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terça-feira, 1 de maio de 2012

Santa Missa Pontifical na forma Extraordinária em Hong Kong

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Apesar de muitos católicos pelo mundo não terem tanta noção da situação da Igreja no Oriente (rito latino), mesmo em tempos difíceis como estes, a Comunidade da Liturgia Tridentina, comemorando o seu 10º aniversário, no Domingo de Páscoa da Ressurreição do Senhor (08/04), celebrou a Solene Santa Missa Pontifical, cantada em Hong Kong, por Dom John Cardeal Tong, Arcebispo daquela Diocese, na igreja de Santa Teresa.

Tal feito foi uma mostra de que o Santo Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo é perpetuado, ainda que em meio a tantas situações complicadas, em termos políticos, sociais, econômicos e religiosos. Por tudo isso, Deo gratias!

As fotos originais encontram-se na página do Facebook, Tradition.

Genuflexório para entrada do Bispo










domingo, 29 de abril de 2012

sábado, 28 de abril de 2012

Reforma da reforma e paramentos

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Continuando nossa série sobre o que aproveitar da reforma litúrgica de Paulo VI e da tradição do rito romano presente, de forma mais ampla e preservada, no rito de São Pio V, em uma eventual unificação do rito, apresentamos alguns apontamos livres sobre os paramentos.

Ocupa lugar de destaque nessa preocupação a ausência de obrigatoriedade do uso do manípulo na forma ordinária. Não há motivo razoável para que ele deixasse de ser utilizado no novo Missal. É bem verdade que nunca foi abolido, mas um documento de 1967 o tornou facultativo, o que foi uma pena. E não se trata de um pedaço de pano apenas. O manípulo simboliza as cordas com que Jesus foi manietado para seu suplício, o que é um sinal poderoso a ser envergado no Santo Sacrifício da Missa. É signo também do amor ao trabalho e à penitência, dado que originalmente tal veste servia para enxugar o suor do rosto. Do suor do rosto, passa a significar o suor da alma, e, pois, a penitência simbolizada pelo manípulo, é claramente indicada por ele como remédio às dores e cansaços do espírito, o que um sacerdote sempre deve procurar. A restauração da obrigatoriedade do uso do manípulo é uma necessidade, até mesmo para a reinserção do rito no seu sadio desenvolvimento histórico.

Outro aspecto a considerar é o uso do pluvial na Missa. Estava previsto, na tradição do rito romano, para o Aspergess, antes das Missas dominicais. A reforma de Paulo VI o tirou dessa cerimônia, e o padre passa a usar a casula da Missa também no Asperges, o que tira o simbolismo de ser este uma preparação. Asperges não é Missa. E se não é Missa, não se deveria usar casula, mas o paramento para atos litúrgicos solenes extra-Missa: o pluvial. Também é preciso que, em uma eventual e futura unificação do rito, o pluvial esteja presente. O pluvial, ademais, deve ser resgatado como obrigatório para uso dos padres-assistentes na Primeira Missa de um neo-sacerdote e para os padres-capelães que assistem à Missa Pontifical. Enfim, seu uso deve ser reintroduzido na primeira parte da Solene Vigília Pascal e tornado obrigatório (e não optativo, podendo-se escolher entre ele e a casula) na Procissão de Ramos.

Nas concelebrações, que foi uma ótima idéia resgatada pelo Concílio Vaticano II, para melhor simbolizar a unidade do presbitério em torno do Bispo - ainda que tenha sido mal implementada com a banalização e quase obrigatoriedade prática de concelebrações -, hoje a casula dos celebrantes secundários é dispensável. Não se pode assim pensar. Se a casula é a veste própria dos sacrificadores, e os padres estão concelebrando e não meramente assistindo, não basta usar a estola. Que a casula seja, pois, tornada obrigatória para todas as concelebrações.

