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sábado, 28 de março de 2020

Texto integral da homilia do Papa Francisco em 27/03/2020

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HOMILIA DO SANTO PADRE

Adoração do Santíssimo

e Bêncão Urbi et Orbi
(«Sagrado» da Basílica de S. Pedro, 27 de março de 2020)
«Ao entardecer…» (Mc 4, 35): assim começa o Evangelho, que ouvimos. Desde há semanas que parece o entardecer, parece cair a noite. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo dum silêncio ensurdecedor e um vazio desolador, que paralisa tudo à sua passagem: pressente-se no ar, nota-se nos gestos, dizem-no os olhares. Revemo-nos temerosos e perdidos. À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos. Tal como os discípulos que, falando a uma só voz, dizem angustiados «vamos perecer» (cf. 4, 38), assim também nós nos apercebemos de que não podemos continuar estrada cada qual por conta própria, mas só o conseguiremos juntos.
Rever-nos nesta narrativa, é fácil; difícil é entender o comportamento de Jesus. Enquanto os discípulos naturalmente se sentem alarmados e desesperados, Ele está na popa, na parte do barco que se afunda primeiro... E que faz? Não obstante a tempestade, dorme tranquilamente, confiado no Pai (é a única vez no Evangelho que vemos Jesus a dormir). Acordam-No; mas, depois de acalmar o vento e as águas, Ele volta-Se para os discípulos em tom de censura: «Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» (4, 40).
Procuremos compreender. Em que consiste esta falta de fé dos discípulos, que se contrapõe à confiança de Jesus? Não é que deixaram de crer N’Ele, pois invocam-No; mas vejamos como O invocam: «Mestre, não Te importas que pereçamos?» (4, 38) Não Te importas: pensam que Jesus Se tenha desinteressado deles, não cuide deles. Entre nós, nas nossas famílias, uma das coisas que mais dói é ouvirmos dizer: «Não te importas de mim». É uma frase que fere e desencadeia turbulência no coração. Terá abalado também Jesus, pois não há ninguém que se importe mais de nós do que Ele. De facto, uma vez invocado, salva os seus discípulos desalentados.
A tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades. Mostra-nos como deixamos adormecido e abandonado aquilo que nutre, sustenta e dá força à nossa vida e à nossa comunidade. A tempestade põe a descoberto todos os propósitos de «empacotar» e esquecer o que alimentou a alma dos nossos povos; todas as tentativas de anestesiar com hábitos aparentemente «salvadores», incapazes de fazer apelo às nossas raízes e evocar a memória dos nossos idosos, privando-nos assim da imunidade necessária para enfrentar as adversidades.
Com a tempestade, caiu a maquilhagem dos estereótipos com que mascaramos o nosso «eu» sempre preocupado com a própria imagem; e ficou a descoberto, uma vez mais, aquela (abençoada) pertença comum a que não nos podemos subtrair: a pertença como irmãos.
«Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» Nesta tarde, Senhor, a tua Palavra atinge e toca-nos a todos. Neste nosso mundo, que Tu amas mais do que nós, avançamos a toda velocidade, sentindo-nos em tudo fortes e capazes. Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente. Agora nós, sentindo-nos em mar agitado, imploramos-Te: «Acorda, Senhor!»
«Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» Senhor, lanças-nos um apelo, um apelo à fé. Esta não é tanto acreditar que Tu existes, como sobretudo vir a Ti e fiar-se de Ti. Nesta Quaresma, ressoa o teu apelo urgente: «Convertei-vos…». «Convertei-Vos a Mim de todo o vosso coração» (Jl 2, 12). Chamas-nos a aproveitar este tempo de prova como um tempo de decisão. Não é o tempo do teu juízo, mas do nosso juízo: o tempo de decidir o que conta e o que passa, de separar o que é necessário daquilo que não o é. É o tempo de reajustar a rota da vida rumo a Ti, Senhor, e aos outros. E podemos ver tantos companheiros de viagem exemplares, que, no medo, reagiram oferecendo a própria vida. É a força operante do Espírito derramada e plasmada em entregas corajosas e generosas. É a vida do Espírito, capaz de resgatar, valorizar e mostrar como