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sábado, 23 de abril de 2011

Excerto da Paschalis Sollemnitatis, sobre a Páscoa

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Seguem nossas reflexões:

VII. O DOMINGO DE PÁSCOA

A) A vigília pascal da noite santa

77. Segundo uma antiquíssima tradição, esta noite é “em honra do Senhor”[79], e a vigília que nela se celebra, comemorando a noite santa em que o Senhor ressuscitou, deve ser considerada como “mãe de todas as santas vigílias”.[80] Nesta vigília, de fato, a Igreja permanece à espera da ressurreição do Senhor e celebra-a com os sacramentos da iniciação cristã.[81]

a) Significado da característica noturna da vigília pascal

78. “Toda a vigília pascal seja celebrada durante a noite, de modo que não comece antes do anoitecer e sempre termine antes da aurora de domingo”,[82] Esta regra deve ser interpretada estritamente. Qualquer abuso ou costume contrário, às vezes verificado, de se antecipar a hora da celebração da vigília pascal para horas em que, habitualmente, se celebram as missas vespertinas antes dos domingos, deve ser reprovado.[83] As razões apresentadas para antecipar a vigília pascal, como por exemplo a insegurança pública, não se têm em conta no caso da noite de Natal ou de reuniões que se realizam de noite.

79. A vigília pascal, na qual os judeus esperaram a passagem do Senhor que os libertaria da escravidão do Faraó, foi por eles observada como memorial a ser celebrado todos os anos; era a figura da futura e verdadeira Páscoa de Cristo, isto é, da noite da verdadeira libertação, na qual.. Jesus rompeu o inferno, ao ressurgir da morte vencedor”.[84]

80. Desde o início a Igreja tem celebrado a Páscoa anual, solenidade das solenidades, com uma vigília noturna. Com efeito, a ressurreição de Cristo é o fundamento da nossa fé e da nossa esperança, e por meio do Batismo e da Confirmação fomos inseridos no mistério pascal de Cristo: mortos, sepultados e ressuscitados com Ele, com Ele também havemos de reinar.[85]

Esta vigília é também espera da segunda vinda do Senhor.[86]

b) A estrutura da vigília pascal e a importância dos seus elementos e das suas partes

81. A vigília tem a seguinte estrutura: depois do lucernário e da proclamação da Páscoa (primeira parte da vigília), a santa Igreja contempla as maravilhas que Deus operou em favor do seu povo desde o início (segunda parte ou liturgia da Palavra), até ao momento em que, com os seus membros regenerados pelo Batismo (terceira parte), é convidada à mesa, preparada pelo Senhor para o seu povo, memorial da sua morte e ressurreição, à espera da sua nova vinda (quarta parte).[87]

Esta estrutura dos ritos por ninguém pode ser mudada arbitrariamente.

82. A primeira parte compreende ações simbólicas e gestos, que devem ser realizados com tal dignidade e expressividade, de maneira que os fiéis possam verdadeiramente compreender o significado, sugerido pelas advertências e orações litúrgicas.

Na medida em que for possível, prepare-se fora da igreja, em lugar conveniente, o braseiro para a bênção do fogo novo, cuja chama deve ser tal que dissipe as trevas e ilumine a noite.

Prepare-se o círio pascal que, no respeito da veracidade do sinal, “deve ser de cera, novo cada ano, único, relativamente grande, nunca artificial, para poder recordar que Cristo é a luz do mundo. A bênção do círio seja feita com os sinais e palavras indicados no Missal ou por outros aprovados pela Conferência Episcopal.[88]

83. A procissão com que o povo entra na igreja deve ser iluminada unicamente pela luz do círio pascal. Assim como os filhos de Israel eram guiados de noite pela coluna de fogo, assim também os cristãos, por sua vez, seguem a Cristo ressuscitado. Nada impede que, a cada resposta Demos graças a Deus!, se acrescente outra aclamação dirigida a Cristo.

A luz do círio pascal passará, gradualmente, às velas que os fiéis têm em suas mãos, permanecendo ainda apagadas as lâmpadas elétricas.

