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domingo, 12 de junho de 2011

Pentecostes em São Pedro, Vaticano

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Sermão de Pentecostes de São Leão Magno

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"Todos os corações sabem, caríssimos, que a solenidade de hoje deve ser celebrada como uma das festas mais importantes. Ninguém ignora ou contesta a reverência com que se deve festejar este dia, consagrado pelo Espírito Santo com o milagre excelente de seu dom. Sendo, na verdade, o décimo dia depois daquele em que o Senhor subiu ao céu, para se assentar à direita de Deus, refulge como o dia qüinquagésimo após a sua Ressurreição, e traz em si grandes mistérios, referentes a antigos e novos sacramentos, na mais clara manifestação de que a Graça foi prenunciada pela Lei e a Lei cumprida pela Graça. Sim, do mesmo modo como outrora, no monte Sinai, a Lei fora dada ao povo hebreu, libertado dos egípcios, no dia qüinquagésimo após a imolação do cordeiro, assim também, após a Paixão de Cristo, imolação do verdadeiro Cordeiro de Deus, é no qüinquagésimo dia desde sua Ressurreição que se infunde o Espírito Santo nos apóstolos e na multidão dos fiéis. O cristão diligente facilmente vê como os inícios do Antigo Testamento serviram aos primórdios do Evangelho, e como a segunda Aliança foi criada pelo mesmo Espírito que instituiu a primeira.

Com efeito, diz a narrativa dos apóstolos:

“Como se completassem os dias de Pentecostes e estivessem todos os discípulos juntos no mesmo lugar, repentinamente se fez ouvir do céu um ruído como o de vento que soprava impetuosamente, e encheu toda a casa onde estavam. Apareceram-lhes então como línguas de fogo, que se puseram sobre cada um deles; e todos ficaram cheios do Espírito Santo, começando a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia falarem” (At 2, 1-4).

É veloz a palavra da Sabedoria, e onde Deus é o Mestre quão rapidamente se aprende a doutrina! Não houve necessidade de interpretação para o entendimento, não houve aprendizado, não houve prazo para estudo, mas, assim que o Espírito da verdade soprou como quis, as línguas particulares dos diversos povos se tornaram comuns na boca da Igreja.

A partir desse dia ressoou a trombeta da pregação evangélica. A partir desse dia as chuvas de graças, os rios das bênçãos irrigaram todos os desertos e a terra inteira, pois a fim de renovar sua face “o Espírito de Deus pairava sobre as águas” (Gn 1,2). E, para a expulsão das trevas de antes, coruscavam os relâmpagos da nova Luz no esplendor das línguas flamejantes. Assim se manifestava a luminosa e ígnea palavra do Senhor, dotada da eficácia de iluminar e da força de abrasar, necessárias ao entendimento e à destruição do pecado.

Porém, caríssimos, embora tenha sido admirável a própria aparência desses acontecimentos e não haja dúvida de que a majestade do Espírito Santo tenha estado presente à harmonia exultante das vozes humanas, não se pense que apareceu a sua divina essência naquilo que se mostrou aos olhes corporais. A natureza invisível e comum ao Pai e ao Filho manifestou a qualidade de seu dom e de sua obra por meio do sinal de santificação que bem lhe aprouve, mas conteve em sua divindade a propriedade de sua essência.

Assim como a visão humana não pode perceber o Pai e o Filho também não percebe o Espírito Santo. Na Trindade, com efeito, nada é dissemelhante, nada é desigual, e todas as coisas que se possam pensar a respeito dessa substância não se distinguem pela excelência, pela glória ou pela eternidade. É verdade que, conforme as propriedades das Pessoas, um é o Pai, outro o Filho, outro o Espírito Santo, mas não há divindade diferente, natureza distinta. Assim como o Filho precede do Pai, igualmente o Espírito Santo é Espírito do Pai e do Filho. Não como as criaturas, que são também do Pai e do Filho, mas como alguém que, como ambos, vive, é poderoso e existe eternamente, desde que existem o Pai e o Filho. Por essa razão o Senhor, quando prometeu a vinda do Espírito Santo aos discípulos, antes do dia da Paixão, disse:

“Ainda muitas coisas vos tenho a dizer: quando, porém, vier o Espírito da verdade, ele vos conduzirá para toda a verdade. Pois não falará de si mesmo, mas falará o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que deverão suceder. Tudo o que o Pai tem é meu; per isto disse que receberá do que é meu e vos anunciará” (Jo 16, 12-13.15).

O Pai, portanto não tem algo que não o tenham o Filho ou o Espírito Santo. Tudo o que tem o Pai, tem o Filho e tem o Espírito Santo. Nunca faltou na Trindade essa perfeita comunhão; nela são uma mesma coisa “tudo possuir” e “sempre existir”. Não imaginemos sucessão de tempo na Trindade, não imaginemos gradações ou diferenças. Se, de um lado não se pode explicar o que Deus é, de outro não se ouse afirmar o que Deus não é. Seria melhor deixar de discorrer sobre as propriedades da natureza inefável de Deus, do que afirmar o que não lhe convém. O que concebem, pois, os corações piedosos a respeito da glória eterna e imutável do Pai, entendam-no ao mesmo tempo do Filho e do Espírito Santo, de um modo inseparável e sem diferença. Nossa confissão é ser a Trindade um só Deus, já que nas três Pessoas não existe diversidade de substancia, poder, vontade ou operação.

Assim, se reprovamos os arianos, que pretendem existir diferença entre o Pai e o Filho, reprovamos igualmente os macedonianos, os quais, embora atribuindo igualdade entre o Pai e o Filho, pensam que o Espírito Santo seja de natureza inferior. Eles não vêem estarem incidindo naquela blasfêmia indigna de ser perdoada tanto no século presente como no futuro, consoante a palavra do Senhor:

“A todo o que disser uma palavra contra o Filho do homem será perdoado, mas ao que disser contra o Espírito Santo não será perdoado nem neste século nem no vindouro” (Mt 12, 32).

Quem permanece, portanto, nessa impiedade fica sem perdão, pois expulsou de si aquele por meio do qual seria capaz de confessar a verdadeira fé. Jamais se beneficiará do perdão quem não tiver advogado para protegê-lo.

Ora, é do Espírito Santo que procede em nós a invocação do Pai, dele são as lágrimas dos penitentes, dele os gemidos dos que suplicam, “… e ninguém pode dizer Senhor Jesus senão no Espírito Santo” (I Cor 12, 3).

