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quinta-feira, 17 de maio de 2012

Missa votiva em honra ao Imaculado Coração de Maria na Forma Extraordinária

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Recebemos do leitor Hernan Gouveia:
Santa Missa na Forma Extraordinária do Rito Romano celebrada na véspera da Festa de Nossa Senhora de Fátima, votiva em honra ao Imaculado Coração de Maria. Celebrada pelo Revo. Padre Anderson na Paróquia Nossa Senhora de Fátima em Manilha - RJ, Arquidiocese de Niterói.















terça-feira, 15 de maio de 2012

Carta do Prof. Carlos Ramalhete ao Salvem

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Nosso apostolado é apoiado por vários Bispos. É lido em Roma, como vemos no tráfego de visitas. Tem como Padres orientadores um Monsenhor que trabalha na Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, no Vaticano, e um sacerdote conhecido por seu valioso apostolado na formação de Seminaristas e na celebração de ambas as formas do rito romano. Possuimos dois seminaristas na equipe, um deles estudando em Roma. Dezenas de Padres e Bispos nos escrevem e mandam fotos de suas celebrações, e nos parabenizam pelo resgate e defesa da liturgia.

Agora, recebemos uma carta do Prof. Carlos Ramalhete, conhecido apologista brasileiro, um dos pioneiros nos apostolados via internet.

O Santo Padre Bento XVI escreveu que a liturgia “não pode vir da nossa própria imaginação, da nossa própria criatividade”.  Este dado elementar de algo tão próximo à essência do Mistério de nossa salvação hoje, infelizmente, muitas vezes precisa ser lembrado.

A crise pela qual a Igreja vem passando é, em grande parte, refletida, amplificada e alimentada por uma crise litúrgica de seriíssimas proporções. O Beato João Paulo II e, agora, Bento XVI vêm tentando sanar a situação e instituir uma percepção correta da liturgia. Os documentos emanados da pena destes dois grandes Pontífices são muitos, todos apontando na mesma direção: o respeito à liturgia, a sua percepção como algo que recebemos de Deus, que recebemos da Igreja, que deve ser acolhido, não inventado.

A prática litúrgica, contudo, ocorre verdadeiramente no nível das paróquias e capelas. São os padres e os leigos que, juntos, vivem o Mistério litúrgico a cada dia. A Missa celebrada em uma paróquia paupérrima é a mesma Missa que é celebrada pelo Papa em Roma: ambas são o Sacrifício Salvífico de Nosso Senhor Jesus Cristo, tornado novamente presente de forma incruenta sobre o altar. Ambas as Missas são, na verdade, janelas que se abrem à Eternidade, aberturas pelas quais, como no sonho de Jacó, sobem e descem os anjos.

Quando, contudo, cai-se no erro de fazer da liturgia algo voltado para as pessoas que ali estão, uma celebração do estar-junto, uma mera festa de comunidade, a janela para o Eterno é como que apagada, esquecida em prol de coisas passageiras, cuja importância empalideceria diante da magnitude do Mistério que ali é celebrado. E, com isso, sofre a Fé dos paroquianos, que – de tanto ver referências ao imanente obnubilando o transcendente – acabam por achar que o que importa é o que o século já diz que importa: casa, comida, roupa lavada. Prazeres sensíveis e honrarias mundanas. Coisas passageiras, coisas que não nos levam ao Céu.

Esta experiência litúrgica, boa ou ruim, ocorre necessariamente na vida cotidiana, na prática litúrgica de cada paróquia. Os documentos que vêm de Roma, se não são aplicados em cada paróquia, em cada Missa, tornam-se rapidamente letra morta. É na paróquia o campo de batalha, e somos nós – leigos e padres – os soldados em campo, sempre guiados pela santa obediência e pelas sapientíssimas palavras dos Sumos Pontífices a quem Deus nos confiou.

A resposta aos incessantes apelos de já dois Papas, assim, deve surgir no nível paroquial, em cada capela, em cada paróquia. De lá, de maneira aliás perfeitamente adequada ao que nos é indicado pelo princípio da subsidiariedade, a reta compreensão da liturgia – e, nela, da Fé – se espalha horizontal e verticalmente.

Com este objetivo, o Bem-Aventurado Papa João Paulo II viajou por todo o mundo, criou meios de comunicação direta que levassem aos leigos imediatamente as sábias palavras dos Santos Padres.
Não se trata de um aumento do centralismo, mas, ao contrário, de um pedido de ajuda, de um reconhecimento da importância que tem a participação do laicato, a participação de cada pároco, na obra de restauração litúrgica e doutrinal da Igreja.

O trabalho do apostolado Salvem a Liturgia, assim, insere-se perfeitamente na estratégia traçada por João Paulo II e continuada por seu augusto sucessor. Pelo exemplo prático das fotografias e vídeos apresentados, pelas oportunidades educacionais oferecidas nos textos, pelos auxílios diretos à sanação da crise litúrgica oferecidos na forma de instruções e mesmo doação de Missais, vai sendo feito este trabalho de lenta restauração, de lenta reconstrução da grandeza litúrgica em cada paróquia, em cada capela. Uma de cada vez, todas em perfeita união com a Santa Sé.

Vale notar que não se trata de uma volta ao passado, sim de uma ordenação do presente, com vistas ao futuro. De acordo com o determinado pela Santa Sé, este apostolado procura ajudar a aprimorar a celebração de ambas as Formas do mesmo Rito Romano, que é a nossa herança e nosso direito, para que a liturgia de hoje seja não a liturgia de ontem, mas sim o reflexo fiel da liturgia eterna da Jerusalém Celeste, ensinando a reta Fé e conduzindo à santificação de cada um de nós.

Inúmeros sacerdotes uniram-se a este apostolado, quer seja por participações diretas – envio de fotografias, de histórias, de subsídios litúrgicos – quer seja pela meditação dos exemplos por ele apresentados, conduzindo a um aperfeiçoamento da experiência litúrgica paroquial, de acordo com o determinado pela Santa Sé e em perfeita comunhão com o Vigário de Cristo.

E todos contam a mesma história: a beleza da liturgia bem celebrada, a valiosa catequese que ela, por si só, já representa. Quer seja na Forma Ordinária, quer seja na Forma Extraordinária, é a mesma Missa, o mesmo Sacrifício Eterno, a mesma abertura ao Sagrado que nos faz trazer a Eternidade para nossas vidas e contemplá-las em função do que não passa.

A receita é teoricamente simples: cumprir o que ensina a Igreja, respeitar as rubricas, ater-se àquilo que recebemos, ao invés de tentar ser mais criativo que o Espírito Santo. A prática, contudo, é de um lento trabalho de restauração, como que de uma obra de arte que herdamos, um trabalho carinhoso e movido pelo mais puro amor à Igreja.