84. O diácono faz a proclamação da Páscoa, magnífico poema lírico que apresenta todo o mistério pascal inserido na economia da salvação. Se necessário, ou por falta de diácono ou por impossibilidade do sacerdote celebrante, tal proclamação seja confiada a um cantor. As conferências episcopais podem adaptar convenientemente esta proclamação, introduzindo nela algumas aclamações da assembléia.[89]

85. As leituras da Sagrada Escritura formam a segunda parte da vigília. Elas descrevem os acontecimentos culminantes da história da salvação, que os fiéis devem poder tranqüilamente meditar por meio do canto do Salmo responsorial, do silêncio e da oração do celebrante.

O renovado Ordo da vigília compreende sete leituras do Antigo Testamento, tomadas dos livros da lei e dos profetas, já utilizadas com freqüência nas antigas tradições litúrgicas tanto do Oriente como do Ocidente; e duas leituras do Novo Testamento, tomadas das cartas dos apóstolos e do Evangelho. Desta maneira, a Igreja “começando por Moisés e seguindo pelos profetas”[90], interpreta o mistério pascal de Cristo. Portanto, na medida em que for possível, leiam-se todas as leituras de maneira que se respeite completamente a natureza da vigília pascal, que exige uma certa duração.

Todavia, onde as circunstâncias de natureza pastoral exigem que se reduza ainda o número das leituras, leiam-se ao menos três do Antigo Testamento, a saber, dos livros da lei e dos profetas; nunca se pode omitir a leitura do capítulo 14 do Êxodo, com o seu cântico.[91]

86. O significado tipológico dos textos do Antigo Testamento tem as suas raízes no Novo, e aparece sobretudo na oração pronunciada pelo celebrante depois de cada uma das leituras; para chamar a atenção dos fiéis, poderá ser também útil uma breve introdução para que compreendam o significado das mesmas. Tal introdução pode ser feita pelo próprio sacerdote celebrante ou pelo diácono. As Comissões litúrgicas nacionais ou diocesanas poderão cuidar da preparação de subsídios oportunos, que sirvam de ajuda aos pastores.

Depois da leitura canta-se o salmo com a resposta do povo. Na repetição destes diversos elementos mantenha-se um ritmo que possa favorecer a participação e a devoção dos fiéis.[92] Evite-se com todo o cuidado que os salmos sejam substituídos por canções populares.

87. No final das leituras do Antigo Testamento canta-se o Glória a Deus, tocam-se os sinos segundo os usos locais, pronuncia-se a oração e passa-se às leituras do Novo Testamento. Lê-se a exortação do apóstolo sobre o Batismo, entendido como inserção no mistério pascal de Cristo.

Depois, todos se levantam: o sacerdote entoa por três vezes o Aleluia, elevando gradualmente a voz, e o povo repete-o.[93] Se necessário, o sal. mista ou um cantor entoa o Aleluia, que o povo prossegue intercalando a aclamação entre os versículos do Salmo 117, tantas vezes citado pelos apóstolos na pregação pascal.[94] Por fim, com o Evangelho é anunciada a ressurreição do Senhor, como ápice de toda a liturgia da Palavra. Não se deve omitir a homilia, ainda que seja breve.

88. A terceira parte da vigília é constituída pela liturgia batismal. A Páscoa de Cristo e nossa é agora celebrada no sacramento. Isto pode ser expresso de maneira mais completa nas igrejas que têm a fonte batismal, e sobretudo quando tem lugar a iniciação cristã dos adultos ou, pelo menos, o batismo de crianças.[95] Mesmo que não haja a cerimônia do Batismo, nas igrejas paroquiais deve-se fazer a bênção da água batismal. Quando esta bênção não é feita na fonte batismal mas no presbitério, num segundo momento a água batismal seja levada ao batistério, onde será conservada durante todo o tempo pascal.[96] Onde não haja a cerimônia do Batismo nem se deva benzer a água batismal, a memória do Batismo é feita na bênção da água que depois servirá para aspergir o povo.[97]

89. Em seguida tem lugar a renovação das promessas batismais, introduzida com uma palavra do celebrante. Os fiéis, de pé e com as velas acesas na mão, respondem às interrogações.

Depois eles são aspergidos com a água: desse modo, gestos e palavras recordam-lhes o Batismo recebido. O sacerdote celebrante asperge o povo passando pela nave da igreja, enquanto todos cantam a antífona Vidi aquam ou outro cântico de caráter batismal.[98]

90. A celebração da Eucaristia forma a quarta parte da vigília e o seu ápice, sendo de modo pleno o sacramento da Páscoa, ou seja, memorial do sacrifício da cruz e presença de Cristo ressuscitado, consumação da iniciação cristã e antegozo da Páscoa eterna.