as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns (habitualmente esquecidas), que não aparecem nas manchetes dos jornais e revistas, nem nas grandes passarelas do último espetáculo, mas que hoje estão, sem dúvida, a escrever os acontecimentos decisivos da nossa história: médicos, enfermeiros e enfermeiras, trabalhadores dos supermercados, pessoal da limpeza, curadores, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e muitos – mas muitos – outros que compreenderam que ninguém se salva sozinho. Perante o sofrimento, onde se mede o verdadeiro desenvolvimento dos nossos povos, descobrimos e experimentamos a oração sacerdotal de Jesus: «Que todos sejam um só» (Jo 17, 21). Quantas pessoas dia a dia exercitam a paciência e infundem esperança, tendo a peito não semear pânico, mas corresponsabilidade! Quantos pais, mães, avôs e avós, professores mostram às nossas crianças, com pequenos gestos do dia a dia, como enfrentar e atravessar uma crise, readaptando hábitos, levantando o olhar e estimulando a oração! Quantas pessoas rezam, se imolam e intercedem pelo bem de todos! A oração e o serviço silencioso: são as nossas armas vencedoras.
«Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» O início da fé é reconhecer-se necessitado de salvação. Não somos autossuficientes, sozinhos afundamos: precisamos do Senhor como os antigos navegadores, das estrelas. Convidemos Jesus a subir para o barco da nossa vida. Confiemos-Lhe os nossos medos, para que Ele os vença. Com Ele a bordo, experimentaremos – como os discípulos – que não há naufrágio. Porque esta é a força de Deus: fazer resultar em bem tudo o que nos acontece, mesmo as coisas ruins. Ele serena as nossas tempestades, porque, com Deus, a vida não morre jamais.
O Senhor interpela-nos e, no meio da nossa tempestade, convida-nos a despertar e ativar a solidariedade e a esperança, capazes de dar solidez, apoio e significado a estas horas em que tudo parece naufragar. O Senhor desperta, para acordar e reanimar a nossa fé pascal. Temos uma âncora: na sua cruz, fomos salvos. Temos um leme: na sua cruz, fomos resgatados. Temos uma esperança: na sua cruz, fomos curados e abraçados, para que nada e ninguém nos separe do seu amor redentor. No meio deste isolamento que nos faz padecer a limitação de afetos e encontros e experimentar a falta de tantas coisas, ouçamos mais uma vez o anúncio que nos salva: Ele ressuscitou e vive ao nosso lado. Da sua cruz, o Senhor desafia-nos a encontrar a vida que nos espera, a olhar para aqueles que nos reclamam, a reforçar, reconhecer e incentivar a graça que mora em nós. Não apaguemos a mecha que ainda fumega (cf. Is 42, 3), que nunca adoece, e deixemos que reacenda a esperança.
Abraçar a sua cruz significa encontrar a coragem de abraçar todas as contrariedades da hora atual, abandonando por um momento a nossa ânsia de omnipotência e possessão, para dar espaço à criatividade que só o Espírito é capaz de suscitar. Significa encontrar a coragem de abrir espaços onde todos possam sentir-se chamados e permitir novas formas de hospitalidade, de fraternidade e de solidariedade. Na sua cruz, fomos salvos para acolher a esperança e deixar que seja ela a fortalecer e sustentar todas as medidas e estradas que nos possam ajudar a salvaguardar-nos e a salvaguardar. Abraçar o Senhor, para abraçar a esperança. Aqui está a força da fé, que liberta do medo e dá esperança.
«Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» Queridos irmãos e irmãs, deste lugar que atesta a fé rochosa de Pedro, gostaria nesta tarde de vos confiar a todos ao Senhor, pela intercessão de Nossa Senhora, saúde do seu povo, estrela do mar em tempestade. Desta colunata que abraça Roma e o mundo desça sobre vós, como um abraço consolador, a bênção de Deus. Senhor, abençoa o mundo, dá saúde aos corpos e conforto aos corações! Pedes-nos para não ter medo; a nossa fé, porém, é fraca e sentimo-nos temerosos. Mas Tu, Senhor, não nos deixes à mercê da tempestade. Continua a repetir-nos: «Não tenhais medo!» (Mt 14, 27). E nós, juntamente com Pedro, «confiamos-Te todas as nossas preocupações, porque Tu tens cuidado de nós» (cf. 1 Ped 5, 7).

