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sábado, 16 de dezembro de 2017

Sim, o Advento é um Tempo Penitencial

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Por Gregory DiPippo / New Liturgical Movement
Tradução e adaptação: Daniel Pereira Volpato / Salvem a Liturgia!

O começo de todo novo ano litúrgico traz pelo menos um artigo nas partes católicas da web “explicando” que o Advento não é um tempo penitencial. O Código de Direito Canônico é geralmente citado, uma vez que o Advento não é incluído na lista “oficial” de dias e tempos penitenciais, juntamente com a Instrução Geral sobre o Missal Romano, que o descreve como um período de “piedosa e alegre expectativa” (NdT: Normas Universais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário, n. 39), sem menção à penitência.

A realidade desta matéria é mais complexa.  As tradições da Igreja não são determinadas compreensivamente ou resumidas em um Código de Direito Canônico, tampouco em um Missal ou outro livro litúrgico. É verdade que o Advento não é um tempo de jejum, e não tem sido assim no Ocidente há muito tempo. Por outro lado, na Quaresma, o jejum, o mais antigo e universal sinal da natureza penitencial daquele tempo, foi reduzido a risíveis dois dias, e as muitas referencias à “jejum” foram ou removidas ou alteradas para “abstinência” nas orações e hinos da Liturgia quaresmal. E, ainda assim, ninguém afirma que a Quaresma não é, portanto, um tempo penitencial.

Domingo Gaudete na Igreja de Nossa Senhora do Rosário, Blackfen, Inglaterra, 2013
Em sua história, Advento e Quaresma têm liturgicamente muita coisa em comum, e, na verdade, isso não mudou muito no rito pós-conciliar. As cores litúrgicas destes tempos, o roxo e o rosa, permanecem as mesmas. (Mais sobre isso abaixo.) Desde tempos muito antigos, as vestimentas que simbolizam a alegria de um dia festivo, a dalmática e a tunicela, eram substituídas em ambos os tempos por casulas plicadas, as quais foram (inexplicavelmente) abolidas tout court, não apenas no Advento. (Nas igrejas que não as possuíam, o diácono e o subdiácono usavam a alva, e o primeiro também a estola.) No novo rito, a dalmática pode ser dispensada “por necessidade ou em celebrações menos  solenes” (IGMR, n. 338). Como não há indicação do que constitui “celebrações menos solenes”, é-se perfeitamente livre para tratar os Domingos do Advento como menos solenes do que as festividades do Tempo do Natal, e deixar a dalmática de fora. (Esta rubrica é tão vaga que conduziu, infelizmente e inevitavelmente, em certos lugares, ao abuso de diáconos nunca utilizarem a dalmática, e sim o arranjo penitencial de alva e estola, mesmo nas grandes solenidades.)

Na Missa, o Gloria in excelsis é omitido aos Domingos em ambas as Formas do Rito Romano. Nos dias feriais do Advento, o Aleluia é tradicionalmente omitido antes do Evangelho; embora opcional no Novus Ordo, é um modo perfeitamente lícito de continuar a observância de um costume histórico da Igreja. Tradicionalmente, Advento e Quaresma também são ambos marcados pela remoção das flores do altar e pelo silêncio do órgão. Isso foi levemente modificado na liturgia pós-conciliar: flores e órgão são proibidos na Quaresma (não apenas desencorajados), mas podem ser usados no Advento “com moderação tal que convenha à índole desse tempo” (IGMR 305 e 313). Novamente, a imprecisão das rubricas permite que eles sejam deixados completamente de lado.

A exceção à regra tradicional da supressão das flores e música do órgão dá-se nos Domingos Gaudete e Laetare, quando seu uso é permitido da mesma forma que em outros domingos e festas juntamente com as características vestimentas rosa, criadas como uma mitigação do violeta penitencial. A permanência do Domingo Gaudete no meio do Advento é o sinal mais claro de que o caráter penitencial deste tempo persiste.

