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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Sacerdote bracarense a caminho dos altares

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"Padre Abílio Gomes Correia, sacerdote de Braga, pastor da Eucaristia"Com o intuito de obter mais devotos a este novo beato, publicamos uma entrevista, na qual é revelada uma profunda devoção à Santíssima Eucaristia, mormente, a celebração do Santo Sacrifício da Missa; demonstrou também grande zelo pelas coisas do Senhor durante toda a sua vida. Peçamos a sua intercessão, para que, por ela, muitos outros sacerdotes também se percebam chamados à sua vocação inicial: à vida de santidade pois, um sacerdote santo, santifica, por consequência, o povo que foi confiado!
 
Por Álvaro Magalhães
Adaptações de frei Cleiton Robson, OFMConv.
 
O Padre Abílio Gomes Correia nas bodas de ouro paroquiais em 8 de Julho de 1957


Passados treze anos da introdução da causa de canonização do padre Abílio Gomes Correia, antigo pároco de S. Mamede d’Este, arciprestado de Braga, o Diário do Minho foi falar com o atual pároco e saber se há muitos devotos daquele sacerdote, cujas graças obtidas resultem na sua beatificação e canonização. Foi o atual Arcebispo Emérito de Braga, D. Eurico Dias Nogueira, que assinou em 24 de Setembro de 1997 o decreto que introduziu a causa de canonização. O atual pároco de S. Mamede d’Este, o cônego Antônio da Costa Neiva, revela entusiasmo quando fala do seu antecessor naquela comunidade e não esconde a alegria de ter assumido aquela paróquia revestida do amor à Eucaristia, uma herança deixada pelo padre Abílio que tenta cuidar.

Diário do Minho (DM) - Quem foi o Padre Abílio?
Cônego Antônio Neiva (CAN) - Foi um simples padre de aldeia que, em 1907, chegou a S. Mamede d’Este vindo de Padim da Graça, onde era coadjutor do seu pároco, pois era natural de lá. Quando chegou aqui ficou espantado com o estado em que se encontrava a paróquia.

DM - Não conhecia a paróquia?
CAN - Nunca tinha vindo aqui. Encontrou a residência paroquial totalmente abandonada, a igreja no mesmo estado, com telhas partidas, janelas sem vidros, teias de aranha no interior do sacrário...

DM - Teve ajuda de alguém?
CAN - Veio sozinho e depois instalou-se na residência, primeiro com a mãe, depois com uma irmã de leite – uma moça que a mãe criou juntamente com ele, pois os pais dessa menina tinham morrido quando ainda era bebê. Essa irmã acompanhou o padre Abílio durante toda a vida aqui em S. Mamede e continuou a viver depois da sua morte. Quando chegou aqui ficou num isolamento muito grande e arranjou uma companhia: o Santíssimo Sacramento.

DM - Foi a paixão da sua vida...
CAN - Apaixonou-se pelo Santíssimo Sacramento, pôs-se em contato com os Padres Sacramentinos que trabalhavam em Roma, na igreja dos Doze Apóstolos, e fundou aqui, em 12 de Março de 1910, a Agregação da Adoração ao Santíssimo Sacramento. Os Padres Sacramentinos têm como missão adorar o Santíssimo Sacramento. Passado algum tempo fundou os Pajens da Eucaristia. As crianças não tinham qualquer formação especial e foi então
que ele formou os Pajens, corria o ano de 1914. Em 1915, porque havia uma adesão muito grande, não apenas aqui na paróquia mas também no arciprestado, ele pensou e começou a editar uma revista que publicou até ficar cego.

DM - Publicou sempre a revista?
CAN - Durante os anos da sua vida o padre Abílio publicou mensalmente a única revista eucarística que existiu em Portugal, intitulada “Mensageiro Eucarístico”. Como em S. Mamede d’Este não havia eletricidade, telefone, nem estradas, nem comunicações, ele era o diretor, redator, administrador e também o correio da revista. Ia pela estrada feita pelos romanos – a Via XVII – a Braga tratar das coisas da revista e logo a seguir à publicação da revista as  asinaturas começaram a multiplicar-se e foi chamado para a Inspeção Militar, e nessa altura Portugal participava na Guerra de 1914-1918. Foi apurado para a tropa e, ele que era um homem destemido, ficou cheio de medo. Pediu na revista para que rezassem para que não fosse chamado para a guerra porque não dispararia para matar gente. A batalha dele era espalhar o bem e a paz e não matar ninguém.

DM - As orações resultaram?
CAN - Por acaso não foi chamado para a guerra e publicou sempre a revista. O Arcebispo de Braga de então, D. Manuel Vieira de Matos, que teve uma experiência muito dura na I República – aliás como o próprio padre Abílio, que teve de fugir para Rio Caldo, no Gerês, em 1911, porque tinha lido na igreja a pastoral dos bispos que a Carbonária queria impedir de ser divulgada –, escolheu o padre Abílio para seu conselheiro pessoal. Em 1922, D. Manuel Vieira de Matos, o padre Abílio Gomes Correia e mais alguns sacerdotes, partiram para Roma
para participarem num congresso eucarístico internacional.

DM - Foi, com certeza, uma longa viagem?
CAN - Fizeram a viagem de barco, pois a Europa estava totalmente destruída da 1ª Guerra Mundial. Quando regressaram, vinham todos entusiasmados e o padre Abílio fascinado, com aquilo que viram e ouviram em Roma. Foi de fato um congresso assombroso. Como a viagem era longa tiveram muito tempo para falar e o padre Abílio questionou o arcebispo se Braga, como a “Roma portuguesa”, iria ficar calada perante os resultados do congresso eucarístico.

DM - Como respondeu D. Manuel?
CAN - O arcebispo disse que faria um encontro similar se tivesse meios para o organizar. Chamou a atenção do padre Abílio para a situação em que se encontrava Portugal. Só que o padre Abílio, corajoso como sempre, garantiu ao arcebispo que se as condicionantes eram apenas de ordem financeira, ele mesmo trataria de assumir a responsabilidade da organização. Resposta imediata do arcebispo: "Faz-se já no ano que vem! Se te encarregas disso, fazemos já". E foi o que fez mesmo.

DM - Como correu?
CAN - Em 1923, fez-se em Braga o I Congresso Eucarístico Diocesano. Foi tal o sucesso que o padre Abílio, como o ecônomo e responsável pela organização, quando foi apresentar contas o arcebispo apresentou-lhe um saldo positivo de 12 mil escudos, à data, uma pequena fortuna.

DM - Era dinheiro bem-vindo à diocese...
CAN - Nessa altura, D. Manuel Vieira de Matos estava a braços com muitas dívidas da diocese e estava construindo o Seminário Conciliar, atual edifício da Faculdade de Teologia Disse: "Graças a Deus que temos aqui um pé-de-meia para pôr as finanças da  diocese em dia e concluir a construção do Seminário". O padre Abílio, bastante atrevido, replicou: "Desculpe senhor arcebispo mas não estou de acordo! Estes 12 contos são fruto de migalhas que as pessoas pobres não comeram para se adorar o Santíssimo Sacramento. Agora o senhor arcebispo quer gastar estas migalhas em obras materiais e eu não concordo, porque não foi a si que foi oferecido o dinheiro mas para louvar o Santíssimo Sacramento"!

DM - Conhece-se a reação do arcebispo?
CAN - Sim. D. Manuel Vieira de Matos ficou um pouco aborrecido por ser contrariado – ninguém gosta de ser – e perguntou ao padre Abílio se estaria cego e não conseguia ver as necessidades que a diocese passava . "Estás cego! Estás fascinado com o Santíssimo Sacramento e só vês o Santíssimo Sacramento! O que é que se há-de fazer ao dinheiro?", perguntou. O padre Abílio respondeu: "Fazer no próximo ano um Congresso Eucarístico Nacional aqui em Braga". E D. Manuel disse-lhe então para avançar. Foi então organizado o congresso de 1924.

