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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O populismo litúrgico e o "Santo dos Anjos"

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Embora eu desconfie um tanto da associação de termos comumente políticos à descrição de situações da Igreja, parece-me que com grande freqüência tais palavras se ajustam bem a esse contexto. Uma delas é “populismo”; no meu entender, uma explicação fortemente possível para certas escolhas relacionadas à Liturgia, e, não raro, para as escolhas abusivas.

A música é um dos elementos litúrgicos que mais sofrem com esse populismo. Embora na prática a música tenha enorme importância na cultura humana, é vista por certos olhos com um pouco de desprezo. E aqui já nem me limito à Liturgia, mas à vida cultural toda. É comum que a Filosofia, a Literatura, a Teologia, as Ciências Naturais etc. causem logo de início reações de respeito e reverência. A Música atrai sorrisos e evocações pitorescas. Pode parecer bom, mas só parece. Não há muitos que percebam na Música algo mais do que instrumento de lazer. Enquanto isso, sem que a grande maioria perceba, a linguagem musical é utilizada conscientemente, o tempo todo, para incutir comportamentos, vender produtos, modelar ambientes.

Enfim, a Música tem essa fama de mulher bonita sem muito conteúdo, para usar uma comparação que fiz em outra oportunidade. E, sendo subestimada como é, não há como o nível da cultura musical se manter.

Os efeitos na música litúrgica são catastróficos; e catástrofes só são toleradas quando as pessoas não estão percebendo que uma catástrofe está acontecendo. E, neste caso, pelo contrário: há muitos que parecem bem acomodados com a situação atual e, mais do que isso, gostam dela. E se em tantos lugares a instrução para o músico é manter a música ruim, é porque há pessoas atraídas por essa música ruim. E isto não é especulação nem anedota: é evidência confirmada por relatos, inclusive na internet.

Se a boa música está sendo sacrificada para que mais gente venha à Missa, pior seria sacrificar a boa doutrina. Não podemos nos contentar, entretanto, com o mal menor.

O populismo busca, na política, agradar a população em geral com medidas de efeito positivo imediato, quase sempre sem grandes considerações sobre um futuro em que dificuldades surgirão por causa das tais medidas. Outra característica é, da parte do governo populista, procurar vincular-se diretamente ao “povo”, excluindo instituições como parlamentos, partidos etc. – nem sempre por meio de sua extinção, mas da campanha sistemática para desacreditá-los ao mesmo tempo em que se coloca como uma espécie de Messias.

Na Liturgia o populismo quer ignorar a autoridade do Missal e convencer-nos de que seria absurda a normatização das cerimônias pela distante Roma, onde supostamente só há senhores idosos que não sabem da “realidade” do “povo”. É difícil superar o populismo desse discurso.

O populismo na Liturgia é a única explicação possível para admissão de um grande número de composições musicais, entre as quais uma muito famosa é conhecida como o “Santo dos Anjos”. Aparentemente bastante difundida, tem sido utilizada no Sanctus, e me inspirou especial repugnância quando a ouvi, pela primeira vez, numa Missa de Corpus Christi. A repugnância provém de sua tenebrosa infidelidade ao texto que deveria ser usado neste momento e do seu uso de uma rítmica de dança popular de significação insuperavelmente alheia à Liturgia.

O Sanctus da Missa, em português, utiliza o seguinte texto:

Santo, Santo, Santo, Senhor Deus do Universo.
O céu e a terra proclamam a vossa glória. Hosana nas alturas.
Bendito o que vem em nome do Senhor. Hosana nas alturas.