Altar por altar, capela por capela, paróquia por paróquia, diocese por diocese vai sendo feito este trabalho, vão os leigos e os padres, unidos pela Fé, pelos Sacramentos e pelos laços da Sagrada Hierarquia, atender ao apelo do Santo Padre João Paulo II:

“Sinto o dever de fazer um veemente apelo para que as normas litúrgicas sejam observadas, com grande fidelidade, na celebração eucarística. Constituem uma expressão concreta da autêntica eclesialidade da Eucaristia; tal é o seu sentido mais profundo. A liturgia nunca é propriedade privada de alguém, nem do celebrante, nem da comunidade onde são celebrados os santos mistérios.

O apóstolo Paulo teve de dirigir palavras àsperas à comunidade de Corinto pelas falhas graves na sua celebração eucarística, que tinham dado origem a divisões (skísmata) e à formação de facções ('airéseis) (cf. 1 Cor 11, 17-34). Actualmente também deveria ser redescoberta e valorizada a obediência às normas litúrgicas como reflexo e testemunho da Igreja, una e universal, que se torna presente em cada celebração da Eucaristia. O sacerdote, que celebra fielmente a Missa segundo as normas litúrgicas, e a comunidade, que às mesmas adere, demonstram de modo silencioso mas expressivo o seu amor à Igreja.[...] A ninguém é permitido aviltar este mistério que está confiado às nossas mãos: é demasiado grande para que alguém possa permitir-se de tratá-lo a seu livre arbítrio, não respeitando o seu carácter sagrado nem a sua dimensão universal.” (Ecclesia de Eucharistia, 52)

É este apelo que é espelhado e amplificado pelas obras do apostolado Salvem a Liturgia. É este apelo que devemos, todos, considerar como tendo sido feito pessoalmente a cada um de nós pelo Vigário de Cristo, levando a cabo, na medida da nossa responsabilidade e capacidade, a nossa parte neste santo empreendimento.

Graças e louvores se deem, a todo momento, ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!

Carmo de Minas,
na Festa de Santa Doroteia,
no ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2012,

Prof. Carlos Ramalhete.


domingo, 13 de maio de 2012

Homilia: VI Domingo da Páscoa - Ano B - Pe. Françoá Costa

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Obras do Amor



“Amai-vos uns aos outros, como eu vos amo” (Jo 15,12). Trata-se do amor que pressupõe o amor de Deus e que deve realizar-se através das nossas obras. Com relação ao amor ao próximo, por exemplo, é muito importante que não sejamos teóricos. O famoso romance de Fiodor Dostoievski, Os irmãos Karamázov, também relata como uma pessoa proclamava o seu amor pela humanidade em geral: “Eu amo a humanidade, mas fico admirado comigo mesmo porque quanto mais amo a humanidade em geral diminui o meu amor às pessoas em particular, ou seja, singularmente, como simples pessoas. Sonhando, com frequência, fiz propósitos apaixonados de servir à humanidade e, talvez, teria caminhado rumo à cruz pelas pessoas, caso fosse necessário, em algum momento. Não obstante, sou incapaz de viver com outras pessoas durante dois dias seguidos compartindo o mesmo quarto, e sei-o por experiência. Quanto me vejo perto de alguém, percebo que a sua personalidade oprime o meu amor próprio e tira a minha liberdade. Em apenas 24 horas posso chegar a odiar, inclusive a melhor pessoa do mundo: às vezes porque fica muito tempo à mesa, outras porque está gripado e tosse sem cessar”. Ainda que o texto não seja literal, é possível perceber que não é verdadeira caridade a mera possibilidade de amar a humanidade em geral e desprezar o ser humano em particular. Os que fazem belos discursos de amor à humanidade deveriam provar que as palavras são verdadeiras através daquelas ações que vão ao encontro das necessidades reais dos outros.
Estamos fartos de discursos humanitários retóricos! Gostaríamos de ver solucionada a situação das pessoas com as quais convivemos: “esse vive num barracão, aquele passa fome, fulano não tem trabalho, o outro está com depressão, os grupos estão divididos na minha paróquia, no meu grupo há uma pessoa que sempre quer destacar-se mais que os outros, há críticas… um desastre!”

Será que os acatólicos conhecem os católicos pelo amor mútuo, pela atenção caridosa, pelo carinho, pela boa educação, pela generosidade e pela disponibilidade? Para saber como se vive a caridade é preciso olhar, em primeiro lugar, para Jesus. A regra, a medida da caridade, é ele: “como eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros”. Como Cristo amou-nos? Rebaixando-se a si mesmo, sofrendo na cruz e derramando todo o seu Sangue por nós, preocupando-se verdadeiramente com os nossos pequenos e grandes problemas. Assim deve ser o nosso amor aos irmãos: será preciso dedicar-lhes tempo, escutá-los, dispor-nos a ajudá-los quando for preciso, mostrar o nosso agradecimento às pessoas, corrigir com fortaleza e gentileza quando necessário, viver as normas da educação e da prudência, viver a discrição, compreendê-los, sorrir também quando não se tem vontade; sacrificar-nos por eles, sem que percebam, para que tenham bons momentos.

E nas paróquias? Quantas rivalidades! Quantos ciúmes! Quanta inveja! Disse alguém que “Cristo mandou que nos amássemos, não que nos amassemos”. Há muitas reuniões, e pouca união! Os problemas na comunidade cristã não são novos, São Paulo escreveu aos Gálatas: “se vos mordeis e vos devorais, vede que não acabeis por vos destruirdes uns aos outros” (Gl 5,15). Por que será que os cristãos às vezes se mordem devorando-se uns aos outros? Pelo mesmo motivo que São Paulo identificou entre os gálatas: eram carnais. O que é necessário para viver a caridade? Deixar-se conduzir pelo Espírito Santo e fazer as obras do Espírito: “caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança” (Gl 5,22-23). Hoje é o dia para que renovemos os bons propósitos de viver “opere et veritate”, com obras e na verdade, a virtude da caridade, não em geral e em abstrato, mas em particular e concretamente: na família, com o pai, com a mãe, com os irmãos, com os amigos, com o patrão, com o empregado, com o meu irmão de comunidade. Não é fácil porque as pessoas têm problemas, dificuldades, às vezes exalam mau olor, falam demasiado (e às vezes com a boca cheia) ou não falam quase nada, faz calor. Poderíamos enumerar mil e uma razões para não viver a caridade, nenhuma delas é consequente. Neste mês de maio, Maria Santíssima nos ensinará a viver no amor a Deus e ao próximo, de verdade!

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Escola de Acólitos São João Bosco na Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro

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A Escola de Acólitos São João Bosco na Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro para a Forma Extraordinária do Rito Romano informa a todos do curso de formação de acólitos a iniciar-se no dia 27/05/2012.

O objetivo do curso é formar acólitos para ajudar os padres que querem rezar a Missa na forma extraordinária. Todos são muito bem vindos! 

O curso será na  Igreja Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, localizada na Rua Primeiro de Março-Centro-Rio de Janeiro/RJ. Sempre no 2° e 4° Domingo do mês,depois da Santa Missa das 9h00.

Há uma taxa de R$ 15,00 referente à apostila do curso, que terá a duração de aproximadamente seis meses.