DM - Foi um acontecimento notável?
CAN - Entre os oradores do congresso, que se realizou no Theatro Circo, destacaram-se dois. Um chamava-se Antônio de Oliveira Salazar, que falou da questão social do país e foi rotulado de comunista. Outro chamava-se D. Manuel Gonçalves Cerejeira, um jovem com pouco mais de 30 anos, professor catedrático em Coimbra, e falou sobre os místicos do século XVI. Falou ou tentou falar porque depois das primeiras frases, era de tal forma o fascínio que a sua oratória provocava na assistência, que não deixava de ser constantemente aplaudido.

DM - Ficou tudo registado?
CAN - Temos a sorte das atas desse congresso terem sido publicadas, de forma que temos os textos proferidos. Quando começamos a ler a comunicação do então professor Manuel Gonçalves Cerejeira começamos a ler com os olhos, passamos a mexer com os lábios e não resistimos a ler em alta voz para nos maravilharmos com a melodia da composição literária do texto. Esse congresso terminou no Sameiro e os jornais do tempo dizem que juntou 380 mil pessoas. Isto foi sem dúvida um feito nacional já que, em 1924, para se chegar a Braga só pela via férrea, por carroças puxadas a cavalo e pouco mais. 

DM - Um acontecimento dessa envergadura teve repercussões imediatas?
CAN - Isto acordou o país e, ao mesmo tempo, fez tremer as ideologias políticas de então. Nessa altura o país estava politicamente à deriva. Durante dez anos os congressos eucarísticos
marcaram a vida do país. Em 1925 realizou-se em Guimarães o segundo congresso eucarístico diocesano mas alguns classificaram-no de nacional já que teve a presença de todo o episcopado. Nele apresentou-se a proposta de construção do templo dedicado ao Coração de Jesus. E o santuário da Penha nasceu fruto dessa promessa.

DM - Mas os congressos esmoreceram...
CAN - A época dos congressos foi absorvida pela Acção Católica em 1933. A revista manteve-se e durante a 2ª Guerra Mundial o padre Abílio continuou a publicá-la. Entre 1931 de 1938, o arcebispo D. Manuel Vieira de Matos pediu ao padre Abílio para que deixasse S. Mamede d’Este e fosse reorganizar o Hospital de São Marcos que estava ainda na mão de republicanos e com os bens completamente delapidados e, pior que isso, eram os padres que não se entendiam por causa dos batizados e funerais lá do hospital. O padre Abílio obedeceu. No ano de 1938, o padre Abílio tinha tudo organizado no hospital e foi visitar o então novo arcebispo e seu condiscípulo D. Bento Martins Júnior. Disse-lhe que a missão que lhe tinham confiado estava cumprida pelo que estava à disposição para assumir outras responsabilidades. O arcebispo disse que tinha cinco paróquias “muito boas” a precisar de um pároco e que eram próximas da sua terra natal: Padim da Graça. O padre Abílio recusou a oferta e disse que pretendia reassumir S. Mamede d’Este.

DM - Qual foi a reação do arcebispo?
CAN - D. Bento Martins Júnior terá dito ao seu amigo que estaria “tolo” por querer ir para uma paróquia pobre em vez de preferir terras mais ricas. Mas o padre Abílio argumentou: "É que eu lá posso rezar e tenho quem me acompanhe e aqui na cidade fiz todo o possível e não consegui nem rezar nem fazer que me acompanhassem". E lá regressou a S. Mamede d’Este restaurando a residência e promovendo outras obras. De 1941 a 1945, coincidindo com a 2ª Guerra Mundial, conseguiu restaurar a igreja.

DM - Como conseguiu?
CAN - Há correspondência do padre Abílio trocada com o Governo de então. Foram-lhe feitas
muitas promessas mas não havia dinheiro. E havia sempre alguma coisa que impedia de iniciar as obras. Escreveu então uma carta a um ministro agradecendo a amabilidade dispensada e alertando para o fato de a igreja precisar de uma intervenção urgente sob pena de cair em ruína. Por isso informou que ele e a sua gente iria fazer as obras como pudessem. Impressionado com a carta, o ministro comunicou ao Governador Civil que enviou à paróquia um arquiteto para que ajudasse na execução dos trabalhos trabalhos. E a igreja aguentou-se até 1996, altura em que assumi os destinos desta paróquia que me apercebi da necessidade de se fazer novo restauro.

DM - E o monumento no Chamor?
CAN - O padre Abílio foi o responsável pela construção desse monumento ao Coração de Jesus. O monte Chamor é um pequeno morro que está incrustado na Serra do Carvalho. Dali vê-se toda a paróquia e quase todas as casas conseguem avistar o monte. Primeiro o padre Abílio colocou uma pequena coluna e depois, em 1954, quando apearam um monumento que havia no Sameiro, que foi lá colocado em 1904, comprou-o. Com carros de bois conseguiu-se trazer até ao Chamor as pedras que foram reedificadas. Nessa altura mandou fazer um arranjo ao Coração de Jesus e deu-lhe o nome de Coração Eucarístico de Jesus, invocação muito rara numa imagem. Assim foi criado um ex-líbris da paróquia.

DM - A paróquia rendeu-se ao seu pastor?
CAN - Os paroquianos que em 1907 receberam o padre Abílio com indiferença, em 1957 fizeram-lhe uma homenagem muito grande, com a presença do Governador Civil, do presidente da Câmara e do vigário Geral da diocese. A partir desta altura a saúde do padre Abílio foi-se debilitando até que faleceu em 1967, com 85 anos. Na despedida as pessoas trouxeram tantas flores para o funeral que o seu caixão ficou assente num colchão de flores. Ainda hoje não faltam flores no túmulo do padre Abílio.


DM - Quando é que o processo de canonização foi apresentado ao Vaticano?
CAN - Foi em 2002, depois de julgado pelo Tribunal Eclesiástico de Braga e da aprovação por unanimidade da Conferência Episcopal Portuguesa. Agora está na Causa dos Santos, seguindo o curso normal destes processos, sempre demorados e guardados em segredo. Aguardamos que Deus faça um milagre que se possa provar perante a ciência dos homens para que se coloque o Padre Abílio Gomes Correia nos altares.

DM - Muita gente já está pedindo a intercessão do padre Abílio?
CAN - Têm surgido relatos da obtenção de graças muito grandes. É curioso que as pessoas quando pedem a Deus uma graça por intermédio do padre Abílio têm conseguido que os pedidos sejam despachados com rapidez. Quando me perguntam onde é que estará o padre Abílio no céu, respondo em tom de brincadeira que só poderá estar nos correios centrais, encarregado das encomendas pesadas.

DM - O senhor acredita que a beatificação possa estar próxima?
CAN - Creio que sim. Estou convencido que, de um momento para o outro, Deus fará um milagre que o elevará aos altares. Braga merece ter mais um santo do século XX. Estamos comemorando o centenário da República e eu estou convencido que a mudança no país ocorrida em 1926, partiu de Braga e teve a raiz em S. Mamede d’Este, pela mão do padre Abílio.

DM - A vida do padre Abílio também se cruzou com a Beata Alexandrina de Balasar?
CAN - Ali por 1918, Alexandrina Maria da Costa inscreveu-se no Centro da Adoração ao Santíssimo Sacramento aqui em S. Mamede d’Este. O seu nome figura juntamente com o de outras pessoas de Balasar nos livros dos agregados da Adoração ao Santíssimo Sacramento. Muito provavelmente a Beata Alexandrina conhecia o “Mensageiro Eucarístico” pois era o grande canal da Eucaristia em Portugal.