E Se Não Fosse, Deveria Ser

Deixando tudo isso de lado, quando chegar a hora da Reforma da Reforma (e ela certamente chegará, embora não saibamos nem o dia nem a hora), deve-se admitir que a “piedosa e alegre expectativa” tem sido um fracasso e deve ser reparada.  Não parece ter alcançado nada no tocante a refrear a orgia do consumismo que atravessa o Natal em boa parte do mundo. A restauração de algum grau de jejum e penitência no Advento, algo já praticado por muitos a nível pessoal, seria uma poderosa declaração católica das razões para este tempo.

Pessoalmente, acho triste como muitas árvores de Natal são desmontadas já na noite do dia 26. Este é um dos muitos sinais de que, ao invés de ser tido como um tempo de expectativa e alegria, o Advento tornou-se, em muitos lugares, uma versão ao contrário das oitavas do Natal e da Epifania. Pastoralmente, a Igreja deveria encorajar os fiéis a testemunhar a importância do nascimento de Cristo mantendo o todo do tempo do Natal, com as muito antigas e importantes festas litúrgicas que se seguem, como a grande e prolongada festa que tradicionalmente era; reestabelecer o caráter formalmente penitencial do Advento certamente ajudaria nisso, da mesma forma que a Quaresma faz para a Páscoa.

domingo, 5 de março de 2017

Mais de duzentos signatários publicam declaração internacional sobre a música sacra

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Coro da Capela Sistina

Foi publicada hoje a declaração sobre a música sacra "Cantate Domino Canticum Novum", assinada por diversos músicos, sacerdotes e acadêmicos, de entre outros, totalizando mais de 200 assinaturas.

A declaração está sendo lançada no quinqüagésimo aniversário da Instrução Musicam Sacram e disponível em seis idiomas (inglês, italiano, espanho, português, francês e alemão) no site da revista sobre liturgia e música sacra Altarei Dei (aqui).

Após relembrar brevemente a importância dedicada desde o século XIV pelos Papas à música sacra, a declaração resume a crítica situação atual que vive a música sacra em seis pontos, que podem ser resumidos da seguinte maneira:

  1. A perda do entendimento da "forma musical da liturgia";
  2. O secularismo que adentrou os templos sagrados por meio de estilos inapropriados de música popular;
  3. Uma falsa renovação da música sacra, sustentada por alguns grupos, que contradiz o ensinamento da Igreja sobre o assunto e acarreta no descarte da música litúrgica por primazia, o canto gregoriano;
  4. O desdém pela Tradição e, por consequência, do gregoriano e de nossa herança litúrgica;
  5. O abuso da parte de determinados clérigos (clericalismo), dificultando a redescoberta desta herança litúrgica;
  6. A falta de remuneração adequada àqueles que desempenham atividades musicais (e eu acrescento: por que não contratar profissionais, se necessário?).
Trago com destaque a citação de um parágrafo relacionado ao ponto 3, o gregoriano:
Hoje, esse “modelo supremo” [o gregoriano] é freqüentemente descartado, se não mesmo desprezado. Todo o Magistério da Igreja recorda-nos a importância de aderir a esse modelo, não como forma de limitar a criatividade, mas como fundamento sobre o qual pode florescer a inspiração. Se desejamos que as pessoas busquem a Jesus, precisamos preparar a casa com o melhor que a Igreja pode oferecer. Não convidaremos pessoas à nossa casa, a Igreja, para oferecer-lhes um subproduto de música e arte, se podem encontrar um estilo de música popular muito melhor fora da Igreja. A liturgia é um limen, um limiar que nos permite passar de nossa existência diária ao culto dos anjos: Et ídeo cum Angelis et Archángelis, cum Thronis et Dominatiónibus, cumque omni milítia cæléstis exércitus, hymnum glóriæ tuæ cánimus, sine fine dicéntes... 
Para contornar estes problemas, algumas propostas positivas são colocadas:
  1. Promoção da herança musical católica (gregoriano e polifonia sacra) e de composições sacras modernas (em latim ou vernáculo) que bebam dessa tradição, bem como do órgão de tubos;
  2. Educação das crianças na liturgia e na música pela via da beleza;
  3. Abertura de espaço aos leigos fiéis ao Magistério e, no caso da música e das artes, , com capacidade técnica nas áreas da arte e da música;
  4. Uma melhor qualidade de música litúrgica nas catedrais e basílicas, com incentivo direto do bispo diocesano;
  5. A celebração de uma Missa semanal em latim em toda basílica e catedral, para a manutenção do vínculo com nossa herança litúrgica, cultural, artística e teológica;
  6. Treinamento litúrgico e musical do clero como prioridade dos bispos;
  7. Uma maior adesão das editoras católicas ao ensinamento litúrgico-musical da Igreja, para o lançamento de obras conformes à nossa tradição musical;
  8.  A formação de liturgistas no canto gregoriano, polifonia e nossa tradição musical.

