Na noite da quarta-feira santa S.E.R Dom Antonio Carlos Rossi Keller presidiu a missa crismal com a benção dos óleos dos catecúmenos e dos enfermos e a consagração do Santo Crisma, sendo como dito celebrada na quarta feira santa por questões pastorais.
Abaixo a homilia proferida por Dom Antonio Carlos e algumas fotos da missa.
"Amados irmãos e irmãs.
Queridos padres e seminaristas.
Recordamos, nesta Santa Missa Crismal, o
momento em que, para nós padres, o nosso bispo nos integrou ao sacerdócio de
Jesus Cristo, consagrando-nos definitivamente, através da imposição das mãos e
da oração consacratória. Como nos esquecer daquele momento? Quantas recordações
daquele dia estão gravadas indelevelmente em nossas almas. Daquele momento em
diante, nos tornamos sacerdotes do Senhor. Naquele momento, Cristo Nosso Senhor
nos uniu a Si e à Igreja, para nos tornarmos instrumentos de Sua Salvação para
o mundo. É a partir desta ação de Cristo sobre nossas vidas que fomos entregues
definitivamente a Deus para que, a partir de Deus, a partir de Sua Graça, a
partir de nossa união vital com Ele e tendo em vista a Ele, pudéssemos servir à
humanidade. Nossa vida sacerdotal só se explica a partir desta lógica. Todos os
elementos deste processo de crescimento de vida são essenciais: a escolha de
Deus (seu chamado); nossa resposta generosa, a ordenação conferida pela Igreja,
nossa identificação com Cristo, nosso serviço à humanidade.
Hoje, nesta Solene Celebração Eucarística,
diante de Deus, diante de nossos irmãos e irmãs a cujo serviço fomos
consagrados, diante de nossos seminaristas que olham para nós com o ardente
desejo de se unirem, um dia, a este Colégio Presbiteral, somos instados a nos
perguntar: Somos de fato, homens consagrados a Deus na realidade de nosso dia a
dia? Preenchemos nossas horas diárias com um “fazer” que revela, de fato, o
nosso “ser”? Somos homens que atuam a partir de Deus, tendo, como único
objetivo de vida aquele de servi-Lo em nossos irmãos e irmãs?
Queridos padres, a partir desta consagração
recebida no dia de nossa ordenação sacerdotal, em nossas vidas, não há mais
espaço para o “meu” egoísta: tudo e todos: o nosso ser ministerial
especialmente, mas também o nosso trabalho pastoral, as nossas atividades, as
nossas amizades, o nosso lazer, os bens que possuímos, ou seja, tudo o que
temos, o que somos, o que pensamos, o que sonhamos, o que desejamos, enfim,
toda a nossa vida, tudo deve estar submetido a uma única finalidade: sermos
melhores padres. Portanto, tudo o que diminui, ou nos afasta, ou nos impede, ou
nos dificulta de sermos homens consagrados a Deus e ao serviço dele e da igreja
deve ser afastado de nossa vida como um autêntico mal.
Após
esta Homilia, respondendo às perguntas rituais da Renovação das Promessas
Sacerdotais, vamos dizer, sobretudo, duas coisas: em primeiro lugar que
desejamos e vamos continuar a nos esforçar em viver uma união íntima, profunda,
uma união de configuração a Cristo, fonte de nosso ministério, no serviço
humilde da Igreja. Em segundo lugar, vamos renovar a promessa de renunciar à
tentação que todos sofremos, que é a de querer buscar aquilo que é
exclusivamente nosso, renunciar à tão falada e sonhada “auto-realização”: ao
princípio demoníaco de querer reivindicar para nós os projetos de pecado que se
resumem nos três verbos que exprimem um único princípio do mal: o ter, o poder
e o prazer. Quem se deixa subjugar por estes três princípios (ter, poder e
prazer) destrói a própria vida. Se isto já é um mal para o cristão leigo como
tal, imagine a ruína que provoca na alma e na vida daquele que é chamado a ser
Cristo para o mundo, a combater exatamente este princípio na alma e na vida dos
irmãos... Esta sim seria a incoerência máxima de uma vida sacerdotal: assumir
para si, como princípio de vida aquilo que tem como Missão destruir entre os
demais...
