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Homilia da Santa Missa de Posse de Dom Fernando José Monteiro Guimarães, como Arcebispo Militar do Brasil


Exmo. e Revmo. Dom Giovanni D’Aniello, Núncio Apostólico no Brasil, 

Permitam-me deixar de lado o protocolo e chama-los todos de: meus irmãos e minhas irmãs, 

Com um ato de fé, assumo hoje o cargo de Arcebispo do Ordinariado Militar do Brasil, em obediência ao Papa Francisco. Faço-o na festa de Nossa Senhora do Rosário, instituída pelo Papa São Pio V em ação de graças pela vitória obtida na batalha naval de Lepanto, em 7 de outubro de 1571. Seu comandante militar, Carlos de Áustria, ao receber a bandeira da expedição, ouviu que esta era o “sinal vivo da santa fé, da qual és o defensor nesta empresa”. Naquela ocasião, o valor militar e a fé, unidos em plena sintonia, conseguiram reafirmar e defender as raízes cristãs do mundo ocidental. 

Excelente ocasião para o início do ministério do novo Arcebispo Militar! 

1. As leituras da Palavra de Deus, que acabaram de ecoar nesta Catedral Militar de Nossa Senhora Rainha da Paz, apresentam-nos a figura e o papel da Virgem Maria na Igreja. 

No livro dos Atos dos Apóstolos, a primitiva comunidade reúne-se com Maria, na oração comum, à espera do Espírito Santo. Os Apóstolos de Jesus, desorientados pela paixão e morte do seu Mestre e ainda atônitos com a surpresa da Ressurreição, encontram nela o ponto de apoio, para perseverarem na oração e, assim, serem revestidos da força do Alto (cf. At 1, 12-14). 

No Evangelho de Lucas, ao convite do Arcanjo Gabriel que revela o desígnio de Deus a respeito de Maria e a solicita na fé, ela responde com o seu “Fiat” – faça-se em mim segundo a tua palavra (cf. Lc 1, 26-38). Um estudo atento do original grego deste Evangelho mostra-nos que este “sim” de Maria, embora primeiro na ordem do tempo cronológico, é subordinado a outro “sim”, posterior no tempo, mas fonte de todos os “sim” na ordem da graça: o de Jesus, no Horto das Oliveiras: “Pai, se possível, afasta de mim este cálice, mas não se faça a minha e sim a tua vontade” (Lc. 22,42). 

Em ambos os episódios, a Virgem Maria encaminha a Igreja rumo a Jesus, nosso único Redentor e Mediador. A ela quero confiar também o meu ministério, que hoje se inicia. 

2. Aos Padres do Ordinariado Militar do Brasil, desejo expressar a minha estima. Primeiros colaboradores dos Bispos na obra de evangelização, como ensina o Concílio Vaticano II (cf. Concílio Vaticano II, Decreto Lumen Gentium, n. 28). Considero-os como irmãos e filhos muito queridos, que Deus, a partir do dia de hoje, coloca em minha vida de Bispo, ao mesmo tempo em que me insere, como Pastor, na vida de cada um dos senhores. É por vontade de Cristo que caminharemos juntos, de agora em diante! 

Quero dizer-lhes, em primeiro lugar, uma palavra de apreço. Consideradas as exigências da missão do Capelão Militar, a extensão continental de nosso Ordinariado e a complexidade dos desafios atuais, quão árdua é a tarefa dos senhores! Aprecio a dedicação e o empenho com que os Capelães Militares, a exemplo de seu Patrono, Frei Orlando, se esforçam por viver o seu sacerdócio junto à família militar brasileira. Conheci, ao longo de minha vida de seminarista e de padre, alguns Capelães excepcionais, como figuras humanas e como sacerdotes. Desejo unir-me aos senhores para, juntos, gastarmos nossas vidas para que nossos irmãos e irmãs militares tenham vida e vida em abundância (cf. 2Cor 2,15; Jo 10,10). 

Em segundo lugar, caros Padres, uma palavra de estímulo. Como Capelães Militares, somos chamados a viver, como em simbiose, os mais autênticos valores da vida militar e as mais radicais exigências da vida sacerdotal. Somos chamados à santidade de vida, para podermos ajudar a todos no caminho da santidade. Como seu Arcebispo, desejo empenhar todos os meus esforços para ajuda-los a prosseguir comigo pelas vias da santificação sacerdotal: sacerdotes generosos, desprendidos, dedicados ao ministério, castos por um amor que se torna doação a todos, homens de oração e guias seguros do povo de Deus no mundo militar. 

Como sugeriu dias atrás o Papa Francisco, dirigindo-se aos Bispos recém-ordenados, em um encontro no Vaticano, peço a Deus que me dê “a firmeza da autoridade que faz crescer, juntamente com a doçura da paternidade que gera vida” (Alocução aos Bispos novos, 18 de setembro de 2014). 

3. Aos Diáconos Permanentes do Ordinariado Militar do Brasil desejo dirigir também uma palavra de apreço. Participei, já como Arcebispo eleito, da recente ordenação diaconal de vários militares, aqui, nesta Catedral Militar. Com viva satisfação, notei a biografia dos ordenandos: todos provenientes do meio militar, profissionais respeitados e bons pais de família. Estou convencido de que as melhores vocações, e não só para o Diaconato Permanente, deverão brotar do próprio ambiente militar, da caminhada de fé realizada por nossas comunidades, do testemunho autêntico de nossos Capelães, o militar evangelizando seus irmãos militares. 

Apoio, com convicção, o programa de formação diaconal criado pelos Arcebispos que me precederam e desejo dar a minha contribuição para que ele se fortaleça cada vez, através das duas Escolas Diaconais do Rio de Janeiro e de Brasília. 