Por fim, recomendo a todos os nossos leitores que acessem o documento da declaração, que, embora breve (5 páginas), traça de modo objetivo o panorama atual da música sacra no orbe católico.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Novidades no "Inspirado no Gregoriano": Graduale Simplex e mais

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Um dos grandes projetos relacionados ao canto sacro em português foi retomado com todo vigor nos últimos meses. Trata-se do "Inspirado no Gregoriano", que já divulgamos aqui anteriormente.



Lincoln Haas Hein, seu autor, retomou o trabalho de adaptação ao português de melodias gregorianas, agora com uma novidade: além das partituras, estão sendo disponibilizados vídeos de algumas das peças.

Durante o ano passado foram publicadas algumas adaptações, como o Ofício de Trevas da Quinta-feira Santa, o responsório O Vos omnes (Canto de Verônica) e o Pai Nosso.

A partir do Advento, contudo, Lincoln começou a adaptar as antífonas de entrada, ofertório e comunhão do Graduale Simplex, mais simples do que o Gradual Romano, e, portanto, com possibilidade mais ampla de uso da parte dos fiéis com pouco contato com o gregoriano.

Ofício da Quinta-feira Santa


Missa de Angelis


Adaptação do Roráte Caeli


Não deixem de acompanhar o projeto pelo site e também pelo Facebook.



quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

A celebração do Te Deum nas Repúblicas latino-americanas

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A maioria dos países de língua espanhola da América adotou a forma de governo republicana logo após a independência. Apesar da influência maçônica nos movimentos de independência e na política desses países bem como de leis que restringiam os bens e a influência da Igreja, as instituições republicanas impregnaram-se também de traços da tradição católica desses povos latino-americanos.

Quando o Brasil se tornou independente em 1822, adotou um governo monárquico, sob a dinastia de Bragança (a mesma família reinante de Portugal) e o início do reinado de seus imperadores era marcado pela cerimônia de coroação do Pontifical Romano, oficiada por um bispo na Capela Imperial do Paço da Cidade do Rio de Janeiro. Como a instituição do regime republicano no Brasil foi feito sob influência da ideologia positivista (contrária à influência das instituições religiosas na sociedade), nossa República não tem nenhuma cerimônia de origem católica que marque o início do mandato presidencial ou o dia da independência (as chamadas Festas Pátrias).

Em vários países da América de língua espanhola, é costume a celebração litúrgica do hino de ação de graças Te Deum laudamus para marcar o início do mandato do Presidente da República e/ou para celebrar o dia da Independência do país. Na Argentina e Paraguai, celebra-se uma Liturgia com o canto do Te Deum na posse do Presidente da República, bem como no dia da Independência. Na Colômbia, celebra-se a Liturgia da Palavra e o canto do Te Deum em presença do Presidente da República e autoridades maiores da nação no dia da Independência. No Peru, o Presidente da República assiste a uma missa de ação de graças com o canto do Te Deum no final da celebração no dia da Independência do país. No Chile, a posse de um novo Presidente da República e a celebração do dia da Independência é marcado por uma celebração ecumênica com o canto do Te Deum.

A tradição do Te Deum remonta às guerras de Independência, quando os generais dos exércitos Patriotas (pró-Independência)assistiam missa e ordenavam um canto do Te Deum para comemorar a libertação de um território dos exércitos Regalistas (a serviço do Rei da Espanha). Atualmente, essas cerimônias tem sido atacadas por defensores do laicismo, que acham que uma cerimônia pública de ação de graças feita pela Igreja Católica em conjunto com as autoridades civis atenta contra a separação entre Igreja e Estado.

