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terça-feira, 6 de agosto de 2013

Cardeal Burke: a Liturgia "não é invenção humana, mas um presente de Deus para nós"

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Fonte: Zenit | Tradução: Equipe Christo Nihil Praeponere
Em entrevista exclusiva a Zenit, o Cardeal Burke fala da importância de estudar a liturgia, da sua relação com a causa pró-vida e dos abusos litúrgicos. 
Os abusos litúrgicos que se seguiram às reformas do Concílio Vaticano II estão "estreitamente relacionados" com uma grande porção de corrupção moral que existe no mundo hoje, diz o cardeal Raymond Leo Burke.
Em uma entrevista exclusiva a Zenit nos bastidores de "Sacra Liturgia 2013", uma grande conferência internacional sobre liturgia ocorrida em Roma no final de junho, o norte-americano mais influente do Vaticano diz que liturgias pobres também levaram a "uma leviandade na catequese" que tem "impactado" e deixado gerações de católicos mal preparadas para lidar com os desafios de hoje.
Em uma ampla discussão, o Cardeal Burke, que é Prefeito do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica, também explica a importância da lei litúrgica, como o Papa Francisco aborda a liturgia e porque a sagrada liturgia é vital para a nova evangelização.
ZENIT: Eminência, quais eram suas esperanças para essa conferência?
Cardeal Burke: Minha esperança para a conferência era um retorno ao ensinamento do Concílio Ecumênico Vaticano II sobre a sagrada liturgia. Além disso, um aprofundamento e apreciação da continuidade do ensinamento praticado na sagrada liturgia durante a história da Igreja, e que também se reflete no Concílio Ecumênico Vaticano II – algo que foi obscurecido depois do Concílio. Eu acredito que, em grande parte, isso foi alcançado.
ZENIT: Nós estamos saindo desse período agora?
Cardeal Burke: Sim, já o Papa Paulo VI, depois do Concílio, de uma maneira bem intensa, e depois João Paulo II e Papa Bento XVI, trabalharam diligentemente para restaurar a verdadeira natureza da sagrada liturgia como o presente de adoração dado por nós a Deus e que nós prestamos a Deus da maneira que Ele nos ensina a adorar. Então, não é invenção humana, mas um presente de Deus para nós.
ZENIT: Como é importante um bom entendimento da liturgia na Igreja de hoje. Como isso pode ajudar a evangelização?
Cardeal Burke: Para mim, é fundamental. É a mais importante área da catequese: entender a adoração devida a Deus. Os três primeiros mandamentos do Decálogo têm a ver com o relacionamento correto com Deus, especialmente no que diz respeito à adoração. É só quando nós entendemos nossa relação com Deus na oferta da adoração que nós também entendemos a ordem correta de todos os outros relacionamentos que nós temos. Como o Papa Bento XVI disse em seu belo magistério sobre a sagrada liturgia, o qual ele expressou com tanta frequência, consiste nessa conexão entre adoração e conduta correta, adoração e lei, adoração e disciplina.
ZENIT: Alguns argumentam que a liturgia tem mais a ver com estética, e não é tão importante quanto, vamos dizer, boas obras feitas com fé. Qual a sua visão desse argumento?
Cardeal Burke: É um erro de concepção comum. Primeiro, a liturgia tem a ver com Cristo. É Cristo vivo em Sua Igreja, Cristo glorioso vindo ao nosso meio e agindo em nós por meio dos sinais sacramentais, para nos dar o presente da vida eterna para nos salvarmos. É a fonte de qualquer obra verdadeiramente caridosa que realizamos, qualquer boa obra que fazemos. Então, a pessoa cujo coração é cheio de caridade e quer fazer boas obras vai, como Madre Teresa, oferecer seu primeiro propósito à adoração de Deus, a fim de que, quando ele for oferecer caridade para as pessoas pobres ou necessitadas, seja no nível de Deus, e não em um nível humano.
ZENIT: Alguns também dizem que estar preocupado com as normas litúrgicas é ser extremado legalista, que é um sufocamento do espírito. Como uma pessoa pode responder isso? Por que devemos nos preocupar com as normas litúrgicas?
Cardeal Burke: A lei litúrgica nos disciplina, a fim de que tenhamos a liberdade de adorar a Deus; de outro modo, somos sequestrados – nós somos as vítimas ou escravos ou das nossas ideias individuais, ideias relativas disto ou daquilo, ou da comunidade ou de qualquer outra coisa. Mas a lei litúrgica salvaguarda a objetividade da adoração divina e prepara esse espaço entre nós, essa liberdade de adorar a Deus como Ele quer, para que, então, estejamos certos de não estarmos adorando a nós mesmos ou, ao mesmo tempo, como diz Aquinate, falsificando de algum modo o culto divino.
ZENIT: Ela oferece uma espécie de modelo?
Cardeal Burke: Exatamente, é o que disciplina faz em todo aspecto de nossas vidas. A menos que sejamos disciplinados, então não somos livres.
ZENIT: Como um bispo diocesano nos Estados Unidos, qual o estado em que o senhor encontrou a liturgia nas paróquias das quais o senhor esteve encarregado de cuidar? Quais são, na sua visão, as prioridades para a renovação litúrgica na vida diocesana hoje?
Cardeal Burke: Eu encontrei, é claro, vários aspectos bonitos – em ambas as dioceses nas quais servi –, como um forte senso de participação da parte dos fiéis. O que eu também encontrei foram algumas sombras, como o Papa João Paulo II as chamava: a perda da fé na Eucaristia, a perda da devoção eucarística e certos abusos litúrgicos. E, como bispo diocesano, eu precisava enfrentá-los e eu fiz o melhor que pude. Mas, ao enfrentá-los, você sempre tenta ajudar tanto o padre quanto os fiéis a entenderem as razões profundas para a disciplina da Igreja, as razões pelas quais certo abuso não somente não ajuda no culto divino, como, de fato, o bloqueia e o corrompe.
ZENIT: É dito que amar a sagrada liturgia e ser pró-vida andam juntos, que aqueles que adoram corretamente são mais dados a querer trazer crianças para o mundo. Você poderia explicar por que é assim?
Cardeal Burke: É na sagrada liturgia, acima de tudo, e particularmente na Sagrada Eucaristia, que nós olhamos para o amor que Deus tem por cada vida humana sem exceção, sem limites, começando pelo primeiro momento da concepção, porque Cristo derramou sua vida, como ele disse, por todos os homens. E lembre-se que Ele nos ensina que tudo o que tivermos feito ao menor dos nossos irmãos, nós fazemos diretamente a Ele. Em outras palavras, Ele se identifica a si mesmo no sacrifício eucarístico com cada vida humana. Então, se por um lado, a Eucaristia inspira uma grande reverência, respeito e cuidado pela vida humana, ao mesmo tempo inspira uma alegria entre aqueles que são casados de procriar, de cooperar com Deus em trazer uma nova vida humana a este mundo.
ZENIT: "Sacra Liturgia" foi sobre celebração litúrgica, mas também formação. Qual a base de formação litúrgica que precisamos em nossas paróquias, dioceses e particularmente em nossos seminários?
Cardeal Burke: A primeira importante lição que precisa ser ensinada é a de que a sagrada liturgia é uma expressão do direito divino de receber de nós o culto que lhe é devido, e que emana de quem nós somos. Nós somos criaturas de Deus e, então, o culto divino, de um modo bem particular, expressa ao mesmo tempo a infinita majestade de Deus e também nossa dignidade como as únicas criaturas na terra capazes de prestar-lhe culto, de, em outras palavras, elevar a Ele nossas mentes e corações em louvor e adoração. Essa seria a primeira lição. Depois, estudar com atenção como os ritos litúrgicos se desenvolveram ao longo dos séculos e não ver a história da Igreja como uma espécie de corrupção daqueles ritos litúrgicos. Neste sentido, a Igreja, no decorrer do tempo, chegou a um entendimento cada vez mais profundo da sagrada liturgia e expressou isso de várias formas, através das vestes sagradas, dos vasos sagrados, da arquitetura sacra – até o cuidado com os paramentos utilizados na Santa Missa. Todas essas são expressões da realidade litúrgica e devem ser cuidadosamente estudadas, e, é claro, então, deve-se estudar a relação da liturgia com os outros aspectos das nossas vidas.
ZENIT: Você é conhecido por celebrar a Forma Extraordinária do Rito Romano. Por que o Papa Bento XVI tornou-a livremente disponível e que papel isso tem na Igreja do século XXI?
Cardeal Burke: O que o Papa Bento XVI viu e experimentou, também por aqueles que vinham a ele, e que estavam muito ligados ao que chamamos hoje de Forma Extraordinária – a Missa Tradicional – foi que, nas reformas introduzidas depois do Concílio, ocorreu uma incompreensão fundamental: nomeadamente, as reformas foram feitas com a ideia de que havia uma ruptura, de que o modo como a Missa era celebrada até o tempo do Concílio era, de alguma maneira, radicalmente defeituosa e que deveria haver uma mudança violenta, uma redução nos ritos litúrgicos e até na linguagem usada, em todos os aspectos. Então, a fim de restabelecer a continuidade, o Santo Padre deu ampla possibilidade para a celebração dos ritos sagrados tal como eram celebrados até 1962, e então expressou a esperança de que através destas duas formas do mesmo rito – é tudo o mesmo rito romano, pode ser diferente, mas é a mesma Missa, o mesmo Sacramento da Penitência e assim por diante – poderia haver um mútuo enriquecimento. E essa continuidade poderia ser mais perfeitamente expressa no que alguns chamaram de "reforma da reforma".
ZENIT: Papa Francisco é uma pessoa diferente de Bento XVI em vários aspectos, mas é difícil de acreditar que há diferenças substanciais entre eles na importância da sagrada liturgia. Existem algumas diferenças?
Cardeal Burke: Eu não vejo nada disso. O Santo Padre claramente não teve a oportunidade de ensinar com autoridade sobre a sagrada liturgia, mas nas coisas que ele disse sobre a sagrada liturgia eu vejo uma perfeita continuidade com o Papa Bento XVI e com sua disciplina, e é isso o que o Papa Francisco está fazendo.
ZENIT: Essa conferência está refletindo sobre os 50 anos desde a abertura do Concílio Vaticano II, e, há 50 anos, em dezembro, essa constituição sobre a sagrada liturgia foi promulgada. Você já mencionou como a renovação litúrgica não foi como o Concílio desejava, mas como você vê o progresso das coisas no futuro? O que você prevê, especialmente entre os jovens?
Cardeal Burke: Os jovens estão voltando atrás agora e estudando ambos os textos do Concílio Ecumênico Vaticano II com os seus sérios textos sobre teologia litúrgica que permanecem válidos ainda hoje. Eles estão estudando os ritos como eles eram celebrados, se esforçando para entender o significado e vários elementos do dito e há um grande entusiasmo e interesse nisso. Tudo isso, eu acredito, é direcionado a uma experiência mais intensa da presença de Deus conosco na sagrada liturgia. Esse elemento transcendente foi mais tristemente perdido quando a reforma após o Concílio foi, por assim dizer, enviesada e manipulada para outros propósitos – aquele senso de transcendência da ação de Cristo por meio dos sacramentos.
ZENIT: Isso reflete a perda do sagrado na sociedade como um todo?
Cardeal Burke: Reflete, de fato. Para mim, não há dúvidas de que os abusos na sagrada liturgia, a redução da sagrada liturgia a uma espécie de atividade humana, está estreitamente relacionada a muita corrupção moral e a uma leviandade na catequese que tem impactado e deixado gerações de católicos mal preparadas para lidar com os desafios do nosso tempo. Você pode ver isso em toda a gama da vida da Igreja.
ZENIT: O Papa Bento disse certa vez que as crises que vemos na sociedade hoje podem ser associadas aos problemas na liturgia.
Cardeal Burke: Sim, ele estava convencido disso e eu posso dizer que também estou. Era, é claro, mais importante que ele estivesse convencido disso, mas eu acredito que ele estava absolutamente correto.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Espiritualidade pagã e espiritualidade cristã

