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sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Outubro: Recitação do Rosário

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Por Dom Eugênio Cardeal de Araujo Sales.
Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro

O mês de outubro é dedicado a uma antiga, tradicional e eficaz prática religiosa: a recitação do Rosário. O Papa Paulo VI, na Exortação Apostólica sobre “O Culto à Virgem Maria”, de 10 de fevereiro de 1974, afirmou que, segundo a tradição, o Rosário “foi acolhido e autorizadamente proposto pelo nosso Predecessor São Pio V”. Este, eleito após o Concílio de Trento (1566), tornou-se o grande restaurador. Quando Chipre, último baluarte, no Levante, caiu nas mãos do Islã, inimigo mortal da cristandade, o Papa apelou não só para a ação militar, mas para a oração. A extraordinária vitória em Lepanto, a 7 de outubro de 1571, foi atribuída pelos próprios soldados vencedores à oração do Rosário.


Muitos são os documentos pontifícios, exaltando suas benemerências e exortando os fieis a rezá-lo. Essa prática de piedade, é poderoso instrumento contra os inimigos, ostensivos ou velados, da Instituição fundada por Jesus Cristo.

Há abusos entre nós que nem sempre são devidamente corrigidos. As causas de sua permanência podem ser temor ou obediência à palavra do Evangelho: “Deixai-os crescer juntos (o joio e o trigo) até à colheita (…). Arrancai primeiro o joio e atai-o em feixes para ser queimado” (Mt 13,29-30).

Um elemento perturbador, sem dúvida fruto da semeadura do demônio, é a falsa doutrina de que na Igreja tudo depende das bases e que para qualquer ato elas devem ser consultadas. Ocorre que “base”, às vezes, significa simplesmente determinado grupo e “consulta”, o método de ação por parte de uma ditadura de minorias. A maioria do povo de Deus nem é escutada, nem respeitada.

Outro exemplo, ainda, é querer amparo religioso a direitos do operário mediante opção político-partidária fundamentalmente laica. O resultado de tal confusão compromete a missão evangelizadora que nos outorgou o Cristo.

O sagrado direito de governar a Igreja por Ele concedido aos Sucessores dos Apóstolos é inalienável. Nem a omissão em exercê-lo justificaria a intromissão de indivíduos estranhos nessa matéria. Ainda hoje pode haver quem, sem nenhum motivo válido, questione o Santo Padre no seu ministério supremo à frente da Igreja Universal. A autoridade do Bispo às vezes é contestada por grupos organizados e ativos, que chegam às vias de ameaças, caso não sejam acatados os seus desvios doutrinários e disciplinares. Como já possuem uma estrutura montada, é necessário ter coragem para enfrentá-la.

O Concílio Vaticano II, em “Gaudium et Spes” (nº 37), fala da luta que nos acompanha desde o início e, portanto, não devem causar estranheza os problemas, inclusive eclesiásticos, que podem, a qualquer tempo, nos afligir. Diz ele: “Um duro combate contra os poderes das trevas atravessa toda a história humana (…). Inserido nessa luta, o homem deve combater constantemente, se quer ser fiel ao bem”. Para haver paz, os cristãos devem respeitar as crenças dos judeus, dos muçulmanos, dos pagãos, mas também serem respeitados quando defendem sua crença e as consequências da mesma.

Para os discípulos de Jesus, é perene a fonte de esperança. Por isso, alimentados espiritualmente, o pessimismo jamais os dominará. Todos nós acreditamos no poder da prece e na vitória final do Salvador.

O mês de outubro nos estimula à oração do Rosário. Desde São Pio V, os Papas a ele têm recorrido nos momentos difíceis.

Após o Concílio Tridentino, quando a cristandade se encontrava dilacerada, surgiu uma renovação como poucas vezes antes acontecera. Inácio de Loyola com sua ascese, baseada na mística, a grande Teresa de Ávila, São João da Cruz, Francisco de Sales e outros mostraram a inesgotável força da graça, que não se limitou aos conventos ou apenas ao clero. O Terço despertou no meio do povo amplo movimento de espiritualidade. Também peregrinações e procissões, celebrações (hoje, diríamos “paraliturgias”) e cultos ao Santíssimo Sacramento, ao Deus Trino, a Cristo e a Maria, como também aos mais diversos santos, nossos mestres na caminhada para o Senhor.