A existência da cerimônia de Te Deum em países republicanos mostra que a Igreja não possui uma única forma de governo e também que se adapta às diferentes culturas, impulsionando com seus ritos os povos e seus governantes a buscarem em conjunto louvar a Deus e buscar a justiça e o bem comum.

Abaixo, alguns vídeos de celebrações do Te Deum em posses e Festas Pátrias.


Colômbia - celebração da Independência (20 de julho):



Peru - Missa e Te Deum no dia da Independência (28 de julho):




Chile - celebrações do dia da Independência (18 de setembro):




Argentina - celebrações da Independência (9 de julho) e da Revolução de Maio (25 de maio) e início de mandato:






segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Ebook "Salvemos a Liturgia" já à venda!

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Esgotado nas livrarias, e agora em versão ebook vendida diretamente por mim, autor da obra e diretor deste apostolado Salvem a Liturgia.

Ao preço de R$ 19,90 ou em até 2x no cartão, reúne estudos e artigos que ensinam a importância das normas litúrgicas e de como viver o seu espírito, de acordo com o Magistério da Igreja e a Tradição. Você pode adquirir esse ebook clicando AQUI ou clicando no botão abaixo.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

A Coroa do Advento: no presbitério ou fora dele?

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Um costume de Advento que ganhou destaque nos últimos anos é o da Coroa do Advento. Por conta de sua rápida disseminação, já foi inclusive introduzida na liturgia da Santa Missa da maioria das paróquias.

Tais introduções, contudo, geralmente revelam-se inapropriadas por ferir o espírito da sagrada Liturgia. É salutar nestes casos que certas reflexões e questionamentos sejam feitos, a fim de que o desenvolvimento orgânico da Liturgia se mantenha de modo salutar, diferentemente do que ocorreu nas últimas décadas.

É por este motivo que trago este pertinente artigo do especialista no rito romano Louis Tofari, cuja tradução ao português pode ser lida abaixo.

* * *

A Coroa do Advento deveria situar-se no presbitério?

Por Louis Tofari
Publicado em Romanitas Press
Traduzido por Daniel Pereira Volpato
Com a devida permissão do autor

Durante os tempos litúrgicos da Igreja, testemunhamos uma variedade de costumes que nos ajudam a animar nossa Fé, tanto através da sagrada liturgia como dos costumes observados em casa — ou tradições domésticas.

Um tal costume doméstico é a Coroa do Advento, uma ornamentação de folhagem sempre-verde [*] circular enfeitada com quatro velas que contam as semanas do Tempo do Advento para a Natividade de Nosso Senhor Jesus Cristo.

A presença desta coroa em casa também serve de lembrete à necessidade de nos prepararmos espiritualmente durante o Advento, para o Nascimento do Salvador.

Entretanto, é importante que percebamos que a Coroa do Advento é meramente um costume doméstico, não uma prática litúrgica. Isto é evidenciado pelo fato de que as velas da coroa não são consideradas "velas de cultus" — isto é, velas usadas com um propósito ritualístico no contexto da sagrada liturgia[1]. Também nenhum rubricista ou manual de referência litúrgica sobre velas ou decoração de igrejas (como o Candles in the Roman Rite) mencionam a Coroa do Advento como uma prática possível dentro do presbitério (muito menos da igreja).

A prática da Coroa do Advento não é mencionada como litúrgica porque, estritamente falando, é tão somente um costume doméstico. Assim como pendurar as meias para a visita de São Nicolau de Bari. Ou o andar das imagens dos Três Magos pela casa desde o Primeiro Domingo de Advento até a Festa da Epifania, quando finalmente chegam ao Cristo Menino na manjedoura. Todas essas práticas domésticas são muito boas, mas, de novo, elas não têm nenhum lugar dentro de uma igreja [2].

Agora, dentro do presbitério, são os ornamentos litúrgicos que deveriam primeiramente trazer à nossa mente a preparação penitencial ao Advento, tais como as vestimentas roxas sobre o altar (e.g. o frontal, o conopeu e o véu do suporte do missal[3]), e alguns lugares podem até seguir a louvável prática de usar velas de altar feitas de cera crua. Por outro lado, uma Coroa de Advento iluminada no presbitério pode causar um certo distraimento dessas decorações oficiais e até mesmo tornar-se o foco do próprio altar.