A iniciativa conta com a benção de sua Exa. Revma. Dom Orani João Tempesta e apoio do Revmo. Monsenhor Sérgio Costa Couto (Arquidiocese do Rio de Janeiro), Revmo. Monsenhor José de Matos (Adm. Apostólica São João Maria Vianney), Revmo. Pe.João Jefferson Chagas (Arquidiocese do Rio de Janeiro), Revmo. Pe.Thiago Carvalho (Arquidiocese do Rio de Janeiro) e Revmo. Pe. Eduardo (Arquidiocese do Rio de Janeiro).

Os interessados podem fazer a sua inscrição através do e-mail missatridentinario@hotmail.com ou no dia do curso.

Oferecer as Obras do dia - Pe. Francisco F. Carvajal

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A meditação diária da coleção Falar com Deus, do Pe. Francisco Fernández Carvajal, trouxe, nesta quinta-feira da quinta semana do Tempo Pascal, um belíssimo texto sobre o oferecimento das obras e a Santa Missa.
– Pelo oferecimento de obras dirigimos para Deus o nosso dia desde o começo. A nossa primeira oração.
– Como fazê-lo. O “minuto heróico”.
– O oferecimento de obras e a Santa Missa. Oferecer as nossas tarefas ao Senhor muitas vezes ao dia.
I. PARA ORDENARMOS a nossa vida, o Senhor deu-nos os dias e as noites. O dia fala ao dia e a noite comunica à noite os seus pensamentos1. E cada novo dia recorda que temos de continuar os nossos trabalhos interrompidos e renovar os nossos projetos e as nossas esperanças: “O homem sai para o trabalho e lá fica até o anoitecer. Depois chega a noite e, com um sorriso bondoso, Deus manda-nos pôr de lado todas as ninharias a que nós, pobres mortais, damos tanta importância [...], fecha-nos os livros, esconde-nos as distrações, cobre com um grande manto negro as nossas existências...; quando a escuridão nos envolve, passamos por um ensaio geral da morte; a alma e o corpo despedem-se um do outro... Então chega a manhã e com ela o renascimento”2.

De certa maneira, cada dia começa com um nascimento e acaba com uma morte; cada dia é como uma vida em miniatura. No fim, a nossa passagem pelo mundo terá sido santa e agradável a Deus se tivermos tido a preocupação de que cada dia fosse grato a Deus, desde que o sol despontou até o seu ocaso, como também a noite, porque a teremos igualmente oferecido a Deus.
hoje é a única coisa de que dispomos para santificar. O dia fala ao dia; o dia de ontem sussurra ao de hoje e nos diz da parte do Senhor: “Começa bem”. O dia de ontem desapareceu para sempre, com todas as suas possibilidades e com todos os seus perigos. Dele só ficaram motivos de contrição pelas coisas que não fizemos bem, e de gratidão pelas inumeráveis graças, benefícios e cuidados que recebemos de Deus. O “amanhã” ainda está nas mãos do Senhor. “Porta-te bem «agora», sem te lembrares de «ontem», que já passou, e sem te preocupares com o «amanhã», que não sabes se chegará para ti”3.
O que devemos santificar é, pois, o dia de hoje. Mas como havemos de fazê-lo, se não o começamos oferecendo-o a Deus? Só os que não conhecem a Deus e os cristãos tíbios é que começam os seus dias de qualquer maneira. O oferecimento de obras pela manhã é um ato de piedade que orienta bem o dia, que o dirige para Deus desde o princípio, tal como a bússola aponta para o Norte; prepara-nos para escutar e atender as constantes inspirações e moções que o Espírito Santo nos segredará ao longo do dia que começa, um dia que nunca se repetirá. Se ouvirdes hoje a sua voz, não queirais endurecer o vosso coração4. O Senhor fala-nos todos os dias.
Dizemos ao Senhor que queremos servi-lo no dia de hoje, que queremos tê-lo presente. “Renovai todas as manhãs, com um serviam!decidido – Senhor, eu te servirei! –, o propósito de não ceder, de não cair na preguiça ou no desleixo, de enfrentar os afazeres com mais esperança, com mais otimismo, bem persuadidos de que, se em alguma escaramuça formos vencidos, poderemos superar esse baque com um ato de amor sincero”5.
As nossas obras chegarão mais cedo a Deus se lhe oferecermos o dia através de sua Mãe, que é também a nossa Mãe. “Aquilo que desejes oferecer, ainda que seja pouco, procura depositá-lo nas mãos de Maria, mãos graciosissímas e digníssimas de todo o apreço, a fim de que seja oferecido ao Senhor sem que desperte a sua repulsa”6.
II. O COSTUME DE OFERECER o dia a Deus já era vivido pelos primeiros cristãos: “Logo que acordam, antes de enfrentarem novamente o bulício da vida, antes de conceberem em seu coração qualquer idéia, antes mesmo de se lembrarem do cuidado dos seus interesses familiares, consagram ao Senhor o nascimento e princípio dos seus pensamentos”7.
Muitos bons cristãos têm o hábito adquirido de dirigir o primeiro pensamento do dia para Deus. E, a seguir, de viver o “minuto heróico”, que é uma boa ajuda para fazer animosamente o oferecimento de obras e começar bem o dia. “O minuto heróico. – É a hora exata de te levantares. Sem hesitar: um pensamento sobrenatural e... fora! – O minuto heróico: aí tens uma mortificação que fortalece a tua vontade e não debilita a tua natureza”8. “Se, com a ajuda de Deus, te venceres, muito terás adiantado para o resto do dia. Desmoraliza tanto sentir-se vencido na primeira escaramuça!”9
Ainda que não seja necessário adotar uma fórmula concreta, é conveniente ter um modo habitual de cumprir esta prática de piedade, tão útil para que todo o dia ande bem. Há quem recite alguma oração simples, aprendida na infância ou quando já era crescido. É muito conhecida esta oração à Virgem, que serve ao mesmo tempo de oferecimento de obras e de consagração pessoal diária a Nossa Senhora: Ó Senhora minha, ó minha Mãe! Eu me ofereço todo a Vós e, em prova da minha devoção para convosco, Vos consagro neste dia meus olhos, meus ouvidos, minha boca, meu coração e inteiramente todo o meu ser. E como assim sou vosso, ó boa Mãe, guardai-me e defendei-me como coisa e propriedade vossa. Amém.
Além do oferecimento de obras, cada um deve ver o que pode ser conveniente acrescentar às suas orações ao levantar-se: mais alguma oração a Nossa Senhora, uma invocação a São José, ao Anjo da Guarda. É também o momento adequado de recordar os propósitos de luta feitos no exame de consciência do dia anterior, e de renovar o desejo de cumpri-los, com a graça de Deus.
Senhor Deus todo-poderoso, que nos fizestes chegar ao começo deste dia, salvai-nos hoje com o vosso poder, para que não caiamos em nenhum pecado e as nossas palavras, pensamentos e atos sigam o caminho dos vossos preceitos10.
III. TEMOS QUE DIRIGIR-NOS ao Senhor todos os dias pedindo-lhe ajuda para tê-lo presente em quaisquer circunstâncias; não apenas nos momentos dedicados expressamente a falar com Ele, mas também nas atividades diárias normais, pois queremos que, além de estarem bem feitas, sejam oração grata a Deus. Por isso podemos dizer com a Igreja: Nós te pedimos, Senhor, que previnas as nossas ações e nos ajudes a prossegui-las, a fim de que todo o nosso trabalho comece sempre em Ti e por Ti alcance o seu fim11.
A Santa Missa é o momento mais adequado para renovarmos o oferecimento da nossa vida e das obras do dia. Enquanto o sacerdote oferece o pão e o vinho, nós oferecemos tudo quanto somos e possuímos, bem como tudo aquilo que nos propomos fazer no dia que começa. Colocamos na patena a memória, a inteligência, a vontade... Colocamos nela a família, o trabalho, as alegrias, a dor, as preocupações..., e as jaculatórias e os atos de desagravo, as comunhões espirituais, os pequenos sacrifícios, os atos de amor com que esperamos preencher o dia.
Sempre serão pobres e pequenos estes dons que oferecemos, mas, ao unirem-se à oblação de Cristo na Missa, tornam-se incomensuráveis e eternos. “Todas as suas obras, preces e iniciativas apostólicas, a vida conjugal e familiar, o trabalho cotidiano, o descanso do corpo e da alma, se praticados no Espírito, e mesmo os incômodos da vida pacientemente suportados, tornam-se hóstias espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo (1 Pe 2, 5), hóstias que são piedosamente oferecidas ao Pai com a oblação do Senhor na celebração da Eucaristia”12.
No altar, ao lado do pão e do vinho, deixamos tudo quanto somos e possuímos: anseios, amores, trabalhos, preocupações... E no momento da Consagração entregamo-los definitivamente a Deus. Agora, já nada disso é só nosso, e portanto – como quem o recebeu em depósito e para o administrar – devemos utilizá-lo para o fim a que o destinamos: para a glória de Deus e para fazer o bem aos que estão à nossa volta.
O fato de termos oferecido todas as nossas obras a Deus ajuda-nos a executá-las melhor, a trabalhar com mais eficácia, a estar mais alegres na vida em família ainda que estejamos cansados, a ser melhores cidadãos, a esmerar-nos na convivência com todos. Aliás, podemos repetir em pensamento o nosso oferecimento de obras muitas vezes ao longo do dia; por exemplo, quando iniciamos uma nova atividade ou quando aquilo que estamos fazendo se torna especialmente difícil. O Senhor também aceita o nosso cansaço, que desse modo adquire um valor redentor.
Vivamos cada dia como se fosse o único que temos para oferecer a Deus, procurando fazer bem as coisas, retificando-as quando as fazemos mal. E um desses dias será o último, e também o teremos oferecido a Deus, nosso Pai. Então, se tivermos procurado viver oferecendo continuamente a Deus a nossa vida, ouviremos Jesus que nos diz, como ao bom ladrão: Em verdade te digo, hoje estarás comigo no Paraíso13.
(1) Sl 18, 3; (2) R. A. Knox, Meditações para um retiro, Prumo, Lisboa, 1960, pág. 30-31; (3) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 253; (4) Sl 35, 8; (5) Josemaría Escrivá,Amigos de Deus, n. 217; (6) São Bernardo, Hom. na natividade de N. Senhora, 18; (7) Cassiano, Colações, 21; (8) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 206; (9) ib., n. 191; (10)Preces de laudes, Liturgia das horas da quinta-feira da quinta semana do Tempo Pascal; (11) ib.; (12) Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 34; (13) Lc 23, 43.


