Nossos Parceiros

Mostrando postagens com marcador erros litúrgicos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador erros litúrgicos. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Mons. Guido Pozzo: Ecclesia Dei, FSSPX, erros litúrgicos e reforma da reforma, via Fratres in Unum

View Comments


Do Fratres in Unum:


O chefe da Ecclesia Dei acerca dos colóquios com a FSSPX.

Entrevista de Gloria.TV a Mons. Guido Pozzo, Secretário da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei

Fonte: MessaInLatino |Tradução: Pale Ideas

- Monsenhor, o senhor participou do diálogo com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Qual foi sua impressão pessoal dessas reuniões? Em que ponto estamos? Crê que chegaremos logo a uma reconciliação?

Minha impressão é substancialmente positiva quanto à cordialidade com que o diálogo, o colóquio se desenvolveu, e devo dizer que sempre foi um diálogo muito franco, sincero e, por vezes, vivaz, como era de se esperar, dada a problemática e a temática em discussão. Penso que chegamos a um ponto decisivo, mesmo que, certamente, não conclusivo deste caminho, e que serviu para esclarecer amplamente e de modo aprofundado as posições respectivas da Fraternidade São Pio X e dos especialistas da Congregação pela Doutrina da Fé; agora, trata-se justamente de passar a um patamar mais valorativo, a um nível valorativo dos pontos controvertidos, para verificar a possibilidade concreta de chegar à superação das dificuldades doutrinais que foram afrontadas.

- Existe um modus procedendi, caso o Preâmbulo doutrinal não venha a ser firmado?

Nesta fase, o texto do Preâmbulo doutrinal foi entregue a Mons. Fellay, aos superiores da Fraternidade, para que eles possam examiná-lo e dar uma resposta, que nós auspiciamos seja em substância favorável, positiva, afirmativa. Há sempre a possibilidade de pedir certos detalhamentos, certos esclarecimentos, que de nossa parte serão certamente dados, dentro de um lapso de tempo razoável [ou seja: algumas modificações no texto do Preâmbulo, NdR]. Questionar-se o que vai acontecer se as dificuldades viessem a ser consideradas graves, intransponíveis, parece-me que seja impróprio. Neste momento, não nos colocamos este problema.

- A Fraternidade não surgiu do nada, mas como resposta a uma gravíssima crise eclesiástica, sobretudo em países como a Alemanha, a França ou a Suíça. Esta crise persiste. Crê que, depois de um acordo feito em Roma, a Fraternidade possa coabitar nestes Países debaixo do teto da Igreja institucional?

Eu responderia simplesmente que quem é verdadeira e plenamente católico pode habitar plena e devidamente na Igreja Católica, onde quer que a Igreja Católica exista e se desenvolva. Não é apenas uma afirmação de princípio, é uma afirmação existencial que corresponde à realidade da Igreja Católica. Isto, naturalmente, não significa que não existam dificuldades, até por causa da situação crítica em que se encontram muitos católicos, o mundo católico, nestes e em outros países, mas não creio que na história não se verificaram casos análogos, e, portanto, a resposta é muito simples: quem é verdadeira e plenamente católico não apenas tem o direito, mas vive bem e se encontra bem dentro da Igreja Católica.

- Quais são as razões da hostilidade de muitos ambientes eclesiásticos contra uma liturgia que a Igreja e muitíssimos santos celebraram por um período tão longo e que foi o instrumento do crescimento espetacular da Igreja? [esta é a pergunta que muitos de nós se põem. Na realidade, não pode haver uma resposta satisfatória, pois a razão é visceral, não racional: uma inteira geração de sacerdotes sofreu uma capilar, penetrante, totalitarista lavagem cerebral, motivo pelo qual tudo o que se fazia até 1962 era retrógrado e errado; é quase impossível, agora, reparar os danos cerebrais causados por aquele condicionamento pluri-decenal, NdR].

É uma pergunta complexa porque acredito que muitos fatores intervêm para compreender este preconceito ainda tão difundido contra a liturgia da forma extraordinária do Rito Antigo. É de se ter em mente que, por muitos anos, não foi oferecida uma formação litúrgica verdadeiramente adequada e completa na Igreja Católica. Quis-se introduzir o princípio de uma ruptura, de um afastamento, de um distanciamento radical entre a reforma litúrgica proposta, instaurada, promulgada pelo Papa Paulo VI e a liturgia tradicional. Na realidade, as coisas são diferentes, porque é claro que há uma continuidade substancial na liturgia, na história da liturgia; há crescimento, progresso, renovação, mas não ruptura, não descontinuidade; e, então, estes preconceitos influenciam de maneira determinante na forma mentis das pessoas, dos eclesiásticos e também dos fieis [os fieis e os eclesiásticos não seriam pessoas? NdTª]. É necessário superar este preconceito, é necessário dar uma formação litúrgica completa, autêntica, e ver como, precisamente, uma coisa são os livros litúrgicos da reforma quista por Paulo VI e outra coisa são as formas de atuação que em tantas partes do mundo católico aconteceram na prática e que são autênticos abusos da própria reforma litúrgica de Paulo VI, e contêm inclusive erros doutrinais que devem ser corrigidos e rejeitados. É isto que, recentemente, no fim da primavera deste ano, em um discurso no Ateneo Anselmiano, o Santo Padre Bento XVI quis mais uma vez reafirmar. Uma coisa são os livros litúrgicos da reforma, outra as formas concretas de atuação que, infelizmente, em tantas partes se difundiram e que não são coerentes com os princípios que foram fixados e explicitados pela própria Constituição do Concílio Vaticano II, “Sacrosantum Concilium”, sobre a divina liturgia.

- O Preâmbulo confidencial foi entregue a Mons. Fellay em 14 de setembro. Um dia depois, Andrea Tornielli estava já informado a respeito. Por que as informações confidenciais do Vaticano chegam tão rapidamente à imprensa?

A habilidade dos jornalistas é muito conhecida, é uma habilidade de interceptar as notícias que é realmente admirável sob certo ponto de vista, mas diria que neste caso os jornalistas, não apenas o jornalista Tornielli mas outros também, no dia seguinte haviam capturado a essência [A. Tornielli não disse que capturou alguma essência, afirmou que recebeu informações intra muro, NdTª] do comunicado de imprensa que já informava sobre alguns elementos essenciais do Preâmbulo doutrinal, e, então, diria que os conteúdos profundos do Preâmbulo, em seus detalhes, não são conhecidos, pelo menos até agora não foram divulgados; e os jornalistas não falaram sobre eles, não descreveram em detalhes o desenvolvimento e a elaboração do Preâmbulo doutrinal; então, a discrição, substancialmente, neste caso, creio que foi mantida. Espero que continue assim.

- O senhor, antes de fazer parte de Ecclesia Dei, teve experiências pessoais com a Missa em latim? Como viveu as mudanças litúrgicas nos anos sessenta?

As perguntas são duas, e à primeira respondo que, antes do motu proprio Summorum Pontificum de 2007, eu não tive nenhum contato com a celebração da Missa no rito antigo, e comecei a celebrar a Missa no rito da forma extraordinária justamente com o motu proprio Summorum Pontificum, que permitiu que esta Missa pudesse ser celebrada desta forma.

Como vivi nos anos sessenta, nos anos setenta as mudanças? Bem, devo dizer que, conforme o modo como fui formado e preparado pelos meus educadores no Seminário, e, sobretudo, também na Pontifícia Universidade Gregoriana, pelos meus mestres de teologia, procurei sempre entender aquilo que o Magistério propunha através da leitura de seus textos, não através do que teólogos ou certa publicística católica atribuía ao Magistério. Portanto, eu nunca tive problema em aceitar a Missa pela reforma litúrgica de Paolo VI, mas logo percebi que, por causa desta grande desordem que se introduziu na Igreja depois de 1968, frequentemente a Missa de Paulo VI vinha sendo deformada e celebrada em modo absolutamente contrário às intenções profundas do legislador, isto é, do Sumo Pontífice; portanto, esta desordem, este colapso da liturgia de que falou o então Cardeal Ratzinger em alguns de seus livros e em algumas de suas publicações de liturgia, eu até o experimentei assaz diretamente e sempre quis manter separadas as duas coisas: uma coisa são os ritos, os textos do missal, outra coisa é o modo como é celebrada, ou era celebrada a liturgia em muitas circunstancias e em muitos lugares, sobretudo com base neste princípio da criatividade, uma criatividade selvagem que nada tem a ver com o Espírito Santo; pelo contrário, diria, que é exatamente o oposto do que o Espírito Santo quer.

- Porque vale a pena promover a Missa em latim?

Porque na Missa do Rito Antigo são explicitados, evidenciados certos valores, certos aspectos fundamentais da liturgia que merecem ser mantidos, e não falo somente da língua latina ou do canto gregoriano, falo do sentido do mistério, do sagrado; o sentido do sacrifício, da Missa como sacrifício; a presença real e substancial de Cristo na Eucaristia, e do fato de que há grandes momentos de recolhimento interior, como uma participação interior à divina liturgia. É isto, são todos elementos fundamentais, os quais na Missa do Rito Antigo são particularmente evidenciados. Não digo que na Missa da reforma de Paulo VI não existam estes elementos, mas falo de uma evidenciação maior, e isto pode enriquecer também quem celebra ou participa da Missa na forma ordinária. Nada proíbe de pensar que no futuro se possa chegar inclusive a uma reunificação das duas formas com elementos que se integram entre si, mas este não é um objetivo para se alcançar em curto espaço de tempo, nem, sobretudo, para se alcançar com uma decisão tomada levianamente, mas requer uma maturação de todo o povo cristão em compreender ambas as formas litúrgicas do mesmo rito romano.

Obs.: NdR é MessaInLatino. NdTª sou eu. Grifos [negrito] no textos são de Pale Ideas.
Os sublinhados são do Salvem a Liturgia. Outro detalhe é atentar para a impropriedade da expressão "Missa em latim" quando aplicada à forma extraordinária, de vez que a forma ordinária, de Paulo VI, também pode ser celebrada em latim, e o é frequentemente por vários sacerdotes, Bispos e pelo Papa.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Mais uma reunião da Cetel e até agora nada!

View Comments
Do sempre excelente Oblatvs:
 O site da CNBB informa que os responsáveis pela tradução da terceira edição típica do Missal Romano estiveram reunidos em Brasília.

"A Comissão Episcopal para a Tradução dos Textos Litúrgicos (Cetel) se reuniu em Brasília (DF), na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), para dar continuidade às revisões da tradução do Missal Romano e de outros textos litúrgicos. Esta é a segunda reunião do ano e a primeira reunião da nova composição da Cetel, após a sua escolha, em maio, em Aparecida (SP), na 49ª Assembleia Geral da CNBB. (...) Desde 2005 a equipe da Cetel vem fazendo o trabalho de tradução e revisão da terceira edição do Missal Romano. Por ano são três reuniões."

Há seis anos - e com grande atraso - tal comissão começou a fazer um importantíssimo trabalho de rever as péssimas traduções clementinas que vigoram entre nós. A terceira edição típica não oferece grandes novidades em relação às edições anteriores, ou seja, não fizeram significativos acréscimos ou mudanças  no pobre Missal de Paulo VI, mas um novo missal em língua vulgar poderá acrescentar muito, sobretudo para os padres.

Costumo dar como exemplo as palavrinhas "sanctas ac venerabilis" do Cânon Romano. Elas estavam lá antes de "mudarem" a Missa; permaneceram no Missal de Paulo VI e são repetidas ininterruptamente há centenas de anos pelos sacerdotes ao se referirem às mãos de Nosso Senhor no sagrado momento da consagração. Desde que rezem em latim, como eu fiz ontem! Porque no Brasil Dom Clemente Isnard e Cia. decidiram amputar as mãos divinas.

Alguns alegam que se trata de um preciosismo tolo, que o mais importante é a participação do povo e que, afinal, o Cânon quase não é usado. Mas ninguém responde em que três palavrinhas incomodam tanto e a quem, para que tenham sido sumariamente eliminadas do Missal em português. E como elas, tantas outras que sobreviveram no Missal em latim, não foram poupadas nestas bandas.

