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terça-feira, 18 de setembro de 2012

A relação da música com a Liturgia

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Dando sequência à busca de mais sacralidade nas celebrações, reproduzimos uma pregação do formador geral da Comunidade Canção Nova, padre Wagner Ferreira, falando sobre a relação da música com a liturgia. 


Pe. Wagner Ferreira
Para refletir a respeito da música, na liturgia da Igreja, recorro a um Quirógrafo do Sumo Pontífice João Paulo II , publicado em 22/11/2003, em razão do centenário do Motu proprio Tra Le Sollicitudini – Sobre a Música Sacra, do Papa São Pio X

Quero refletir com vocês alguns princípios citados pelo beato João Paulo II, os quais precisamos observar para viver bem a liturgia da Igreja. Todos sabem que existem vários ritmos de músicas e cada um destes se adequam a um respectivo ambiente. Música para um momento de lazer, ritmos para descansarmos e também há um ritmo próprio para as celebrações litúrgicas.


O beato João Paulo II, citando o parágrafo 112 da Constituição Conciliar sobre a Sagrada Liturgia, Sacrosanctum Concilium, afirma que as ações litúrgicas possuem, como finalidade, a glória de Deus e a santificação dos fiéis na santidade de Cristo, por isso ela possui um poder extraordinário.


Muitos homens de Deus testemunham sua conversão, seu encontro pessoal com o Senhor por meio da música litúrgica. Um destes foi Santo Agostinho. Em sua obra "Confissões", ele descreve sua experiência com Deus por meio dos hinos e canções no momento do seu batismo; o santo afirma que foi tomado por um sentimento de santidade quando ouvia os ritmos. 

Quanto aos instrumentos musicais, os critérios que os Documentos da Igreja nos oferecem exigem que estes estejam adaptados ou sejam adaptáveis ao uso sacro, correspondendo à dignidade do templo, podendo sustentar o canto dos fiéis e favorecendo a sua edificação. Portanto, o momento da liturgia não é de espetáculo, de ensaio, nem é lugar para que os músicos fiquem aparecendo. A finalidade é a glória de Deus e a edificação dos fiéis. 

A música instrumental e a vocal se não possuem, ao mesmo tempo, o sentido da oração, da dignidade e da beleza, ela prestará um desserviço e impedirá aos fiéis ingressar na intimidade com Deus; por isso sua finalidade deve ser sempre observada. Um detalhe fundamental é que os ministros de música sejam, acima de tudo, homens e mulheres de oração à luz da Palavra de Deus, pois é dela que decorre toda musicalidade cristã. A liturgia deve cantar os textos sagrados. 

Não devemos cantar na liturgia, mas cantá-la, pois ela dá o conteúdo, a melodia da música, ela oferece o ritmo. A liturgia possui uma forma peculiar, por isso, nem todas as formas musicais são aptas para ela.

sábado, 15 de setembro de 2012

"Stabat Mater dolorosa..."

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Diversas  imagens e invocações da Virgem Maria salientam o aspecto de sua dor, ao ver o sofrimento e a morte do Filho. Desde muito cedo iniciou-se a devoção a Nossa Senhora das Dores. Sua imagem recorda as palavras do profeta Simeão, no templo de Jerusalém, na apresentação do Menino: "Uma espada transpassará a tua alma".

Ela contemplou Jesus nos momentos de dor - flagelação e crucifixão - e ela mesma viveu muitas dores: a perseguição de Herodes; a fuga para o Egito; a perda do Filho aos 12 anos, na peregrinação a Jerusalém; a morte e seputamento dele. O povo sofrido e constantemente em contato com as "dores" da vida se identifica enormemente com a Virgem Santíssima. Com ela também se consola e fortalece, pois o sofrimento é caminho para a glorificação!

Stabat Mater (do latim "Estava a Mãe") é uma seqüencia do século XIII, atribuído ao franciscano Frei Jacopone de Todi. O poema começa com as palavras Stabat Mater dolorosa ("estava a Mãe dolorosa"), e fala do sofrimento de Maria, mãe de Jesus, durante a crucificação. Existe também o hino "Stabat Mater speciosa" ("estava a Mãe formosa"), atribuído ao mesmo autor, que contempla as alegrias de Maria junto ao presépio.

O poema foi musicado por muitos compositores, como Antonio Vivaldi, Rossini, Dvořák e Pergolesi, Giovanni Pierluigi da Palestrina, Marc-Antoine Charpentier, Joseph Haydn, Emanuele d'Astorga, Charles Villiers Stanford, Charles Gounod, Krzysztof Penderecki, Francis Poulenc, Karol Szymanowski, Alessandro Scarlatti (1724), Domenico Scarlatti (1715), Pedro de Escobar, František Tüma, Arvo Pärt, Josef Rheinberger, Giuseppe Verdi, Zoltán Kodály, Trond Kverno (1991), Salvador Brotons (2000), Hristo Tsanoff, Bruno Coulais (2005), e mais recentemente Karl Jenkins.

A maioria do que existe escrito sobre o Dolorosa atribui a autoria do hino a Frei Jacopone de Todi, um franciscano que morreu em 1306. A Igreja só aprovou oficialmente seu uso litúrgico em 1727, quando foi incluído no Breviário Romano e no Missal para a Festa das Sete Dores, dividido em Vésperas (Stabat mater dolorosa), Matinas (Sancta Mater, istud agas) e Laudes (Virginum virgo praeclara). Entretanto Georgius Stella, chanceler de Genoa (d. 1420) em seus "Annales Genuenses" diz que ele começou a ser usado pelos Flagellantes em 1388. Em 1399 os Albati e os Bianchi já o cantavam na procissão dos Nove Dias em Provence. Parece que o texto foi roubado da Igreja da Sequência pelos heréticos. Se realmente o hino foi escrito por Frei Jacopone, partiu dos conventos para uso popular diretamente, o que não era comum na época.


O hino já teve como prováveis autores São Gregório Magno (604), São Bernardo de Claraval (1153), Inocêncio III (1216), São Boaventura (1274), Frei Jacopone de Todi (1306), o papa João XXII (1334) e Gregório XI (1378). Destes, os mais prováveis são Inocêncio III e Jacopone. Bento XIV atribui sem dúvida a Inocêncio. Mone e Hurler também fazem essa atribuição. Já Dufield (Latin Hymns Writers and Theyr Hymns) e Mearns in Julian (Dictionary of Hymnology) rejeitam. Gregorovius acha que "o intelecto frio e majestoso do papa" não o tornaria capaz de elaborar um poema com tal doçura e suavidade calorosa. São Tomás de Aquino é quem faz uma referência a um manuscrito do século XIV contendo poemas de Jacopone dentre eles um Stabat. O argumento para Jacopone não é satisfatório.Seus hinos, escritos no dialeto umbriano tornaram-se populares e merecem respeito, mas muitos certamente não são seus (é duvidoso até se ele escreveu algum), ou em todo caso, qualquer coisa melhor que imitações de hinos em latim.

O Concílio de Trento e o Papa Pio VII quiseram abolir seu uso litúrgico, provavelmente devdido à sua popularidade, e de fato em 1570 foi proibido. O Papa Bento XIII em 1727 autorizou seu retorno para a festa das Sete Dores, realizada no dia 15 de Setembro. Este hino ainda hoje é cantado durante a Quaresma, na recitação e meditação da Via Sacra, entre uma estação e outra. Na Liturgia das Horas, está dividido e distribuído para algumas delas.