4. Queridos Seminaristas do Ordinariado Militar. A vocação sacerdotal é bela, mas é também muito exigente. Exige tudo de nós, exige o amadurecimento de nossa personalidade, a entrega total de nosso coração e a doação incondicional de nossa inteira existência. Por isso mesmo, ao criar o modelo de Seminário que, em suas linhas fundamentais, perdura até hoje, o Concílio de Trento recomendava aos Bispos que os acompanhassem pessoalmente como a pupila de seus olhos (cf. Conc. Ecum. Tridentino, sessão 23, decreto “Cum adolescentium Aetas,” de 15 de julho de 1563). O Concílio Vaticano II, em uma evolução harmônica e, ao mesmo tempo, em continuidade com a obra reformadora de Trento, fortaleceu ainda mais a responsabilidade pessoal do Bispo no acompanhamento vocacional e na formação dos seminaristas (cf. Conc. Ecum. Vaticano II, decreto “Optatam totius”, 28 de outubro de 1965). 

A autêntica renovação da Igreja passa pelo seminário. A necessidade que a Igreja sente, hoje mais do que nunca, de padres santos e amadurecidos, exige que o seminário esteja no centro das atenções do Bispo. Pretendo assumir esta minha responsabilidade, consciente de que devo responder diante de Deus pelas ordenações que conferir. Também aqui firmeza de autoridade e doçura de paternidade devem andar juntas. 

Contem comigo para ajuda-los a discernir a autêntica vontade de Deus a respeito de cada um. Aos responsáveis pela pastoral vocacional e aos formadores de nossos seminaristas, a certeza de que encontrarão no Arcebispo o primeiro responsável e o primeiro formador (cf. Conc. Ecum. Vaticano II, decreto “Optatam totius”, n.2). 

5. Queridos irmãos e filhos da Família Militar brasileira. Permitam-me uma confidência. Meu pai, um sertanejo de Pernambuco, serviu no Exército e conservou, por toda a vida, a admiração pela vida militar, educando seus dois filhos naquele espírito que ele aprendeu no quartel. Seu sonho era que o filho mais velho seguisse a carreira militar e foi um duro golpe quando este filho optou pela vida sacerdotal. Custou para o pai aceitar esta decisão e só ao final de sua vida ele conseguiu aceita-la plenamente. Já o filho mais novo, inspirado no exemplo do pai, cursou o Colégio Militar do Recife e, a seguir, entrou para a Polícia Militar do Estado de Pernambuco, abraçando com dedicação a sua vocação militar e chegou, inclusive, a ser Comandante Geral daquela Corporação. Hoje, Coronel da Reserva, deveria estar aqui presente, com os demais membros de minha família, mas problemas de saúde em nossa família impediram, na última hora, a projetada viagem. Permitam-me, porém, que na pessoa do meu irmão, Coronel PM Gustavo Guimarães, eu cumprimente cordialmente a todos os senhores e as senhoras, que constituem, a partir de hoje, a minha família, a família militar do Brasil, da qual passo a ser o Arcebispo. 

Quero saudar também, de modo especial, os militares pertencentes a outras denominações religiosas. Integrando o SAR, quero estar lealmente aberto a todos, no respeito de nossas identidades religiosas especificas, em um espírito de fraternidade sincera. 

Às Autoridades militares o meu respeitoso e cordial cumprimento, ao mesmo tempo em que ofereço a minha sincera colaboração. 

6. Não poderia deixar de registrar ainda duas saudações muito especiais. A primeira, à querida Diocese de Garanhuns, onde vivi os seis anos iniciais de meu episcopado. Agradeço a presença de tantos padres que de lá vieram, representando o povo bom e fiel daquela porção da Igreja de Cristo. Continuem rezando por mim, para que o Senhor me dê a graça de servi-lo, agora neste Ordinariado Militar, com o mesmo entusiasmo, encontrando nesta nova função as mesmas alegrias que pude saborear em Garanhuns. 

Enfim, uma saudação muito especial ao querido Dom Osvino José Both, meu antecessor como Arcebispo Militar. Nestes muitos anos de ministério episcopal no Ordinariado, conquistou o respeito e a amizade de todos. Sou-lhe muito grato por ter aceito o meu convite de continuar ajudando-me, nas medidas de suas possibilidades, assumindo as funções de Vigário Geral do Ordinariado, juntamente com o nosso Bispo Auxiliar, Dom José Francisco Falcão. A ambos a minha gratidão e a certeza de uma colaboração fraterna. 

7. Desejo concluir esta reflexão retornando à contemplação da Virgem Maria, cuja festa celebramos. Diante da imensidão e do desconhecido da vocação que o Anjo lhe acenava, Maria ficou perturbada e pôs-se a pensar (cf. Lc 1, 29). É também a atitude do ser humano, sempre que uma nova função, uma nova responsabilidade e uma nova orientação se impõem à sua vida. O que será? Como será? Serei capaz? 

O Anjo responde à perturbação de Maria: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus” (Lc 1, 30). É sem medo, destemida e corajosa, que ela pronuncia o seu “Sim” e o vive por toda a vida. 

Confiado na Virgem Maria, na oração e na colaboração de todos, quero superar qualquer temor e, confiante e corajoso, repetir o meu “Sim”. Porque nos pequenos e simples, Deus pode realizar grandes coisas. 

Maria, Rainha do santo Rosário, Rainha da Paz, rogai por todos nós, agora e sempre. Amém! 

Brasília, Catedral de Nossa Senhora dos Militares, Rainha da Paz, 7 de outubro de 2014.


+ Fernando José Monteiro Guimarães, C.Ss.R.
Arcebispo Militar do Brasil



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