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quinta-feira, 14 de maio de 2009

Coram Deo, versus populum e arranjo beneditino.

,Durante a maior parte dos últimos dois milênios, na Igreja Latina, a Santa Missa foi celebrada estando o sacerdote voltado para o oriente, seja o oriente real ou litúrgico. É a chamada celebração ad orientem.

O oriente é, para nós da Igreja Latina, a direção em que se localiza Jerusalém, a cidade que é modelo do paraíso (chamado de Nova Jerusalém) e onde Nosso Salvador foi morto no madeiro da cruz. Também no oriente nasce o Sol e Jesus Cristo é o verdadeiro Sol pois é a luz do mundo. As igrejas, no passado, eram construídas voltadas para o oriente. As basílicas romanas, contudo, eram voltadas para o ocidente. Nelas, e em algumas outras, o sacerdote voltava-se para a congregação (versus populum) para celebrar. Na foto abaixo, vemos o Papa Pio XII celebrando a missa tradicional voltado para a congregação.

O oriente passou a ser antes o oriente litúrgico que o oriente real. Estando o sacrário, em geral, no fundo dos presbitérios, o sacerdote celebrava voltado para ele, volvendo-se para a congregação nas admonições e para a homilia, independentemente da arquitetura da igreja. Desde então, a maior parte das igrejas foi construída tendo o altar grudado a um retábulo, ambos no fundo da nave ou no fim do presbitério, como o belíssimo abaixo.

Depois do Concílio Vaticano II, essa forma de construção passou a ser proibida. Os novos altares deveriam estar no centro do presbitério e não mais grudados à parede. Não se sabe muito bem a razão, isso foi mal entendido. Belíssimos retábulos foram destruídos, tornados pó. Missas e mais missas passaram a ser celebradas com o padre voltado para a congregação, muitas vezes ficando de costas para o sacrário, onde se encontra Nosso Senhor sob as espécies consagradas.

Raríssimo altar pós-conciliar preparado para celebração ad orientem.

É importante ressaltar que houve uma mudança na norma de construção das novas igrejas, e jamais uma ordem para mudar o que já estava construído e, muito menos, uma indicação que os sacerdotes deveriam celebrar "voltados para o povo". Um pseudo-progressismo quer fazer entender que é mais adequado ao povo que o padre a eles esteja voltado. Ora, me parece muito mais igualitário que todos estejam voltados para o mesmo lado, que é o que geralmente ocorre na celebração ad orientem (ao oriente), também chamada coram Deo (na frente de Deus) ou versus Deum (voltado para Deus), em contraposição ao versus populum (voltado para o povo).

Papa celebrando coram Deo na Capela Sistina.

Infelizmente essa mudança se disseminou, e não há coisa mais difícil de se achar que missas segundo o missal de Paulo VI com orientação coram Deo. Essa tradição plena de significado (a união dos orantes voltados para o seu Deus, entre os outros já citados) se perdeu, remanescendo apenas nas celebrações da missa segundo o missal tridentino, o que concorre para grande confusão. Tanto a forma ordinária quanto a extraordinária do rito romano aceitam ambas as
configurações -- versus Deum ou versus populum. O Papa Bento XVI celebra coram Deo quando na Capela Sistina, a última missa de São Pio de Pietrelcina foi celebrada versus populum, conforme mostra o vídeo abaixo.


O Papa, para tentar retomar o sentido do oriente litúrgico, sem causar grandes reboliços, aventou uma forma nova de preparar o altar, chamada, em sua homenagem, de "arranjo beneditino", que consiste em colocar, na frente do altar, quando da celebração versus populum, seis candelabros com velas (sete, quando é o ordinário local) e uma cruz no centro, voltada para o celebrante. O celebrante, então, volta-se para o Crucificado enquanto oficia a Missa, sendo assim versus Deum. Ao mesmo tempo o povo o vê por trás da cruz, sendo assim também versus populum.