91. Recomenda-se não celebrar apressadamente a liturgia eucarística; é muito conveniente que todos os ritos e as palavras que os acompanham alcancem toda a sua força expressiva: a oração universal, mediante a qual os neófitos participam pela primeira vez como fiéis e exercem o seu sacerdócio real[99]; a procissão do ofertório, com a participação dos neófitos, se estiverem presentes; a oração eucarística primeira, segunda ou terceira, possivelmente cantada, com os seus embolismos próprios[100]; a comunhão eucarística, que é o momento da plena participação no mistério celebrado. Durante a Comunhão é oportuno’ cantar o Salmo 117, com a antífona Cristo, nossa Páscoa, ou o Salmo 33, com a antífona Aleluia, Aleluia, Aleluia, ou outro cântico de júbilo pascal.

92. É muito desejável que na comunhão da vigília pascal se alcance a plenitude do sinal eucarístico, recebido sob as espécies do pão e do vinho. O ordinário do lugar julgue sobre a oportunidade desta concessão e das suas modalidades.[101]

c) Algumas advertências pastorais

93. A liturgia da vigília pascal seja realizada de modo a poder oferecer ao povo cristão a riqueza dos ritos e das orações; é importante que seja respeitada a verdade dos sinais, se favoreça a participação dos fiéis e seja assegurada a presença de ministros, leitores e cantores.

94. É desejável que, segundo as circunstâncias, seja prevista a reunião de diversas comunidades numa mesma igreja, quando, por razão da proximidade das igrejas ou do reduzido número de participantes, não se possa ter uma celebração completa e festiva. Favoreça-se a participação de grupos particulares na celebração da vigília pascal, na qual todos os fiéis, formando uma única assembléia, possam experimentar de modo mais profundo o sentido de pertença à mesma comunidade eclesial.

Os fiéis que, por motivo das férias, estão ausentes da própria paróquia sejam convidados participar na celebração litúrgica no lugar onde se encontram.

95. Ao anunciar a vigília pascal, evite-se apresentá-la como o último ato do Sábado Santo. Diga-se antes que a vigília pascal se celebra “na noite da Páscoa” e como um único ato de culto. Recomenda-se encarecidamente aos pastores insistir na formação dos fiéis sobre a importância de se participar em toda a vigília pascal.[102]

96. Para poder celebrar a vigília pascal com o máximo proveito, convém que os próprios pastores adquiram um conhecimento melhor tanto dos textos como dos ritos, a fim de poderem dar uma mistagogia que seja autêntica.

B) O dia da Páscoa

97. A missa do dia da Páscoa deve ser celebrada com grande solenidade. Em lugar do ato penitencial, é muito conveniente fazer a aspersão com a água benzida durante a celebração da vigília. Durante a aspersão, pode-se cantar a antífona Vidi aquam ou outro cântico de caráter batismal. Com essa mesma água convém encher os recipientes (vasos, pias) que se encontram à entrada da igreja,

98. Conserve-se, onde ainda está em vigor, ou, segundo a oportunidade, instaure-se a tradição de celebrar as vésperas batismais do dia da Páscoa, durante as quais ao canto dos salmos se faz a procissão à fonte,[103]

99. O círio pascal, colocado junto do ambão ou perto do altar, permaneça aceso ao menos em todas as celebrações litúrgicas mais solenes deste tempo, tanto na missa como nas laudes e vésperas, até ao domingo de Pentecostes, Depois, o círio é conservado bom a devida honra no batistério, para acender nele os círios dos neo-batizados. Na celebração das exéquias o círio pascal seja colocado junto do féretro, para indicar que a morte é para o cristão a sua verdadeira Páscoa.

Fora do tempo da Páscoa não se acenda o círio pascal nem seja conservado no presbitério.[104]

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Notas:

[79] Ex 12, 42.

[80] Sto. Agostinho, Sermo 219, PL 38, 1088.

[81] Caeremoniale Episcoporum. n. 332.

[82] Ibid., n. 332; Missal Romano, Vigilia pascal, n. 3.

[83] S. Congr. dos Ritos, Instrução Eucharisticum mysterium, 25.5.1967, n. 28, AAS 59 (1967) 556-557.