sábado, 5 de maio de 2012

Semana Santa na Paróquia do Oratório de São Filipe Néri de São Paulo

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Fotos do Domingo de Ramos e do Tríduo Pascal celebradas pelo Padre Paulo Sampaio Sandes, CO, da Congregação do Oratório de São Filipe Néri de São Paulo, Paróquia São Filipe Neri, situada no Parque São Lucas.

Não deixamos de notar a presença de Sua Alteza Imperial e Real, o Príncipe D. Bertrand de Orleans e Bragança, na Vigília Pascal.

Domingo de Ramos






Sexta-feira Santa






Vigília Pascal





S.A.I.R. Dom Bertrand de Orleans e Bragança




quinta-feira, 3 de maio de 2012

Música devocional é diferente de música litúrgica

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Jeffrey Tucker explica:

Há dois equívocos freqüentes a respeito da música religiosa popular:
1) a crença em que ela seja algo revolucionário e novo nos tempos modernos;
2) a ideia de que ela represente ameaça ao culto litúrgico.
Nenhuma delas é verdadeira. A música devocional é tão antiga quanto a própria Fé. E não representa nenhum problema, desde que as pessoas não a confundam com música litúrgica, que é sempre vinculada ao texto litúrgico. O grande problema do nosso tempo é essa terrível confusão. De algum modo precisamos reencontrar o caminho de volta ao texto litúrgico, de modo a podermos colocar a música devocional no seu lugar adequado.

Parece-me que na maioria das celebrações da Santa Missa, no Brasil, ocorre o uso de música devocional substituindo a música litúrgica (e tudo indica que não é só no Brasil). Não fiz nenhuma pesquisa baseada em métodos estatísticos para dizer que é a maioria (mais de 50%, portanto), mas os relatos e a experiência sugerem isso. Mesmo assim, ainda que isso ocorra em dez por cento das igrejas, deveríamos trabalhar para que nelas a situação mudasse.

Se fossem só dez por cento, não poderíamos abandoná-las, só por ser minoria. E, sendo a maioria, não podemos considerar que seja certo só porque a maioria está fazendo.

Também não se pode justificar o uso incorreto da música devocional na Liturgia dizendo que isso acontece há "muito tempo" (uns quarenta anos). Isto equivale a dizer que um erro, cometido durante bastante tempo, torna-se um acerto.

Jeffrey Tucker é um otimista, e escreve a explicação que traduzimos ali acima sob o ponto de vista pelo qual a música devocional não ameaça o culto litúrgico. De fato, a situação ideal é essa: o cultivo da autêntica música litúrgica não exige que se abandone todo o resto da cultura musical; pelo contrário.

Entretanto, é importante lembrar que essa ameaça existe, sim, se não tivermos clara a diferença entre música devocional e música litúrgica. Se soubermos o que é cada uma, ótimo; se as confundimos, temos a situação atual: a música pop de letras religiosas entra na Liturgia.

Seria o equivalente a pegarmos livros de sucesso do momento atual e introduzirmos seus textos na Liturgia, substituindo as leituras da Sagrada Escritura. É verdade que o pop religioso tem letra religiosa, e tirar uma Carta de São Paulo para colocar Harry Potter não produz uma comparação exata, já que os livros deste personagem não são religiosos; mas nossa analogia pode fazer mais sentido se o leitor imaginar um livro de auto-ajuda, ou então certos livros escritos por católicos, às vezes sacerdotes, cujo conteúdo (e também o aspecto visual) é do mesmo naipe.