Alguns poderiam objetar que o Círio Pascal também pode distrair-nos do altar, mas deve ser recordado que esta é uma vela litúrgica oficial (ou de cultus), e da mais suprema importância. Solenemente abençoada e acesa com o Fogo Pascal, representa o próprio Nosso Senhor e o triunfo de Sua Ressurreição. Assim, não pode haver comparação entre a presença da doméstica Coroa do Advento e do litúrgico Círio Pascal no presbitério.

Ainda estritamente falando, somente velas de cultus deveriam ser usadas dentro do presbitério (e.g. sobre o altar, na vela do Santíssimo, ou seguradas por acólitos ou ceroferários). Tais velas de cultus incluem ainda o uso de velas adicionais para solenizar uma ocasião tal como uma festa maior ou para mostrar dignidade adicional a Nosso Senhor, quando exposto no Santíssimo Sacramento (e.g. velas normais ou candelabros), bem como para mostrar respeito aos falecidos (e.g. velas do catafalco). Naturalmente, há ainda o uso de velas votivas — as quais, como o nome diz, são dedicadas a um cultus específico —, e mesmo estas situam-se usualmente fora do recinto do presbitério. Em todos estes casos, estas velas adicionais são mencionadas nas rubricas ou por autoridades litúrgicas com um propósito de cultus.

Ouvi alguns objetarem à presença da Coroa do Advento no presbitério por sua origem protestante. Pessoalmente, acredito que este é um argumento bastante fraco, uma vez que a Igreja Católica pode (e tem) adotado e batizado muitas práticas não-cristãs como suas para a liturgia sagrada, como a forma de latim hierático Itala Vetus, usada no Cânon Romano [4]. Portanto, é minha opinião que o argumento mais forte para não exibir uma Coroa de Advento no presbitério é o litúrgico, ou de cultus.

Mesmo se fosse verdade que a Coroa do Advento tem origem protestante — embora eu acredite que esta afirmação não é de todo historicamente precisa —, o fato é: este ornamento integra indiscutivelmente os símbolos católicos, como será explicado abaixo. Além disso, hoje o costume da Coroa do Advento tende a ser efetivamente mais associado ao catolicismo do que ao protestantismo, pois seu uso nos lares católicos tem sido tradicionalmente encorajado por autoridades como o Pe. Francis X. Wieser, autor do Handbook of Christian Feasts & Customs [5]. Assim, ao passo que a Coroa do Advento não é uma prática litúrgica e, portanto, não deveria estar presente no presbitério, por outro lado, é muito recomendável como um costume para os católicos observarem em seus lares.

Talvez durante os últimos parágrafos é provável que muitos leitores tenham estado esperando ansiosamente para ler se a Coroa de Advento poderia ou não ser exibida em qualquer outro lugar da igreja, digamos, na nave ou no pórtico. Em minha opinião a resposta é sim, e tenho visto exemplos edificantes desta prática (e.g. suspendendo uma grande coroa do teto). Mas, novamente, seria de se perguntar qual o benefício geral em fazê-lo, uma vez que, liturgicamente falando, o Advento já é — e oficialmente — representado na igreja pelos arranjos no presbitério e pelas vestimentas dos ministros sagrados, sem mencionar o próprio da Missa. Outro obstáculo é que tal ornamentação deve ser situada de modo a não interferir na visão do presbitério ou do altar.

Para concluir este artigo sobre a Coroa do Advento, vamos examinar brevemente seus simbolismos e, assim, melhor entender a mensagem que ela deve nos dar no conforto de nossos lares católicos, enquanto nos preparamos para a vinda de nosso Divino Menino Salvador.

Os ramos sempre-verdes [*] têm sido há muito usados decorativamente, desde os tempos antigos, para significar a esperança e a vida eterna, bem como a alegria festiva. No contexto da Coroa do Advento, o sempre-verde nos lembra de termos esperança na vinda do Cristo Salvador — o Messias —e a redenção da vida eterna que Ele  nos obterá (particularmente através de graças especiais que o tempo litúrgico do Natal nos concederá). Isso, por sua vez, nos conferirá a alegria sobrenatural que somente Cristo pode dar.