Não contente com estas palavras, talvez julgando-as insuficientes, o chamado “Santo dos Anjos” vai se arrastando:


Santo, santo, santo, dizem todos os anjos
Santo, santo, santo, é o Senhor Jesus
Santo, santo, santo, é quem os redime
Porque meu Deus é Santo e a terra cheia de sua glória está
Porque meu Deus é Santo e a terra cheia de sua glória está
Céus e terras passarão, mas Sua Palavra não passará
Céus e terras passarão, mas Sua Palavra não passará
Não, não, não passará
Não, não, não passará

Hosana a Jesus Cristo, filho de Maria
Bendito o que vem em nome do Senhor
Santo, santo, santo, é quem os redime
Porque meu Deus é Santo e a terra cheia de Sua glória está
Porque meu Deus é Santo e a terra cheia de Sua glória está
Céus e terras passarão, mas Sua Palavra não passará
Céus e terras passarão, mas Sua Palavra não passará
Não, não, não passará
Não, não, não passará

Trata-se de um dos casos mais assustadores de desrespeito ao texto litúrgico, sem contar, é claro, as situações em que quaisquer palavras do texto estejam completamente ausentes. Musicalmente, a rítmica dançante e popular traz para dentro da igreja um elefante branco, um elemento completamente destoante, montando um conjunto surrealista que me espanta tenebrosamente por ser considerado tão normal.

A palavra “não” tem especial destaque na melodia com a qual esse texto é cantado. De modo geral, têm grande destaque as partes do texto que foram adicionadas ao texto correto. De que céus e terra passarão e a palavra de Deus não passará, ninguém duvida. É certo, entretanto, que igualmente ninguém mandou cantar isso na hora do Sanctus. E, mesmo que só o texto certo fosse cantado, a música não deve ser de dança folclórica. Esta composição quebra totalmente a atmosfera que a Liturgia deveria ter. Destoa do Prefácio que precede o Sanctus; destoa da Oração Eucarística. Destoa de qualquer função realizada dentro da igreja, ainda que não seja litúrgica.

No entanto, continua sendo usada porque o “povo”, sempre ele, invariavelmente canta bem forte quando essa música é usada. Se o canto forte do povo é relevante em matéria litúrgica, de nada adianta estudar a Liturgia. É suficiente avaliar quais elementos suscitam resposta mais forte, mais barulhenta ou mais emotiva do “povo”. Se estas reações acontecem, o elemento é aprovado. Se não acontecem, apenas se descarta. Um tal procedimento faria lembrar os seriados americanos, que podem não chegar nem à metade de sua primeira temporada se não derem audiência; são simplesmente cancelados.

Na Liturgia este tipo de pensamento é de uma bizarria que chega a superar a imaginação ficcional. O texto do Gloria, com mais de 1500 anos, é simplesmente substituído por outro mais curto, que possibilite música mais palatável. Não se está trocando apenas um grupo de palavras. Está-se trocando uma identidade, uma personalidade, uma história. O fiel é desconectado de todo o seu passado (que ele já mal conhecia), recebendo apenas a pregação sobre um vago Jesus, Senhor que operou maravilhas nesse passado todo que o fiel desconhece e ao longo de muitas gerações que o precederam.

Seria muito bom não precisar proibir o “Santo dos Anjos” e assemelhados. O ideal é que pare de ser usado na Liturgia e dê lugar à verdadeira música litúrgica de maneira natural. O ideal é que sua absoluta inadequação à Liturgia seja percebida espontaneamente pelos músicos, sacerdotes e fiéis. Que destes três grupos um ajude o outro a perceber a enorme perda que se tem cada vez que se permite executar uma tal composição no culto divino.

Que possamos banir o “Santo dos Anjos” da Liturgia e, em seguida, todos os seus assemelhados. Não permitamos que a Liturgia se contamine tanto por tamanho populismo. A conta do populismo é sempre muito cara e, se chamamos a Igreja de Mãe e Mestra, digamo-nos não apenas seus filhos, mas também seus discípulos, e autênticos discípulos.

