Nossos Parceiros

Mostrando postagens com marcador espiritualidade litúrgica. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador espiritualidade litúrgica. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 8 de abril de 2015

O Ofício romano do séc. VI aos nossos dias. Continuidade ou ruptura? Um ensaio de avaliação crítica

View Comments
Recebi do Pe. Jean-Pierre Herman e sacerdote da diocese de Namur (Bélgica).  Ele nasceu em 1959.  Exerceu até hoje diversos ministérios em Europa, nos Estados Unidos e no Brasil.  É autor de diversos artigos em língua francesa sobre a história da liturgia.

---


O Ofício romano do séc. VI aos nossos dias

Continuidade ou ruptura?

Um ensaio de avaliação crítica

Pe Jean-Pierre Herman


Ofício Romano. Um breve percurso histórico

Em 1971 apareceu a primeira edição da Liturgia Horarum juxta ritum romanum[1], que substituiu o venerável Breviarium romanum. Um dos objetivos dos reformadores do Vaticano II era restituir ao Ofício divino seu estatuto de oração do povo de Deus. Hoje as edições em vernáculo do novo Ofício[2] são amplamente difundidas e utilizadas para a oração comunitária e individual dos cristãos, clérigos ou laicos. Pareceu-nos, contudo, conveniente arriscar uma avaliação após quarenta anos de prática. Apresentaremos aqui, portanto, duas questões cruciais: por um lado «O Ofício divino atual é realmente o digno herdeiro do Breviário romano, ou ele marca uma ruptura com uma tradição secular?» e de outro: «Os reformadores, preocupados em restituir ao povo cristão a oração das horas, alcançaram seu objetivo?» A breve reconstrução histórica a seguir ajudar-nos-á a responder.

segunda-feira, 2 de março de 2015

Cardeal Ratzinger: "Liturgias diferentes. Uma riqueza para a única Igreja" (excerto do recém-publicado "Ser Cristão na Era Neopagã")

View Comments

Recentemente foi lançado pela Editora Ecclesiae o primeiro volume de "Ser Cristão na Era Neopagã", trazendo material do então Cardeal Joseph Ratzinger, futuro Papa Bento XVI, nunca antes publicado no Brasil. Trata-se de discursos, homilias, debates e entrevistas concedidas pelo cardeal à revista italiana 30 giorni nella Chiesa e nel mondo (30 dias na Igreja e no mundo).


Organizado por meu amigo Rudy Albino de Assunção, ratzingeriano de carteirinha*, que também escreveu a apresentação do livro e a maioria das notas que introduzem cada artigo, este primeiro volume reúne diversos discursos e homilias de Ratzinger. O terceiro volume, composto por entrevistas, será de especial interesse dos nossos leitores, trazendo inúmeras menções à Reforma Litúrgica que seguiu ao Concílio Vaticano II.

Rudy, que acompanha este nosso apostolado em defesa da sagrada Liturgia, teve a bondade de enviar-nos - com a devida permissão da Editora Ecclesiae, a quem desde já agradecemos - um trecho em que Ratzinger fala do que se convencionou chamar de as duas formas do Rito Romano.

É interessante notar como Ratzinger já havia refletido ali sobre muitos dos pontos relacionados à Forma Extraordinária os quais tocaria durante seu pontificado, a saber: o reconhecimento do zelo apostólico das comunidades ligadas ao rito antigo; as dificuldades que muitas dessas comunidades enfrentaram (e continuam enfrentando!), fruto do preconceito e de um entendimento errôneo e ideológico de unidade; a falta de diferenciação entre o Concílio e a Reforma Litúrgica que o seguiu; e, por fim, a aplicação excessiva de criatividade em boa parte das missas segundo o rito moderno.


* * *



LITURGIAS DIFERENTES.
UMA RIQUEZA PARA A ÚNICA IGREJA**
(Novembro de 1998)

