A Irmã Ione Buyst, OSB, é definida no site da
Editora Paulinas[1] como atuante “
na formação litúrgica, tanto no campo acadêmico como no campo pastoral e popular”, “
professora universitária, assessora treinamentos, encontros e cursos de teologia e pastoral litúrgicas a pedido de institutos de teologia, dioceses e regiões pastorais, congregações religiosas, movimentos intereclesiais de comunidades de base”, com “
vários livros e artigos publicados, tanto na área acadêmica quanto na pastoral”, além de ser fundadora de algumas “redes de animação litúrgica” e criadora de uma tal técnica de formação litúrgica chamada “
Laboratório Litúrgico”.
Segundo um outro site, o portal “
LPA – Liturgia por Amor”
[2], este tal
Laboratório Litúrgico “
constitui-se numa técnica que assumia elementos de duas fontes básicas: a pedagogia religiosa de Hélène Lubienska de Lenval e os métodos psicodramáticos de Jacob Levy Moreno. Aos poucos, ao longo do tempo, com o uso da técnica, o Laboratório Litúrgico foi exigindo um trabalho de sistematização que esclarece a influência de cada uma das fontes. Buscou um caminho novo para a aprendizagem na liturgia”; no mesmo portal diz-se que “
foram buscar a inspiração [para o Laboratório Litúrgico]
no teatro, no qual os atores, muito antes de entrarem no palco, exercitam o corpo, a fala, a expressão; incorporam e criam personagens em uma série de exercícios e trabalhos, chamados ‘Laboratórios’. Foi-se aprendendo também, ao longo dos anos, com técnicas corporais e de meditação de várias correntes terapêuticas, filosóficas e espirituais”. Isto quer dizer precisamente que, na técnica do
Laboratório Litúrgico – da qual a Ir. Ione Buyst é uma das criadoras – a liturgia se degenera num espetáculo de teatro, com “métodos psicodramáticos”, onde a igreja é um “palco” para “exercitar-se o corpo, a fala e a expressão”, “incorporar e criar personagens”. Ou seja, a Liturgia deixa de ser o culto de Deus, Nosso Senhor, para ser um espetáculo teatral meramente humano. Mais que isso, no tal
Laboratório Litúrgico, a Liturgia é utilizada para desenvolver-se nas “técnicas corporais e de meditação de várias correntes terapêuticas, filosóficas e espirituais”; isto é, não se trata mais de um culto de adoração a Deus, de pedido de perdão, de ação de graças e impetração, mas um conjunto de “técnicas de meditação”, que nem precisam ser necessariamente católicas – apesar de que
“a lei da Fé é a lei da oração” – mas podem vir de “diversas correntes terapêuticas, filosóficas e espirituais” – até pagãs, talvez. Imagine-se o que diria o Profeta Ezequial ao contemplar um
Laboratório Litúrgico transformando o culto a Deus numa reunião de auto-ajuda baseado em técnicas de meditação de “várias correntes terapêuticas, filosóficas e espirituais”? Talvez sua reação fosse a mesma de quando o Senhor lhe revelou a idolatria que obscuramente era praticada pelos chefes dos anciãos no interior de Templo, idolatria que o Senhor chamou de “
abominações graves” e “
ritos abomináveis” (cf. Ezequiel 8,1-18); que diria destas “várias correntes terapêuticas, filosóficas e espirituais” que são exaltadas na técnica do
Laboratório Litúrgico?
Ora, a Ir. Ione Buyst foi uma das criadoras desta técnica estranha e mais propriamente “anti-litúrgica” do que “litúrgica”. Mais a Ir. Ione Buyst cria mais do que exóticas técnicas litúrgicas: cria também exóticas “doutrinas litúrgicas”, distantes do ensinamento da Igreja ao longo destes dois milênios de Magistério e que poderíamos classificar com certeza maior como heresias litúrgicas. Apesar disso, as obras da Ir. Ione Buyst são utilizadas em muitos seminários para formação dos futuros padres. Muitas Missas podem estar sendo inválidas porque os sacerdotes que as celebram não crêem na presença real de Cristo na Eucaristia e no sacerdócio ministerial e assim não têm a intenção da Igreja na celebração dos mais altos mistérios, graças às doutrinas esquisitas da Ir. Ione Buyst que lhes foram ensinadas nos Seminários. E que prejuízo isto deverá estar causando à Igreja Católica do Brasil e à vida espiritual do povo católico, que sem os Sacramentos é árido como um deserto!
Este é o segundo de uma série de artigos cujo objetivo será refutar as estranhas e não-católicas doutrinas [anti-]litúrgicas da Ir. Ione Buyst. Mais que isso: doutrinas particulares, criadas pela mente fértil de uma religiosa desejosa de renegar dois milênios de Magistério da Santa Madre Igreja para criar o seu próprio “magistério”.
Após refutarmos a exótica
Doutrina da Confusão dos Sacerdócios[3], impugnaremos agora a sua
Nova Teologia da Missa ou
Teologia da Missa que não é Santa. Refutaremos esta sua outra esquisita doutrina novamente a partir da obra, “
A Missa - Memória de Jesus no Coração da Vida”(São Paulo: Paulinas, 2004), de autoria da referida “liturgista”.
1. A teologia buystiana da Missa ou “Teologia da Santa Missa que não é Santa”
A Ir. Ione Buyst, novamente mostrando total descaso da Doutrina da Santa Madre Igreja tal como nos foi revelada por Nosso Senhor Jesus Cristo e ensinada pelos Apóstolos e seus Sucessores, teve a audácia de criar uma “nova teologia” da Missa.
Quais as linhas desta “teologia buystiana” da Missa?
São palavras da Ir. Ione Buyst; ressaltamos alguns trechos, por serem especialmente escandalosos:
“A narrativa da instituição (mais conhecida como “consagração”) não deveria aparecer como um ‘corte’ do resto da oração eucarística. A mudança do tom de voz, a maneira pausada do dizer o terço (enquanto as outras partes da oração eucarística são ditas de forma corrida), as incensações, as genuflexões do padre e o ficar ajoelhado do povo, a elevação (que não está prevista no missal, mas muitos inadvertidamente continuam fazendo) etc: tudo isso acaba chamando uma atenção exagerada sobre esse momento da celebração. Na verdade, estamos diante de ‘linhas cruzadas’ de vários enfoques teológicos.