O Apóstolo prega de maneira evidente a onipotência do Espírito, igual à do Pai e do Filho, bem como sua divindade, ao dizer:

“há diversidade de graças, mas um mesmo é o Espírito; e há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor; e há diversidade de operações, mas um mesmo é o Deus que opera tudo em todos” (I Cor 12, 4-6).

Por estes e outros documentos, através dos quais, de inumeráveis modos brilha a autoridade das palavras divinas, sejamos incitados, caríssimos, unanimemente, à veneração de Pentecostes, exultando em honra do Santo Espírito, por quem toda a Igreja é santificada e toda alma racional é penetrada. Ele é o inspirador da fé, o Mestre da ciência, a fonte do amor, o selo da castidade, o artífice de toda virtude.

Regozijem-se as mentes dos fiéis com o fato de, em todo o mundo, ser louvado pelas diferentes línguas o Deus uno, Pai, e Filho e Espírito Santo; com o fato de prosseguir em seu trabalho e dom aquela santificação que apareceu na chama do fogo. O mesmo Espírito da verdade faz refulgir com sua luz a morada de sua glória, nada querendo de tenebroso ou morno em seu templo.

Foi também por auxílio e instrução desse Espírito que recebemos a purificação do jejum e da esmola. Com efeito, segue-se ao venerável dia de hoje um costume de salutar observância, que os santos julgam de grande utilidade e nós vos exortamos, com pastoral solicitude, a que o celebreis com o maior zelo possível. Assim, se a negligência vos fez contrair em dias passados algo de pecaminoso, seja isto penitenciado pela censura do jejum e pelo devotamento da misericórdia. Jejuemos na quarta e na sexta-feira, para sábado celebrarmos juntos as vigílias, com a habitual devoção. Por Cristo, Nosso Senhor que vive e reina com o Pai e o Espírito santo, pelos séculos dos séculos. Amém."


São Leão I Magno, Papa e Doutor da Igerja. Sermão de Pentecostes. Extraído de: http://mercaba.wordpress.com/2008/07/12/sermao-sobre-pentecostes/

Observância das normas litúrgicas e “ars celebrandi”

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Observância das normas litúrgicas e “ars celebrandi”

(dos Estudos do Oficio das Celebrações Litúrgicas do Sumo Pontifice)

Original em: http://www.vatican.va/news_services/liturgy/details/ns_lit_doc_20100729_osservanza_po.html

1. A situação no pós-Concílio

O Concílio Vaticano II ordenou uma reforma geral na sagrada liturgia [1]. Esta foi efetuada, após o encerramento do Concílio, por uma comissão chamada abreviadamente de Consilium [2]. É sabido que a reforma litúrgica foi desde o início objeto de críticas, às vezes radicais, como de exaltações, em certos casos excessivas. Não é nossa intenção nos deter neste problema. Podemos dizer em contrapartida que se está geralmente de acordo em observar um forte aumento dos abusos no campo celebrativo depois do Concílio. Também o Magistério recente tomou nota da situação e em muitos casos chamou à estrita observância das normas e das indicações litúrgicas. Por outro lado, as leis litúrgicas estabelecidas para a forma ordinária (ou de Paulo VI) — que, exceções à parte, celebra-se sempre e em todas partes na Igreja de hoje — são muito mais "abertas" em relação ao passado. Estas permitem muitas exceções e diversas aplicações, e preveem também múltiplos formulários para os diversos ritos (a pluriformidade inclusive aumenta na passagem da editio typica latina às versões nacionais). Apesar disso, um grande número de sacerdotes considera que tem de ampliar ulteriormente o espaço deixado à "criatividade", que se expressa sobretudo com a frequente mudança de palavras ou de frases inteiras em relação às fixadas nos livros litúrgicos, com a inserção de "ritos" novos e frequentemente estranhos completamente à tradição litúrgica e teológica da Igreja e inclusive com o uso de vestimentas, utensílios sagrados e adornos nem sempre adequados e, em alguns casos, caindo inclusive no ridículo. O liturgista Cesare Giraudo resumiu a situação com estas palavras:

"Se antes [da reforma litúrgica] havia fixação, esclerose de formas, inaturalidade, que faziam a liturgia de então um ‘liturgia de ferro', hoje, há naturalidade e espontaneidade, sem dúvida sinceras, mas frequentemente confusas, mal entendidas, que fazem — ou ao menos correm o risco de fazer — da liturgia uma "liturgia de borracha", incerta, escorregadiça, que às vezes se expressa em uma ostentosa liberação de toda normativa escrita. [...] Esta espontaneidade mal entendida, que se identifica de fato com a improvisação, a falta de seriedade, a superficialidade, o permissivismo, é o novo ‘critério' que fascina inumeráveis agentes pastorais, sacerdotes e leigos.

[...] Por não falar também daqueles sacerdotes que, às vezes e em alguns lugares, arrogam-se o direito de utilizar pregações eucarísticas selvagens, ou de compor aqui ou ali seu texto ou partes dele" [3].

O Papa João Paulo II, na encíclica Ecclesia de Eucharistia, manifestou seu desgosto pelos abusos litúrgicos que acontecem frequentemente, particularmente na celebração da Santa Missa, já que a "Eucaristia é um dom demasiado grande para suportar ambiguidades e diminuições" [4]. Ele acrescentou:

"Temos a lamentar, infelizmente, que sobretudo a partir dos anos da reforma litúrgica pós-conciliar, por um ambíguo sentido de criatividade e adaptação, não faltaram abusos, que foram motivo de sofrimento para muitos. Uma certa reacção contra o «formalismo» levou alguns, especialmente em determinadas regiões, a considerarem não obrigatórias as «formas» escolhidas pela grande tradição litúrgica da Igreja e do seu magistério e a introduzirem inovações não autorizadas e muitas vezes completamente impróprias. Por isso, sinto o dever de fazer um veemente apelo para que as normas litúrgicas sejam observadas, com grande fidelidade, na celebração eucarística. Constituem uma expressão concreta da autêntica eclesialidade da Eucaristia; tal é o seu sentido mais profundo. A liturgia nunca é propriedade privada de alguém, nem do celebrante, nem da comunidade onde são celebrados os santos mistérios." [5].