domingo, 15 de agosto de 2010

A Assunção da Virgem Maria

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Por Dom Henrique Soares da Costa - Bispo Auxiliar de Aracaju - SE
Esta é a maior das festas da Santíssima Virgem Maria; é a sua Assunção; a festa da sua entrada na glória, da sua plenitude como criatura, como mulher, como mãe, como discípula de Cristo Jesus. Como um rio, que após longa corrida deságua no mar, hoje, a Virgem Toda Santa deságua na glória de Deus: transfigurada no Espírito Santo, derramado pelo Cristo, ela está na glória do Pai!
Para compreendermos o profundo sentido do que celebramos, tomemos as palavras de São Paulo:“Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram. Com efeito, por um homem veio a morte e é também por um homem que vem a ressurreição dos mortos. Como em Adão todos morrem, em Cristo todos reviverão. Porém, cada qual segundo uma ordem determinada”. – Eis a nossa fé, o centro da nossa esperança: Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que adormeceram. Ele é o primeiro a ressuscitar, ele é a causa e o modelo da nossa ressurreição. Os que nele nascem pelo batismo, os que nele crêem e nele vivem, ressuscitarão com ele e como ele: logo após a morte ressuscitarão naquela dimensão imaterial que temos, núcleo da nossa personalidade, a que chamamos “alma”; e, no final dos tempos, quando todo o universo for glorificado, ressuscitaremos também no nosso corpo. Assim, em todo o nosso ser, corpo e alma, estaremos, um dia, revestidos da glória de Cristo, nosso Salvador, estaremos plenamente conformados a ele!
Ora, a Igreja crê, desde os tempos antigos, que a Virgem Maria já entrou plenamente nessa glória. Aquilo que todos nós só teremos em plenitude no final dos tempos, a Santíssima Mãe de Deus, já recebeu logo após a sua morte. Ela é a “Mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas”. Ela já está totalmente revestida da glória do Cristo, Sol de justiça – e esta glória é o próprio Espírito Santo que o Cristo Senhor nos dá. Ela já pisa a lua, símbolo das mudanças e inconstâncias deste mundo que passa. Ela já está coroada com doze estrelas, porque é a Filha de Sião, filha perfeita do antigo Israel e Mãe do novo Israel, que é a Igreja. Assim, a Virgem, logo após a sua morte – doce como uma dormição -, foi elevado ao céu, à glória do seu Filho em todo o seu ser, corpo e alma. Aquela que esteve perfeitamente unida ao Filho na cruz (cf. Lc 2,34s; Jo 19,25ss), agora está perfeitamente unida a ele na glória. São Paulo não dissera, falando do Cristo morto e ressuscitado? “Fiel é esta palavra: Se com ele morremos, com ele viveremos. Se com ele sofremos, com ele reinaremos” (2Tm 2,12). Eis! A Virgem que perfeitamente esteve unida ao seu Filho no caminho da cruz, perfeitamente foi unida a ele na glória da ressurreição. Aquela que sempre foi “plenamente agraciada” (Lc 1,28), de modo a não ter a mancha do pecado, não permaneceu na morte, salário do pecado. Assim, o que nós esperamos em plenitude para o fim dos tempos, a Virgem já experimenta agora e plenitude. Como é grande a salvação que o Cristo nos obteve! Como é grande a sua força salvífica ao realizar coisas tão grandes na sua Mãe!
Mas, a Festa de hoje não é somente da Virgem Maria. Primeiramente, ela glorifica o Cristo, Autor da nossa salvação, pois em Maria aparece a vitória sobre a morte, que Jesus nos conquistou. A liturgia hoje exclama: “Preservastes, ó Deus, da corrupção da morte aquela que gerou de modo inefável vosso próprio Filho feito homem, Autor de toda a vida”. Este senhorio de Cristo aparece hoje radiante na sua Mãe toda santa: em Maria, Cristo venceu a morte de Maria! Em segundo lugar, a festa de hoje é também festa da Igreja, de quem Maria é Mãe e figura. A liturgia canta: “Hoje, a Virgem Maria, Mãe de Deus, foi elevada à glória do céu. Aurora e esplendor da Igreja triunfante, ela é consolo e esperança para o vosso povo ainda em caminho”. Sim! A Mãe Igreja contempla a Mãe Maria e fica cheia de esperança, pois um dia, estará totalmente glorificada como ela, a Mãe de Jesus, já se encontra agora. Finalmente, a festa é de cada um de nós, pois já vemos em Nossa Senhora aquilo que, pela graça de Cristo, o Pai preparou para todos nós: que sejamos totalmente glorificados na glória luminosa do Espírito do Filho morto e ressuscitado. Aquilo que a Virgem já possui plenamente, nós possuiremos também: logo após a morte, na nossa alma; no fim dos tempos, também no nosso corpo!
Estejamos atentos! A festa hodierna recorda o nosso destino, a nossa dignidade e a dignidade do nosso corpo. O mundo atual, por um lado exalta o corpo nas academias, no culto da forma física, da moda e da beleza exterior; por outro lado, entrega o corpo à sensualidade, à imoralidade, à droga, ao álcool… É comum escutarmos que o que importa é o “espírito”, que a matéria, o corpo passa… Os cristãos não aceitam isso! Nosso corpo é templo do Espírito Santo, nosso corpo ressuscitará, nosso corpo é dimensão indispensável do nosso eu. Um documento recente da Igreja sobre a relação homem-mulher, chamava-se atenção exatamente para essa questão: o corpo em si, para o mundo, parece que não significa muita coisa, que não tem uma linguagem própria, que não diz algo do que eu sou, da minha identidade – inclusive sexual. Para nós, cristãos, o corpo integra profundamente a personalidade de cada um: meu corpo será meu por toda eternidade; meu corpo é parte de minha identidade por todo o sempre! Honremos, então nosso corpo: “O corpo não é para a fornicação e, sim, para o Senhor e o Senhor é para o corpo. Ora, Deus, que ressuscitou o Senhor, ressuscitará também a nós – em nosso corpo- pelo seu poder. Glorificai, portanto, a Deus em vosso corpo” (1Cor 6,14.20).
Então, caríssimos, olhemos para o céu, voltemos para lá o nosso coração! Celebremos! Com a Virgem Maria, hoje vencedora da morte, com a Igreja, que espera, um dia, triunfar totalmente como Maria Virgem, cantemos as palavras da Filha de Sião, da Mãe da Igreja, pensando na nossa vitória: “A minha alma engrandece o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humildade de sua serva. O Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor!” A ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.
Fonte: Dom Henrique