Da teologia medieval herdamos a insistência na presença real de Jesus na hóstia consagrada. Era uma época em que o padre ficava de costas para o povo, fazia a oração eucaristia em latim e em silêncio. O povo já não comungava há muitos séculos, a não ser uma vez por ano, na época da Páscoa. Daí a necessidade de se tocar a campainha para avisar o momento da chamada consagração. Daí também a importância de ‘ver a hóstia’, ‘ver o Corpo de Cristo’ (só se insistia na hóstia porque o vinho, o sangue de Jesus, não poder ser ‘visto’ por causa do cálice). E para que o povo pudesse ver, o padre tinha que levantar a hóstia bem alto, acima da cabeça dele, já que estava de costas. Os acólitos incensavam; quando exageravam na fumaça, o povo reclamava que não estava conseguindo ver a hóstia. O povo adorava o pão consagrado, já que não podia comê-lo. Fazia orações devocionais, do tipo ‘Meu Senhor e meu Deus...’ e cultivava uma espiritualidade baseada nessa presença real de Jesus na hóstia. A eucaristia acabou sendo entendida como uma ‘coisa’ sagrada, algo para se ver e adorar. Só mais tarde, no início do século XX, o povo foi de novo convidado a comungar, frequentemente até; porém, não no momento da comunhão do padre, mas depois da missa ou num outro momento do dia.
O Concílio Vaticano II quis reatar com a teologia dos primeiros séculos, e reencontrou a dimensão pascal da eucaristia. Diz que o Cristo Ressuscitado está realmente presente em todos os momento da missa (e não somente na chamada “consagração”). Recoloca a oração eucarística como sendo toda ela de ação de graças, oblação, consagração... e manda proclamá-la em voz alta e na língua do povo. Diz que não há missa sem comunhão eucarística. Insiste em que todo o povo coma e beba do pão e do vinho, como participação na morte-ressurreição do Senhor. Não se pode ficar só olhando e adorando a hóstia. A eucaristia volta a ser entendida como ação, para se fazer o que Jesus fez: dar graças, partir e repartir, comer e beber.
Essas duas linhas teológicas misturam-se dentro da missa e complicam nossa maneira de celebrar o momento da narrativa da instituição. A primeira nos manda ajoelhar, olhar para a hóstia, abaixar a cabeça, adorar em silencio, prestar atenção toda especial a esse momento da celebração. Requer uma profunda devoção individual. A segunda nos ensina a ficar em pé (sinal de ressurreição) de preferência ao redor da mesa, olhar para a mesa onde estão o pão e o vinho, ouvir atentamente e acolher as palavras Jesus na última ceia (que o presidente lembra, falando com o Pai), aclamar juntos (cantando “Anunciamos, Senhor, a vossa morte...”) e continuar prestando a mesma atenção às partes seguintes, que são tão importante quanto a narrativa da instituição. Requer uma participação comunitária, ativa e consciente, de todo o povo sacerdotal, na ação eucarística, pascal, feito por Cristo Ressuscitado.
Na prática, é difícil romper com séculos de devocionismo eucarístico e suas expressões características da missa. Quem sabe possamos aprofundar a nova teologia da eucaristia em pequenos grupos e comunidade, e aí encontrar uma maneira diferente de celebrar?” (p. 120-122)
Por fim, como corolário de seu desfile de heresias, larga a Ir. Ione Buyst:
“Não é a missa em si um sacrifício, mas é sacramento do sacrifício de Jesus, memória da entrega total de Jesus ao Pai.” (p. 124)
Construiu, assim, a Ir. Ione Buyst uma verdadeira “Teologia da Santa Missa que não é Santa”. De fato, seus princípios e seus argumentos levam à conclusão imediata de que a Santa Missa é apenas uma prática ritualística sem nenhum valor, um apetrecho cultural apenas, ou – como ela própria conclui – que a Missa não é um sacrifício, a renovação do Sacrifício que se deu uma vez por todas no Calvário.
2. Refutação da “Teologia da Santa Missa que não é Santa”
2.1. Mentalidade revolucionária e reescritura da história
“‘Mentalidade revolucionária’ é o estado de espírito, permanente ou transitório, no qual um indivíduo ou grupo se crê habilitado a remoldar o conjunto da sociedade – senão a natureza humana em geral – por meio da ação política; e acredita que, como agente ou portador de um futuro melhor, está acima de todo julgamento pela humanidade presente ou passada, só tendo satisfações a prestar ao “tribunal da História”. Mas o tribunal da História é, por definição, a própria sociedade futura que esse indivíduo ou grupo diz representar no presente; e, como essa sociedade não pode testemunhar ou julgar senão através desse seu mesmo representante, é claro que este se torna assim não apenas o único juiz soberano de seus próprios atos, mas o juiz de toda a humanidade, passada, presente ou futura. Habilitado a acusar e condenar todas as leis, instituições, crenças, valores, costumes, ações e obras de todas as épocas sem poder ser por sua vez julgado por nenhuma delas, ele está tão acima da humanidade histórica que não é inexato chamá-lo de Super-Homem.” (
http://www.olavodecarvalho.org/semana/070813dc.html)
São palavras do filósofo Olavo de Carvalho, sobre o que se passa na mente deste ser dos tempos modernos, o revolucionário.
O revolucionário é, principalmente, alguém que não se contenta com o mundo tal como ele é, com as coisas tão como elas foram criadas por Deus. Orgulhosamente, ele crê possuir uma idéia melhor de como o mundo deveria ser: esse modo como Deus o fez é muito simples, ou muito feio, ou muito errado; é a ideologia do revolucionário, é o seu projeto de mundo, que vai criar um homem novo e uma nova terra, melhor do que o que existe.
Assim, diz um outro grande estudioso deste movimento chamado Revolução, o teólogo argentino Pe. Julio Meinvielle, “não há propriamente uma verdade revolucionária, mas apenas uma coisa que quer ser transformação do mundo, com o homem em perpétuo movimento. O homem não é, o homem se faz; o mundo não é, o mundo se cria”.
A Revolução, portanto, e aqueles cuja forma de pensar esta a seu serviço – os portadores da mentalidade revolucionária – dão o mesmo grito de rebelião de Lúcifer – “Sereis como deuses!” – e advogando soberbamente uma autoridade divina para si próprios, crêem possuir um melhor projeto de como o mundo e o homem deveriam ser, pois não se contentam com o que eles são. É uma substituição da filosofia do Ser – a filosofia de Deus, que se apresenta como “Eu Sou” – pela filosofia da evolução, do progressismo, da mudança ninguém sabe para o que ou para onde.