Súplica litânica - utilizada na Adoração ao Santíssimo com o Santo Padre, o Papa Francisco, no dia 27/03/2020

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Súplica litânica - utilizada na Adoração ao Santíssimo com o Santo Padre, o Papa Francisco, no dia 27/03/2020 suplicando o fim da pandemia de COVID-19
Verdadeiro Deus e verdadeiro homem, realmente presente neste Santo Sacramento
Nós vos adoramos, Senhor
Nosso Salvador, Deus-conosco, fiel e rico em misericórdia
Nós vos adoramos, Senhor
Rei e Senhor da criação e da história
Nós vos adoramos, Senhor
Vencedor do pecado e da morte
Nós vos adoramos, Senhor
Amigo do homem, ressuscitado e vivo à direita do Pai
Nós vos adoramos, Senhor
Filho unigênito do Pai, descido do Céu para a nossa salvação
Nós cremos em Vós, ó Senhor
Médico celeste, que vos dobrai sobre a nossa miséria
Nós cremos em Vós, ó Senhor
Cordeiro imolado, que vos ofereceis para resgatar-nos do mal
Nós cremos em Vós, ó Senhor
Bom Pastor, que dais a vida pelo rebanho que amais
Nós cremos em Vós, ó Senhor
Pão vivo e remédio de imortalidade, que nos dais a Vida eterna
Nós cremos em Vós, ó Senhor
Do poder de Satanás e das seduções do mundo
Livrai-nos, ó Senhor
Do orgulho e da presunção de poder viver sem Vós
Livrai-nos, ó Senhor
Dos enganos do medo e da angústia
Livrai-nos, ó Senhor
Da incredulidade e do desespero
Livrai-nos, ó Senhor
Da dureza de coração e d incapacidade de amar
Livrai-nos, ó Senhor
De todos os males que afligem a humanidade
Salvai-nos, ó Senhor
Da fome, da pobreza e do egoísmo
Salvai-nos, ó Senhor
Das doenças, das epidemias e do medo do irmão
Salvai-nos, ó Senhor
Da loucura devastadora, dos interesses implacáveis e da violência
Salvai-nos, ó Senhor
Das insídias, da má informação e da manipulação das consciências
Salvai-nos, ó Senhor
Olhai para a vossa Igreja, que atravessa o deserto
Consolai-nos, ó Senhor
Olhai para a humanidade, aterrorizada pelo medo e pela angústia
Consolai-nos, ó Senhor
Olhai para os doentes e os moribundos, oprimidos pela solidão
Consolai-nos, ó Senhor
Olhai para os médicos e os trabalhadores da saúde, exaustos de cansaço
Consolai-nos, ó Senhor
Olhai para os políticos e os governantes, que carregam o peso das decisões
Consolai-nos, ó Senhor
Na hora da prova e da perturbação
Enviai-nos o vosso Espírito, Senhor
Na tentação e na fragilidade
Enviai-nos o vosso Espírito, Senhor
No combate contra o mal e o pecado
Enviai-nos o vosso Espírito, Senhor
Na busca do verdadeiro bem e da verdadeira alegria
Enviai-nos o vosso Espírito, Senhor
Na decisão de permanecer em Vós e na vossa amizade
Enviai-nos o vosso Espírito, Senhor
Se o pecado nos oprime
Abri o nosso coração à esperança, ó Senhor
Se o ódio nos fecha o coração
Abri o nosso coração à esperança, ó Senhor
Se a dor nos visita
Abri o nosso coração à esperança, ó Senhor
Se a indiferença nos angustia
Abri o nosso coração à esperança, ó Senhor
Se a morte nos aniquila
Abri o nosso coração à esperança, ó Senhor

domingo, 7 de janeiro de 2018

Bênção da Casa na Solenidade da Epifania do Senhor

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Neste "dia dos Santos Reis Magos", o Salvem a Liturgia! preparou um breve histórico desta bênção, e um Ritual adaptado, que pode ser feito pelo pai de família. 