2. Causas e efeitos do fenômeno

O fenômeno da "desobediência litúrgica" estendeu-se de tal forma, por número e em certos casos também por gravidade, que se formou em muitos uma mentalidade pela qual na liturgia, salvando as palavras da consagração eucarística, se poderiam dar todas as modificações consideradas "pastoralmente" oportunas pelo sacerdote ou pela comunidade. Esta situação induziu o próprio João Paulo II a pedir à Congregação para o Culto Divino que preparasse uma Instrução disciplinar sobre a Celebração da Eucaristia, publicada com o título de Redemptionis Sacramentum, a 25 de março de 2004. Na citação antes reproduzida da Ecclesia de Eucharistia, indicava-se na reação ao formalismo uma das causas da "desobediência litúrgica" de nosso tempo. A Redemptionis Sacramentum assinala outras causas, entre elas um falso conceito de liberdade [6] e a ignorância. Esta última em particular se refere não só ao conhecimento das normas, mas também a uma compreensão deficiente do valor histórico e teológico de muitos textos eucológicos e ritos: "Finalmente, os abusos se fundamentam com frequência na ignorância, já que quase sempre se rejeita aquilo que não se compreende seu sentido mais profundo e sua Antiguidade" [7].

Introduzindo o tema da fidelidade às normas em uma compreensão teológica e histórica, ademais de no contexto da eclesiologia de comunhão, a Instrução afirma: "O Mistério da Eucaristia é demasiado grande «para que alguém possa permitir tratá-lo ao seu arbítrio pessoal, pois não respeitaria nem seu caráter sagrado, nem sua dimensão universal» [...] Os atos arbitrários não beneficiam a verdadeira renovação e sim lesionam o verdadeiro direito dos fiéis à ação litúrgica, à expressão da vida da Igreja, de acordo com sua tradição e disciplina. Além disso, introduzem na mesma celebração da Eucaristia elementos de discórdia e de deformação, quando ela tem, por sua própria natureza e de forma eminente, de significar e de realizar admiravelmente a Comunhão com a vida divina e a unidade do povo de Deus. Estes atos arbitrários causam incerteza na doutrina, dúvida e escândalo para o povo de Deus e, quase inevitavelmente, uma violenta repugnância que confunde e aflige com força a muitos fiéis em nossos tempos, em que frequentemente a vida cristã sofre o ambiente, muito difícil, da «secularização».

Por outra parte, todos os fiéis cristãos gozam do direito de celebrar uma liturgia verdadeira, especialmente a celebração da santa Missa, que seja tal como a Igreja tem querido e estabelecido, como está prescrito nos livros litúrgicos e nas outras leis e normas. Além disso, o povo católico tem direito a que se celebre por ele, de forma íntegra, o santo Sacrifício da Missa, conforme toda a essência do Magistério da Igreja. Finalmente, a comunidade católica tem direito a que de tal modo se realize para ela a celebração da Santíssima Eucaristia, que apareça verdadeiramente como sacramento de unidade, excluindo absolutamente todos os defeitos e gestos que possam manifestar divisões e facções na Igreja." [8]

Particularmente significativo neste texto é o chamado ao direito dos fiéis de terem a liturgia celebrada segundo as normas universais da Igreja, além de sublinhar o fato de que as transformações e modificações da liturgia — ainda que se façam por motivos "pastorais" — não têm na realidade um efeito positivo neste campo; ao contrário, confundem, turbam, cansam e podem inclusive fazer os fiéis se afastarem da prática religiosa.

3. O ars celebrandi

Eis aqui os motivos pelos quais o Magistério nas últimas quatro décadas recordou várias vezes aos sacerdotes a importância do ars celebrandi, o qual — se bem não consiste apenas na perfeita execução dos ritos de acordo com os livros, mas também e sobretudo no espírito de fé e adoração com os que estes se celebram — não se pode no entanto realizar se se afasta das normas fixadas para a celebração [9]. Assim o expressa por exemplo o Santo Padre Bento XVI: "O primeiro modo de favorecer a participação do povo de Deus no rito sagrado é a condigna celebração do mesmo; a arte da celebração é a melhor condição para a participação ativa (actuosa participatio). Aquela resulta da fiel obediência às normas litúrgicas na sua integridade, pois é precisamente este modo de celebrar que, há dois mil anos, garante a vida de fé de todos os crentes, chamados a viver a celebração enquanto povo de Deus, sacerdócio real, nação santa"(cf. 1 Pd 2,4-5.9)" [10].

Recordando estes aspectos, não se deve cair no erro de esquecer os frutos positivos produzidos pelo movimento de renovação litúrgica. O problema assinalado, contudo, subsiste e é importante que a solução ao mesmo parta dos sacerdotes, os quais devem se empenhar antes de tudo em conhecer de maneira aprofundada os livros litúrgicos, e também a pôr fielmente em prática suas prescrições. Só o conhecimento das leis litúrgicas e o desejo de se ater estritamente a elas impedirá ulteriores abusos e "inovações" arbitrárias que, se no momento podem talvez emocionar os presentes, na realidade acabam logo por cansar e defraudar. Salvas as melhores intenções de quem as comete, depois de quarenta anos de experiência na questão, a "desobediência litúrgica" não constrói de fato comunidades cristãs melhores, mas, ao contrário, põe em risco a solidez de sua fé e de sua pertença à unidade da Igreja Católica. Não se pode utilizar o caráter mais "aberto" das novas normas litúrgicas como pretexto para desnaturalizar o culto público da Igreja:

"As novas normas simplificaram muito as fórmulas, os gestos, os atos litúrgicos [...] Mas neste campo não se deve ir além do estabelecido: de fato, procedendo assim, se despojaria a liturgia dos sinais sagrados e de sua beleza, que são necessários, para que se realize verdadeiramente na comunidade cristã o mistério da salvação e seja compreendido também, sob o véu das realidades visíveis, através de uma catequese apropriada. A reforma litúrgica de fato não é sinônimo de dessacralização, nem quer ser motivo para esse fenômeno que chamam de a secularização do mundo. É necessário por isso conservar nos ritos dignidade, seriedade, sacralidade" [11].

Entre as graças que esperamos poder obter da celebração do Ano Sacerdotal está portanto também a de uma verdadeira renovação litúrgica no seio da Igreja, para que a sagrada liturgia seja compreendida e vivida pelo que esta é na realidade: o culto público e integral do Corpo Místico de Cristo, Cabeça e membros, culto de adoração que glorifica a Deus e santifica os homens [12].

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Notas

[1] Cf. Concílio Vaticano II , Sacrosanctum Concilium, n. 21.

[2] Abreviação de Consilium ad exsequendam Constitutionem de Sacra Liturgia.