Bem, não importa: ainda que se tratasse de um piíssimo poema do Beato Anchieta, ou o mais místico escrito de Santa Teresa, não os tomaríamos para substituir as leituras bíblicas da Liturgia da Missa. Do mesmo modo não podemos colocar música devocional no lugar do Introito, do Gradual (ou do Salmo Responsorial), do Alleluia (ou Trato), do Ofertório e da Comunhão. Todos eles, com raríssimas exceções, são tirados da Escritura, prescritos pela Igreja do mesmo modo que são prescritas as leituras. E estamos substituindo essas palavras por música devocional ruim, quando o certo é não substituir nem mesmo por música devocional boa.

O caso das Missas Baixas da Forma Extraordinária do Rito Romano é diferente. Tais Missas, não tendo o seu texto cantado, mas recitado pelo sacerdote, admitem o canto de música devocional pela assembleia; canto, entretanto, sujeito a certas regulações que impedem o uso de música inadequada. O ideal é a Missa Alta, com o Próprio efetivamente cantado.

As rubricas da Forma Ordinária, o rito aprovado pelo papa Paulo VI e que entrou em vigor em 1969-1970, além da compilação do Graduale Simplex, entre outras iniciativas, buscam possibilitar maior uso da música litúrgica autêntica. Entretanto, isto em grande parte ficou no papel: a desobediência, a insubordinação, o desejo de ruptura e a ignorância das coisas sagradas transformaram a Liturgia, em muitos lugares, num palco de mau gosto onde tudo é permitido, menos o tradicional, o genuíno e o sacro.

Se às vezes se chama, pejorativamente, de "rubricismo" ao desejo de seguir com fidelidade o que a Igreja prescreve para a Liturgia, é de se lamentar que às vezes pareça haver um desejo de fazer tudo exatamente ao contrário do que as rubricas dizem, indo contra qualquer bom senso, numa tentativa de contrariar todo o passado e definindo, se fosse possível, a fundação da Igreja e a instituição da Liturgia para o dia de hoje.

Não se deseja que um texto assim termine de modo negativo; antes, é importante ter em mente que a música autêntica é possível, e que sua reintrodução, na maioria dos casos, acontece "tijolo a tijolo" - gradualmente. Ou "devagar e sempre", para usar outra expressão popular. O essencial é tomarmos a consciência das necessidades e peculiaridades musicais da Liturgia, e do enorme bem espiritual que representa o respeito às suas tradições e prescrições. Fariseus? Não há problema: é Cristo, e só Ele, quem sabe o que há na mente de cada um.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Santa Missa Pontifical na forma Extraordinária em Hong Kong

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Apesar de muitos católicos pelo mundo não terem tanta noção da situação da Igreja no Oriente (rito latino), mesmo em tempos difíceis como estes, a Comunidade da Liturgia Tridentina, comemorando o seu 10º aniversário, no Domingo de Páscoa da Ressurreição do Senhor (08/04), celebrou a Solene Santa Missa Pontifical, cantada em Hong Kong, por Dom John Cardeal Tong, Arcebispo daquela Diocese, na igreja de Santa Teresa.

Tal feito foi uma mostra de que o Santo Sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo é perpetuado, ainda que em meio a tantas situações complicadas, em termos políticos, sociais, econômicos e religiosos. Por tudo isso, Deo gratias!

As fotos originais encontram-se na página do Facebook, Tradition.

Genuflexório para entrada do Bispo










domingo, 29 de abril de 2012

sábado, 28 de abril de 2012

Reforma da reforma e paramentos

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Continuando nossa série sobre o que aproveitar da reforma litúrgica de Paulo VI e da tradição do rito romano presente, de forma mais ampla e preservada, no rito de São Pio V, em uma eventual unificação do rito, apresentamos alguns apontamos livres sobre os paramentos.

Ocupa lugar de destaque nessa preocupação a ausência de obrigatoriedade do uso do manípulo na forma ordinária. Não há motivo razoável para que ele deixasse de ser utilizado no novo Missal. É bem verdade que nunca foi abolido, mas um documento de 1967 o tornou facultativo, o que foi uma pena. E não se trata de um pedaço de pano apenas. O manípulo simboliza as cordas com que Jesus foi manietado para seu suplício, o que é um sinal poderoso a ser envergado no Santo Sacrifício da Missa. É signo também do amor ao trabalho e à penitência, dado que originalmente tal veste servia para enxugar o suor do rosto. Do suor do rosto, passa a significar o suor da alma, e, pois, a penitência simbolizada pelo manípulo, é claramente indicada por ele como remédio às dores e cansaços do espírito, o que um sacerdote sempre deve procurar. A restauração da obrigatoriedade do uso do manípulo é uma necessidade, até mesmo para a reinserção do rito no seu sadio desenvolvimento histórico.

Outro aspecto a considerar é o uso do pluvial na Missa. Estava previsto, na tradição do rito romano, para o Aspergess, antes das Missas dominicais. A reforma de Paulo VI o tirou dessa cerimônia, e o padre passa a usar a casula da Missa também no Asperges, o que tira o simbolismo de ser este uma preparação. Asperges não é Missa. E se não é Missa, não se deveria usar casula, mas o paramento para atos litúrgicos solenes extra-Missa: o pluvial. Também é preciso que, em uma eventual e futura unificação do rito, o pluvial esteja presente. O pluvial, ademais, deve ser resgatado como obrigatório para uso dos padres-assistentes na Primeira Missa de um neo-sacerdote e para os padres-capelães que assistem à Missa Pontifical. Enfim, seu uso deve ser reintroduzido na primeira parte da Solene Vigília Pascal e tornado obrigatório (e não optativo, podendo-se escolher entre ele e a casula) na Procissão de Ramos.

Nas concelebrações, que foi uma ótima idéia resgatada pelo Concílio Vaticano II, para melhor simbolizar a unidade do presbitério em torno do Bispo - ainda que tenha sido mal implementada com a banalização e quase obrigatoriedade prática de concelebrações -, hoje a casula dos celebrantes secundários é dispensável. Não se pode assim pensar. Se a casula é a veste própria dos sacrificadores, e os padres estão concelebrando e não meramente assistindo, não basta usar a estola. Que a casula seja, pois, tornada obrigatória para todas as concelebrações.

Falando em estola, o presbítero sempre se distinguiu do Bispo em seu uso no rito romano, por tê-la cruzada. A reforma de Paulo VI, para ressaltar que não há diferença no sacerdócio entre o Bispo e o mero padre, houve por bem dar-lhe uma forma única: ainda que não seja proibido ao padre usá-la cruzada, na prática o que houve foi uma abolição desse estilo, e todos passaram a envergá-la como os Bispos. Ora, isso é não só uma desconsideração com toda a tradição e o desenvolvimento litúrgico romano, como um contrassenso ao próprio ensino do Vaticano II. O Concílio foi exatamente o definidor do episcopado como um sacramento e um ordem distinta do presbiterado. Essa foi uma das únicas definições propriamente doutrinárias do Vaticano II. E a reforma pós-conciliar, em vez de seguir nas trilhas do próprio Concílio, reforçando a distinção entre o Bispo e o presbítero, os tornou iguais no uso da estola. Urge rever esse "detalhe".