Entre todas essas formas, tem lugar de destaque o Rosário. Ele é simples, todavia, e com suas imagens bíblicas (os mistérios) não só facilita a meditação, mas o amor concreto a Deus. Nossa intimidade com o Redentor é que elevou a uma dignidade tão alta a nossa pobre natureza humana.

O Papa Paulo VI, em “Marialis Cultus” (nº 42), cita o exemplo de si próprio: “Numa hora de angústia e de insegurança, publicamos a Carta Encíclica “Christi Matri” (15 de setembro de 1966) para que fossem dirigidas orações suplicantes à Bem-aventurada Virgem do Rosário para impetrar de Deus o supremo bem da paz”. Vamos encontrá-la, certamente, na recitação assídua do Terço de Nossa Senhora.

Poucas semanas após sua eleição ao Supremo Pontificado, João Paulo II, falando a cem mil pessoas na Praça de São Pedro, por ocasião do Ângelus do dia 29 de outubro de 1978, proclamou: “O Rosário é a minha oração predileta. Oração maravilhosa. Maravilhosa na simplicidade e na profundidade (…). A todos exorto cordialmente a que o rezem”. A 16 de outubro de 2002, publicou a Carta Apostólica “Rosarium Virginis Mariae” dedicada a este tema.

Também o Santo Padre Bento XVI manifestou sua devoção ao Rosário no seu discurso, em Pompeia a 19 de outubro de 2008, assim se expressando: “Essa popular oração mariana é um meio espiritual precioso para crescer na intimidade com Jesus e para aprender de Cristo, em união espiritual com Maria, a realizar sempre a vontade divina”.

Há uma palavra de garantia ao sucesso de nossa prece: “Pedi e recebereis” (Mt 7,7). No mês de outubro alcançaremos, na recitação do Rosário, o bem espiritual e material, como tantas vezes tem obtido a Igreja no decorrer da História.

sábado, 28 de setembro de 2013

"A criatividade nunca esteve presente na Liturgia cristã" - Dom Henrique Soares da Costa

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Por Dom Henrique Soares da Costa (grifos nossos):
Criatividade. Este conceito nunca esteve presente na Liturgia cristã. É-lhe totalmente estranho!

Na antiguidade mais primitiva, não havia ainda textos litúrgicos formados. É natural, é claro: a Igreja não nascera feita! Fundada pelo Cristo-Deus, foi plasmada pelo Seu Santo Espírito, conforme Sua própria promessa.
Mesmo não havendo ainda textos fixos para o rito liturgico, havia, no entanto, esquemas fixos, que os ministros sagrados deveriam seguir à risca. Portanto, cada ministro, tanto quanto pudesse, uns mais, outros, menos, compunham as orações. Em geral, escreviam-nas antes. Mas, dentro de um esquema fixo. A palavra chave nunca foi criatividade, mas fidelidade à Regra de Fé da Igreja e à lex orandi, isto é, à norma de oração da Igreja.

Logo cedo, os primeiros formulários litúrgicos foram sendo colocados por escrito e fixados. Finalmente, no século IV, com a liberdade de culto concedida aos cristãos, surgiram os grandes textos litúrgicos no Oriente, como a estupenda liturgia de São João Crisóstomo, e do Ocidente (pense-se na antiquissíma Tradição Apostólica de Hipólito de Roma). No Ocidente, a formação dos grandes textos foi mais complexa por vários motivos históricos e culturais. Em todo caso, no séculos VI e VII já se tinham os grandes formulários litúrgicos e a soleníssima Missa Estacional romana, que influenciaria toda a liturgia da Missa da Igreja latina (a Igreja do Ocidente, da qual o Bispo de Roma é o Patriarca, além de Papa de toda a Igreja do Oriente e Ocidente).