Stabat Mater dolorosa juxta crucem lacrymosa
Estava a Mãe dolorosa, junto à cruz, lacrimosa,
Dum pendebat Filius.
Da qual pendia o Filho.
Cujus animam gementem, contristatam et dolentem
A espada atravessava
Pertransivit gladius
Sua alma agoniada, entristecida e dolorida.
O quam tristis et afflicta fuit illa benedicta,
Quão triste e aflita estava ali a bendita,
Mater Unigeniti!
Mãe do Unigênito!
Quae moerebat et dolebat et tremebat cum videbat
Quão abatida, sofrida e trêmula via
Nati poenas inclyti.
O sofrimento do Filho divino.
Quis est homo, qui non fleret,
Qual é o vivente que não chora,
Matrem Christi si videret in tanto supplicio?
Vendo a Mãe do Cristo em tamanho suplício?
Quis non posset contristari,
Quem não ficaria triste,
Christi Matrem contemplari dolentem cum Filio?
Contemplando a mãe aflita, padecendo com seu Filho?
Pro peccatis suae gentis vidit Jesum in tormentis
Por culpa de sua gente, ela viu Jesus torturado,
Et flagellis subditum.
Submetido a flagelos.
Vidit suum dulcem natum moriendo desolatum,
Viu o Filho muito amado, morrendo abandonado,
Dum emisit spiritum.
Entregando o seu espírito.
Eja Mater, fons amoris, me sentire vim Doloris
Mãe, fonte de amor, que eu sinta a força da dor
Fac, ut tecum lugeam.
Para poder contigo pranteá-lo.
Fac,ut ardeat cor meum in amando Christum Deum,
Faz arder meu coração devido à partida do Cristo Deus,
Ut sibi complaceam.
Para que o possa agradar.
Sancta Mater, istud agas, crucifix fige plagas
Santa Mãe, dá-me isto: trazer as chagas do Cristo
Cordi meo valide.
Cravadas no coração.
Tui Nati vulnerati, tam dignati pro me pati,
Com teu Filho, que por mim morre assim,
Poenas mecum divide.
Quero o sofrimento partilhar.
Fac me tecum pie flere crucifixo condolere,
Dá-me contigo chorar pelo crucificado
Donec ego vixero.
Enquanto vida eu tiver.
Juxta crucem tecum stare et me tibi sociare,
Junto à cruz quero estar e me juntar
In planctu desidero.
Ao teu pranto de saudade.
Virgo virginum praeclara, mihi jam non sis amara:
Virgem das virgens radiante, não te amargures:
Fac me tecum plangere.
Dá-me contigo chorar.
Fac, ut portem Christi mortem,
Que a morte de Cristo permita,
Passionis fac consortem
Que de sua paixão eu partilhe,
Et plagas recolere.
E que suas chagas possa venerar.
Fac me plagis vulnerari cruce hac inebriari
Que pelas chagas eu seja atingido e pela Cruz inebriado
Ob amorem Filii.
Pelo amor do Filho.
Inflammatus et ascensus per te Virgo sim defensus
Animado e elevado por ti Virgem, eu seja defendido
In die Judicii
No dia do juízo.
Amém.


Publicado originalmente em: Reflexões Franciscanas.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Como celebrar: Canto e Música (Parte II)

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Dos estudos dos consultores do Departamento das Celebrações do Sumo Pontífice

De um tempo remoto, o canto e a bela música ofereceram uma interface às sublimidades e profundidades das emoções humanas. No entanto, se foram formativas na liturgia, o seu objetivo mais elevado é aquele de dar glória a Deus no culto que, inevitavelmente, eclipsa o seu nobre mas limitado destino, para ir satisfazer um desejo primário de um ótimo serviço. Sobretudo a partir do momento que é dirigida a Deus, «A tradição musical da Igreja universal criou um tesouro de inestimável valor, que excede todas as outras expressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido com o texto, constitui parte necessária ou integrante da liturgia solene» (Catecismo da Igreja Católica [CIC] 1156 Sacrosanctum Concilium [SC] 112. Segundo a tradição da Antiga Aliança, não somente os salmos e hinos são centrais na liturgia hebraica e cristã, mas também a diversidade musical e dos registros simbólicos dos vários instrumentos musicais(CIC 1156). Do ponto de vista moderno, é difícil estabelecer quais sejam todos os instrumentos, ainda que um senso da sua sinfonia pode ser captado graças à nossa apreciação pela versatilidade de um órgão de tubos que anuncia, de uma forma tão amável, as atmosferas distintivas do ano litúrgico. Nunca se deveria perder de vista o apelo de SC 120 sobre a particular estima que deveria ser garantida ao órgão de tubos, ainda quando outros instrumentos sejam consentidos na liturgia sobre a base do fato de que são aptos para o uso sagrado.
Os variados estados de ânimo expressos pelos diversos gêneros de instrumentos musicais na liturgia do Antigo Testamento são indicados pela sua extensão. Entre os instrumentos de corda, a lira, cítara ou kinnōr  eram ouvidos no Templo durante as festas e os banquetes, como indicado em1 Crônacas 15, 16 e em Isaías 5, 12. E é o mesmo instrumento usado por Davi para informar a Saul como indicado em 1 Samuel 16, 23. O nebel ou harpa muitas vezes era tocado junto com a cítara como sugerido no Salmo 108 (107). Enquanto que o nebel com dez cordas como se encontra no Salmo 144 (143) pode ser comparado a uma cítara e é semelhante a um alaúde. Entre os instrumentos de sopro estavam as trombetas em Números 10 utilizada para festas e outras cerimônias importantes; a flauta, elencada no grupo de instrumentos de Daniel 3,5 e o l'halīl ou flauta de tubo que foi usada para simbolizar a dor em Jeremias 48, 36 e para proclamar a alegria em 1 Re 1, 40. E também estavam presentes instrumentos de percussão como os Símbolos doSalmo 150 e as campainhas sobre as vestes de Arão em Êxodo 28, 33-35
Os tesouros da liturgia palpitam vida quando são celebrados e enobrecem o canto e a música de culto. O ato mesmo da troca entre nós e Deus faz presente um lugar onde Deus habita e no qual os seres humanos são tocados pela vida única de Deus. Esta morada de Deus encontra-se na liturgia. A liturgia não é um mero símbolo do mistério divino ou um mero símbolo da verdade da revelação católica. Nos faz presentes a nós mesmos na e por meio da celebração litúrgica. Estes componentes essenciais da liturgia nos mostram que as nossas celebrações não podem ser limitadas pelos nossos sentimentos ou por um imperativo emotivo pelo qual devemos nos sentir bem quando e como celebramos, não importa o quanto sejam importantes estes aspectos no modo em que dirigimos uma mensagem a Deus. A liturgia deve comunicar o significado da Igreja e, ao mesmo tempo, o seu significado entre os participantes que, à sua vez, são alimentados no Espírito e na Verdade. Fidelidade àquilo que parece uma relação a longa distância, na liturgia se tornará uma sensação transitória se as pessoas se adequam à língua sacra da Missa. Não precisa subestimar as pessoas envolvidas que devem reconhecê-la e, com o tempo, crescerá o amor pelos textos que serão conhecidos sempre mais. Três critérios devem ser tidos em conta no canto e a música para realizar o seu potencial: “a beleza expressiva da oração, a participação unânime da assembleia nos momentos previstos e o carácter solene da celebração” (CIC 1157).
A liturgia descreve e forma relações. As relações têm necessidade de perseverança, com e dentro dessas podem nascer equívocos. A liturgia é o lugar de encontro onde Deus mostra a profundidade do pacto do seu amor, de modo que “os homens caídos possam levantar-se sobre as asas da oração” (Stanbrook Abbey Hymnal, "Senhor Deus, a Tua luz que ofusca as estrelas" (Lord God, your light which dims the stars), versículo 2, publicado em 1974). Na liturgia, Deus encontra o anthropos (o homem) sobre uma terra santa. Portanto “promova-se com esforço o canto popular religioso, de modo que nos piedosos e sagrados exercícios, e nas mesmas  ações litúrgicas”, conforme com as normas da Igreja, “possam ressoar as vozes dos fiéis (SC 118, CIC1158). Portanto, o nosso serviço à liturgia na celebração litúrgica não prevê colocar os nossos gostos pessoais e as nossas escolhas particulares diante daquilo que a Igreja transmitiu até nós. A autêntica participação litúrgica celebrará verdades transcendentes do tempo e do espaço, porque “o Espírito Santo guia os fiéis à verdade integral e neles faz habitar abundantemente a palavra de Cristo, e a Igreja perpetua e transmite tudo o que ela é e tudo o que ela crê, também quando oferece as orações de todos os fiéis a Deus, por meio de Cristo e na potência do Espírito Santo” (SC 33; Liturgiam authenticam 19, tradução nossa).

terça-feira, 24 de julho de 2012

Inspirado no Gregoriano

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Um novo e precioso recurso musical litúrgico está disponível para os músicos católicos. Nós o devemos a um paranaense, o Lincoln Haas Hein. Que ele fez?