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Todos nós conhecemos as críticas de Nosso Senhor Jesus Cristo aos fariseus por tratarem muitas vezes a observância da Lei cerimonial do Antigo Testamento de forma ritualista, supervalorizando o exterior e descuidando do interior. Creio eu que essa espiritualidade exterior possa ter sido influenciada pelo paganismo. Mas para isso, é necessário retrocedermos um pouco...

Em finais do século V a. C., o profeta Malaquias anunciava a indignação de Deus com relação ao desleixo dos sacerdotes judeus com o culto do Templo de Jerusalém (ofereciam pães profanados, animais coxos, enfermos ou com ossos quebrados, contrariando as prescrições levíticas do Pentateuco mosaico).  Logo após a repreensão, o Senhor anuncia, pela boca de Malaquias, uma nova e pura oblação. Os Padres da Igreja interpretaram essa oblação pura anunciada (a ser oferecida do nascer ao por do Sol em todo o lugar) como a Celebração Eucarística, a Santa Missa. Não é nosso objetivo nesse momento analisar a superioridade e plenitude do Sacrifício eucarístico da Nova Aliança com os sacrifícios da Lei antiga. O erro condenado por Deus na Profecia de Malaquias refere-se ao desleixo nos aspectos exteriores do culto, que muitas vezes torna-se reflexo do desleixo interior ou de uma compreensão errada da Misericórdia Divina e do dever de se fazer as coisas com empenho. Esse delito recorda-nos as banais oferendas de frutos de Caim, diferentes de Abel que buscava oferecer a Deus os melhores cordeiros de seu rebanho. A Deus devemos oferecer o que temos de melhor, sendo as pequenas coisas e as coisas exteriores reflexos de uma adoração interior.


Nos tempos de Jesus, ao que parece, o desleixo litúrgico havia decaído, sobrando talvez como centelha deste fenômeno apenas o comércio e câmbio monetário dentro dos átrios do Templo de Jerusalém. Flávio Josefo relata como o povo e os sacerdotes conservavam o silêncio durante os sacrifícios. No mundo pagão sob o Império de Roma, as coisas não pareciam estar tão diferentes: na passagem do séc. I a.C. para o I d.C. Otaviano César Augusto havia reformado a liturgia dos sacrifícios, restaurando os usos da tradição do povo romano, apoiando-se no caráter ritualista. O culto dos gregos e romanos (e de muitos povos idólatras com quem os judeus tiveram contato no Antigo Testamento) era ritualista, ou seja, baseava-se unicamente na perfeita execução dos elementos exteriores, dos ritos, nos seus mínimos detalhes (um único erro invalidava o sacrifício, tornando necessária sua completa repetição desde o início). Para isso é necessário que entendamos que na religião greco-romana a relação do home com a divindade era em sua essência uma relação de troca: o homem busacava agradar os deuses com sacrifícios, oferendas, libações, jogos, etc em troca de favores. A moral e as normas de conduta não integravam a religião, tendo sido objeto de reflexão dos filósofos e suas escolas. A religião era apenas mais um dos diversos departamentos da vida, tendo um aspecto doméstico (os deuses e ancestrais protetores da família e da casa) e o público (os deuses do universo, responsáveis pelo funcionamento do universo e de vários aspectos da vida). A religião pública era considerada um dos componentes das autoridades e magistrados, que legislavam sobre os ritos e sacrifícios, além de auxiliar materialmente a construção e preservação dos templos, santuários e altares públicos.

 
A mentalidade religiosa pagã pode ter penetrado com maior força entre os judeus sob o reinado de Herodes, o Grande. Herodes era filho de mãe judia e pai idumeu (os idumeus eram uma tribo árabe que havia sido submetida ao judaísmo sob a dinastia dos reis Asomneus) e parece não ter sido extamanete o que chamaríamos de um judeu convicto: quando esteve em Roma e recebeu a coroa da Judeia das mãos do triúnviro romano Marco Antônio, Herodes subiu ao templo do Monte Capitólio onde ofereceu um sacrifício a Júpiter. Embora Herodes tenha eliminado grande parte da aristocracia judaica que compunha o Sinédrio, conseguiu controlar o cargo de Sumo Sacerdote do Templo judaico o que fizeram também depois os governadores nomeados por Roma. Assim, a aristocracia do Templo era bastante influenciada pelos pagãos. Por outro lado, os fariseus buscavam acentuar a identidade judaica, pregando uma observância rigorista da Lei mosaica. Trata-se, naturalmente, do segundo erro extremo concernente ao culto: a supervalorização dos elementos exteriores em detrimento da vida interior. Opondo-se a isso, Nosso Senhor fala da verdadeira adoração como sendo "em espírito e verdade". A adoração deve refletir uma vida de santidade. 