Falando em estola, o presbítero sempre se distinguiu do Bispo em seu uso no rito romano, por tê-la cruzada. A reforma de Paulo VI, para ressaltar que não há diferença no sacerdócio entre o Bispo e o mero padre, houve por bem dar-lhe uma forma única: ainda que não seja proibido ao padre usá-la cruzada, na prática o que houve foi uma abolição desse estilo, e todos passaram a envergá-la como os Bispos. Ora, isso é não só uma desconsideração com toda a tradição e o desenvolvimento litúrgico romano, como um contrassenso ao próprio ensino do Vaticano II. O Concílio foi exatamente o definidor do episcopado como um sacramento e um ordem distinta do presbiterado. Essa foi uma das únicas definições propriamente doutrinárias do Vaticano II. E a reforma pós-conciliar, em vez de seguir nas trilhas do próprio Concílio, reforçando a distinção entre o Bispo e o presbítero, os tornou iguais no uso da estola. Urge rever esse "detalhe".

Atualmente, também, o amito e o cíngulo continuam a ser paramentos obrigatórios, exceto, segundo a IGMR, se a alva é feita de tal forma que eles sejam dispensáveis. Perde-se, todavia, quando não se os usa, o profundo significado espiritual e teológico dessas vestes e se ignora novamente o sadio e harmônico desenvolvimento litúrgico, além de tornar sem sentido a recitação das orações próprias ao vesti-las.

Para os diáconos, por sua vez, a dalmática é a veste própria e, nas atuais regulamentações, é vivamente recomendada, e obrigatória nas Missas pontificais ou estacionais. Isso não basta, porém. A dalmática é como a casula do padre e, sendo assim, deveria ser obrigatória e não recomendada.

Enfim, o Bispo, na Missa Pontifical, hoje não tem mais obrigação de usar as cáligas nem as luvas pontificais. Uma perda lamentável de ricos simbolismos e preciosos sinais identificadores do sumo sacerdócio e do poder de jurisdição, em estranha contradição com o Vaticano II, o Concílio que justamente, como falamos, definiu ser o episcopado uma ordem distinta do presbiterado.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

"Missa ou Balada?"

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Uma leitora do Salvem a Liturgia! criou recentemente, uma Página no Facebook, "Tirinhas da Maria", onde expõe seus trabalhos de modo simples e belo, sobre a modéstia, pois trazem, além de muita descontração, sempre uma mensagem que nos ajudará a refletir sobre nossa vida espiritual.

"Acontece de a gente se arrumar no domingo para ir à santa Missa, mas quando se chega lá a impressão é que estamos em um baile, uma festa ou outra coisa. Muita palma, pulos, movimentos com o corpo, até danças mesmo. E som é de bateria, guitarra, etc.. Muito barulho!!

Infelizmente muitos esqueceram que a Santa Missa é a renovação do Sacrifício de Cristo." (Maria Bastos)



Parabéns, Maria Bastos, pelo singelo trabalho de evangelização!

quinta-feira, 26 de abril de 2012

512 anos: Uma errata sobre a 1ª Missa no Brasil!