E, como o revolucionário não gosta das coisas como são, mas possui um projeto de como elas deveriam ser, ele procura sempre ridicularizar, caricaturar, caluniar, falsear a verdade das coisas, para então apresentar como eles acham que elas deveriam ser realmente – e, na verdade, só estão rebatendo a própria mentira, a próprio caricatura inventada, e não a realidade!
Assim, os revolucionários iluministas caricaturaram a Idade Média e a Igreja – chamando-lhas de “Idade das Trevas” e “Inimiga da Razão” – para, em contrário à própria mentira, justificarem o seu projeto de mundo, o seu liberalismo e igualitarismo – o liberalismo das guilhotinas e o igualitarismo das cabeças decepadas.
É, pois, essencial ao revolucionário a reescritura da história. É preciso pintar a realidade das coisas de cinza e preto para que o projeto revolucionário surja como o único que pode trazer um mundo de cores. E é preciso dizer que as coisas, tão como são realmente, são incompletas, antiquadas, frutos da ignorância e da selvageria, para que o revolucionário – esse ser tão superior, com seu projeto de mundo melhor – possa ter a carta-branca necessária para o que for preciso em prol da realização do seu admirável mundo novo. O que for preciso.
E onde entra estes nossos pequenos apontamentos sobre a mente revolucionária na questão da Ir. Ione Buyst?
Ora, a Ir. Ione Buyst é, nada mais, nada menos, que uma revolucionária, no sentido mais genuíno do termo: alguém que não se contenta com as coisas como ela são, que crê possuir um projeto melhor, uma idéia mais sensata de como elas deveriam ser, e assim – naquela superioridade revolucionária que não permite ser julgada por ninguém – admite ser possível passar por cima das leis santíssimas da Igreja em prol de sua ideologia litúrgica.
Porque, em verdade, a Ir. Ione Buyst não se contenta com a liturgia como ela é, não se contenta com o Sacramento da Santa Missa tal como Nosso Senhor Jesus Cristo o instituiu. A Missa não pode ser um sacrifício, a Missa não pode ser santa ou sacral: em seu admirável mundo novo, a Missa é uma reunião de homens de boa-vontade, um banquete de amigos em torno de um pão que só remotamente relembra aquele que um dia foi morto no Calvário, vítima da opressão dos ricos...
A Missa, para a Ir. Buyst, não deveria ser o que é – um sacrifício, uma celebração santíssima, a oração mais perfeita. Não! A Missa deveria seroutra coisa. Não se admite que ela seja o que seja – a filosofia do Ser deve ser substituída pela do dever-ser, da evolução, do progresso.
E, em sua busca da revolução litúrgica, a Ir. Ione Buyst cria um projeto do que seria esta “outra Missa”, deste “outro mundo” para um “outro homem”, criado pelos Teólogos da Libertação, amparados nas loucuras do arqui-revolucionário barbudo, Karl Marx.
Aliás, não bastava que se tivesse um projeto de uma outra Missa. Era preciso que essa que existe – a Santa Missa que é Santa, que é Sacrifício – fosse caricaturada, estereotipada sob feições horríveis, pintada com as tintas da opressão e da ignorância, para que da mentira sobre esta Missa existente se pudesse justificar a outra Missa, que se quer criar.
A Ir. Ione Buyst começa, então, a reescrever a história da liturgia: diz que é a teologia medieval que nos faz insistir em crer na presença real de Cristo na hóstia consagrada – porque, em seu admirável mundo novo, uma tal insistência só pode ser a insistência dos tolos! –; caricatura a celebração como uma coisa de alienadas, ridicularizando a devoção do povo a Nosso Senhor, ironizando a piedade dos sacerdotes na celebração do Sacrifício, zomba da posição do sacerdote, do incenso, da elevação da hóstia, faz troça de qualquer sinal externo de sacralidade na Liturgia e da adoração do Santíssimo Sacramento; diz que é por causa dessa alienação que a Eucaristia “acaba sendo entendida como uma ‘coisa’ sagrada” – porque, no admirável mundo novo buystiano, a eucaristia não deve ser sagrada: é apenas um pãozinho dividido entre amigos... A Ir. Ione Buyst cria, no segundo parágrafo do texto que trouxemos acima, toda uma fábula a respeito do que era a Missa; ironiza com o que este Santo Sacrifício é na realidade. Não se acanha de ironizar a piedade do povo e dos sacerdotes, que para ela é coisa sem valia. A crença na presença real de Cristo, por sua vez, é só fruto de mentes perturbadas.
Há uma reescritura da história, uma caricaturização da realidade, que revela a insatisfação da Ir. Ione Buyst com as coisas como ela são, com a Missa como ela é. Esta caricatura, esta imagem falseada da Santa Missa, é utilizada então como justificativa para seu projeto revolucionário da Missa: um mundo novo onde ninguém é padre, ninguém é leigo, a Eucaristia não é Cristo, não é Deus; todos são amigos num banquete em torno de um pãozinho a quem eles conferem um valor simbólico. Apenas simbólico.
O projeto revolucionário da Ir. Ione Buyst contraria flagrantemente a Verdade, tal como nos foi ensinada por Nosso Senhor Jesus Cristo e pela Igreja. Porque a Verdade é o que é, e não está sujeita a caprichos de mentes insatisfeitas que preferem viver nas fantasias de um mundo utópico...
2.2. Sobre a presença real de Cristo da Eucaristia e a Natureza Sacrifical da Missa
Da teologia medieval herdamos a insistência na presença real de Jesus na hóstia consagrada.[...] O povo adorava o pão consagrado, já que não podia comê-lo. Fazia orações devocionais, do tipo ‘Meu Senhor e meu Deus...’ e cultivava uma espiritualidade baseada nessa presença real de Jesus na hóstia. A eucaristia acabou sendo entendida como uma ‘coisa’ sagrada, algo para se ver e adorar (loc. cit.).
São palavras da Ir. Ione Buyst, já citadas acima.
E não há maneira melhor de defini-las: são escandalosas.
Com estas suas proposições, a Ir. Ione Buyst chegou ao nível dos piores heresiarcas protestantes: Lutero, Calvino e Zwinglio.
As palavras da Ir. Ione Buyst são uma negação cabal de tudo o que sempre foi acreditado, por todos e em todo lugar, sobre a Santa Missa. São escandalosamente contrárias ao que ensinou Nosso Senhor Jesus Cristo, os Papas, os Concílios Ecumênicos e os Santos.
A “nova teologia buystiana” da Missa se põe, assim, na antípoda da verdadeira Teologia da Missa. Não há outro modo de classificar esta “nova teologia buystiana” senão como herética e anti-católica.