A Lei mosaica era composta de dois elementos: prescrições morais (princípios de conduta com relação a Deus e ao próximo, do qual o centro é o Decálogo, os 10 mandamentos) e prescrições cerimoniais (alguns costumes, hábitos e formas de celebrar o Culto). Contudo, o historiador Paul Veyne aponta que o Cristianismo fora recebido no mundo romano com um certo ar de novidade ao combinar uma religião (relação homem-Deus, culto) com uma filosofia de vida (moral, normas de conduta). Tal fato pode nos levar a corroborar a veracidade das críticas de Jesus aos fariseus, corrente predominante nas diversas comunidades judaicas então espalhadas pelo Império. Ao mundo romano, a observância farisaica da Lei pode ter sido visto de forma muito semelhante a sua forma ritualista de encarar a religião. Basta lembrarmos que os Césares ordenavam oferecer em seu nome ocasionalmente sacrifícios no Templo de Jerusalém.

A liturgia deve estar unida a nossa vida: os ritos exteriores devem ser executados com amor e cuidado, mas sendo esse amor e cuidado um gesto de amor e carinho para com Deus, tal como um filho que prepara com toda dedicação um presente para seus pais, ainda que dentro de suas limitações. Tal como as nossas boas obras obras devem ser reflexo de uma Fé reta, a celebração da Sagrada Liturgia da Igreja deve ser um reflexo de uma vida santa de seus membros. No Ofertório da Missa, oferecemos nossos trabalhos, obras, orações, sacrifícios, afetos, intenções e nosso ser por inteiro juntamente com o Sacrifício de Cristo que se torna presente debaixo das aparências do Pão e do Vinho eucarístico
s. São Josemaría Escrivá escreveu que deveríamos amar a Santa Missa como sendo o centro de nosso dia, onde oferecêssemos nosso trabalho, apostolado, obras, intenções e ações de graças e onde nos muniríamos das graças necessárias para continuar nossos afazeres e dar testemunho cristão durante o dia, de forma que o dia tornasse um prolongamento da Missa celebrada. Tal pensamento vale igualmente para os que assistem missa diária quanto para os que assistem somenta a missa dominical.


Porventura não agem às vezes muitos cristãos como os maus sacerdotes do Antigo Testamento, desprezando o aspecto exterior do culto? Não agem outros no extremo contrário, achando que rendas e brocados e o barroco em larga escala converterão o mundo? Em nossas orações e participação da Missa não agimos muitas vezes com uma mentalidade de troca? Não estão em muitas almas as devoções corrompidas por essa barganha pagã? Que façamos essas perguntas em nosso exame de consciência e possamos cada vez mais ao participarmos da Liturgia unirmo-nos às intenções de toda a Igreja, buscando como Jesus no jardim das oliveiras aquele desejo de que "faça-se a Tua vontade e não a minha". E que esse participação ativa seja também frutuosa, refletindo em uma santificação de todas as nossas atividades cotidianas e de nossa relação com o próximo.


quinta-feira, 21 de março de 2013

Pobre Bento XVI

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 O jornalista Marcio Antonio Campos, editor de Opinião e blogueiro de ciência e religião da Gazeta do Povo, analisa, com propriedade, a abordagem da imprensa aos primeiros dias de Pontificado do Papa Francisco, contrapondo-o a seu antecessor.

"A simplicidade e a humildade serão, de fato, características marcantes do pontificado do papa Francisco. Praticamente toda reportagem faz questão de ressaltar esses pontos, que são, realmente, elogiáveis. No entanto, a maior parte dos relatos da imprensa também faz questão de estabelecer um antagonismo entre Francisco e seu antecessor, Bento XVI.[...]"


domingo, 17 de março de 2013

Cardeal Bergoglio sobre a Eucaristia

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O atual Papa Francisco, quando Cardeal, gravou vários programas para a rede católica de Televisão EWTN. Nesse vídeo acima podemos ver sua piedade eucarística em uma curta reflexão aonde o Cardeal fala do desejo que cultivava de receber o Senhor na Eucaristia pela manhã e como fomentava seu louvor e ação de Graças após a Comunhão no longo trajeto de ônibus em seus tempos de seminarista. 

Lembremo-nos de que a Eucaristia pode nos fortalecer ao longo do dia e que comungando com devoção podemos encontrar o Senhor nas tarefas quotidianas sem cair numa mera rotina enfadonha. A mensagem é, naturalmente, um incentivo a salutar prática da Missa e comunhão diária.

sexta-feira, 15 de março de 2013

O Papa Francisco e a liturgia

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Pululam na internet ataques ao Papa Francisco, vindos de radicais tradicionalistas ao Papa, tanto quanto de progressistas e adeptos da teologia da libertação, o que faz com que a idéia do Carlos Ramalhete de que ambos os grupos sejam de modernistas - os radtrads seriam "modernistas de direita" - seja bastante crível.

De um lado, podemos responder às críticas dos radtrads, sem caridade e sem reverência para com o Sumo Pontífice, com breves apontamentos:

Em primeiro lugar, como católicos temos que AMAR o Papa, não necessariamente "ir com a cara dele"... Eu vou, gosto de Sua Santidade, mas não vejo problema em alguém, com a devida reverência, estar mais apreensivo. Além disso, é o Papa que parece certo para o momento atual: com aquele sorriso e a postura de servo, de humilde, como é que os gayzistas, os midiáticos e os pró-aborto vão atacar? Até atacam, mas só os mais raivosos... Aquele "católico" que acredita em coisas liberais, que não gosta "do nazista Ratzinger" fica desarmado com a imagem que Francisco passa.

De um lado os TLs e os radtrads criticando o Papa. De outro, os ingênuos achando tudo uma maravilha porque o Espírito Santo escolhe de modo infalível o Sumo Pontífice - sem se atentar que são pessoas os Cardeais e o Papa, com suas opiniões, seus defeitos, suas virtudes.

E nós no meio da tempestade, elogiando as coisas bonitas do novo Papa, a importância dele na nova evangelização, na DSI e na melhora na imagem da Igreja, e percebendo também, infelizmente, que, se por um lado, a "tara pelas rendinhas" é uma infantilidade, por outro, o cuidado "ratzingeriano" e "tridentino" para com a liturgia é algo importante e que, ao que parece, pelo seu histórico como Arcebispo de Buenos Aires, Francisco não leva tão em conta assim.

De qualquer maneira, um Papa não tem por função ser santo canonizado ou altamente intelectual, mas governar a Igreja. Quem governe. Se não for o Papa dos sonhos de alguns, como Scola, Ouillet, O'Mahley, Ranjith, Burke, Erdo, etc, ainda é o Papa. Pode não fazer o que achamos que deveria fazer, mas governará a Igreja, e penso que acertará em vários pontos. E ao Papa amamos, não necessariamente temos que virar seus fãs.

Enfim, para fechar parênteses, indico três textos que tratam dessa onda de desrespeito ao Papa, vinda de setores tradicionalistas extremos, nos blogs:




Passemos ao tema da liturgia.

Considero que, realmente, em Bento XVI, tivemos um Papa que não apenas celebrava a liturgia conforme o Missal Romano - como Paulo VI, João Paulo I e João Paulo II -, mas que deu um "salto" em direção à tradição do rito romano. Bento não se contentou em simplesmente observar as normas e fazer o mínimo. Ele explorou vários aspectos da sacralidade da liturgia romana, inserindo o Novus Ordo na grande tradição ocidental que nos legou o rito de São Pio V.

Bento XVI promulgou o Motu Proprio Summorum Pontificum, liberando o uso do Missal de 1962 para todos os fiéis e sacerdotes, sem necessidade de permissão do Bispo.

Bento XVI criou os Ordinariatos Pessoais para atrair para a Igreja os anglicanos tradicionais e conservadores, que possuem um amor muito grande à liturgia reverente, celebram em latim, versus Deum, e praticam ritos medievais ingleses. Isso muito contribuirá para o enriquecimento litúrgico do próprio rito romano atual.

Bento XVI revogou as excomunhões dos quatro Bispos sagrados por D. Lefebvre e que constituem-se na liderança da Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Ao mesmo tempo, empenhou-se nas negociações doutrinárias e litúrgicas para os atrair à plena comunhão com Roma, o que reforçaria em muito o movimento pelo resgate da sacralidade litúrgica, do correto entendimento teológico e espiritual do que é a Missa, e promoveria o rito antigo.

Bento XVI celebrou, em algumas ocasiões, a Missa no rito novo versus Deum, "de costas" ao povo, dando exemplo.