[3] C. Giraudo, "La costituzione 'Sacrosanctum Concilium': il primo grande dono del Vaticano II", en La Civiltà Cattolica (2003/IV), pp. 532; 531.

[4] João Paulo II, Ecclesia de Eucharistia, n. 10.

[5] Ibid., n. 52. Cf. também Concílio Vaticano II , Sacrosanctum Concilium, n. 28.

[6] "Não é estranho que os abusos tenham sua origem em um falso conceito de liberdade. Posto que Deus nos tem concedido, em Cristo, não uma falsa liberdade para fazer o que queremos, mas sim a liberdade para que possamos realizar o que é digno e justo": Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Redemptionis Sacramentum, n. 7.

[7] Ibid., n. 9.

[8] Ibid., nn. 11-12.

[9] Sagrada Congregação dos Ritos, Eucharisticum Mysterium, n. 20: "Para favorecer o correto desenvolvimento da celebração sagrada e a participação ativa dos fiéis, os ministros não devem apenas limitar-se a realizar seu serviço com exatidão, segundo as leis litúrgicas, mas devem comportar-se de forma que inculquem, por meio deste, o sentido das coisas sagradas"

[10] Bento XVI, Sacramentum Caritatis, n. 38. Veja-se o n. 40, que desenvolve adequadamente o conceito.

[11] Sagrada Congregação para o Culto Divino, Liturgicae instaurationes, n. 1. O texto continua: "A eficácia das ações litúrgicas não está na busca contínua de novidades rituais, ou de simplicações ulteriores, mas no aprofundamento da palavra de Deus e do mistério celebrado, cuja presença está assegurada pela observância dos ritos da Igreja e não dos impostos pelo gosto pessoal de cada sacerdote. Tenha-se presente, ademais, que a imposição de reconstruções pessoais dos ritos sagrados por parte do sacerdote ofende a dignidade dos fiéis e abre caminho para o individualismo e o personalismo na celebração de ações que diretamente pertencem a toda Igreja".

[12] Cf. Pio XII, Mediator Dei, I, 1; Concílio Vaticano II , Sacrosanctum Concilium, n. 7.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Memória litúrgica do Santo Anjo da Guarda de Portugal

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O site Evangelho Quotidiano hoje nos traz:

Santo Anjo de Portugal


Os anjos, que fazem parte do mundo invisível a que se estende também a acção criadora de Deus, vivem inteiramente dedicados ao louvor e ao serviço de Deus. A inteligência humana tem dificuldade em exprimir a natureza dessas criaturas espirituais. A sua missão, porém, é-nos conhecida através da Bíblia, que, em tantos passos, dá testemunho acerca da existência dos Anjos.

Em Portugal a devoção ao Anjo da Guarda é muito antiga. Tomou, porém, incremento especial com as aparições do Anjo, em Fátima, aos Pastorinhos. Pio XII mandou inserir esta comemoração no Calendário Litúrgico português.

Mais sobre o assunto no seguinte excerto do livro do Mons. João Clá, fundador dos Arautos do Evangelho, movimento e congregação que, por sua origem na antiga TFP, possui uma especial devoção a Fátima:

O maravilhoso encontro com a Mãe de Deus não fora a primeira visita que os três pastorinhos receberam do Céu. A fim de prepará-los para aceitar e divulgar a Mensagem de Fátima, a Providência Divina lhes enviara no ano anterior o Anjo de Portugal, para manifestar os desígnios de misericórdia de Jesus e Maria sobre eles.

Foi quando se abrigavam de uma chuva fina na Loca do Cabeço, pequena gruta situada numa propriedade do padrinho de Lúcia, que o Anjo lhes apareceu claramente pela primeira vez. À medida que ele se aproximava, os meninos iam distinguindo sua fisionomia: era a de um jovem de 15 anos, parecendo feito de neve, muito formoso e mais reluzente que um cristal atravessado pelos raios do sol. Surpreendidos diante de tanta beleza sobrenatural, não conseguiam pronunciar palavra.

Ao chegar junto dos pastorinhos, o mensageiro celeste lhes disse:

- Não temais, sou o Anjo da Paz. Orai comigo.

Ajoelhou-se e se curvou até tocar o chão com a fronte. Os três meninos fizeram o mesmo e repetiram as palavras que lhe ouviam pronunciar:

- Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não crêem, não adoram, não esperam e não Vos amam.

Após ter recitado esta oração três vezes, o Anjo levantou-se e disse-lhes que rezassem sempre, porque Nosso Senhor e Nossa Senhora estavam atentos às suas orações. E desapareceu.

Algumas semanas depois, quando os pastorinhos brincavam junto ao poço no quintal da casa de Lúcia, o Anjo surpreendeu-os novamente.

- O que fazeis? - perguntou. - Rezai, rezai muito! Os Corações de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofen¬dido, e de súplica pela conversão dos pecadores. Atraí, assim, sobre a vossa Pátria a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo aceitai e suportai com submissão o sofrimento que o Senhor vos enviar.
Dizendo isto, desapareceu.

Mais tarde, por volta de outubro de 1916, novamente na Loca do Cabeço, deu-se a última aparição do Anjo. Depois de terem tomado a merenda, as crianças se puseram a rezar, com o rosto em terra, repetindo a oração que dele haviam aprendido. De repente, perceberam uma luz desconhecida a brilhar sobre eles. Ergueram-se e viram o Anjo, que trazia na mão esquerda um cá­lice, sobre o qual, com a direita, segurava uma Hóstia. Desta caíam algumas gotas de Sangue dentro do cálice.

Deixando a Hóstia e o cálice suspensos no ar, o Anjo se colocou junto às crianças, curvou-se também e lhes ensinou outra oração ainda mais bela:

- Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os Sacrários da Terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores.

Levantando-se, o Anjo tomou na mão a Hóstia e a deu a Lúcia. Francisco e Jacinta se perguntavam se receberiam também a Hóstia, pois ainda não tinham feito a Primeira Comunhão. O Anjo avançou até eles e deu-lhes a beber do cálice, dizendo:

- Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos! Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus.

Depois, ajoelhou-se e repetiu a mesma oração três vezes: "Santíssima Trindade...", etc. E desapareceu.

Nunca mais o veriam. Porém, haviam ficado profundamente impressionados pelas palavras dele. A partir de então, passaram a rezar mais e a fazer constantes sacrifícios em reparação a Deus e pela conversão dos pecadores.