Em toda esta complexa e rica evolução histórica nunca se teve em mira a criatividade, mas a ortodoxia. Aliás, a palavra ortodoxia significa reta fé (reta opinião) e também reto louvor, reta glorificação de Deus! Assim, na Celebração litúrgica, o importante, a finalidade é o reto louvor ao Senhor Deus, exprimindo a reta fé pelos ritos sagrados que tornam autuantes na vida de cada crente e de toda a Igreja a salvação celebrada. A criatividade como ideal, objetivo e valor em si simplesmente não faz parte da realidade litúrgica, ao menos não nos vinte e um séculos de história da Igreja do Ocidente e do Oriente. Sendo assim, cedo ou tarde, com a graça de Deus, a ideologia da criatividade litúrgica desaparecerá do horizonte da Igreja, pois não faz parte do genuíno sentir eclesial. É questão de tempo...

Para fins de ilustração, trago alguns exemplos que exemplificam o problema da criatividade e como ela termina por retirar o culto a Deus do centro da Liturgia:

"Missa Mágica"
"Missa fantoche"


sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Vestimentas de um bispo segundo a Igreja Ortodoxa Russa.

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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Os ritos, o homem e a Liturgia - Dom Henrique Soares da Costa

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Missa no rito dominicano (Fonte: New Liturgical Movement)
Por Dom Henrique Soares da Costa (grifos nossos):
No cristianismo, o rito litúrgico tem um sentido profundo, santíssimo e bem claro: na força do Espírito Santo, aqueles gestos, palavras e símbolos tornam realmente presente o mistério da nossa redenção: colocam no PRESENTE da nossa existência com toda a sua força salvadora os santos mistérios salvíficos ocorridos no PASSADO e já nos antecipa a plenitude da salvação que manifestar-se-á sem véus nem limitações no FUTURO.

Portanto, na Liturgia cristã não há cerimônias; há ritos sagrados; não há coreografias, há gestos salvíficos.

Mas, até mesmo do ponto de vista simplesmente humano, cultural, os ritos são necessários! Eis o que disse hoje o intelectual ex-presidente Fernando Henrique, ao tomar posse na Academia Brasileira de Letras:

"Agradeço, comovido, a honra de me sentar em tão ilustre companhia. Não fosse eu algo treinado em antropologia e não houvesse sido casado por tantas décadas com destacada antropóloga, poderia talvez desconsiderar a importância dos ritos que conformam a existência humana, que são elemento insubstituível na tessitura da memória, a que nos agarramos na medida em que o tempo nos consome."

Pois é: sem rito não há memória, não se colhe a transcendência das ações humanas, dos momentos, dos valores que norteiam a existência. Sem ritos, o homem se desumaniza... O rito permeia a nossa existência:
rito para o namoro, para o noivado, rito para o casamento, rito à mesa, rito na sedução, rito na morte, no funeral, no luto, nos pêsames, rito na guerra e na paz. O homem e ser capaz de rito porque é ser capaz de dar significado às coisas e aos acontecimentos...

Isto se dá ao máximo no Rito Sagrado da Liturgia quando o Evento salvífico torna-se ritualmente presente, tornando atuante na nossa vida a presença salvadora do Deus Uno e Trino: os ritos litúrgicos são ação do Filho que traz a salvação do Pai na potência operante do Espírito para que os filhos dos homens participem da vida de filhos de Deus!

Brincar com isso é matar na alma o cristianismo, esvaziar a missão da Igreja de ser sacramento da salvação e diminuir o homem na sua humanidade! É para pensar!

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

A origem e o sentido das Vestes Litúrgicas no Rito Latino

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Texto originalmente publicado na página pessoal no Facebook de Dom Henrique Soares da Costa, Bispo Auxiliar de Aracaju-SE. 

As roupas utilizadas pelos ministros sagrados nas celebrações litúrgicas são derivadas das vestimentas gregas e romanas. Nos primeiros séculos, a forma de vestir das pessoas de uma determinada classe social (os honestiores) foi também adotada para o culto cristão, e esta prática foi mantida na Igreja, mesmo após a paz de Constantino. Como contado por alguns escritores eclesiásticos, os ministros sagrados usavam suas melhores roupas, provavelmente reservadas para a ocasião.