Bento XVI instituiu o uso dos candelabros e do crucifixo no altar, chamado de "arranjo beneditino", de tal forma que, mesmo versus populum, Cristo ficasse no centro da celebração da Missa.

Bento XVI passou a distribuir a Comunhão aos fiéis de joelhos e exclusivamente na boca.

Bento XVI continuou com as grandes catequeses de João Paulo II sobre a obediência às normas litúrgicas e foi além: desenvolveu a sua teologia da liturgia, da época em que era Cardeal, e impulsionou o "novo movimento litúrgico".

Bento XVI priorizou a Missa em latim, mesmo no rito novo, e não em italiano.

Bento XVI escolheu paramentos mais nobres, usou várias vezes a casula romana, e as casulas góticas eram mais cuidadas, mais dignas.

Bento XVI incentivou o canto gregoriano e a polifonia sacra.

Bento XVI elegeu Mons. Guido Marini como seu mestre de cerimônias.

E Francisco?

Bem, o então Cardeal Bergoglio não era um adepto da chamada "reforma da reforma". No mais das vezes, celebrava dignamente a Santa Missa, obedecendo às normas do Missal, sempre com casula, usando incenso, sendo sacral, mas nada muito "extraordinário", contendo-se com o mínimo. Em alguns episódios, deu algumas derrapadas, como a Missa das Crianças que se encontra facilmente na internet, ou o lava-pés de estola diaconal e com mulheres. Parece que não se acertou muito bem com a forma extraordinária em Buenos Aires, ainda que a tenha autorizado em tempo recorde após o Summorum Pontificum.

Em sua primeira aparição como Papa, recusou trajar vestes corais, usando apenas a batina. Envergou, por isso, a estola apenas para dar a bênção.

Já na Missa Pro Ecclesia, no encerramento do Ordo Rituum Conclavis, Sua Santidade deixou de lado a bela tradição resgatada por Bento XVI em usar o altar-mor, "grudado" na parede, de modo versus Deum, e colocou um segundo altar em que pudesse se enfiar atrás para celebrar versus populum, o que não se pode deixar de, respeitosamente, lamentar. Na mesma Missa, dispensou a mitra e o báculo para fazer a homilia - uma belíssima e profunda homilia, aliás! -, e pregou do ambão e não da cátedra, deixando de manifestar, assim, símbolos profundos de sua autoridade primacial. Entretanto, na mesma Missa, usou a férula de Bento XVI, uma casula com conchas - símbolo muito caro a Bento - houve canto gregoriano, polifonia sacra, e a celebração foi em latim, não em italiano: pontos positivos!



Se essas posturas forem identificações de um Papado que, embora celebre de acordo com as normas, não se empenhem na "reforma da reforma" ou em uma especial promoção da liturgia, seria algo triste, temos de reconhecer.

Todavia, é triste, mas não um pecado, não motivo para rasgar as vestes e profetizar o Apocalipse, como alguns têm feito. A função do Papa não é somente promover a liturgia. A liturgia é uma missão importantíssima, mas não é única, e outras mais urgentes podem ser levadas a termo pelo Papa Francisco. É ele quem comanda a barca de Pedro, não nós. Se ele, ao celebrar a liturgia sem aquele "ethos" ratzingeriano, cumprir o mínimo, mas trabalhar bem em outros campos - o combate ao laicismo e à cultura da morte, como fez de modo brilhante na Argentina, ou a reforma da Cúria, como se espera que o faça -, teremos um bom e até um excelente Papa.
Aliás, a limpeza já começou: Papa proíbe cardeal acusado de encobrir 250 casos de pedofilia de frequentar basílica 

Outra notícia interessante, desta vez, afeita ao tema da liturgia é a retomada de um costume que foi quebrado faz alguns anos: o de criar Cardeal ao secretário do Conclave imediatamente após a eleição do Papa, dando-lhe o solidéu vermelho do agora Sumo Pontífice!

Bento foi um líder do movimento litúrgico contemporâneo, e Francisco talvez não seja. E daí? Continua sendo o Romano Pontífice e terá outros acertos, será motivo para outras alegrias.

O New Liturgical Movement traz um bom artigo do Shawn Tribe sobre isso.  Em suma, Tribe diz que é bom ter as liturgias do Papa como modelo a seguir, porém não é isso essencial. Vibramos com as Missas de Bento XVI não por serem "Missa do Papa", e sim porque, enquanto Papa, aplicou o que pensava em termos de liturgia: tradição, sacralidade, diálogo entre o rito novo e o antigo, promoção da Missa tridentina, latim, gregoriano etc. E outros sacerdotes, se o Papa Francisco não o fizer, podem e devem continuar fazendo em suas paróquias, em suas dioceses, em seus institutos, em seus movimentos, essa aplicação da "hermenêutica da continuidade" nos ritos sagrados.

Temos um novo Papa. Mas o Magistério de Bento XVI não foi para o lixo. Até porque é o Magistério da Igreja, não de Bento XVI. E os pensamentos do Cardeal Ratzinger sobre o tema, em que pese não serem Magistério, são profundos o suficiente para que possa se manter vivo e influente o novo movimento litúrgico, no qual o Salvem a Liturgia se enquadra e ao qual presta um relevante serviço no Brasil, digamos sem falsa modéstia. A elevação de Ratzinger ao Papado fez com que todos descobrissem o tesouro de seus escritos sobre a liturgia anteriores ao assumir a Sé Petrina.

Não esmoreçamos. A defesa da sagrada liturgia encontra no Papa Francisco seu líder, como Sumo Pontífice, ainda que não como principal impulsionador como nos tempos de Bento. Ainda assim, falar em retrocesso ou lamentar, sem motivo, que "tudo está perdido" em termos de liturgia, é exagero.

Podemos, ademais, nos surpreender positivamente.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Testemunho sobre a adoção do "versus Deum" na forma ordinária e outros aspectos da reforma da reforma, pelo Pe. Rodrigo da Rosa Cabrera

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Recebemos de um sacerdote gaúcho o seguinte testemunho:

"Muito prezado Dr. Rafael e leitores do Salvem a Liturgia.

Há muitos anos tenho acompanhado o gradativo processo pelo qual o Santo Padre tem recuperado muito da riqueza litúrgica da Igreja sobretudo de Rito Romano. A esse processo tem-se chamado “Reforma da Reforma” e vemos o quanto ele tem se solidificado e universalizado. Na paróquia na qual sou pároco desde o início de 2010, no interior do Rio Grande do Sul (Paróquia N. Sra. dos Remédios – Quevedos) tenho procurado aplicar alguns elementos desse novo movimento litúrgico. Essa oportunidade se deu por iniciativa pessoal e pela necessidade real de dispor melhor os elementos litúrgicos em nossa Igreja Matriz.

Destaco em primeiro lugar a recuperação, substituição e aquisição do sacrário, dos vasos sagrados e alfaias por outros de melhor condição e dignidade, assim como a utilização dos castiçais e da cruz no centro do altar voltada para o sacerdote. Com o tempo recuperamos o uso do véu do cálice e ocasionalmente da bolsa para o corporal. Nas procissões utiliza-se o pluvial e para o Corpus Christi o pálio. No dia de finados prioriza-se o uso dos paramentos pretos.

Para destacar a hermenêutica da continuidade também na liturgia há o uso alternado das casulas góticas e romanas e em muitas das solenidades a orientação versus Deum. O que poderia parecer estranho ou até mesmo ser objeto de rejeição revelou-se belíssimo instrumento de catequese litúrgica no que diz respeito à sacralidade da S. Missa. Em nenhum momento alguém estranhou ou se incomodou com a orientação versus Deum, ao contrário, muitos em sua espontaneidade comentam como a celebração fica mais “bonita” e já houve momentos em que mesmo jovens a solicitaram dessa forma.

As conquistas não se referem somente à orientação mas também na máxima fidelidade à normas litúrgicas contidas no Missal. Excluiu-se por completo os comentários, usa-se as fórmulas penitenciais dispostas no Missal e muitas vezes se canta o Kyrie ainda que com melodias polifônicas modernas, reza-se o Glória na tentativa de corrigir o uso dos cantos não litúrgicos para esse momento, o Salmo jamais é substituído por outro texto ou canto sendo cantado sempre que possível. Outra conquista importante foi utilizar o texto da aclamação ao Evangelho do dia proposto pelo lecionário. Canta-se o Aleluia e quando não é possível cantar a aclamação faz-se a leitura seguida novamente pelo aleluia.