E assim foi que suas almas inocentes, alguns meses depois, encontravam-se preparadas para o bendito e inesquecível momento em que contemplariam, na Cova da Iria, uma Senhora mais brilhante que o sol.

(Livro Jacinta e Francisco Prediletos de Maria - Monsenhor João Clá)
O Próprio desta memória aprovado pela Santa Sé para a conferência episcopal portuguesa nos traz a seguinte Coleta (Oração do Dia):

Deus eterno e omnipotente, que destinastes a cada nação o seu Anjo da Guarda, concedei que, pela intercessão e patrocínio do Anjo de Portugal, sejamos livres de todas as adversidades. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.


As orações apologéticas na missa

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As orações apologéticas na missa

(dos Estudos do Oficio das Celebrações Litúrgicas do
Sumo Pontifice)

Original em: http://www.vatican.va/news_services/liturgy/details/ns_lit_doc_20100216_preghiere_po.html

Um silêncio que contempla e adora


A Sagrada Liturgia, que o Concílio Vaticano II qualifica como a ação sacerdotal de Cristo e, portanto, fonte e cume da vida eclesial, não pode ser reduzida jamais a uma mera realidade estética, nem pode ser considerada como um instrumento com fins meramente pedagógicos ou ecumênicos. A celebração dos santos mistérios é, sobretudo, ação de louvor à soberana majestade de Deus, Uno e Trino, e expressão querida pelo próprio Deus. Com ela, o homem, pessoal e comunitariamente, apresenta-se diante d’Ele para agradecer, consciente de que seu próprio ser não pode alcançar sua plenitude sem louvá-lo e cumprir sua
vontade, na constante busca do Reino que já está presente, mas que virá definitivamente no dia da parusia do Senhor Jesus [1].

A partir desta perspectiva, está claro que a direção de toda ação litúrgica – que é a mesma tanto para o sacerdote como para os fiéis – se dirige ao Senhor: ao Pai, através de Cristo, no Espírito Santo. Por isso, “sacerdote e povo certamente não rezam um ao outro, mas ao único Senhor” [2]. Trata-se de viver constantemente conversi ad Dominum, orientados ao Senhor, que implica na conversio, isto é, dirigir nossa alma a Jesus Cristo e, dessa forma, ao Deus vivente, à luz verdadeira [3].

Desse modo, a celebração litúrgica é um ato da virtude da religião que, coerentemente com sua natureza, deve se caracterizar por um profundo senso do sagrado. Nela, o homem e a comunidade devem ser conscientes de que vivem um encontro, em particular, diante d’Aquele que é três vezes Santo e Transcendente. Daí que “um sinal convincente da eficácia que a catequese eucarística tem nos fiéis seja sem dúvida o crescimento neles do senso do mistério de Deus presente entre nós” [4].

A atitude apropriada na celebração litúrgica não pode ser outra a não ser uma atitude impregnada de reverência e senso de estupor, que brota do saber-se na presença da majestade de Deus. Não era isso, por acaso, o que Deus queria expressar quando ordenou a Moisés que tirasse as sandálias diante da sarça ardente? Não nascia desta consciência, por acaso, a atitude de Moisés e de Elias, que não ousaram olhar para Deus face a face? [5]

Neste contexto, entendem-se melhor as palavras do Cânon II da Santa Missa, que definem perfeitamente a essência do ministério sacerdotal: astare coram te et tibi ministrare. Assim, pois, são duas as tarefas que definem a essência do ministério sacerdotal: “estar na presença do Senhor” e “servir em tua presença”. O Santo Padre Bento XVI, comentando esta segunda tarefa, apontava que o termo “serviço” é adotado fundamentalmente para referir-se ao serviço litúrgico. Este implica em muitas dimensões e, entre outras, indicava a proximidade, a familiaridade. Concretamente, comentava: “Ninguém está tão perto do seu senhor como o servidor que tem acesso à dimensão mais privada da sua vida. Neste sentido, ‘servir’ significa proximidade, requer familiaridade. Esta familiaridade compreende também um perigo: o de que o sagrado com que temos contato contínuo se converta para nós em costume. Assim se apaga o temor reverencial. Condicionados por todos os costumes, já não percebemos a grande, nova e surpreendente realidade: Ele mesmo está presente, fala-nos e se entrega a nós. Contra esse acostumar-se à realidade extraordinária, contra a indiferença do coração devemos lutar sem tréguas, reconhecendo sempre nossa insuficiência e a graça que envolve o fato de que Ele se entrega assim em nossas mãos” [6].

Frente a toda celebração litúrgica, mas de forma especial na Eucaristia – memorial da morte e ressurreição do seu Senhor, pelo qual se faz realmente presente este acontecimento central de salvação e se realiza a obra da nossa redenção – temos de colocar-nos em adoração diante deste mistério: mistério grande, mistério de misericórdia. O que mais Jesus poderia fazer por nós? Verdadeiramente, na Eucaristia Ele nos mostra um amor que chega “até o extremo” (Jo 13, 1), um amor que não conhece medida [7]. Diante desta realidade extraordinária, permanecemos atônitos e aturdidos: com quanta condescendência humilde Deus quis se unir ao homem! Se dentro de poucas semanas nos comoveremos diante do presépio, contemplando a encarnação do Verbo, o que podemos sentir diante do altar, onde Cristo faz presente no tempo seu sacrifício mediante as pobres mãos do sacerdote? Cabe somente ajoelhar-se e adorar em silêncio este grande mistério de fé [8].

Consequência lógica do que foi dito é que o Povo de Deus precisa ver, nos sacerdotes e nos diáconos, um comportamento repleto de reverência e de dignidade, que seja capaz de ajudá-lo a aprofundar nas coisas invisíveis, inclusive sem muitas palavras e explicações. No Missal Romano, denominado de São Pio V, assim como em diversas liturgias orientais, encontram-se orações belíssimas, com as quais o sacerdote expressa o mais profundo sentimento de humildade e de reverência diante dos santos mistérios: revelam a própria substância de qualquer liturgia [9]. Estas orações presentes no Missal Romano, que em sua edição de 1962 é o missal próprio da forma extraordinária, foram recolhidas em parte no Missal Romano promulgado depois do Concílio Vaticano II e se denominam tradicionalmente “apologias”.

