Passado o feriado de Corpus Christi, cabem algumas considerações.
É doutrina da Igreja que Cristo deve reinar não só nas almas e na Igreja, como nos corpos, nos afazeres domésticos, nas profissões, enfim, em toda a sociedade, e nos Estados. O Reinado de Cristo é espiritual, mas também social. Cristo Rei é soberano das esferas religiosa e civil, espiritual e temporal.
Desfilar com o próprio Cristo, vivo e presente na Eucaristia, pelas ruas de uma cidade, com incenso, pluvial, acólitos, um majestoso tapete, e todo o esplendor de nosso cerimonial, é uma poderosa manifestação desse ensinamento. Cristo Rei passeia no meio de seus súditos. Triunfalmente, Ele, que reina pela presença real no Santíssimo Sacramento, reivindica as ruas da cidade e seus moradores, para que estejam sob seu poder. A procissão de Corpus Christi é sinal, bem o vemos, do Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo, de sua soberania na esfera temporal, da sujeição do Estado, da nação, da sociedade, à sua realeza.
Tal costume ainda é mantido em nosso dessacralizado Brasil. Mas será que ainda mantém toda a sua pujança? Será que não deveríamos fazer procissões ainda mais grandiosas? Os movimentos gays, os sindicatos, os evangélicos (com suas “marchas para Jesus”) fecham, por exemplo, a Avenida Paulista, em São Paulo, requisitando a segurança da Polícia Militar, para defenderem seus ideais. E nós, o que fazemos para que o Senhor caminhe, em glória e triunfo, em nossas ruas? São nossas procissões de Corpus Christi uma manifestação que causa admiração aos demais?
Lembremos que nós não temos “marchas PARA Jesus”, como os protestantes. Em Corpus Christi, temos uma “marcha COM Jesus”. Entretanto, nem sempre em todas as dioceses proporcionam aquele esplendor que Cristo merece e que a liturgia nos pede.
Falamos tanto em “nova evangelização”, em “diretrizes da ação evangelizadora”, em “missão continental nos moldes do documento de Aparecida”, e deixamos, muitas vezes, escapar uma oportunidade como o Corpus Christi, para evangelizar… Sim, pois desfilar com Cristo Eucarístico pelas ruas é apostolado, é evangelização, é catequese profunda: com um só ato, ensinamos que o Salvador está real e substancialmente presente no sacramento da Eucaristia, que Ele deve reinar na nossa sociedade como em nossas almas, que a Ele devemos dar o nosso melhor. Querem maior ação evangelizadora do que esta? Querem maior missão apostólica do que levar não um símbolo, mas o próprio Senhor Jesus Cristo pelas ruas e avenidas de nosso país?
Não temos aqui as dificuldades de um país protestante ou totalmente agnóstico. Corpus Christi é feriado em quase todos os municípios. Temos que aproveitar. Quem sabe fechar uma grande rua e fazer uma enorme procissão, com os paramentos corretos, ao fim da qual se dará a bênção com indulgência, e se cantará, em latim, com um belo coro para cantar o Tantum Ergo e o Ave Verum Corpus em gregoriano (e dificilmente uma diocese de porte médio não conseguirá ensaiar, com meses de antecedência, esses dois cânticos simples), e reunindo acólitos, ministros extraordinários, diáconos, padres, Bispos, religiosos, membros das confrarias?
E se já fazemos uma procissão, não teremos como melhorá-la? Adequá-la às normas litúrgicas, por exemplo, ou sair de uma rua sem expressão e tomar a principal avenida de nossa cidade. Usar mais incenso, ou o melhor ostensório. Trocar o vernáculo pelo latim. Usar cantos mais tradicionais e também o gregoriano. Na Missa, ter polifonia (em vez da bizarra execução do Hino Nacional durante a Consagração, que se faz, com a melhor das intenções, pretendendo consagrar o Brasil a Cristo, mas em afronta violenta ao espírito da liturgia e às normas positivas).
Uma procissão esteticamente bonita, espiritualmente significativa, liturgicamente correta, teologicamente adequada, será, sem dúvida, apostolicamente eficaz.