Conforme consta no Missal procura-se utilizar devidamente as bênçãos solenes de acordo com as devidas datas. Ainda é desejo realizar a necessária catequese para recuperarmos a espontaneidade de receber a comunhão na boca e também de joelhos, ainda que exista a outra possibilidade usada comumente.

Tudo isso é uma partilha do que conseguimos conquistar devagar demonstrando que se pode colocar em prática o que o Santo Padre vem indicando. Estamos conscientes da necessidade de muito ainda crescer, aprender e melhorar sabendo que muitos já conseguiram mais e que nossa experiência pode consolidar-se naquilo que por enquanto não conseguimos atingir.

Agradeço a oportunidade de poder partilhar tudo isso com os leitores do Salvem; apostolado esse que muito nos auxilia.

Pe. Rodrigo da Rosa Cabrera

Quevedos, RS, Arquidiocese de Santa Maria"

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Sugestões de livros decentes sobre liturgia

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É uma pena que não tenhamos em português, salvo raríssimas e honrosas exceções, livros decentes sobre liturgia. Por aqui, na Terra de Santa Cruz, o que se nos vende como liturgia são as obras de Ione Buyst, por exemplo, especialista no tema, mas que “ensina” a fazer justamente o contrário do que manda o Papa.

Com base no discurso de Buyst e outros de sua escola, é que temos de conviver com as verdadeiras agressões e os legítimos crimes perpetrados contra o culto ao Senhor.

Podemos sanar esse problema difundindo livros que se caracterizam pela absoluta fidelidade às rubricas, pelo amor às normas litúrgicas, pela devoção à liturgia em si mesmo considerada, e pela visão realista da reforma de Paulo VI, todos condizentes com o pensamento de Bento XVI.

Apresentamos abaixo uma série deles. Clicando no livro, haverá o direcionamento para a loja em que ele pode ser adquirido.

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The History and the Future of the Roman Liturgy

Denis Crouan

Ignatius Press

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The Organic Development of the Liturgy

D. Alcuin Reid, OSB

Ignatius Press

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The Liturgy Betrayed

Denis Crouan

Ignatius Press

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Ceremonies of the Modern Roman Rite, 2nd Edition – RITO MODERNO

D. Peter Elliott

Ignatius Press

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Ceremonies of the Liturgical Year – RITO MODERNO

D. Peter Elliott

Ignatius Press

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Liturgical Question Box – RITO MODERNO

D. Peter Elliott

Ignatius Press

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La reforma de Benedicto XVI

Mons. Nicola Bux

Ciudadela Libros

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The Ceremonies of the Roman Rite Described – RITO TRADICIONAL

Pe. Adrian Fortescue; Côn. J.B. O'Connell; D. Alcuin Reid, OSB

St. Michael's Press

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Compendio di Liturgia Pratica – RITO TRADICIONAL

Pe. Ludovico Trimeloni

Marietti

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Reform of the Reform?

Pe. Thomas Kocik

Ignatius Press

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The Feast of Faith

Joseph Cardeal Ratzinger

Ignatius Press

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Turning Toward the Lord

Pe. Uwe Michael Lang

Ignatius Press

terça-feira, 6 de novembro de 2012

"O Santo Sacrifício da Missa" nas Sagradas Escrituras

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Dom José Francisco Falcão de Barros, Bispo Auxiliar do Ordinariado Militar do Brasil explica "O Santo Sacrifício da Missa", em seu "Curso Bíblico" realizado na Paróquia Militar de São Miguel Arcanjo e Santo Expedito em Brasília - DF.

Dom José Francisco Falcão de Barros nasceu na cidade de Paulo Jacinto (AL), em 14 de março de 1965. Cursou o Ensino Médio no Colégio Diocesano de Garanhuns. É graduado em Agronomia pela Universidade Federal Alagoas (UFAL). Fez curso de Filosofia e de Teologia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Uma vez ordenado sacerdote, em 18 de novembro de 1991, atuou na Cúria Diocesana, na qualidade de chanceler da Diocese de Palmeira dos Índios. Em 1993 foi nomeado Pároco da Igreja de São Vicente de Paulo, onde permaneceu por 20 anos até ser nomeado Bispo pelo Papa Bento XVI. Durante 4 anos esteve em Roma (Itália), onde fez Mestrado e Doutorado em Direito Canônico, na Universidade Pontifícia de São Tomás de Aquino. Em 2006, foi aprovado (em primeiro lugar), por Concurso Público, para Oficial Capelão da Polícia Militar do Estado de Alagoas. 

Foi pároco de São Vicente e idealizador do maior evento católico do agreste Alagoano - O Cenáculo Mariano em honra a Augusta Imaculada Conceição da Virgem Maria no dia 8 de Dezembro, em Palmeira dos Índios (AL), entre 1991 e 2011.

Aos 16 de fevereiro de 2011 foi nomeado pelo Papa Bento XVI como bispo-auxiliar do Ordinariado Militar do Brasil.









quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Breves perguntas e respostas sobre a música na Missa

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Obviamente, nos referimos à forma ordinária do rito romano.

1. O que é a Missa?

É a renovação do sacrifício de Cristo oferecido na Cruz, o qual, por sua vez, foi antecipado na Última Ceia. Ceia, Cruz e Missa são uma só realidade substancial. O que ocorreu no Calvário, ocorre na Missa: Cristo se oferecendo por nós. Todavia, a Missa, como a Última Ceia, se distingue da Cruz quanto ao modo de oferecimento: na Cruz, o sacrifício foi cruento, enquanto na Missa é incruento.

2. O que é Missa cantada? E Missa rezada?

Missa cantada é aquela, na tradição litúrgica romana, que tem todas as partes cantadas (com exceção de uma ou outra parte que, no rito anterior, era feita em voz submissa, ou de recente introdução). Nela, o padre e o coro se alternam no canto da Missa em si mesma. Não se trata de executar cantos durante as ações sacras apenas, mas de verdadeiramente cantar as partes que normalmente se recita.

A Missa rezada se entende justamente como o antônimo da cantada. Tradicionalmente, e isso permanece para aqueles que observam a forma extraordinária do rito romano, a Missa rezada era toda rezada, ainda que acompanhada de cantos. Mas as normas da forma ordinária permitem que na Missa rezada atual haja não apenas acompanhamento de cantos, e sim que trechos da Missa em si mesma sejam cantados. Não todos, pois assim seria Missa cantada.

3. Cantar na Missa ou cantar a Missa?

Depende. Cantar NA Missa é executar cantos que acompanhem as funções sacras, como a Entrada, o Ofertório, a Comunhão. Tem a ver com a Missa rezada, quando acompanhada de cantos. Já cantar A Missa é dizer as partes audíveis que o padre e o povo normalmente falam, só que cantando, não rezando. Tem a ver com a Missa cantada, embora se possa cantar trechos na Missa rezada.

4. O que é Ordinário e o que é Próprio? O que isso tem a ver com o canto na Missa?

Ordinário é a parte fixa da Missa, aquilo que nunca - ou raramente - muda: o Sinal-da-cruz, o Ato Penitencial, o Kyrie, o Glória, o Credo, o Ofertório, o diálogo antes do Prefácio, o Santo, a Consagração, o Pai Nosso etc.

Próprio é a parte variável, aquilo que muda conforme o dia, o tempo e as intenções: a Coleta (Oração do Dia), as leituras da Liturgia da Palavra, a Oração sobre as Oferendas, o Prefácio, a Oração depois da Comunhão. Daí que o conjunto desses elementos de uma determinada Missa se chame "Próprio da Missa". Assim, há o Próprio da Missa do III Domingo do Advento, o Próprio da Missa de Defuntos, o Próprio da Missa de Pentecostes, o Próprio da Missa da Noite de Natal, o Próprio da Missa pelo Papa, o Próprio da Missa de Batismo etc.

Pode-se cantar A Missa: no Ordinário e no Próprio. Bem como cantar NA Missa: em algumas partes do Próprio que admitam alteração, como a Entrada, a procissão das oferendas, a Comunhão.

O Próprio tem elementos não só que variam conforme o dia, o tempo etc, mas também são facultativos. A Entrada, por exemplo: se pode rezar ou cantar o texto do Missal, ou cantar o texto do Gradual, ou cantar uma música apropriada que tenha a ver com o momento. A procissão do Ofertório a mesma coisa. A Comunhão idem. Outros trechos, como as leituras da Liturgia da Palavra, não podem ser alterados nunca: a Aclamação ao Evangelho é sempre e exatamente aquela disposta no Lecionário, a mesma coisa o Salmo etc.