A estas orações se refere a Institutio Generalis Missalis Romani (Instituição Geral do Missal Romano) em seu número 33. Depois de referir-se às orações que o sacerdote, como celebrante, pronuncia em nome da Igreja, afirma que outras vezes, quando reza, “o faz somente em seu nome,para poder cumprir seu ministério com maior atenção e piedade. Assim, as orações propostas antes da leitura do Evangelho, na preparação dos dons, assim como antes e depois da Comunhão, são ditas em segredo”.

Dessa maneira, estas breves fórmulas rezadas em silêncio convidam o sacerdote a personalizar sua tarefa, a entregar-se ao Senhor, também com seu próprio eu. E são, ao mesmo tempo, uma forma excelente de encaminhar-se com os demais ao encontro do Senhor, de maneira inteiramente pessoal, mas ao mesmo tempo junto com os outros. Este é um primeiro aspecto essencial, pois só na medida em que se interioriza e se compreende a estrutura litúrgica e as palavras da liturgia, é possível entrar em consonância interior com ela. Quando isso acontece, o sacerdote celebrante já não somente fala com Deus como uma pessoa individual, mas entra no “nós” da Igreja que ora.

Se a celebração é oração e colóquio com Deus, de Deus conosco e nosso com Deus, transforma-se o próprio “eu” do celebrante, que entra no “nós” da Igreja. Enriquece-se e se amplia o “eu”, orando com a Igreja, com suas palavras, e se estabelece realmente um colóquio com Deus. Assim, celebrar é realmente celebrar “com” a Igreja: o coração se engrandece e está “com” a Igreja em colóquio com Deus. Neste processo, as orações apologéticas e o silêncio contemplativo e adorante que produzem são um elemento essencial; por isso, fazem parte da estrutura da Celebração Eucarística há mais de mil anos.

Em segundo lugar, no caminho rumo ao Senhor, percebemos a nossa própria indignidade. Torna-se necessário pedir ao longo da celebração que o próprio Deus nos transforme e aceite que participemos desta ação de Deus que configura a liturgia. De fato, o espírito de conversão contínua é uma das condições pessoais que torna possível a actuosa participatio dos fiéis e do próprio sacerdote celebrante. “Não se pode esperar uma participação ativa na liturgia eucarística quando se assiste a ela superficialmente, sem antes examinar a própria vida” [10].

O recolhimento e o silêncio antes e durante a celebração se situam neste contexto e facilitam que seja realidade a premissa “um coração reconciliado com Deus permite a verdadeira participação” [11]. Daí que seja claro que as orações apologéticas desempenham um papel importante na celebração.

Por exemplo, as orações apologéticas Munda cor meum, recitada antes da proclamação do Evangelho, ou In spiritu humilitatis, prévia ao lavabo depois da apresentação das oferendas, permitem ao sacerdote que as reza tomar consciência da realidade da sua indignidade e, ao mesmo tempo, da grandeza da sua missão. “O sacerdote é servidor e tem de esforçar-se continuamente por se sinal que, como dócil instrumento em suas mãos, refere-se a Cristo” [12]. O silêncio e os gestos de piedade e recolhimento do celebrante também movem os fiéis que participam da celebração a perceberem a necessidade de preparar-se, de converter-se, dada a importância do momento em que se encontram na celebração: antes da leitura do Evangelho, no início iminente da oração Eucarística.

Por outro lado, as apologias Per huius aquae et vini durante o Ofertório ou Quod ore sumpsimus Domine durante a purificação dos vasos sagrados, enquadram-se perfeitamente neste desejo de ser introduzidos e transformados em e pela ação divina. Uma e outra vez, temos de trazer à nossa mente e coração que a liturgia eucarística é ação de Deus que nos une a Jesus através do seu Espírito [13]. Estas duas apologias, às quais nos referimos, encaminham nossa existência rumo à Encarnação e à Ressurreição. E, na verdade, constituem um elemento que favorece a realização desse desejo da Igreja: que os fiéis não fiquem assistindo ao mistério de fé como estranhos e mudos expectadores, mas que agradeçam a Deus e aprendam a oferecer-se a Cristo [14].

Não nos parece atrevido afirmar que as apologias também desempenham um papel de primeira linha na hora de “recordar” o ministro ordenado que ele “desempenha o papel do próprio Sacerdote, Cristo Jesus. Se é assimilado ao Sumo Sacerdote, pela consagração sacerdotal recebida, então goza da faculdade de agir pelo poder do próprio Cristo, a quem representa (virtute ac persona ipsius Christi)” [15].

Ao mesmo tempo, estas orações recordam ao sacerdote que, por ser ministro ordenado, é “o vínculo sacramental que une a ação litúrgica ao que disseram e realizaram os apóstolos e, por eles, o que disse e realizou Cristo, fonte e fundamento dos sacramentos” [16]. As orações ditas pelo celebrante em segredo constituem, por isso, um meio extraordinário para unir uns aos outros, formar uma comunidade que é “liturga” e que participa inteira orientada a Deus por Jesus Cristo.

Uma das apologias, conservada no atual Ordo Missae,plasma perfeitamente o que estamos dizendo: Domine Iesu Christe Fili Dei vivi qui ex voluntate Patris cooperante Spiritu Sancto per mortem tuam mundum vivificasti (“Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, que, por vontade do Pai, cooperando com o Espírito Santo, com a vossa morte destes a vida ao mundo”). De fato, as orações que o sacerdote reza em segredo – e esta concretamente – podem ajudar de modo eficaz – a sacerdotes e fiéis – a alcançar a clara consciência de que a liturgia é obra da Santíssima Trindade. “A oração e a oferenda da Igreja são inseparáveis da oração e da oferenda de Cristo, sua Cabeça. Trata-se sempre do culto de Cristo em e pela sua Igreja” [17].

Assim, pois, as apologias, há mais de mil anos, configuram-se como simples fórmulas acrisoladas pela história, repletas de conteúdo teológico, que permitem ao sacerdote quando as reza, e ao povo fiel que participa vivendo o silêncio, perceber o mistério de fé do qual participam e assim unir-se a Cristo e reconhecê-lo como Deus, irmão e amigo.

Por estes motivos, temos de alegrar-nos pelo fato de que, apesar da reforma litúrgica pós-conciliar ter reduzido drasticamente seu número e retocado notavelmente o texto destas orações, elas continuam estando presentes também no Ordinário da Missa mais recente. É um convite aos sacerdotes a não descuidarem destas orações durante a celebração, assim como a não transformá-las de orações do sacerdote a orações de toda a assembleia, lendo-as em voz alta como as demais orações. As orações apologéticas se baseiam e expressam uma teologia diferente e complementar à que constitui o pano de fundo das demais orações. Esta teologia se manifesta na maneira silenciosa e reverente com que são rezadas pelo sacerdote e acompanhadas pelos demais fiéis.


