segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Missa no rito bracarense
sábado, 18 de setembro de 2010
Missa Papal na Catedral de Westminster
Cardeal Cañizares sobre a Liturgia: Necessitamos de um giro de 180° e de um Novo Movimento Litúrgico
Entrevista dado pelo Cardeal Cañizares ao jornal católico alemão Die Tagespost, por ocasião do 3º aniversário do motu proprio Summorum Pontificum.Três anos após a publicação do Motu Proprio Summorum Pontificum, o Prefeito da Congregação Romana para o Culto Divino faz o balanço geral.Por Regina EinigEminência, o Papa, na carta aos bispos do mundo, falou, no que diz respeito às primeiras conversas antes do Motu Proprio Summorum Pontificum, de alegre aceitação ou de declarada oposição. O clima mudou desde então?O clima permaneceu essencialmente o mesmo. mas eu acredito que um movimento está a caminho. Entende-se bem melhor agora sobre o que era o Motu Proprio. A compreensão da liturgia na tradição da Igreja cresceu. O mesmo é verdade para a hermenêutica da continuidade. Tudo isto beneficiará não somente a aceitação e implementação do motu proprio, mas também enriquecerá a renovação litúrgica e a porá em prática - no sentido de que o espírito da liturgia está vivo novamente.Na França, dois seminários diocesanos formam os seminaristas nas duas formas do Rito Romano. O que pensa deste modelo?Há apenas uma liturgia. Consequentemente as duas formas da celebração do rito romano cabem bem na mesma formação, precisamente porque são uma e a mesma liturgia. É importante notar que a Igreja, por causa da hermenêutica da continuidade, não congela o Missal de João XXIII, mas também não rompeu com ele. A tradição da Igreja também está integrada no desenrolar do Concílio Vaticano Segundo. Portanto, a educação litúrgica para todos deverá estar na linha da Sacrosacntum Concilium. Dadas as riquezas do Rito Romano em sua inteira tradição - o que inclui o Missal de João XXIII e a reforma litúrgica pós-conciliar - ambos não podem ser postos um contra o outro. Eles são expressões da mesma riqueza litúrgica.O senhor compartilha da visão do Bispo de Toulon, que considera ideal formar os seminaristas nas duas formas?O Bispo de Toulon, um homem excelente, deseja visualizar a inteira tradição da Igreja à luz da hermenêutica da continuidade. E desde que a Sacrosanctum Concilium é válida, ele implementa esta formação, única na forma, na qual a celebração é ensinada em ambas as formas do Rito Romano. Os bons frutos em Toulon são evidentes.Que elementos da forma extraordinária podem também ser integrados na forma ordinária do rito?O senso de mistério e de sagrado, e sobretudo o senso do significado do Reino de Deus. Trata-se da grandeza de Deus e do mistério de Deus. O homem realmente é sempre indigno de partilhar do dom divino da liturgia. Precisamos novamente reconhecer o direito de Deus, o "ius divinum", o quanto antes melhor. Hoje em dia a liturgia normalmente aparece como algo a que o homem tem direito e no qual ele age. Isto reflete a secularização de nossa sociedade, enquanto outros aspectos vão sumindo em meio a isso. Isso tem levado a reforma do Concílio Vaticano II a não descobrir sua riqueza e grandeza como esperado.O que o senhor recomenda aos sacerdotes? Por onde deveriam começar?Os padres deveriam preparar-se para a Missa como na forma extraordinária. O mesmo vale para o rito penitencial e a consciência de que somos essencialmente indignos da celebração, mas colocando nossa confiança na misericórdia e no perdão de Deus e assim aproximarmo-nos da presença de Deus na celebração. Um tesouro que nós não devemos esquecer é o ofertório como descrito nos textos das orações [na forma extraordinária], que expressam uma atitude profunda. Deveríamos interiorizá-la.Na sua carta aos bispos o Santo Padre sublinhou que o seu objetivo com o motu proprio é a reconciliação interna da Igreja. O que o senhor pensa sobre