Lincoln está adaptando as melodias gregorianas para o Ordinário da Missa aos textos em português, e dividindo as partituras de suas adaptações com todos os músicos católicos na internet, em seu blog Inspirado no Gregoriano.

Qual é a importância disto?

Sabemos que o canto gregoriano é a música própria da Liturgia Romana. Não é a única música possível, mas podemos dizer que é sua "música nativa" - de modo que todos os outros tipos de música que ficam bem neste Rito possuem parentescos com o canto gregoriano. A polifonia sacra, também adequada à Liturgia, nasceu a partir das melodias gregorianas.

Por esta razão, o canto gregoriano deve ser sempre cultivado: em certos momentos, como continuidade; noutros momentos, como restauração. No momento atual, o leitor talvez não ache errado que eu diga que estamos na restauração. Embora o canto gregoriano tenha sido cultivado ininterruptamente em certos lugares, sabemos que os tipos de música quantitativamente predominantes no Rito Romano, atualmente, não têm nada de sacros.

A altíssima posição do canto gregoriano no culto divino não é capricho do autor deste texto, nem do Salvem a Liturgia: é o ensinamento de diversos papas e também do Concílio Vaticano II.

O que o Lincoln faz é muito importante, pois, adotando o vernáculo na Liturgia, repele a ideia de, com esse pretexto, criar uma música litúrgica de ruptura, e vai à fonte verdadeira: o canto gregoriano.

Melodias gregorianas com texto em vernáculo têm sido adaptadas em outras línguas também, e na internet encontramos, com grande facilidade, em inglês, mas também em francês, italiano e outras.

Operando esta "gregorianização" do vernáculo, podemos mantê-lo ao mesmo tempo em que se extirpa da Liturgia toda música de divertimento que em tantos lugares se utiliza durante o Santo Sacrifício, causando em nós perplexidade e dificultando a verdadeira participação na celebração dos mistérios.

Este recurso com que Lincoln presenteia os católicos de língua portuguesa é mais um passo fundamental no caminho da reforma da reforma, na recuperação da identidade católica, na dignificação da Liturgia.

O autor do texto corre o risco de se perder em tanto falatório, mas não se esquecerá do link: http://inspiradonogregoriano.blogspot.com.br/ - Lincoln nos dá explicações muito importantes na barra esquerda de seu blog. O caro leitor não deixe de visitá-lo.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Convite: forma extraordinária entre os beneditinos de Pouso Alegre, MG

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Convidamos todos para a SANTA MISSA CANTADA, na FORMA EXTRAORDINÁRIA DO RITO ROMANO, no Mosteiro de São Bento de Pouso Alegre, MG, no próximo domingo, dia 01 de julho, às 08h30.

O mosteiro pertence à Congregação Beneditina do Brasil e tem por pior um amigo do Salvem a Liturgia, D. Bento Albertin, OSB.

Eis o endereço:

Mosteiro de São Bento de Pouso Alegre – MG
Rua: Antonio Scodeller, nº 965.
Bairro São Francisco - CEP: 37550-000
Pouso Alegre - Minas Gerais - Brasil.
Tel: +55 (35)3421-4994.

sábado, 23 de junho de 2012

A Beleza da Liturgia Mozárabe descrita por um cronista muçulmano

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No século XI grande parte da Península Ibérica estava sob dominação muçulmana. O cronista Almakkari, relata um episódio dessa época: um chanceler de Abd-er-Rahman V, Califa de Córdoba, foi a uma igreja de Córdoba para observar a celebração de uma missa. Naquela época a Liturgia seguia o rito conhecido como Hispano-Moçárabe. Diz o cronista que o dito chanceler ficou encantado com a beleza da celebração:

"[O chanceler] a viu [a igreja] coberta com ramos de murta e suntuosamente decorada enquanto o som dos sinos encantava seu ouvido e o esplendor dos círios deslumbrava seus olhos. Deteve-se relutantemente fascinado com a visão da majestade e da alegria sagrada que emanava do recinto; em seguida, recordou com admiração a entrada do oficiante e dos outros adoradores de Jesus Cristo, revestidos de admiráveis ornamentos; o aroma do velho vinho que os ministros vertiam sobre o cálice, onde o sacerdote molhava seus lábios puros; o modesto vestuário e a beleza dos meninos e adolescentes que ajudavam ao lado do altar; a recitação solene dos salmos e das sagradas orações, todos os ritos, em suma, dessa cerimônia; a devoção e o gozo solene com que se celebrava e o fervor do povo cristão..." (Citado em FONTAINE, Jacques. La España Románica 10. El Mozárabe, p. 45. Extraído de: http://www.arquired.es/users/mrgreyes/ermita/index.htm )
*Detalhe de uma miniatura do Libro de los Testamentos da Catedral de Oviedo, c. 1125. Na ilustração, que representa uma Missa sendo celebrada por um bispo auxiliado por um acólito e um diácono, podemos ter uma idéia dos ornamentos litúrgicos do Rito Moçárabe: O altar, decorado somente com panos bordados e coloridos, é iluminado por lamparinas que pendem do teto. O bispo veste alva, dalmática e casula; o diácono veste uma túnica colorida (semelhante as vestes usadas atualmente pelos acólitos e diáconos no rito bizantino) e uma estola pendurada sobre o ombro esquerdo, tal como ainda em uso entre os bizantinos. O diácono está segurando um livro, provavelmente uma espécie de missal, e o báculo episcopal. O acólito está levando ao altar os vasos litúrgicos. Provavelmente esta pintura representa o momento do Ofertório.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Corpus Christi na Canção Nova

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Ontem, na Solenidade do Corpus Domini, contemplamos uma vez mais a iniciativa da Comunidade Canção Nova em tentar expressar com zelo e piedade a adoração ao Senhor Jesus, através de uma liturgia bem celebrada, o que tem atraído muitos fiéis, sobretudo os jovens, como temos ocasião de testemunhar.

A Santa Missa foi presidida por S. Em.ª Revma, o Cardeal D. Cláudio Hummes, e concelebrada por diversos sacerdotes, acompanhada por um belíssimo coral, que, entre outros cantos solenes, entoou o Kyrie, o Agnus Dei, em grego/latim, e uma bela interpretação do Anima Christi, na versão do Mons. Marco Frisina. O arranjo beneditino do altar com a Cruz ao centro, e a distribuição da Sagrada Comunhão de joelhos - como vem ensinando com o exemplo o Santo Padre - tem sido uma constante nas celebrações da Comunidade.

A confecção dos tapetes - tão tradicional nesta solenidade - e a belíssima adoração realizada pela noite são dignas de menção. Esta última, conduzida pelo Revmo Pe. Donizete Heleno - Reitor do Seminário da Canção Nova - foi realizada segundo o Ritual para o Culto Eucarístico fora da Missa, com as leituras próprias intercaladas com Salmos, a proclamação do Evangelho, Preces, e Benção com o Santíssimo Sacramento. Toda ela acompanhada pelo digno coral, que entoava o Adoro Te Devote, o Panis Angelicus, e outros cantos acertadamente escolhidos para a ocasião.

Vemos com grata alegria o esforço que os membros da Canção Nova vêm fazendo para apresentar uma liturgia que expresse a fé da Igreja. Conscientes da importância dessas celebrações para a liturgia em nosso país, gostaríamos de convocar, uma vez mais, os nossos leitores a participar da Campanha de Incentivo à Canção Nova, que pode ser acessada através deste link.






