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Quase todos nós ao ouvirmos falar da primeira Missa celebrada em território brasileiro imediatamente trazemos à nossa mente a imagem imortalizada pela tela de Victor Meirelles de 1860 e atualmente exposta no Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro. A pintura, de estilo romântico, representa os indígenas e portugueses assistindo a uma Missa celebrada pelo Frei Henrique de Coimbra, acolitado por um outro frade, diante de uma grande cruz de madeira armada junto do altar da celebração. Por ocasião dos 512 anos da celebração da primeira missa no Brasil, comemorado hoje, dia 26 de abril de 2012, essa imagem está sendo compartilhada nas redes sociais para relembrar o evento. Contudo, a tela de Meirelles retrata na verdade, a segunda Missa no Brasil, celebrada dia 1º de maio. Como assim?!
No dia 26 de abril de 1500, os portugueses celebraram a primeira missa no Brasil, mas na ilha da Coroa Vermelha, uma ilhota que já não existe mais. Era Domingo da Oitava de Páscoa, e a Missa foi celebrada de forma cantada, sobre um altar montada debaixo de um dossel, assistida por cerca de 1000 homens da esquadra de Pedro Álvarez Cabral. Na praia do continente, cerca de 200 indígenas acompanhavam de longe a cerimônia. 
"Ao domingo de Pascoela pela manhã, determinou o Capitão ir ouvir missa e sermão naquele ilhéu. E mandou a todos os capitães que se arranjassem nos batéis e fossem com ele. E assim foi feito. Mandou armar um pavilhão naquele ilhéu, e dentro levantar um altar mui bem arranjado. E ali com todos nós outros fez dizer missa, a qual disse o padre frei Henrique, em voz entoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos outros padres e sacerdotes que todos assistiram, a qual missa, segundo meu parecer, foi ouvida por todos com muito prazer e devoção. 
Ali estava com o Capitão a bandeira de Cristo, com que saíra de Belém, a qual esteve sempre bem alta, da parte do Evangelho.
Acabada a missa, desvestiu-se o padre e subiu a uma cadeira alta; e nós todos lançados por essa areia. E pregou uma solene e proveitosa pregação, da história evangélica; e no fim tratou da nossa vida, e do achamento desta terra, referindo-se à Cruz, sob cuja obediência viemos, que veio muito a propósito, e fez muita devoção.
Enquanto assistimos à missa e ao sermão, estaria na praia outra tanta gente, pouco mais ou menos, como a de ontem, com seus arcos e setas, e andava folgando. E olhando-nos, sentaram. E depois de acabada a missa, quando nós sentados atendíamos a pregação, levantaram-se muitos deles e tangeram corno ou buzina e começaram a saltar e dançar um pedaço. E alguns deles se metiam em almadias -- duas ou três que lá tinham -- as quais não são feitas como as que eu vi; apenas são três traves, atadas juntas. E ali se metiam quatro ou cinco, ou esses que queriam, não se afastando quase nada da terra, só até onde podiam tomar
pé.
Acabada a pregação encaminhou-se o Capitão, com todos nós, para os batéis, com nossa bandeira alta."(Carta de Pero Vaz de Caminha a El-Rey Dom Manuel I de Portugal, Porto Seguro, 1º de maio de 1500. Os grifos são meus)
O motivo desta celebração ter sido mais afastada foi provavelmente de que o capitão não se sentia seguro de mandar celebrar a liturgia no continente por ainda não ter contatos suficientes com os nativos da terra.
Foi só na sexta-feira, 1º de maio, que o Frei Henrique de Coimbra celebrou Missa solene diante da cruz de madeira plantada na terra da praia de Porto Seguro, a qual assistiu toda a esquadra e uma grande quantidade de indígenas que se juntaram para observarem a cerimônia.
"E hoje que é sexta-feira, primeiro dia de maio, pela manhã, saímos em terra com nossa bandeira; e fomos desembarcar acima do rio, contra o sul onde nos pareceu que seria melhor arvorar a cruz, para melhor ser vista. E ali marcou o Capitão o sítio onde haviam de fazer a cova para a fincar. E enquanto a iam abrindo, ele com todos nós outros fomos pela cruz, rio abaixo onde ela estava. E com os religiosos e sacerdotes que cantavam, à frente, fomos trazendo-a dali, a modo de procissão. Eram já aí quantidade deles, uns setenta ou oitenta; e quando nos assim viram chegar, alguns se foram meter debaixo dela, ajudar-nos. Passamos o rio, ao longo da praia; e fomos colocá-la onde havia de ficar, que será obra de dois tiros de besta do rio. Andando-se ali nisto, viriam