O rito dominicano

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A estrutura do rito dominicano é semelhante à do rito romano. Aliás, os ritos ocidentais são todos muito parecidos. Há diferenciações o suficiente, todavia, para que o consideremos um rito particular, autônomo, e não apenas um uso próprio do mesmo rito.

A preparação do cálice ocorre não no Ofertório, como no rito romano, e sim quando o celebrante chega ao altar. Até o início da Missa, ademais, ele usa o amito como um capuz sobre a sua cabeça. Em relação à forma extraordinária do rito romano, distingue-se o rito dominicano, outrossim, pela ausência do Salmo Judica me, e pelo Confiteor mais curto, em que se invoca São Domingos. O Confiteor mais curto e a ausência do Judica me foram, segundo alguns especialistas, inspirações para a reforma do rito romano em seu uso moderno.

O Gloria é iniciado no centro do altar, terminando em frente ao Missal. O mesmo com o Credo.

A hóstia e o cálice formam uma mesma e única oblação no Ofertório, com a prece Suscipe Sancta Trinitas. As uniões de mãos no Cânon são diversas das prescritas no rito romano. Há também a previsão, ainda no Cânon, de ter os braços em forma de crucifixo em certas partes. Não há oração na Comunhão do Sangue pelo padre.

Já na Missa Solene, outras diferenças existem em relação ao rito romano: o cálice é levado em procissão até o altar durante o canto do Glória, e o corporal é aberto pelo diácono enquanto o subdiácono canta a Epístola. Assim que termina de cantá-la, vai o subdiácono ao altar, com os ministros sentados, e prepara o cálice. Há uma incensão dos ministros durante o canto do Prefácio. Os movimentos cerimoniais são diferentes dos previstos pelas rubricas do rito romano.

Há também distinções no breviário, e na notação e melodia de alguns cantos gregorianos, que, aliás, nem sempre são os mesmos previstos para os mesmos atos no rito romano.

O Ano Litúrgico dominicano é dividido em duas partes: Advento até a Trindade, e Trindade até o Advento.