Enquanto que na antiguidade cristã as vestimentas litúrgicas diferiam das de uso cotidiano não pela forma particular, mas apenas pela qualidade dos tecidos e decoração particular, no curso das invasões bárbaras, os costumes, e com eles também a forma de vestir dos novos povos, foram introduzidos no Ocidente, levando a mudanças na moda profana. A Igreja, ao contrário, manteve essencialmente inalteradas as roupas usadas pelos sacerdotes nos cultos públicos; foi assim que as vestimentas de uso cotidiano acabaram por se diferenciar das de uso litúrgico. Na época carolíngia, finalmente, os paramentos próprios de cada grau do sacramento da ordem foram definitivamente definidos, assumindo a aparência que conhecemos hoje.

Além das circunstâncias históricas, os paramentos sacros têm uma função importante nas celebrações litúrgicas: primeiramente, o fato deles não serem usados no cotidiano, tendo assim um caráter cultual, ajuda-nos a romper com o cotidiano e suas preocupações, no momento da celebração do culto divino. Além disso, as formas largas das vestimentas, como por exemplo da casula, põem em segundo plano a individualidade de quem as veste, enfatizando seu papel litúrgico. Pode-se dizer que a “ocultação” do corpo do ministro sob as vestes, em certo sentido, despersonaliza-o, removendo o ministro celebrante do centro, para revelar o verdadeiro Protagonista da ação litúrgica: Cristo. A forma das vestes, portanto, lembra-nos que a liturgia é celebrada in persona Christi, e não em próprio nome.

Aquele que exerce uma função de culto não atua como indivíduo por si mesmo, mas como ministro da Igreja e como instrumento nas mãos de Jesus Cristo. O caráter sagrado dos paramentos provém também do fato de que são vestidos conforme prescreve o Ritual Romano.

1) À lavagem das mãos se segue a vestidura propriamente dita.

2) Inicia-se com o amito, um pano retangular de linho dotado de duas fitas, que repousa sobre os ombros junto ao pescoço. O amito destina-se a cobrir, ao redor do pescoço, a vestimenta utilizada diariamente, ainda que se trate do hábito do sacerdote. Nesse sentido, é preciso lembrar que o amito também é usado quando se está vestido com roupas de estilo moderno, que muitas vezes não apresentam uma grande abertura em torno do pescoço. De qualquer forma, portanto, as roupas comuns permanecem visíveis e por isso é preciso cobri-las também, nestes casos, com o amito.


No Rito Romano, o amito é vestido antes da alva (túnica). Ao vesti-lo, o sacerdote recita a seguinte oração:


Impone, Domine, capiti meo galeam salutis, ad expugnandos diabolicos incursus.


(Colocai, Senhor, na minha cabeça o elmo da salvação para que possa repelir os golpes de Satanás)


Com referência à carta de São Paulo aos Ef 6,17, o amito é interpretado como "o elmo da salvação”, que deve proteger o portador das tentações do demônio, em especial de pensamentos e desejos malévolos durante a celebração litúrgica. Este simbolismo é ainda mais evidente no costume seguido desde a Idade Média pelos monges beneditinos, franciscanos e dominicanos, entre os quais o amito era posicionado sobre a cabeça e deixado recair sobre a casula ou a dalmática.

3) A alva consiste na veste longa e branca utilizada por todos os ministros sagrados, e que representa a nova veste imaculada que todo cristão recebe mediante o batismo. A alva é portanto um símbolo da graça santificante recebida no primeiro sacramento, e é considerada também um símbolo da pureza de coração necessária para o ingresso na graça eterna da contemplação de Deus no céu (cf. Mt 5,8). Isso é expresso na oração recitada pelo sacerdote enquanto veste a peça, oração que se refere ao Ap 7,14:

Dealba me, Domine, et munda cor meum; ut, in sanguine Agni dealbatus, 
gaudiis perfruar sempiternis.


(Revesti-me, Senhor, com a túnica de pureza, e limpai o meu coração, para que, banhado no Sangue do Cordeiro, mereça gozar das alegrias eternas).

4) Sobre as vestes, na altura da cintura, é colocado o cíngulo, um cordão de lã ou outro material apropriado, que é usado como cinto.