DM - A paróquia continua devota do padre Abílio?
CAN - O senhor padre Abílio é ainda hoje considerado o pároco de S. Mamede, e isto sem ciúmes da minha parte. Eu acabo por ser apenas seu coadjutor. Há ainda muitas pessoas de toda a parte que olham para o padre Abílio como modelo que colocou no centro da sua vida a Santíssima Eucaristia e concluem: Com Deus, tudo é fácil; sem Deus, quase tudo é impossível!

domingo, 8 de agosto de 2010

Entrevista com o Pe. Darvan da Rosa, da Diocese de Pelotas, RS

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Apresentamos, com alegria, uma entrevista que fizemos com o Pe. Darvan Hernandez da Rosa, pároco de Nossa Senhora da Conceição, em Piratini, RS, Diocese de Pelotas. O Pe. Darvan é amigo de alguns membros do Salvem a Liturgia, e celebrou, em latim, na forma ordinária, o Batismo de Maria Antônia Taddei Brodbeck, minha filha com a Aline, também de nossa equipe.

O Pe. Darvan, em sua paróquia...

Agradecemos ao senhor pela disponibilidade em atender ao nosso convite. O senhor é um leitor do Salvem a Liturgia? O que mais gosta em nosso blog?
Sim. Gosto sobretudo do zelo pela liturgia de jovens, na maioria leigos. Perceber como estudam, como se esforçam para que a Liturgia seja bem celebrada. O conteúdo também é muito bom. Quanto à entrevista é um grande prazer.

O senhor considera que esse tipo de apostolado virtual tem repercussão real entre os católicos do Brasil?
Sem dúvida. Já tem me ajudado muito. Tenho aprendido e também tenho sido contagiado pelo desejo de melhorar a Liturgia em minha Paróquia. Surpreendo-me quando chego em algum lugar e vejo um jovem que tem carinho pela Liturgia. Indico-lhe o "Salvemaliturgia" e ele me responde: já o conheço - com ar de estima. Ele chega em mais pessoas do que imaginamos. Penso que a repercussão maior vem da ação do Espírito Santo. Estou convencido que Ele está levando os cristãos a quererem Liturgias bem feitas e fiéis ao Espírito da Igreja, sem abusos, com toda a riqueza multissecular. Neste sentido o "Salvemaliturgia" tem sido um grande instrumento de Deus.

E entre os padres e Bispos?
É o Espírito Santo que renova constatemente a Igreja de Cristo. Vendo tantos católicos verdadeiros - fiéis, coerentes, perseverantes, com espírito de comunhão - no "Salvemaliturgia", percebo que com o tempo este espírito repercutirá também em outros, inclusive nos Pastores. A verdade e o bem se espalham com a graça de Deus, quando a testemunhamos, mais do que esperamos. A internet faz com que aquilo que parecia impossível, ou seja, que quem se preocupa com aprimorar e tornar a Liturgia fiel às normas emanadas pela Autoridade competente da Igreja, pudessem ter proximidade para se ajudarem nos diversos lugares do Brasil. Isto faz o Salvem. Sei que nossos irmão leigos poderão ajudar muito a nós sacerdotes, se forem humildes, leais e amigos. Não existe má vontade na grande maioria de nós padres em celebrar corretamente a Santa Missa.

Como atingir mais pessoas, despertando-as para um maior amor à liturgia bem celebrada, de acordo com as normas, respeitando a tradição do rito romano? Há alguma receita?
Fazendo a experiência de celebrar bem, sem improvisar nem inventar. Colocando todo nosso coração no que estamos celebrando. Quando celebramos bem com todo o coração a Liturgia atrai as pessoas paro o que devia atrair: Deus ali presente. Não é o carisma humano e particular da pessoa do celebrante que deve atrair as pessoas para a Liturgia, mas o Deus inefável ali presente em Seu Mistério sagrado. Repito, não é o carisma humano. Com isto a edificação espiritual dos crentes é sólida. As pessoas começam a gostar cada vez mais, e lhes dói a improvisação, o chamar atenção, a inclusão de palavras pessoais em desacordo com o estabelecido. Isto é mecher em algo que não pode ficar a mercê da improvisação, pois é algo infinitamente grande. Por perceber que é tão sagrado os fiéis respeitam, buscam com avidez e profundidade. Isto repercute na vida. Não se pode querer outra coisa maior. Esta é a melhor maneira de despertar as pessoas para um amor profundo pela Liturgia, além, é claro, da oração.


De quem o senhor recebeu esse gosto pela liturgia? Há alguma inspiração maior?
Penso que de Deus mesmo. Na minha caminhada cristã senti que Cristo me pedia com força para ajudar os irmãos neste sentido: Celebrar de maneira fiel, correta, sem rubricismo e mera exteriorizaçao. Sempre que via uma Liturgia celebrada com decoro, sacralidade, fidelidade, sobriedade... Deus me fazia ver que Ele espera isto para toda a Igreja. Podia ser uma percepção arbitrária, subjetiva, coisa da minha cabeça, mas Ele me confirmava isto vendo as manifestações do Magistério eclesiástico. Confirmou-me também os frutos que observo.

Que papel os padres do Opus Dei e a espiritualidade de São Josemaria Escrivá possuem nesse tema da liturgia em relação ao sacerdócio?
Sem dúvida que confirmaram esta moção interior. São Josemaria tinha um amor indizível pela Santa Missa. E sua Missa era sóbria, bela, profunda, sacra. E a repercussão na salvação e santificação do mundo foi impressionante. Esta atitude do Santo - refletida nos seus filhos espirituais - me ajudou a perceber o que é a Missa mesmo, mais do que com palavras (aliás, como deve ocorrer conosco: como dizer que a Missa é tão importante, sagrada e decisiva para o mundo, se abusamos com inovações, estilos próprios, improvisações, tirando o foco do essencial?).

Como cultivar uma espiritualidade litúrgica?
Colocando todo nosso coração no Rito sagrado, em cada gesto, palavra, símbolo. Ter vida profunda de oração diante do Sacrário, tendo como base a Palavra de Deus. Estudando os textos do Magistério sobre liturgia e os bons autores. Procurando ser coerente com o que celebramos, ou seja, ser santo.

A reza diária do breviário tem ainda seu lugar na oração do padre moderno?
Claro. É a Palavra de Deus. Quase todo o breviário é extraído da Bíblia. É o trabalho fundamental do sacerdote: rezar pelo Povo e no lugar do Povo. É impressionante como a perseverança na oração do Breviário dá frutos na vida pessoal e no ministério do presbítero, e também da Igreja e do Povo a ele confiado.

O senhor usa batina, anda sempre de clergyman, veste a casula, celebra a Missa com rigor na liturgia, prega homilias ortodoxas, gosta de latim. Não tem receio da incompreensão de alguns leigos e mesmo colegas padres?
Não. Fazer tudo com amor e espírito de unidade com a Igreja é um grande bem. Mesmo que não se entenda bem no momento. Tudo isto que o senhor falou na pergunta é a Igreja que orienta que deve ser feito, não é iniciativa pessoal minha.

Sabemos que o senhor é um apóstolo da confissão. Ao chegar em Piratini, tomou como uma das primeiras medidas atender as pessoas no confessionário. O que pode nos dizer dessa experiência? Quais os frutos para a vida espiritual dos paroquianos? Que conselhos daria aos párocos nesse tema?
Teria mais que aprender do que falar. Digo no entanto: rezar pelos paroquianos, falar da confissão, estar a disposição. O uso do confessionário é muito positivo. Ajuda o fiel perceber que está se encontrando com Cristo, dá mais liberdade aos que estão pouco acostumado com esta experiência. A profundidade da vida cristã passa por este sacramento.

