Horizonte, com quarenta e duas cenas. Outro destaque é o trabalho das figureiras do Vale do Paraíba, em São Paulo, principalmente Taubaté. E como esquecer o mestre Vitalino de Caruaru, Pernambuco, com as suas pequenas figuras modeladas em barro? E as obras realizadas em São Paulo por Evarista Ferraz Salles, pioneira no Brasil em trabalhos de artesanato de palha, milho e bucha, com os seus presépios dentro de cabaças, que são reconhecidos nacional e internacionalmente? (4)

(4) Cfr. Oscar D´Ambrósio, A arte dos presépios, em www.artcanal.com.br/oscardambrosio/presepio.


Perguntei a um teólogo: O que é o presépio? Ele respondeu-me sabiamente:

A festa de Natal ocupa um lugar muito especial no coração dos cristãos. Possui um brilho e um calor humano que nos comovem mais do que qualquer outra festa cristã. Muito desse encanto se deve a São Francisco de Assis e à famosa celebração do Natal em Greccio, no ano de 1223. Essa celebração contribuiu decisivamente para que se desenvolvesse e se estendesse o formosíssimo costume de montar presépios para comemorar o evento.

Tomás de Celano, o primeiro biógrafo de São Francisco, relata-nos: “Celebrava com incrível alegria, mais que nenhuma outra solenidade, o Natal do Menino Jesus, pois afirmava que era a festa das festas, em que Deus, feito um menino pobrezinho, pendeu de peitos humanos. Beijava como um esfomeado as imagens dessa criança, e a derretida compaixão que tinha no coração pelo Menino fazia com que balbuciasse palavras doces, como uma criancinha. Para ele, esse nome era como um favo de mel nos seus lábios”(5)

São Francisco tinha um amor imenso por Jesus, Deus-conosco, que o levou a visitar a Terra Santa e a relíquia da manjedoura em que Jesus teria sido posto ao nascer, e que hoje se encontra em Santa Maria Maior, em Roma. Essas viagens podem tê-lo animado a montar a celebração de Greccio. Mas, sem dúvida, o que mais influiu nele foi o desejo de viver com maior realismo e proximidade o nascimento de Jesus.

Havia naquela cidade um homem chamado João, “de boa fama e vida ainda melhor, por quem São Francisco tinha especial amizade”, e a quem o santo encarregou de preparar a representação da cena, dizendo-lhe: “Quero evocar o menino que nasceu em Belém, os apertos que passou, como foi posto num presépio, e ver com os meus próprios olhos como ficou em cima da palha, entre o boi e o burro”. (6)

Já na véspera do Natal, o povo aproximou-se, alegre com a expectativa de ver o mistério representado ao vivo. Os frades cantavam, dando louvores ao Senhor. A missa de Natal foi celebrada ali mesmo, e diz-se que o sacerdote que a celebrou sentiu uma piedade que jamais experimentara até então. São Francisco, que era diácono, cantou com voz sonora o santo Evangelho. Depois pregou ao povo presente, dizendo coisas maravilhosas sobre o nascimento do Rei pobre e sobre a pequena cidade de Belém. (7)

O cardeal Ratzinger, antes de tornar-se Papa, comentou a nova dimensão que São Francisco tinha outorgado à festa cristã do Natal. A descoberta da revelação do «Emanuel», Deus-conosco, realizada no Menino Jesus, penetra profundamente nos corações dos cristãos, porque nenhum obstáculo de sublimidade ou de distância nos separa mais dEle. Como menino, aproximou-se tanto de nós que podemos tratá-lo sem receio, com simplicidade e total confiança:

“No Menino Jesus, torna-se patente, mais que em nenhuma outra parte, o amor indefeso de Deus: Deus vem sem armas, pois não pretende assaltar de fora, mas conquistar de dentro, e a partir daí transformar-nos. Se algo pode desarmar e vencer os homens, a sua vaidade, a sua sede de poder ou a sua violência, assim como a sua cobiça, é a fragilidade de um menino. Deus escolheu essa fragilidade para nos vencer e para tornar-nos conscientes do que realmente somos. [...]
“Quem não entendeu o Mistério do Natal não entendeu o que é mais decisivo e fundamental no ser cristão. Quem não o aceitou, não pode entrar no reino dos céus. Isso é o que Francisco pretendia recordar à cristandade da sua época e à de todos os tempos posteriores”(8)

Podemos ainda perguntar-nos: Por que o boi e o asno fazem parte do presépio desde o começo? Novamente é o cardeal Ratzinger quem nos responde:

“O boi e o asno não são mera produção da fantasia. Converteram-se, pela fé da Igreja, [...] nos acompanhantes do acontecimento natalino. Com efeito, em Isaías 1,3 diz-se concretamente: «O boi conhece o seu dono, e o asno o presépio do seu amo, mas Israel não entende, o meu povo não tem conhecimento».

“Os Padres da Igreja viram nessas palavras uma profecia que apontava para o novo povo de Deus, a assembléia dos judeus e dos cristãos. Diante de Deus, todos os homens, tanto judeus como pagãos, eram como bois e asnos, sem razão nem conhecimento. Mas o Menino, no presépio, abriu-lhes os olhos, de maneira que agora reconhecem a voz do seu dono, a voz do seu Senhor.

“Nas representações medievais do Natal, não deixa de causar estranheza o fato de esses animais chegarem a ter rostos quase humanos e a prostrar-se e inclinar-se perante o mistério do Menino, como se o entendessem e o estivessem adorando. Mas isso era lógico, uma vez que esses dois animais eram como símbolos proféticos sob os quais se oculta o mistério da Igreja, o nosso mistério, já que nós somos boi e asno diante do Eterno, boi e asno cujos olhos se abrem na noite de Natal, de forma que, no presépio, reconhecem o seu Senhor. [...]

“Quando colocamos as figuras que nos são familiares no presépio, devemos pedir a Deus que conceda aos nossos corações a simplicidade que sabe descobrir o Senhor no Menino, tal como Francisco na sua época. Então poderemos experimentar o que nos conta Celano acerca dos participantes da celebração de Greccio com umas palavras muito parecidas às de São Lucas a propósito dos pastores da primeira noite de Natal (Lc 2,1220): «Todos regressaram para suas casas repletos de alegria»”(9)

(5) Tomás de Celano, “Segunda vida de São Francisco”, em Fontes franciscanas, 9ª ed., Vozes/FFB, Petrópolis, 2000, n 199.
(6) Tomás de Celano, “Primeira vida de São Francisco”, em Fontes franciscanas, n. 84.
(7) Cfr. ibid., ns. 85-86.
(8) Joseph Ratzinger, El rostro de Dios, Ediciones Sígueme, Salamanca, 1983, págs. 19-25.
(9) Ibid.


Depois de perguntar aos entendidos, resolvi perguntar a uma criança: O que é o presépio?

Ela simplesmente me respondeu: é o lugar onde Deus nasce.


Perguntei também a um escritor de contos: O que é o presépio? Ele respondeu-me:

É o lugar ideal para voltarmos a ser crianças e deliciar-nos com os sonhos de Deus. É a inspiração indispensável para escrever e ler contos de Natal.

***

Reforço o convite aos leitores para que leiam O Conto do Presépio das Crianças e O Conto dos Animais do Presépio, e se inscrevem em nosso concurso.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Parceiros