Vale a pena recordar aqui um trecho da homilia do Santo Padre na Solenidade de Corpus Christi deste ano:  
Ele [Jesus Cristo] não aboliu o sagrado, mas o levou a cabo, inaugurando um novo culto, que é sim plenamente espiritual, mas que todavia, até que estejamos em caminho no tempo, se serve ainda de sinais e de ritos, que desaparecerão somente no fim, na Jerusalém celeste, onde não haverá mais nenhum templo. Graças a Cristo, a sacralidade é mais verdadeira, mais intensa, e, como acontece para os mandamentos, também mais exigente!



terça-feira, 5 de junho de 2012

Arautos do Evangelho publicam no Brasil livro de canto gregoriano

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Em iniciativa merecedora dos elogios mais generosos, os Arautos do Evangelho publicam no Brasil, por meio da Editora Lumen Sapientiae, o Liber Cantualis, que contém Ordinários e diversas das peças musicais gregorianas da Liturgia do Rito Romano.

O leitor pode ver neste link algumas páginas da publicação. Como se poderá ver, é fornecida a tradução em português dos textos em latim próprios do canto gregoriano, o que é de grande ajuda para todos.

Nunca é demais lembrar que o canto gregoriano é o canto próprio da Liturgia Romana, sendo encorajado e solicitado por muitos papas. No século XX, praticamente todos os sumos pontífices escreveram em favor do canto gregoriano e da língua latina na Liturgia, e cada um de nós que houver experimentado o gregoriano e o latim na Liturgia saberá quão grande é sua contribuição para a elevação e a solenização do serviço divino.

Bento XVI, o primeiro papa eleito no século XXI, tem repetidamente demonstrado que também sua é a orientação dos seus predecessores.

O leitor poderá encomendar seu livro no Instituto Lumen Sapientiae:

Rua Dom Domingos de Sillos, n° 238
CEP: 02526-030 – São Paulo -SP
Telefone: (11) 4419-2311
Endereço eletrônico: lumen.sapientiae [arroba] arautos [ponto] com [ponto] br

A notícia nos vem deste link, enviado por um leitor que solicitou esta divulgação que consideramos muito oportuna. É também nosso pedido aos caros leitores que divulguem esta animadora novidade.

sábado, 26 de maio de 2012

A Sequência de Pentecostes, Veni Sancte Spiritus

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Em 2012 a grande Solenidade de Pentecostes cai no dia 27 de Maio, amanhã. São cinqüenta dias depois da Páscoa, durante os quais (sugestivamente mais numerosos que os quarenta da Quaresma) se celebra, especialmente, a Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Da Missa de Pentecostes consta uma sequência, gênero de texto litúrgico do qual existem apenas cinco em uso no Rito Romano (um deles apenas na Forma Extraordinária, o Dies irae). A de Pentecostes é o Veni Sancte Spiritus, assunto do nosso texto de hoje.



Mais exatamente falando, o texto de hoje não é nosso, embora sejamos obrigados a lhe apor comentários que gostaríamos menos numerosos, mas que, esperamos, não serão totalmente inúteis para nosso leitor. O autor é D. Dominic Johner, de cujo original alemão se produziu uma tradução inglesa, da qual extraímos nossa versão em português. Apesar do longo caminho lingüístico, não deixamos de aprender com D. Johner, cujas observações enriquecem nosso conhecimento técnico musical, poético e também nossa espiritualidade litúrgica.

A sequência Veni Sancte Spiritus - em português Vinde, Espírito Santo - não pode ser omitida da Missa de Pentecostes (da Missa do Dia, claro; ela não faz parte da Vigília), nem na Forma Ordinária, nem na Forma Extraordinária.

Como sabemos, a sequência vem depois do Alleluia, embora, na Forma Ordinária, em muitos lugares, ainda se adote o costume de colocá-la antes do Alleluia. O Graduale Romanum e a IGMR (Instrução General do Missal Romano) de 2002 são claros em prescrevê-la para depois do Alleluia, único lugar onde faz sentido: o nome "sequência" se refere justamente ao fato de se seguir ao Alleluia, de continuá-lo...

Se a paróquia, ou capela, ou casa religiosa não dispõe de recursos musicais para a execução da sequência de Pentecostes, faça-se com que ela seja lida, com a sobriedade que exige a recitação de todo texto litúrgico.

Na Páscoa da Ressurreição a Igreja nos oferece a grande sequência Victimae Paschali Laudes; em Pentecostes, a igualmente venerável Veni Sancte Spiritus, dotando destes poemas especiais a Liturgia destes dois dias santos e centrais para a fé. Na Forma Extraordinária, ainda durante uma semana se prolonga Pentecostes, nos dias de sua Oitava - dias que tanto gostaríamos de ver reintroduzidos na Forma Ordinária, e cuja extinção foi lamentada pelo próprio papa Paulo VI.

Nas Filipinas, em 2009, Missa de Pentecostes na Forma Extraordinária
Sequência, Evangelho e parte do sermão

Na Forma Extraordinária, durante toda a Oitava de Pentecostes Veni Sancte Spiritus é parte da Missa. Do mesmo modo, também durante a Oitava da Páscoa a sequência Victimae Paschali Laudes se recita ou canta em todas as Missas, obrigatoriamente; na Forma Ordinária, atualmente, ela é facultativa (mas sempre obrigatória no Domingo).

O texto litúrgico oficial em português não é uma tradução literal (ao pé da letra) do original latino, nem poderia ser; trata-se de um poema, e assim é necessário fazer algumas alterações para que em português haja rimas e a métrica seja regular. Mesmo assim, as imagens do original permanecem:
Espírito de Deus, enviai dos céus um raio de luz!
Vinde, Pai dos pobres, dai aos corações vossos sete dons.
Consolo que acalma, hóspede da alma, doce alívio, vinde!
No labor descanso, na aflição remanso, no calor aragem.
Sem a luz que acode, nada o homem pode, nenhum bem há nele.
Ao sujo lavai, ao seco regai, curai o doente.
Dobrai o que é duro, guiai no escuro, o frio aquecei.
Dai à vossa Igreja, que espera e deseja, vossos sete dons
Dai em prêmio ao forte uma santa morte, alegria eterna!
Enchei, luz bendita, chama que crepita, o íntimo de nós!

O texto latino é este:
Veni, Sancte Spiritus,
et emitte caelitus
lucis tuae radium.
Veni, pater pauperum,
veni, dator munerum
veni, lumen cordium.
Consolator optime,
dulcis hospes animae,
dulce refrigerium.
In labore requies,
in aestu temperies
in fletu solatium.
O lux beatissima,
reple cordis intima
tuorum fidelium.
Sine tuo numine,
nihil est in homine,
nihil est innoxium.
Lava quod est sordidum,
riga quod est aridum,
sana quod est saucium.
Flecte quod est rigidum,
fove quod est frigidum,
rege quod est devium.
Da tuis fidelibus,
in te confidentibus,
sacrum septenarium.
Da virtutis meritum,
da salutis exitum,
da perenne gaudium. Amen. Alleluia.

Quem é o autor desta sequência? Quem responde a esta pergunta é D. Johner, no texto que traduzimos aqui:

A sequência se compõe de cinco estrofes duplas, feita cada de uma de três versos espondaicos. De acordo com investigações recentes, sua autoria deve ser atribuída a Stephen Langton, chanceler da Universidade de Paris (+1228). [Nascido em 1150, Stephen Langton foi Arcebispo da Cantuária, em inglês "Canterbury", a sé episcopal que foi católica até o rompimento de Henrique VIII com a Igreja, no século XVI.]
Em seu primeiro verso a primeira estrofe usa o material melódico do segundo Alleluia, sendo, portanto, sua continuação melódica; em conteúdo, é um desenvolvimento da fervorosa súplica do Alleluia. Assim, temos aqui uma Sequentia (continuação) no sentido exato desta palavra. Do fundo de nossa indigência o motivo ascende, é ouvido uma quarta acima no segundo verso, e com uma mudança de intervalo no terceiro verso, apresentando assim uma forma a - a1 - a2. O intervalo de sexta entre o segundo e o terceiro versos é muito raro no cantochão. Surpreendente é, também, o movimento ascendente da última sílaba da palavra no fim do verso. O mesmo ocorre em alguns dos seguintes pares de estrofes.
O primeiro par de estrofes canta o Espírito Santo como fonte de luz e das riquezas da alma:
1a - Espí­rito de Deus, enviai dos céus um raio de luz!