Também a Confissão no rito dominicano não pede, quando solene, o hábito/batina com sobrepeliz e estola roxa, mas apenas o hábito completo (com a capa preta), sem estola. A fórmula da absolvição também é distinta. Há diferenças também na Unção dos Enfermos, como o rito do beijo na cruz, que, aliás, foi aproveitado para o rito romano atual.

Os dominicanos abandonaram o seu rito próprio, nos anos 70, adotando, em massa, o rito romano moderno, hoje chamado "forma ordinária do rito romano". Todavia, segundo parecer da Comissão Ecclesia Dei, os superiores provinciais da Ordem dos Pregadores poderão autorizar, no espírito do Motu Proprio Summorum Pontificum, que autorizou universalmente o uso do rito romano tradicional, antigo, "forma extraordinária", que seus sacerdotes celebrem o rito dominicano próprio.

A Fraternidade São Vicente Ferrer, de inspiração dominicana, mas autônoma em relação à Ordem dos Pregadores, sendo um instituto religioso específico, preserva a liturgia dominicana antiga.

Além disso, mesmo no rito romano moderno, quando celebrado pelos dominicanos, alguns elementos do antigo rito dominicano foram mantidos, a exemplo dos cistercienses. A bênção das palmas no Domingo de Ramos, por exemplo, mesmo no rito atual, romano, ordinário, pode ser executada segundo o antigo rito dominicano.

Desse modo, dentro da Ordem dominicana, temos, hoje, duas possibilidades:

a) celebrar o rito romano moderno, com as derrogações autorizadas pela Ordem e pela Santa Sé e que se encontram na tradição litúrgica dominicana;
b) celebrar, quando autorizado pelos priores provinciais, o rito dominicano.



















































































































































































sábado, 14 de agosto de 2010

Beato Cardeal Schuster: A Santa Liturgia, suas divisões e suas fontes, parte III

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Estamos publicando, em quatro partes, o primeiro capítulo do primeiro tomo do Liber Sacramentorum do Beato Ildefonso [Alfredo Ludovico] Cardeal Schuster, OSB

A segunda parte deste texto se encontra neste link. Hoje publicamos a terceira. A quarta e última parte será publicada no próximo Sábado. Até lá, não deixe acompanhar nossas novidades diárias.

*

Sacramentário gregoriano. Este é o nome atribuído pelo papa Adriano I (772-795) a uma coleção de Missas estacionais, da qual uma parte é, sem dúvida, anterior ao pontificado de São Gregório Magno, mas que compreende também numerosos elementos posteriores a ele. O compilador adotou, certamente, como base de seu trabalho, um sacramentário cujo nome era o do santo Pontífice, mas como ignoramos o critério de suas modificações, talvez fosse mais exato dar à coleção o nome do papa Adriano I. Este sacramentário contém apenas as Missas estacionais às quais o papa tomava parte do ordinário, e omite todas as outras festas e solenidades nas quais não se celebrava o tempo litúrgico.

Sacramentário gelasiano. Este nome foi atribuído na França a uma coleção litúrgica romana, importada pelos gauleses entre 628 e 731, bem depois de São Gregório Magno, mas bem antes do pontificado de Adriano I. O original romano sofreu na França grandes modificações, e por esta razão que esta coleção exige uma crítica e uma seleção bem cuidada, a fim de que seus documentos possam testemunhar os usos litúrgicos de Roma anteriores a Carlos Magno. A introdução do sacramentário gregoriano na França ameaçou, por um instante, obscurecer o renome da coleção gelasiana, mais tendo-se mostrado o livro de São Gregório insuficiente para o uso cotidiano das igrejas, ele foi aumentado e enriquecido com elementos emprestados àquele atribuído ao papa Gelásio, o qual, graças a esta fusão, deixou numerosos traços mesmo na atual liturgia romano-franca.

Missale Francorum. É representado por um único manuscrito uncial fragmentário do século VII, conservado antigamente na abadia de Saint-Denis, e atualmente na Biblioteca Vaticana. As onze Missas que compreende são todas de estilo romano, mas a coleção não está isenta de interpolações galicanas, especialmente nas rubricas.