O senhor, há pouco, teve a feliz idéia de, na Semana Santa fazer celebrar a Missa em latim e versus Deum, no rito novo mesmo, pós-conciliar. Ao mesmo tempo em que o parabenizamos pela decisão, aproveitamos para pedir que o senhor nos descreva a celebração e como a preparou.
Foi sobretudo pelos 200 anos da Paróquia. A maioria das Missas na história da Paróquia foram celebradas em latim e no altar antigo. Influenciado por Bento XVI e João Paulo II rezei muito e percebi que é importante manter nos fiéis a percepção de continuidade e não de ruptura com a Igreja de todos os tempos. Fizemos em latim as orações próprias, o Kyrie (cantado), o Sanctus (cantado), a Oração Eucarística, o Pater Noster e o Agnus Dei (cantado). As mudanças têm que serem feitas com prudência, formação, gradualidade, tendo por objetivo o crescimento espiritual dos fiéis, na comunhão da Igreja, sem espaço para os meros gostos pessoais do sacerdote, que é o que menos conta.

Qual a reação dos fiéis após essa Missa? Sofreu muita perseguição, comentários maldosos ou incompreensões?
A reação foi muito boa. Tratou-se de uma experiência muito positiva para mim e para os fiéis. Claro que é necessário uma boa explicação e Catequese. Surpreendi-me com a alegria e aprovação sobretudo dos jovens. Houve uma pessoa que com toda lealdade e franqueza veio me perguntar o porquê. Foi muito bom também, neste clima de diálogo e crescimento, ajudarmo-nos a melhor entender a Liturgia e o "sentir com a Igreja".



Quais passos o senhor pretende dar a partir de agora? Há chance de ter um coro gregoriano, um grupo estável de coroinhas, Missas periódicas em latim?
Os passos são continuar rezando, pedindo inspiração de Deus, sem deixar de estar em sintonia com meu Bispo e Diocese. Temos verdadeira dificuldade de cantos, de coroinhas, mas sei que Deus provê Sua amada Igreja. Tudo é para o crescimento espiritual dos fiéis, para que sejam cristãos adultos na fé, capazes de transformar o mundo pela santidade de suas vidas e de sua ligação vital com Cristo e Sua Igreja.

E quanto à Missa na forma extraordinária, o senhor pretende aprendê-la?
Gostaria muito.

O que pensa a respeito da "reforma da reforma" levada a cabo pelo Papa? Essa revalorização de aspectos tradicionais, de Missas versus Deum, de mais latim e gregoriano, a tomada de posição pelo arranjo beneditino, a liberação da Missa tridentina... O que tem isso a ver com a Nova Evangelização, tão pedida pela Igreja?
Para a Nova Evangelização precisamos de cristãos fortes e maduros, prontos a testemunharem Cristo na sociedade que se paganiza. Isto só é possível com a centralidade da Eucaristia e da Palavra de Deus em suas vidas. E como conseguir eficazmente esta centralidade senão com Liturgias celebradas com profundidade, com sacralidade, com fidelidade, exalando o mistério divino que se aproxima de nós? O Papa Bento XVI tem dedicado grande parte de seu Magistério neste sentido, porque o Espírito Santo está conduzindo com força a Igreja nesta direção.

E os jovens? Como explicar que alguns não queiram Missas mais sóbrias alegando que eles não irão mais à igreja, mas que, ao contrário dessas previsões, sejam eles na linha-de-frente pela Missa tridentina, pela Missa nova bem celebrada, pelo latim, pelo véu nas mulheres, pela valorização da sacralidade?
Para mim é claramente obra do Espírito Santo na Igreja. Este é o futuro da Igreja. Pois o confirma isto também o Magistério. Se os cristão não encontram o Mistério e a sacralidade em nossas Liturgias ficam enfraquecidos na fé, na esperança e caridade. Alguns procuram outros caminhos. O coração do jovem quer experimentar Deus. Percebo que a renovação litúrgica passa pela juventude. Tenhamos confiança no Senhor e paciência.

Que apelo o senhor faz aos seus irmãos sacerdotes quanto à observância das normas litúrgicas?
Se não experimentaram, que experimentem. Com o tempo se pode ver a ação de Deus de maneira mais profunda e eficaz. Se já o fazem, perseverem, sem se deixar mudar pelos elogios ou criticas, em espírito de humildade e comunhão.

domingo, 13 de junho de 2010

Entrevista de Mons. Guido Marini a GaudiumPress

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"Contribuição do Papa à Liturgia vem de seu ensinamento e magistério", diz Mons. Guido Marini em entrevista a Agência de Noticias GaudiumPress.






Uma bela entrevista concedida por Mons. Guido a respeito da Liturgia e de sua importancia no momento em que a Igreja conclui o Ano Sacerdotal, bem como ressalta a contribuição do Papa para a Liturgia.


Veja a entrevista na integra, clicando no titulo desta postagem ou no link abaixo: http://www.gaudiumpress.org/view/show/16635

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Missa: questão de amor

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Conselhos de Dom Javier Echevarría, prelado do Opus Dei.

Leia aqui.

terça-feira, 23 de março de 2010

Entrevista com os Missionários Franciscanos do Verbo Eterno

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Por Shawn Tribe, Tradução de frei Cleiton Robson, OFMConv.

Como parte da nossa exploração contínua de comunidades dedicadas à “Reforma da Reforma”, o NLM (New Liturgical Movement), junto com o Salvem a Liturgia tem o prazer de apresentar a seguinte entrevista com os Missionários Franciscanos do Verbo Eterno - que podem ser melhor conhecido por muitos simplesmente como os "MFVA" ou "frades EWTN – Rede de Televisão Palavra Eterna".

Dentro desta entrevista, exploramos um pouco sobre a missão dos MFVA, a história de sua aproximação da liturgia romana moderna, num espírito de continuidade, a sua formação, suas recentes experiências de formação no antiquior usus, E explorar a questão em que São Francisco de Assis, no princípio da Ordem, tendo por princípio a pobreza, ressaltou a beleza dentro de nossas igrejas e da liturgia.

* * *

Pode começar por dizer-nos um pouco sobre o caráter particular e da missão dos frades MFVA?

Primeiramente, MFVA significa Missionários Franciscanos do Verbo Eterno ou Missionárias Franciscanas do Verbo Eterno, em Inglês. Madre Angelica, que foi quem fundou a Rede de TV EWTN, também criou nossa comunidade religiosa, em 2 de maio de 1987.

Nossa missão é a buscar os perdidos, trazer de volta os extraviados, e fortalecer e desafiar os fiéis a viverem a sua vocação com fidelidade e perseverança. Fazemos isso principalmente através de nossa consagração a Deus e através do nosso apostolado (EWTN, por exemplo, fornecendo os sacramentos às nossas Irmãs, Internet, peregrinação, etc.) Como nossa profissão de votos é particular, nós nos dedicamos a pregar e ensinar a fé católica através das obras de apostolado, de modo a “trazer a ovelha perdida” no coração da Igreja, perto de Jesus na Eucaristia, a Nossa Senhora e ao Santo Padre, o Papa. Temos uma preocupação particular e especial com os muitos católicos afastados lá fora, embora não nos limitemos apenas a ajudá-los a voltar para a Igreja, mas também a conduzir os não-crentes e não-cristãos, bem como conhecer a beleza da Igreja Católica, a fim de conhecer e se apaixonar por seu Esposo, Jesus Cristo, a Sabedoria Eterna Encarnada e, que é “o Caminho, a Verdade e a Vida”.

Onde os frades MFVA têm sua formação seminarística?

Nossa comunidade religiosa é constituída por Padres e Irmãos religiosos. Atualmente, todos nós começamos nossa formação no Mosteiro da Anunciação, em Birmingham, Alabama. Esta é a nossa casa principal.


Nós também temos nossa própria Casa de São José, de Estudos para o nosso programa de “pré-teologia”. Nossa Casa de Estudos é credenciada pela Pontifícia Universidade em Ponce, Porto Rico. Para o programa de teologia, enviamos os que exercem o sacerdócio para Mount St. Mary's Seminary, em Emmitsburg. Atualmente, temos um frade no primeiro ano de Teologia e três frades no segundo ano de Teologia.