No dia 02 de julho de 1998 a Pontifícia Comissão Ecclesia Dei completava 10 anos de sua criação por parte do papa João Paulo II. Ela for criada para facilitar a comunhão com todos aqueles que estavam ligados de alguma maneira com Monsenhor Marcel de Lefebvre e também de possibilitar que os bispos fossem mais abertos a dar o indulto para a celebração da missa segundo o Missal de São Pio V. Na época se deram muitas comemorações, inclusive uma grande peregrinação a Roma de milhares de sacerdotes e fiéis tradicionalistas. Mas aliada à peregrinação, foi promovida uma mesa redonda no hotel Erfige, com a presença de Gérard Calvet, Camille Perl, Michael Davies, Robert Spaemann e do Cardeal Ratzinger, que fez a conferência de abertura. O que se segue é o texto da conferência de Ratzinger .
***
Que balanço podemos fazer hoje, há dez anos da publicação do motu proprio Ecclesia Dei? Creio que antes de tudo seja uma ocasião para expressar o nosso agradecimento. As várias comunidades que surgiram graças a este documento pontifício presentearam a Igreja com um grande número de vocações sacerdotais e religiosas que com zelo e alegria e em comunhão profunda com o Papa trabalham pelo Evangelho nesta época histórica. Graças a elas muitos fiéis reforçaram ou conheceram pela primeira vez a alegria de poder participar da liturgia e do amor para com a Igreja. Em numerosas dioceses espalhadas pelo mundo elas servem à Igreja colaborando ativamente com os bispos e instaurando um relacionamento positivo e fraterno com os fiéis que se sentem à vontade na forma renovada da liturgia. Tudo isso hoje merece todo o nosso agradecimento.
Todavia seria irrealista calar sobre os muitos lugares onde não faltam dificuldades, então como agora, porque alguns bispos, sacerdotes e fiéis consideram o apego à antiga liturgia (a dos textos litúrgicos de 1962) como um elemento de divisão que perturba a paz da comunidade eclesial e deixa supor uma certa reserva na aceitação do Concílio e, mais em geral, na obediência devida aos pastores legítimos da Igreja. Portanto, as perguntas que devemos nos colocar são as seguintes: como se podem superar estas dificuldades? Como podemos criar o clima de confiança necessário para fazer com que os grupos e as comunidades ligadas à antiga liturgia se insiram pacificamente e proficuamente na vida da Igreja? Porém, estas questões subentendem uma outra; qual é a razão profunda desta desconfiança ou, até mesmo, da recusa do prosseguimento da antiga liturgia? Sem dúvida há razões pré-teológicas ligadas ao temperamento de cada indivíduo, ao contraste entre os diversos caráteres, ou a outras circunstâncias externas. Mas certamente existem outras causas, mais profundas e menos fortuitas.
Há duas razões que se apresentam com maior frequência: a não obediência ao Concílio que reformou os textos litúrgicos e a ruptura da unidade derivante da existência de formas de liturgia diferentes. É relativamente simples contradizer ambos os raciocínios. Não foi propriamente o Concílio quem reformou os textos litúrgicos, ele apenas ordenou a sua revisão e, para tal fim, ficou algumas linhas fundamentais. O Concílio deu principalmente uma definição de liturgia que fixa a medida interna de cada uma das reformas e, contemporaneamente, estabelece o critério válido para cada celebração litúrgica legítima. A obediência ao Concílio seria violada no caso em que não fossem respeitados tais critérios fundamentais internos e fossem colocadas à parte as normae generales, formuladas nos números 34-36 da Constituição sobre a Sagrada Liturgia (Sacrosanctum Concilium). É necessário julgar as celebrações litúrgicas segundo estes critérios, sejam elas baseadas em velhos ou em novos textos. Com efeito, o Concílio, como já foi acenado, não prescreveu ou aboliu textos, mas deu normas de base que todos os textos devem respeitar. Neste contexto, é útil recordar o que foi declarado pelo Cardeal Newman: a Igreja no decorrer da sua história, nunca aboliu ou proibiu formas ortodoxas de liturgia, por que isso seria alheio ao próprio espírito da Igreja. Uma liturgia ortodoxa, ou seja que é expressão da verdadeira fé, de fato, jamais é uma simples reunião de cerimônias diferentes feita em bases a critérios pragmáticos, das quais pode-se dispor de maneira arbitrária, hoje de um modo, amanhã de outro. As formas ortodoxas de um rito são realidades vivas, nascidas do diálogo de amor entre a Igreja e o seu Senhor. São expressões da vida da Igreja, nas quais se condensam a fé, a oração e a própria vida das gerações e nas quais encarnaram-se numa forma concreta e num momento a ação de Deus e a reposta do homem. Estes ritos podem se extinguir se historicamente desaparece o sujeito que foi o seu portador ou se este sujeito está inserido com a sua herança num outro contexto de vida. Em situações históricas diferentes, a autoridade da Igreja pode definir e limitar o uso dos ritos, mas jamais os proíbe tout-court. Assim, o Concílio ordenou uma reforma dos textos litúrgicos e, consequentemente, das manifestações rituais mas não abandonou os velhos livros. O critério expresso pelo Concilio é, ao mesmo tempo, mais amplo e mais exigente: ele convida todos a um exame de consciência.
Mais tarde voltaremos a falar sobre este ponto. Por enquanto é necessário examinar um outro assunto, o da – pressuposta – ruptura da unidade. Sobre este propósito, é preciso distinguir na questão o aspecto teológico do prático. No que se refere a componente teorética e fundamental, devemos constatar que sempre existiram mais formas no rito latino que foram progressivamente caindo em desuso devido à unificação dos espaços de vida na Europa. Até a época do Concílio, ao lado do rito romano, conviviam o ambrosiano, o moçárabe de Toledo, o rito dos Dominicanos, e talvez muitos outros que eu não conheço. Jamais alguém se escandalizou pelo fato de que os Dominicanos, muitas vezes presentes em nossas paróquias, não celebrassem a missa como os párocos, mas seguissem um seu próprio rito. Todos nós sabíamos que o rito dele era católico assim como o romano e éramos orgulhosos da riqueza de tantas tradições diferentes. Além disso, não se pode esquecer que muitas vezes abusa-se da liberdade de espaço que o novo Ordo Missae deixa à criatividade e que a diferença entre os vários modos em que a liturgia é colocada em prática e celebrada nos diferentes lugares em base aos novos textos, muitas vezes é maior do que entre a antiga e a nova liturgia. Um cristão destituído de uma cultura litúrgica particular pouco distingue de uma missa cantada em latim segundo o velho Missal de uma cantada em latim segundo o novo, enquanto que pode ser enorme a diferença entre uma liturgia celebrada respeitando fielmente os ditames do Missal de Paulo VI e as várias formas de celebrações litúrgicas em língua viva amplamente difusas, que deixam grande espaço à criatividade e à imaginação. [...]

* * *
Para mais informações, visite o site da editora.

* Não deixem de visitar o site Ratzinger Brasil.
** RATZINGER, Joseph. Ser cristão na era neopagã. Campinas, Ecclesiae, 2014, pp. 183-186.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Campanha "Salve um Padre": Homilia

View Comments
A Martyria Cursos e Editora, que já divulgamos em nosso blog algumas vezes, lançou recentemente uma campanha para suprir a formação deficitária de muitos dos sacerdotes desta nossa Terra de Santa Cruz.

Pietro di Sano - São Bernardo Pregando na Piazza del Campo em Sena (1445)
Nesta primeira etapa, o enfoque é dado na homilia. Como consta na postagem que lançou a campanha:
Como dizer ao padre que sua homilia não é boa? Nós lhe enviaremos o melhor livro sobre pregação, juntamente com uma carta, indicando respeitosamente que está sendo presenteado por alguém que lhe quer bem, e que quer ver-lhe salvando mais almas através da homilia.
Para colaborar com a campanha você pode indicar vários sacerdotes a quem deseja ajudar (preenchendo seus dados num formulário e/ou doar algum valor em dinheiro para auxiliar com os custos de correio e de impressão do livro.

O valor calculado para presentar a um sacerdote é de R$17,00.


Para mais informações, acesse o site da editora.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

O que é o presépio? Especialistas respondem

View Comments
Amanhã (25), Natal do Senhor, inicia-se a segunda edição do Concurso de Presépios Paroquiais do Salvem a Liturgia!, em parceria com a Arte Sacro Paramentos Litúrgicos. Não deixe de visitar as regras do concurso e inscrever tua paróquia. Além de fomentar uma maior piedade aos fiéis neste tempo tão importante da vida da Igreja, estarão concorrendo a belíssimos prêmios.

Para aprofundarmo-nos no presépio, trago logo abaixo o capítulo introdutório do livro "O Presépio das Crianças" (Editora Quadrante), de autoria do Pe. Flávio Sampaio de Paiva, que explica o presépio sob ângulos diversos.

Presépio do Vaticano (2014) | Foto: REUTERS/Giampiero Sposito | D.R.

O livro traz dois contos natalinos que servem como ótima meditação para este Tempo do Natal que se aproxima. Os contos também foram gentilmente publicados pelo autor em blogues e podem ser encontrados em: O Conto do Presépio das Crianças e O Conto dos Animais do Presépio.

O primeiro conto, aliás, conta a história de um sacerdote que deseja, através do presépio, ajudar seus paroquianos a meditarem melhor no mistério do Natal. O cura pensava consigo: "As pessoas não sabem entrar no presépio, não descobriram as chaves que abrem as portas do verdadeiro presépio de Belém. E assim não abrem as portas do seu coração para que Deus entre nele e ali possa nascer."Tudo a ver com nosso Concurso de Presépios, não?

Presépio do Vaticano (2014) | Foto: REUTERS/Giampiero Sposito | D.R.
***
Perguntei a um especialista em línguas: O que é o presépio? Ele respondeu-me:

Presépio é uma obra de arte sacra, composta de figuras de materiais diversos, que representa o estábulo de Belém e as cenas relacionadas com o nascimento de Jesus. Contém a representação da manjedoura (cocho) em que Jesus foi posto ao nascer.

A palavra presépio vem do latim praesepium, que por sua vez vem de prae – “antes”, “na frente de” – e de saepes – “sebe”, “cerca”, “grade” –. O significado original dessa palavra era, pois, o de um recinto fechado onde se encerravam os animais: um curral, uma estrebaria. E como os animais confinados no curral precisavam comer, o significado dessa palavra estendeu-se também ao lugar em que os animais comem, à manjedoura.