Todos os oficiantes que portam a alva devem também portar o cíngulo (esta prática tradicional é hoje frequentemente ignorada).


Para diáconos, sacerdotes e bispos, o cíngulo pode ser de cores diferentes, de acordo com o tempo litúrgico ou a memória do dia. No simbolismo das vestes litúrgicas, o cíngulo representa a virtude do auto-controle, que São Paulo enumera entre os frutos do Espírito (cf. Gl 5,22). A oração correspondente, como na 1Pd 1,13 diz:


Praecinge me, Domine, cingulo puritatis, et exstingue in lumbis meis humorem libidinis; ut maneat in me virtus continentiae et castitatis.


(Cingi-me, Senhor, com o cíngulo da pureza, e extingui nos meus rins o fogo da paixão, para que resida em mim a virtude da continência e da castidade)

5) O manípulo é um paramento litúrgico usado nas celebrações da Santa Missa segundo a forma extraordinária do Rito Romano; caiu em desuso nos anos da reforma litúrgica, embora não tenha sido abolido. É semelhante à estola, mas de menor comprimento, inferior a um metro, e é fixado por meio de presilhas ou fitas como as da casula. Durante a Santa Missa em sua forma extraordinária, o celebrante, o diácono e subdiácono o portam sobre o antebraço esquerdo. É possível que este paramento derive de um lenço (mappula) utilizado pelos romanos amarrado ao braço esquerdo. Uma vez que era utilizado para enxugar as lágrimas e o suor da face, escritores eclesiásticos medievais atribuíram ao manípulo um simbolismo associado às fadigas do sacerdócio. Esta leitura também está presente na oração de sua vestidura:

Merear, Domine, portare manipulum fletus et doloris; 
ut cum exsultatione recipiam mercedem laboris.


(Fazei, Senhor, que mereça trazer o manípulo do pranto e da dor, para que receba com alegria a recompensa do meu trabalho).


Como se vê, no início da oração mencionam-se as lágrimas e a dor que acompanham o ministério sacerdotal, mas a segunda parte do texto refere-se aos frutos do próprio trabalho. Não será fora de propósito recordar a passagem de um salmo que pode ter inspirado esta segunda simbologia referente ao manípulo, visto que a Vulgata assim apresentava o Sl 125,5-6: " Qui seminant in lacrimis in exultatione metent; euntes ibant et flebant portantes semina sua, venientes autem venient inexultatione portantes manipulos suos".

6) A estola é o elemento distintivo de um ministro ordenado e é sempre usada na celebração dos sacramentos e sacramentais. É uma faixa de tecido, em geral bordado, cuja cor varia de acordo com o tempo litúrgico ou o dia santo. Ao vesti-la, o sacerdote recita a seguinte oração:

Redde mihi, Domine, stolam immortalitatis, quam perdidi in praevaricatione primi parentis; et, quamvis indignus accedo ad tuum sacrum mysterium, merear tamen gaudium sempiternum.


(Restitui-me, Senhor, a estola da imortalidade, que perdi na prevaricação do primeiro pai, e, ainda que não seja digno de me abeirar dos Vossos sagrados mistérios, fazei que mereça alcançar as alegrias eternas).


Dado que a estola é um paramento de suma importância, indicando mais do que qualquer outro a condição de ministro ordenado, não se pode deixar de lamentar o abuso, já largamente difundido, por parte de alguns sacerdotes, que não a usam em conjunto com a casula.

7) Finalmente, veste-se a casula ou planeta, a vestimenta característica daqueles que celebram a Santa Missa. Os livros litúrgicos usavam as duas palavras, em latim casula e planeta, como sinônimos. Enquanto o nome planeta foi usado em particular em Roma e acabou por permanecer na Itália, o nome casula deriva da forma típica da vestimenta, que originalmente circundava todo o corpo do ministro sagrado que a portava. O uso da palavra “casula” também é encontrado em outros idiomas: "Casulla”, em espanhol, “Chasuble” em francês e em Inglês, "Kasel" em alemão. Oração para vestidura da casula remete ao convite de Cl 3,14: “Sobretudo, revesti-vos do amor, que une a todos na perfeição”. E, de fato, a oração com a qual se veste a casula cita as palavras do Senhor contidas em Mt 11,30:

Domine, qui dixisti: Iugum meum suave est, et onus meum leve: fac, ut istud portare sic valeam, quod consequar tuam gratiam. Amen.