Vocês são franciscanos e, às vezes, a pessoa de São Francisco sugere que a Sagrada Liturgia em nossas igrejas deve ser executada sem a beleza e magnificência. Como você responderia a essa questão?

Sim, isso é uma conclusão muito triste que as pessoas fazem de São Francisco, o santo homem de Deus, apaixonado por Jesus, verdadeiramente presente no Santíssimo Sacramento. As biografias de São Francisco dizem que pesou-lhe quando ele descobriu uma igreja que estava suja. Ele pessoalmente começou a limpá-la, convocando o clero e instruindo-os sobre a limpeza das igrejas, os altares e totalmente preocupado com a celebração da Missa.

São Francisco também teve um grande amor para com o Santíssimo Sacramento e queria que seus seguidores proporcionassem o melhor para Nosso Senhor. “Houve um tempo em que até quis mandar por todas as regiões frades com píxides, e onde encontrassem o Corpo de Cristo não convenientemente guardado, nelas O guardassem com dignidade." (Compilação de Assis, 108,13). São Francisco influenciou tremendamente na obtenção de uma calorosa devoção e apreciação da beleza de nossa fé católica. Santa Clara, da mesma forma, passou seus últimos anos fazendo lençóis para os altares de todas as igrejas da região.

Além disso, seguir e observar as diferentes leis e práticas litúrgicas, de acordo com o pensamento da Igreja ,está muito mais em harmonia com o verdadeiro espírito franciscano. Na realidade, estar em união com a Igreja é o que São Francisco exortou seus seguidores a fazer. Para alguns, isso não pode ser considerado um aspecto "muito importante". Há o princípio da opção preferencial pelos pobres na justiça social, mas isso não significa que somos ignorantes ou não estamos preocupados com a liturgia, porque os pobres participam da liturgia, também (os pobres de espírito e os pobres de fato). Eles merecem ser alimentados com as riquezas da Igreja. Se nós não as fornecemos com uma bela liturgia, então estamos tirando dos pobres aquilo com o que Jesus quer enriquecê-los, através da liturgia da Igreja. Assim, eles se tornam mais pobres. Nos velhos tempos, era muito comum que os pobres fossem os que construíam a igreja. Eles foram os que sacrificaram seu tempo, materiais, dinheiro, etc. A beleza de algumas das igrejas mais antigas era por causa da devoção da fé dos pobres, que não estava morta.

Além disso, São Francisco é um verdadeiro homem santo de Deus, que ama a Igreja e quem quer ser seu seguidore também a ama, deve ser obedientes a Ela, e pensar com a mente da Igreja. Isto está bem claro em seu Testamento (Testamento de Sena, 4). Portanto, tudo o que ele contém, tem que ser entendido nesse contexto. Portanto, celebrar a liturgia com devoção e com a beleza, de acordo com o pensamento da Igreja e do espírito da Igreja é fazê-lo segundo a vontade de São Francisco, que ama a Jesus Crucificado apaixonadamente, porque a mente da Igreja é a mente de Cristo.

Durante alguns anos, os frades MFVA foram vistos celebrando missas na EWTN e sempre foram caracterizadas pela continuidade da nossa tradição litúrgica, você pode nos dar um pouco da história de fundo disso?

Frei Brian Mulady, OP, veio para EWTN fazer uma série de televisão na década de 1990. A Missa televisionada começou em 1991, e ele sugeriu a Freiras aprender o canto gregoriano. Elas concordaram e ele lhes deu algumas instruções. Começaram com a Missa de Angelis e, ao longo dos anos continuou a acrescentar outras missas e polifonia sacra em seu repertório. Logo em seguida, começamos a usar o livrinho pouco conhecido, Jubilate Deo.

Em abril de 1974, o Papa Paulo VI enviou para todos os Bispos do mundo um livreto de algumas das seleções mais simples do canto gregoriano, muitas delas retiradas da Graduale Romanum. Este livreto, chamado Jubilate Deo, foi concebido como um repertório mínimo "do canto gregoriano." É, em outras palavras, um repertório oficial do núcleo latino para o rito romano. Foi preparado, disse o Papa, a fim de "tornar mais fácil para os cristãos alcançar a unidade e a harmonia espiritual com seus irmãos e com a tradição viva do passado. Por isso, é que aqueles que estão tentando melhorar a qualidade do canto congregacional não pode recusar o canto gregoriano no lugar que é devido a ele". Uma edição ampliada de Jubilate Deo mais tarde foi emitida pela Congregação para o Culto Divino, em 1987.

Quanto a uma "Reforma da Reforma" da liturgia na paróquia, quais os elementos que você vê como particularmente importantes para o projeto?

Maior reverência na liturgia e uma maior utilização do nosso patrimônio da música sacra. Deve ser verdadeiramente um "sentido do sagrado". A liturgia deve facilitar um encontro com Deus, daí, ele deve, através da beleza da música, arte, arquitetura, atos litúrgicos, etc, nos ajudar a "manter as nossas mentes nas coisas do alto, em vez de coisas da terra" (Cl 3,1-2).


Recentemente, alguns dos frades também tiveram formação dos Cônegos Regulares de São João Câncio, na celebração da Missa segundo os livros litúrgicos do antiquior usus, ou de forma extraordinária. Como foi essa experiência?

Foi uma experiência muito boa! Passamos três semanas consecutivas com eles. E, com a graça de Deus, e as orações de todos, que sobreviveram à "formação litúrgica do pontapé inicial" lá! Ao final das três semanas, fomos capazes de celebrar a Missa Baixa, a Missa Cantada sem incenso, a Missa Cantada com incenso, a Missa Baixa de Requiem, e a Missa Solene com a assistência do sacerdote celebrante e com a assistência do diácono. Ficamos muito satisfeitos com o quanto que nós fomos capazes de realizar. A graça de Deus realmente nos ajudou a tornar isso possível.

Evidentemente, o Cônegos Regulares de São João Câncio fizeram tudo o que puderam, para que pudéssemos realizar também da mesma forma. Fomos formados principalmente pelo Pe. Scott Haynes, SJC, no entanto, os Cônegos (incluindo os Irmãos, através do seu serviço nas Missas) contribuíram para nos ajudar a ser treinados na forma extraordinária.

Nós realmente recomendamos a qualquer sacerdote ou seminarista, a formação dos Cônegos Regulares de São João Câncio, para aprender a celebrar na forma extraordinária. Eles oferecem ambas as formas da Missa (Ordinária e Extraordinária). Eles têm um equilíbrio muito bom de estar verdadeiramente com a Igreja, especialmente no que diz respeito à antiga e à nova liturgia.

Com a grande ajuda dos Cônegos, estamos agora em condições de celebrar na forma extraordinária da Missa; e isto, no Santuário do Santíssimo Sacramento, em Hanceville e em qualquer outro lugar em que somos solicitados e estivermos disponíveis. Por uma questão de fato, as Clarissas da Adoração Perpétua decidiram pedir-nos [aos frades MFVA] para utilizar o formulário extraordinário da Missa televisionada, a partir de agora (pelo menos para este ano de 2010). A seguir será a programação televisiva quando estaremos celebrando a Missa na forma extraordinária:

PRIMAVERA: 8 de maio de 2010 (Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças) – Missa Cantada.
VERÃO: 7 de agosto de 2010 (Votiva ao Imaculado Coração de Maria) – Missa Solene.
OUTONO: 2 de outubro de 2010 (Santos Anjos da Guarda) – Missa Cantada.
INVERNO: 8 de janeiro de 2011 (Votiva ao Imaculado Coração de Maria) – Missa Cantada.