O maior mal que pode nos atingir não é o de uma
enfermidade, ou uma contrariedade no Ministério, ou o assumir um trabalho
difícil, onde nos faltem os meios... Tudo isto não é nada diante do verdadeiro
mal que é o trair a Cristo, à Igreja, ao nosso povo e ao nosso sacerdócio,
assumindo em nossa vida valores, ideais e princípios mundanos, usando o dom que
recebemos de Deus para buscarmos uma simples auto-realização, ou pior ainda,
usando nosso Ministério como instrumento para conseguir satisfações humanas.
Irmãos queridos, existem ainda duas palavras,
na Renovação das Promessas Sacerdotais que deveriam nos ajudar ainda mais nesta
reflexão que hoje fazemos. Uma, refere-se ao fato de que, como nos diz São
Paulo, somos “dispensadores dos mistérios de Deus” (1 Coríntios 4,1) e como
tal, temos a missão de ENSINAR. Ensinar as coisas de Deus faz parte deste
ministério, deste serviço. Hoje, nas palavras do Papa Emérito, Bento XVI, há um
analfabetismo religioso profundo espalhado entre nossas populações. O elementar
da fé não é mais conhecido e, portanto, também não é mais vivido... Para viver
o que Deus nos pede, em cada situação, em cada circunstância particular da
vida, bem como para dar um sentido direcional à própria vida é preciso saber,
conhecer o que Deus quer de nós. Mesmo para se poder amar a Deus, é preciso
conhecê-lo. Este Ano da Fé que estamos vivendo deve levar-nos a reagir a esta
situação dramática, vivida em nossas Paróquias e Comunidades. Reajamos, por
amor a Deus e por amor ao nosso povo, criando oportunidades de Formação na Fé,
Escolas da Fé Paroquiais, com ânimo redobrado e dedicação, procurando atingir o
maior número possível de pessoas. Sejamos bons dispensadores dos mistérios de
Deus, ensinando ao nosso povo estes Mistérios santos de nossa Fé.
A segunda palavra refere-se à palavra “ZELO”.
Zelo pelas almas, que significa dizer, zelo pelas pessoas, pelo bem global
daqueles que nos foram confiados. Preocupar-se com os famintos, os doentes, os
sem abrigo, os de idade avançada, as crianças pouco cuidadas, especialmente os
indígenas. Saibamos organizar iniciativas em âmbito comunitário, paroquial, nas
Áreas pastorais e também na Diocese, para ir ao encontro dos mais sofridos e
abandonados. Mas não limitemos nosso zelo a estas situações desumanas. Cuidemos
dos que estão longe de Deus e de sua Igreja, longe dos sacramentos da fé.
Sejamos misericordiosos e compreensivos com todos. Sem trair a doutrina do Evangelho
e as exigências empenhativas da igreja, saibamos acolher a todos: os que já
estão conosco, em nossa vida eclesial, e aqueles que estão longe, afastados,
desiludidos até da fé. Acolhamos especialmente, na caridade, aqueles que vivem
em situação irregular perante a Igreja e o Evangelho. Repito, sem mudar o que
não podemos mudar, saibamos acolher, compreender, estar próximos, oferecer os
espaços possíveis de participação.
As pessoas devem notar nosso zelo, nossa
dedicação e amor a elas. Este é o nosso testemunho vivo do Evangelho de Jesus
Cristo.
Parabéns, queridos padres pelo dia no qual
comemoramos a Instituição do sacerdócio Ministerial.
Deus abençoe e conserve no caminho vocacional a
vocês queridos seminaristas de nosso Seminário Diocesano. A vocês repetirei
sempre, como um refrão: Vale a pena! Vale a pena sacrificar-se e entregar a
própria vida, a juventude, os ideais por Cristo e pela Igreja.
Tenham uma ótima Semana Santa, e uma Santa e
Feliz Páscoa da Ressurreição do Senhor."
+ Antonio Carlos Rossi Keller
Bispo de Frederico Westphalen