Perguntei a um crítico de arte brasileiro: O que é o presépio? E ele respondeu-me:

Os cristãos celebram o Natal desde fins do século III,  quando já peregrinos se dirigiam ao local de nascimento de Cristo, a gruta de Belém. No século seguinte, a cena da Natividade aparece em relevos de sarcófagos, instrumentos litúrgicos ou afrescos, que mostram a Virgem Maria, a Adoração dos Reis Magos e o Menino a repousar na manjedoura.

A primeira dessas imagens de que se tem notícias foi esculpida em um sarcófago do século IV, e encontra-se hoje no Museu das Termas, em Roma. É um baixo-relevo em que uma árvore faz o papel de cabana, um pastor medita apoiado em um bastão, o Menino está em um cocho rústico envolto em panos, ladeado por um burro e um boi.

Bem depois, em 1223, na Itália, ocorre um fato marcante na história dos presépios. São Francisco de Assis, em vez de festejar a noite do Natal na igreja, como se fazia habitualmente, decidiu levar uma manjedoura, um boi, um burro e outros elementos do presépio a uma gruta nos arredores da cidadezinha de Greccio, fazendo uma representação ao vivo da cena. Assim, Francisco ganhou a fama de ter criado o presépio, embora somente séculos mais tarde os presépios tenham adquirido a forma atual.

No século XV, passou a haver representações do Natal em forma de esculturas, muitas vezes em tamanho natural, expostas em oratórios (capelas) nas igrejas. Sempre havia aí uma preocupação didática: pretendia-se que os espectadores, ao olharem o presépio, tivessem a sensação de estar penetrando no palco da História Sagrada.

No século seguinte, as figuras libertam-se das capelas e começam a aparecer soltas, em grupos. Nasce assim o presépio como o concebemos hoje: capaz de ser modificado por cada artista que o constrói ou por cada pessoa que o monta, em sua casa, ano após ano. Aliás, a graça do presépio está em ser criativo, tornando cada um deles diferente, pessoal e único. O primeiro presépio deste tipo que se conhece em uma casa privada foi provavelmente elaborado em 1567: sabemos pelo seu testamento que a Duquesa de Amalfi, Constanza Piccolomini, possuía dois baús com 116 figuras, utilizadas para representar o Nascimento e a Adoração dos Reis Magos.

No século XVIII, conventos e cortes dedicaram-se à construção de presépios. Em Nápoles, Carlos III, rei das Duas Sicílias, investiu fortunas para construir presépios de madeira talhada ou pedra esculpida com um enorme número de personagens coloridos e cenas da vida popular; daí proveio a tradição dos presépios napolitanos.

Se Nápoles, Sicília, Munique e a região alpina alemã estabeleceram uma tradição em presépios, o Brasil não ficou atrás. Já em 1532, o padre José de Anchieta, ajudado pelos índios, modelava em barro pequenas figuras representando o presépio, com o propósito de inculcar nos indígenas a tradição de honrar o Menino Jesus no dia de Natal. Mais tarde, começaram a aparecer cenas com características nacionais, como lavadeiras que carregavam trouxas, fazendeiros que cuidavam de animais, mulheres que davam milho a galinhas, monjolos, montes, árvores da terra e igrejinhas iluminadas.

No século XX, surgem legítimos representantes nacionais da arte do presépio. Um caso é o presépio do Pipiripau, em Belo Horizonte, com quarenta e duas cenas. Outro destaque é o trabalho das figureiras do Vale do Paraíba, em São Paulo, principalmente Taubaté. E como esquecer o mestre Vitalino de Caruaru, Pernambuco, com as suas pequenas figuras modeladas em barro? E as obras realizadas em São Paulo por Evarista Ferraz Salles, pioneira no Brasil em trabalhos de artesanato de palha, milho e bucha, com os seus presépios dentro de cabaças, que são reconhecidos nacional e internacionalmente? (4)

(4) Cfr. Oscar D´Ambrósio, A arte dos presépios, em www.artcanal.com.br/oscardambrosio/presepio.


Perguntei a um teólogo: O que é o presépio? Ele respondeu-me sabiamente:

A festa de Natal ocupa um lugar muito especial no coração dos cristãos. Possui um brilho e um calor humano que nos comovem mais do que qualquer outra festa cristã. Muito desse encanto se deve a São Francisco de Assis e à famosa celebração do Natal em Greccio, no ano de 1223. Essa celebração contribuiu decisivamente para que se desenvolvesse e se estendesse o formosíssimo costume de montar presépios para comemorar o evento.

Tomás de Celano, o primeiro biógrafo de São Francisco, relata-nos: “Celebrava com incrível alegria, mais que nenhuma outra solenidade, o Natal do Menino Jesus, pois afirmava que era a festa das festas, em que Deus, feito um menino pobrezinho, pendeu de peitos humanos. Beijava como um esfomeado as imagens dessa criança, e a derretida compaixão que tinha no coração pelo Menino fazia com que balbuciasse palavras doces, como uma criancinha. Para ele, esse nome era como um favo de mel nos seus lábios”(5)

São Francisco tinha um amor imenso por Jesus, Deus-conosco, que o levou a visitar a Terra Santa e a relíquia da manjedoura em que Jesus teria sido posto ao nascer, e que hoje se encontra em Santa Maria Maior, em Roma. Essas viagens podem tê-lo animado a montar a celebração de Greccio. Mas, sem dúvida, o que mais influiu nele foi o desejo de viver com maior realismo e proximidade o nascimento de Jesus.

Havia naquela cidade um homem chamado João, “de boa fama e vida ainda melhor, por quem São Francisco tinha especial amizade”, e a quem o santo encarregou de preparar a representação da cena, dizendo-lhe: “Quero evocar o menino que nasceu em Belém, os apertos que passou, como foi posto num presépio, e ver com os meus próprios olhos como ficou em cima da palha, entre o boi e o burro”. (6)

Já na véspera do Natal, o povo aproximou-se, alegre com a expectativa de ver o mistério representado ao vivo. Os frades cantavam, dando louvores ao Senhor. A missa de Natal foi celebrada ali mesmo, e diz-se que o sacerdote que a celebrou sentiu uma piedade que jamais experimentara até então. São Francisco, que era diácono, cantou com voz sonora o santo Evangelho. Depois pregou ao povo presente, dizendo coisas maravilhosas sobre o nascimento do Rei pobre e sobre a pequena cidade de Belém. (7)

O cardeal Ratzinger, antes de tornar-se Papa, comentou a nova dimensão que São Francisco tinha outorgado à festa cristã do Natal. A descoberta da revelação do «Emanuel», Deus-conosco, realizada no Menino Jesus, penetra profundamente nos corações dos cristãos, porque nenhum obstáculo de sublimidade ou de distância nos separa mais dEle. Como menino, aproximou-se tanto de nós que podemos tratá-lo sem receio, com simplicidade e total confiança:

“No Menino Jesus, torna-se patente, mais que em nenhuma outra parte, o amor indefeso de Deus: Deus vem sem armas, pois não pretende assaltar de fora, mas conquistar de dentro, e a partir daí transformar-nos. Se algo pode desarmar e vencer os homens, a sua vaidade, a sua sede de poder ou a sua violência, assim como a sua cobiça, é a fragilidade de um menino. Deus escolheu essa fragilidade para nos vencer e para tornar-nos conscientes do que realmente somos. [...]
“Quem não entendeu o Mistério do Natal não entendeu o que é mais decisivo e fundamental no ser cristão. Quem não o aceitou, não pode entrar no reino dos céus. Isso é o que Francisco pretendia recordar à cristandade da sua época e à de todos os tempos posteriores”(8)

Podemos ainda perguntar-nos: Por que o boi e o asno fazem parte do presépio desde o começo? Novamente é o cardeal Ratzinger quem nos responde:

“O boi e o asno não são mera produção da fantasia. Converteram-se, pela fé da Igreja, [...] nos acompanhantes do acontecimento natalino. Com efeito, em Isaías 1,3 diz-se concretamente: «O boi conhece o seu dono, e o asno o presépio do seu amo, mas Israel não entende, o meu povo não tem conhecimento».

“Os Padres da Igreja viram nessas palavras uma profecia que apontava para o novo povo de Deus, a assembléia dos judeus e dos cristãos. Diante de Deus, todos os homens, tanto judeus como pagãos, eram como bois e asnos, sem razão nem conhecimento. Mas o Menino, no presépio, abriu-lhes os olhos, de maneira que agora reconhecem a voz do seu dono, a voz do seu Senhor.

“Nas representações medievais do Natal, não deixa de causar estranheza o fato de esses animais chegarem a ter rostos quase humanos e a prostrar-se e inclinar-se perante o mistério do Menino, como se o entendessem e o estivessem adorando. Mas isso era lógico, uma vez que esses dois animais eram como símbolos proféticos sob os quais se oculta o mistério da Igreja, o nosso mistério, já que nós somos boi e asno diante do Eterno, boi e asno cujos olhos se abrem na noite de Natal, de forma que, no presépio, reconhecem o seu Senhor. [...]

“Quando colocamos as figuras que nos são familiares no presépio, devemos pedir a Deus que conceda aos nossos corações a simplicidade que sabe descobrir o Senhor no Menino, tal como Francisco na sua época. Então poderemos experimentar o que nos conta Celano acerca dos participantes da celebração de Greccio com umas palavras muito parecidas às de São Lucas a propósito dos pastores da primeira noite de Natal (Lc 2,1220): «Todos regressaram para suas casas repletos de alegria»”(9)

(5) Tomás de Celano, “Segunda vida de São Francisco”, em Fontes franciscanas, 9ª ed., Vozes/FFB, Petrópolis, 2000, n 199.
(6) Tomás de Celano, “Primeira vida de São Francisco”, em Fontes franciscanas, n. 84.
(7) Cfr. ibid., ns. 85-86.
(8) Joseph Ratzinger, El rostro de Dios, Ediciones Sígueme, Salamanca, 1983, págs. 19-25.
(9) Ibid.


Depois de perguntar aos entendidos, resolvi perguntar a uma criança: O que é o presépio?

Ela simplesmente me respondeu: é o lugar onde Deus nasce.


Perguntei também a um escritor de contos: O que é o presépio? Ele respondeu-me:

É o lugar ideal para voltarmos a ser crianças e deliciar-nos com os sonhos de Deus. É a inspiração indispensável para escrever e ler contos de Natal.

***

Reforço o convite aos leitores para que leiam O Conto do Presépio das Crianças e O Conto dos Animais do Presépio, e se inscrevem em nosso concurso.

Présepios da Exposição do Museu de Arte Sacra de SP

View Comments
Amanhã (25), Natal do Senhor, inicia-se a segunda edição do Concurso de Presépios Paroquiais do Salvem a Liturgia!, em parceria com a Arte Sacro Paramentos Litúrgicos. Não deixe de visitar as regras do concurso e inscrever tua paróquia. Além de fomentar uma maior piedade aos fiéis neste tempo tão importante da vida da Igreja, estarão concorrendo a belíssimos prêmios.

Por conta do nosso Concurso de Presépios Paroquiais, lembrei-me da visita ao Museu de Arte Sacra de São Paulo que fiz no ano de 2012. Na ocasião pude visitar a exposição permanente de presépios que lá se encontrava, cujas fotos que tirei publico agora, também como uma forma de inspirar os nossos leitores nos presépios que serão inscritos no concurso deste ano.

Presépio polonês
Presépio polonês (detalhe)





Presépio napolitano



Atualmente o museu exibe a exposição "Presepe di Carta - Coleção Celso Battistini Castro Rosa" e a exposição virtual "Cenas do Presépio Napolitano".

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

A origem da coroa do advento, por Pe. Paulo Ricardo

View Comments

O Revmo. Pe. Paulo Ricardo publicou recentemente uma de suas "respostas católicas" a respeito da origem da Coroa do Advento.

O vídeo, de pouco mais de 6 minutos, pode ser visto aqui.

De acordo com as pesquisas do padre, a origem estaria na igreja luterana:
Pode parecer surpreendente, mas a sua origem está ligada à religião luterana. O seu uso começou em 1839, por iniciativa de um pastor chamado Johann Wichern. Ele cuidava de uma casa de auxílio social a crianças pobres. Nas proximidades do Natal, as crianças, ansiosas, sempre perguntavam quando era a festividade. Então, para marcar a sua chegada, ele fez uma roda com uma vela para cada dia do Advento, de forma que havia velas pequenas para os dias da semana e quatro maiores para simbolizar o domingo. Vários pastores começaram a fazer o mesmo em suas comunidades, simplificando o enfeite para quatro velas. Depois, juntou-se a essa ideia a já tradicional guirlanda natalina.
A coroa do advento proposta pelo pastor Wichern (Fonte: Wikimedia Commons)
Aos interessados, há outra pesquisa sobre o assunto, desta vez de autoria de Frei Alberto Beckhäuser, que já publicamos aqui.



sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Convite: Dom Athanasius Schneider em lançamento de livro no Brasil

View Comments

Já falamos aqui do livro "CORPUS CHRISTI: A Sagrada Comunhão e a Renovação da Igreja", publicado originalmente pela editora do Vaticano e traduzido ao português de Portugal, de autoria de Dom Athanasius Schneider.

Dom Athanasius, um dos grandes nomes do atual movimento litúrgico, e apoiador deste nosso humilde apostolado, estará em São Paulo no próximo dia 27 para o lançamento de seu livro em nosso país.  Não percam!

Mais informações no convite abaixo:


Por fim, agradeço ao leitor José Tadeu Hoe pela indicação.

sábado, 23 de agosto de 2014

Oração Eucarística: "Qual o momento adequado para nos ajoelharmos?"

View Comments


Dando sequência à série de dúvidas litúrgicas dos nossos leitores, respondemos e publicamos uma comum: Na Oração Eucarística, qual o momento adequado para nos ajoelharmos?