Sacramentário leonino. É o mais antigo e copioso dos sacramentários, mas infelizmente a estranha desordem e a própria natureza dos materiais litúrgicos empregados pelo compilador impedem que esta coleção tenha algum dia um caráter verdadeiramente oficial. Encontram-se nele, por exemplo, violentas declamações contra os falsos devotos que, sub specie gratiae, enganam os simples, e se insiste sobre a necessidade de se precaver contra sua malícia. Algumas Missas parecem inspirar-se na angústia e na dor dos Romanos durante o cerco dos ostrogodos (537-539); uma coleta fúnebre se reporta à sepultura do papa Simplício (morto em 483); mas, em todo caso, esta recolha é anterior a São Gregório e parece a única fonte romana ao abrigo de interpolações estrangeiras. Talvez a feliz conservação do texto se deva ao caráter privado da coleção, que não saiu dos estreitos limites da basílica e do título ao qual era destinada. Os materiais empregados pelo redator apresentam todas as características de autenticidade, mas não se pode excluir a hipótese de que a coleção nunca tenha tido caráter oficial nem de uso prático, não tendo nunca sido usada. De acordo com alguns, a inteção do compilador teria sido apenas bibliográfica.

Rolo de Ravena. Assim é chamado um rolo opistográfico em grandes caracteres unciais que pertencia, muito provavelmente, aos arquivos metropolitanos de Ravena. Compreende ao todo quarenta orações de tipo romano, em preparação para a Solenidade do Natal, mas é bem difícil determinar sua data, podendo remontar ao tempo de São Pedro Crisólogo.

Ordines Romani. Esta é uma importantíssima compilação de cerimoniais de diversas épocas, permitindo-nos seguir passo a passo, do século VIII ao século XV, todo o desenvolvimento progressivo da liturgia papal em Roma. O mais antigo destes Ordines, o primeiro, parece datar do século VIII, mas os elementos contidos nele não são sincrônicos, e nem todos podem reivindicar cidadania romana. Repete-se aqui o caso dos sacramentários, os quais, uma vez fora de Roma, foram modificados e adaptados ao uso de outras cortes episcopais, sem possuir, entretanto, nenhuma correlação com o desenvolvimento litúrgico que, por sua vez, seguia seu curso na Cidade Eterna. A este respeito, um caso singular ocorre com Amalhar: atribuía ao Ordo Romanus autoridade que entendia indiscutível. Ora, quando foi a Roma em 832, constatou, quase escandalizado, que o clero romano tinha perdido completamente a noção de tal Ordo.

Os documentos mais importantes da liturgia galicana são o Missale Gothicum da igreja de Autun, de fins do século VII; o Missale Gallicanum vetus, da mesma época; as onze missas descobertas por Mone num palimpsesto que pertencera a João II, Bispo de Constança (760-781); o lecionário de Luxeuil (século VII), as homilias de São Germano de Paris e o Missal de Bobbio (século VII).

A liturgia hispânica ou moçárabe deixou materiais documentais mais numerosos, mas ainda parcialmente inéditos. Dom Morin publicou em 1893 o Liber Comicus ou Comes, contendo as leituras da Missa com rubricas muito importantes; Dom Férotin publicou o Liber Ordinum, espécie de eucológio ou ritual, mas ainda falta realizar um estudo cuidadoso sobre o sacramentário e sobre o antifonário, pois o rito moçárabe, exumado por Ximénès no século XV para uso de uma capela na Catedral de Toledo, sofreu importantes interpolações de numerosos empréstimos feitos à liturgia romana; é por isso que o missal e o breviário moçárabes reproduzidos por Migne em sua Patrologia (t. LXXXV) não se prestam a finalidades verdadeiramente científicas.