O Ordinário, por sua vez, não só está sempre presente, como suas palavras não podem ser alteradas, nem quando se o reza, nem quando se o canta. Nesse sentido, o Pai Nosso, que é parte do Ordinário, é sempre rezado ou cantado conforme está no Missal, sem mutilar nem acrescentar ou modificar. Da mesma forma, o Ato Penitencial, o Sinal-da-cruz, o Glória etc, devem ser exatamente os previstos no Missal, quer se recite, quer se cante. Alterar o texto do Ordinário, mesmo que seja com boa intenção, para executar um canto em seu lugar, é proibido e atenta contra as regras da liturgia, mesmo que um padre ou um Bispo permitam - pois eles não podem mudar a lei da Igreja.

5. Quais os tipos de canto que a Igreja permite na Missa? Qual o lugar do canto gregoriano?

A Igreja permite cantos que sejam sóbrios e adequados ao espírito da liturgia. A Missa é um culto, não uma baderna. Há lugar para músicas agitadas com conteúdo religioso fora da Missa.

O parâmetro é o canto gregoriano. Ele é, em igualdade de condições, o ideal. Não o podendo executar, ou havendo justas razões para não o fazer, pode-se escolher outro tipo, e quanto mais esse outro tipo de canto se aproxime do gregoriano, melhor.

Assim, além do gregoriano, há a polifonia sacra e o canto popular sacro. Algumas vezes, a polifonia, por ser bem solene, pode ser melhor para uma Missa especial. Em outras, por causa do povo que se reúne para a Missa ou pela falta de um coral treinado, o canto popular pode ser a alternativa. Mas sempre tendo em vista o lugar de excelência do gregoriano e inspirando-se nele para as melodias e para o "ethos" de sobriedade e seriedade da música litúrgica.

A Missa cantada pode ter partes em gregoriano e partes em polifonia, conforme o tipo.

6. Como é o canto na Entrada?

A Entrada, ou Intróito, é parte do Próprio, variando conforme a Missa. Assim, o Missal traz uma Antífona de Entrada para cada Missa do ano, do tempo, da circunstância. Pode-se rezar ou cantar, em polifonia, ou em melodia inspirada no gregoriano, ou em canto popular, essa antífona do Missal. Ou cantar em gregoriano a antífona prevista no Gradual, ou uma polifonia ou canto popular com essa letra. Ou, então, escolher um canto popular adequado. É um momento livre para se cantar "o que quiser" - com bom senso, claro.

7. Como é o canto no Ato Penitencial? E no Kyrie?

O Ato Penitencial é parte do Ordinário, sendo fixo na Missa. Todavia, o Missal nos dá três opções que o padre pode escolher: a) ou reza ou canta o "Confesso a Deus todo-poderoso..."; b) ou reza ou canta o "Tende compaixão..."; c) ou reza ou canta o "Senhor, que viestes salvar... tende piedade de nós" (ou suas fórmulas apropriadas para cada tempo). Essa terceira opção é chamada de "Kyrie com tropos" ou "com tropários". Se é usada a primeira ou a segunda fórmulas, após a absolvição, se reza ou canta o "Kyrie" (sem os tropos), ou seja, o "Senhor, tende piedade de nós". Já se é usada a terceira fórmula, por já ter o "Kyrie", ele é dispensado após a absolvição.

Como dissemos, o Ato Penitencial é parte do Ordinário. E, por isso, ele não se altera. Quer cantar? Cante, mas cante o que está no Missal. Não interessa se outra coisa está "no folheto". Folheto não é documento da Igreja! O Ato Penitencial não é o momento para meros "cantos de perdão" ou "cantos de arrependimento". Assim, o "Misericórdia, Senhor, misericórdia..." ou o "Pai, fechei a porta atrás de mim..." e outros, por mais belos que sejam, não cabem no Ato Penitencial.

8. Como é o canto no Glória?

O Glória é parte do Ordinário, sendo fixo na Missa. Todos os Domingos fora da Quaresma e Advento, nas solenidades e nas festas, ele é rezado ou cantado, e em outras ocasiões propícias também pode ser rezado ou cantado.

Como dissemos, o Glória é parte do Ordinário. E, por isso, ele não se altera. Quer cantar? Cante, mas cante o que está no Missal. Não interessa se outra coisa está "no folheto". Folheto não é documento da Igreja! O Glória não é o momento para meros "cantos de glória" ou "cantos de louvor". Assim, o "Gló-ó-ria, gló-ó-ria, ao Pai o Criador..." ou o "Glória, glória, aleluia" e outros, por mais belos que sejam, não cabem no Glória.

9. Como é o canto no Salmo?

O Salmo é parte do Próprio, variando conforme a Missa. Assim, o Lecionário traz um Salmo Responsorial para cada Missa do ano, do tempo, da circunstância. Pode-se rezar ou cantar, em polifonia, ou em melodia inspirada no gregoriano, ou em canto popular, esse Salmo Responsorial do Lecionário. Ou cantar em gregoriano o Salmo Gradual previsto no Gradual, ou uma polifonia com essa letra. Todavia, diferentemente das antífonas, por ser parte da Liturgia da Palavra, e haver uma unidade entre o salmo e as leituras, ele não pode ser alterado.

10. Como é o canto no Aleluia ou no Trato (Aclamação ao Evangelho)?

A Aclamação ao Evangelho pode ser o Aleluia ou o Trato.

O Aleluia é parte do Próprio, variando conforme a Missa. Assim, o Lecionário traz um Aleluia para cada Missa do ano, do tempo, da circunstância. Pode-se rezar ou cantar, em polifonia, ou em melodia inspirada no gregoriano, ou em canto popular, esse Aleluia do Lecionário. Ou cantar em gregoriano o Aleluia previsto no Gradual, ou uma polifonia com essa letra. Todavia, diferentemente das antífonas, por ser parte da Liturgia da Palavra, e por ser uma preparação ao Evangelho, tendo a mesma mensagem dele, ele não pode ser alterado. Embora parte do Próprio, ele não pode ser alterado. Quer cantar? Cante, mas cante o que está no Lecionário ou no Gradual. Não interessa se outra coisa está "no folheto". Folheto não é documento da Igreja! O Aleluia não é o momento para meros "cantos de aclamação ao Evangelho". Assim, o "Aleluia, a minh'alma abrirei..." ou o "Buscai primeiro o Reino de Deus..." e outros, por mais belos que sejam, não cabem no Aleluia.

Na Quaresma, o Aleluia é substituído pelo Trato, mas as regras são as mesmas.

11. Como é o canto no Credo?

O Credo é parte do Ordinário, sendo fixo na Missa. Todos os Domingos e nas solenidades, ele é rezado ou cantado. Pode ser usado o texto do Apostólico ou do Niceno-constantinopolitano.

Como dissemos, o Credo é parte do Ordinário. E, por isso, ele não se altera. Quer cantar? Cante, mas cante o que está no Missal. Não interessa se outra coisa está "no folheto". Folheto não é documento da Igreja! O Credo não é o momento para meros "cantos de fé" ou "cantos de creio". Assim, o "Creio, Senhor, mas aumentai a minha fé..." e outros, por mais belos que sejam, não cabem no Credo.

12. Como é o canto no Ofertório?

O Ofertório consiste em uma procissão facultativa, nas orações que são o Ofertório em si mesmo, e na Oração sobre as Oferendas.

Durante a procissão, se pode cantar a Antífona de Ofertório - que é do Próprio - prevista no Gradual, em gregoriano, ou usar sua letra para uma melodia inspirada no gregoriano, uma polifonia ou um canto popular. Ou, então, escolher um canto popular adequado. É um momento livre para se cantar "o que quiser" - com bom senso, claro.

As orações do Ofertório são ditas pelo padre em voz submissa enquanto se canta, ou em voz alta quando não se canta ou quando cessa o canto. A Oração sobre as Oferendas é parte do Próprio, havendo uma para cada Missa.

13. Como é o canto no Santo?

O Santo é parte do Ordinário, sendo fixo na Missa.E, por isso, ele não se altera. Quer cantar? Cante, mas cante o que está no Missal. Não interessa se outra coisa está "no folheto". Folheto não é documento da Igreja! O Santo não é o momento para meros "cantos de Santo". Assim, o "Santão" ou o "Santo dos Anjos" ou o "Santo é, Deus do Universo, ó, Senhor Javé" e outros, por mais belos que sejam, não cabem no Santo.