Notas

[1]
João Paulo II, Mensagem à Assembleia Plenária da Congregação para o Culto
Divino e a Disciplina dos Sacramentos
(21.IX.2001)

[2]
J. Ratzinger, Prefácio ao primeiro volume dos meus escritos.

[3]
Cf. Bento XVI,
Homilia na Vigília Pascal, 22.III.2008.

[4]
Bento XVI, Ex. apost. post.
Sacramentum caritatis, n. 65.

[5]
Cf. João Paulo II, Mensagem à Assembleia Plenária da Congregação para o
Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos
(21.IX.2001)

[6]
Bento XVI,
Homilia Missa Crismal, 20.III.2008.

[7]
João Paulo II, .Carta enc.
Ecclesia de Eucharistia, 11.

[8]
João Paulo II,
Carta aos sacerdotes na Quinta-Feira
Santa 2004
.

[9]
Cf. João Paulo II, Mensagem à Assembleia Plenária da Congregação para o
Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos
(21.IX.2001)

[10]
Bento XVI, Ex. apost. post.
Sacramentum caritatis, n. 55.

[11]
Idem.

[12]
Bento XVI, Ex. apost. post.
Sacramentum caritatis, n 23.

[13]
Cf. Bento XVI, Ex. apost. post.
Sacramentum caritatis, n. 37.

[14]
Cf. Const.
Sacrosanctum Concilium, 48.

[15]
Pio XII, Carta encíclica
Mediator Dei cit. no Catecismo da Igreja Católica, 1548.

[16]
Catecismo da Igreja Católica, 1120.

[17]
Catecismo da Igreja Católica, 1553.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

O Sacerdote na celebração de Pentecostes

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O Sacerdote na celebração de
Pentecostes



(tradução dos Estudos do Oficio das Celebrações Litúrgicas
do Sumo Pontifice)



Original em: http://www.vatican.va/news_services/liturgy/details/ns_lit_doc_20100526_sac-pentecoste_it.html

A Igreja de Pentecostes é a antítese da Torre de Babel. É a cidade onde, nas palavras da Missa da vigília na oração coleta, "reunir os dispersos povos, línguas e se juntam para anunciar" uma fé com a glória do Senhor. Este poderia ser o começo, porque todos ouviram os Apóstolos pregar na sua própria língua. A pregação do Evangelho precede e acompanha a sua versão escrita: assim, o início da Igreja, é o ensino apostólico das Escrituras para torná-lo compreensível.

1. Nestas circunstâncias, deve-se primeiro olhar para julgamentos sumários sobre a história da Igreja, como os que afirmam que aos católicos não era considerada necessária a leitura da Bíblia para a salvação e, portanto, era melhor enviar a mensagem para os fiéis através da "forma indirecta" da pregação e da catequese. Confrontado com opiniões semelhantes, basta lembrar que o ministro da rainha Candace, que estava lendo Isaías, mas em uma linguagem familiar para ele, ele não entendeu o significado da Escritura: "Como eu o compreendo - disse o diácono Filipe - a menos que alguém que me oriente?" ( Atos 8:31).

Os Apóstolos exerciam "mediação" comosacerdotes na celebração do sacrifício eucarístico e, ntes disso, 'quebrando' a palavra, o que ocorre através da pregação, a catequese, homilética. Só um preconceito teológico pode presumir que a obra apostólica dos "caminhos indiretos" de acesso às Escrituras. Assim é Pedro, que recebeu o Espírito Santo, tomou a palavra para explicar o que conteceu no dia de Pentecostes: este fato marca o início do Magistério da Igreja, sem o qual o Verbo divino permanece lacrado, e sem prejuízo incompreensível para interpretação ou subjetiva.

A "profecia", ou seja, lê-se na véspera de Pentecostes na forma extraordinária do Rito Romano, e da missa “ontem à noite” no ordinário, ilustram os 'iluminados' que faz com que o Espírito nos corações, é claro, que a cobertura pode ser de leitura; mas, a Tradição ensina que é a audição. Tendem a concordar na liturgia de hoje para confirmar que a própria atitude dos fiéis durante a Liturgia da Palavra é o que escuta.

2. Outra tendência popular de hoje é comparar a véspera da Páscoa ao Pentecostes. Há, naturalmente, as semelhanças, mas as diferenças não devem ser silenciadas. Nas leituras da Solenidade se reproduzir o dobro do derramamento do Espírito no Evangelho de João, que partindo do Filho Jesus, que apareceu na Última Ceia para o perdão dos pecados, e os outros atos, a expansão missionária e interiorização do mistério pascal . No entanto, a vigília da ressurreição do Senhor está por trás da efusão do Espírito, mas no Domingo de Pentecostes cumpre a Páscoa, para o corpo de Cristo, a Igreja. Na verdade, neste dia o círio pascal é extinto, para simbolizar o fim da presença visível do Senhor e o início do trabalho invisível do Espírito. Esse gesto mostra a diferença entre a Páscoa e o Pentecostes. Na verdade, "Aleluia" após a licença dos fiéis, o celebrante pode desligar ou apagar vela - como previsto na forma extraordinária já na Ascensão - e retirar os grãos de incenso que tinha dirigido para dentro da vela na noite de Páscoa.

3. Outro ato desta forma extraordinária é a genuflexão dos ministros durante a ladainha, antes do início da vigília e missa de seqüência, para a missa do dia: um paralelo entre o rito da gonuklisía - genuflexão - na liturgia bizantina. Não se pode começar a "descida" do Espírito Santo sem ter dobrado seus joelhos em adoração a Ele que, ressuscitado e ascendido ao céu, envia a mão direita de Deus, o Espírito Santo sobre a Igreja. A iconografia é, de preferência em latim, o arranjo dos Apóstolos no cenáculo com Maria.

Não só o conhecimento do fundo comum para Roma e Bizâncio - o ritual era mais prova antes da reforma litúrgica pós-conciliar - pode dar a impressão e de representação, como tem sido escrito recentemente, "uma piedade sentimental, dominada pela contemplação dos mistérios da vida de
Cristo. "

O Espírito não quer ser adorado, paradoxalmente, von Balthasar disse, mas ele quer que nós para adorar o Filho de Deus e, através dele, o Pai: Ele é "virado" para o Senhor, Ele é o Senhor. Este culto aparece como a conclusão lógica do Mistério Pascal: Spiritus Domini replevit orbem terrarum, como se na canta na antifona de introito do dia de Pentecostes.