1b - Vinde, Pai dos pobres, dai aos corações vossos sete dons.
O segundo par de estrofes se estabelece na dominante e, com jubilosa confiança, ascende uma oitava acima da tônica. Elas louvam o Espírito Santo como fonte da consolação nas provações e nos sofrimentos. A execução se deve aqui dotar de mais força:
2a - Consolo que acalma, hóspede da alma, doce alívio, vinde!

2b - No labor descanso, na aflição remanso, no calor aragem.


O terceiro par de estrofes se estabelece na oitava, aspecto sem precedente no período clássico de composição de cantochão e difícil de encontrar antes do século XI. Quão animador é este apelo pela luz salvadora! A passagem ddcbcdc, no começo foi tomada, parece, de (in La)-bore requies. No terceiro verso, b[b] a g f corresponde a d c b a do primeiro:
3a - Sem a luz que acode, nada o homem pode, nenhum bem há nele.

3b - Ao sujo lavai, ao seco regai, curai o doente.
Até aqui a Seqüência estava quase continuamente ascendendo e se expandindo. No par subseqüente de estrofes a melodia descreve uma curva e se dota de mais ternura. Uma harmonia graciosa marca as linhas do primeiro e do segundo versos: bab cbagfefgfed.
O terceiro verso é quase o mesmo do motivo inicial da Seqüência de Corpus Christi (Lauda Sion). Este é o único par de estrofes de termina no tenor. Deve-se tomar cuidado para que a primeira nota de cada verso não seja prolonga; do contrário, resultará num mero compasso 3/8:
4a - Dobrai o que é duro, guiai no escuro, o frio aquecei.

4b - Dai à vossa Igreja, que espera e deseja, vossos sete dons.
Depois desta diminuição em registro e volume, o vigor anterior retorna no último par de estrofes, e está mesmo aumentado.  Abrasador e turbulento como o brilho das línguas de fogo é o anel do primeiro e do último membros; podem bem ser cantados forte. Há quintas descendentes no começo, e terminações que correspondem uma à outra (acba = dfed). O verso intermediário é mais quieto. A estrofe sinal novamente de estabelece na oitava.
Assim como a primeira estrofe ora insistentemente Veni quatro vezes, o último par tem quatro vezes da: dai, ó Espírito Santo!
5a - Dai em prêmio ao forte uma santa morte, alegria eterna!

5b - Enchei, luz bendita, chama que crepita, o íntimo de nós!
O compositor deste canto era uma verdadeira harpa de Deus tocada pelo próprio Espírito Santo. Seus sons permanecerão por tanto tempo quanto a humanidade recorrer, em oração sincera, ao “Pai dos pobres”. Quem quer que perceba a carência de seu próprio coração, quem quer que simpatize com tudo aquilo que move o seu coração e o coração de seus irmãos, quem quer que reflita, enquanto medita o texto e seu desenvolvimento melódico, sobre a obra do Espírito Santo nas almas e na Igreja, alcançará a mais adequada interpretação deste canto magnífico.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Música devocional é diferente de música litúrgica

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Jeffrey Tucker explica:

Há dois equívocos freqüentes a respeito da música religiosa popular:
1) a crença em que ela seja algo revolucionário e novo nos tempos modernos;
2) a ideia de que ela represente ameaça ao culto litúrgico.
Nenhuma delas é verdadeira. A música devocional é tão antiga quanto a própria Fé. E não representa nenhum problema, desde que as pessoas não a confundam com música litúrgica, que é sempre vinculada ao texto litúrgico. O grande problema do nosso tempo é essa terrível confusão. De algum modo precisamos reencontrar o caminho de volta ao texto litúrgico, de modo a podermos colocar a música devocional no seu lugar adequado.

Parece-me que na maioria das celebrações da Santa Missa, no Brasil, ocorre o uso de música devocional substituindo a música litúrgica (e tudo indica que não é só no Brasil). Não fiz nenhuma pesquisa baseada em métodos estatísticos para dizer que é a maioria (mais de 50%, portanto), mas os relatos e a experiência sugerem isso. Mesmo assim, ainda que isso ocorra em dez por cento das igrejas, deveríamos trabalhar para que nelas a situação mudasse.

Se fossem só dez por cento, não poderíamos abandoná-las, só por ser minoria. E, sendo a maioria, não podemos considerar que seja certo só porque a maioria está fazendo.

Também não se pode justificar o uso incorreto da música devocional na Liturgia dizendo que isso acontece há "muito tempo" (uns quarenta anos). Isto equivale a dizer que um erro, cometido durante bastante tempo, torna-se um acerto.

Jeffrey Tucker é um otimista, e escreve a explicação que traduzimos ali acima sob o ponto de vista pelo qual a música devocional não ameaça o culto litúrgico. De fato, a situação ideal é essa: o cultivo da autêntica música litúrgica não exige que se abandone todo o resto da cultura musical; pelo contrário.

Entretanto, é importante lembrar que essa ameaça existe, sim, se não tivermos clara a diferença entre música devocional e música litúrgica. Se soubermos o que é cada uma, ótimo; se as confundimos, temos a situação atual: a música pop de letras religiosas entra na Liturgia.

Seria o equivalente a pegarmos livros de sucesso do momento atual e introduzirmos seus textos na Liturgia, substituindo as leituras da Sagrada Escritura. É verdade que o pop religioso tem letra religiosa, e tirar uma Carta de São Paulo para colocar Harry Potter não produz uma comparação exata, já que os livros deste personagem não são religiosos; mas nossa analogia pode fazer mais sentido se o leitor imaginar um livro de auto-ajuda, ou então certos livros escritos por católicos, às vezes sacerdotes, cujo conteúdo (e também o aspecto visual) é do mesmo naipe.

Bem, não importa: ainda que se tratasse de um piíssimo poema do Beato Anchieta, ou o mais místico escrito de Santa Teresa, não os tomaríamos para substituir as leituras bíblicas da Liturgia da Missa. Do mesmo modo não podemos colocar música devocional no lugar do Introito, do Gradual (ou do Salmo Responsorial), do Alleluia (ou Trato), do Ofertório e da Comunhão. Todos eles, com raríssimas exceções, são tirados da Escritura, prescritos pela Igreja do mesmo modo que são prescritas as leituras. E estamos substituindo essas palavras por música devocional ruim, quando o certo é não substituir nem mesmo por música devocional boa.

O caso das Missas Baixas da Forma Extraordinária do Rito Romano é diferente. Tais Missas, não tendo o seu texto cantado, mas recitado pelo sacerdote, admitem o canto de música devocional pela assembleia; canto, entretanto, sujeito a certas regulações que impedem o uso de música inadequada. O ideal é a Missa Alta, com o Próprio efetivamente cantado.

As rubricas da Forma Ordinária, o rito aprovado pelo papa Paulo VI e que entrou em vigor em 1969-1970, além da compilação do Graduale Simplex, entre outras iniciativas, buscam possibilitar maior uso da música litúrgica autêntica. Entretanto, isto em grande parte ficou no papel: a desobediência, a insubordinação, o desejo de ruptura e a ignorância das coisas sagradas transformaram a Liturgia, em muitos lugares, num palco de mau gosto onde tudo é permitido, menos o tradicional, o genuíno e o sacro.