Para fazer o download do histórico com o Ritual, clique AQUI.


“A Adoração dos Magos”. Detalhe do português Domingos Sequeira (1768-1837),
com a técnica óleo sobre tela (100x140 cm), pintada em Roma, em 1828 e que se encontra atualmente no 
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa - Portugal.

Bênção da Casa na
Solenidade da Epifania do Senhor

É
 um costume antiquíssimo que as casas - religiosas ou de famílias - sejam abençoadas por ocasião da Solenidade da Epifania. Há até uma bênção própria para a Epifania, que consta no Rituale Romanum pré-conciliar[1]. No atual Rituale[2], usa-se a bênção comum das casas mesmo, mas é possível acrescentar as cerimônias antigas. Aqui, adaptamos o formulário do Ritus Antiquum.

Para entendermos melhor esta data e a bênção que se segue, vejamos o que diz a Carta Circular do Secretariado para a Liturgia da Ordem Cisterciense para os Mosteiros da Ordem, em 2006/2007, que adaptamos:

1. A Solenidade da Manifestação do Senhor (Epifania) no dia 6 de Janeiro.

            O Tempo do Natal poderia ser comparado a uma elipse cujos pontos centrais são a Solenidade do Natal, a 25 de dezembro e a Solenidade da Epifania, a 6 de Janeiro. Devido à nossa vida contemporânea e ao mundo do trabalho, a Solenidade da Epifania, em muitos países e regiões, não é mais celebrada no dia 6 de Janeiro, mas transferida para o domingo que ocorre entre 2 e 8 de Janeiro. Em muitos lugares, esta solenidade foi mantida na data tradicional, como por exemplo, em Roma.

1.1 – Sobre a origem e a história da festa.

            Originariamente, a Solenidade do Natal era celebrada, no Ocidente, a 25 e Dezembro, e no Oriente, a 6 de Janeiro. Como por osmose, o Ocidente e o Oriente absorveram as duas festas em fins do século IV. Devido à sua origem e conteúdo teológico, ambas celebram o Natal, mas com acentos diferentes. A história da Epifania é, de fato, complicada e suas raízes próprias permanecem obscuras até os nossos dias. Como indica o nome grego “
Ἐπιφάνεια” (Manifestação) ou “Θεοφάνια” (Manifestação de Deus), a festa provém do Oriente e foi introduzida no Ocidente no século IV. O título da festa – “Epifania” – significa também que o dia 6 de Janeiro já era algo mais que a popular “festa dos Reis”. A Epifania é a revelação de Jesus Cristo, Filho de Deus, para o mundo inteiro. Na Grécia e na Rússia, os cristãos chamam esse dia de: “Solenidade da santa Teofania de nosso Senhor Jesus Cristo”.

            Seguramente, como ocorre no Natal, a data da Epifania remonta também ao culto pagão, ou seja, está relacionada com a festa do solstício de inverno que, no Egito, provavelmente ocorria entre 5 e 6 de Janeiro. No dia 25 de Dezembro ou no dia 6 de Janeiro celebrava-se o aniversário de nascimento do deus-sol invencível, transformado pelos cristãos no aniversário natalício de Jesus Cristo, “verdadeira luz do mundo” (cf. Jo, 8, 12; 1, 9). Através de uma fonte antiga, sabe-se que a seita gnóstica dos basilianos, em Alexandria, no começo do século III, celebrava no dia 6 de Janeiro a festa do Batismo de Cristo, mediante o qual, pela descida do Espírito Santo, aconteciam a geração e o nascimento do Filho de Deus. O Batismo de Cristo deveria, em seguida, se tornar a temática própria da festa da Epifania, no Ocidente. De acordo com outras informações, no dia 6 de Janeiro, os egípcios iam ao rio buscar água. Talvez esteja aqui um dos fundamentos da bênção da água na Epifania. Do Egito, a festa de 6 de Janeiro parece ter-se também estendido tanto para o Ocidente quanto para o Oriente, na segunda metade do século IV. Nas Igrejas do Ocidente, a festa da Epifania foi estabelecida primeiramente na Gália, na Espanha, no norte da Itália e em Ravena, embora os seus temas tenham sido ampliados.