[84] Missal Romano, Vigília Pascal, n. 19, Proclamação da Páscoa.

[85] Cf. Conc. VAT. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 6; cf. Rm 6, 3-6; Et 2, 5-6; Cl 2, 12-13; 2Tm 2, 11-12.

[86] “Illam noctem agimus vigilando quia Dominus resurrexit et illam vitam. ubi nec mors ulla nec somnus est, in sua carne nobis inchoavit; quam sic excitavit a mortuis ut iam non moriatur nec mors ei ultra dominetur. Proinde cui resurgenti paulo diuius vigilando concinimus, praestabit ut cum illosine fine vivendo regnemus”: Sto. Agostinho, Sermo Guelferbytan. 5, 4: PLS 2. 552.

[87] Cf. Missal Romano, Vigília Pascal, n. 2.

[88] Cf. Ibid., n. 10-12.

[89] Cf. ibid., n. 17.

[90] Lc 24, 27; cf. Lc 24, 44-45.

[91] Cf. Missal Romano, Vigília Pascal, n. 21.

[92] Cf. ibid. n. 23.

[93] Cf. Caeremoniale Episcoporum. n. 352.

[94] Cf. At 4, 11-12; Mt 21, 42; Mc 12, 10; Lc 20, 17.

[95] Cf. Rito do Batismo das Crianças, n. 6.

[96] Cf. Missal Romano, Vigília Pascal, n. 48.

[97] Cf. ibid., n. 45.

[98] Cf. ibid., n. 47.

[99] Cf. ibid., n. 49; Rito da iniciação cristã dos adultos, n. 36.

[100] Cf. Missal Romano, Vigília Pascal, n. 53; ibid., Missas Rituais, 3: para o Batismo.

[101] Cf. Missal Romano, “Princípios e Normas para o uso do Missal Romano”, n. 240-242.

[102] Cf. Conc. VAT. II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 56.

[103] Cf. “Princípios e Normas para a Liturgia das Horas”, n. 213.

[104] Cf. Missal Romano, Domingo de Pentecostes, rubrica final: Rito do batismo das crianças, Iniciação cristã, Normas gerais n. 25.

A simbologia do Círio Pascal

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O Círio Pascal provém do costume romano de iluminar a noite com muitas lâmpadas. Essas lâmpadas passaram a serem sinais do Senhor ressuscitado, dentro da "noite da morte". Originalmente, o Círio tinha a altura de um homem, simbolizando o Cristo-luz que brilha nas trevas.

Os teólogos francos e galicanos enriqueceram-no com elementos mais simbólicos ainda. Aparecem assim as inscrições de Cristo, ontem e hoje, Princípio e fim e a primeira e a última letra do alfabeto grego (alfa e ômega). Coloca-se ainda o ano litúrgico corrente, pois Cristo é o centro da História e a Ele compete o tempo, a eternidade, a glória e o poder pelos séculos.

São impostos ainda, cinco grãos de incenso, numa espécie de cravo de cera vermelha, rezando: "por suas santas chagas (estes são os símbolos delas), suas chagas gloriosas, Cristo Senhor nos proteja e nos guarde". O sacerdote acende logo em seguida o Círio, que é a Luz de Cristo, é o próprio Cristo. Entoa-se o refrão: "Eis a luz de Cristo!" E todos respondem: "Demos graças a Deus!"

Depois de ter entrado na igreja, o cortejo, que se forma atrás do Círio Pascal é repleto de mais símbolos. Trata-se aqui da alusão às palavras do Evangelho de São João: "Eu sou a Luz do mundo; quem me segue não caminhará nas trevas, mas terá a luz da vida". (Jo 8,12). O Círio, conduzido à frente pelo diácono, recorda a coluna de fogo pela qual Yahweh precedia, na escuridão da noite, o povo de Israel, ao sair da escravidão do Egito, e lhe mostrava o caminho (Cf. Ex 13,21); No percurso, todos os fiéis acompanham o andar do Círio, acendendo suas velas, significando assim, que todos somos novas criaturas, banhados pelo sangue do Cordeiro e iluminados pelo Cristo Ressuscitado, que caminha em meio ao seu povo.