Se às vezes se chama, pejorativamente, de "rubricismo" ao desejo de seguir com fidelidade o que a Igreja prescreve para a Liturgia, é de se lamentar que às vezes pareça haver um desejo de fazer tudo exatamente ao contrário do que as rubricas dizem, indo contra qualquer bom senso, numa tentativa de contrariar todo o passado e definindo, se fosse possível, a fundação da Igreja e a instituição da Liturgia para o dia de hoje.

Não se deseja que um texto assim termine de modo negativo; antes, é importante ter em mente que a música autêntica é possível, e que sua reintrodução, na maioria dos casos, acontece "tijolo a tijolo" - gradualmente. Ou "devagar e sempre", para usar outra expressão popular. O essencial é tomarmos a consciência das necessidades e peculiaridades musicais da Liturgia, e do enorme bem espiritual que representa o respeito às suas tradições e prescrições. Fariseus? Não há problema: é Cristo, e só Ele, quem sabe o que há na mente de cada um.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Por que a música católica está uma bagunça?

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Publicado originalmente em 9 de Dezembro de 2011 no Chant Café, este é mais um ótimo texto do Jeffrey Tucker.

Em alguns trechos (poucos), Tucker fala de situações que fazem mais sentido nos Estados Unidos (como o cartel de editoras que acabam controlando o repertório litúrgico); entretanto, o texto quase inteiro é uma descrição excelente da atual situação da música litúrgica na Igreja Católica, tanto no Brasil, como nos Estados Unidos e na maioria dos outros países onde vivem católicos.

Para o leitor ter uma ideia, o artigo obteve, em pouco tempo, lá no Chant Café, 72 comentários...

O leitor pode ler o texto original neste endereço: Why is Catholic music such a mess?

As notas do tradutor aparecem em vermelho, entre colchetes.

*

Esta pergunta me é feita com tanta frequência que justifica um artigo. Um homem católico, tentando firmar-se mais na sua Fé, mas que não assiste à Missa regularmente, decide que é hora de tentar de novo. Ele vai a uma paróquia perto da sua casa. A procissão de entrada lhe diz: não mudou nada desde a última vez. Ele range os dentes o tempo todo. Na hora da Comunhão, já está enlouquecendo. No canto final, já enlouqueceu. Ele vai para o estacionamento xingando mentalmente, irritado, lembrando-se de por que não vai à igreja com freqüência. 
O problema é a música. É música pop mal tocada por pessoas que, no entanto, parecem se orgulhar da sua performance. Durante toda a Missa, o homem se pergunta: como é que pode acontecer que a mais bela liturgia, produto de dois mil anos de tradição, seja reduzida a isso? E, mais importante que isso, não há nada que se possa fazer a esse respeito? 
Recebo telefonemas e e-mails com histórias parecidas com esta, e já faz anos. O forte contraste entre a realidade e o que eles lembram de como é a Missa, ou imaginam como possa ser, é demais para se tolerar. 
Vejo meu trabalho aqui uma tentativa de acalmar as pessoas e lhes mostrar que a origem do problema não é, como pensam, a princípio, metafisicamente maliciosa. Não precisamos de um expurgo, mesmo que seja uma ideia tentadora. A solução também não é um salto para um futuro autoritário no qual um bispo ou o Papa imponham um certo repertório e lancem fora todo mundo que não o siga, por mais satisfatória que seja tal fantasia. 
Há várias razões principais pelas quais este problema persiste, e essas razões se relacionam entre si de maneira complexa. Esclareçamos primeiro que os próprios músicos experimentam certo desconforto em relação ao que fazem. Eles não têm certeza absoluta de que estão realmente contribuindo com a liturgia. Sentem uma espécie de desconexão com o que está acontecendo no altar. Não têm clareza quanto à propriedade da música que estão fazendo. Porém, são voluntários (isto é, não são pagos), conscientes de que ninguém parece ter objeções, e recebem elogios de tempos em tempos. Então, assim eles raciocinam, eles podem muito bem continuar a fazer o que fazem, isto é: aparecer meia hora antes da Missa e escolher hinos e fazer o que já sabem como se faz. [O que Tucker chama de "hinos" não são os hinos litúrgicos que fazem parte do Ofício, mas a música não-litúrgica que acaba entrando na Missa, sejam relativamente sóbrios como os de antes, sejam as canções pop de hoje] Eles não veem o cenário mais amplo. Eles não imaginam aquilo que não sabem fazer e compreender musicamente. 
A questão número um, no meu ponto de vista formado ao longo de uma década de estudo, é que os próprios músicos não conhecem o assunto. A maioria das pessoas que estão fazendo música na Igreja Católica não possuía nem mesmo uma compreensão rudimentar das exigências musicais do Rito Romano. Elas não sabem quais as partes da Missa que constituem o Ordinário. Elas não sabem que o Próprio da Missa existe. Elas não têm ideia de como a música se relaciona à palavra ou ao calendário (além de Natal e Páscoa). Elas não sabem o que é obrigatório, o que é opcional, o que é escolha da Igreja, o que é escolha da editora de música, o que é da tradição, nem como diferenciar a música litúrgica genuína da música não-litúrgica. 
E é porque isto nunca lhes foi explicado. Uma razão para nunca terem aprendido isto é que muito poucas pessoas realmente têm essa compreensão. Você pode participar de dez convenções nacionais [ou certos cursos], ler dez livros, assinar todas as publicações sobre liturgia, ler sites o dia inteiro, falar com o seu pároco e predecessores, e mesmo assim nunca descobrir estes pontos básicos da liturgia católica e suas exigências musicais. Sim, você vai se deparar com slogans e com o conhecimento de que “o povo” tem que participar, mas não participa (é sempre mais fácil focar no pecado dos outros), mas só.
A informação essencial quanto ao papel da música é desconhecida, e este problema não é sério apenas na raiz; chega também no topo. De novo, não é a malícia que evita a difusão desse conhecimento; é que existe tanta informação que se perdeu nestas décadas confusas que existe muito pouca gente que realmente entende. 
O segundo problema é que os recursos para uma verdadeira contribuição musical com a liturgia estão faltando há algumas décadas. O livro de música do Rito Romano, o Gradual Romano, é desconhecido de 98% dos músicos da Igreja Católica. Eles nunca viram um exemplar, nem sequer ouviram falar dele, embora seja mencionado tanto no Missal quanto na Instrução do Missal (IGMR). Mesmo na improvável possibilidade de que tenham visto o livro, eles não sabem ler nem a língua (latim) nem a notação (pauta de quatro linhas). Eles não sabem que há versões em inglês disponíveis. [Lembrando que o autor do texto é americano. Da nossa parte, precisamos de música litúrgica em português. O Salvem a Liturgia tem trabalhado nisto, e certamente existem trabalhos feitos nos países de língua portuguesa que merecem e precisam ser difundidos] Se eles soubessem que há, não saberiam como obter. 
Historiadores que examinaram este problema de perto notam que tudo isso começou na década de 1960 como uma extensão do problema que já existia antes do Concílio Vaticano II. Numa cultura de Missas Baixas, era comum substituir o Próprio cantado por hinos e o Próprio recitado. [Missa Baixa é o nome dado à Missa apenas rezada, não cantada, na Forma Extraordinária do Rito Romano. Às vezes imaginamos o passado como um paraíso de Missas Altas com canto gregoriano e polifonia o tempo todo, todo Domingo. Nem sempre era o caso; onde não houvesse tais recursos artísticos, humanos e materiais, a Missa Baixa era a regra, por força das circunstâncias. Isto é o que o autor chama de "cultura de Missas Baixas"] Quando o estilo dos hinos, nos anos 60, mudou de pesadão para modernete, o Próprio da Missa ficou de lado. Por isto é que foi nos anos 60 que começaram a aparecer os sinais daquilo que muitos veem como uma corrupção. A música pop começou a dominar, primeiro como canções que substituíam o Próprio. Só mais tarde tornou-se comum a substituição dos cantos do Ordinário da Missa por outros que combinavam com o estilo das novas canções. No começo da década de 1970, a limp­­­eza tinha sido geral. Toda a música da Missa tinha uma cara completamente nova. Quando o Gradual Romano da Forma Ordinária foi publicado em 1974, a questão já tinha sido resolvida e o livro foi largamente ignorado. 
Há outros problemas, claro. Fala-se sobre o problema do cartel de editoras. Mas, como sempre lembro às pessoas, o jeito de lidar com este problema é simplesmente uma questão de mudar o mercado. Você tem que mudar as preferências de compra dos consumidores. É muito simples. Você pode fazer isto sem legislação, batidas policiais, intimidação ou beligerância. É apenas uma questão de oferta e demanda. Nos mercados, produtos vêm e vão. Se você não gosta daquilo que vende, apoie outra coisa. 
E quanto a legislação e decretos? Declarações vindas do alto? Imposições da autoridade? Não considero nada disto como parte de soluções reais. Continuará a haver declarações, assim como tem havido já faz décadas. Elas não são tão importantes quanto a verdadeira mudança de corações por meio de experiências reais. Por isto é que colóquios educacionais e conferências são tão importantes. E é por isso que o Parish Book of Chant [Livro Paroquial de Canto] e os Simple English Propers [Próprios Simples em Inglês] são também tão importantes. [Esses dois livros são publicações recentes que contêm música litúrgica autêntica para uso nos Estados Unidos, de fácil obtenção, preço baixo e, muito importante: permanentes] Nós precisamos dos recursos. E precisamos de dinheiro para financiar a produção desses livros e conferências – e doadores generosos (benditos sejam!) são poucos. 
Isto é meu esboço do mundo que herdamos e de como devemos trabalhar para mudá-lo. Existe uma solução para o problema e ela pode acontecer rápido. Não precisamos de décadas. Mas precisamos de paixão, trabalho, ajuda financeira e oração.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