Eu imagino que só veremos a tradução acabada quando a Santa Sé ameaçar o mundo com uma quarta edição do Missal Romano - revista, ampliada e corrigida. Se isto acontecesse, a Cetel se apressaria em trazer à luz a atualíssima de 2001 (sic!), antes que os curialistas resolvessem enriquecer o Missal ou eliminar seus excessos.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Enquete sobre a "Missa Crioula"

View Comments
Já expusemos aqui o absurdo da tal "Missa Crioula". O Bispo de Foz do Iguaçu proibiu esse tipo de celebração em sua Diocese, pelo que o contragulamos.

Ajudemos Sua Excelência e a Igreja do Brasil, votando "SIM" na enquete promovida pela Rádio Cultura de Foz: "Você é a favor da decisão do Bispo Dom Veginne, de proibir a celebração da Missa Crioula em Foz do Iguaçu?" 

A enquete está no canto superior direito.

Por enquanto, graças a Deus, o SIM está vencendo, com 67% de votos contra 33% dos favoráveis à bagunça litúrgica.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Missa crioula – Ou, a tradição gaúcha e a bizarrice litúrgica

View Comments
Aproveitando que hoje iniciamos, no Rio Grande do Sul, a Semana Farroupilha, que culminará no glorioso 20 de Setembro, em que lembramos os feitos do decênio heróico (1835-1845), e, na oportunidade, cultivamos todo o ethos gaúcho, lanço algumas considerações sobre a “Missa crioula”. A pretexto de gauchismo, desde os anos 70, se promovem, mormente na Semana Farroupilha, essa empulhação travestida de tradição.

A celebração da tal Missa crioula não tem nada nem de católico, nem de tradicional gaúcho. É de um gauchismo caricato, artificial. Tradicional por tradicional, rezem a Missa tridentina, então, hehehe

Seria interessante deixar claro, por exemplo, que não se deve admitir a mistura de símbolos litúrgicos com culturais gaúchos, que não se deve entoar cantos que, embora religiosos, não sejam adequados à liturgia, que não existe um rito gaúcho, que não se deve inventar ritos como os de colocar os lenços na cruz etc.

Essa Missa dos CTGs NÃO é lícita! O Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) inventou um rito, meteu no meio do rito romano e deu nessa palhaçada! A tal “Missa Crioula” dos CTGs é de uma falta de respeito que nunca vi em lugar nenhum! Totalmente sem propósito, além de violar a norma litúrgica, que não confere aos sacerdotes mudar o rito, nem aos Bispos. Só o Papa pode mudar a liturgia. O rito do MTG é ilícito (ainda que a Missa seja válida), suas cerimônias não são coerentes com o rito romano, e sua celebração é totalmente artificial, pois partem do pressuposto de que o verdadeiro gauchismo é fazer tudo “de um modo gaúcho”: ora, isso é artificial, é um gauchismo fictício, industrializado. Digo mais: a tal Missa Crioula é CARICATURIZADA! Se o MTG quer algo que seja tradicional, que represente o Rio Grande na época de ouro (das revoluções, por exemplo, que são sempre por nós cultuadas), então que façam celebrar a Missa tridentina (que era o rito em vigor na época).

Essa celebração atenta contra o rito romano, contra a unidade da Igreja, contra a noção de liturgia, mas também contra o verdadeiro gauchismo. Não se é gaúcho por meter bombacha em tudo… Palavra de quem anda sempre com uma!

Não se confunda, outrossim, a Missa Crioula do MTG (que tem coisas absolutamente bizarras, como mudança dos textos da Bíblia, adaptação do Ordinário, e invenção de um Próprio que não consta do Missal, entre outras coisas das mais esquisitas), com a belíssima Misa Criolla, de Ariel Ramirez, composição sacra com ritmos da pampa (chacarera, milonga, zamba), toda em espanhol, para os textos do Ordinário (Kyrie, Gloria etc), sem alterar a letra e sem palhaçadas.

Acreditem: as palavras acima NÃO foram duras… Foram amorosas, para que os leitores tenham noção do “espetáculo” que é essa tal invenção do MTG. Se alguém de vcs assistir algo assim, garanto que tem um enfarto!

A unidade do rito romano é ferozmente violada pela Missa dos CTGs. Talvez na melhor das intenções, mas o fato é que dessacraliza a cerimônia.

As leituras são mudadas. O texto da Bíblia é mudado. O texto do Ordinário da Missa é mudado. As cerimônias são mudadas, e outras são acrescentadas. Não é respeitado o calendário litúrgico, nem o uso dos paramentos. Um Próprio (a parte que se altera a cada Missa) completamente diverso daqueles previstos no Missal é criado. As adaptações culturais permitidas pelo Vaticano II não devem, segundo texto expresso do próprio Concílio, atentar contra a unidade do rito romano. Ora, mudar os textos, as leituras, as orações, e até os paramentos do padre não é atender contra essa unidade? O rito romano resta preservado? Se mudam as orações, os textos, as leituras, os paramentos e a própria estrutura da Missa (Ordinário), pode-se falar que é o mesmo rito?

Trata-se de uma distorção do rito romano, o que é ÍLÍCITO, ou da criação de um rito novo, o que também é ILÍCITO, dado que só o Papa pode legislar sobre liturgia.

Creiam-me, meus caros, sou gaúcho e cultuador de nossa riquíssima tradição. Ando no dia-a-dia de bombacha, asso meu churrasco, vou a campo a cavalo. Mas cada coisa na sua hora. Como bem disse, tradição por tradição, a Missa crioula de tradicional não tem nada. É uma caricatura, um arremedo, e ouso dizer um deboche da verdadeira cultura gaúcha.

O “rito crioulo” é artificial porque cria elementos não presentes em nenhum outro rito e completamente destoante até mesmo da espiritualidade católica tradicional. Não usa uma linguagem adequada para a liturgia também. De outra sorte, nem mesmo atende a um legítimo anseio do povo gaúcho: tradicional por tradicional (que é o que esse rito pretende ser), a forma extraordinária do rito romano é muito mais.

Além disso, ele não se pretende outro rito, mas uma variação do rito romano, ou um rito romano inculturado. Entretanto, o próprio Vaticano II – como bem recordava João Paulo II – só permitiu a inculturação litúrgica salvaguardada a unidade substancial do rito romano. Além disso, é preciso autorização de Roma. Esse rito crioulo, de romano não tem nada (nada mesmo!), e, se é um rito novo, só poderia ser “criado” a partir de desenvolvimento litúrgico (o que não se faz, ademais, de uma hora para outra; desenvolvimento supõe anos, décadas, séculos). Outrossim, só quem pode criar ou reformar ritos é o Papa.

Vejam o absurdo aqui.

Todos sabem que eu sou gaúcho daqueles de andar pilchado (estou até de bombacha e alpargata neste exato momento, e tomando meu mate da tarde), mas essa mania de ter tudo “à moda crioula” é um deboche da verdadeira tradição. Gaúcho que anda pilchado usa pilcha mais contemporânea, não uma “roupa típica do século XIX”: ninguém anda na rua fantasiado de gaúcho antigo (só se usa isso em apresentações artísticas de grupos que preservam o nosso folclore, os chamados CTGs). A pilcha que o homem do campo usa não é a pilcha do seu antepassado: e os homens da cidade que gostam das coisas do Sul também não se pilcham como se estivéssemos na Revolução Farroupilha. Se assim o fosse, não seria pilcha, mas fantasia…

É o mesmo raciocínio para a Missa crioula Uma caricatura da verdadeira tradição gaúcha.

Sei que esse é um argumento por um viés não-religioso, mas ajuda a entender que esse rito de gaúcho não tem nada, não diz nada para o autêntico homem do campo (que vai à Missa todo Domingo e não precisa de “Missa fantasiada de CTG” para isso), e que eu, gaúcho cultuador das mais caras tradições pampeanas, sinto-me envergonhado por essa criação sulina…

Nada é tão tradicional na liturgia quanto a Missa justamente chamada tradicional. Mas querem chamar de tradicional essa invenção modernosa… O que a Missa crioula tem de tradicional para ser cultuada em Centros de TRADIÇÃO Gaúcha?

Alguns poderiam levantar, sem embargo, que os próprios ritos que temos hoje começaram aos poucos, sem muitas regras, se desenvolvendo localmente, muitas vezes a partir dos livros litúrgicos oficiais e com certa criatividade.

Todavia, não nos esqueçamos que isso foi um processo natural, e não havia a proibição que hoje temos de não inventar nada. Até porque as coisas estavam ainda em ebulição. Hoje, temos os livros formados, e qualquer processo de inculturação só é legítimo em territórios ainda não-alcançados pelo Evangelho, e sempre com a atenta supervisão e aprovação do Papa.

Ainda assim, para fins de debate apenas, imaginemos que, no futuro, se tenha um rito gaúcho, crioulo, campeiro, sulino... Claro que certos elementos regionais vão influenciar na formação do rito (ou em sua inculturação), mas acho que não podem soar como caricatura. Não se é gaúcho, por exemplo, por, na eventual Oração Eucarística crioula, falar em bombacha e chimarrão. Os elementos culturais ficam forçados, digamos assim. Assim como o rito romano tradicional (ou o moderno bem feito) não é romano por falar em "senado", "cônsul", "direito romano", "togas" e "corrida de bigas". Nem o rito bizantino fica nomeando "filosofia", "teatro", "cicuta" etc.

O que faz o rito romano ser romano é ter incorporado não os termos, não os elementos exteriores de uma cultura, mas o ethos. Por exemplo, é próprio da cultura romana (e ocidental, por derivação), a sobriedade aliada à nobreza. Isso quer dizer que cultivamos o que é nobre, distinto, bonito, mas sem extravagância, sem o que, para nós, seria exagerado. A sobriedade, a simplicidade, limita a nobreza. Somos equilibrados, digamos assim. E esse equilíbrio, essa nobre simplicidade, é marca fundamental do rito romano tradicional (é verdade que, em alguns pontos, a meu ver, essa nobre simplicidade se perdeu por causa de algumas rubricas, e isso fez com que os reformadores litúrgicos instaurassem o rito moderno, que cumpriu bem seu papel nesse sentido, mas exagerou muito, a meu ver, na simplicidade, deixando de lado a nobreza, mas isso é outro assunto).

Nos ritos orientais, por sua vez, é justo o que é exuberante a característica de sua mentalidade. Assim, natural que os siríacos, os maronitas, os bizantinos, os armênios, tenham liturgias mais longas, com mais incenso, com palavras mais rebuscadas, com vestes mais esplendorosas, que, para nós, soaria como culturalmente exagerado.

Assim, o que vejo é que se um "rito crioulo" pudesse existir, ele deveria incorporar o ethos gaúcho, não simplesmente jogar termos e costumes regionais da pampa para dentro da celebração.

Claro que ele nasceria primeiro não como um rito próprio, mas como uma adaptação do rito romano para uso local e eventual, e, aos poucos, poderia ir aumentando sua influência a ponto de, COM OS SÉCULOS, se formar um novo rito, autônomo. Ainda assim, seria, repito, o ethos, a mentalidade do gaúcho, que ajudaria no nascedouro e no desenvolvimento desse hipotético rito.

O que vemos com a "Missa crioula" e com essa eventual "Oração Eucarística crioula" seria simplesmente uma adaptação das formas romanas a uma linguagem campeira. Aliás, estereotipada.

Muito melhor é que aquilo que está na alma do gaúcho (sua bravura, seu gosto pela guerra, sua característica mais sisuda e menos "calorosa" do que o restante do país, seu amor pela ordem, seu gosto pela liberdade etc) é que vá, aos poucos, formando um "jeito" de celebrar o rito, e isso, aos poucos, se vá desenvolvendo. Não vejo agora nenhum exemplo, mas também acho que os primeiros cristãos romanos não tinham eles a mão se para eles lhes fosse indagado como formar um "rito romano".