Atualmente, também, o amito e o cíngulo continuam a ser paramentos obrigatórios, exceto, segundo a IGMR, se a alva é feita de tal forma que eles sejam dispensáveis. Perde-se, todavia, quando não se os usa, o profundo significado espiritual e teológico dessas vestes e se ignora novamente o sadio e harmônico desenvolvimento litúrgico, além de tornar sem sentido a recitação das orações próprias ao vesti-las.

Para os diáconos, por sua vez, a dalmática é a veste própria e, nas atuais regulamentações, é vivamente recomendada, e obrigatória nas Missas pontificais ou estacionais. Isso não basta, porém. A dalmática é como a casula do padre e, sendo assim, deveria ser obrigatória e não recomendada.

Enfim, o Bispo, na Missa Pontifical, hoje não tem mais obrigação de usar as cáligas nem as luvas pontificais. Uma perda lamentável de ricos simbolismos e preciosos sinais identificadores do sumo sacerdócio e do poder de jurisdição, em estranha contradição com o Vaticano II, o Concílio que justamente, como falamos, definiu ser o episcopado uma ordem distinta do presbiterado.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

"Missa ou Balada?"

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Uma leitora do Salvem a Liturgia! criou recentemente, uma Página no Facebook, "Tirinhas da Maria", onde expõe seus trabalhos de modo simples e belo, sobre a modéstia, pois trazem, além de muita descontração, sempre uma mensagem que nos ajudará a refletir sobre nossa vida espiritual.

"Acontece de a gente se arrumar no domingo para ir à santa Missa, mas quando se chega lá a impressão é que estamos em um baile, uma festa ou outra coisa. Muita palma, pulos, movimentos com o corpo, até danças mesmo. E som é de bateria, guitarra, etc.. Muito barulho!!

Infelizmente muitos esqueceram que a Santa Missa é a renovação do Sacrifício de Cristo." (Maria Bastos)



Parabéns, Maria Bastos, pelo singelo trabalho de evangelização!

quinta-feira, 26 de abril de 2012

512 anos: Uma errata sobre a 1ª Missa no Brasil!