O padre que canta

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Fala-se muito da participação dos fiéis na Missa. É interessante perceber que também o sacerdote pode ampliar a sua participação na Sagrada Liturgia, e de maneira que tanto soleniza as ações sagradas que se aumenta também o fruto colhido pelos fiéis.

É disto que fala este importante texto de Jeffrey Tucker, publicado no dia 12 de Abril passado, no Chant Café, e aqui traduzido pelo Salvem a Liturgia.

Creio que será de grande interesse para todos, e especialmente para os sacerdotes.

Notas do tradutor aparecem entre colchetes, em vermelho. Quando o leitor encontrar a palavra chant, trata-se da palavra inglesa que, significando "canto", refere-se não a qualquer canto, mas aqui ao canto litúrgico autêntico da Liturgia. Todo canto é singing, mas nem todo singing é chant.

Se o leitor quiser ler o original, poderá encontrá-lo neste link: http://www.chantcafe.com/2012/04/singing-priest.html

*

Todo mundo sabe que o católico comum tem um problema com o canto. Não importa quantas palestras sejam dadas, nem quanto o cantor mexa com os braços, o canto numa paróquia católica é sempre mais baixo do que em qualquer congregação protestante. 
Não estou entre aqueles que acham que isso seja um problema central da liturgia a ser consertado. Da minha parte, acho irritante, quando visito uma paróquia e canto, que algumas pessoas me encarem como se dissessem “ei, aqui não fazemos isso!”. No final, o que importa na Missa não é que todos cantem com o máximo de sua voz, mas o movimento interior de oração e contemplação. 
Quanto ao canto, um problema muito mais sério se refere ao celebrante. Suas partes devem ser cantadas tanto quanto possível, e com a maior frequência possível. Aqui temos um problema. Quando as partes não são cantadas, o povo não canta os diálogos (“O Senhor esteja convosco” – “Ele está no meio de nós”) [que, traduzindo do original latino, é mais exatamente  “O Senhor esteja convosco”  -  “E com o teu espírito”] e estas partes são as mais fáceis e mais comumente cantadas. Quando os diálogos são falados, a estrutura litúrgica é desestabilizada porque o único canto vem do coro, e isso reforça a ideia de que a música é mero pano de fundo para entretenimento, como simples apresentação artística. 
Em 2007, a USCCB [a “CNBB” dos Estados Unidos] emitiu um documento chamado “Sing to the Lord” (“Cantai ao Senhor”). Sobre a necessidade de o sacerdote cantar, eis o que ele diz: 
“Nunca é demais enfatizar a importância da participação do sacerdote na Liturgia, especialmente por meio do canto. O sacerdote canta as orações presidenciais e diálogos da Liturgia de acordo com suas capacidades, e encoraja a participação cantada na Liturgia por seu próprio exemplo, juntando-se assim ao canto da assembleia... Seminários e outros programas de formação sacerdotal devem treinar os sacerdotes para que cantem [chant] com confiança as partes da Missa que lhe competem. Os sacerdotes capazes devem ser treinados na prática de cantar [chant] o Evangelho em ocasiões mais solenes nas quais não esteja presente um diácono. No mínimo, todos os sacerdotes devem cantar com segurança as partes da Oração Eucarística que lhe competem, cuja notação musical consta do Missal Romano.” 
Apesar da linguagem desajeitada e sem imaginação, a mensagem está correta. Ainda assim, de novo, a exortação permanece sem efeito. Por quê? Eis minha teoria. Nossa cultura trata a noção de “canto” como algo feito por especialistas, artistas, estrelas pop, e sempre para deleitar o público. American Idol. Cantar é isso. O sacerdote nota o contraste entre si mesmo e essas pessoas, e chega à conclusão inevitável: não sou cantor. Sério, vocês não querem ouvir a minha voz. Eu não consigo cantar nem mesmo uma melodia simples. Portanto, não vou cantar a liturgia. Estou poupando vocês dessa dor. 
Sabe o que é pior? Essa noção errada sobre o canto é reforçada pela presença da música pop na Missa. Música pop estimula o ethos de apresentação artística. Acordes típicos de linguagem jazzística e uma sensibilidade de balançar com a cabeça ao som da música força essa ideia de que o canto é só para aqueles que querem ser amados e admirados por seus grandes talentos. Grupos de música que fazem esse tipo de música aumentam a falta de envolvimento do sacerdote no canto. 
Não é à toa que poucos bispos, nos Estados Unidos, cantam suas partes. É porque estão muito acostumados à música pop e ao ethos pop que está dominando a Missa. Do mesmo modo que uma pessoa muito falante não deixa você balbuciar sequer uma palavra, este estilo de música não gosta que o celebrante murmure uma nota sequer. Esta música deixa de fora o canto litúrgico simples [chant]. O celebrante acaba acreditando que não há espaço para ele na Missa. 
Deveria haver uma palavra diferente para designar o que realmente se requer do celebrante. Não se requer dele tornar-se uma estrela, nem entreter ninguém. Não está em busca de um canal no Pandora, nem tentando vender downloads no iTunes. Não está tentando vencer uma competição. Na concepção que a Igreja tem do canto do sacerdote não há muita diferença entre o canto e a fala. Esse canto é uma fala com um tom de voz um pouco diferente, em que uma nota “decola” do chão que é o nível comum de conversa e coloca as palavras em voo. É um simples deslocamento que faz uma diferença enorme no modo com que as palavras se transmitem. 
Pessoalmente, nunca ouvi um sacerdote que não pudesse cantar as partes que lhe é pedido cantar. Eu vou mais longe e digo que o sacerdote mais qualificado é precisamente aquele que pensa que não é. Isto implica em certa humildade, necessária para se cantar na Liturgia. 
O primeiro passo, que qualquer sacerdote pode dar já nesta semana, é encontrar uma nota e enunciar as palavras da Missa nessa mesma nota, ao invés de simplesmente dizê-las. Mantenha o ritmo da fala. Não há necessidade de mudar de nota, no início. Apenas escolha uma nota, aleatoriamente, que seja confortável, e vá adiante com o texto da Missa. Já estará cumprindo o que a Igreja pede com este pequeno ato. 
Conheço um padre que passou pelo seminário e pelos seus primeiros anos de sacerdócio sem cantar uma única nota. Estava convencido de que não sabia fazer isso. Ele não era cantor e se recusava a cantar. Sem negociação. Era assim. 
Um dia esse sacerdote ouviu esse conselho, essa observação: cantar a Liturgia não é como cantar na Broadway ou fazer um teste para um musical. Uma nota é suficiente no começo. Então ele tentou isso na Liturgia. E o que houve? Ele foi simplesmente brilhante. Foi fantástico. As palavras ficaram muito claras e o texto foi enobrecido e elevado. Ele gostou muito porque soube imediatamente o que essa pequena ação fez à Liturgia. Ela mudou todo o ambiente, que se tornou mais solene e mais belo. E isto foi só o começo. Nas semanas seguintes, ele tentou mais. Logo havia superado seus medos e redefinido a si mesmo e suas próprias habilidades. 
A Missa em que eu o ouvi fazer isto era, antes, cheia de cantos da schola cantorum e do povo, que cantavam [chant] as partes da Missa sem acompanhamento. Isto tudo facilitou sua primeira tentativa de se integrar a uma estrutura estética que já existia. Talvez tivesse sido diferente se o coro cantasse jazz ou rock ou se houvesse um grande solista que impressiona o público. Crendo que um simples canto seria algo deslocado, ele poderia nunca ter tentado. 
A solução, pois: o coro deve cantar [chant]. É o que dá ao sacerdote a confiança para tentar cantar suas partes. E ele é capaz, sem nenhuma dúvida. Então começaremos a ver mudanças nos fiéis em sua participação no canto [chant].