De fato, não é uma insistência tola crer na Presença Real de Cristo na Eucaristia nem é um capricho medieval: este é o núcleo mesmo da Teologia Católica sobre a Missa e a Eucaristia, o núcleo mesmo da Fé neste Santíssimo Sacramento.
Lutero revoltou-se contra a crença na Presença Real e, contra a doutrina certa e católica sobre a transubstanciação do pão e vinho em Corpo e Sangue de Jesus Cristo, propunha um disparate que apelidava de con-substanciação: Cristo apenas estaria com o pão e o vinho naquele momento, porque o fiel achava que Ele estava lá; não havia Presença Real, não havia transubstanciação do pão e vinho na verdadeira Carne e no verdadeiro Sangue. Com isso, Lutero punha a fé na Eucaristia como coisa subjetiva: era o fiel que achava que Cristo estava com o pão, mas Cristo não era a hóstia realmente. É a própria tese protestante do primado da subjetividade, oriunda do orgulho humano de querer ser como Deus (Gênese III,5), que dá margem ao relativismo doutrinário e moral e ao esfacelamento do Protestantismo em milhares e milhares de doutrinas.
A Fé Católica, ao contrário, crê numa Verdade objetiva, que independe do que o sujeito acha ou deixa de achar: a Verdade é o que é, e o sujeito é que tem de conformar-se com as coisas como são. Assim, Cristo estárealmente presente na Eucaristia: é um fato, um dado objetivo – não subjetivo. Independe do que Lutero ou a Ir. Ione Buyst acham em seus vão pensamentos: a Eucaristia é Nosso Senhor Jesus Cristo e ponto final.
E esse é o próprio teor das palavras de Nosso Senhor na Última Ceia, quando da Instituição da Eucaristia. Cristo não disse: “Isto pode ser o meu Corpo” e “Isto pode ser o meu Sangue”, nem “Isto é apenas agora, mas não será mais tarde” ou “Isto é apenas símbolo do meu Corpo e do meu Sangue”. Não.
Cristo disse: “Isto é o meu Corpo”, “Isto é o meu Sangue” (Marcos XIV, 22-25). O verbo ser não dá margens para dúvidas: estabelece identidade entre aquilo que é dito e de quem é dito. Além disso, o verbo ser é de especial importância ao Senhor, pois é seu próprio Nome, ele que se apresente como: “Eu sou aquele que sou” (Êxodo III, 13-15). A Filosofia de Deus é a Filosofia do Ser: Ele próprio se chama EU SOU. Em oposição a Deus – que é o que é – e a esta Filosofia do Ser, está a filosofia do dever-ser, da evolução pura, a filosofia da Revolução.
Quando Cristo expressa a identidade do pão e do vinho que toma em suas santas e veneráveis mãos com a sua Carne e o seu Sangue, não dá margens para outras interpretações: não é um mero símbolo, mas há identidade plena entre a Eucaristia e o Corpo e Sangue de Cristo. “Isto é o meu Corpo”, “Isto é o meu Sangue”, diz aquele que se chama EU SOU.
Donde não se entende que a Ir. Ione Buyst – bebendo da fonte de Lutero – trate a presença real como uma insistência tola, fruto de uma antiquada teologia medieval – como se na Igreja as coisas se classificassem em antigas e novas, e não em verdadeiras e falsas.
Contra a Ir. Ione Buyst, diz o Catecismo da Igreja Católica:
O modo de presença de Cristo sob as espécies eucarísticas é único. Ele eleva a Eucaristia acima de todos os sacramentos e faz com que da seja “como que o coroamento da vida espiritual e o fim ao qual tendem todos os sacramentos”. No santíssimo sacramento da Eucaristia estão “contidos verdadeiramente, realmente e substancialmente o Corpo e o Sangue juntamente com a alma e a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo e, por conseguinte, o Cristo todo” . “Esta presença chama-se 'real' não por exclusão, como se as outras não fossem 'reais', mas por antonomásia, porque é substancial e porque por ela Cristo, Deus e homem, se toma presente completo (Cat., n. 1374).
E o Catecismo Romano é preciso em seu texto e na fulminação desta heresia que nega a Presença Real de Cristo na Eucaristia:
“São claras e inequívocas as palavras de Nosso Salvador, pelas quais Ele designa a presença real de Seu Corpo neste Sacramento. Quando, pois, Ele diz: "Isto é o Meu Corpo, este é o Meu Sangue" - nenhuma pessoa de bom-senso pode desconhecer o que tais palavras significam, tanto mais que se referem à natureza humana que era em Cristo uma realidade, conforme o que a fé católica a todos propõe como doutrina indubitável. Assim é que Santo Hilário, vario de muita virtude e prudência, teve a agudeza de observar que já não é possível duvidar da presença real do Corpo e Sangue de Cristo, desde que o próprio Senhor declarou, e a fé nos ensina, que Sua Carne é verdadeiramente comida” (Parte II, Cap. IV, §27).
O Catecismo Romano não se acanha de dizer que não têm bom senso – “a cabeça no lugar”, se diria correntemente no Brasil – aqueles que negam esta presença real após tomarem conhecimento da veemência das palavras de Cristo.
Diz ainda mais o Catecismo Romano:
“Neste Sacramento, se contém não só o verdadeiro Corpo de Cristo, e tudo o que constitui realmente o corpo humano, como os ossos e músculos, mas também Cristo todo inteiro. [...]Devemos crer que tudo está encerrado no Sacramento da Eucaristia: ambas as substâncias, e o que se deriva das duas substâncias, isto é, a Divindade e toda a natureza humana, que consta da alma, do corpo com todas as suas partes e até do sangue” (Parte II, Cap. IV, §31).
E o Concílio de Trento lança anátema:
Cân. l. Se alguém negar que no Santíssimo Sacramento da Eucaristia está contido verdadeira, real e substancialmente o corpo e sangue juntamente com a alma e divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, e por conseguinte o Cristo todo, e disser que somente está nele como sinal, figura ou virtude — seja excomungado.
Cân. 2. Se alguém disser que no sacrossanto sacramento da Eucaristia fica a substância do pão e do vinho juntamente com o corpo e o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo; e negar aquela admirável e singular conversão de toda a substância de pão no corpo, e de toda a substância do vinho no sangue, ficando apenas as espécies de pão e de vinho, que a Igreja com suma propriedade (aptissime) chama de transubstanciação — seja excomungado.