            Na Epifania, além da Encarnação e do Batismo de Cristo, meditava-se ainda na Adoração dos Magos, nas Bodas de Caná e na Multiplicação dos pães. O conteúdo desta festa é, por exemplo, condensado no magnífico hino da Epifania, de autoria de Santo Ambrósio de Milão († 397): “Illuminans Altissimus” (Cf. abaixo), adotado pelos Pais de Cister em sua liturgia (cf. Breviário dito “de Santo Estêvão”, do ano 1132). Em Roma, as Homilias do Papa São Leão Magno († 416) constituem o testemunho mais seguro da celebração da festa da Epifania.


 1. Illuminans Altissimus
Micantium astrorum globos,
Pax, vita, lumen, veritas,
Jesu fave precantibus.

2. Seu mystico baptismate
Fluenta Jordanis retro
Conversa quondam tertio
Praesente sacraris die.

3. Seu stella partum Virginis
Coelo micans signaveris;
Et hac adoratum die
Praesepe Magos duxeris.

4. Vel hydriis plenis aquae
Vini saporem infuderis:
Hausit minister conscius,
Quod ipse non impleverat.
 
5. Aquas colorari videns,
Inebriare flumina;
Mutata elementa stupent
Transire in usus alteros.

6. Sic quinque millibus viris
Dum quinque panes dividis,
Edentium sub dentibus
In ore crescebat cibus.

7. Multiplicabatur magis
Dispendio panis suo:
Quis haec videns mirabitur
Juges meatus fontium?

8. Inter manus frangentium
Panis rigatur profluus:
Intacta quae non fregerant,
Fragmenta subrepunt viris.


1.2 – Conteúdo da festa.

            Quando o Oriente (à exceção da Armênia) adotou, em fins do século IV, a celebração do Natal no dia 25 de Dezembro, oriunda da liturgia romana, o dia 6 de Janeiro tornou-se primitivamente a festa oriental da Encarnação do Senhor, transformando-se depois na festa do Batismo de Cristo. Na liturgia romana, pelo menos na liturgia da Missa, o dia 6 de Janeiro passou a ser a festa da Adoração dos Magos (cf. Mt 2, 1-12) ou festa dos três Santos Reis, enquanto a Liturgia das Horas romana incorporava progressivamente os temas suplementares do Batismo de Cristo, das Bodas de Caná e da Multiplicação dos pães, provenientes das regiões gaulesa, espanhola e norte-italiana. As influências recíprocas da Liturgia da Igreja Oriental e da Igreja Ocidental são ainda hoje perceptíveis nos textos litúrgicos da festa da Epifania. A antífona “Hodie cœlesti Sponso” (no Breviário próprio Cisterciense e também no romano, é a antífona do Benedictus) exprime muito bem, em seu conjunto, a celebração da festa:

Hodie cœlesti Sponso juncta est Ecclesia
quoniam in Jordane lavit Christus ejus crimina,
currunt cum muneribus Magi ad regales nuptias
et ex aqua facta vino lætantur convivæ. Alleluia.”

Hoje, a Igreja se une ao seu celeste Esposo, porque Cristo lavou no Jordão o pecado; para as núpcias reais correm Magos com presentes; e os convivas se alegram com a água feita vinho. Aleluia.” 

Exatamente esse texto, bem como a célebre antífona do Magnificat, nas II Vésperas, “Tribus miraculis” (Cf. abaixo), mostram de maneira significativa que o conteúdo teológico da festa da Epifania ultrapassa de muito uma simples festa dos três Reis. Com efeito, a Epifania concentra os acontecimentos mais importantes dos primeiros anos de Jesus de Nazaré e os celebra como revelações e manifestações de sua divindade. Igualmente na Liturgia romana a Epifania foi outrora considerada uma festa da maior importância, celebrada com vigília e oitava, e os domingos que se lhe seguiam eram chamados “domingos depois da Epifania”.