bem cento cinqüenta, ou mais. Plantada a cruz, com as armas e a divisa de Vossa Alteza, que primeiro lhe haviam pregado, armaram altar ao pé dela. Ali disse missa o padre frei Henrique, a qual foi cantada e oficiada por esses já ditos. Ali estiveram conosco, a ela, perto de cinqüenta ou sessenta deles, assentados todos de joelho assim como nós. E quando se veio ao Evangelho, que nos erguemos todos em pé, com as mãos levantadas, eles se levantaram conosco, e alçaram as mãos, estando assim até se chegar ao fim; e então tornaram-se a assentar, como nós. E quando levantaram a Deus, que nos pusemos de joelhos, eles se puseram assim como nós estávamos, com as mãos levantadas, e em tal maneira sossegados que certifico a Vossa Alteza que nos fez muita devoção.
Estiveram assim conosco até acabada a comunhão; e depois da comunhão, comungaram esses religiosos e sacerdotes; e o Capitão com alguns de nós outros. E alguns deles, por o Sol ser grande, levantaram-se enquanto estávamos comungando, e outros estiveram e ficaram. Um deles, homem de cinqüenta ou cinqüenta e cinco anos, se conservou ali com aqueles que ficaram. Esse, enquanto assim estávamos, juntava aqueles que ali tinham ficado, e ainda chamava outros. E andando assim entre eles, falando-lhes, acenou com o dedo para o altar, e depois mostrou com o dedo para o céu, como se lhes dissesse alguma coisa de bem; e nós assim o tomamos!
Acabada a missa, tirou o padre a vestimenta de cima, e ficou na alva; e assim se subiu, junto ao altar, em uma cadeira; e ali nos pregou o Evangelho e dos Apóstolos cujo é o dia, tratando no fim da pregação desse vosso prosseguimento tão santo e virtuoso, que nos causou mais devoção.
Esses que estiveram sempre à pregação estavam assim como nós olhando para ele. E aquele que digo, chamava alguns, que viessem ali. Alguns vinham e outros iam-se; e acabada a pregação, trazia Nicolau Coelho muitas cruzes de estanho com crucifixos, que lhe ficaram ainda da outra vinda. E houveram por bem que lançassem a cada um sua ao pescoço. Por essa causa se assentou o padre frei Henrique ao pé da cruz; e ali lançava a sua a todos -- um a um -- ao pescoço, atada em um fio, fazendo-lha primeiro beijar e levantar as mãos. Vinham a isso muitos; e lançavam-nas todas, que seriam obra de quarenta ou cinqüenta. E isto acabado -- era já bem uma hora depois do meio dia -- viemos às naus a comer, onde o Capitão trouxe consigo aquele mesmo que fez aos outros aquele gesto para o altar e para o céu, (e um seu irmão com ele). A aquele fez muita honra e deu-lhe uma camisa mourisca; e ao outro uma camisa destoutras.
E segundo o que a mim e a todos pareceu, esta gente, não lhes falece outra coisa para ser toda cristã, do que entenderem-nos, porque assim tomavam aquilo que nos viam fazer como nós mesmos; por onde pareceu a todos que nenhuma idolatria nem adoração têm. E bem creio que, se Vossa Alteza aqui mandar quem entre eles mais devagar ande, que todos serão tornados e convertidos ao desejo de Vossa Alteza. E por isso, se alguém vier, não deixe logo de vir clérigo para os batizar; porque já então terão mais conhecimentos de nossa fé, pelos dois degredados que aqui entre eles ficam, os quais hoje também comungaram.
Entre todos estes que hoje vieram não veio mais que uma mulher, moça, a qual esteve sempre à missa, à qual deram um pano com que se cobrisse; e puseram-lho em volta dela. Todavia, ao sentar-se, não se lembrava de o estender muito para se cobrir. Assim, Senhor, a inocência desta gente é tal que a de Adão não seria maior -- com respeito ao pudor. Ora veja Vossa Alteza quem em tal inocência vive se se convertera, ou não, se lhe ensinarem o que pertence à sua salvação.
Acabado isto, fomos perante eles beijar a cruz. E despedimo-nos e fomos comer." (Carta de Pero Vaz de Caminha)
Fica assim, desfeito o engano. A primeira missa no Brasil foi celebrada em um Domingo, dia 26 de abril, na ilhota da Coroa Vermelha. O que Victor Meirelles representou em seu quadro de 1860 é a primeira Missa celebrada em terras continentais do Brasil, na sexta-feira, 1º de maio de 1500. Nada disso, contudo, anula a memória deste dia, em que comemoramos a primeira Missa celebrada em terras brasileiras, onde por singular graça e sagrado privilégio, nossa Pátria nasceu sendo oferecida a Deus junto com o Santo Sacrifício de Seu Filho e Senhor Nosso, Jesus Cristo.
Brasil: Terra de Santa Cruz!