Outra coisa que se poderia pensar, em hipótese, seria como incorporar a tradição musical gaúcha, SEM PERDER A ESTÉTICA PRÓPRIA DA LITURGIA, no rito. Assim, embora o rito da "Missa crioula" do MTG seja um fiasco, a obra musical "Misa criolla" do Ariel Ramírez me parece um feliz e acertado exemplo de inculturação bem sucedida, até porque apenas propõe melodias campeiras (chacareras, zambas e milongas, especificamente), sem alterar fórmulas nem ritos (o que até poderia ser feito, mas dentro do quadro geral que apresentei, não do modo como é feito pelos CTGs da vida).

Evidentemente, toda essa conversa sobre a Missa crioula pode ser aplicada às Missas sertaneja, do vaqueiro etc.

---

Diferenciemos a Missa "crioula" do MTG/CTGs de uma autêntica obra de arte, como mencionamos acima, que é a Misa Criolla, de Ariel Ramírez. Abaixo, uma sua versão executada pelo Coro da Catedral de Santo Isidoro, na Argentina, e pelo grupo de folclore gaucho igualmente argentino Los Fronterizos. Muito boa. Vale a pena conferir:

Kyrie

Gloria

Credo

Sanctus

Agnus Dei

---

Outra versão de algumas partes, com um grupo mais orquestral, mas ainda com o bombo legüero e as guitarras. A melhor ainda é de cima.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

E as liturgias da JMJ 2013, no Rio?

View Comments

Nas Missas celebradas pelo Papa na Jornada Mundial da Juventude de 2011 (JMJ 2011), recém encerrada em Madrid, Espanha, foram frequentes os hinos latinos, quer em gregoriano, quer em polifonia sacra de composição antiga ou recente. E mesmo os hinos populares foram todos de bom gosto.

Seguirá o Brasil, sediando o evento de 2013, no Rio de Janeiro, o bom exemplo deixado pelos espanhóis? Receberemos o Papa dando exemplo de obediência ao que ele próprio tem ensinado a respeito da liturgia?

Ou introduziremos o Santo Padre em celebrações com "Glórias piratas", com ausência de canto gregoriano, com desprezo prático pelo latim, com invencionices mil a título de uma pagã criatividade? Teremos paramentos dignos a oferecer ao Pontífice e a todos os celebrantes? Ou nos contentaremos com uma duvidosa arte supostamente popular?

E as Missas na forma extraordinária, que pulularam durante a JMJ 2011, provando que "Missa tridentina" não afasta os jovens coisa nenhuma, se repetirão aqui com sucesso e com liberdade, ou enfrentarão resistência a ponto de, se celebradas, o serem como se peça de museu ou artigo de curiosidade fossem?

Menos progressismo litúrgico, menos arqueologismo, "menos minimalismo" (sim, foi proposital), menos "liturgistas", e mais ortodoxia, mais tradição, mais "ritualismo" (de que nos acusam).

Temos pouco tempo até lá, e os leitores deste blog, muitos deles jovens que são, podem ser de fundamental importância para que assinalemos 2013 como um ano importantíssimo na ressacralização da liturgia em nossa Terra de Santa Cruz. E, como todos sabem, se salvarmos a liturgia, seremos salvos por ela.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Papa rejeita instrumentalização indevida da liturgia com fins “catequéticos”

View Comments

Convite a aprofundar na relação catequese-liturgia

Bento XVI aos participantes da 62ª Semana Litúrgica Italiana

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 24 de agosto de 2011 (ZENIT.org) – O Papa destacou a necessidade de aprofundar cada vez mais na relação entre catequese e liturgia, rejeitando, no entanto, toda instrumentalização indevida da liturgia com fins “catequéticos”.

Esta foi a mensagem que enviou, por meio do secretário de estado vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, aos participantes da 62ª Semana Litúrgica Italiana, que se realiza na cidade de Trieste de 22 a 26 de agosto, com o tema “Deus educa seu povo. Liturgia, fonte inesgotável de catequese”.

Com relação à dimensão educativa da liturgia, a mensagem destaca que “a liturgia pode ser chamada de catequese permanente da Igreja, fonte inesgotável de catequese, preciosa catequese em ato”.

Ele se refere à liturgia como a uma “experiência integrada de catequese, celebração, vida”; e acrescenta que “expressa, além disso, o acompanhamento maternal da Igreja, contribuindo assim para desenvolver a vida cristã do crente e o amadurecimento da sua consciência”.

O texto, que foi lido nesta segunda-feira, no início do congresso, indica que “a liturgia, além de expressar a prioridade absoluta de Deus, manifesta seu ser 'Deus conosco'”.

“Neste sentido, Deus é o grande educador do seu povo, o guia amoroso, sábio, incansável, em e através da liturgia, ação de Deus no hoje da Igreja”, acrescenta.

Para o Papa, a Igreja, “especialmente quando celebra os mistérios divinos, se reconhece e se manifesta como realidade que não pode ser reduzida ao único aspecto terreno e organizativo”.

Nestes divinos mistérios, destaca a mensagem, “deve aparecer claramente que o coração latente da comunidade deve se reconhecer muito além dos estreitos e no entanto necessários limites dos ritos, porque a liturgia não é o que o homem faz, mas o que Deus faz com sua condescendência admirável e gratuita”.

Bento XVI espera que este encontro se coloque “cada vez mais ao serviço do genuíno sentido da liturgia, favorecendo uma sólida formação teológico-pastoral, em plena consonância com o Magistério e a tradição da Igreja”.

domingo, 24 de julho de 2011

Como a Comunhão na mão virou febre no mundo se a maioria (esmagadora) dos bispos não queriam?

View Comments
Fiéis nigerianos recebem a Comunhão nos lábios e de joelhos
durante a visita do Superior Geral da FSSP, Fr. John Berg.

É esta pergunta que qualquer leitor sensato se faz quando lê integralmente o texto que não¹ possuía tradução para o português, até que os Cônegos Regulares da Santa Cruz pediram à Santa Sé para traduzi-lo todo e publicá-lo na sua revista semestral Sapientia Crucis, n. 7, Ano VII-2006.

A Instrução Memoriale Domini, de 29 de Maio de 1969, pode ser encontrada em três partes digitalizadas na versão dos Cônegos Regulares da Santa Cruz, aqui, aqui e aqui.

O site VERITATIS SPLENDOR também traduziu, veja aqui.

O Papa promulgou então a Instrução Memoriale Domine. Em resumo, o documento declara:

1) Os bispos do mundo eram, na sua esmagadora maioria, contra a Comunhão na mão.
2) "Esta maneira de distribuir a Sagrada Comunhão (isto é, o sacerdote colocar a Hóstia na língua dos comungantes) deve ser observada."
3) A Comunhão na língua não diminui, de forma alguma, a dignidade do comungante.
4) E acrescenta o aviso de que "qualquer inovação pode levar à irreverência e à profanação da Eucaristia, assim como à erosão gradual da recta doutrina."

O documento afirma ainda que "o Sumo Pontífice decretou que a maneira tradicional de dar a Sagrada Comunhão aos Fiéis não devia ser mudada. Por conseguinte, a Sé Apostólica insta veementemente os bispos, sacerdotes e povo a que observem zelosamente esta lei."

Deixo aos leitores um trecho de um excelente texto do site Fatima.og:


Luz vermelha e luz verde ao mesmo tempo
Podemos perguntar, então: se esta Instrução foi promulgada, por que razão é tão comum ver-se a Comunhão na mão? Podemos explicá-lo servindo-nos do caso da reacção dos bispos canadianos à Humanae Vitae – Encíclica que reafirmava, com toda a verdade, a doutrina da Igreja sobre a contracepção. Como houve, logo que a Humanae Vitae saiu, uma escandalosa vaga de oposição, por parte tanto de padres católicos como de intelectuais, os bispos canadianos escreveram uma carta pastoral apoiando a teoria expressa na Humanae Vitae, mas usando nesse documento a curiosa expressão "normas para dissenção lícita".
Ora esta frase dá a impressão de que podia haver uma base para os Católicos rejeitarem legitimamente a Humanae Vitae. Assim, quer tivessem consciência disso quer não, os bispos sabotaram a sua própria carta pastoral, dando ao mesmo tempo luz vermelha e luz verde à rejeição da Encíclica Papal. Por isso não foi surpresa alguma quando grande número de Católicos rejeitou a Humanae Vitae com base na solução de compromisso dos bispos canadianos. Até os pais mais incultos têm a inteligência de não dar aos filhos a opção de aceitar ou de rejeitar as ordens paternas. Fazê-lo seria sinal evidente de falta de autoridade. Pois bem: infelizmente, foi precisamente isso o que aconteceu com o documento de 1969 – a EncíclicaMemoriale Domine – que supostamente era contra a Comunhão na mão.
Mas estava-se na era do compromisso, e o documento continha a semente da sua própria destruição: logo de seguida, a Instrução dizia que, onde o abuso já se tivesse estabelecido firmemente, poderia ser legalizado por maioria de dois terços numa votação secreta da conferência nacional dos bispos (desde que a Santa Sé confirmasse a sua decisão). Isto operou logo a favor dos liberais. E note-se que a Instrução dizia "onde tal abuso já se tivesse estabelecido firmemente". Portanto, os países onde a prática ainda não se tivesse desenvolvido ficaram, obviamente, excluídos dessa concessão — e nessa categoria estavam incluídos todos os países de língua inglesa, inclusive os Estados Unidos.
Como era natural, o clero liberal de outros países (do nosso também - EUA) concluiu que, se esta rebelião podia ser legalizada na Holanda, podia ser legalizada em qualquer parte. Calcularam que, se ignorassem o Memoriale Domine e desafiassem a lei litúrgica da Igreja, essa rebelião não só seria tolerada como eventualmente legalizada. Foi exactamente isto o que aconteceu; e é por isso que hoje temos a Comunhão na mão.
Começada para desafiar, perpetuada
para enganar
Como se não bastasse a Comunhão na mão ter começado na desobediência, perpetuou-se através de dolo. Não dispomos de espaço para dar todos os pormenores; mas a propaganda que, na década de 1970, foi usada para apregoar a Comunhão na mão junto de um povo confiante e vulnerável foi uma campanha de meias-verdades calculadas que não contavam toda a história. Encontramos rapidamente um exemplo nos escritos de Monsenhor Champlin. Os seus escritos:
  • dão ao leitor a falsa impressão de que o Vaticano II deu ordem para o abuso, quando, na realidade, não é sequer mencionado em nenhum documento do Concílio;
  • não dizem ao leitor que essa prática foi começada por alguns membros do clero em desafio à a lei litúrgica estabelecida, mas apresentam-na como se ela fosse a resposta a um pedido dos leigos;
  • não dizem com clareza ao leitor que os bispos do mundo, quando consultados, votaram por esmagadora maioria contra a Comunhão na mão;
  • não mencionam que essa autorização devia ser apenas uma tolerância do abuso onde ele já se tinha estabelecido em 1969. Não era, portanto, uma luz verde para tal abuso alastrar a outros países, como os Estados Unidos.


Lembramos que hoje, ainda², é absolutamente permitido distribuir a Sagrada Comunhão Eucarística nas mãos dos fiéis sob as condições da mesma instrução supracitada.

Boa leitura!



NOTAS

¹ A pesquisa do documento no site da CNBB poussui o seguinte resultado: "Pesquisar palavra-chave instrução memoriale domini Total: 0 resultados encontrados".
² Ainda, porque:

"O Senhor não vai deixar prevalecer por muito tempo
o domínio dos malvados sobre a sorte dos seus justos,
para os justos não mancharem suas mãos na iniqüidade.