14. Como é o canto no Pai Nosso?

O Pai Nosso é parte do Ordinário, sendo fixo na Missa.E, por isso, ele não se altera. Quer cantar? Cante, mas cante o que está no Missal. Não interessa se outra coisa está "no folheto". Folheto não é documento da Igreja! O Pai Nosso não é o momento para meros "cantos de Pai Nosso". Assim, o "Ó, Pai Nosso tu que estás" ou o "Pai Nosso que estais nos céus, Pai Nosso que estais aqui..." e outros, por mais belos que sejam, não cabem no Pai Nosso. Tampouco um piegas, ridículo, sentimentalóide e circense "Vamos dar as mãos, vamos dar as mãos, vamos dar e vamos juntos cantar..."

15. Como é o canto no Cordeiro de Deus?

O Cordeiro de Deus é parte do Ordinário, sendo fixo na Missa.E, por isso, ele não se altera. Quer cantar? Cante, mas cante o que está no Missal. Não interessa se outra coisa está "no folheto". Folheto não é documento da Igreja! O Cordeiro de Deus não é o momento para meros "cantos de Cordeiro". Assim, o "Jesus Cristo, Cordeiro de Deus..." e outros, por mais belos que sejam, não cabem no Cordeiro de Deus.

16. Como é o canto na Comunhão?

A Comunhão é parte do Próprio, variando conforme a Missa. Assim, o Missal traz uma Antífona de Comunhão para cada Missa do ano, do tempo, da circunstância. Pode-se rezar ou cantar, em polifonia, ou em melodia inspirada no gregoriano, ou em canto popular, essa antífona do Missal. Ou cantar em gregoriano a antífona prevista no Gradual, ou uma polifonia ou canto popular com essa letra. Ou, então, escolher um canto popular adequado. É um momento livre para se cantar "o que quiser" - com bom senso, claro.

17. Como é o canto depois da Comunhão?

A Igreja diz que esse momento serve para a adoração silenciosa, podendo, conforme o costume, a comunidade recitar fórmulas de oração em comum. Se for costume, isso se extende ao canto. Uma música piedosa, calma, mas livre, não prevista em normas, e que tenha o sentido do que se acabou de fazer (agradecendo a Cristo na Eucaristia, por exemplo).

18. Como é o canto no Recessional?

A Igreja não fala nada, mas da tradição das Missas cantadas em que se entoava um hino livre, geralmente gregoriano ou polifonia, se pode cantar algo: gregoriano, polifonia ou popular, mas decente.

19. Podem-se inserir cantos em outras partes?

Não. Não existe "canto de Paz", nem "canto pra cumprimentar o irmão do lado", nem "canto pra abençoar quem está de aniversário".

O que existe é que todas as partes que não mencionamos aqui podem (e na Missa cantada devem) ser cantadas: a Oração do Dia (Coleta), as Preces, as Leituras, o Sinal-da-cruz, o Prefácio, a Oração sobre as Oferendas, a Oração Eucarística, a Oração depois da Comunhão, a Bênção, o Ide em paz etc. Mas sempre com a letra prevista no Missal ou Lecionário. Nada de "Em nome do Pai, em nome do Filho... para louvar e agradecer" ou outras cantos correlatos.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Cardeal Ratzinger comenta as duas formas do Rito Romano

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Segue trecho interessantíssimo de uma palestra ministrada pelo então Cardeal Joseph Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, quando do aniversário de 10 anos do Motu Proprio Ecclesia Dei. O Cardeal rebateu dois dos principais argumentos apontados por aqueles que vêem com suspeita o apreço de muitos fiéis pelos ritos litúrgicos anteriores à reforma - a "falta de obediência ao Concílio" e a "quebra de unidade" -, e ainda exaltou os bons frutos das comunidades às quais estes fiéis estão associados, em união com o Papa e os seus respectivos bispos.


Dez anos depois da publicação do Motu Proprio Ecclesia Dei, que tipo de balanço se pode elaborar? Penso que esta é, sobretudo, uma ocasião para mostrar a nossa gratidão e dar graças. As comunidades diversas que nasceram graças a este texto pontifício têm dado à Igreja um grande número de vocações sacerdotais e religiosas que, zelosamente, com alegria e profundamente unidas com o Papa, deram o seu serviço ao Evangelho em nosso tempo presente da história.

Através deles, muitos fiéis foram confirmados na alegria de ser capaz de viver a liturgia, e confirmados em seu amor pela Igreja, ou talvez eles tenham redescoberto ambos. Em muitas dioceses – e seu número não é tão pequeno – eles servem à Igreja, em colaboração com os bispos e em união fraterna com os fiéis que se sentem em casa com a forma renovada da nova liturgia.

No entanto, não seria realista se tivéssemos de deixar passar em silêncio as coisas que não são boas. Em muitos lugares as dificuldades persistem, e estas continuam porque alguns bispos, sacerdotes e fiéis consideram esse apego à antiga liturgia como um elemento de divisão que só atrapalha a comunidade eclesial e que dá origem à suspeitas sobre uma aceitação do Concílio feita “com reservas” e, mais geralmente, sobre a obediência para com os legítimos pastores da Igreja.

Devemos agora fazer a seguinte pergunta: como podem estas dificuldades sejam superadas? Como alguém pode construir a confiança necessária para que esses grupos e comunidades que amam a liturgia antiga possam ser facilmente integrados na vida da Igreja? Mas há outra pergunta subjacente à primeira: quais são as razões mais profundas para essa desconfiança ou até mesmo para esta rejeição de uma continuação das antigas formas litúrgicas?

As duas razões que são mais ouvidas são a falta de obediência ao Concílio, que queria os livros litúrgicos reformados, e a quebra de unidade, que deve necessariamente seguir se diferentes formas litúrgicas são deixadas em uso.

É relativamente simples refutar esses dois argumentos no plano teórico. O próprio Concílio não reformou os livros litúrgicos, mas ordenou a sua revisão e, para isso, estabeleceu algumas regras fundamentais. Antes de tudo, o Concílio deu uma definição do que é a liturgia e esta definição dá um critério valioso para toda a celebração litúrgica.

É à luz destes critérios que as celebrações litúrgicas devem ser avaliadas, sejam elas de acordo com os livros antigos ou os novos. É bom lembrar aqui o que o Cardeal Newman observou: que a Igreja, ao longo de sua história, jamais aboliu nem proibiu formas litúrgicas ortodoxas, o que seria bastante estranho ao espírito da Igreja. Uma liturgia ortodoxa, isto é, aquela que expressa a verdadeira fé, nunca é uma compilação feita de acordo com os critérios pragmáticos de cerimônias diferentes, tratadas de uma forma positivista e arbitrária, de uma forma hoje e amanhã de outra forma.

As formas ortodoxas de um rito são realidades vivas, nascidas do diálogo de amor entre a Igreja e seu Senhor. Elas são expressões da vida da Igreja, em que são destiladas a fé, a oração e a vida de gerações inteiras, e que encarnam em formas específicas tanto a ação de Deus quanto a resposta do homem. Tais ritos podem morrer se aqueles que os usaram em uma determinada época desaparecerem ou se a situação de vida dessas mesmas pessoas mudar.

Ritos Latinos

A autoridade da Igreja tem o poder de definir e limitar o uso de tais ritos em diferentes situações históricas, mas ela nunca apenas pura e simplesmente proíbe. Assim, o Concílio ordenou uma reforma dos livros litúrgicos, mas não proibiu os livros anteriores. O critério estabelecido pelo Concílio é tanto muito maior e mais exigente que convida a todos para a autocrítica. Mas nós vamos voltar a este ponto.

Devemos agora examinar o outro argumento, que afirma que a existência de dois ritos pode prejudicar a unidade. Aqui, uma distinção deve ser feita entre o aspecto teológico e o aspecto prático da questão. No que diz respeito àquilo que é teórico e básico, deve-se afirmar que várias formas de rito latino sempre existiram, e só foram retiradas lentamente como resultado da união de diferentes partes da Europa.

Antes do Concílio existia lado a lado com o rito romano o rito ambrosiano, o rito mozárabe de Toledo, o rito de Braga, o rito cartuxo, o rito carmelita, e o mais conhecido de todos, o rito Dominicano, e talvez ainda outro ritos de que eu não estou ciente. Ninguém jamais ficou escandalizado que os dominicanos, muitas vezes presentes em nossas paróquias, não celebravam como os padres diocesanos, mas tinham seu próprio rito. Nós não temos qualquer dúvida de que seu rito era tão católico quanto o rito romano, e que estávamos orgulhosos da riqueza inerente a estas várias tradições.