Além disso, o aroma dos ramos sempre-verdes (e.g. de pinheiro ou abeto) proporciona um odor limpo e refrescante, incutindo ainda mais em nós, através dos sentidos, a importância de purificação de nossas almas durante o Advento.

A coroa circular significa a eternidade da Santíssima Trindade e, até se poderia dizer, a eternidade do tempo, no qual a vinda — ou advento — do Filho Unigênito do Pai para a redenção da humanidade sempre esteve na mente de Deus Todo-Poderoso.

As quatro velas significam as quatro semanas preparatórios, ou Domingos, do Advento. Hoje estas velas são frequentemente coloridas, três roxas e a quarta rosa. A vela cor-de-rosa é para o III Domingo do Advento, também chamado de "Domingo Gaudete" por conta de seu Intróito, que nos exorta: "rejubila-te pois o Senhor está perto". A vela rosa também indica um costume romano único para este Domingo, quando vestimentas cor-de-rosa são usadas ao invés das roxas, significando uma sensação de alegria subjugada porque nossa penitência durante o Advento e a expectativa pelo Natal está quase no fim.

É interessante notar que, originalmente, quatro velas brancas — ou mesmo de cera crua — eram usadas na Coroa do Advento. Enquanto em outros lugares ainda uma quinta vela, maior, era colocada no centro da Coroa — significando o nascimento de Cristo —, a qual era acesa durante a Oitava do Natal, para mostrar a realização dos preparativos do Advento.

Outra decoração comumente incluída na folhagem sempre-verde era a presença frutos de árvore, como maças, pinhas ou nozes. Estas "frutas" representam as doces bençãos adicionais (como significado por uma fruta como a maça) — ou desenvolvimento futuro da graça santificante (como significado pelas pinhas carregando suas sementes ou nozes) — que esperamos com expectativa obter do nascimento de Cristo e durante o Tempo do Natal que o segue.

Notas de rodapé


[1] Em latim, a palavra cultus se refere a uma forma oficial de prática religiosa (ou rito). Pode também ser usada para se referir ao "culto aos santos", significando a forma de veneração ou devoção dada a eles pela Igreja Católica.

[2] No que diz respeito à Cena da Natividade ou presépio vista erigida costumeiramente nas igrejas durante os tempos do Natal e Advento, duas distinções devem ser notadas. Primeiro, este é uma prática católica romana imemorial e antiga (que até mesmo predata o famoso incidente de São Francisco de Assis em 1223 — leia mais [em inglês] sobre a história do presépio aqui), e, segundo, idealmente esta peça não-litúrgica não deveria situar-se dentro do presbitério (embora possa ser colocada numa capela lateral).

Além disso, há frequentemente alguma cerimônia habitual atrelada à cena da manjedoura, como uma procissão pela igreja antes ou depois da Missa do Galo, com o celebrante trazendo uma figura do Divino Infante, e, após deitá-lo solenemente no berço, incensar o Cristo Menino — esta prática em particular é derivada da cerimônia observada no verdadeiro local de nascimento de Nosso Senhor em Belém.

Outro exemplo é uma prática litúrgica de fato (sancionada pela Sagrada Congregação dos Ritos) em que o Divino Menino é colocada sobre o altar em conjunto com a cruz do altar, e é incensado à parte durante a Missa (e.g. antes do Intróito e durante o Ofertório), junto com a cruz do altar.

[3] Mais sobre estes apontamentos pode ser lido nos livros The Liturgical Altar e A Guide for Altar and Sanctuary.

[4] Para mais informação a respeito deste aspecto fascinante sobre um dos dois tipos de latim litúrgico usado na Missa Romana (o outro sendo a Vulgata de São Jerônimo), veja o excelente livro do Dr. Christine Morhmann, Liturgical Latin, Its Origins and Character.

[5] Primeiramente publicado em 1958. Uma versão deste inestimável livro foi impressa pela TAN Books em 1998 sob o título Religious Customs in the Family: The Radiation of the Liturgy into Catholic Homes, e está disponível em Christianbook.com.

[*] (NdT.:) Também conhecida por folha persistente, folha perene ou perenifólia.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

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