Evidentemente, a MFVA celebram nas duas formas da liturgia romana, e nós vemos as duas formas na EWTN; você acredita que uma "dupla" abordagem no que se refere às duas formas da liturgia romana seja importante, e você pode explicar por quê?

No que se refere às duas formas da liturgia romana, nós acreditamos que uma "dupla abordagem" seja importante. Uma das razões é porque, para ser um verdadeiro católico ortodoxo é preciso abraçar as duas abordagens. Muitas heresias que nasceram na história da Igreja surgiram porque um ou mais indivíduos aderiram a uma ou a outra abordagem. Os hereges tentaram enfatizar um determinado ponto de nossa fé, mas, infelizmente, desenfatizaram os outros, ao mesmo tempo.


Liturgia Romana Moderna

Forma Antiga

Praticamente falando, não se tem muita paciência e disciplina para aprender algo "novo" ou para usar algo que foi parte do tesouro da Igreja por anos, se nunca foi criado dessa forma. No entanto, com Deus tudo é possível. Muitas pessoas que nunca foram educadas na fé católica têm respondido à graça especial de Deus que lhes convida a abraçar a plenitude da verdade entrando na Igreja Católica. Refletindo sobre o seu processo de aprendizagem, a nossa fé (não apenas doutrinariamente, mas também liturgicamente), com muita paciência e disciplina levou-os a aprender e a se acostumarem com as nossas práticas na Missa (ou seja, de pé, ajoelhado, sentado, etc.) Da mesma forma, nós, que já somos católicos, mas que nunca fomos acostumados com a forma extraordinária podemos ficar frustrados no começo, porque não sabemos o que está acontecendo durante a forma extraordinária da Missa, ou se nós sabemos o que está acontecendo, nós podemos ficar frustrados porque parece que nunca podemos "acompanhar" as orações que o sacerdote faz durante a Missa, ou vemos que é um tipo diferente de "participação ativa", em comparação com a participação na forma ordinária da Missa. Todas estas razões são razões legítimas para nos sentirmos frustrados, mas temos que ter em mente que não existem respostas para cada pergunta que possam fazer.

Se algum jovem está interessado em discernir a vocação com a MFVA, ou as se as moças com as Clarissas da Adoração Perpétua, como devem proceder?

Qualquer homem católico, de 21 a 35 anos, que estiver interessado em descobrir mais sobre o nosso modo de vida, ele pode entrar em contato pelo nosso site: http://www.franciscanmissionaries.com/ ou por e-mail vocations@ewtn.com.

Se alguma jovem se interessa pelas Clarissas da Adoração Perpétua, ela pode acessar o seguinte site: http://www.olamshrine.com/ (Hanceville). Algumas das Monjas de Hanceville podem ter sido transferidas ou iniciado uma nova fundação em outro lugar; para conhecê-las, pode-se verificar os seguintes sites http://www.stjosephmonastery.com/ (Charlotte, North Carolina anteriormente em Portsmouth, Ohio), ou http://www.desertnuns.com/ (Black Canyon City, Arizona), ou http://www.texasnuns.com/ (San Antonio, Texas).

Disponível no Original em:

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Entrevista com Dom Antonio Carlos Rossi Keller

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Segue abaixo uma entrevista feita a Dom Antonio Carlos Rossi Keller, Bispo da Diocese de Frederico Westphalen - RS, sobre alguns aspectos da liturgia.

Vale a pena conferir o que diz este grande Bispo, que em palavras, bem como em gestos nos demonstra o seu zelo e amor pela Igreja e pela liturgia.


1. Como V. Excia. vê hoje a questão da liturgia no Brasil e no mundo?

Vejo que estamos em um momento crucial, onde se deparam duas visões: a da continuidade, na fidelidade à longa Tradição Litúrgica da Igreja e a da descontinuidade, defendida por grande parte dos liturgistas em exercício. Esta segunda visão, a meu ver, constitui em um grave risco para a "lex orandi", já que, em geral fundamenta-se em posturas inaceitáveis em relação à "lex credendi". Ou seja, a meu ver o grande problema da Liturgia hoje é, antes de tudo, um problema de fé, ou melhor, da falta de fé.

2. João Paulo II, em sua Ecclesia de Eucharistia, falava de "sombras" no modo como a Missa é celebrada. Como interpretar a expressão de Sua Santidade?

A meu ver, o Servo de Deus, o Papa João Paulo II referia-se ao absurdo da idéia de uma liturgia "a ser construída pela comunidade local" como ainda hoje propugnam muitos leigos, sacerdotes e bispos. Esta visão outorga à comunidade local (pior ainda, a alguns ou a alguém desta comunidade) a suprema autoridade em decidir o "como deve ser a celebração litúrgica", favorecendo às aberrações já tão sobejamente conhecidas. O resultado de tudo isto, que popularmente leva o nome de uma liturgia "inculturada", é, na verdade, simples e pura aberração, violência às normas mais elementares da autêntica liturgia da igreja, o predomínio de um subjetivismo que pretende utilizar a Liturgia como um instrumento para impor visões ideológicas de pessoas ou grupos.

3. Qual a importância do latim na celebração litúrgica? E do canto gregoriano?

O latim tem seu lugar na vida litúrgica da Igreja como garantia da integridade da fé, manifestada nas celebrações litúrgicas. Não é a toa que todos os livros litúrgicos tem como ponto de referência as edições chamadas de "typica". O gregoriano, por sua vez, constitui um rico patrimônio espiritual que não pode ser, simplesmente, jogado pela janela. Tanto o latim como o gregoriano nos servem como elo em relação à riquíssima Tradição Espiritual e Litúrgica da Igreja

4. É possível resgatar um uso mais regular do idioma latino mesmo na forma ordinária do rito romano, no chamado "rito moderno” esse que usamos em nossas paróquias? Como dar os passos para isso?´

Penso que sim, dêsde que se fuja da pura visão folclórica, ou de um saudosismo, a meu ver tão prejudicial como são os abusos cometidos na liturgia. O latim expressa a universalidade da Igreja, sua catolicidade, que é mais do que uma simples questão geográfica: a Igreja é a Una, Santa, Católica e Apostólica Igreja de Cristo, aberta a todas as geografias, a todas as culturas, a todas as épocas. Ora, isso exige, da parte de quem integra a Igreja, uma visão universal, aberta, não "paroquial". O latim abre esta perspectiva de universalidade. O grande problema será sempre não uma simples questão de pronunciar bem, corretamente o latim, mas de abrir-se à catolicidade da igreja, sentir-se cidadão universal dela, pronto a aceitar em seu seio todas as realidades espirituais e humanas dignas. O uso do latim faz-nos compreender como nós, católicos, onde quer que estejamos, temos a mesma fé e celebramos os mesmos sacramentos.
Praticamente, penso que, antes de se começar a celebrar em latim, nas Paróquias, seria preciso deixar bem claro, para o povo, a razão disso... Senão, tudo não passa de uma simples questão de estética linguística, de uma busca de um "purismo" litúrgico que cria a mentalidade se fazer parte de uma casta especial na igreja (os que entendem latim...), que seriam aqueles que participam da Santa Missa em latim...: o restante dos comuns católicos continuariam na ignorância e na mediocridade litúrgicas...

5. E quanto à forma extraordinária do rito romano, o "rito tridentino"? Como vê V. Excia. esse aumento dos pedidos dos leigos para que se a celebre?