domingo, 15 de abril de 2012

Existem dois Alleluias nas Missas do Tempo Pascal?

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A pergunta que dá título a este texto talvez não seja muito popular, mas acredito que possa captar a atenção de alguns dos leitores, seja surpresos com o fato de que possa haver dois Alleluias numa Missa, seja pela oportunidade de ler sobre um aspecto litúrgico que já lhes é conhecido.


A presença de dois Alleluias se dá tanto na Forma Ordinária quanto na Forma Extraordinária do Rito Romano, isto é, tanto na liturgia aprovada pelo papa Paulo VI e posta em uso em 1969 quanto na chamada Missa Tridentina.

Para que possamos falar dos dois Alleluias, é preciso que nos lembremos do Gradual. Na maioria das igrejas em que se celebra a Forma Ordinária o Gradual não é utilizado, dando lugar ao Salmo Responsorial previsto no Lecionário. Entretanto, o Gradual continua sendo a opção tradicional, com séculos de uso; ele consta, inclusive, do Graduale Romanum, o livro de partituras litúrgicas por excelência; e estou falando mesmo da sua edição de 1974, publicada para a Forma Ordinária. 

Tal é a música do Rito Romano.

Consideremos, a partir de agora, o Gradual como o canto próprio para se seguir à Primeira Leitura.

Completamente distinto do Gradual é o Alleluia, que antecede o Evangelho. Na Forma Ordinária, o Alleluia só se omite na Quaresma, e na Extraordinária se omite a partir da Septuagésima (algumas semanas mais cedo), dando lugar ao Trato.

Na Forma Ordinária, portanto, a ordem é:

1. Primeira Leitura
2. Gradual
3. Segunda Leitura (se houver; em caso negativo, passa-se ao próximo item)
4. Alleluia
5. Evangelho

Na Forma Extraordinária não existe a Segunda Leitura, e os itens restantes mantêm sua posição.

Entretanto, quando chega o Tempo Pascal, em ambas as formas do Rito Romano, ocorre uma explosão de Alleluias em toda a Liturgia, tanto na Missa quanto no Ofício Divino. Na Missa, uma manifestação desse imenso júbilo é a substituição do Gradual por um Alleluia:

1. Primeira Leitura
2. [primeiro] Alleluia
3. Segunda Leitura (se houver)
4. [segundo] Alleluia
5. Evangelho

Ambos os Alleluias são cantados com um versículo, na forma Alleluia - versículo - Alleluia.

Durante a Quaresma, a penitência e o caráter mais recolhido nos davam, na Missa, um Gradual e um Trato; o júbilo pascal, em compensação, nos dá dois Alleluias! E o Gradual propriamente dito só volta depois de Pentecostes.

Porém, a Oitava da Páscoa traz uma pequena diferença. Ali encontraremos, desde o Domingo de Páscoa até a Sexta-feira, um Gradual. Mas não qualquer Gradual: trata-se do Haec dies; um cântico pascal que nos faz viver, em cada dia da Oitava da Páscoa, o próprio dia da Páscoa; um grande dia prolongado.

Nesta solenidade, a assembléia dos fiéis, alimentada no regaço materno da santa Igreja, formando um só povo e uma só família, adorando a Unidade da natureza divina e o nome da Trindade, canta com o Profeta o salmo da grande festa anual: Este é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos (Sl 117,24). [Da Segunda Leitura do Ofício das Leituras da Quarta-feira na Oitava da Páscoa, da Homilia Pascal de um autor antigo]

Gradual do Domingo da Páscoa da Ressurreição

Em cada um desses seis dias (do Domingo até a Sexta-feira, lembremo-nos), o Haec dies se faz alternar por um diferente versículo de salmo. Cinco deles são tomados do Salmo 117, e na Terça-feira, excepcionalmente, um versículo do Salmo 106.

Domingo da Páscoa da Ressurreição - Sl 117, 1 - Confitemini Domino, quoniam bonus: quoniam in saeculum misericordia eius. Louvai ao Senhor, porque ele é bom; porque eterna é a sua misericórdia.

Segunda-feira - Sl 117, 2 - Dicat nunc Israel, quoniam bonus: quoniam in saeculum misericordia eius. Diga agora Israel quão bom é o Senhor, pois sua misericórdia é eterna.

Terça-feira - Sl 106, 2 - Dicant nunc, qui redempti sunt a Domino: quos redemit de manu inimici, et de regionibus congregavit eos. Assim digam os que o Senhor remiu, os que livrou da mão do opressor.

Quarta-feira - Sl 117, 16 - Dextera Domini fecit virtutem, dextera Domini exaltavit me. A mão direita do Senhor se levantou, a mão direita do Senhor me exaltou.

Quinta-feira - Sl 117, 22.23 - Lapidem, quem reprobaverunt aedificantes, hic factus est in caput anguli: a Domino factum est, et est mirabile in oculis nostris. A pedra que os pedreiros rejeitaram, ficou sendo a pedra angular; foi o Senhor que fez isto: maravilha aos nossos olhos.

Sexta-feira - Sl 117, 26.27 - Benedictus qui venit in nomine Domini: Deus Dominus, et illuxit nobis. Bendito o que vem em nome do Senhor! O Senhor é Deus, ele nos iluminou.

No Sábado o Gradual dá lugar a um Alleluia; e seu versículo é o próprio Haec dies, do Salmo 117 do qual se tiraram quase todos os versículos citados anteriormente:
Haec dies, quam fecit Dominus: exsultetmus, et laetemur in ea. Esse é o dia que o Senhor fez para nós; alegremo-nos e nele exultemos.

No dia seguinte, o Segundo Domingo da Páscoa, às vezes chamado Quasimodo, devido às primeiras palavras de seu Introito, e também chamado in Albis. Na Forma Ordinária, é também a Festa da Divina Misericórdia instituída pelo Beato João Paulo II. Neste ano de 2012, cai na data em que se publica este texto, 15 de Abril. Na vigília desta festa faleceu o papa no ano de 2005, e no próprio Domingo da Misericórdia de 2011 foi beatificado por seu sucessor Bento XVI.

Canta aqui o professor Giovanni Vianini. À Misericórdia Divina confiamos todo o nosso trabalho!

Introito do Segundo Domingo do Tempo Pascal:
Como crianças recém-nascidas, desejai o puro leite espiritual, aleluia! (1Pd 2,2)


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