Chegando ao altar, depois da solene entronização e incensação, o diácono canta o Exsultet ou Precônio Pascal. As ideias centrais deste hino, de autor desconhecido, são tiradas dos pensamentos de Santo Ambrósio e de Santo Agostinho. Ele canta as maravilhas da libertação do povo de Israel, perpassando toda a sua história, até a "Grande Noite" ou "Noite Santa", tão mais que a noite do Natal do Senhor. Daí, entendermos que esta é a maior de todas as Solenidades da Igreja! É "a Noite das noites". Noite esta que se torna o Dies Domini, O Dia do Senhor, que se estende por mais oito dias (oitava).

Este é o cântico da vitória de Cristo sobre a morte, que resgatou nossos pais primevos do sono da morte e, por consequência, toda a humanidade, simbolizada por Adão e Eva. Por isso, nesta Noite, entoamos o solene "Aleluia", isto é, o "louvor a El". Esta palavra está no imperativo hebraico e significa, literalmente, "louvai a Ele!" (Hallel-uyah!)

O Círio Pascal permanece junto ao ambão durante todo o Tempo Pascal, até Pentecostes, inclusive. Ele é o sinal da Vida nova em Cristo. É ele o verdadeiro símbolo da Páscoa e não os "ovos" ou "coelhos", que têm significados de fertilidade e de vida, mas que distorcem os sinais da vida nova em Cristo.

Portanto, sigamos o Senhor nosso Jesus Cristo, Luz que brilha nas trevas do mundo! Louvemos a Ele, que vive, reina e impera! Entoemos "Aleluia!" "Aleluia!" "Aleluia!"


  


Sermão da Vigília Pascal por Santo Agostinho de Hipona

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O bem-aventurado apóstolo Paulo, exortando-nos a que o imitemos, dá entre outros sinais de sua virtude o seguinte: “freqüente nas vigílias” [2Cor 11,27]. Com quanto maior júbilo não devemos também nós vigiar nesta vigília, que é como a mãe de todas as santas vigílias, e na qual o mundo todo vigia?

Não o mundo, do qual está escrito: “Se alguém amar o mundo, nele não está a caridade do Pai, pois tudo o que há no mundo é concupiscência dos olhos e ostentação do século, e isto não procede do pai” [1Jo 2,15].

Sobre tal mundo, isto é, sobre os filhos da iniqüidade, reinam o demônio e seus anjos. E o Apóstolo diz que é contra estes que se dirige a nossa luta: “Não contra a carne e o sangue temos de lutar, mas contra os principados e as potestades, contra os dominadores do mundo destas trevas” [Ef 6,12].

Ora, maus assim fomos nós também, uma vez; agora, porém, somos luz no Senhor. Na Luz da Vigília resistamos, pois, aos dominadores das trevas.

Não é, portanto, esse o mundo que vigia na solenidade de hoje, iras aquele do qual está escrito: “Deus estava reconciliando consigo o mundo, em Cristo, não lhe imputando os seus pecados” [2Cor 5,19].

E é tão gloriosa a celebridade desta vigília, que compele a vigiarem na carne mesmo os que, no coração, não digo dormirem, mas até jazerem sepultos na impiedade do tártaro. Vigiam também eles esta noite, na qual visivelmente se cumpre o que tanto tempo antes fora prometido: “E a noite se iluminará como o dia” [Sl 138,12]. Realiza-se isto nos corações piedosos, dos quais se disse: “Fostes outrora trevas, mas agora sois luz no Senhor”. Realiza-se isto também nos que zelam por todos, seja vendo-os no Senhor, seja invejando ao Senhor. Vigiam, pois, esta noite, o mundo inimigo e o mundo reconciliado. Este, liberto, para louvar o seu Médico; aquele, condenado, para blasfemar o seu juiz. Vigia um, nas mentes piedosas, ferventes e luminosas; vigia o outro, rangendo os dentes e consumindo-se. Enfim, ao primeiro é a caridade que lhe não permite dormir, ao segundo, a iniqüidade; ao primeiro, o vigor cristão, ao segundo o diabólico. Portanto, pelos nossos próprios inimigos sem o saberem eles, somos advertidos de como devamos estar hoje vigiando por nós, se por causa de nós não dormem também os que nos invejam.