"Na Oração Eucarística I (Cânon Romano), em qual momento ajoelhar-se? Vi explicações que não se deve ajoelhar quando se pronuncia "abençoai estas oferendas" e sim quando se diz "santificai estas oferendas". Nesse caso seria após os "comunicantes próprios". Mas essa explicação não é geral, pois na Oração Eucarística V (Congresso de Manaus) não há "santificai essas oferendas". Logo, a resposta que encontro com frequência não me convenceu. Por outro lado, é no "abençoeis estas oferendas" que o sacerdote traça o sinal da cruz sobre o pão e o cálice ao mesmo tempo. Esse poderia ser o sinal do momento adequado para ajoelharmo-nos. Essa regra se encaixa em todas as 14 orações eucarísticas. Se assim o for, na Oração Eucarística I, o momento adequado seria logo após o prefácio. Resta-me, portanto a dúvida sobre o momento certo, se é que ele existe, pois antigamente durante praticamente toda oração eucarística se ficava de joelhos." (Prof. Eduardo Wanderley)

******* 
Primeiramente, é necessário saber que em todas as Orações Eucarísticas, o que se segue é o toque dos sinos, durante o gesto da Epiclese, isto é, daquele em que o sacerdote que preside, impõe as mãos sobre as oferendas, como que formando uma “pomba” e não é com o sinal do traçado da cruz, que vem seguida, mas pelo gesto e pelas palavras de invocação do Espírito Santo que, em todas as orações eucarísticas, acontece antes das palavras da consagração, com o verbo “santificar”, seja na forma infinitiva, imperativa ou, sobretudo, invocativa.



As exceções acontecem justamente a Oração Eucarística usada apenas no Brasil, do Congresso Eucarístico de Manaus (V), que não usa o verbo “santificar”, mas pede que “mande” o Espírito Santo. As outras, uma sobre a reconciliação e duas para missas com crianças usam de palavras que se referem à misericórdia divina e as outras duas à paternidade amorosa de Deus, também usam os verbos mandar, enviar, respectivamente.

Em todas elas, o “estender as mãos” e, só em seguida, traçar o sinal da cruz são os momentos apropriados e para os quais os coroinhas (ou acólitos instituídos) devem estar atentos, para poderem tocar os sinos, como sinal para que a assembleia se ajoelhe.

Na Oração Eucarística I ou Cânon Romano:

Dignai-vos, ó Pai, aceitar e santificar estas oferendas...

Na Oração Eucarística II:

Santificai, pois, estas oferendas, derramando sobre elas o vosso Espírito...

Na Oração Eucarística III:

Santificai pelo Espírito Santo as oferendas que vos apresentamos...

Na Oração Eucarística IV:

... nós vos pedimos que o mesmo Espírito Santo santifique estas oferendas...

Na Oração Eucarística V:

... mandai o vosso Espírito Santo, a fim de que as nossas ofertas se mudem...

Na Oração Eucarística VI-A (Para Diversas Circunstâncias):

... que envieis o vosso Espírito Santo para santificar estes dons...

Na Oração Eucarística VI-B (Para Diversas Circunstâncias):

... que envieis o vosso Espírito Santo para santificar estes dons...

Na Oração Eucarística VI-C (Para Diversas Circunstâncias):

... que envieis o vosso Espírito Santo para santificar estes dons...

Na Oração Eucarística VI-D (Para Diversas Circunstâncias):

... que envieis o vosso Espírito Santo para santificar estes dons...

Na Oração Eucarística VII (Sobre a Reconciliação I):

... olhai vosso povo aqui reunido e derramai a força do Espírito, para que estas ofertas se tornem...

Na Oração Eucarística VIII (Sobre a Reconciliação II):

Cumprindo o que ele nos mandou, vos pedimos: Santificai, por vosso Espírito, estas oferendas.

Na Oração Eucarística IX (Para Missas com crianças I):

... pedimos que mandeis vosso Espírito Santo para que estas ofertas e tornem...

Na Oração Eucarística X (Para Missas com crianças II):

Enviai, ó Deus nosso Pai, o vosso Espírito Santo para que este pão e este vinho...

Na Oração Eucarística XI (Para Missas com crianças III):

... mandai vosso Espírito Santo para santificar este pão e este vinho...
  
Mas não é algo tão simples de responder assim. Esta temática já foi (e ainda é) causa de grandes debates teológicos e litúrgicos. Há diferenças entre os ritos latinos (ocidentais) e os orientais, de diversos ritos.



A Instrução Geral do Missal Romano, por exemplo, determina que “os fiéis se ajoelhem durante a consagração” (nº 43). E no nº 79, alínea c, explica: “… a epiclese, na qual a Igreja implora por meio de invocações especiais a força do Espírito Santo, para que os dons oferecidos pelo ser humano sejam consagrados, isto é, se tornem o Corpo e o Sangue de Cristo”.

O ficar de joelhos é uma norma invariável e aplicada a todos os fiéis e para os clérigos abaixo e a partir do grau de Diácono: A Instrução Geral sobre o Missal Romano (IGMR) assim se expressa na sua última edição (2003):  “A partir da epiclese até a apresentação (elevação) do cálice, o diácono normalmente permanece de joelhos” (n. 179b).

O Papa Bento XVI, na Exortação Apostólica Sacramentum caritatis, no número13, nos ensina que: “neste horizonte, compreende-se a função decisiva que tem o Espírito Santo na celebração eucarística e, de modo particular, no que se refere à transubstanciação. É fácil de comprovar a consciência disto mesmo nos Padres da Igreja; nas suas Catequeses, São Cirilo de Jerusalém recorda que “invocamos Deus misericordioso para que envie o seu Santo Espírito sobre as oblações que apresentamos a fim de Ele transformar o pão em corpo de Cristo e o vinho em sangue de Cristo. O que o Espírito Santo toca, é santificado e transformado totalmente”.(Catequese 23, 7: Patrologia Grega 33, 1114s.) Também São João Crisóstomo assinala que o sacerdote invoca o Espírito Santo quando celebra o Sacrifício: (Cf. Sobre o sacerdócio, 6, 4: PG 48, 681.) à semelhança de Elias, o ministro atrai o Espírito Santo para que, “descendo a graça sobre a vítima, se incendeiem por meio dela as almas de todos”.(Ibid., 3, 4: o.c., 48, 642.) É extremamente necessária, para a vida espiritual dos fiéis, uma consciência mais clara da riqueza da anáfora: esta, juntamente com as palavras pronunciadas por Cristo na Última Ceia, contém a epiclese, que é invocação ao Pai para que faça descer o dom do Espírito a fim de o pão e o vinho se tornarem o corpo e o sangue de Jesus Cristo, e para que “a comunidade inteira se torne cada vez mais corpo de Cristo”.(Propositio 22.) O Espírito, invocado pelo celebrante sobre os dons do pão e do vinho colocados sobre o altar, é o mesmo que reúne os fiéis “num só corpo”, tornando-os uma oferta espiritual agradável ao Pai.”(Cf. Propositio 42: “Este encontro eucarístico realiza-se no Espírito Santo, que nos transforma e santifica. Ele desperta no discípulo a vontade decidida de anunciar aos outros, com desassombro, tudo o que ouviu e viveu, para conduzi-los, também a eles, ao mesmo encontro com Cristo. Deste modo o discípulo, enviado pela Igreja, abre-se a uma missão sem fronteiras”.).