A liturgia de Milão também possui suas fontes documentais próprias. Entre as mais importantes estão o Sacramentário de Biasca, do século X, e o de Bérgamo, do século XI. Os monges de Solesmes ajuntaram à publicação de um antifonário ambrosiano um estudo bem detalhado e profundo de Dom Cagin, e Magistretti publicou o Beroldus do século XII, demonstrando a grande importância histórica e litúrgica destas coleções de tradições cerimoniais; lembrando os Ordines Romani. Finalmente, Ceriano publicou o texto antigo do missal ambrosiano, e, depois de sua morte, Magistretti e Ratti, completando a obra do ilustre mestre, editaram o aparelho crítico deste insigne monumento da igreja milanesa.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Faça o vermelho / Leia o preto

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Os livros litúrgicos têm as rubricas (regras que o sacerdote deve seguir) escritas em vermelho e o texto a ser lido escrito em preto. Como infelizmente muitos sacerdotes desobedecem à Lei da Igreja que manda seguir as rubricas, o Prof. Carlos Ramalhete decidiu fazer esse adesivo, que deve ser impresso em uma folha de papel adesivo. Ele contém o texto (latino) do cânone do Código de Direito Canônico que manda seguir as rubricas sem nada acrescentar, modificar ou retirar e o texto "Faça o Vermelho / Leia o Preto". O adesivo está disponível como imagem JPG de baixa resolução (para ver na tela do browser clique aqui) e como arquivo PDF para impressão. Cada folha do arquivo PDF imprime três adesivos.

EDITADO em 21/05/2013: Atualizados os links da imagem e do PDF.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Convite para as ordenações diaconais dos legionários de Cristo no Rio de Janeiro

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A Missa é muito mais que uma reunião fraterna

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Encontrei este artigo de Dom Hilário Moser, SDB Bispo Emérito de Tubarão (SC), na home da Canção Nova! O artigo tinha sido publicado no blog do Professor Felipe Aquino, contudo foi publicada primeiramente no blog do Bispo. Grifei algumas partes que achei relevantes.