Cân. 3. Se alguém negar que no venerável sacramento da Eucaristia, debaixo de cada uma das espécies e debaixo de cada parte dessas espécies, quando elas se dividem, está presente o Cristo todo — seja excomungado.
Cân. 4. Se alguém disser que no admirável sacramento da Eucaristia, depois da consagração, não estão o corpo e o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas somente no uso, quando se recebe, e não antes nem depois; e que nas hóstias ou partículas consagradas, que se guardam ou sobram depois da comunhão, não permanece o verdadeiro corpo do Senhor — seja excomungado (Dz., nn. 883-886).
Ora, a Ir. Ione Buyst, negando a Presença Real de Cristo na Eucaristia, incorreu em todos estes anátemas. A doutrina da Ir. Ione Buyst – tão escandalosa doutrina – não é uma doutrina católica, mas uma doutrinaprofundamente herética e anti-católica, que bebe da fonte do Protestantismo.
2.3. A Natureza Sacrifical da Missa
Por negar a Presença Real de Cristo na Eucaristia, a Ir. Ione Buyst nega também a Natureza Sacrifical da Santa Missa:
Não é a missa em si um sacrifício, mas é sacramento do sacrifício de Jesus, memória da entrega total de Jesus ao Pai (loc. cit).
Não é de se espantar, pois um erro puxa o outro: negada a Presença de Cristo na Eucaristia, decorre necessariamente que a celebração eucarística, a Santa Missa, não seja nada mais que uma reunião de amigos, um banquete em torno de um pãozinho, não um Sacrifício.
E com estas suas palavras a Ir. Ione Buyst cai novamente em perniciosa heresia, pois o Concílio de Trento fulminou esta sua doutrina com o anátema:
Cân. 1. Se alguém disser que na Missa não se oferece a Deus verdadeiro e próprio sacrifício, ou que oferecer-se Cristo não é mais que dar-se-nos em alimento — seja excomungado (Dz., n. 948).
O Concílio de Trento lança a excomunhão exatamente em quem diga, como a Ir. Ione Buyst, que a Missa não é em si verdadeiro e próprio Sacrifício.
E isto resulta claríssimo do Evangelho, de modo que a Ir. Ione Buyst, para dizer que a Missa não é em si um sacrifício, só o pode fazer pela ignorância completa dos dizeres de Nosso Senhor. Com efeito, Cristo falou: “Isto é o meu Sangue, o Sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados” (Mateus XXVI, 28). Ora, Nosso Senhor tornou presente na Última Ceia o sacrifício uma vez por todas consumado no Calvário. Na primeira Missa celebrada, naquela Ceia, quando instituiu a Eucaristia, tornou presente já ali o Sacrifício do Calvário: “Isto é o meu Sangue derramado”. Não há dúvidas que Cristo fez da Missa exatamente o mesmo Sacrifício do Calvário: na Última Ceia ele antecipou aquele Sacrifício e hoje a Igreja renova aquele mesmo Sacrifício. Donde, diz o Concílio de Trento,“neste divino sacrifício, que se realiza na Missa, se encerra e é sacrificado incruentamente aquele mesmo Cristo que uma só vez cruentamente no altar da cruz se ofereceu a si mesmo [...]. Pois uma e mesma é a vítima: e aquele que agora oferece pelo ministério dos sacerdotes é o mesmo que, outrora, se ofereceu na Cruz, divergindo, apenas, o modo de oferecer” (Dz, n. 940).
A Missa é, portanto, em si um verdadeiro Sacrifício, pois assim quis Nosso Senhor ao celebrá-la de forma a tornar presente, naquela celebração, o seu próprio Sacrifício no Calvário: entregou seu próprio Corpo e derramou seu próprio Sangue; já não pão e vinho, mas verdadeira Carne e verdadeiro Sangue.
Negar a Natureza Sacrifical da Missa é um crime contra este Augustíssimo Sacramento e contra as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, Ele que não pode mentir porque é a própria Verdade (João XIV, 6).
E quando Cristo diz: “Fazei isto em memória de mim”, não está falando que a Missa não seja um Sacrifício, mas apenas um sinal de uma coisa passada, como conclui a Ir. Ione Buyst. A palavra anamnese ou memorial significa, no grego, atualização, tornar presente. E vimos que Nosso Senhor fez exatamente isso: tornou presente o seu Sacrifício. Portanto, diz o Catecismo da Igreja Católica,“no sentido da Sagrada Escritura, o memorial não é somente a lembrança dos acontecimentos dos passado, mas a proclamação das maravilhas que Deus realizou por todos os homens. A celebração litúrgica desses acontecimentos torna-os de certo modo presentes e atuais. [...] O memorial recebe um sentido novo no Novo Testamento. Quando a Igreja celebra a Eucaristia, rememora a páscoa de Cristo e esta se torna presente: o sacrifício que Cristo ofereceu uma vez por todas na Cruz torna-se sempre atual” (Cat., nn.1363-1364).
São flagrantemente destoantes da Doutrina da Igreja as palavras da Ir. Ione Buyst, que são, isto sim, do mais puro luteranismo.
2.4. A Natureza Sacrifical da Missa, reafirmada pelo Vaticano II
Não bastasse negar a Presença Real de Cristo da Eucaristia e a Natureza Sacrifical da Missa, cometendo aí duas heresias gravíssimas, a Ir. Ione Buyst ainda vai buscar respaldo para sua “nova teologia da Missa que não é Santa” no... Concílio Vaticano II, um legítimo Concílio da Santa Igreja! Ora, nem é preciso dizer que ela não cita o texto do Concílio: se o citasse, encontraria lá exatamente o oposto daquilo que ela afirma.
Diz a Ir. Ione Buyst, mentirosamente atribuindo suas idéias ao Concílio:
O Concílio Vaticano II quis reatar com a teologia dos primeiros séculos, e reencontrou a dimensão pascal da eucaristia. Diz que o Cristo Ressuscitado está realmente presente em todos os momentos da missa (e não somente na chamada “consagração”). Recoloca a oração eucarística como sendo toda ela de ação de graças, oblação, consagração... e manda proclamá-la em voz alta e na língua do povo. Diz que não há missa sem comunhão eucarística. Insiste em que todo o povo coma e beba do pão e do vinho, como participação na morte-ressurreição do Senhor. Não se pode ficar só olhando e adorando a hóstia. A eucaristia volta a ser entendida como ação, para se fazer o que Jesus fez: dar graças, partir e repartir, comer e beber.
Ora, se “reencontrar a dimensão pascal da Eucaristia” for negar a Natureza Sacrifical da Missa e a Presença Real de Cristo neste Santíssimo Sacramento, então, de fato, o Vaticano II não fez isso!