Vejo o rito extraordinário como êle o é: extraordinário. Não posso aceitar que as bases colocadas pelo episcopado do mundo todo, reunido em Concílio, tenham sido inválidas ou injustas. Quando criança, ajudei muitas vezes a Santa Missa no atual rito extraordinário. E algumas vezes, infelizmente, não saia edificado da Missa: muita pressa, palavras engolidas, atropeladas, distrações, etc. Ora, isto leva-me a pensar que a questão não está tanto no Rito usado (apesar que o rito ordinário poderia, talvez ser um pouco melhorado, favorecido), mas o que conta mesmo é o espírito com o qual deve-se celebrar, seja lá em que rito for... Penso que os pedidos suscitados pela abertura oferecida pelo Santo Padre, são, em sua imensa maioria, justos, já que as pessoas não suportam mais tantos abusos... Penso também que o aumento dos pedidos de celebrações na forma extraordinária não deve diminuir as exigências para que se celebre dignamente na forma ordinária.

6. Dizem que em dioceses e instituições que prezam a liturgia bem celebrada, de acordo com as rubricas, com incentivo ao canto gregoriano, à polifonia sacra, a um canto popular mais sóbrio, ao latim, às celebrações mesmo em vernáculo bem sacrais, há um aumento de vocações. Isso é verdade? Como V. Excia. analisa esse fenômeno?

Não posso ainda afirmar categoricamente isto. Estou fazendo por aqui um grande esforço para que não somente na Catedral Diocesana, ou onde o Bispo estiver se celebre bem, mas que em todas as Paróquias exista este princípio. Para poder responder de forma taxativa e afirmativa a esta questão, preciso de mais tempo. Estou aqui tão somente há menos de um ano. Mas, pessoalmente, acredito piamente nesta realidade.

7. O episcopado brasileiro percebe a importância do latim, da posição "versus Deum", do canto gregoriano?

Não. Gostaria de salientar que não compartilho com esta oposição entre "versus populum" e "versus Deum". Sinceramente, não vejo esta oposição na forma ordinária do Rito Romano. A meu ver, toda a Missa "versus populum" será sempre, fundamentalmente, "versus Deum".

8. Há ainda muita confusão no clero, no episcopado e o laicato, achando que "Missa em latim" é apenas a Missa "tridentina"?

Absoluta confusão. Pior que isto, há um forte preconceito generalizado entre os padres e os senhores bispos do Brasil em relação ao uso do latim, na liturgia.

9. V. Excia. tem se destacado na promoção do adequado culto litúrgico. Tem enfrentado resistências? Como resolvê-las? Vê algum sinal de esperança?

Não enfrento nenhuma resistência em relação aos meus padres, que são todos muito bons e dedicados, desejosos de fazerem o que é certo. Estamos em constante diálogo, fundamentado na paciência e no respeito mútuo. Penso que este deva ser sempre o princípio normativo, não só em relação à liturgia, mas em todas as questões: a caridade e o respeito por aqueles que generosamente servem a Cristo,à Igreja e ao Povo Santo de Deus. A meu ver, se mais não conseguem oferecer, é porque pouco receberam. Cabe, pois, ao bispo, além de dar exemplo, proporcionar os meios para que as coisas melhorem, mas sempre com respeito e caridade. Recuso-me a governar a Diocese por meio de Decretos, que só servem para, na maioria dos casos, fazer o Bispo cair na tentação da vanglória e de imaginar que todos o obedecem na Diocese. Prefiro o caminho do exemplo e do diálogo.

10. O que V. Excia. pensa da tão falada "reforma da reforma"? Considera que as duas formas do rito romano irão, um dia, se fundir, com os melhores pontos positivos de cada uma? O que V. Excia. sugere em um eventual "rito romano unificado"? O que, da forma extraordinária, consideraria por bem estar presente também na forma ordinária? Alguma sugestão para a implementação da "reforma da reforma"?

Sou um pastor, não um liturgista ou um teólogo, no sentido próprio destes termos. Portanto, como Bispo, obedeço aquilo que a Igreja me indica. Não sei dizer qual será o futuro da liturgia: procuro viver e ensinar a viver com fidelidade as Normas Liturgicas atuais. Aquilo que a Santa Igreja, através de suas legítimas autoridades indicar neste sentido, terá sempre minha pronta e absoluta adesão.

11. Como V. Excia. enxerga a grande migração que muitos leigos, inclusive jovens, fazem em direção a grupos que, embora conservem a liturgia tradicional, a forma extraordinária, não estão em plena comunhão com Roma? O que fazer para solucionar o problema?

A razão desta migração, certamente, em alguns casos é uma sincera busca de algo mais consistente do que simples agitação, batucadas e bailes impropriamente tidos como litúrgicos. As pessoas que buscam a Deus não querem viver experiências que podem dar ou não dar certo. Ninguém gosta de ser cobaia... Assim, quando se oferece algo de qualidade, com garantia de que de fato funciona, as pessoas sentem-se mais seguras em buscá-las.
Contudo, a meu ver, nem todos aqueles que buscam estes ambientes tradicionalistas, tem retidão de intenção. Há muita gente desequilibrada por aí, buscando experiências místicas não corretas. Muitos destes que buscam este universo tradicionalista, aí não permanece... não é um fato, por exemplo, o número crescente também de sedevacantistas nestes ambientes?

12. O Cardeal Castrillón Hoyos insiste na chamada "ars celebrandi", expressão que é frequentemente utilizada também por Bento XVI. Em que ela consiste, em sua opinião? Como colocá-la em prática?

A meu ver a "ars celebrandi" consiste, antes de tudo, na capacidade de interiorização do Mistério que se celebra, ou seja, na capacidade de "conectar-se", para usar uma linguagem mais atual, à realidade litúrgica celebrada. Consiste na consciência de que se está diante de Deus, e de que toda a ação litúrgica a Ele é dirigida, exigindo este princípio um esforço consistente, que envolve a totalidade do ser. A "ars celebrandi" envolve toda uma atitude que, a meu ver, exige um antes, um durante e um depois de cada celebração, ou seja, uma preparação anterior fundamentada sempre que possível no silêncio, no diálogo com Deus; uma atitude de respeito e de atenção durante a celebração, vestes dignas, postura respeitosa, diria uma elegância no porte que revele a dignidade daquilo que se realiza; e uma ação de graças sentida e piedosa, para que a celebração repercuta nos demais atos sacerdotais. A "ars celebrandi" portanto não se constitui simplesmente em uma atitude respeitosa externa, mas tem raízes na alma...: a meu ver, a "ars celebrandi" mais do que na estética, é fundada na oração.

13. É visível o abandono da casula por boa parte do clero brasileiro. A que causas V. Excia. atribui a interpretação, deveras "benigna", da norma que a dispensa em situações extremas, invocada pelos padres?
O abandono da casula nada mais é do que a expressão de uma mentalidade "minimalista" em relação à Liturgia. Faz-se o mínimo necessário, usa-se o mínimo necessário, etc..., tudo justificado pela idéia de se simplificar as celebrações, fugir-se da pompa e do ritualismo. Vai-se assim, procurando-se fugir de uma visão extrema de suntuosidade ao outro extremo, hoje mais comum, que é o do relaxo e do empobrecimento litúrgico.

14. Aliás, quais são as causas, na visão de V. Excia., de tanto desleixo para com a liturgia no Brasil? A teologia da libertação e o modernismo, condenado por São Pio X, têm que parcela de culpa?

A causa está, antes de tudo, em uma visão dessacralizadora da Liturgia. A idéia de se pretender uma Liturgia que tem como centro o homem, e não Deus. O resto, é consequência disto... Ou seja, a crise é, antes de tudo, de fé.

15. Alguns padres mais novos começam a vestir batina, a usar clergyman, a celebrar com decoro, a se interessar pelo latim, a usar tanto a forma ordinária bem celebrada (inclusive com latim e gregoriano) como a forma extraordinária. Também leigos bem formados estão despertando e tomando iniciativas apostólicas para promover a liturgia de acordo com o que nos manda Roma e conforme a tradição da Igreja. O que diz V. Excia. disso tudo?