Fazei o bem, Senhor, aos bons e aos que têm reto coração,
mas os que seguem maus caminhos, castigai-os com os maus!
Que venha a paz a Israel! Que venha a paz ao vosso povo!"
Salmo 124 (125)

domingo, 17 de julho de 2011

segunda-feira, 13 de junho de 2011

5 motivos para dizer "não" às "capelas ecumênicas"

View Comments

Republicamos outro excelente artigo do amigo e leitor do Salvem a Liturgia, Vinícius Farias, do seu blog Sentinela no escuro.
Capela ecumênica do hospital São Luiz, em São Paulo
1-O fim das imagens: Você já viu imagens da Virgem Maria ou dos santos numa capela dessas? Como não há normas claras para a construção de "capelas ecumênicas", não se pode dizer quantos símbolos cada confissão religiosa pode ter; ou ainda, se é permitido ter símbolos religiosos. As capelas ecumênicas que já visitei não têm símbolo algum. São espaços vazios com bancos. Quando muito estes espaços têm uma cruz. Porém, se o objetivo é ser um local comum a mais de uma confissão cristã, como contemplar democraticamente os iconoclastas e aqueles que veneram as imagens sacras?
2-Incentivo ao “pancristianismo”: o ecumenismo surgiu com missionários protestantes que queriam solapar as diferenças interdenominacionais em prol do anúncio do Evangelho. Estima-se que existam cerca de 33.800 diferentes denominações protestantes no mundo, cada uma com suas diferenças doutrinárias, de espiritualidade e organizacionais. Ainda assim é, de certa forma, fácil encontrar pontos em comum que de forma falaciosa poderiam levar as pessoas a acreditarem que existiria uma religião cristã tendo como vértice a figura de Jesus Cristo. Porém, para os católicos existe um erro crucial nesta história toda: Cristo não escolheu apóstolos, deixou um líder (“Tu és Pedro”), fundou uma Igreja (“Sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja”) e inspirou os evangelistas para que cada um interpretasse a Verdade de forma particular. Claro que Jesus não disse “Tu és Pedro e sobre esta Pedra edificarei a Igreja Católica” ou “deixarei sete sacramentos que devereis observar”. Ainda assim, a compreensão de que precisa haver uma só Igreja verdadeira é lógica. Existem protestantes que são salvos? Claro que sim. Porém, os meios que tiveram para salvarem-se têm uma raiz na Igreja dos Apóstolos – a Católica Apostólica Romana, seja por meio das Sagradas Escrituras, seja por meio dos sacramentos válidos que algumas ainda observam.
3-Confusões sincréticas: o sincretismo no Brasil é algo fortíssimo. A relação entre o candomblé e o catolicismo, por exemplo, remonta da proibição por parte da Igreja do culto aos orixás trazidos pelos escravos vindos da África. Para burlar tal proibição, eles utilizavam as imagens católicas que paulatinamente foram associadas aos deuses africanos. É muito comum no Brasil vermos católicos lendo livros espíritas, espíritas que freqüentam uma sessão num dia e a missa no outro ou mesmo protestantes que freqüentam o culto, mas andam com uma imagem da Virgem na carteira. Sabe-se que o Espírito Santo sopra onde quer, assim, podemos afirmar que existem coisas boas nas mais diversas religiões, porém a indivisibilidade da Verdade impede que uma pessoa possa salvar-se (respeitada a ignorância) sem acreditar de modo pleno no que a Igreja prega. Isto porque quando criamos uma forma particular de seguir Cristo, não estamos aceitando plenamente sua mensagem (o ônus e o bônus) que é a mesma para todos. Estamos construindo de forma egoísta um cristianismo ao nosso modo, que claramente distoa do projeto de salvação desejado pelo Filho de Deus. A pessoa até se alimenta com o biscoito esfarelado, mas muito será perdido quando ele é passado de uma mão para outra.
4-O império do relativismo: um grande expoente da Igreja no Brasil, o padre Fábio de Melo certa vez afirmou que “se nós somos cristãos, não importa que você seja evangélico, que eu seja católico…não importa!”. Você imaginaria um muçulmano falando nestes termos? Pergunte a um protestante fiel da Assembléia de Deus se, para ele, não há nenhum problema em ser católico. Mais uma vez o problema aqui está na coerência. Se eu acredito que a Igreja Católica é a verdadeira, fundada por Jesus Cristo e quero anunciar esta verdade para os outros, como fazê-lo se “a religião não importa”? Recentemente vimos um movimento de anglicanos entrando em comunhão com a Igreja Católica. Sim, eles buscaram os bispos e declararam: “eu era protestante, hoje aceito que a Igreja católica é a verdadeira e única Igreja de Cristo”. Bom, se a Igreja dissesse que todas as religiões eram boas e que nada se perde em ser protestante, qual o motivo que eles teriam para tornarem-se católicos? Isto é relativismo “brabo”! Parte-se do pressuposto que há uma forte crise na identidade católica – identidade esta que remonta aos apóstolos. Será que é isto que devemos defender? Muitos opõem-se ao que disse acima afirmando: “mas assim você só cria divisões e guerras santas”, mas pelo que sei, o cristianismo é uma proposta, um convite. Nada deve ser imposto. Porém, não é por isso que eu devo mitigar o que acredito para agradar gregos e troianos. A Verdade é um motor que se move por energia própria. Quem seria tolo de forçar o motor e danificar a máquina? Ademais, vou explicar-vos de modo prático como funciona o ecumenismo destas capelas: cada um, NO SEU HORÁRIO, reza ao seu modo. Isto é unidade?
5-A desvalorização da arte católica: se o ecumenismo destas capelas é bom e deve ser proclamado dos telhados, por que eu, como padre católico, deveria gastar tempo, dinheiro e ter dores de cabeça com a arte sacra? A arte cristã é admirável até mesmo pelos não-crentes. É um patrimônio da humanidade em honra ao Deus altíssimo. As obras oferecidas em honra a Deus vêm desde o antigo testamento. Quem não se lembra da lendária arca da aliança que, segundo o livro do Êxodo, era ricamente adornada por anjos? Hoje em dia vemos Igrejas desnudas, como verdadeiras recepções de hospitais. São brancas, estéreis, rapidamente construídas, sem Sacrifício. Antigamente a construção das igrejas durava séculos. A dimensão do eterno estava em cada detalhe. O homem fazia por amor a Deus e este amor era tão grande que precisava ser expressado de uma forma concreta. Assim, este falso ecumenismo, quando aplicado à arte cristã, culmina num empobrecimento e numa simplificação dos templos. Eu me sinto muito mal quando entro num lugar assim. Sinto a presença de qualquer coisa, menos de Deus porque aquilo foi construído para agradar o convívio humano, não para a glória de Deus. Ademais, tudo convida para uma falta de respeito com o local. Existe um ditado que diz: “aquilo que é de todo mundo acaba não sendo de ninguém”. E o respeito pelo que não pertence a ninguém é preservado? O que impediria um protestante de levar um bolo para comemorar o aniversário de um irmão depois do culto e colocá-lo em cima do altar (se ele existir)? O que impediria um espírita que crê em Jesus Cristo de invocar as entidades no mesmo lugar em que se invoca o Espírito Santo? Para mim isto tudo é muito estranho…Por fim, não vejo prejuízo para um protestante que usa um local sem adornos artísticos, menos ainda para um espírita. Só há uma parte que sai perdendo. Nisto tudo deveríamos abraçar a queda das almas pelo respeito humano e em prol do políticamente correto. Não sei se as capelas ecumênicas caem tão bem ao projeto de unidade entre os cristãos.

sábado, 28 de maio de 2011

Campanha pelo fim do "Glória pirata"

View Comments
Senhor padre,

O Glória não é um momento em que se canta uma música de louvor ou que tenha a palavra "glória" na letra.

Não existe "música de glória". É diferente da Comunhão, da Entrada, do Ofertório, que são cerimônias que comportam uma música para acompanhar. (de preferência do Missal ou do Gradual, mas podendo ser outra). Já o Glória não é uma cerimônia que comporta uma música para acompanhar: é uma cerimônia em si mesma, que pode ser rezada ou cantada.

O Glória é uma cerimônia da Missa, uma parte do Ordinário da Missa. Na Comunhão, por exemplo, faz-se a cerimônia da Comunhão, e uma música pode acompanhar. O Glória não. A cerimônia do Glória é tão somente o recitar ou cantar do texto.

Por isso, senhor padre, não mutile a Missa, acrescentando "músicas de glória", com letras estranhas ao que diz o Missal.

A letra do Glória, em português, é a seguinte:

Glória a Deus nas alturas
e paz na terra aos homens por Ele amados.

Senhor Deus, Rei dos céus, Deus Pai todo-poderoso:
nós Vos louvamos,
nós Vos bendizemos,
nós Vos adoramos,
nós Vos glorificamos,
nós Vos damos graças,
por vossa imensa glória.

Senhor Jesus Cristo, Filho Unigénito,
Senhor Deus, Cordeiro de Deus, Filho de Deus Pai:
Vós que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós;
Vós que tirais o pecado do mundo, acolhei a nossa súplica;
Vós que estais à direita do Pai, tende piedade de nós.

Só Vós sois o Santo;
só Vós, o Senhor;
só Vós, o Altíssimo, Jesus Cristo;
com o Espírito Santo na glória de Deus Pai.

Amém.

Esse é o Glória original, o único permitido. Qualquer outro texto, por mais bonito, mais piedoso, mais ortodoxo que seja, é um Glória "pirata".

quarta-feira, 25 de maio de 2011

A nova teologia buystiana da Missa: a “Teologia da Missa que não é Santa”

View Comments
Uma versão "amigável", por mim preparada, para os que não conseguiram baixar o excelente artigo do Taiguara Fernandes de Sousa.

A Irmã Ione Buyst, OSB, é definida no site da Editora Paulinas[1] como atuante “na formação litúrgica, tanto no campo acadêmico como no campo pastoral e popular”, “professora universitária, assessora treinamentos, encontros e cursos de teologia e pastoral litúrgicas a pedido de institutos de teologia, dioceses e regiões pastorais, congregações religiosas, movimentos intereclesiais de comunidades de base”, com “vários livros e artigos publicados, tanto na área acadêmica quanto na pastoral”, além de ser fundadora de algumas “redes de animação litúrgica” e criadora de uma tal técnica de formação litúrgica chamada “Laboratório Litúrgico”.

Segundo um outro site, o portal “LPA – Liturgia por Amor[2], este talLaboratório Litúrgico constitui-se numa técnica que assumia elementos de duas fontes básicas: a pedagogia religiosa de Hélène Lubienska de Lenval e os métodos psicodramáticos de Jacob Levy Moreno. Aos poucos, ao longo do tempo, com o uso da técnica, o Laboratório Litúrgico foi exigindo um trabalho de sistematização que esclarece a influência de cada uma das fontes. Buscou um caminho novo para a aprendizagem na liturgia”; no mesmo portal diz-se que “foram buscar a inspiração [para o Laboratório Litúrgico] no teatro, no qual os atores, muito antes de entrarem no palco, exercitam o corpo, a fala, a expressão; incorporam e criam personagens em uma série de exercícios e trabalhos, chamados ‘Laboratórios’. Foi-se aprendendo também, ao longo dos anos, com técnicas corporais e de meditação de várias correntes terapêuticas, filosóficas e espirituais”. Isto quer dizer precisamente que, na técnica doLaboratório Litúrgico – da qual a Ir. Ione Buyst é uma das criadoras – a liturgia se degenera num espetáculo de teatro, com “métodos psicodramáticos”, onde a igreja é um “palco” para “exercitar-se o corpo, a fala e a expressão”, “incorporar e criar personagens”. Ou seja, a Liturgia deixa de ser o culto de Deus, Nosso Senhor, para ser um espetáculo teatral meramente humano. Mais que isso, no tal Laboratório Litúrgico, a Liturgia é utilizada para desenvolver-se nas “técnicas corporais e de meditação de várias correntes terapêuticas, filosóficas e espirituais”; isto é, não se trata mais de um culto de adoração a Deus, de pedido de perdão, de ação de graças e impetração, mas um conjunto de “técnicas de meditação”, que nem precisam ser necessariamente católicas – apesar de que “a lei da Fé é a lei da oração” – mas podem vir de “diversas correntes terapêuticas, filosóficas e espirituais” – até pagãs, talvez. Imagine-se o que diria o Profeta Ezequial ao contemplar um Laboratório Litúrgico transformando o culto a Deus numa reunião de auto-ajuda baseado em técnicas de meditação de “várias correntes terapêuticas, filosóficas e espirituais”? Talvez sua reação fosse a mesma de quando o Senhor lhe revelou a idolatria que obscuramente era praticada pelos chefes dos anciãos no interior de Templo, idolatria que o Senhor chamou de “abominações graves” e “ritos abomináveis” (cf. Ezequiel 8,1-18); que diria destas “várias correntes terapêuticas, filosóficas e espirituais” que são exaltadas na técnica do Laboratório Litúrgico?