Em verdade, sobre a Natureza Sacrifical da Missa o Vaticano II diz coisa completamente diversa do que fala a Ir. Ione Buyst: reafirma que a Missa é um Sacrifício, renovação daquele consumado na Cruz.
[É] especialmente no sacrifício eucarístico, «se opera o fruto da nossa Redenção» (Const. Liturg. Sacrosanctum Concilium, n.2).
O nosso Salvador instituiu na última Ceia, na noite em que foi entregue, o Sacrifício eucarístico do seu Corpo e do seu Sangue para perpetuar pelo decorrer dos séculos, até Ele voltar, o Sacrifício da cruz, confiando à Igreja, sua esposa amada, o memorial da sua morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal em que se recebe Cristo, a alma se enche de graça e nos é concedido o penhor da glória futura (idem, n.47).
E sobre a Presença Real de Cristo na Eucaristia, igualmente reafirma a doutrina de sempre da Igreja:
Para realizar tão grande obra, Cristo está sempre presente na sua igreja, especialmente nas acções litúrgicas. Está presente no sacrifício da Missa, quer na pessoa do ministro - «O que se oferece agora pelo ministério sacerdotal é o mesmo que se ofereceu na Cruz» - quer e sobretudo sob as espécies eucarísticas (idem, n.7).
Vê-se, pois, que não há respaldo para a Ir. Ione Buyst no Concílio Vaticano II; há, isto sim, o exato contrário das heresias luteranas que ela assume.
A Eucaristia não deixa de ser entendida de um jeito para ser entendida de outro. Ao contrário, o Vaticano II reafirma a doutrina de sempre sobre a Missa, exatamente a doutrina que a Ir. Ione Buyst renega como “obsoleta”, “teologia medieval”.
Ademais, não sabemos se a Ir. Ione Buyst entende o real significado de suas palavras ou se apenas as lança ao acaso. Porque a Páscoa sempre foi um sacrifício: para os judeus era o sacrifício do cordeiro e, para os cristãos, o Sacrifício de Cristo, Cordeiro Imolado. Assim, “redescobrir a dimensão pascal da Eucaristia” é – nada mais, nada menos – que afirmá-la um Sacrifício, porque isso é a Páscoa!
Quem não descobriu a dimensão pascal da Eucaristia – sua dimensãosacrifical – foi, isto sim, a Ir. Ione Buyst...
Sobre os outros absurdos que, neste mesmo trecho, a Ir. Ione Buyst atribui ao Vaticano II, resta-nos fazer alguns comentários pontuais que já fulminam de vez seus erros.
Ora, afirma Ione Buyst que “[o Concílio] diz que o Cristo Ressuscitado está realmente presente em todos os momentos da missa (e não somente na chamada ‘consagração’)”. Além de que não há nada no texto daConstituição Litúrgica Sacrosanctum Concilium que indique uma presença real de Cristo em todos os momentos da Missa, vimos já que o Concílio reafirmou a Presença Real de Nosso Senhor na Eucaristia e, portanto, por conseqüência lógica, reafirma a grandeza do momento da Consagração, no qual pão e vinho se tornam verdadeira Carne e verdadeiro Sangue do Redentor. A Ir. Ione Buyst quer atribuir a todas as partes da Missa a mesma importância por dois motivos: 1) porque nega a Presença Real e, portanto, não entende a grandeza do momento da Consagração, tanto que quer diminuí-lo e trata-o com desdém; 2) porque, como Lutero, entende a Missa não como um Sacrifício, mas como uma reunião de amigos, primordialmente para instrução do povo por um professor (o “pastor”), de tal forma que a Liturgia da Palavra (ou Ante-Missa, na forma extraordinária) teria a mesma importância da Liturgia Eucarística (ou Missa propriamente dita, na forma extraordinária).
Obviamente, quem negue a Presença Real de Cristo na Eucaristia nunca poderá entender a grandeza, a magnificência e a beleza do momento da Consagração – quando Cristo se faz presente e o Sacrifício do Calvário se renova – e vai achar que tudo na Missa é a mesma coisa.
Sobre a Oração Eucarística em si, afirma a Ir. Ione Buyst que “[o Concílio]manda proclamá-la em voz alta e na língua do povo”, revelando um desconhecimento cabal do texto conciliar, dado que o Concílio ordenou exatamente o contrário. In verbis:
Deve conservar-se o uso do latim nos ritos latinos, salvo o direito particular (Const. Liturg. Sacrosanctum Concilium, n. 36, § 1º).
Tratou a língua vernácula apenas como uma exceção ou algo a que se pudesse dar “lugar mais amplo” e ainda assim somente “nas leituras e admonições, em algumas orações e cantos” (idem, n. 36, §2º). Manteve incólume o latim, ordenando ainda que fossem tomadas “providências para que os fiéis possam rezar ou cantar, mesmo em latim, as partes do Ordinário da missa que lhes competem” (idem, n.54).
Ademais, alega a Ir. Ione Buyst que “[o Concílio] diz que não há missa sem comunhão eucarística. Insiste em que todo o povo coma e beba do pão e do vinho, como participação na morte-ressurreição do Senhor. Não se pode ficar só olhando e adorando a hóstia”. Antes mesmo ela dissera: “O povo adorava o pão consagrado, já que não podia comê-lo.[...] Só mais tarde, no início do século XX, o povo foi de novo convidado a comungar, freqüentemente até; porém, não no momento da comunhão do padre, mas depois da missa ou num outro momento do dia”.
São muitos os erros nestes trechos.
Ora, de fato o Concílio recomendou a comunhão freqüente dos fiéis, masnunca – nunca! – o Concílio afirmou que se os fiéis não comungassem a Missa seria inválida, não teria havido Missa verdadeira.
A Ir. Ione Buyst desconhece a Doutrina Católica que afirma que, para a Missa ser válida, basta a comunhão do sacerdote; o Concílio de Trento reafirmou essa verdade exatamente contra Lutero, que afirmava o contrário – o que é mais uma prova de que a Ir. Ione Buyst caminha nas pegadas do heresiarca protestante, e não da Santa Igreja. Inclusive, recomendar a comunhão eucarística a todos não é particularidade do Vaticano II – nem é coisa só dos tempos modernos, do “início do século XX” –, porque já o Concílio de Trento o fizera. Veja-se:
Desejaria o sacrossanto Concílio que os circunstantes que assistem a cada uma das Missas comungassem, não só espiritualmente, mas também com a recepção sacramental da Eucaristia, a fim de participarem mais abundantemente dos frutos deste santíssimo sacrifício.Contudo, se tal nem sempre se dá, nem por isso condena como privadas e ilícitas aquelas Missas em que somente o sacerdote comunga sacramentalmente, pois na verdade também estas Missas se devem considerar comuns, já porque nelas comunga o povo espiritualmente, já porque as celebra o ministro público da Igreja, não somente por si, mas por todos os que pertencem ao corpo [místico] de Cristo (Dz, n.944).