Digo que também isto me preocupa. Tenho visto fotos e mais fotos de seminaristas de batina, faixa, barrete, peregrineta, capote, etc... e que, depois de ordenados sacerdotes, deixam tudo isto de lado, ou usam estas vestimentas tão somente "quando estão exercendo o ministério", como se, para um sacerdote, fosse possível ter duas vidas, dois princípios norteadores para a própria vida. Minha opinião é a de que "o hábito não faz o monge, só o reveste". Assim, para que tudo isto tenha sentido, é necessária autêntica busca da santidade, que, para um sacerdote, é a plena identificação com o Cristo Jesus, com seus sentimentos, com seus valores, com suas palavras, com seus amores, etc... Sem autêntica vida espiritual, ou seja, para a Liturgia, sem a autêntica interioridade, a Liturgia torna-se tão somente ritualismo farisáico. Metros e metros de pano, quilos e quilos de incenso, etc.. não servem para nada quando não existe um apaixonado amor a Cristo, a Sua Igreja e a Seu Povo. Vejo com esperança toda esta movimentação em relação à busca de uma Liturgia mais fiel à normativa da Igreja, mas penso que isto só não seja suficiente para uma autêntica renovação eclesial: precisamos não somente de gente que celebre ou que participe da Liturgia bem celebrada... Precisamos de gente SANTA que celebre e participe bem da Liturgia bem celebrada.

16. Aos que querem a Missa mais sóbria, de acordo com as normas, com incenso, latim, paramentos bonitos, logo se lhes acusam de "rubricistas" ou de "obtusos", "antiquados" e até de "fariseus". Dizem que a Missa tem que ser "alegre", com palmas, pop-rock, improvisação, abraços nos irmãos, sem se prender a fórmulas. Alegam que Jesus quer animação, que o que importa é o coração, é o interior. Como responder a tudo isso?

Deve-se responder coma exemplareidade de celebrações bem realizadas. Mas também é preciso cuidar de que a parte humana, nas Comunidades onde se celebra decentemente, seja cuidada... As pessoas tem necessidades humanas de afeto, de encontro, de até festejar junto, ou de chorar junto. O erro não é a necessidade de fraternidade, de acolhida, de comemorações, etc.... O erro é querer fazer isto na Santa Missa, usando-a com finalidades incoerentes com os seus verdadeiros fins. A santa Missa não pode ser instrumentalizada. mas cada Comunidade cristã deve ter seus espaços de acolhida humana, sempre fundamentados na caridade do Senhor.

17. V. Excia. há poucos dias conferiu o canonicato a alguns de seus sacerdotes. Como vê a instituição do Cabido Diocesano, sua perda em várias dioceses, e a importância dele para a liturgia?

Quando cheguei à Diocese de Frederico Westphalen, imediatamente solicitei, por meio da Nunciatura Apostólica em Brasília, a Instauração do Colendo Capítulo de Cônegos de nossa catedral Diocesana.
A razão é dupla: em primeiro lugar, para que pudesse ter um Grupo seleto de presbíteros da Diocese que pudesse auxiliar-me e secundar-me para que as Celebrações Litúrgicas oficiais, na Catedral Diocesana de Santo Antonio assumissem uma maior dignidade e fossem sempre celebradas de acordo com as Normas Litúrgicas vigentes. Em segundo lugar, a ereção do Capítulo de Cônegos é também uma forma de expressar o respeito e o afeto do Bispo pelo Presbitério Diocesano, que, graças a Deus, é valoroso e sempre me dá muitas alegrias. A meu ver o descaso com os Capítulos deve-se ao fato de que canonicamente, o mesmo tenha perdido sua função de "senado do bispo", sendo substituído por outras realidades de Comunhão.


18. Pode V. Excia. nos dar um exemplo concreto desse "governar com diálogo", principalmente no campo da liturgia? Como, para usar suas palavras, "proporcionar os meios para que as coisas melhorem" na liturgia, na Missa, na beleza das celebrações, na correção dos equívocos?

Em relação à Liturgia, tenho, em primeiro lugar, dado o exemplo, ou seja, celebrado sempre na Catedral Diocesana de acordo com as regras litúrgicas vigentes, mas sempre com solenidade e dignidade. O resultado é o de ter sempre muita gente participando das Missas semanais celebradas pelo Bispo Diocesano, na Catedral, sempre nos domingos às 19,00 h. Além disso, celebro diariamente a Santa Missa, de 2a a 6a feira às 8,00 h, na Cripta da Catedral Diocesana. Naturalmente, uma Missa mais simples, mas sempre de acordo com as Normas Litúrgicas. Minha intenção é a da exemplaridade: que os padres celebrem bem, e que celebrem todos os dias, algo inusitado para esta última questão, por estes lados do Rio Grande do Sul. Além disso, tenho enviado mensalmente a todos os padres uma correspondência pessoal: uma carta amiga e fraterna, de pai e de pastor, tratando sempre de uma aspecto prático da vida e da espiritualidade presbiteral. Além disso, segue, junto à carta (chama-se "Carta aos Padres") artigos específicos de temas práticos de pastoral. Ultimamente tenho enviado sempre temas de Liturgia, especificamente, sobre a "ars celebrandi". O interessante é que já sente-se o resultado. Por aqui, não temos grandes abusos. Os mais visíveis são aqueles que dizem respeito à música litúrgica, já que a Diocese edita um "Livro de Cantos" (a última edição tem quase 10 anos) e neste livro foram colocados cantos que não estão adequados à Liturgia. Assim, estamos preparando uma revisão do livro. Em um ou outro lugar escutam-se, em alguns momentos, algumas palmas... etc.. mas, repito, nada que demonstre abusos mais graves, que digam respeito, por exemplo, à fé. Muitas das estranhezas litúrgicas que vejo, devem-se à passagem de alum liturgista (na verdade ALGUMA...) que espalhou algumas idéias estranhas, mas que, de fato, não penetraram com muita profundidade. Nosso presbitério é bem diferente do de São Paulo, por exemplo, onde predomina em muitos ambientes, a idéia de "inventar" a liturgia. Assim, mudando os cantos do livro, e procurando manter sempre esta atitude de enviar bom material etc.. aos padres, além de oferecer aos seminaristas a possibilidade de ajudarem nas cerimônias da Catederal (coisa que antes não existia), vejo que em breve teremos uma liturgia muito mais cuidada e adequada por aqui.

19. Um futuro promissor para a liturgia no Brasil é visto por V. Excia. a curto prazo? Quais os erros que devem ser evitados nesse trabalho de "reforma da reforma"?

Sou realista, mas tenho fé. Minha vida inteira de padre dediquei-me a formar seminaristas e a procurar celebrar sempre bem. Não digo isto como honra, mas como algo feito com consciência. Deus tem Seus tempos e Suas razões. Vivemos um período de purificação, na Igreja. Assim, não tenho noção a respeito de prazos, etc. Penso que cabe-nos sempre ser muito fiéis, especialmente em relação à Liturgia, e ter a paciência em saber esperar. Mesmo que Nosso Senhor não me dê a alegria de ver as coisas mudarem de fato, penso que, de alguma maneira, colaborei para que as coisas, de alguma maneira, em um dia que Deus sabe qual será, as coisas voltem ao eixo. Nós passamos, inclusive aqueles que organizaram ou mantiveram ou ainda mantém toda esta confusão. A Igreja permanece.

20. Por fim, uma palavra de incentivo aos leitores do Salvem a Liturgia, e seu pensamento acerca de nosso apostolado.

Quero dizer aos leitores que procurem, antes de tudo, viver a Liturgia, com interioridade e atenção. Repito o que já anteriormente disse: a autêntica participação na Liturgia exige interioridade, alma, amor a Deus. Vivamos a Liturgia não só na sua exterioridade tão bonita e necessária mas, principalmente, no que ela realiza de ato de amor a Deus.


Dom Antonio Carlos Rossi Keller
Bispo de Frederico Westphalen (RS)
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