Ora, a Ir. Ione Buyst foi uma das criadoras desta técnica estranha e mais propriamente “anti-litúrgica” do que “litúrgica”. Mais a Ir. Ione Buyst cria mais do que exóticas técnicas litúrgicas: cria também exóticas “doutrinas litúrgicas”, distantes do ensinamento da Igreja ao longo destes dois milênios de Magistério e que poderíamos classificar com certeza maior como heresias litúrgicas. Apesar disso, as obras da Ir. Ione Buyst são utilizadas em muitos seminários para formação dos futuros padres. Muitas Missas podem estar sendo inválidas porque os sacerdotes que as celebram não crêem na presença real de Cristo na Eucaristia e no sacerdócio ministerial e assim não têm a intenção da Igreja na celebração dos mais altos mistérios, graças às doutrinas esquisitas da Ir. Ione Buyst que lhes foram ensinadas nos Seminários. E que prejuízo isto deverá estar causando à Igreja Católica do Brasil e à vida espiritual do povo católico, que sem os Sacramentos é árido como um deserto!

Este é o segundo de uma série de artigos cujo objetivo será refutar as estranhas e não-católicas doutrinas [anti-]litúrgicas da Ir. Ione Buyst. Mais que isso: doutrinas particulares, criadas pela mente fértil de uma religiosa desejosa de renegar dois milênios de Magistério da Santa Madre Igreja para criar o seu próprio “magistério”.

Após refutarmos a exótica Doutrina da Confusão dos Sacerdócios[3], impugnaremos agora a sua Nova Teologia da Missa ou Teologia da Missa que não é Santa. Refutaremos esta sua outra esquisita doutrina novamente a partir da obra, “A Missa - Memória de Jesus no Coração da Vida(São Paulo: Paulinas, 2004), de autoria da referida “liturgista”.

1.
A teologia buystiana da Missa ou “Teologia da Santa Missa que não é Santa”

A Ir. Ione Buyst, novamente mostrando total descaso da Doutrina da Santa Madre Igreja tal como nos foi revelada por Nosso Senhor Jesus Cristo e ensinada pelos Apóstolos e seus Sucessores, teve a audácia de criar uma “nova teologia” da Missa.

Quais as linhas desta “teologia buystiana” da Missa?

São palavras da Ir. Ione Buyst; ressaltamos alguns trechos, por serem especialmente escandalosos:

“A narrativa da instituição (mais conhecida como “consagração”) não deveria aparecer como um ‘corte’ do resto da oração eucarística. A mudança do tom de voz, a maneira pausada do dizer o terço (enquanto as outras partes da oração eucarística são ditas de forma corrida), as incensações, as genuflexões do padre e o ficar ajoelhado do povo, a elevação (que não está prevista no missal, mas muitos inadvertidamente continuam fazendo) etc: tudo isso acaba chamando uma atenção exagerada sobre esse momento da celebração. Na verdade, estamos diante de ‘linhas cruzadas’ de vários enfoques teológicos.

Da teologia medieval herdamos a insistência na presença real de Jesus na hóstia consagrada
. Era uma época em que o padre ficava de costas para o povo, fazia a oração eucaristia em latim e em silêncio. O povo já não comungava há muitos séculos, a não ser uma vez por ano, na época da Páscoa. Daí a necessidade de se tocar a campainha para avisar o momento da chamada consagração. Daí também a importância de ‘ver a hóstia’, ‘ver o Corpo de Cristo’ (só se insistia na hóstia porque o vinho, o sangue de Jesus, não poder ser ‘visto’ por causa do cálice). E para que o povo pudesse ver, o padre tinha que levantar a hóstia bem alto, acima da cabeça dele, já que estava de costas. Os acólitos incensavam; quando exageravam na fumaça, o povo reclamava que não estava conseguindo ver a hóstia. O povo adorava o pão consagrado, já que não podia comê-lo. Fazia orações devocionais, do tipo ‘Meu Senhor e meu Deus...’ e cultivava uma espiritualidade baseada nessa presença real de Jesus na hóstia. A eucaristia acabou sendo entendida como uma ‘coisa’ sagrada, algo para se ver e adorar. Só mais tarde, no início do século XX, o povo foi de novo convidado a comungar, frequentemente até; porém, não no momento da comunhão do padre, mas depois da missa ou num outro momento do dia.

O Concílio Vaticano II quis reatar com a teologia dos primeiros séculos, e reencontrou a dimensão pascal da eucaristia. Diz que o Cristo Ressuscitado está realmente presente em todos os momento da missa (e não somente na chamada “consagração”)
. Recoloca a oração eucarística como sendo toda ela de ação de graças, oblação, consagração... e manda proclamá-la em voz alta e na língua do povo. Diz que não há missa sem comunhão eucarística. Insiste em que todo o povo coma e beba do pão e do vinho, como participação na morte-ressurreição do Senhor. Não se pode ficar só olhando e adorando a hóstia. A eucaristia volta a ser entendida como ação, para se fazer o que Jesus fez: dar graças, partir e repartir, comer e beber.

Essas duas linhas teológicas misturam-se dentro da missa e complicam nossa maneira de celebrar o momento da narrativa da instituição. A primeira nos manda ajoelhar, olhar para a hóstia, abaixar a cabeça, adorar em silencio, prestar atenção toda especial a esse momento da celebração. Requer uma profunda devoção individual. A segunda nos ensina a ficar em pé (sinal de ressurreição) de preferência ao redor da mesa, olhar para a mesa onde estão o pão e o vinho, ouvir atentamente e acolher as palavras Jesus na última ceia (que o presidente lembra, falando com o Pai), aclamar juntos (cantando “Anunciamos, Senhor, a vossa morte...”) e continuar prestando a mesma atenção às partes seguintes, que são tão importante quanto a narrativa da instituição. Requer uma participação comunitária, ativa e consciente, de todo o povo sacerdotal, na ação eucarística, pascal, feito por Cristo Ressuscitado.

Na prática, é difícil romper com séculos de devocionismo eucarístico e suas expressões características da missa. Quem sabe possamos aprofundar a nova teologia da eucaristia em pequenos grupos e comunidade, e aí encontrar uma maneira diferente de celebrar? (p. 120-122)

Por fim, como corolário de seu desfile de heresias, larga a Ir. Ione Buyst:

Não é a missa em si um sacrifício, mas é sacramento do sacrifício de Jesus, memória da entrega total de Jesus ao Pai.
(p. 124)

Construiu, assim, a Ir. Ione Buyst uma verdadeira “Teologia da Santa Missa que não é Santa”. De fato, seus princípios e seus argumentos levam à conclusão imediata de que a Santa Missa é apenas uma prática ritualística sem nenhum valor, um apetrecho cultural apenas, ou – como ela própria conclui – que a Missa não é um sacrifício, a renovação do Sacrifício que se deu uma vez por todas no Calvário.

2.
Refutação da “Teologia da Santa Missa que não é Santa”

2.1.
Mentalidade revolucionária e reescritura da história

“‘Mentalidade revolucionária’ é o estado de espírito, permanente ou transitório, no qual um indivíduo ou grupo se crê habilitado a remoldar o conjunto da sociedade – senão a natureza humana em geral – por meio da ação política; e acredita que, como agente ou portador de um futuro melhor, está acima de todo julgamento pela humanidade presente ou passada, só tendo satisfações a prestar ao “tribunal da História”. Mas o tribunal da História é, por definição, a própria sociedade futura que esse indivíduo ou grupo diz representar no presente; e, como essa sociedade não pode testemunhar ou julgar senão através desse seu mesmo representante, é claro que este se torna assim não apenas o único juiz soberano de seus próprios atos, mas o juiz de toda a humanidade, passada, presente ou futura. Habilitado a acusar e condenar todas as leis, instituições, crenças, valores, costumes, ações e obras de todas as épocas sem poder ser por sua vez julgado por nenhuma delas, ele está tão acima da humanidade histórica que não é inexato chamá-lo de Super-Homem.”
(http://www.olavodecarvalho.org/semana/070813dc.html)

São palavras do filósofo Olavo de Carvalho, sobre o que se passa na mente deste ser dos tempos modernos, o revolucionário.

O revolucionário é, principalmente, alguém que não se contenta com o mundo tal como ele é, com as coisas tão como elas foram criadas por Deus. Orgulhosamente, ele crê possuir uma idéia melhor de como o mundo deveria ser: esse modo como Deus o fez é muito simples, ou muito feio, ou muito errado; é a ideologia do revolucionário, é o seu projeto de mundo, que vai criar um homem novo e uma nova terra, melhor do que o que existe.

Assim, diz um outro grande estudioso deste movimento chamado Revolução, o teólogo argentino Pe. Julio Meinvielle, “não há propriamente uma verdade revolucionária, mas apenas uma coisa que quer ser transformação do mundo, com o homem em perpétuo movimento. O homem não é, o homem se faz; o mundo não é, o mundo se cria”.

A Revolução, portanto, e aqueles cuja forma de pensar esta a seu serviço – os portadores da mentalidade revolucionária – dão o mesmo grito de rebelião de Lúcifer – “Sereis como deuses!” – e advogando soberbamente uma autoridade divina para si próprios, crêem possuir um melhor projeto de como o mundo e o homem deveriam ser, pois não se contentam com o que eles são. É uma substituição da filosofia do Ser – a filosofia de Deus, que se apresenta como “Eu Sou” – pela filosofia da evolução, do progressismo, da mudança ninguém sabe para o que ou para onde.

E, como o revolucionário não gosta das coisas como são, mas possui um projeto de como elas deveriam ser, ele procura sempre ridicularizar, caricaturar, caluniar, falsear a verdade das coisas, para então apresentar como eles acham que elas deveriam ser realmente – e, na verdade, só estão rebatendo a própria mentira, a próprio caricatura inventada, e não a realidade!

Assim, os revolucionários iluministas caricaturaram a Idade Média e a Igreja – chamando-lhas de “Idade das Trevas” e “Inimiga da Razão” – para, em contrário à própria mentira, justificarem o seu projeto de mundo, o seu liberalismo e igualitarismo – o liberalismo das guilhotinas e o igualitarismo das cabeças decepadas.

É, pois, essencial ao revolucionário a reescritura da história. É preciso pintar a realidade das coisas de cinza e preto para que o projeto revolucionário surja como o único que pode trazer um mundo de cores. E é preciso dizer que as coisas, tão como são realmente, são incompletas, antiquadas, frutos da ignorância e da selvageria, para que o revolucionário – esse ser tão superior, com seu projeto de mundo melhor – possa ter a carta-branca necessária para o que for preciso em prol da realização do seu admirável mundo novo. O que for preciso.

E onde entra estes nossos pequenos apontamentos sobre a mente revolucionária na questão da Ir. Ione Buyst?

Ora, a Ir. Ione Buyst é, nada mais, nada menos, que uma revolucionária, no sentido mais genuíno do termo: alguém que não se contenta com as coisas como ela são, que crê possuir um projeto melhor, uma idéia mais sensata de como elas deveriam ser, e assim – naquela superioridade revolucionária que não permite ser julgada por ninguém – admite ser possível passar por cima das leis santíssimas da Igreja em prol de sua ideologia litúrgica.

Porque, em verdade, a Ir. Ione Buyst não se contenta com a liturgia como ela é, não se contenta com o Sacramento da Santa Missa tal como Nosso Senhor Jesus Cristo o instituiu. A Missa não pode ser um sacrifício, a Missa não pode ser santa ou sacral: em seu admirável mundo novo, a Missa é uma reunião de homens de boa-vontade, um banquete de amigos em torno de um pão que só remotamente relembra aquele que um dia foi morto no Calvário, vítima da opressão dos ricos...