SAIBA MAIS:
KUHNEN, Alceu. As Origens da Igreja no Brasil: 1500 a 1552.Bauru, EDUSC, 2005.

Por que a música católica está uma bagunça?

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Publicado originalmente em 9 de Dezembro de 2011 no Chant Café, este é mais um ótimo texto do Jeffrey Tucker.

Em alguns trechos (poucos), Tucker fala de situações que fazem mais sentido nos Estados Unidos (como o cartel de editoras que acabam controlando o repertório litúrgico); entretanto, o texto quase inteiro é uma descrição excelente da atual situação da música litúrgica na Igreja Católica, tanto no Brasil, como nos Estados Unidos e na maioria dos outros países onde vivem católicos.

Para o leitor ter uma ideia, o artigo obteve, em pouco tempo, lá no Chant Café, 72 comentários...

O leitor pode ler o texto original neste endereço: Why is Catholic music such a mess?

As notas do tradutor aparecem em vermelho, entre colchetes.

*

Esta pergunta me é feita com tanta frequência que justifica um artigo. Um homem católico, tentando firmar-se mais na sua Fé, mas que não assiste à Missa regularmente, decide que é hora de tentar de novo. Ele vai a uma paróquia perto da sua casa. A procissão de entrada lhe diz: não mudou nada desde a última vez. Ele range os dentes o tempo todo. Na hora da Comunhão, já está enlouquecendo. No canto final, já enlouqueceu. Ele vai para o estacionamento xingando mentalmente, irritado, lembrando-se de por que não vai à igreja com freqüência. 
O problema é a música. É música pop mal tocada por pessoas que, no entanto, parecem se orgulhar da sua performance. Durante toda a Missa, o homem se pergunta: como é que pode acontecer que a mais bela liturgia, produto de dois mil anos de tradição, seja reduzida a isso? E, mais importante que isso, não há nada que se possa fazer a esse respeito? 
Recebo telefonemas e e-mails com histórias parecidas com esta, e já faz anos. O forte contraste entre a realidade e o que eles lembram de como é a Missa, ou imaginam como possa ser, é demais para se tolerar. 
Vejo meu trabalho aqui uma tentativa de acalmar as pessoas e lhes mostrar que a origem do problema não é, como pensam, a princípio, metafisicamente maliciosa. Não precisamos de um expurgo, mesmo que seja uma ideia tentadora. A solução também não é um salto para um futuro autoritário no qual um bispo ou o Papa imponham um certo repertório e lancem fora todo mundo que não o siga, por mais satisfatória que seja tal fantasia. 
Há várias razões principais pelas quais este problema persiste, e essas razões se relacionam entre si de maneira complexa. Esclareçamos primeiro que os próprios músicos experimentam certo desconforto em relação ao que fazem. Eles não têm certeza absoluta de que estão realmente contribuindo com a liturgia. Sentem uma espécie de desconexão com o que está acontecendo no altar. Não têm clareza quanto à propriedade da música que estão fazendo. Porém, são voluntários (isto é, não são pagos), conscientes de que ninguém parece ter objeções, e recebem elogios de tempos em tempos. Então, assim eles raciocinam, eles podem muito bem continuar a fazer o que fazem, isto é: aparecer meia hora antes da Missa e escolher hinos e fazer o que já sabem como se faz. [O que Tucker chama de "hinos" não são os hinos litúrgicos que fazem parte do Ofício, mas a música não-litúrgica que acaba entrando na Missa, sejam relativamente sóbrios como os de antes, sejam as canções pop de hoje] Eles não veem o cenário mais amplo. Eles não imaginam aquilo que não sabem fazer e compreender musicamente. 
A questão número um, no meu ponto de vista formado ao longo de uma década de estudo, é que os próprios músicos não conhecem o assunto. A maioria das pessoas que estão fazendo música na Igreja Católica não possuía nem mesmo uma compreensão rudimentar das exigências musicais do Rito Romano. Elas não sabem quais as partes da Missa que constituem o Ordinário. Elas não sabem que o Próprio da Missa existe. Elas não têm ideia de como a música se relaciona à palavra ou ao calendário (além de Natal e Páscoa). Elas não sabem o que é obrigatório, o que é opcional, o que é escolha da Igreja, o que é escolha da editora de música, o que é da tradição, nem como diferenciar a música litúrgica genuína da música não-litúrgica. 