Esse arranjo é possível em todas as paróquias, e é recomendável que o adotem.

16 comentários:

  1. Importante:

    Cabe lembrar que, como o Santo Padre expõe em seu livro "Introdução ao Espírito da Liturgia", antigamente quando o Sacerdote celebrava voltado para o oriente e para a assembléia, os fiéis durante a Oração Eucarítica voltavam-se também para o oriente, dando eles as costas ao altar e ao Sacerdote.

    Sacerdotes e fiéis "frente-a-frente", durante o Santo Sacrifício, é algo estranho à tradição litúrgica católica - embora penso que possa ser justificado por razões pastorais, dependendo da ocasião. Mas nesses casos, penso que mais adequado que se utilize então o "arranjo beneditino".

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  2. Se não me engano, o Missal fala em 2, ou 4 ou 6 ou 7 velas na Santa Missa. Sei que 7, conforme o texto, somente quando é o ordinário local.
    Em outras celebrações, deve-se variar a quantia de acordo com a data? (Festa, Memória, Solenidade...) ou não há relação?

    Obrigado,
    Danilo

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  3. Pra mim "coram Deo" designa o sacerdote que, mesmo estando "versus populum", celebra com o coração voltado para Deus. Sem se preocupar em "aparecer" para o povo ou qualquer coisa do tipo (como faz o Papa ou o pe. João Batista, por exemplo).

    Não estou com o livro em mãoes para confirmar, mas se não me engano o então Cardeal Ratzinger tratou disso no "Introdução ao Espírito da Liturgia", já defendendo inclusive a colocação do crucifixo no centro do altar.

    Por falar nisso, a maneira como o Papa arranja o altar não é exatamente nova. O Opus Dei e padres liturgicamente mais "conservadores" já utilizavam as seis velas e o crucifixo no meio mesmo antes de Ratzinger ser eleito.

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  4. Domingos e solenidades pedem seis velas. Não é obrigatório, mas vivamente recomendável. Festas quatro, e demais dias duas. Mas sempre se pode ter seis.

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  5. Ótimo post!!! Ainda ontem estava pesquisando sobre o arranjo beneditino.

    Quando se usa esse arranjo, a cruz entra na procissão ou já inicia sobre o altar?

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  6. Daniel, a cruz processional NÃO é a cruz do altar. Basta uma só cruz no presbitério durante a Missa, pela IGMR, mas no caso de já se ter uma sobre o altar, a processional só vai na procissão e depois é recolhida à sacristia.

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  7. Em primeiro lugar parabéns pela iniciativa do "Salvem a Liturgia". Depois, relamente o Papa Bento está realizando uma reforma da reforma como já tem sido afirmado diversas vezes. É a adesão e o apoio de sacerdotes e leigos que farão co mque essa reforma se realize.
    Mais do que nunca a internet tem facilitado a comunicção e eo encontro de todos os que apoiam e são fiéis ao Santo Padre.

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  8. Sobre o tema das velas no altar e a Liturgia dignamente celebrada no Rito Ordinario teria também algumas fotos.

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  9. o altar-mesa, não grudado, é o mais antigo, sem dúvida, mas a posição ad orientem é a única utilizada na Igreja, em todos os ritos até o Vaticano II.

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  10. Vi o vídeo do Padre Pio e pelas imagens apresentadas ninguém poderá garantir que ele está de frente para o povo. Este tipo de imagem (cinematográfica), usa-se em cinema para "dar a ilusão" de que duas cenas estão ligadas quando na realidade não estão (ou podem não estar). Neste caso vê-se uma cena com o Padre Pio virado para a direita e vê-se outra cena com o povo virado para a esquerda.
    Em cinema, o espectador é "levado a interpretar". E neste caso é como se víssemos o Padre Pio com o olho esquerdo e o povo com o olho direito.

    Não pretendo desmentir o que até pode ter sido verdade, mas é preciso algum cuidado ao tirar conclusões que poderão não ter sido verdade.