A Missa, para a Ir. Buyst, não deveria ser o que é – um sacrifício, uma celebração santíssima, a oração mais perfeita. Não! A Missa deveria seroutra coisa. Não se admite que ela seja o que seja – a filosofia do Ser deve ser substituída pela do dever-ser, da evolução, do progresso.

E, em sua busca da revolução litúrgica, a Ir. Ione Buyst cria um projeto do que seria esta “outra Missa”, deste “outro mundo” para um “outro homem”, criado pelos Teólogos da Libertação, amparados nas loucuras do arqui-revolucionário barbudo, Karl Marx.

Aliás, não bastava que se tivesse um projeto de uma outra Missa. Era preciso que essa que existe – a Santa Missa que é Santa, que é Sacrifício – fosse caricaturada, estereotipada sob feições horríveis, pintada com as tintas da opressão e da ignorância, para que da mentira sobre esta Missa existente se pudesse justificar a outra Missa, que se quer criar.

A Ir. Ione Buyst começa, então, a reescrever a história da liturgia: diz que é a teologia medieval que nos faz insistir em crer na presença real de Cristo na hóstia consagrada – porque, em seu admirável mundo novo, uma tal insistência só pode ser a insistência dos tolos! –; caricatura a celebração como uma coisa de alienadas, ridicularizando a devoção do povo a Nosso Senhor, ironizando a piedade dos sacerdotes na celebração do Sacrifício, zomba da posição do sacerdote, do incenso, da elevação da hóstia, faz troça de qualquer sinal externo de sacralidade na Liturgia e da adoração do Santíssimo Sacramento; diz que é por causa dessa alienação que a Eucaristia “acaba sendo entendida como uma ‘coisa’ sagrada” – porque, no admirável mundo novo buystiano, a eucaristia não deve ser sagrada: é apenas um pãozinho dividido entre amigos... A Ir. Ione Buyst cria, no segundo parágrafo do texto que trouxemos acima, toda uma fábula a respeito do que era a Missa; ironiza com o que este Santo Sacrifício é na realidade. Não se acanha de ironizar a piedade do povo e dos sacerdotes, que para ela é coisa sem valia. A crença na presença real de Cristo, por sua vez, é só fruto de mentes perturbadas.

Há uma reescritura da história, uma caricaturização da realidade, que revela a insatisfação da Ir. Ione Buyst com as coisas como ela são, com a Missa como ela é. Esta caricatura, esta imagem falseada da Santa Missa, é utilizada então como justificativa para seu projeto revolucionário da Missa: um mundo novo onde ninguém é padre, ninguém é leigo, a Eucaristia não é Cristo, não é Deus; todos são amigos num banquete em torno de um pãozinho a quem eles conferem um valor simbólico. Apenas simbólico.

O projeto revolucionário da Ir. Ione Buyst contraria flagrantemente a Verdade, tal como nos foi ensinada por Nosso Senhor Jesus Cristo e pela Igreja. Porque a Verdade é o que é, e não está sujeita a caprichos de mentes insatisfeitas que preferem viver nas fantasias de um mundo utópico...

2.2.
Sobre a presença real de Cristo da Eucaristia e a Natureza Sacrifical da Missa

Da teologia medieval herdamos a insistência na presença real de Jesus na hóstia consagrada.
[...] O povo adorava o pão consagrado, já que não podia comê-lo. Fazia orações devocionais, do tipo ‘Meu Senhor e meu Deus...’ e cultivava uma espiritualidade baseada nessa presença real de Jesus na hóstia. A eucaristia acabou sendo entendida como uma ‘coisa’ sagrada, algo para se ver e adorar (loc. cit.).

São palavras da Ir. Ione Buyst, já citadas acima.

E não há maneira melhor de defini-las: são escandalosas.

Com estas suas proposições, a Ir. Ione Buyst chegou ao nível dos piores heresiarcas protestantes: Lutero, Calvino e Zwinglio.

As palavras da Ir. Ione Buyst são uma negação cabal de tudo o que sempre foi acreditado, por todos e em todo lugar, sobre a Santa Missa. São escandalosamente contrárias ao que ensinou Nosso Senhor Jesus Cristo, os Papas, os Concílios Ecumênicos e os Santos.

A “nova teologia buystiana” da Missa se põe, assim, na antípoda da verdadeira Teologia da Missa. Não há outro modo de classificar esta “nova teologia buystiana” senão como herética e anti-católica.

De fato, não é uma insistência tola crer na Presença Real de Cristo na Eucaristia nem é um capricho medieval: este é o núcleo mesmo da Teologia Católica sobre a Missa e a Eucaristia, o núcleo mesmo da Fé neste Santíssimo Sacramento.

Lutero revoltou-se contra a crença na Presença Real e, contra a doutrina certa e católica sobre a transubstanciação do pão e vinho em Corpo e Sangue de Jesus Cristo, propunha um disparate que apelidava de con-substanciação: Cristo apenas estaria com o pão e o vinho naquele momento, porque o fiel achava que Ele estava lá; não havia Presença Real, não havia transubstanciação do pão e vinho na verdadeira Carne e no verdadeiro Sangue. Com isso, Lutero punha a fé na Eucaristia como coisa subjetiva: era o fiel que achava que Cristo estava com o pão, mas Cristo não era a hóstia realmente. É a própria tese protestante do primado da subjetividade, oriunda do orgulho humano de querer ser como Deus (Gênese III,5), que dá margem ao relativismo doutrinário e moral e ao esfacelamento do Protestantismo em milhares e milhares de doutrinas.

A Fé Católica, ao contrário, crê numa Verdade objetiva, que independe do que o sujeito acha ou deixa de achar: a Verdade é o que é, e o sujeito é que tem de conformar-se com as coisas como são. Assim, Cristo estárealmente presente na Eucaristia: é um fato, um dado objetivo – não subjetivo. Independe do que Lutero ou a Ir. Ione Buyst acham em seus vão pensamentos: a Eucaristia é Nosso Senhor Jesus Cristo e ponto final.

E esse é o próprio teor das palavras de Nosso Senhor na Última Ceia, quando da Instituição da Eucaristia. Cristo não disse: “Isto pode ser o meu Corpo” e “Isto pode ser o meu Sangue”, nem “Isto é apenas agora, mas não será mais tarde” ou “Isto é apenas símbolo do meu Corpo e do meu Sangue”. Não.

Cristo disse: “Isto é o meu Corpo”, “Isto é o meu Sangue” (Marcos XIV, 22-25). O verbo ser não dá margens para dúvidas: estabelece identidade entre aquilo que é dito e de quem é dito. Além disso, o verbo ser é de especial importância ao Senhor, pois é seu próprio Nome, ele que se apresente como: “Eu sou aquele que sou” (Êxodo III, 13-15). A Filosofia de Deus é a Filosofia do Ser: Ele próprio se chama EU SOU. Em oposição a Deus – que é o que é – e a esta Filosofia do Ser, está a filosofia do dever-ser, da evolução pura, a filosofia da Revolução.

Quando Cristo expressa a identidade do pão e do vinho que toma em suas santas e veneráveis mãos com a sua Carne e o seu Sangue, não dá margens para outras interpretações: não é um mero símbolo, mas há identidade plena entre a Eucaristia e o Corpo e Sangue de Cristo. “Isto é o meu Corpo”, “Isto é o meu Sangue”, diz aquele que se chama EU SOU.

Donde não se entende que a Ir. Ione Buyst – bebendo da fonte de Lutero – trate a presença real como uma insistência tola, fruto de uma antiquada teologia medieval – como se na Igreja as coisas se classificassem em antigas e novas, e não em verdadeiras e falsas.

Contra a Ir. Ione Buyst, diz o Catecismo da Igreja Católica:

O modo de presença de Cristo sob as espécies eucarísticas é único. Ele eleva a Eucaristia acima de todos os sacramentos e faz com que da seja “como que o coroamento da vida espiritual e o fim ao qual tendem todos os sacramentos”. No santíssimo sacramento da Eucaristia estão “contidos verdadeiramente, realmente e substancialmente o Corpo e o Sangue juntamente com a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte, o Cristo todo” . “Esta presença chama-se 'real' não por exclusão, como se as outras não fossem 'reais', mas por antonomásia, porque é substancial e porque por ela Cristo, Deus e homem, se toma presente completo
(Cat., n. 1374).

E o Catecismo Romano é preciso em seu texto e na fulminação desta heresia que nega a Presença Real de Cristo na Eucaristia:

São claras e inequívocas as palavras de Nosso Salvador, pelas quais Ele designa a presença real de Seu Corpo neste Sacramento. Quando, pois, Ele diz: "Isto é o Meu Corpo, este é o Meu Sangue" - nenhuma pessoa de bom-senso pode desconhecer o que tais palavras significam, tanto mais que se referem à natureza humana que era em Cristo uma realidade, conforme o que a fé católica a todos propõe como doutrina indubitável. Assim é que Santo Hilário, vario de muita virtude e prudência, teve a agudeza de observar que já não é possível duvidar da presença real do Corpo e Sangue de Cristo, desde que o próprio Senhor declarou, e a fé nos ensina, que Sua Carne é verdadeiramente comida” (Parte II, Cap. IV, §27).

O Catecismo Romano não se acanha de dizer que não têm bom senso – “a cabeça no lugar”, se diria correntemente no Brasil – aqueles que negam esta presença real após tomarem conhecimento da veemência das palavras de Cristo.

Diz ainda mais o Catecismo Romano:

Neste Sacramento, se contém não só o verdadeiro Corpo de Cristo, e tudo o que constitui realmente o corpo humano, como os ossos e músculos, mas também Cristo todo inteiro. [...]Devemos crer que tudo está encerrado no Sacramento da Eucaristia: ambas as substâncias, e o que se deriva das duas substâncias, isto é, a Divindade e toda a natureza humana, que consta da alma, do corpo com todas as suas partes e até do sangue” (Parte II, Cap. IV, §31).

E o Concílio de Trento lança anátema:

Cân. l. Se alguém negar que no Santíssimo Sacramento da Eucaristia está contido verdadeira, real e substancialmente o corpo e sangue juntamente com a alma e divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, e por conseguinte o Cristo todo, e disser que somente está nele como sinal, figura ou virtude — seja excomungado.

Cân. 2. Se alguém disser que no sacrossanto sacramento da Eucaristia fica a substância do pão e do vinho juntamente com o corpo e o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo; e negar aquela admirável e singular conversão de toda a substância de pão no corpo, e de toda a substância do vinho no sangue, ficando apenas as espécies de pão e de vinho, que a Igreja com suma propriedade (aptissime) chama de transubstanciação — seja excomungado.

Cân. 3. Se alguém negar que no venerável sacramento da Eucaristia, debaixo de cada uma das espécies e debaixo de cada parte dessas espécies, quando elas se dividem, está presente o Cristo todo — seja excomungado.

Cân. 4. Se alguém disser que no admirável sacramento da Eucaristia, depois da consagração, não estão o corpo e o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas somente no uso, quando se recebe, e não antes nem depois; e que nas hóstias ou partículas consagradas, que se guardam ou sobram depois da comunhão, não permanece o verdadeiro corpo do Senhor — seja excomungado
(Dz., nn. 883-886).

Ora, a Ir. Ione Buyst, negando a Presença Real de Cristo na Eucaristia, incorreu em todos estes anátemas. A doutrina da Ir. Ione Buyst – tão escandalosa doutrina – não é uma doutrina católica, mas uma doutrinaprofundamente herética e anti-católica, que bebe da fonte do Protestantismo.

2.3.
A Natureza Sacrifical da Missa

Por negar a Presença Real de Cristo na Eucaristia, a Ir. Ione Buyst nega também a Natureza Sacrifical da Santa Missa:

Não é a missa em si um sacrifício, mas é sacramento do sacrifício de Jesus, memória da entrega total de Jesus ao Pai
(loc. cit).

Não é de se espantar, pois um erro puxa o outro: negada a Presença de Cristo na Eucaristia, decorre necessariamente que a celebração eucarística, a Santa Missa, não seja nada mais que uma reunião de amigos, um banquete em torno de um pãozinho, não um Sacrifício.