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Quase todos nós ao ouvirmos falar da primeira Missa celebrada em território brasileiro imediatamente trazemos à nossa mente a imagem imortalizada pela tela de Victor Meirelles de 1860 e atualmente exposta no Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro. A pintura, de estilo romântico, representa os indígenas e portugueses assistindo a uma Missa celebrada pelo Frei Henrique de Coimbra, acolitado por um outro frade, diante de uma grande cruz de madeira armada junto do altar da celebração. Por ocasião dos 512 anos da celebração da primeira missa no Brasil, comemorado hoje, dia 26 de abril de 2012, essa imagem está sendo compartilhada nas redes sociais para relembrar o evento. Contudo, a tela de Meirelles retrata na verdade, a segunda Missa no Brasil, celebrada dia 1º de maio. Como assim?!
No dia 26 de abril de 1500, os portugueses celebraram a primeira missa no Brasil, mas na ilha da Coroa Vermelha, uma ilhota que já não existe mais. Era Domingo da Oitava de Páscoa, e a Missa foi celebrada de forma cantada, sobre um altar montada debaixo de um dossel, assistida por cerca de 1000 homens da esquadra de Pedro Álvarez Cabral. Na praia do continente, cerca de 200 indígenas acompanhavam de longe a cerimônia. 
"Ao domingo de Pascoela pela manhã, determinou o Capitão ir ouvir missa e sermão naquele ilhéu. E mandou a todos os capitães que se arranjassem nos batéis e fossem com ele. E assim foi feito. Mandou armar um pavilhão naquele ilhéu, e dentro levantar um altar mui bem arranjado. E ali com todos nós outros fez dizer missa, a qual disse o padre frei Henrique, em voz entoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos outros padres e sacerdotes que todos assistiram, a qual missa, segundo meu parecer, foi ouvida por todos com muito prazer e devoção. 
Ali estava com o Capitão a bandeira de Cristo, com que saíra de Belém, a qual esteve sempre bem alta, da parte do Evangelho.
Acabada a missa, desvestiu-se o padre e subiu a uma cadeira alta; e nós todos lançados por essa areia. E pregou uma solene e proveitosa pregação, da história evangélica; e no fim tratou da nossa vida, e do achamento desta terra, referindo-se à Cruz, sob cuja obediência viemos, que veio muito a propósito, e fez muita devoção.
Enquanto assistimos à missa e ao sermão, estaria na praia outra tanta gente, pouco mais ou menos, como a de ontem, com seus arcos e setas, e andava folgando. E olhando-nos, sentaram. E depois de acabada a missa, quando nós sentados atendíamos a pregação, levantaram-se muitos deles e tangeram corno ou buzina e começaram a saltar e dançar um pedaço. E alguns deles se metiam em almadias -- duas ou três que lá tinham -- as quais não são feitas como as que eu vi; apenas são três traves, atadas juntas. E ali se metiam quatro ou cinco, ou esses que queriam, não se afastando quase nada da terra, só até onde podiam tomar
pé.
Acabada a pregação encaminhou-se o Capitão, com todos nós, para os batéis, com nossa bandeira alta."(Carta de Pero Vaz de Caminha a El-Rey Dom Manuel I de Portugal, Porto Seguro, 1º de maio de 1500. Os grifos são meus)
O motivo desta celebração ter sido mais afastada foi provavelmente de que o capitão não se sentia seguro de mandar celebrar a liturgia no continente por ainda não ter contatos suficientes com os nativos da terra.
Foi só na sexta-feira, 1º de maio, que o Frei Henrique de Coimbra celebrou Missa solene diante da cruz de madeira plantada na terra da praia de Porto Seguro, a qual assistiu toda a esquadra e uma grande quantidade de indígenas que se juntaram para observarem a cerimônia.
"E hoje que é sexta-feira, primeiro dia de maio, pela manhã, saímos em terra com nossa bandeira; e fomos desembarcar acima do rio, contra o sul onde nos pareceu que seria melhor arvorar a cruz, para melhor ser vista. E ali marcou o Capitão o sítio onde haviam de fazer a cova para a fincar. E enquanto a iam abrindo, ele com todos nós outros fomos pela cruz, rio abaixo onde ela estava. E com os religiosos e sacerdotes que cantavam, à frente, fomos trazendo-a dali, a modo de procissão. Eram já aí quantidade deles, uns setenta ou oitenta; e quando nos assim viram chegar, alguns se foram meter debaixo dela, ajudar-nos. Passamos o rio, ao longo da praia; e fomos colocá-la onde havia de ficar, que será obra de dois tiros de besta do rio. Andando-se ali nisto, viriam bem cento cinqüenta, ou mais. Plantada a cruz, com as armas e a divisa de Vossa Alteza, que primeiro lhe haviam pregado, armaram altar ao pé dela. Ali disse missa o padre frei Henrique, a qual foi cantada e oficiada por esses já ditos. Ali estiveram conosco, a ela, perto de cinqüenta ou sessenta deles, assentados todos de joelho assim como nós. E quando se veio ao Evangelho, que nos erguemos todos em pé, com as mãos levantadas, eles se levantaram conosco, e alçaram as mãos, estando assim até se chegar ao fim; e então tornaram-se a assentar, como nós. E quando levantaram a Deus, que nos pusemos de joelhos, eles se puseram assim como nós estávamos, com as mãos levantadas, e em tal maneira sossegados que certifico a Vossa Alteza que nos fez muita devoção.
Estiveram assim conosco até acabada a comunhão; e depois da comunhão, comungaram esses religiosos e sacerdotes; e o Capitão com alguns de nós outros. E alguns deles, por o Sol ser grande, levantaram-se enquanto estávamos comungando, e outros estiveram e ficaram. Um deles, homem de cinqüenta ou cinqüenta e cinco anos, se conservou ali com aqueles que ficaram. Esse, enquanto assim estávamos, juntava aqueles que ali tinham ficado, e ainda chamava outros. E andando assim entre eles, falando-lhes, acenou com o dedo para o altar, e depois mostrou com o dedo para o céu, como se lhes dissesse alguma coisa de bem; e nós assim o tomamos!
Acabada a missa, tirou o padre a vestimenta de cima, e ficou na alva; e assim se subiu, junto ao altar, em uma cadeira; e ali nos pregou o Evangelho e dos Apóstolos cujo é o dia, tratando no fim da pregação desse vosso prosseguimento tão santo e virtuoso, que nos causou mais devoção.
Esses que estiveram sempre à pregação estavam assim como nós olhando para ele. E aquele que digo, chamava alguns, que viessem ali. Alguns vinham e outros iam-se; e acabada a pregação, trazia Nicolau Coelho muitas cruzes de estanho com crucifixos, que lhe ficaram ainda da outra vinda. E houveram por bem que lançassem a cada um sua ao pescoço. Por essa causa se assentou o padre frei Henrique ao pé da cruz; e ali lançava a sua a todos -- um a um -- ao pescoço, atada em um fio, fazendo-lha primeiro beijar e levantar as mãos. Vinham a isso muitos; e lançavam-nas todas, que seriam obra de quarenta ou cinqüenta. E isto acabado -- era já bem uma hora depois do meio dia -- viemos às naus a comer, onde o Capitão trouxe consigo aquele mesmo que fez aos outros aquele gesto para o altar e para o céu, (e um seu irmão com ele). A aquele fez muita honra e deu-lhe uma camisa mourisca; e ao outro uma camisa destoutras.
E segundo o que a mim e a todos pareceu, esta gente, não lhes falece outra coisa para ser toda cristã, do que entenderem-nos, porque assim tomavam aquilo que nos viam fazer como nós mesmos; por onde pareceu a todos que nenhuma idolatria nem adoração têm. E bem creio que, se Vossa Alteza aqui mandar quem entre eles mais devagar ande, que todos serão tornados e convertidos ao desejo de Vossa Alteza. E por isso, se alguém vier, não deixe logo de vir clérigo para os batizar; porque já então terão mais conhecimentos de nossa fé, pelos dois degredados que aqui entre eles ficam, os quais hoje também comungaram.
Entre todos estes que hoje vieram não veio mais que uma mulher, moça, a qual esteve sempre à missa, à qual deram um pano com que se cobrisse; e puseram-lho em volta dela. Todavia, ao sentar-se, não se lembrava de o estender muito para se cobrir. Assim, Senhor, a inocência desta gente é tal que a de Adão não seria maior -- com respeito ao pudor. Ora veja Vossa Alteza quem em tal inocência vive se se convertera, ou não, se lhe ensinarem o que pertence à sua salvação.
Acabado isto, fomos perante eles beijar a cruz. E despedimo-nos e fomos comer." (Carta de Pero Vaz de Caminha)
Fica assim, desfeito o engano. A primeira missa no Brasil foi celebrada em um Domingo, dia 26 de abril, na ilhota da Coroa Vermelha. O que Victor Meirelles representou em seu quadro de 1860 é a primeira Missa celebrada em terras continentais do Brasil, na sexta-feira, 1º de maio de 1500. Nada disso, contudo, anula a memória deste dia, em que comemoramos a primeira Missa celebrada em terras brasileiras, onde por singular graça e sagrado privilégio, nossa Pátria nasceu sendo oferecida a Deus junto com o Santo Sacrifício de Seu Filho e Senhor Nosso, Jesus Cristo.
Brasil: Terra de Santa Cruz!

SAIBA MAIS:
KUHNEN, Alceu. As Origens da Igreja no Brasil: 1500 a 1552.Bauru, EDUSC, 2005.

Por que a música católica está uma bagunça?

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Publicado originalmente em 9 de Dezembro de 2011 no Chant Café, este é mais um ótimo texto do Jeffrey Tucker.

Em alguns trechos (poucos), Tucker fala de situações que fazem mais sentido nos Estados Unidos (como o cartel de editoras que acabam controlando o repertório litúrgico); entretanto, o texto quase inteiro é uma descrição excelente da atual situação da música litúrgica na Igreja Católica, tanto no Brasil, como nos Estados Unidos e na maioria dos outros países onde vivem católicos.

Para o leitor ter uma ideia, o artigo obteve, em pouco tempo, lá no Chant Café, 72 comentários...

O leitor pode ler o texto original neste endereço: Why is Catholic music such a mess?

As notas do tradutor aparecem em vermelho, entre colchetes.