Tribus miraculis ornatum diem sanctum colimus:
hodie stella magos duxit ad præsepium:
hodie vinum ex aqua factum est ad nuptias:
hodie in Iordanæ a Ioanne Christus baptizari voluit
ut salvaret nos. Aleluia.”

Recordamos neste dia três mistérios: Hoje a estrela guia os Magos ao presépio. Hoje a água se faz vinho para as bodas. Hoje Cristo no Jordão é batizado para salvar-nos. Aleluia, aleluia.”

            A transladação das presumíveis relíquias dos três Santos Reis para Colônia - Alemanha, em 23 de Julho de 1164, onde ainda são conservadas no célebre relicário da Catedral, favoreceu enormemente a propagação do culto dos três Reis, no Ocidente, além de contribuir de modo essencial para o caráter popular de sua festa, no dia 6 de Janeiro. Aliás, foi Orígenes († 253/254), antigo escritor cristão, que explicitou, pela primeira vez, serem três os Magos (o texto fala simplesmente de “magos” ou “astrólogos vindos do Oriente”), talvez, por causa dos presentes também em número de três. Posteriormente, desde São Cesário de Arles († 542), os três Magos se tornaram Reis (o texto bíblico não diz nada disso) e, a partir dos séculos VIII ou IX, acreditava-se mesmo saber os seus nomes: Gaspar, Melquior (o “Mouro” ou o “Negro”) e Baltasar.

1.3 – Tradições da festa.

            Em cada região, foram se desenvolvendo diferentes costumes em torno da festa da Epifania; dentre eles, faremos referência a três. O mais conhecido nas regiões de língua alemã é, sem dúvida, o da consagração da água (“água dos três Reis”), atestado desde os séculos XI e XII e que tem suas raízes na tradição oriental (egípcia). No Oriente, onde se celebra na Epifania o Batismo de Cristo, o dia 6 de Janeiro era uma data muito considerada. As Igrejas orientais tinham, além de outros, na noite da Epifania uma solene consagração da água que, segundo as possibilidades, era realizada em um rio ou no mar, mergulhando-se uma cruz nas águas. Este costume tem sua origem na bênção do Jordão em memória do Batismo de Jesus (“Consagração do Jordão”). São João Crisóstomo († 407) conta que “nesta solenidade, por volta da meia noite, as pessoas iam buscar água para colocar num recipiente em suas casas, guardando-a durante o ano inteiro em memória deste dia no qual as águas foram santificadas”. Por trás disso, está a convicção, difundida no Oriente, de que Jesus santificou a água quando, por ocasião de seu Batismo, desceu ao rio Jordão. A crença popular atribuía uma força especial à “água benta dos três Reis”.
Ao lado da tradicional Bênção das Casas, na Epifania, desenvolveu-se, sobretudo nos países de língua alemã, uma forma própria: todos os lugares da casa são abençoados com água benta e incenso; e, com um giz bento, se escreve acima das portas a fórmula de bênção: 20*C+M+B+19: Christus Mansionem Benedicat”, que uma interpretação popular entende como sendo as iniciais dos nomes dos três Reis: Caspar, Melquior, Baltasar. Supõe-se que por trás dessa prática esteja um antigo costume germânico. Ainda nas regiões de língua alemã, em alguns lugares, são os “Sternsinger”, personagens vestidas como os três Reis Magos, que se antecipam a esta bênção. A bênção das casas na Epifania pretende, sobretudo, trazer a certeza de que a Encarnação de Jesus, pela qual Ele veio morar entre nós (Jo 1,14), atua em nosso íntimo na vida de cada dia. O texto correspondente desta bênção pode ser encontrado no “Benedictionale” (Ritual de Bênçãos) editado pelas Conferências Episcopais de cada país.

            Desde a antiguidade, a data da próxima festa da Páscoa e as datas das festas móveis que dela decorrem são anunciadas durante a Missa da Epifania, após a leitura do Evangelho. Com efeito, nos tempos antigos, era nesta festividade que se tornava pública a “Carta Pascal” informando à cristandade a data da Páscoa. Este dia foi escolhido para o referido anúncio porque nele Cristo, o novo Sol, se levantou para o Oriente na Epifania.