(Senhor, que dissestes: O meu jugo é suave e o meu peso é leve, fazei que o suporte de maneira a alcançar a Vossa graça. Amém).


"Em conclusão, espera-se que a redescoberta do simbolismo associado aos paramentos e suas orações incentive os sacerdotes a retomar a prática da oração durante a vestição, de modo a se preparar com o devido recolhimento à celebração litúrgica. Se é verdade que é possível rezar com diferentes orações, ou ainda simplesmente elevando a mente a Deus, por outro lado, os textos da oração de vestição trazem a brevidade, a precisão de linguagem, a inspiração da espiritualidade bíblica e o fato de que são rezados pelos séculos por um número incontável de ministros sagrados. Estas orações são recomendadas ainda hoje, para a preparação da celebração litúrgica, e também realizadas de acordo com a forma ordinária do Rito Romano".

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O nome da virgem era Maria

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Hoje celebramos a festa do Santíssimo Nome de Maria. Para melhor viver esta data litúrgica, trago a transcrição de uma meditação do Pe. Georges Chevrot:
O NOME DE MARIA

Maria. O anjo Gabriel, ao saudar Nossa Senhora, não a chama imediatamente pelo nome, evidentemente temendo surpreender por tamanha familiaridade vinda de um visitante desconhecido. Contudo em seguida diz: Não temas, Maria (Lc 1, 30). São Lucas não espera o fim do diálogo para informar, o evangelista parece impaciente em fornecer seu nome, logo no início diz: o nome da virgem era Maria (Lc 1, 27).

Quem não fica feliz em repetir com frequência o nome de um ente querido? Recordar o nome provoca um sentimento de presença da pessoa ausente. É muita estu­pidez criticar os católicos por venerar o nome de Maria. A Igreja aprovou tal prática, no século XVI instituiu uma festa em honra deste nome bendito. O costume é muito antigo, anterior ao Cristianismo. No Antigo Testamento, era habi­tual usar nome para se referir à própria pessoa, nos salmos encontramos muitos exemplos. Nosso Senhor ensinou a rezar: Santificado seja o teu nome. O apóstolo São Pedro proclama que o nome de Jesus é o único que pode salvar: Em nenhum outro há salvação, porque debaixo do céu ne­nhum outro nome foi dado aos homens (At 4,12). Eviden­temente que se refere à pessoa do Salvador.

A leitura da Bíblia leva a outra consideração. Observa­mos que os nomes também indicam características das pes­soas. Eva significa mãe dos viventes; Deus muda o nome de Jacó para Israel, que significa mais forte que Deus. Por ordem divina, o precursor do Senhor deverá receber o nome de João, que significa Deus foi favorável. José recebe a ordem de colocar no menino o nome de Jesus, que significa Deus salva.

Joaquim e Ana escolheram chamar a filha de Mariam, nome muito comum naquele tempo. Pela providência podemos acreditar que o nome escolhido foi de inspiração divina. Um excelente autor espiritual escreveu:

Somente Deus podia escolher um nome para sua mãe. Como no batismo, quando a criança é nomeada em voz alta é gerada para a vida da graça, assim também aconte­ceu no instante em que Deus criou a alma da Virgem San­tíssima, a augusta Trindade nomeou Maria em voz alta diante do coro dos anjos. Deus já havia nomeado-a desde a eternidade. Para Deus, conceber ou nomear é a mesma coisa. [1]

O padre Broise concorda com a ideia:

Vemos muitos exemplos na Escritura em que Deus nomeia seus servidores, então podemos piamente acreditar que o nome de sua mãe não foi escolhido aleatoriamente ou por vontade humana. [2]