E com estas suas palavras a Ir. Ione Buyst cai novamente em perniciosa heresia, pois o Concílio de Trento fulminou esta sua doutrina com o anátema:

Cân. 1. Se alguém disser que na Missa não se oferece a Deus verdadeiro e próprio sacrifício, ou que oferecer-se Cristo não é mais que dar-se-nos em alimento — seja excomungado
(Dz., n. 948).

O Concílio de Trento lança a excomunhão exatamente em quem diga, como a Ir. Ione Buyst, que a Missa não é em si verdadeiro e próprio Sacrifício.

E isto resulta claríssimo do Evangelho, de modo que a Ir. Ione Buyst, para dizer que a Missa não é em si um sacrifício, só o pode fazer pela ignorância completa dos dizeres de Nosso Senhor. Com efeito, Cristo falou: “Isto é o meu Sangue, o Sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados” (Mateus XXVI, 28). Ora, Nosso Senhor tornou presente na Última Ceia o sacrifício uma vez por todas consumado no Calvário. Na primeira Missa celebrada, naquela Ceia, quando instituiu a Eucaristia, tornou presente já ali o Sacrifício do Calvário: “Isto é o meu Sangue derramado”. Não há dúvidas que Cristo fez da Missa exatamente o mesmo Sacrifício do Calvário: na Última Ceia ele antecipou aquele Sacrifício e hoje a Igreja renova aquele mesmo Sacrifício. Donde, diz o Concílio de Trento,“neste divino sacrifício, que se realiza na Missa, se encerra e é sacrificado incruentamente aquele mesmo Cristo que uma só vez cruentamente no altar da cruz se ofereceu a si mesmo [...]. Pois uma e mesma é a vítima: e aquele que agora oferece pelo ministério dos sacerdotes é o mesmo que, outrora, se ofereceu na Cruz, divergindo, apenas, o modo de oferecer” (Dz, n. 940).

A Missa é, portanto, em si um verdadeiro Sacrifício, pois assim quis Nosso Senhor ao celebrá-la de forma a tornar presente, naquela celebração, o seu próprio Sacrifício no Calvário: entregou seu próprio Corpo e derramou seu próprio Sangue; já não pão e vinho, mas verdadeira Carne e verdadeiro Sangue.

Negar a Natureza Sacrifical da Missa é um crime contra este Augustíssimo Sacramento e contra as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, Ele que não pode mentir porque é a própria Verdade (João XIV, 6).

E quando Cristo diz: “Fazei isto em memória de mim”, não está falando que a Missa não seja um Sacrifício, mas apenas um sinal de uma coisa passada, como conclui a Ir. Ione Buyst. A palavra anamnese ou memorial significa, no grego, atualização, tornar presente. E vimos que Nosso Senhor fez exatamente isso: tornou presente o seu Sacrifício. Portanto, diz o Catecismo da Igreja Católica,“no sentido da Sagrada Escritura, o memorial não é somente a lembrança dos acontecimentos dos passado, mas a proclamação das maravilhas que Deus realizou por todos os homens. A celebração litúrgica desses acontecimentos torna-os de certo modo presentes e atuais. [...] O memorial recebe um sentido novo no Novo Testamento. Quando a Igreja celebra a Eucaristia, rememora a páscoa de Cristo e esta se torna presente: o sacrifício que Cristo ofereceu uma vez por todas na Cruz torna-se sempre atual” (Cat., nn.1363-1364).

São flagrantemente destoantes da Doutrina da Igreja as palavras da Ir. Ione Buyst, que são, isto sim, do mais puro luteranismo.

2.4.
A Natureza Sacrifical da Missa, reafirmada pelo Vaticano II

Não bastasse negar a Presença Real de Cristo da Eucaristia e a Natureza Sacrifical da Missa, cometendo aí duas heresias gravíssimas, a Ir. Ione Buyst ainda vai buscar respaldo para sua “nova teologia da Missa que não é Santa” no... Concílio Vaticano II, um legítimo Concílio da Santa Igreja! Ora, nem é preciso dizer que ela não cita o texto do Concílio: se o citasse, encontraria lá exatamente o oposto daquilo que ela afirma.

Diz a Ir. Ione Buyst, mentirosamente atribuindo suas idéias ao Concílio:

O Concílio Vaticano II quis reatar com a teologia dos primeiros séculos, e reencontrou a dimensão pascal da eucaristia. Diz que o Cristo Ressuscitado está realmente presente em todos os momentos da missa (e não somente na chamada “consagração”). Recoloca a oração eucarística como sendo toda ela de ação de graças, oblação, consagração... e manda proclamá-la em voz alta e na língua do povo. Diz que não há missa sem comunhão eucarística. Insiste em que todo o povo coma e beba do pão e do vinho, como participação na morte-ressurreição do Senhor. Não se pode ficar só olhando e adorando a hóstia. A eucaristia volta a ser entendida como ação, para se fazer o que Jesus fez: dar graças, partir e repartir, comer e beber.

Ora, se “reencontrar a dimensão pascal da Eucaristia” for negar a Natureza Sacrifical da Missa e a Presença Real de Cristo neste Santíssimo Sacramento, então, de fato, o Vaticano II não fez isso!
Em verdade, sobre a Natureza Sacrifical da Missa o Vaticano II diz coisa completamente diversa do que fala a Ir. Ione Buyst: reafirma que a Missa é um Sacrifício, renovação daquele consumado na Cruz.

[É] especialmente no sacrifício eucarístico, «se opera o fruto da nossa Redenção» (Const. Liturg. Sacrosanctum Concilium, n.2).

O nosso Salvador instituiu na última Ceia, na noite em que foi entregue, o Sacrifício eucarístico do seu Corpo e do seu Sangue para perpetuar pelo decorrer dos séculos, até Ele voltar, o Sacrifício da cruz, confiando à Igreja, sua esposa amada, o memorial da sua morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal em que se recebe Cristo, a alma se enche de graça e nos é concedido o penhor da glória futura
(idem, n.47).

E sobre a Presença Real de Cristo na Eucaristia, igualmente reafirma a doutrina de sempre da Igreja:

Para realizar tão grande obra, Cristo está sempre presente na sua igreja, especialmente nas acções litúrgicas. Está presente no sacrifício da Missa, quer na pessoa do ministro - «O que se oferece agora pelo ministério sacerdotal é o mesmo que se ofereceu na Cruz» - quer e sobretudo sob as espécies eucarísticas
(idem, n.7).

Vê-se, pois, que não há respaldo para a Ir. Ione Buyst no Concílio Vaticano II; há, isto sim, o exato contrário das heresias luteranas que ela assume.

A Eucaristia não deixa de ser entendida de um jeito para ser entendida de outro. Ao contrário, o Vaticano II reafirma a doutrina de sempre sobre a Missa, exatamente a doutrina que a Ir. Ione Buyst renega como “obsoleta”, “teologia medieval”.

Ademais, não sabemos se a Ir. Ione Buyst entende o real significado de suas palavras ou se apenas as lança ao acaso. Porque a Páscoa sempre foi um sacrifício: para os judeus era o sacrifício do cordeiro e, para os cristãos, o Sacrifício de Cristo, Cordeiro Imolado. Assim, “redescobrir a dimensão pascal da Eucaristia” é – nada mais, nada menos – que afirmá-la um Sacrifício, porque isso é a Páscoa!

Quem não descobriu a dimensão pascal da Eucaristia – sua dimensãosacrifical – foi, isto sim, a Ir. Ione Buyst...

Sobre os outros absurdos que, neste mesmo trecho, a Ir. Ione Buyst atribui ao Vaticano II, resta-nos fazer alguns comentários pontuais que já fulminam de vez seus erros.

Ora, afirma Ione Buyst que “[o Concílio] diz que o Cristo Ressuscitado está realmente presente em todos os momentos da missa (e não somente na chamada ‘consagração’)”. Além de que não há nada no texto daConstituição Litúrgica Sacrosanctum Concilium que indique uma presença real de Cristo em todos os momentos da Missa, vimos já que o Concílio reafirmou a Presença Real de Nosso Senhor na Eucaristia e, portanto, por conseqüência lógica, reafirma a grandeza do momento da Consagração, no qual pão e vinho se tornam verdadeira Carne e verdadeiro Sangue do Redentor. A Ir. Ione Buyst quer atribuir a todas as partes da Missa a mesma importância por dois motivos: 1) porque nega a Presença Real e, portanto, não entende a grandeza do momento da Consagração, tanto que quer diminuí-lo e trata-o com desdém; 2) porque, como Lutero, entende a Missa não como um Sacrifício, mas como uma reunião de amigos, primordialmente para instrução do povo por um professor (o “pastor”), de tal forma que a Liturgia da Palavra (ou Ante-Missa, na forma extraordinária) teria a mesma importância da Liturgia Eucarística (ou Missa propriamente dita, na forma extraordinária).

Obviamente, quem negue a Presença Real de Cristo na Eucaristia nunca poderá entender a grandeza, a magnificência e a beleza do momento da Consagração – quando Cristo se faz presente e o Sacrifício do Calvário se renova – e vai achar que tudo na Missa é a mesma coisa.

Sobre a Oração Eucarística em si, afirma a Ir. Ione Buyst que “[o Concílio]manda proclamá-la em voz alta e na língua do povo”, revelando um desconhecimento cabal do texto conciliar, dado que o Concílio ordenou exatamente o contrário. In verbis:

Deve conservar-se o uso do latim nos ritos latinos, salvo o direito particular
(Const. Liturg. Sacrosanctum Concilium, n. 36, § 1º).

Tratou a língua vernácula apenas como uma exceção ou algo a que se pudesse dar “lugar mais amplo” e ainda assim somente “nas leituras e admonições, em algumas orações e cantos” (idem, n. 36, §2º). Manteve incólume o latim, ordenando ainda que fossem tomadas “providências para que os fiéis possam rezar ou cantar, mesmo em latim, as partes do Ordinário da missa que lhes competem” (idem, n.54).

Ademais, alega a Ir. Ione Buyst que “[o Concílio] diz que não há missa sem comunhão eucarística. Insiste em que todo o povo coma e beba do pão e do vinho, como participação na morte-ressurreição do Senhor. Não se pode ficar só olhando e adorando a hóstia”. Antes mesmo ela dissera: “O povo adorava o pão consagrado, já que não podia comê-lo.[...] Só mais tarde, no início do século XX, o povo foi de novo convidado a comungar, freqüentemente até; porém, não no momento da comunhão do padre, mas depois da missa ou num outro momento do dia”.

São muitos os erros nestes trechos.

Ora, de fato o Concílio recomendou a comunhão freqüente dos fiéis, masnunca – nunca! – o Concílio afirmou que se os fiéis não comungassem a Missa seria inválida, não teria havido Missa verdadeira.

A Ir. Ione Buyst desconhece a Doutrina Católica que afirma que, para a Missa ser válida, basta a comunhão do sacerdote; o Concílio de Trento reafirmou essa verdade exatamente contra Lutero, que afirmava o contrário – o que é mais uma prova de que a Ir. Ione Buyst caminha nas pegadas do heresiarca protestante, e não da Santa Igreja. Inclusive, recomendar a comunhão eucarística a todos não é particularidade do Vaticano II – nem é coisa só dos tempos modernos, do “início do século XX” –, porque já o Concílio de Trento o fizera. Veja-se:

Desejaria o sacrossanto Concílio que os circunstantes que assistem a cada uma das Missas comungassem, não só espiritualmente, mas também com a recepção sacramental da Eucaristia
, a fim de participarem mais abundantemente dos frutos deste santíssimo sacrifício.Contudo, se tal nem sempre se dá, nem por isso condena como privadas e ilícitas aquelas Missas em que somente o sacerdote comunga sacramentalmente, pois na verdade também estas Missas se devem considerar comuns, já porque nelas comunga o povo espiritualmente, já porque as celebra o ministro público da Igreja, não somente por si, mas por todos os que pertencem ao corpo [místico] de Cristo (Dz, n.944).