            Em vários lares, tem-se o costume de convidar sacerdotes para que abençoem a casa, mas não exatamente na Epifania, e sim quando se tem a graça da visita de um Padre. O comum é que o pároco ou seu vigário faça a bênção. Todavia, nem sempre é possível encontrar um sacerdote disposto a perpetuar costumes antigos; além disso, o ritual atual prevê que o pai de família pode realizar esta bênção.

             A Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, pelo Diretório “Sobre a piedade popular e a Liturgia - princípios e orientações, de 9 de Abril de 2002, no número 118[3], ensina:
A Solenidade da Epifania do Senhor[4]


A respeito da solenidade da Epifania, que tem uma origem muito antiga e um conteúdo muito rico, nasceram e se desenvolveram muitas tradições e expressões genuínas de piedade popular. Entre estas se podem recordar:

- o solene anúncio da Páscoa e das principais festas do ano litúrgico: para a recuperação deste anúncio, que se está realizando em diversos lugares, se deve favorecer, pois, ajuda aos fiéis para descobrir a relação entre a Epifania e a Páscoa, e a orientação de todas as festas para a maior das solenidades cristãs;

- a troca de “presentes de Reis”: este costume tem suas raízes no episódio evangélico dos presentes oferecidos pelos Magos ao Menino Jesus (cf. Mt 2,11), e em um sentido mais radical, no dom que Deus Pai concedeu para a humanidade com o nascimento do Emanuel entre nós (cf. Is 7,14; 9,6; Mt 1,23). É desejável que o intercâmbio de presentes por ocasião da Epifania mantenha um caráter religioso, e mostre que sua motivação última se encontra na narração evangélica: isto ajudará a converter o presente em uma expressão de piedade cristã e a desvinculá-lo dos condicionamentos de luxo, ostentação e desperdício, que são estranhos às suas origens;

- a bênção das casas, em cujas portas se traça a Cruz do Senhor, o número do ano civil que começou, as letras iniciais dos nomes tradicionais dos santos Magos (C+M+B), explicadas também como siglas de “Christus Mansionem Benedicat”, escritas com um giz abençoado: estes gestos, realizados por grupos de crianças, acompanhados de adultos, expressam a invocação da bênção de Cristo, por intercessão dos santos Magos e que, por sua vez, são uma ocasião para recolher ofertas para fins missionários e de caridade;

- as iniciativas de solidariedade em favor de homens e mulheres que, como os Magos, são oriundos de regiões longínquas: respeite-se a eles, sejam cristãos ou não, pois a piedade popular adota uma atitude de compreensão acolhedora e de solidariedade efetiva;

- a ajuda à evangelização dos povos: o forte caráter missionário da Epifania é percebido pela piedade popular, pelo qual, neste dia, têm lugar iniciativas a favor das missões, especialmente as vinculadas à “Obra Missionária da Santa Infância”, também conhecida pelo nome de “Pontifícias Obras Missionárias”, instituída pela Santa Sé Apostólica;

- a designação dos Santos Patronos: em muitas comunidades religiosas e confrarias existe o costume de designar, para cada um de seus membros, um Santo, sob cujo patrocínio se coloca o ano recém iniciado.

*******
No Brasil (e também em diversos outros países), devido à falta de sacerdotes com disponibilidade para ir até as casas neste dia, pode-se realizar a bênção sem o sacerdote. Em cada lar, o pai, como “sacerdote da Igreja doméstica”, conduz a celebração familiar. É uma celebração que a Igreja muito valoriza, pela santidade do lar “em cujas portas se traça a Cruz do Senhor, o número do ano civil que começou, as letras iniciais dos nomes tradicionais dos santos Magos (...) escritas com um giz abençoado.”



[1] Cf. “Benedictio Cretæ, in Festo Epiphaniæ”. Rituale Romanum, 25 de Março de 1752. De Benedictionibus. pp. 17-18.
[2] Cf. Ritual de Bênçãos, números 474-491. Paulus: 6ª reimpressão, 2007.
[3] No Brasil, é o número 12 da coleção bege da Ed. Paulinas: 2010.
[4] Trad. e Adapt. de Cleiton Robson do Nascimento Sousa, OESSJ.


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