*

Esta pergunta me é feita com tanta frequência que justifica um artigo. Um homem católico, tentando firmar-se mais na sua Fé, mas que não assiste à Missa regularmente, decide que é hora de tentar de novo. Ele vai a uma paróquia perto da sua casa. A procissão de entrada lhe diz: não mudou nada desde a última vez. Ele range os dentes o tempo todo. Na hora da Comunhão, já está enlouquecendo. No canto final, já enlouqueceu. Ele vai para o estacionamento xingando mentalmente, irritado, lembrando-se de por que não vai à igreja com freqüência. 
O problema é a música. É música pop mal tocada por pessoas que, no entanto, parecem se orgulhar da sua performance. Durante toda a Missa, o homem se pergunta: como é que pode acontecer que a mais bela liturgia, produto de dois mil anos de tradição, seja reduzida a isso? E, mais importante que isso, não há nada que se possa fazer a esse respeito? 
Recebo telefonemas e e-mails com histórias parecidas com esta, e já faz anos. O forte contraste entre a realidade e o que eles lembram de como é a Missa, ou imaginam como possa ser, é demais para se tolerar. 
Vejo meu trabalho aqui uma tentativa de acalmar as pessoas e lhes mostrar que a origem do problema não é, como pensam, a princípio, metafisicamente maliciosa. Não precisamos de um expurgo, mesmo que seja uma ideia tentadora. A solução também não é um salto para um futuro autoritário no qual um bispo ou o Papa imponham um certo repertório e lancem fora todo mundo que não o siga, por mais satisfatória que seja tal fantasia. 
Há várias razões principais pelas quais este problema persiste, e essas razões se relacionam entre si de maneira complexa. Esclareçamos primeiro que os próprios músicos experimentam certo desconforto em relação ao que fazem. Eles não têm certeza absoluta de que estão realmente contribuindo com a liturgia. Sentem uma espécie de desconexão com o que está acontecendo no altar. Não têm clareza quanto à propriedade da música que estão fazendo. Porém, são voluntários (isto é, não são pagos), conscientes de que ninguém parece ter objeções, e recebem elogios de tempos em tempos. Então, assim eles raciocinam, eles podem muito bem continuar a fazer o que fazem, isto é: aparecer meia hora antes da Missa e escolher hinos e fazer o que já sabem como se faz. [O que Tucker chama de "hinos" não são os hinos litúrgicos que fazem parte do Ofício, mas a música não-litúrgica que acaba entrando na Missa, sejam relativamente sóbrios como os de antes, sejam as canções pop de hoje] Eles não veem o cenário mais amplo. Eles não imaginam aquilo que não sabem fazer e compreender musicamente. 
A questão número um, no meu ponto de vista formado ao longo de uma década de estudo, é que os próprios músicos não conhecem o assunto. A maioria das pessoas que estão fazendo música na Igreja Católica não possuía nem mesmo uma compreensão rudimentar das exigências musicais do Rito Romano. Elas não sabem quais as partes da Missa que constituem o Ordinário. Elas não sabem que o Próprio da Missa existe. Elas não têm ideia de como a música se relaciona à palavra ou ao calendário (além de Natal e Páscoa). Elas não sabem o que é obrigatório, o que é opcional, o que é escolha da Igreja, o que é escolha da editora de música, o que é da tradição, nem como diferenciar a música litúrgica genuína da música não-litúrgica. 
E é porque isto nunca lhes foi explicado. Uma razão para nunca terem aprendido isto é que muito poucas pessoas realmente têm essa compreensão. Você pode participar de dez convenções nacionais [ou certos cursos], ler dez livros, assinar todas as publicações sobre liturgia, ler sites o dia inteiro, falar com o seu pároco e predecessores, e mesmo assim nunca descobrir estes pontos básicos da liturgia católica e suas exigências musicais. Sim, você vai se deparar com slogans e com o conhecimento de que “o povo” tem que participar, mas não participa (é sempre mais fácil focar no pecado dos outros), mas só.
A informação essencial quanto ao papel da música é desconhecida, e este problema não é sério apenas na raiz; chega também no topo. De novo, não é a malícia que evita a difusão desse conhecimento; é que existe tanta informação que se perdeu nestas décadas confusas que existe muito pouca gente que realmente entende. 
O segundo problema é que os recursos para uma verdadeira contribuição musical com a liturgia estão faltando há algumas décadas. O livro de música do Rito Romano, o Gradual Romano, é desconhecido de 98% dos músicos da Igreja Católica. Eles nunca viram um exemplar, nem sequer ouviram falar dele, embora seja mencionado tanto no Missal quanto na Instrução do Missal (IGMR). Mesmo na improvável possibilidade de que tenham visto o livro, eles não sabem ler nem a língua (latim) nem a notação (pauta de quatro linhas). Eles não sabem que há versões em inglês disponíveis. [Lembrando que o autor do texto é americano. Da nossa parte, precisamos de música litúrgica em português. O Salvem a Liturgia tem trabalhado nisto, e certamente existem trabalhos feitos nos países de língua portuguesa que merecem e precisam ser difundidos] Se eles soubessem que há, não saberiam como obter. 
Historiadores que examinaram este problema de perto notam que tudo isso começou na década de 1960 como uma extensão do problema que já existia antes do Concílio Vaticano II. Numa cultura de Missas Baixas, era comum substituir o Próprio cantado por hinos e o Próprio recitado. [Missa Baixa é o nome dado à Missa apenas rezada, não cantada, na Forma Extraordinária do Rito Romano. Às vezes imaginamos o passado como um paraíso de Missas Altas com canto gregoriano e polifonia o tempo todo, todo Domingo. Nem sempre era o caso; onde não houvesse tais recursos artísticos, humanos e materiais, a Missa Baixa era a regra, por força das circunstâncias. Isto é o que o autor chama de "cultura de Missas Baixas"] Quando o estilo dos hinos, nos anos 60, mudou de pesadão para modernete, o Próprio da Missa ficou de lado. Por isto é que foi nos anos 60 que começaram a aparecer os sinais daquilo que muitos veem como uma corrupção. A música pop começou a dominar, primeiro como canções que substituíam o Próprio. Só mais tarde tornou-se comum a substituição dos cantos do Ordinário da Missa por outros que combinavam com o estilo das novas canções. No começo da década de 1970, a limp­­­eza tinha sido geral. Toda a música da Missa tinha uma cara completamente nova. Quando o Gradual Romano da Forma Ordinária foi publicado em 1974, a questão já tinha sido resolvida e o livro foi largamente ignorado. 
Há outros problemas, claro. Fala-se sobre o problema do cartel de editoras. Mas, como sempre lembro às pessoas, o jeito de lidar com este problema é simplesmente uma questão de mudar o mercado. Você tem que mudar as preferências de compra dos consumidores. É muito simples. Você pode fazer isto sem legislação, batidas policiais, intimidação ou beligerância. É apenas uma questão de oferta e demanda. Nos mercados, produtos vêm e vão. Se você não gosta daquilo que vende, apoie outra coisa. 
E quanto a legislação e decretos? Declarações vindas do alto? Imposições da autoridade? Não considero nada disto como parte de soluções reais. Continuará a haver declarações, assim como tem havido já faz décadas. Elas não são tão importantes quanto a verdadeira mudança de corações por meio de experiências reais. Por isto é que colóquios educacionais e conferências são tão importantes. E é por isso que o Parish Book of Chant [Livro Paroquial de Canto] e os Simple English Propers [Próprios Simples em Inglês] são também tão importantes. [Esses dois livros são publicações recentes que contêm música litúrgica autêntica para uso nos Estados Unidos, de fácil obtenção, preço baixo e, muito importante: permanentes] Nós precisamos dos recursos. E precisamos de dinheiro para financiar a produção desses livros e conferências – e doadores generosos (benditos sejam!) são poucos. 
Isto é meu esboço do mundo que herdamos e de como devemos trabalhar para mudá-lo. Existe uma solução para o problema e ela pode acontecer rápido. Não precisamos de décadas. Mas precisamos de paixão, trabalho, ajuda financeira e oração.
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