Mas, afinal o que é a Epiclese? A Epiclese ou Epíclese (do grego antigo: ἐπίκλησις - epíklesis, fusão das palavras pí e kaleô: "chamar sobre") é a oração de invocação que pede a descida do Espírito Santo nos sacramentos. É a invocação que se eleva a Deus para que envie o seu Espírito Santo e transforme as coisas ou as pessoas. Também do latim, in-vocare.

Na Oração Eucarística da Missa há duas epicleses (cf. IGMR 79c):

a) a que o sacerdote pronuncia sobre os dons do pão e do vinho, com as mãos estendidas sobre eles, dizendo, por exemplo: “Santificai estes dons, derramando sobre eles o Vosso Espírito, de modo que se convertam, para nós, no Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Oração II) – e a epiclese “consacratória”; outras Orações Eucarísticas pedem que o Espírito “torne”, “abençoe”, “santifique”, “transforme” o pão e o vinho;

b) a que o sacerdote diz na mesma Oração Eucarística, depois do memorial e da oferenda, pedindo a Deus que de novo envie o seu Espírito, desta vez sobre a comunidade que vai participar da Eucaristia, para que também ela se transforme, ou se vá construindo na unidade: “humildemente Vos suplicamos que, participando do Corpo e Sangue de Cristo, sejamos pelo Espírito Santo congregados na unidade” (Oração II) – e a epiclese “de comunhão”, que, noutras Orações Eucarísticas, pede que “sejamos em Cristo um só corpo e um só espírito”; “Derramai sobre nós o Espírito… fortalecei o vosso povo com o Corpo e o Sangue do vosso Filho e renovai-nos a todos à sua imagem”… Estas duas epicleses, nas Anáforas orientais e na da liturgia hispano-moçárabe, estão unidas e dizem-se depois do relato da instituição. Enquanto que na liturgia romana – e em algumas das orientais, como a alexandrina – situam-se uma antes da consagração e a outra depois. Foi um enriquecimento que, agora, no rito romano, se tenha decidido nomear claramente o Espírito na primeira epiclese, nas novas Orações Eucarísticas: no cânon romano, existe a invocação a Deus, mas sem, explicitamente, nomear o Espírito. A epiclese não faz só parte da Eucaristia. A oração consacratória central de todos os sacramentos, depois da anamnese ou memória de louvor a Deus, contém sempre a oração de epiclese, pois, invocando a força do Espírito nos sacramentos, estamos reconhecendo que é Deus quem salva e que o protagonismo é da ação do seu Espírito santificador. 


• pede-se-lhe que santifique a água do Batismo: “Receba esta água, pelo Espírito Santo, a graça de vosso Filho Unigênito, para que o homem, criado à vossa imagem, no sacramento do Batismo seja purificado das velhas impurezas e ressuscite homem novo pela água e pelo Espírito Santo”;
• na Missa Crismal invoca-se o Espírito sobre os óleos para os sacramentos e, a seguir, na Confirmação, pede-se a Deus que envie o seu Espírito sobre os confirmandos para que os encha de seus dons;
• no sacramento da Reconciliação também se nomeia o Espírito: “enviou o Espírito Santo para remissão dos pecados”;
• na Unção dos Doentes o sacerdote ora pelo doente na fé da Igreja: “é a epiclese própria deste sacramento” (CIC 1519);
• no sacramento da ordem é onde, talvez, com maior expressividade o bispo, impondo as mãos sobre a cabeça dos ordenandos e pronunciando a seguir a invocação do Espírito, põe em relevo a força da epiclese;
• e, finalmente, no Matrimônio: “Na epiclese deste sacramento, os esposos recebem o Espírito Santo como comunhão do amor de Cristo e da Igreja” (CIC 1624).

Como dizia São Cirilo de Jerusalém, no século IV: “Depois de santificados por esses hinos espirituais, suplicamos ao Deus benigno que envie o Espírito Santo sobre os dons colocados, para fazer do pão corpo de Cristo e do vinho sangue de Cristo. Pois tudo o que o Espírito Santo toca é santificado e transformado” (Catequeses Mistagógicas V,7). “O Pai atende sempre a oração da Igreja do seu Filho, a qual, na epiclese de cada sacramento, exprime a sua fé no poder do Espírito. Tal como o fogo transforma em si tudo quanto atinge, assim o Espírito Santo transforma em vida divina tudo quanto se submete ao seu poder” (CIC 1127). (Cf.: VAGAGGINI, Cipriano. O sentido teológico da liturgia. São Paulo: Loyola, 2009. pp. 210-226.)

No Catecismo da Igreja Católica (CIC), a epiclese também é explicitada:

§1105 A epiclese ("invocação sobre") é a intercessão na qual o sacerdote suplica ao Pai que envie o Espírito Santificador para que as oferendas se tornem o Corpo e o Sangue de Cristo, e para que ao recebê-los os fiéis se tomem eles mesmos uma oferenda viva para Deus.

§1353 Na epiclese ela pede ao Pai que envie seu Espírito Santo (ou o poder de sua bênção) sobre o pão e o vinho, para que se tornem, por seu poder, o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, e para que aqueles que tomam parte na Eucaristia sejam um só corpo e um só espírito (certas tradições litúrgicas colocam a epiclese depois da anamnese). No relato da instituição, a força das palavras e da ação de Cristo e o poder do Espírito Santo tornam sacramentalmente presentes, sob as espécies do pão e do vinho, o Corpo e o Sangue de Cristo, seu sacrifício oferecido na cruz uma vez por todas.

Atentos ao gesto de impor as mãos sobre as oferendas, os acólitos tocam os sinos (ou sinetas) na igreja e todos se ajoelham, pois é a descida do Espírito Santo sobre as espécies do pão e do vinho sobre o altar.

Juntamente com o momento seguinte, no qual o sacerdote toma em suas mãos, primeiro o pão e, depois, o cálice com o vinho, repetindo as mesmas palavras que o Senhor pronunciou durante a Última Ceia, a epiclese atualiza o momento sagrado, no tempo e no espaço, em que a Hóstia sobre o Altar se transforma no Corpo de Cristo, e o Vinho dentro do Cálice se transforma no Sangue de Cristo.

Este é um momento sacratíssimo! Nossos olhos e nossos corações devem estar fixos para o altar. Ali, a poucos metros de nós, está acontecendo o maior milagre da face da terra: o Nosso Deus mais uma vez se digna descer do Céu e vir até nós, pobres pecadores, para dar-Se a nós como Alimento e Penhor da Eternidade!

Jamais nos deixemos levar pelas distrações, ou pelo cansaço, ou pelas preocupações, ou por qualquer outra situação. Estejamos atentos com os olhos do corpo e da alma!