Além disso, deve-se dizer o seguinte: que a liberdade que o novo ordinário da Missa dá a criatividade é muitas vezes levada a extremos. A diferença entre a liturgia segundo os livros novos, como ela é realmente praticada e celebrada em lugares diferentes, é muitas vezes maior do que a diferença entre uma missa antiga e uma missa nova, quando ambas são celebradas de acordo com os livros litúrgicos prescritos.

Um cristão médio sem formação litúrgica especializada teria dificuldade para distinguir entre uma missa cantada em latim segundo o Missal antigo e uma missa em latim cantada segundo o Missal novo. No entanto, a diferença entre uma liturgia celebrada fielmente de acordo com o Missal de Paulo VI e a realidade de uma liturgia vernácula celebrada com toda a liberdade e criatividade possíveis – essa diferença pode ser enorme.

Com estas considerações nós já cruzamos o limiar entre teoria e prática, um ponto em que as coisas naturalmente ficam mais complicadas, porque elas dizem respeito às relações entre as pessoas que vivem. Parece-me que os desgostos que mencionamos são tão grandes porque as duas formas de celebração são vistas como uma indicação de duas atitudes espirituais diferentes, duas maneiras diferentes de perceber a Igreja e a vida cristã. As razões para isso são muitas.

A primeira é esta: alguém julga as duas formas litúrgicas a partir de suas aparências e, assim, chega-se à seguinte conclusão: há duas atitudes fundamentalmente diferentes. O cristão comum considera essencial para a liturgia renovada ser celebrada em vernáculo e de frente para o povo, que haja uma grande dose de liberdade para a criatividade e que os leigos exerçam um papel ativo. Por outro lado, considera-se essencial para a celebração de acordo com o rito antigo ser em latim, com o sacerdote voltado para o altar, estrita e precisamente de acordo com as rubricas e que os fiéis sigam a missa em oração particular com nenhum papel ativo.

A partir deste ponto de vista, um determinado conjunto de fatores externos é visto como essencial para esta ou aquela liturgia, ao invés do que a própria liturgia afirma ser essencial. Devemos esperar pelo dia em que os fiéis irão apreciar a liturgia com base em formas concretas visíveis, e serão espiritualmente imersos nessas formas. Os fiéis não mergulham facilmente nas profundezas da liturgia.

As contradições e oposições que acabamos de enumerar se originam nem do espírito nem a letra dos textos conciliares. A Constituição atual sobre a Liturgia não fala nada sobre a celebração de frente para o altar ou de frente para as pessoas. Sobre o tema da linguagem, ela diz que o latim deve ser mantido, ao dar um lugar maior para o vernáculo “acima de tudo em leituras, instruções, e em certo número de orações e cantos”.

Quanto à participação dos leigos, o Concílio antes de tudo insiste em um ponto geral, que a liturgia é essencialmente a preocupação de todo o Corpo de Cristo, Cabeça e membros, e por este motivo ela pertence a todo o Corpo da Igreja “e que, portanto, ela [a liturgia] está destinada a ser celebrada em comunidade, com a participação ativa dos fiéis”. E o texto especifica: “Nas celebrações litúrgicas cada pessoa, ministro, ou leigos, ao cumprir o seu papel, deve realizar apenas e inteiramente o que diz respeito a ele, em virtude da natureza do rito e as normas litúrgicas” (SL 28) . “Para promover a participação ativa, aclamações por parte das pessoas são favorecidas, as respostas, o canto dos salmos, antífonas, cânticos, também ações ou gestos e posturas corporais. Deve-se também observar um período de silêncio sagrado em momento oportuno”

Estas são as diretrizes do Concílio, pois eles podem proporcionar a todos um material para reflexão.

Dentre vários liturgistas modernos não é, infelizmente, uma tendência a desenvolver as ideias do Concílio em uma única direção. Ao agir assim, eles acabam invertendo as intenções do Concílio. O papel do sacerdote é reduzido, por alguns, para o de um mero funcionário. O fato de que o Corpo de Cristo como um todo é o tema da liturgia é muitas vezes deformado ao ponto em que a comunidade local se torna o sujeito autossuficiente na liturgia e distribui entre si as várias funções da liturgia.

Existe também uma tendência perigosa de se minimizar o caráter sacrificial da Missa, fazendo com que o mistério e o sagrado desapareçam sob o pretexto, um pretexto que afirma ser absoluto, que desta forma fazem as coisas mais bem compreendidas. Finalmente, observa-se a tendência de fragmentar a liturgia e, para destacar de forma unilateral seu caráter comunitário, dando a própria assembleia o poder de regular a celebração.

Felizmente, porém, há também certo desencanto com um racionalismo muito banal, e com o pragmatismo de certos liturgistas, sejam eles teóricos ou práticos, e pode-se observar um retorno ao mistério, à adoração e ao sagrado e para o caráter cósmico e escatológico da liturgia, como evidenciado em 1996 pela “Declaração de Oxford sobre a Liturgia”.

Por outro lado, deve-se admitir que a celebração da liturgia antiga havia se desviado muito longe em um individualismo privado, e que a comunicação entre o sacerdote e o povo era insuficiente. Eu tenho grande respeito por nossos antepassados que na Missa Rezada diziam as “Orações durante a missa” contidas em seus livros de oração, mas certamente não se pode considerar isso como o ideal da celebração litúrgica. Talvez essas formas reducionistas de celebração são a verdadeira razão para explicar por que o desaparecimento dos livros litúrgicos antigos não teve importância em muitos países e não tenha causado tristeza. Ninguém estava em contato com a própria liturgia.

Movimento Litúrgico

Por outro lado, nos lugares onde o movimento litúrgico tinha criado um certo amor pela liturgia, onde o Movimento tinha antecipado as ideias essenciais do Concílio como, por exemplo, a participação orante de todos na ação litúrgica, foi nesses lugares onde havia mais angústia quando confrontado com uma reforma litúrgica realizada precipitadamente e, muitas vezes limitada a fatores externos.

É por isso que é muito importante observar os critérios essenciais da Constituição sobre a Liturgia, que citei acima, inclusive quando se celebra de acordo com o antigo Missal. O momento em que esta liturgia verdadeiramente tocar os fiéis com sua beleza e sua riqueza, então ela será amada, então ela deixará de ser irremediavelmente contra a nova liturgia, desde que esses critérios sejam de fato aplicados como o Concílio desejava.

Se a unidade da fé e a unicidade do mistério aparecem claramente nas duas formas de celebração, isso só pode ser uma razão para que todos possam se alegrar e agradecer ao bom Deus. Na medida em que todos nós acreditamos, viver e agir com estas intenções, que devem também poder persuadir os bispos de que a presença da antiga liturgia não perturba ou quebra a unidade da sua diocese, mas é antes um dom destinado a construir o Corpo de Cristo, do qual todos nós somos os servos.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Mensagem do Papa em Português na Audiência de hoje.

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Queridos irmãos e irmãs,

Orar é estar habitualmente na presença de Deus, viver a relação com Ele à semelhança das relações que temos com os nossos familiares e pessoas que nos são caras. Por meio da oração entramos numa relação viva de filhos de Deus com o Pai, por meio de Jesus Cristo, no Espírito Santo. Neste sentido, não podemos esquecer que a Igreja é o único lugar onde podemos encontrar a Cristo como Pessoa vivente, sobretudo nas celebrações litúrgicas. De fato, a liturgia, ao fazer presente e atual o Mistério pascal de Cristo, faz com que Deus entre na nossa realidade, permitindo-nos encontrá-Lo e, por assim dizer, tocá-lo. Assim, na liturgia aprendemos a fazer nossas as palavras que a Igreja dirige ao seu Senhor e Esposo, o que nos leva a compreender que a oração tem uma dimensão coletiva: não podemos nunca rezar a Deus de um modo individualista. Por isso a liturgia deve ser fiel às formas da Igreja Universal, não podendo ser modificada pelos indivíduos, sejam sacerdotes ou leigos, pois mesmo na celebração litúrgica da menor das comunidades, a Igreja inteira está presente.
* * *
Amados peregrinos vindos do Brasil e demais peregrinos de língua portuguesa: sede todos bem-vindos! Aprendei a viver bem a liturgia, pois esta é o caminho para dirigir o vosso olhar a Deus, superando todo individualismo e egoísmo, através da comunhão com a Igreja viva de todos os tempos e lugares. Que Deus vos abençoe! Obrigado!
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