Veja-se que já o Concílio de Trento recomendava a comunhão freqüente dos fiéis – o que demonstra, outra vez, a ignorância da Ir. Ione Buyst ao afirmar que somente no século XX a Igreja passou a estimulá-la. Mas o Concílio Tridentino não diz – como a Ir. Ione Buyst – que as Missas em que os fiéis não comungassem não seriam verdadeiras Missas, pois para uma Missa ser válida só é necessária a comunhão do Sacerdote.

Na mesma linha, o Vaticano II apenas recomenda que todos os fiéis comunguem, mas não diz que caso eles não comungassem a Missa seria inválida, como dá a entender a Ir. Ione Buyst. E nem poderia dizê-lo, porque isto não é a Doutrina Católica. Afinal, muitas vezes nem todos os fiéis estão em condições de comungar, de forma que não aproveitariam os frutos do Sacramento.

Veja-se o que diz o Vaticano II:

Recomenda-se
vivamente um modo mais perfeito de participação na missa, que consiste em que os fiéis, depois da comunhão do sacerdote, recebam do mesmo Sacrifício, o Corpo do Senhor (Const. Liturg. Sacrosanctum Concilium, n.55).

O Concílio de Trento fulmina com a excomunhão aqueles que, como a Ir. Ione Buyst, consideram uma Missa de menos valia ou até inválida aquelas em que só o Sacerdote comungue e não o povo:
Cân. 8. Se alguém disser que as Missas em que só o sacerdote comunga são ilícitas e por isso se devem ab-rogar — seja excomungado(Dz., n. 955).

Por fim, afirma Ione Buyst que “[com o Vaticano II] a eucaristia volta a ser entendida como ação, para se fazer o que Jesus fez: dar graças, partir e repartir, comer e beber”, ignorando completamente os fins da Santa Missa. Ora, dado que nega a Presença Real e a Natureza Sacrifical da Missa, nada mais óbvio que ignore também os fins da Santa Missa e creia que ela é apenas para “dar graças, partir e repartir, comer e beber”, com se a Missa fosse uma confraternização de amistosos.

Não vai surpreender a ninguém que, mais uma vez, a Ir. Ione Buyst pisou exatamente nas pegadas de Lutero e esta sua tese já foi condenada, séculos atrás, como heresia protestante pelo Concílio de Trento:

Cân. 3. Se alguém disser que o sacrifício da Missa é somente de louvor e ação de graças, ou mera comemoração do sacrifício consumado na cruz, mas que não é propiciatório, ou que só aproveita ao que comunga, e que não se deve oferecer pelos vivos e defuntos, pelos pecados, penas, satisfações e outras necessidades — seja excomungado
(Dz, n. 950).

O Concílio excomunga, pois, aqueles que negam a natureza propiciatória da Santa Missa e que alegam que ela seja apenas para louvações, confraternização e ação de graças – exatamente o que faz a Ir. Ione Buyst.

É Doutrina Católica que a Missa tem quatro fins: latrêutico, isto é, é um culto de adoração a Deus; eucarístico, pois dá graças a Deus pelos benefícios recebidos (eucaristia, em grego, significa “ação de graças”); impetratório, porque além de dar graças, pede de Deus novas graças para toda a Igreja; propiciatório, porque por este Sacrifício aplacamos a ira de Deus, pedimos perdão por nossos pecados e “Deus se torna brando e favorável a nosso respeito” (Catech. Rom., Parte II, Cap. IV, §76). A Missa não tem, portanto, só o fim de dar graças – menos ainda de confraternizar! – como diz a Ir. Ione Buyst; é Sacrifício de Cristo e, ensina a Doutrina Católica, é oferecida para adorar, agradecer, pedir perdão e impetrar benefícios.

Vê-se, por tudo isto, como está distante da Doutrina Católica a Ir. Ione Buyst!

2.5.
Razões dos Sinais Externos da Missa

A Ir. Ione Buyst muito desdenha dos sinais externos da Missa. Já a vimos fazendo troça da posição do sacerdote, da adoração eucarística, da incensação de Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento, zombando da piedade do povo que adorava a Eucaristia. Tudo o que possa lembrar a Presença Real de Cristo é, para a Ir. Ione Buyst, motivo de zombaria.

Porque a finalidade dos sinais externos na Missa – da língua sacra, da posição do sacerdote, dos paramentos, do silêncio sagrado, do tom de voz, das vênias e genuflexões, etc. –, o fim de todos e cada um destes sinais externos é um só: prestar a devida adoração, o devido respeito, o devido culto à Suprema Majestade de Nosso Senhor, realmente presente no Santíssimo Sacramento do Altar. Mostra-se exteriormente, por cada um desses sinais, aquela adoração profunda da alma, o respeito pelo qual o homem se dobra perante o Criador que no Altar se sacrifica.

O homem é um ser sensível. Como ser sensível, precisa ver, ouvir, tocar, sentir a sacralidade do momento, sentir a sacralidade do Santo Sacrifício do Altar. Daí que a Igreja encha a Santa Missa de uma infinidade de sinais externos, que refletem a beleza do próprio Criador e a reverência devida à Sua Majestade.

Mas a Ir. Ione Buyst zomba de todos estes sinais externos! Ela diz:

A narrativa da instituição (mais conhecida como “consagração”) não deveria aparecer como um ‘corte’ do resto da oração eucarística. A mudança do tom de voz, a maneira pausada do dizer o terço (enquanto as outras partes da oração eucarística são ditas de forma corrida), as incensações, as genuflexões do padre e o ficar ajoelhado do povo, a elevação (que não está prevista no missal, mas muitos inadvertidamente continuam fazendo) etc: tudo isso acaba chamando uma atenção exagerada sobre esse momento da celebração.

Para a Ir. Ione Buyst, Cristo realmente presente no Altar desde o momento da Consagração não deveria chamar a atenção! Ela critica a mudança no tom de voz, as genuflexões, as incensações, a elevação da hóstia... E por quê? Porque a Ir. Ione Buyst nega a Presença Real de Cristo no Santíssimo Sacramento. Negando esta Presença, não vê motivos para que o Santíssimo Sacramento seja adorado, para que a palavra lhe seja dirigida em tom baixo e submisso, com respeito; não vê motivo para que ele seja incensado como um Deus, para que se ajoelhe perante ele como a um Rei. Nada disso tem razão de ser para a Ir. Ione Buyst, porque ela nega que Nosso Senhor esteja presente na Eucaristia. E todos estes sinais externos de adoração, de reverência, de sacralidade, todos eles condena-os a Ir. Ione Buyst porque “acabam chamando uma atenção exagerada sobre esse momento”.

É escandaloso!

A Ir. Ione Buyst critica que Cristo chame atenção! Para ela não se deveria dar atenção ao Santíssimo Sacramento e qualquer sinal externo de reverência é um “exagero”! Quanta impiedade! E que escandalosa impiedade! Mas tudo isto só ocorre porque, como Lutero, a Ir. Ione Buyst nega a Presença da Suprema Majestade sobre o Altar: com isso tem-se a porta aberta para as profanações e sacrilégios.

Aliás, este é o motivo pelo qual as Missas dos Teólogos da Libertação são profundamente despojadas, feias, muitas vezes até sacrílegas: porque não acreditam na Presença de Nosso Senhor na Eucaristia e não vêm sentido em prestar-lhe adoração e reverência; a impiedade, o desrespeito, a profanação são as únicas coisas que realmente alimenta suas Missas. Qualquer sinal de respeito ou piedade é, para eles, uma “atenção exagerada”, que deve ser motivo de deboche até ser extirpada por completo. Pois Cristo, para eles, não precisa ser adorado. Como os fariseus, ignoram o Sacrifício de Nosso Senhor e dão atenção só a si próprios, mesmo tendo Cristo na Cruz à sua frente. Debocham Dele, ignoram-Lhe.

Novamente a Ir. Ione Buyst, no trecho citado acima, caiu em heresia condenada pelo Concílio de Trento (que surpresa!). De fato, o Concílio reafirmou a necessidade dos sinais externos de reverência, tanto para que o homem – ser sensível – veja, quanto para prestar o devido culto a Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento, e excomungou quem o dissesse em contrário:

Já que a natureza humana é tal, que não pode, facilmente e sem socorros exteriores, elevar-se a meditar as coisas divinas, por isso a Igreja, piedosa Mãe que é, instituiu certos ritos para se recitarem na missa, uns em voz submissa, outros em voz alta. Juntou a isto cerimônias, como bênçãos místicas, luzes, vestimentas e outras coisas congêneres da Tradição apostólica, com que se fizesse perceptível a majestade de tão grande sacrifício, e para que o entendimento dos fiéis se excitasse, por meio destes sinais visíveis da religião e da piedade, à contemplação das coisas altíssimas que se ocultam neste sacrifício
(Dz., n. 943).

Cân. 7. Se alguém disser que as cerimônias, as vestimentas e os sinais externos de que a Igreja Católica usa na celebração da Missa são mais incentivos de impiedade do que sinais de piedade — seja excomungado
(Dz., n.955).

Desta feita, caiu mais uma vez em heresia a Ir. Ione Buyst, por favorecer a impiedade e condenar os sinais externos com os quais a Igreja sempre enriqueceu o culto devido a Nosso Senhor; pois estes “sinais visíveis que a sagrada Liturgia utiliza para simbolizar as realidades invisíveis foram escolhidos por Cristo ou pela Igreja” (Conc. Vaticano II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 33), de tal forma que não podem ser simplesmente banidos por quem quer que seja, baseado na utopia que seja.

Quantas pegadas de Lutero seguiu a Ir. Ione Buyst!

3.
Conclusão – As intenções da Ir. Ione Buyst

Mas tantas pegadas de Lutero têm um motivo, que a própria Ir. Ione Buyst não procura esconder: o que ela deseja é acabar com a devoção a Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento. Cristo não deve ser adorado!, é o grito da Ir. Ione Buyst. Cristo não deve ser adorado!, é sua tese fundamental. E não estamos exagerando, pois ela mesmo confessa:

“É difícil romper com séculos de devocionismo eucarístico e suas expressões características da missa. Quem sabe possamos aprofundar a nova teologia da eucaristia em pequenos grupos e comunidade, e aí encontrar uma maneira diferente de celebrar?”

O que deseja a Ir. Ione Buyst, pois, é “romper com séculos de devocionismo eucarístico”. Isso não deveria existir! É um exagero, como disse ela mais atrás. Banir, apagar, romper com séculos de devocionismo eucarístico: está é a intenção da Ir. Ione Buyst, que ela mesma confessa.

E ainda convida a que esta sua “nova teologia” – ela mesma afirma que essa sua teologia é de ruptura com tudo que Cristo e a Igreja ensinou! – seja aprofundada em pequenos grupos e comunidades, para “encontrar uma maneira diferente de celebrar”. É o gosto revolucionário por novidades, é aquela tendência revolucionária de não satisfazer-se com as coisas como elas são, de buscar que elas sejam de um modo diverso, segundo um projeto que a mente revolucionária – essa mente superior! – idealizou.

A ideologia buystiana quer uma “nova teologia”, “uma maneira diferente de celebrar”, que “rompe com séculos de devocionismo eucarístico”. A Ir. Ione Buyst criou uma “teologia”, ou melhor, uma ideologia de Missa que não é Santa.

Mas essa não é a Verdade de Cristo, que a Igreja anuncia. O Sacrifício de Cristo, consumado uma vez por todas no Calvário, é renovado no Altar. Queira a Ir. Ione Buyst ou não, esta é a Verdade, e não está sujeita caprichos humanos.

Do que escrevemos, ficou claríssimo que toda [falsa] “teologia” buystiana da Missa é, na verdade, uma grande heresia que bebe da fonte de Lutero. E talvez até passe dele. Infelizmente, é essa ideologia que vem produzindo frutos no Brasil, frutos amargos, como vemos dia após dia, em Missas tão pobres de beleza e ricas em abusos e novidades.

Parafraseando a Ir. Ione Buyst, convido a rompermos com estas décadas aterrorizantes de desvalorização eucarística, frutos da “ideologia buystiana”, e reatarmos com a verdadeira teologia da Missa, a teologia de Cristo, dos Apóstolos, dos Padres, dos Santos, dos Concílios: a Teologia do Sacrifício e da Presença Real de Nosso Senhor.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Parceiros