Na Forma Extraordinária (“Tridentina”):


Na chamada "Missa Tridentina", o momento de ajoelhar-se acontece após o canto do Sanctus e no  sequente início do Cânon, às palavras “Te igitur...” (A Vós...). Porém, esta é uma das orações em voz baixa. Então, é necessário os acólitos estarem atentos ao término do Sanctus, para tocarem as sinetas, pois, apenas eles verão este momento. 

Após o “Communicantes” – memória dos Santos – às palavras “Hanc igitur” (Esta oblação), em preparação à consagração, o celebrante estende as mãos sobre as oblatas à semelhança do gesto que outrora fazia o sumo sacerdote, que estendia as mãos sobre a vítima que se imolava em expiação dos pecados. Significa, na Nova Lei, que Jesus Cristo se substitui a nós, como vítima imolada.

Como é o próprio Espírito Santo que opera a mudança do pão e do vinho no Corpo e Sangue de Nosso Senhor, no Santo Sacrifício da Missa, é justo que seja mencionado no correr deste sacrifício. A Igreja o invoca, a fim de que, assim como ele formou Nosso Senhor no seio da Virgem Maria, digne-se apresentá-lo de novo sobre o altar.

Este gesto é muito importante de ser notado, ele nos vem da antiga Lei. Quando se apresentava no templo uma vítima para ser oferecida, o rito de imposição das mãos tinha um sentido duplo e uma dupla eficácia. A vítima era, mediante o rito, isolada, separada para sempre do uso profano e posta a serviço e honra de Deus. O Senhor tomava possessão da hóstia, qualquer que fosse. Ora, a Igreja, depois de ter separado o pão e o vinho do uso profano, no Ofertório, e tê-los apresentado a Deus, insiste, agora que a Consagração está próxima. Na santa impaciência de sua espera quase realizada, para que a oblação seja favoravelmente acolhida diante de Deus, o padre estende as mãos sobre o pão e o vinho e diz estas palavras:

Hanc igitur oblationem servitutis nostrae, sed et cunctae familiae tuae, quaesumus, Domine, ut placatus accipias: diesque nostros in tua pace disponas, atque ab aeterna damnatione nos eripi, et in electorum tuorum jubeas grege numerari(Esta oblação que nós, vossos servos, e toda a vossa família, Vos oferecemos, aceitai-a, Senhor, benignamente; firmai na paz os dias da nossa vida, livrai-nos da eterna condenação e ordenai sejamos contados na sociedade dos vossos eleitos.).

O Papa Bento XVI, com o Motu proprio Summmorum Pontificum, ressaltou que esta forma é "um duplo uso do único e mesmo Rito [romano]". Portanto, nos dois usos é permitido que nos ajoelhemos nos momentos apropriados. 

Assim, oferecendo o Santo Sacrifício da Missa, neste momento em que designa tão especialmente sua oferta, o padre reza por si mesmo, por todos aqueles que estão presentes e por todos os que lhe estão unidos, e pede que a paz nos seja dada neste mundo, que evitemos o inferno e que nos alegremos com os eleitos na glória do céu.


*******
Bibliografia:

ALDAZÁBAL, José. A Eucaristia. Petrópolis: Ed. Vozes, 2002.
AUGÉ, Matias. Liturgia – História, Celebração, Teologia, Espiritualidade. São Paulo: Ed. Ave Maria, 1996.
BENTO XVI. Summorum Pontificum. São Paulo: Ed. Paulinas. Nº 191, 2007.
__________. Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis. São Paulo: Ed. Paulinas. Nº 190. 2007.
CERIMONIAL DOS BISPOS. São Paulo: Ed. Paulus, 1988.
Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Ed. Loyola, 2000.
CNBB. Instrução Geral do Missal Romano e Introdução ao Lecionário. Brasília: Ed. CNBB, 2008.
COELHO, Dom António. Curso de Liturgia Romana. Braga – Portugal: Ed. Pax, 1943.
GUÉRANGER, Dom Prosper. Missa Tridentina – Explicações das orações e das cerimônias da Santa Missa. Rio de Janeiro: Ed. Permanência, 2010.
JOÃO PAULO II. Encíclica Ecclesia de Eucharistia. São Paulo: Ed. Paulinas. Nº 185, 2003.
JUNGMANN, Josef Andreas. Missarum Sollemnia. São Paulo: Paulus, 2009.
Ordo Missae. Campinas: Ed. Ecclesiae, 2014.
RATZINGER, Joseph. Introdução ao espírito da Liturgia. Prior Velho –Portugal: Ed. Paulinas. 2010.
VAGAGGINI, Cipriano. O sentido teológico da liturgia. São Paulo: Ed. Loyola, 2009.





  

segunda-feira, 14 de julho de 2014

CORPVS CHRISTI: Novo livro de Dom Athanasius em Português

View Comments


Publicado inicialmente em italiano pela Livraria do Vaticano, já se encontra em português o novo livro de Dom Athanasius Schneider.

O autor é bispo auxiliar de Santa Maria Santíssima, em Astana (Casaquistão), e um dos bispos que apoiam nosso apostoladoDom Athanaius escreveu ainda: "DOMINUS Est: Reflexões de um bispo da ásia sobre a Sagrada Comunhão", publicado inicialmente pela Editora do Vaticano e traduzido para diversos idiomas. Publico uma tradução do texto que se encontra na contra-capa do livro:
"A Encarnação de Deus atinge o seu verdadeiro ápice de auto-humilhação e auto esvaziamento no Mistério da Eucaristia. Neste sacramento o mistério do “Deus conosco” se revela de modo insuperável, com todas as consequências do incomensurável amor de Deus.
Cristo não é somente o “Deus conosco”, Ele é o Deus que na pequena Hóstia Consagrada se entrega de modo incondicional nas mãos dos homens, renunciado a sua própria defesa. Jesus Eucarístico na Hóstia Consagrada é verdadeiramente o mais pobre e o mais indefeso na Igreja, e isto acontece em primeiro lugar durante a distribuição da Comunhão.Durante a distribuição da Comunhão se constata nos nossos dias o fenômeno de uma surpreendente falta de sensibilidade e de cuidado diante de todas as exigências concretas da presença real e substancial do Deus Encarnado na pequena Hóstia Consagrada. Os necessários atos exteriores de adoração, de sacralidade e respeito no trato com a Hóstia Consagrada são geralmente reduzidos ao mínimo. O modo exterior de tratar a Hóstia com gestos de adoração conduzem a uma fé na Encarnação e na Transubstanciação eucarística.
Eucaristia é o verdadeiro coração da vida da Igreja. Se o culto concreto ao Deus Eucaristia se torna objetivamente reduzido, o coração da vida da Igreja estará ferido. Para curar o coração da vida da Igreja nos nossos dias é necessário recuperar o modo de tratar Jesus Eucarístico na Hóstia Consagrada – ainda no seu menor fragmento, que não é nada menos que Nosso Senhor mesmo."
Dom Athanasius foi durante muitos anos professor de Patrística no Institutum Sapientiae, aqui no Brasil.
O livro pode ser adquirido clicando AQUI.

domingo, 13 de abril de 2014

Uma breve reflexão sobre os Ramos no Domingo de Ramos

View Comments

Chegados mais uma vez ao Domingo de Ramos, achei pertinente visar, para uma pequena reflexão, um – se não o - elemento proeminente dos santos mistérios deste dia. Creio que o seu significado, talvez devido à familiaridade, seja ignorado por muitos Católicos. Refiro-me, obviamente, aos ramos, que são abençoados e distribuídos neste dia.