E é porque isto nunca lhes foi explicado. Uma razão para nunca terem aprendido isto é que muito poucas pessoas realmente têm essa compreensão. Você pode participar de dez convenções nacionais [ou certos cursos], ler dez livros, assinar todas as publicações sobre liturgia, ler sites o dia inteiro, falar com o seu pároco e predecessores, e mesmo assim nunca descobrir estes pontos básicos da liturgia católica e suas exigências musicais. Sim, você vai se deparar com slogans e com o conhecimento de que “o povo” tem que participar, mas não participa (é sempre mais fácil focar no pecado dos outros), mas só.
A informação essencial quanto ao papel da música é desconhecida, e este problema não é sério apenas na raiz; chega também no topo. De novo, não é a malícia que evita a difusão desse conhecimento; é que existe tanta informação que se perdeu nestas décadas confusas que existe muito pouca gente que realmente entende. 
O segundo problema é que os recursos para uma verdadeira contribuição musical com a liturgia estão faltando há algumas décadas. O livro de música do Rito Romano, o Gradual Romano, é desconhecido de 98% dos músicos da Igreja Católica. Eles nunca viram um exemplar, nem sequer ouviram falar dele, embora seja mencionado tanto no Missal quanto na Instrução do Missal (IGMR). Mesmo na improvável possibilidade de que tenham visto o livro, eles não sabem ler nem a língua (latim) nem a notação (pauta de quatro linhas). Eles não sabem que há versões em inglês disponíveis. [Lembrando que o autor do texto é americano. Da nossa parte, precisamos de música litúrgica em português. O Salvem a Liturgia tem trabalhado nisto, e certamente existem trabalhos feitos nos países de língua portuguesa que merecem e precisam ser difundidos] Se eles soubessem que há, não saberiam como obter. 
Historiadores que examinaram este problema de perto notam que tudo isso começou na década de 1960 como uma extensão do problema que já existia antes do Concílio Vaticano II. Numa cultura de Missas Baixas, era comum substituir o Próprio cantado por hinos e o Próprio recitado. [Missa Baixa é o nome dado à Missa apenas rezada, não cantada, na Forma Extraordinária do Rito Romano. Às vezes imaginamos o passado como um paraíso de Missas Altas com canto gregoriano e polifonia o tempo todo, todo Domingo. Nem sempre era o caso; onde não houvesse tais recursos artísticos, humanos e materiais, a Missa Baixa era a regra, por força das circunstâncias. Isto é o que o autor chama de "cultura de Missas Baixas"] Quando o estilo dos hinos, nos anos 60, mudou de pesadão para modernete, o Próprio da Missa ficou de lado. Por isto é que foi nos anos 60 que começaram a aparecer os sinais daquilo que muitos veem como uma corrupção. A música pop começou a dominar, primeiro como canções que substituíam o Próprio. Só mais tarde tornou-se comum a substituição dos cantos do Ordinário da Missa por outros que combinavam com o estilo das novas canções. No começo da década de 1970, a limp­­­eza tinha sido geral. Toda a música da Missa tinha uma cara completamente nova. Quando o Gradual Romano da Forma Ordinária foi publicado em 1974, a questão já tinha sido resolvida e o livro foi largamente ignorado. 
Há outros problemas, claro. Fala-se sobre o problema do cartel de editoras. Mas, como sempre lembro às pessoas, o jeito de lidar com este problema é simplesmente uma questão de mudar o mercado. Você tem que mudar as preferências de compra dos consumidores. É muito simples. Você pode fazer isto sem legislação, batidas policiais, intimidação ou beligerância. É apenas uma questão de oferta e demanda. Nos mercados, produtos vêm e vão. Se você não gosta daquilo que vende, apoie outra coisa. 
E quanto a legislação e decretos? Declarações vindas do alto? Imposições da autoridade? Não considero nada disto como parte de soluções reais. Continuará a haver declarações, assim como tem havido já faz décadas. Elas não são tão importantes quanto a verdadeira mudança de corações por meio de experiências reais. Por isto é que colóquios educacionais e conferências são tão importantes. E é por isso que o Parish Book of Chant [Livro Paroquial de Canto] e os Simple English Propers [Próprios Simples em Inglês] são também tão importantes. [Esses dois livros são publicações recentes que contêm música litúrgica autêntica para uso nos Estados Unidos, de fácil obtenção, preço baixo e, muito importante: permanentes] Nós precisamos dos recursos. E precisamos de dinheiro para financiar a produção desses livros e conferências – e doadores generosos (benditos sejam!) são poucos. 
Isto é meu esboço do mundo que herdamos e de como devemos trabalhar para mudá-lo. Existe uma solução para o problema e ela pode acontecer rápido. Não precisamos de décadas. Mas precisamos de paixão, trabalho, ajuda financeira e oração.
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