Dentre ainda os que não estão assinalados com o nome de cristãos, muitos são os que não dormem esta noite por causa da dor, ou por vergonha. Dentre os que se aproximam da fé, há os que não dormem por temor. Por motivos vários, pois, convida hoje à vigília a solenidade (da Páscoa), Por isso, como não deve vigiar com alegria aquele que é amigo de Cristo, se até o inimigo o faz, embora contrariado? Como não deve arder o cristão por vigiar, nessa glorificação tão grande de Cristo, se até o pagão se envergonha de dormir? Como não deve vigiar em sua solenidade, o que já ingressou nesta grande Casa, se até o que apenas pretende nela ingressar já vigia?

Vigiemos, e oremos; para que tanto exteriormente quanto interiormente celebremos esta Vigília. Deus nos falará durante as leituras; falemo-lhe também nós em nossas preces. Se ouvimos obedientemente as suas palavras, em nós habita Aquele a quem oramos.

Fonte: http://cocp.50webs.com/fixas/sermvpasc.htm

De uma antiga Homilia no grande Sábado Santo (Séc. IV)

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A descida do Senhor à mansão dos mortos 

Que está acontecendo hoje? Um grande silêncio reina sobre a terra. Um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque o Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos.

Ele vai antes de tudo à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva cativos, agora libertos dos sofrimentos. 

O Senhor entrou onde eles estavam, levando em suas mãos a arma da cruz vitoriosa. Quando Adão, nosso primeiro pai, o viu, exclamou para todos os demais, batendo no peito e cheio de admiração: “O meu Senhor está no meio de nós”. E Cristo respondeu a Adão: “E com teu espírito”. E tomando-o pela mão, disse: “Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará. 

Eu sou o teu Deus, que por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que nasceram de ti, agora digo, e com todo o meu poder, ordeno aos que estavam na prisão: ‘Saí!’; e aos que jaziam nas trevas: ‘Vinde para a luz!’; e aos entorpecidos: ‘Levantai-vos!’ 

Eu te ordeno: Acorda, tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te dentre os mortos; eu sou a vida dos mortos. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa. 

Por ti, eu, o teu Deus, me tornei teu filho; por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição de escravo. Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci à terra e fui até mesmo sepultado debaixo da terra; por ti, feito homem, tornei-me como alguém sem apoio, abandonado entre os mortos. Por ti, que deixaste o jardim do paraíso, ao sair de um jardim fui entregue aos judeus e num jardim, crucificado. 

Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi, para restituir-te o sopro da vida original. Vê na minha face as bofetadas que levei para restaurar, conforme à minha imagem, tua beleza corrompida. Vê em minhas costas as marcas dos açoites que suportei por ti para retirar de teus ombros o peso dos pecados. Vê minhas mãos fortemente pregadas à árvore da cruz, por causa de ti, como outrora estendeste levianamente as tuas mãos para a árvore do paraíso. 

Adormeci na cruz e por tua causa a lança penetrou no meu lado, como Eva surgiu do teu, ao adormeceres no paraíso. Meu lado curou a dor do teu lado. Meu sono vai arrancar-te do sono da morte. Minha lança deteve a lança que estava dirigida contra ti. 

Levanta-te, vamos daqui. O inimigo te expulsou da terra do paraíso; eu, porém, já não te coloco no paraíso mas num trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore, símbolo da vida; eu, porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem; ordeno agora que eles te adorem como Deus, embora não sejas Deus. Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, construído o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade”. 

Excerto da Paschalis Sollemnitatis, sobre o Sábado Santo

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Hoje é Sábado Santo. Se ontem, na Sexta-feira Santa, não houve Missa, mas ao menos realizou-se a distribuição da Santíssima Eucaristia, hoje nem isso… A Igreja está de luto.

Acompanhemos o luto da Igreja e de Nossa Senhora, pelas linhas abaixo, da Paschalis Sollemnitatis:

VI. O SÁBADO SANTO

73. Durante o Sábado Santo a Igreja permanece junto do sepulcro do Senhor, meditando a sua paixão e morte, a sua descida aos infernos[75], e esperando na oração e no jejum a sua ressurreição. Recomenda-se com insistência a celebração do oficio da leitura e das laudes com a participação do povo (cf. n. 40). Onde isto não é possível, prepare-se uma celebração da palavra ou um pio exercício que corresponda ao mistério deste dia.[76]

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74. Podem ser expostas na igreja, para a veneração dos fiéis, a imagem de Cristo crucificado ou deposto no sepulcro, ou uma imagem da sua descida aos infernos, que ilustra o mistério do Sábado Santo, bem como a imagem da Santíssima Virgem das Dores.