Donde a presença dos ramos neste dia? Ora, encontramo-los no Novo Testamento, dirão com certeza, e estão presentes na entrada de Jesus em Jerusalém dias antes da Sua Paixão. Mas a pergunta que coloco aqui é: por que ramos, especificamente? Olhemos para as perícopes da entrada, em especial para aquelas que mencionam a existência de ramos – São Mateus, São Marcos, e São João. Porque nos falam os evangelistas da presença de ramos? Olhemos, não com familiaridade para estes textos, mas com olhos “novos”, de quem os lê (ou melhor, ouve) pela primeira vez. Convido a encarar este texto, não como um Católico do séc. XXI, mas como um Judeu do séc. I. O que a nós poderá passar despercebido como um “mero detalhe” que dá origem a um sacramental neste dia, para um judeu contemporâneo de Jesus encerava um significado profundo. Creio que conhecendo o seu significado para um judeu nos ajudará a entrar mais profundamente nos santos mistérios deste domingo.

A existência de ramos e gritos de Hosanna remetem-nos para o festival de Sucot, geralmente referido como Festa das/dos Tendas/Tabernáculos no Novo Testamento.

A observância de Sucot, cuja duração é uma oitava, foi estabelecida por Deus aquando do estabelecimento da Aliança com Israel no Monte Sinai, sendo uma das três festas de peregrinação obrigatória a Jerusalém. A festa era, grosso modo, uma festa de natureza agrícola, pois calhava na época da colheita (cf. Ex 23,16; 34,22); mas como toda a festa agrícola judaica, estava revestida de significado religioso também. Servia para “fazer memória” do tempo em que Israel vagueou pelo deserto, vivendo em tendas, antes de entrar na Terra Prometida, quando Deus os fez sair da casa do Egito:
«Habitareis nas tendas durante sete dias; todos os que nasceram em Israel deverão habitar em tendas, para que os vossos descendentes saibam que fiz habitar em tendas os filhos de Israel, quando os fiz sair da terra do Egipto.»
Estava prescrito a leitura da Lei durante a festa a cada sete anos: 
«Ao fim de sete anos, na Assembleia do Ano da remissão, pela festa das Tendas, quando todo o Israel comparecer diante do SENHOR, teu Deus, no lugar que Ele tiver escolhido, farás a proclamação desta Lei a todo o Israel. Reunirás o povo, homens, mulheres e crianças, e o estrangeiro que estiver nas tuas cidades, a fim de que escutem, aprendam e reverenciem o SENHOR, vosso Deus, e cumpram todas as palavras desta Lei. Os filhos deles, que ainda não conhecem, ouvirão e aprenderão a reverenciar o SENHOR, vosso Deus, enquanto viverdes na terra de que ides tomar posse, depois de passardes o Jordão.» 
Era também uma festa que prefigurava/antecipava a “colheita final” de Israel, quando este reuniria todas as nações em Deus. Dada a grandiosidade da festa, e da alegria a ela associada, começou a ter ligações à linhagem real: por exemplo, durante esta festa Salomão dedicou o Templo (1 Rs 8). Após o regresso do exílio na Babilônia, e com a ausência dum rei, a festa foi ganhando conotações messiânicas. Já o profeta Zacarias nos fala do dia em que as nações haverão de vir celebrar o Sucot a Jerusalém:
Os que restarem de todas as nações, que tiverem marchado contra Jerusalém, irão todos os anos adorar o Rei, o Senhor do universo, e celebrar a festa das Tendas. 
Era uma festa caracterizada por: alegria, “tendas”, ofertas, e ramos. São estes últimos que nos interessam hoje. 
No primeiro dia, apanhareis belos frutos, ramos de palmeira, ramos de árvores frondosas e dos salgueiros do rio; e regozijar-vos-eis na presença do SENHOR, vosso Deus, durante sete dias.
Os ramos – lulav, em hebraico – seriam de tamareira, e teriam murta e salgueiro atados juntamente. Crê-se que estas plantas serviriam de recordação do tempo passado no deserto, uma vez que correspondem a espécies comuns nesse ambiente. O lulav deveria ser apresentado pelos fiéis no Templo todos os sete dias que durava a celebração de Sucot, e as crianças eram obrigadas a levá-lo a partir do momento em que já conseguissem abaná-lo. Durante as celebrações no Templo (cujos símbolos Jesus identificou consigo mesmo em São João), o coro cantaria os salmos de Hallel (de louvor) – os Salmos 113 a 118. Quando eram cantados os Hosannas no Salmo 118 toda a assembleia abanava os seus ramos em direção ao altar.

Como já referi, na época de Jesus, esta festa já não estava associada ao rei “atual”, da casa de Davi, mas ao Filho de Davi que haveria de vir. Sucot haveria de ser a única festa que perduraria no final dos tempos, após a vinda do Messias; a grande festa de louvor em que Israel finalmente consumaria as núpcias com o Seu Senhor. Não é por acaso que no livro do Apocalipse nos surge a imagem da multidão composta por pessoas de todas as nações diante do trono do Cordeiro, com ramos nas mãos: 
Depois disto, apareceu na visão uma multidão enorme que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé com túnicas brancas diante do trono e diante do Cordeiro, e com palmas na mão.
Todo este simbolismo estaria presente na mente dum judeu do primeiro século. A presença destes sinais na entrada triunfal não implica a celebração da festa, mas o reconhecimento por parte do povo israelita, em quem estas imagens estariam bem presentes, de que o Filho de Davi tinha chegado, e que se iniciava o Sucot derradeiro (tal como São Pedro perguntou se deveria montar tendas aquando da Transfiguração).

Chegado ao fim desta breve exposição histórica, o que são para nós, então, os ramos que recebemos no Domingo de Ramos, que levamos em nossas mãos em procissão, e que eventualmente levaremos para casa? Estes ramos são testemunhos da nossa fé no Messias. São sinal de que o Filho de Davi salva. São reconhecimento do Cristo Rei. A liturgia bracarense demonstra isto duma forma sutil na procissão, através da cruz processional. Enquanto que no rito romano tradicional a cruz está velada, uma vez que nos encontramos já dentro do tempo litúrgico conhecido como "Tempo da Paixão", no rito bracarense a cruz é desvelada para a procissão, demonstrando que esta é uma entrada triunfal, de alegria. Estes ramos são uma lembrança de que, apesar de dentro de alguns dias o Senhor sofrer a Sua Paixão, “Christus vincit, Christus regnat, Christus imperat”. São sinais escatológicos na medida em que revelam a nossa fé e esperança no Rei dos Reis que há de vir no fim dos tempos, para consumar as núpcias com a Sua Noiva, a Igreja,  enxugando as nossas lágrimas.


Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Parceiros