4. Como se imagina a descontinuidade na Tradição da Igreja, opondo-se à construção de alimentar a fé, acreditando que a pregação do passado era voltado apenas para o último? Os púlpitos, o ambão de nossas igrejas e catedrais mostram que a palavra de Deus sempre esteve no centro da vida eclesial, mesmo que os clérigos e leigos, nem sempre temos desenhado todo o lucro possível. Na verdade, o fato de que essas instalações foram localizados no meio da liturgia recorda a preocupação de instruir os catecúmenos e os fiéis a ter acesso aos sacramentos. Embora o Vaticano II tenha certamente promovido uma maior utilização da Sagrada Escritura na liturgia, notamos que, tanto quanto o desejo do Conselho continua por resolver: basta tomar nota das "lamentações" dos catequistas e da homiletica, e das catequeses e liturgias sobre a realidade de hoje, apesar da reforma pós-conciliar. Portanto, devemos ter fé no Espírito, e não em qualquer momento, renovar a face da terra! Mesmo que no terceiro milênio, estamos imunes a retiros espirituais.

5. O sacerdote no dia de Pentecostes deve proclamar que "hoje" - como canta o Prefácio – se completou o mistério pascal em Jerusalém com o nascimento da Igreja universal, como lembrou em sua homilia o Santo Padre (Pentecostes de 2008), tendo sobre o ensino da Communionis notio carta enviada por ele -, então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé - aos bispos da Igreja Católica. A Igreja é Universal , não particular ou local, mas é una, católica, santa e apostólica. É essa associação que os sacerdotes devem se educar, antes do "diocesanos", que certamente tem valor, mas se primariamente empenhada na "catolicidade". É sintomático que a referência instintiva imediata para os fiéis católicos que sentem com o Papa, como um princípio de unidade interna da Igreja. A autoridade do Papa não é mediado por outra instância, mas a autoridade dos bispos só é exercido em comunhão com o Bispo de Roma.

6. É um sinal, na liturgia, o uso do latim, que, pormais que as línguas locais, a linguagem da única lembrança visível do mistério de Pentecostes, ao contrário da confusão de Babel. Ele diz que o Prefácio: "Derramou o Espírito Santo [...] que reuniu as línguas da família humana na profissão de fé". Refletir sobre o fato de que o culto também postula a língua sagrada, que, o seu vocabulário é uma forma específica de organizar a experiência religiosa. Embora a tendência de rejeitar o racionalismo, a crença no sobrenatural conduz, necessariamente, de tomar uma língua sagrada no culto. Ele ajuda a preservar a ortodoxia da tradição de fé - como atesta a presença intacta do Kyrie, o Amém, Aleluia, do hosana -, enquanto feliz de ser traduzido para as leituras atuais, onde a necessidade é a comunicação predominante . No entanto, acreditar que a leitura da Bíblia em latim prejudica a eficácia da Palavra de Deus no coração do crente é negar toda a história de fé e santidade de dois mil anos.

A língua latina é usada para expressar melhor a unidade ea universalidade da Igreja (cf. Exortação Apostólica Sacramentum caritatis, 62). Pensamos que a chamada "Missa Internacional", comemorado na maioria dos idiomas, quando, por sua vez, apenas uma parte dos fiéis a compreender o que é dito (e outros, portanto, não incluído), exprime a universalidade da Igreja melhor do que o de Missa em latim? Por outro lado, a linguagem é parte de um esforço maior para evangelizar a cultura, que acaba de abrir no dia de Pentecostes. A língua latina é um fator unificador: ela lançou as bases da civilização cristã, chegou até nós e continuar a desenvolver.

7. Acreditamos que na celebração de Pentecostes, o padre tem a oportunidade de instruir os fiéis sobre este ponto que, embora sucintamente: ela depende da compreensão da catolicidade da greja. Bispo Cirilo de Jerusalém recorda: "Não pergunte onde está a Igreja, mas também específica bem onde esta a Igreja Católica" (PG 33,1048).


quarta-feira, 8 de junho de 2011

Memória de Santo Éfrem, Diácono e Doutor da Igreja

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Santo Éfrem, o Sírio, nasceu por volta do ano 306. Seu pai era sacerdote pagão e sua mãe era cristã. Recebeu educação cristã em casa, de sua mãe. Foi batizado aos 18 anos, tendo sido ordenado diácono por volta do ano 338. Viveu na Ásia Menor e dedicou-se a escritos doutrinários e à composição de hinos religiosos, razão pela qual ganhou o epíteto de "Cítara do Espírito Santo". Morreu em 9 de junho de 373. Segue abaixo, um trecho de um de seus edificantes escritos:


"Nosso Senhor escolheu Mateus, o cobrador de impostos, para encorajar os colegas deste a virem com ele também. Ele viu pecadores, chamou-os e fez que se sentassem junto de si. Um espectáculo admirável: os anjos ficam de pé, trémulos, enquanto os publicanos, sentados, se divertem. Os anjos enchem-se de temor perante a grandeza do Senhor, enquanto os pecadores comem e bebem com Ele. Os escribas sufocam de ódio e de despeito, e os publicanos exultam perante a sua misericórdia. O céu viu este espectáculo, ficando em grande admiração; o inferno também o viu e ficou louco. Satanás viu e enfureceu-se; a morte viu e enfraqueceu; os escribas viram e ficaram muito perturbados com isso.

Havia alegria nos céus e júbilo entre os anjos porque os rebeldes tinham sido convencidos, os recalcitrantes tinham ganho sensatez e os pecadores tinham sido corrigidos, e porque os publicanos tinham sido justificados. Tal como Nosso Senhor não renunciou à ignomínia da cruz apesar das exortações dos seus amigos (Mt 16,22), Ele não renunciou à companhia dos publicanos apesar da zombaria dos seus inimigos. Desprezou a zombaria e desdenhou o elogio, fazendo assim o que é o melhor para os homens." (Santo Éfrem, o Sírio, Diácono e Doutor da Igreja. Diassetarum, 5, 17. Extraído de: http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/pais_da_igreja/s_efren_o_sirio_antologia.html )

"Infundi, ó Deus, em nossos corações o Espírito Santo que inspirava ao diácono Efrém cantar os vossos mistérios e consagrar-se inteiramente ao vosso serviço. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo." (Missal Romano)
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