O nome é pouco utilizado na história antiga de Israel. Na forma mais primitiva o nome Myriam é encontrado ape­nas na irmã de Moisés. Seria de origem egípcia, e significaria Amada de Deus. Na pronúncia Mariam, tanto no aramaico como no sírio tem vários significados. Um sábio jesuíta ale­mão recorreu pacientemente a todas as etimologias que se derivaram da palavra e encontrou 67 variações. As inter­pretações comumente aceitas harmonizam-se com a mis­são da Santíssima Virgem. No aramaico primitivo Mariam significa a iluminadora, que procede do invisível. Mariam evoca também a ideia de amargura. O sentido seria: amar­go, mirra. A tradução proposta por São Jerônimo teve muita receptividade: gota do mar. Depois Stilla marís (gota do mar) se transformou em Stella maris (estrela do mar) por um erro de copista ou porque os camponeses romanos pronunciavam as vezes desta forma. A ligeira confusão valeu um dos títulos mais clássicos da piedade mariana e um dos hinos mais belos Ave maris stella, composto por São Bernardo.

Outra tradução seria soberana, princesa, senhora. Este último é o mais utilizado pela tradição cristã. Jesus é Nosso Senhor, Maria é Nossa Senhora.

As explicações do nome de Mariam correspondem aos mistérios do Rosário, colocando em destaque as três principais funções que Deus confiou a Maria.

Nos cinco mistérios gozosos, Maria aparece como a iluminadora de uma terra pecadora. Nela, o Verbo, luz dos homens, se encarnou; através dela santifica João Batista; então, no meio da noite, a luz se levanta sobre o mundo; depois, Maria apresenta no Templo aquele que deve ilu­minar todos os povos. A primeira parte da missão esta concluída: Jesus agora deve dedicar-se aos assuntos do Pai. Passam-se os anos. Voltamos a encontrar Maria traspassada pela espada da dor, associando-se ao sacrifício de Nosso Redentor. A dor é a gota mais amarga do cálice que Jesus recebe em Getsêmani e que oferece na cruz pela redenção da humanidade.

Porém seu Filho não podia permanecer cativo da morte. Na Igreja nascente, que canta a glória do ressus­citado, Nossa Senhora reza com os discípulos, que aguar­dam a descida do Espírito Santo. Então, devolve a Deus o Filho que havia lhe sido confiado; em breve, como Rainha do Céu, compartilhará ao seu lado o triunfo, intercedendo por cada um de nós.

Ave Maria. Que seu nome seja nossa luz quando a dúvida envolve e a tentação ataca! Que a recordação da paixão do calvário alivie as dores, quando estamos deses­perados! Devemos invocar o nome de Maria em nossas an­gústias, porque ela é nossa soberana protetora. No caminhar de cada dia, elevemos o olhar para a Estrela do mar.

Quando se levantam os ventos das tentações, quando se tropeça nas pedras da tribulação, olhe para a estrela e chame por Maria. Quando se agitam as ondas da soberba, da ambição e da inveja, olhe para a estrela e chame por Maria. Quando a ira, a avareza e a Impureza assaltam violentamente a alma, olhe para Maria. Quando perturbado pela memória dos pecados, confuso pela fealdade da consciência, temeroso pela ideia do Juízo, mergulhado no abismo do desespero, pense em Maria, invoque Maria. Nunca afaste Maria dos lábios e do coração; nunca se afaste dos exemplos e das virtudes de Nossa Senhora. Não se extravia quem a segue, não se desespera quem pede sua ajuda, não se perde quem pensa nela. Ninguém cai quando está segurando a mão de Maria. Quando se está sob a proteção da Virgem Santíssima, nada a temer. Não se canso quem a tem por guia; quem é amparado por ela chega felizmente ao porto seguro. Assim se compreende pela própria experiência o que foi escrito: o nome do virgem era Maria. [3]
[1] Monsenhor Gay, Elevações.
[2] De la Broise, A Santíssima Virgem.
[3] São Bernardo de Claraval, Segunda homilia sobre Missus est. 
Fonte: CHEVROT, Georges. Ave Maria: história e meditação. São Paulo, Factash Editora, 2011, pp. 32-39.

Para mais informações sobre a evolução histórica desta celebração litúrgica, que havia sumido no Rito Romano moderno e foi restaurada na terceira edição do Missal Romano, em 2002, recomendo o excelente artigo publicado hoje por nosso parceiro, Associação Redemptionis Sacramentum.

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