o debate das ordenações ilícitas da Fraternidade São Pio X?As ordenações são um elemento incisivo num momento de graves decisões. Teria sido desejável adiar as ordenações, porque se um dia há uma oportunidade real para uma abertura e uma possibilidade de acordo, esta oportunidade pode ser dificultada pelo fato de as ordenações [terem sido realziadas].Em relação ao Dia Mundial da Juventude em Madri, em 2011: o que o senhor recomenda aos jovens têm curiosidades acerca da Missa antiga?Os jovens devem ser educados no espírito da liturgia. Seria um equívoco comprometê-los com uma ou outra forma de um jeito polêmico. Eles precisam ser introduzidos à adoração e ao espírito do mistério. Louvor e ação de graças deveriam ser ensinados a eles - e tudo mais que constituiu a celebração litúrgica da Igreja ao longo das gerações. Hoje os jovens precisam sobretudo de educação litúrgica, não importando a forma que defendam particularmente. Esta é a grande mudança para o futuro próximo, também para a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Hoje precisamos de um novo movimento litúrgico, como houve nos séc. XIX e XX. E isto não é sobre uma ou outra forma, mas sobre a liturgia como ela é.E como pode este novo movimento litúrgico se tornar uma realidade?Precisamos de uma nova introdução à Cristandade. Também as crianças e os jovens. Uma introdução à liturgia não significa apenas saber sobre a celebração, embora, é claro, isto seja indispensável do ponto de vista doutrinário e teologal. Os jovens e as crianças deveriam participar de liturgias celebradas com grande dignidade, as quais devem ser inteiramente permeadas do mistério de Deus no qual cada um se entende incluído. Participação ativa não significa fazer algo, mas adentrar o culto e o silêncio, o ouvir e também a prece de súplica e tudo que realmente constitui a liturgia. Enquanto isso não acontecer, não haverá renovação litúrgica. Temos que dar um giro de 180°. Um ministério para a juventude deveria ser um lugar onde toma lugar um encontro com o Cristo vivo na Igreja. Onde Jesus Cristo aparece como alguém de ontem, não é possível haver qualquer educação litúrgica ou participação ativa. Enquanto a consciência do Cristo vivo não despertar novamente, nada acontecerá da tão esperada renovação.
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Solene Coroação da Virgem Maria
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Obedecer às rubricas é rubricismo?
Para o melhor desempenho de toda a liturgia, principalmente da Santa Missa, culto, como sabemos, por excelência, é mister que haja uma regulamentação, uma normativa. Por isso, a Igreja a regula por uma série de normas e de rubricas – as partes escritas em vermelho, em rubro, nos livros litúrgicos, e que indicam o que os ministros devem fazer.
Quatro poderiam ser os motivos interiores para se obedecer às rubricas e outras normas litúrgicas: para simbolizar melhor o que ocorre na celebração, mostrando a identidade entre o sinal e o que ele realiza ou significa; para propiciar ambiente de sacralidade, favorecendo a piedade dos participantes; para transmitir a riqueza doutrinária da Igreja através de seus ritos seculares; e, enfim, para preservar a unidade substancial de cada rito, no caso o romano.
A Santa Missa, por exemplo, não é um símbolo do sacrifício, senão o próprio tornado real e novamente presente. Entretanto, ainda que não seja símbolo, ela é, pelo menos, cercada de símbolos que existem para melhor refletir a realidade do que ocorre. Os símbolos não são essenciais, substanciais, todavia, por sua observância conserva-se o que eles representam. O sacrifício – no caso da Missa – e outras idéias próprias – nos demais atos litúrgicos extra Missam – precisam ser demonstrados aos nossos olhos, eis que, mesmo sendo reais, não são naturalmente visíveis; assim, revestindo-se de símbolos, captamos o que está por trás dos sinais.