Veja-se que já o Concílio de Trento recomendava a comunhão freqüente dos fiéis – o que demonstra, outra vez, a ignorância da Ir. Ione Buyst ao afirmar que somente no século XX a Igreja passou a estimulá-la. Mas o Concílio Tridentino não diz – como a Ir. Ione Buyst – que as Missas em que os fiéis não comungassem não seriam verdadeiras Missas, pois para uma Missa ser válida só é necessária a comunhão do Sacerdote.
Na mesma linha, o Vaticano II apenas recomenda que todos os fiéis comunguem, mas não diz que caso eles não comungassem a Missa seria inválida, como dá a entender a Ir. Ione Buyst. E nem poderia dizê-lo, porque isto não é a Doutrina Católica. Afinal, muitas vezes nem todos os fiéis estão em condições de comungar, de forma que não aproveitariam os frutos do Sacramento.
Veja-se o que diz o Vaticano II:
Recomenda-se vivamente um modo mais perfeito de participação na missa, que consiste em que os fiéis, depois da comunhão do sacerdote, recebam do mesmo Sacrifício, o Corpo do Senhor (Const. Liturg. Sacrosanctum Concilium, n.55).
O Concílio de Trento fulmina com a excomunhão aqueles que, como a Ir. Ione Buyst, consideram uma Missa de menos valia ou até inválida aquelas em que só o Sacerdote comungue e não o povo:
Cân. 8. Se alguém disser que as Missas em que só o sacerdote comunga são ilícitas e por isso se devem ab-rogar — seja excomungado(Dz., n. 955).
Por fim, afirma Ione Buyst que “[com o Vaticano II] a eucaristia volta a ser entendida como ação, para se fazer o que Jesus fez: dar graças, partir e repartir, comer e beber”, ignorando completamente os fins da Santa Missa. Ora, dado que nega a Presença Real e a Natureza Sacrifical da Missa, nada mais óbvio que ignore também os fins da Santa Missa e creia que ela é apenas para “dar graças, partir e repartir, comer e beber”, com se a Missa fosse uma confraternização de amistosos.
Não vai surpreender a ninguém que, mais uma vez, a Ir. Ione Buyst pisou exatamente nas pegadas de Lutero e esta sua tese já foi condenada, séculos atrás, como heresia protestante pelo Concílio de Trento:
Cân. 3. Se alguém disser que o sacrifício da Missa é somente de louvor e ação de graças, ou mera comemoração do sacrifício consumado na cruz, mas que não é propiciatório, ou que só aproveita ao que comunga, e que não se deve oferecer pelos vivos e defuntos, pelos pecados, penas, satisfações e outras necessidades — seja excomungado (Dz, n. 950).
O Concílio excomunga, pois, aqueles que negam a natureza propiciatória da Santa Missa e que alegam que ela seja apenas para louvações, confraternização e ação de graças – exatamente o que faz a Ir. Ione Buyst.
É Doutrina Católica que a Missa tem quatro fins: latrêutico, isto é, é um culto de adoração a Deus; eucarístico, pois dá graças a Deus pelos benefícios recebidos (eucaristia, em grego, significa “ação de graças”); impetratório, porque além de dar graças, pede de Deus novas graças para toda a Igreja; propiciatório, porque por este Sacrifício aplacamos a ira de Deus, pedimos perdão por nossos pecados e “Deus se torna brando e favorável a nosso respeito” (Catech. Rom., Parte II, Cap. IV, §76). A Missa não tem, portanto, só o fim de dar graças – menos ainda de confraternizar! – como diz a Ir. Ione Buyst; é Sacrifício de Cristo e, ensina a Doutrina Católica, é oferecida para adorar, agradecer, pedir perdão e impetrar benefícios.
Vê-se, por tudo isto, como está distante da Doutrina Católica a Ir. Ione Buyst!
2.5. Razões dos Sinais Externos da Missa
A Ir. Ione Buyst muito desdenha dos sinais externos da Missa. Já a vimos fazendo troça da posição do sacerdote, da adoração eucarística, da incensação de Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento, zombando da piedade do povo que adorava a Eucaristia. Tudo o que possa lembrar a Presença Real de Cristo é, para a Ir. Ione Buyst, motivo de zombaria.
Porque a finalidade dos sinais externos na Missa – da língua sacra, da posição do sacerdote, dos paramentos, do silêncio sagrado, do tom de voz, das vênias e genuflexões, etc. –, o fim de todos e cada um destes sinais externos é um só: prestar a devida adoração, o devido respeito, o devido culto à Suprema Majestade de Nosso Senhor, realmente presente no Santíssimo Sacramento do Altar. Mostra-se exteriormente, por cada um desses sinais, aquela adoração profunda da alma, o respeito pelo qual o homem se dobra perante o Criador que no Altar se sacrifica.
O homem é um ser sensível. Como ser sensível, precisa ver, ouvir, tocar, sentir a sacralidade do momento, sentir a sacralidade do Santo Sacrifício do Altar. Daí que a Igreja encha a Santa Missa de uma infinidade de sinais externos, que refletem a beleza do próprio Criador e a reverência devida à Sua Majestade.
Mas a Ir. Ione Buyst zomba de todos estes sinais externos! Ela diz:
A narrativa da instituição (mais conhecida como “consagração”) não deveria aparecer como um ‘corte’ do resto da oração eucarística. A mudança do tom de voz, a maneira pausada do dizer o terço (enquanto as outras partes da oração eucarística são ditas de forma corrida), as incensações, as genuflexões do padre e o ficar ajoelhado do povo, a elevação (que não está prevista no missal, mas muitos inadvertidamente continuam fazendo) etc: tudo isso acaba chamando uma atenção exagerada sobre esse momento da celebração.