75. Neste dia a Igreja abstém-se absolutamente do sacrifício da missa.[77] A sagrada Comunhão só pode ser dada como viático. Não se conceda a celebração de matrimônios nem a administração de outros sacramentos, exceto os da Penitência e da Unção dos Enfermos.

76. Os fiéis sejam instruídos sobre a natureza particular do Sábado Santo.[78] Os usos e as tradições de festa vinculados com este dia por causa da antiga antecipação da vigília para o Sábado Santo devem ser transferidos para a noite ou para o dia da Páscoa.

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Notas:

[75] Cf. Missal Romano, Sábado Santo; cf. Símbolo dos Apóstolos; 1Pd 3, 19.

[76] Cf. “Princípios e Normas para a Liturgia das Horas”, n. 210.

[77] Missal Romano, Sábado Santo.

[78] S. Congr. dos Ritos, Decr. Maxima redemptionis nostrae mysteria, 16.11.1955, n. 2, AAS 47 (1955) 843.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Jorge Ferraz: Sexta-feira

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Do excelente Deus lo vult, do Jorge Ferraz:

A igreja vazia, os altares desnudos, a lâmpada do sacrário apagada e, este próprio, aberto e vazio. Nosso Senhor não está – é visível. Foi-nos tirado, por nossas culpas e nossas faltas. Vai ser julgado, condenado e crucificado por meus crimes.

A cerimônia da Paixão é sóbria como convém a um dia como esse. O sacerdote entra em silêncio e prostra-se no chão: singelo gesto para expressar o luto de toda a Igreja porque o Senhor está morto. E Ele está morto porque foi assassinado, e fomos nós que O assassinamos: prostrar-se com o rosto por terra é também sinal de vergonha. De angústia diante da enormidade da nossa malícia, tão grande que foi capaz de matar a Deus.

O Senhor está morto! E nós, agora, não temos a onde ir. Porque nós estragamos até mesmo a maior das Graças que poderíamos receber dos Céus. Nós crucificamos o Filho de Deus, que viera ao mundo para nós. E, durante o tradicional canto da cerimônia de adoração da Cruz, o Altíssimo nos interpela, queixando-Se e perguntando o que foi que nos fez para que O matássemos. Perguntando o que mais poderia ter feito por nós para que o amássemos. Lançando-nos à face a nossa ingratidão: só na Cruz nós exaltamos Aquele que tanto nos exaltou. Infelizes de nós! Porque retribuímos com a máxima ingratidão a Quem tanto nos amou.

E é essa a Sexta-Feira da Paixão: a festa do amor desprezado, o clímax da nossa ingratidão. A memória do dia mais triste da história da humanidade: quando os homens mataram Deus. O Amor escarrado e humilhado, escarnecido e Crucificado, elevado no Madeiro e, ainda assim, amando…! O beijo que nós damos na cruz na celebração de hoje tem outro sentido, mas é impossível não lembrar de Judas traindo com um beijo o Filho do Homem. Também eu estou naquele beijo, também é minha aquela traição. É esta a hora das trevas e (como lembrava o sacerdote na homilia de hoje) não somos meros espectadores no drama da Sexta-Feira Santa. Somos todos protagonistas na Crucificação de Cristo. São meus pecados que Lhe rasgam a Carne, que Lhe vertem o Sangue, que O pregam na Cruz.

E, na Cruz, humilhado e obediente até a morte, Nosso Senhor entrega o espírito. E está consumado, nós O condenamos, nós O crucificamos, nós O matamos. Não há espaço para Ele em nosso mundo! E as palavras arrependidas do centurião são também nossas, porque refletem também a nossa dor e o nosso desespero quando, mãos cheias de sangue, tomamos consciência do grande crime que acabamos de cometer: Ele era verdadeiramente o Filho de Deus… e O matamos! Infelizes de nós!

Reforma da reforma em Frederico Westphalen, RS: Sexta-feira Santa com respeito às rubricas e sobriedade

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Solene Ação Litúrgica (Missa dos Pré-santificados) celebrada pelo Bispo, D. Antonio Carlos Rossi Keller.

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