“Na vida humana, sinais e símbolos ocupam um lugar importante. Sendo o homem um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual, exprime e percebe as realidades espirituais por meio de sinais e de símbolos materiais. Como ser social, o homem precisa de sinais e de símbolos para comunicar-se com os outros, pela linguagem, por gestos, por ações. Vale o mesmo na sua relação com Deus.”[i]
Dessa forma, a Igreja estabelece as normas litúrgicas a serem observadas, pois, em sua sabedoria, considera que elas apresentam os símbolos que melhor refletem a realidade do que está ocorrendo na liturgia. Por exemplo, se ordena que se use casula, é por saber a Igreja que o que ela simboliza – a Cruz de Cristo –, é bastante catequético para lembrar os fiéis da realidade do sacrifício de Nosso Senhor, oferecido na Cruz do Calvário; se prescreve determinada oração ou gesto é por entender que nos auxiliam a penetrar no centro do mistério celebrado.
“A catequese está intrinsecamente ligada a toda ação litúrgica e sacramental, pois é nos sacramentos, e sobretudo na Eucaristia, que Cristo Jesus age em plenitude para a transformação dos homens.”[ii]
Deixar as normas litúrgicas de lado, além de grave desobediência à disciplina da Igreja, é apresentar-se insensível ao poder dos símbolos prescritos pela bi-milenar sabedoria da Esposa de Cristo. Tais símbolos não devem ser trocados por outros senão quando a autoridade da Santa Igreja o determinar, como ensinaremos a seguir.
Convém lembrar a orientação da Santa Sé, através da Sagrada Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, publicada na Instrução Inaestimabile Donum:
“Os fiéis tem direito a uma Liturgia verdadeira, o que significa a Liturgia desejada e estabelecida pela Igreja, a qual de fato, tem indicado adaptações onde podem ser feitas a pedido de requerimentos pastorais em diferentes lugares ou por diferentes grupos de pessoas. Excessivas experimentações, mudanças e certas criatividades, confundem os fiéis. O uso de textos não aprovados significa a perda da necessária conexão entre a lex orandi e a lex credendi.”[iii]
Sobre a lei litúrgica, nos diz o conceituado autor, Mons. Peter Elliott:
“... o propósito desta lei é encorajar e promover o bem-estar espiritual, a participação e a unidade dos fiéis de Cristo. Ela também existe para a santificação e proteção do clero, que celebra os ritos da Igreja no coração de seu ministério aos outros.”[iv]
As normas do rito romano servem não para engessar o celebrante, mas para, quando as seguimos fielmente, conforme nos ordena o Concílio Vaticano II, na sua Constituição Sacrosanctum Concilium, melhor apresentarmos ao povo de Deus que o que está ocorrendo por meio de cada cerimônia. Temos de seguir as rubricas! Por sua exterioridade, não nos afastam do interior: pelo contrário, como o homem é um ser no qual estão indissoluvelmente unidos alma e corpo, sua expressão de louvor e adoração ao Criador deve proceder do interior e do exterior também.
Aos que argumentam que o culto prestado na Santa Missa deve ser mais interior do que exterior, o Papa Pio XII, em sua magistral Encíclica sobre a liturgia, mostra o engano de tal afirmação, sustentando que o exterior deve refletir o interior, sob pena de uma certa esquizofrenia espiritual: “A adoração prestada pela Igreja a Deus deve ser (...) tanto interior quanto exterior.”[v]
A observância das normas litúrgicas demonstra a obediência do sacerdote – sinal claro da humildade requerida de quem se apresenta diante de Deus para oferecer um sacrifício, no caso da Missa, ou celebrar Seu Nome, nos outros atos de culto –, seu sentimento de unidade para com a Igreja e de pertença a uma realidade espiritual maior do que abarcam suas simples opiniões, traduz uma piedade rica e bela, e torna, como afirmamos, mais visível aquilo que é invisível aos nossos olhos.
[i] Catecismo da Igreja Católica, 1146
[ii] Sua Santidade, o Papa João Paulo II. Exortação Apostólica Catechesi Tradendae, 23
[iii] Sagrada Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Instrução Inaestimabile Donum, Introdução
[iv] ELLIOTT, Peter. Liturgical Question Box. San Francisco: Ignatius Press, 1998, p. 14
[v] Sua Santidade, o Papa Pio XII. Encíclica Mediator Dei, 23