Quando a Liturgia se corrompe, é toda a vida cristã que corre perigo de se corromper.
A Liturgia é a oração oficial da Igreja, do Povo de Deus, do Corpo Místico de Cristo.
Na Liturgia, é o próprio Jesus, junto com todos os que estão unidos a ele pelos laços da fé, do batismo e do Espírito Santo, que se apresenta ao Pai em sacrifício de salvação do mundo inteiro; que ora ao Pai, que lhe oferece louvor, adoração, agradecimento, pedido de perdão, pedido de ajuda...
O centro da Liturgia é JESUS.
Ela não é – não pode ser! – propriedade particular de nenhum celebrante, de nenhuma comunidade, de nenhum grupo de fiéis, de ninguém: cabe à Igreja – e só à Igreja – organizá-la, modificá-la, aperfeiçoá-la.
Infelizmente, em nome de uma criatividade mal entendida (e de um Concílio Vaticano II mal interpretado), a Liturgia tem sido muitas vezes manipulada a bel prazer.
Indo muito além da liberdade de ação que ela própria permite, tem-se visto de tudo em algumas celebrações litúrgicas.
O fato é que quando as pessoas se permitem certas liberdades no campo da Liturgia, violando suas normas e seus limites, as mesmas atitudes, aos poucos, vão sendo permitidas em outros campos da vida cristã, ou seja, na moral, nos mandamentos, na doutrina e por aí afora.
Tudo fica relativo, isto é, tudo depende do ponto de vista de cada um e cada um faz “do jeito que gosta”.
Corrompida a Liturgia, corrompe-se também a vida cristã e eclesial.
Sem entrar em detalhes, a Liturgia – sempre! – deve pôr em seu centro JESUS, sua vida, sua palavra, sua morte, sua ressurreição, sua presença no meio de nós.
Neste sentido, não é a comunidade o centro da Liturgia, menos ainda o celebrante.
A comunidade e o celebrante se reúnem em torno do Senhor.
É a Ele que deve ser orientada a participação da comunidade e a ação do celebrante.
O celebrante deve ter a consciência e a humildade de não pretender ser o centro das atenções; deve rejeitar todo tipo de exibicionismo.
Pelo contrário, a fé e a devoção do celebrante devem dar o tom da celebração.
A comunidade precisa ser informada e formada para que sua participação não se torne um “festival”, onde há muita “alegria e participação”, mas onde falta o silêncio, a concentração, a atenção à Palavra de Deus, o respeito pelo Corpo e Sangue de Cristo.
Sobre este ponto, no dia 15 de abril de 2010, ao receber em audiência os bispos do Regional Norte 2 da CNBB, Bento XVI dirigiu-lhes palavras muito oportunas.
É bom que você conheça as passagens principais e compreenda sua importância para que uma celebração eucarística seja autêntica.
– “Sinto que o centro e a fonte permanente do ministério do Papa estão na Eucaristia, coração da vida cristã, fonte e vértice da missão evangelizadora da Igreja. Podeis assim compreender a preocupação do Sucessor de Pedro por tudo o que possa ofuscar o ponto mais original da fé católica: hoje Jesus Cristo continua vivo e realmente presente na hóstia e no cálice consagrados. Uma menor atenção que por vezes é prestada ao culto do Santíssimo Sacramento é indício e causa de escurecimento do sentido cristão do mistério, como sucede quando na Santa Missa já não aparece como proeminente e operante Jesus, mas uma comunidade atarefada com muitas coisas em vez de estar recolhida e deixar-se atrair para o Único necessário: o seu Senhor”.
– “Ora, a atitude primária e essencial do fiel cristão que participa na celebração litúrgica não é fazer, mas escutar, abrir-se, receber… É óbvio que, neste caso, receber não significa ficar passivo ou desinteressar-se do que lá acontece, mas cooperar – porque tornados capazes de o fazer pela graça de Deus – segundo «a autêntica natureza da verdadeira Igreja, que é simultaneamente humana e divina, visível e dotada de elementos invisíveis, empenhada na ação e dada à contemplação, presente no mundo e, todavia, peregrina, mas de forma que o que nela é humano se deve ordenar e subordinar ao divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação, e o presente à cidade futura que buscamos» (Const. Sacrosanctum Concilium, 2)”.
– “Se na liturgia não emergisse a figura de Cristo, que está no seu princípio e está realmente presente para a tornar válida, já não teríamos a liturgia cristã, toda dependente do Senhor e toda suspensa da sua presença criadora. Como estão distantes de tudo isto quantos, em nome da inculturação, decaem no sincretismo introduzindo ritos tomados de outras religiões ou particularismos culturais na celebração da Santa Missa (cf. Redemptionis Sacramentum, 79)”!
– “O mistério eucarístico é um «dom demasiado grande – escrevia o meu venerável predecessor o Papa João Paulo II – para suportar ambiguidades e reduções», particularmentequando, «despojado do seu valor sacrificial, é vivido como se em nada ultrapassasse o sentido e o valor de um encontro fraterno ao redor da mesa» (Enc. Ecclesia de Eucharistia, 10).
– "O culto não pode nascer da nossa fantasia; seria um grito na escuridão ou uma simples auto-afirmação. A verdadeira liturgia supõe que Deus responda e nos mostre como podemos adorá-Lo. «A Igreja pode celebrar e adorar o mistério de Cristo presente na Eucaristia, precisamente porque o próprio Cristo Se deu primeiro a ela no sacrifício da Cruz» (Exort. ap.Sacramentum caritatis, 14). A Igreja vive desta presença e tem como razão de ser e existir ampliar esta presença ao mundo inteiro”.
Até aqui as palavras de Bento XVI.
Reflita um pouco sobre elas.
Pelo que depender de você, ponha no centro da Liturgia, em particular da Eucaristia, o próprio Jesus e, junto com sua comunidade, volte-se para Ele e permita que Ele tome conta de sua vida.
Não faça da Liturgia um laboratório de experiências, que só na aparência seriam pastorais...
Respeite a Liturgia tal como a Igreja propõe: respeitar a Liturgia, em particular a Eucaristia, é respeitar a oração do próprio Jesus.
Faça da Eucaristia, celebrada e participada com fé, devoção e respeito, como o “fogo da lareira” que aquece toda a sua vida de discípulo/a de Jesus.
Particularmente a Eucaristia nos domingos e dias santos: sem ela, você “esfria” no seguimento do Mestre.
Sem Eucaristia, o mundo iria de mal a pior, pois a Eucaristia é Jesus.
E Jesus é o único que pode salvar o mundo.
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