Para a Ir. Ione Buyst, Cristo realmente presente no Altar desde o momento da Consagração não deveria chamar a atenção! Ela critica a mudança no tom de voz, as genuflexões, as incensações, a elevação da hóstia... E por quê? Porque a Ir. Ione Buyst nega a Presença Real de Cristo no Santíssimo Sacramento. Negando esta Presença, não vê motivos para que o Santíssimo Sacramento seja adorado, para que a palavra lhe seja dirigida em tom baixo e submisso, com respeito; não vê motivo para que ele seja incensado como um Deus, para que se ajoelhe perante ele como a um Rei. Nada disso tem razão de ser para a Ir. Ione Buyst, porque ela nega que Nosso Senhor esteja presente na Eucaristia. E todos estes sinais externos de adoração, de reverência, de sacralidade, todos eles condena-os a Ir. Ione Buyst porque “acabam chamando uma atenção exagerada sobre esse momento”.
É escandaloso!
A Ir. Ione Buyst critica que Cristo chame atenção! Para ela não se deveria dar atenção ao Santíssimo Sacramento e qualquer sinal externo de reverência é um “exagero”! Quanta impiedade! E que escandalosa impiedade! Mas tudo isto só ocorre porque, como Lutero, a Ir. Ione Buyst nega a Presença da Suprema Majestade sobre o Altar: com isso tem-se a porta aberta para as profanações e sacrilégios.
Aliás, este é o motivo pelo qual as Missas dos Teólogos da Libertação são profundamente despojadas, feias, muitas vezes até sacrílegas: porque não acreditam na Presença de Nosso Senhor na Eucaristia e não vêm sentido em prestar-lhe adoração e reverência; a impiedade, o desrespeito, a profanação são as únicas coisas que realmente alimenta suas Missas. Qualquer sinal de respeito ou piedade é, para eles, uma “atenção exagerada”, que deve ser motivo de deboche até ser extirpada por completo. Pois Cristo, para eles, não precisa ser adorado. Como os fariseus, ignoram o Sacrifício de Nosso Senhor e dão atenção só a si próprios, mesmo tendo Cristo na Cruz à sua frente. Debocham Dele, ignoram-Lhe.
Novamente a Ir. Ione Buyst, no trecho citado acima, caiu em heresia condenada pelo Concílio de Trento (que surpresa!). De fato, o Concílio reafirmou a necessidade dos sinais externos de reverência, tanto para que o homem – ser sensível – veja, quanto para prestar o devido culto a Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento, e excomungou quem o dissesse em contrário:
Já que a natureza humana é tal, que não pode, facilmente e sem socorros exteriores, elevar-se a meditar as coisas divinas, por isso a Igreja, piedosa Mãe que é, instituiu certos ritos para se recitarem na missa, uns em voz submissa, outros em voz alta. Juntou a isto cerimônias, como bênçãos místicas, luzes, vestimentas e outras coisas congêneres da Tradição apostólica, com que se fizesse perceptível a majestade de tão grande sacrifício, e para que o entendimento dos fiéis se excitasse, por meio destes sinais visíveis da religião e da piedade, à contemplação das coisas altíssimas que se ocultam neste sacrifício (Dz., n. 943).
Cân. 7. Se alguém disser que as cerimônias, as vestimentas e os sinais externos de que a Igreja Católica usa na celebração da Missa são mais incentivos de impiedade do que sinais de piedade — seja excomungado (Dz., n.955).
Desta feita, caiu mais uma vez em heresia a Ir. Ione Buyst, por favorecer a impiedade e condenar os sinais externos com os quais a Igreja sempre enriqueceu o culto devido a Nosso Senhor; pois estes “sinais visíveis que a sagrada Liturgia utiliza para simbolizar as realidades invisíveis foram escolhidos por Cristo ou pela Igreja” (Conc. Vaticano II, Const. Sacrosanctum Concilium, n. 33), de tal forma que não podem ser simplesmente banidos por quem quer que seja, baseado na utopia que seja.
Quantas pegadas de Lutero seguiu a Ir. Ione Buyst!
3. Conclusão – As intenções da Ir. Ione Buyst
Mas tantas pegadas de Lutero têm um motivo, que a própria Ir. Ione Buyst não procura esconder: o que ela deseja é acabar com a devoção a Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento. Cristo não deve ser adorado!, é o grito da Ir. Ione Buyst. Cristo não deve ser adorado!, é sua tese fundamental. E não estamos exagerando, pois ela mesmo confessa:
“É difícil romper com séculos de devocionismo eucarístico e suas expressões características da missa. Quem sabe possamos aprofundar a nova teologia da eucaristia em pequenos grupos e comunidade, e aí encontrar uma maneira diferente de celebrar?”
O que deseja a Ir. Ione Buyst, pois, é “romper com séculos de devocionismo eucarístico”. Isso não deveria existir! É um exagero, como disse ela mais atrás. Banir, apagar, romper com séculos de devocionismo eucarístico: está é a intenção da Ir. Ione Buyst, que ela mesma confessa.
E ainda convida a que esta sua “nova teologia” – ela mesma afirma que essa sua teologia é de ruptura com tudo que Cristo e a Igreja ensinou! – seja aprofundada em pequenos grupos e comunidades, para “encontrar uma maneira diferente de celebrar”. É o gosto revolucionário por novidades, é aquela tendência revolucionária de não satisfazer-se com as coisas como elas são, de buscar que elas sejam de um modo diverso, segundo um projeto que a mente revolucionária – essa mente superior! – idealizou.
A ideologia buystiana quer uma “nova teologia”, “uma maneira diferente de celebrar”, que “rompe com séculos de devocionismo eucarístico”. A Ir. Ione Buyst criou uma “teologia”, ou melhor, uma ideologia de Missa que não é Santa.
Mas essa não é a Verdade de Cristo, que a Igreja anuncia. O Sacrifício de Cristo, consumado uma vez por todas no Calvário, é renovado no Altar. Queira a Ir. Ione Buyst ou não, esta é a Verdade, e não está sujeita caprichos humanos.
Do que escrevemos, ficou claríssimo que toda [falsa] “teologia” buystiana da Missa é, na verdade, uma grande heresia que bebe da fonte de Lutero. E talvez até passe dele. Infelizmente, é essa ideologia que vem produzindo frutos no Brasil, frutos amargos, como vemos dia após dia, em Missas tão pobres de beleza e ricas em abusos e novidades.
Parafraseando a Ir. Ione Buyst, convido a rompermos com estas décadas aterrorizantes de desvalorização eucarística, frutos da “ideologia buystiana”, e reatarmos com a verdadeira teologia da Missa, a teologia de Cristo, dos Apóstolos, dos Padres, dos Santos, dos Concílios: a Teologia do Sacrifício e da Presença Real de Nosso Senhor.