    Em cinema, com uma montagem de duas cenas, ou "em directo" com duas câmaras montadas em posições diferentes, pode, nestes dois casos, provocar uma ilusão, e levar assim a conclusões "enganosas".

    Em relação ao tema da "posição do Sacerdote", não podendo eu ditar regras, posso no entanto dar uma opinião de como entendo este tema.

    1º - Qualquer Igreja construída com o fim de celebrar a Santa Missa, deve deixar uma coxia central em direcção ao "Dono" da Casa, isto é, ao Sacrário, que deve estar assim no centro, ao fundo e ser visível de todos os lados da Igreja e com devida presença da lamparina.

    2º - Com o Sacrário nesta posição, encimado por um Crucifixo e independentemente da sua direcção geográfica, o Sacerdote (orando a Deus ou oferecendo o Sacrifício), deve estar sempre virado para o Sacrário.
    Estando Jesus Cristo (Mistério da Fé), presente no Sacrário em Corpo, Sangue, Alma e Divindade, nenhuma outra posição faz sentido (para mim).

    O Sacerdote deve virar-se para Deus, onde REALMENTE ESTÁ DEUS, no Mistério da Trindade.

    3º - É uma grande falta de respeito falar para alguém, de costas. E para Deus, não é?

    4º - Numa Missa celebrada num recinto (fora da Igreja), apesar de não haver Sacrário, deve o Sacerdote estar virado para um Crucifixo ladeado por velas (2,4,6?) e tendo povo por trás, que no entanto se pode expandir lateralmente.
    Nunca o povo deve estar de frente para o Sacerdote no momento em que o Sacerdote oferece o Sacrifício em seu nome e em nome do povo.

    « Nas missas em que o Sacerdote "oferece" (?) olhando para o povo, onde fica o sentido do Sagrado?
    O resultado é o que vemos por aí, tristemente.
    Já não é o Sacerdote que celebra (porque ele não quer). E o povo, orgulhoso da sua nova condição, bate palmas e canta dançando.
    E assim se transforma o que deveria ser uma Santa Missa, num "simples banquete", numa festa.

    « - A Santa Missa é a oferta do mais precioso Sacrifício que jamais foi oferecido ao Pai, depois da Criação. É o acto mais importante da Vida (deveria ser), em que une a criatura ao seu Criador. Jesus Cristo oferece-nos um meio de impetração (súplica) e de reparação. E mete-nos na Luz de Deus, na medida em que há "Alguém" que responde e paga por nós ».

    5º - Só quando o Sacerdote "fala" para o povo, (nas leituras, na homilia, etc), é que deve estar virado para o povo.

    Isto é apenas uma opinião. É assim que eu "gosto" de estar na Missa, numa Santa Missa.

    José Costa.

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  11. LG, esse altar num centro da Obra: de onde é?

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  12. Olá!
    Na paroquia onde eu costumo ir existe uma cruz com cristo crucificado na parede. ela tem mais ou menos 2 metros. gostaria de saber se tem a possibilidade do celebrante por uma cruz no altar? ou trazer uma na procissão e deixa-la no presbiterio? lembrando que existe uma cruz enorme pregada na parede.

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  13. Tenho uma dúvida: se no presbiterio ja houver uma cruz fixa na parede, e for fazer o arranjo beneditino, essa cruz teria q ser retirada? Pq, afinal, deve-se haver apenas uma cruz, nao?

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    Respostas
    1. A cruz do altar não impede que tenha a cruz na parede. A cruz do altar apenas retoma o sentido de celebrar voltado a Deus.

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  14. Vocês sabem me informar qual capela é aquela do altar pós conciliar? Parece ser algum da Opus Dei. Gostaria de tirar algumas idéias para uma capela e ver outras fotos.

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  15. o número de velas (de 2 a 6 ou 7 com o Bispo) pode mudar de acordo com o grau de solenidade da Missa?

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