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sábado, 15 de agosto de 2009

O Movimento Litúrgico do século XX

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Alguns abusos foram cometidos pelo Movimento Litúrgico. E pérolas foram descobertas e aproveitadas. A própria reforma da Semana Santa por Pio XII e o código de rubricas do Beato João XXIII incorporado no Missal de 1962 (versão em uso para a forma extraordinária do rito romano) foram conseqüências claras e explícitas do Movimento Litúrgico.

Mas, querendo fazer o bem, alguns se excederam e tiveram idéias influenciadas pelo arqueologismo (ou antiquarianismo). A Mediator Dei, de Pio XII, condenou os abusos e ficou com que era bom. Não se pode negar, entretanto, que determinadas idéias arqueologistas estavam presentes na reforma de Paulo VI - o que em nada compromete a sua autoridade nem desmerece o rito dito moderno.

Impossível, contudo, avançar sem falar sobre esse Movimento, que foi importantíssimo para o catolicismo do século XX.

Não posso deixar de citar alguns nomes que dele fizeram parte. Uns foram um tanto exagerados e cometeram sérios equívocos, outros conservadores demais, mas todos quiseram fazer algo para que o povo entendesse melhor o que se celebrava.

D. Prósper Guéranger, OSB
D. Lamber Beauduin, OSB
Pe. Adrian Fortescue
Pe. Romano Guardini
Fr. Pius Parsch, OSA
D. Odo Casel, OSB
Pe.
Gerald Ellard, SJ
Pe. Josef Andreas Jungmann, SJ
Pe. Louis Bouyer
Mons.
Annibale Bugnini, CP
D. Ildefons Herwegen, OSB

Ações do Movimento Litúrgico foram a publicação de vários manuais de rubricas e cerimônias para os padres, a edição de missais bilíngües para que os fiéis acompanhassem a Missa, a autorização que conseguiram da Santa Sé para que os sacramentos, fora da Missa, fossem celebrados em vernáculo (principalmente o Matrimônio), o incentivo à Missa dialogada, a insistência no canto gregoriano (em virtude de certas polifonias que eram muito rebuscadas e demoradas) etc. Todos tentaram recuperar a simplicidade do rito romano, uns mediante reformas que respeitariam o desenvolvimento orgânico (sem mutilar o que foi acrescentado de modo natural ao rito, ao longo dos séculos), outros mutilando-o.

Links:
http://en.wikipedia.org/wiki/Liturgical_Movement
http://www.britannica.com/eb/article-9048559/Liturgical-Movement
http://findarticles.com/p/articles/mi_qa3818/is_200001/ai_n8894854
http://en.wikipedia.org/wiki/Romano_Guardini

sábado, 8 de agosto de 2009

Seleção de perguntas e respostas (verdadeiras) sobre normas litúrgicas

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1º É realmente necessário, na hora de rezar o Pai-Nosso, erguer as mãos como o sacerdote? Se sim, pq?

Pelo contrário! Não se deve erguer as mãos.

2º Na hora da comunhão o sacerdote deve sempre comungar primeiro?

Sim, e só a comunhão do celebrante é necessária para a licitude da Missa. Se os fiéis não comungarem, não há problema, mas o celebrante é obrigado.

3º O sacerdote pode, antes de comungar (logo após o Cordeiro de Deus), alertar os fiéis que estiverem em pecado que eles não poderão comungar?

Claro! Pq não poderia?

4º Nas missas durante a semana, é permitido trocar a primeira leitura por um trecho da vida de um santo? Pq eu fui até uma Igreja de São Francisco e lá eles leram a vida desse santo no lugar da primeira leitura...Eu achei mto estranho.

Estranho e ERRADO! É preciso fazer o que está no Missal, ler o que está no Missal... As leituras são as propostas, pelo Lecionário, para o dia (exceto em dias feriais do Tempo Comum, quando outras, em ocasião especial, podem ser escolhidas; ou nas Missas Votivas e Rituais, quando há Lecionário específico).

Aqui no Rio não se costuma levantar as mãos durante o Pai Nosso, mas é costume dar as mãos. Isto é errado?

Sim. O que não está previsto, não se deve fazer. Não há sentido litúrgico no ato, além disso.

Quando se ora: Por Cristo, com Cristo...levanta-se a mão ou não?

A chave para entender as normas litúrgicas é se perguntar: pra que serve tal ato?

Aplica nesse caso: qual o sentido de levantar a mão, estendendo-a ao altar? É tornarmo-nos participantes do oferecimento que o padre faz, não? Ora, se não se pode dizer a oração com ele, justamente porque o oferecimento é algo específico de sua condição sacerdotal, pq iríamos fazer a mesma coisa que dizer a oração, só que de outro modo (levantando as mãos)?

--> Neste ponto, um interlocutor tenta contra-argumentar:

"Levantar as mãos é uma atitude orante. Pode significar súplica, louvor e entrega a Deus." - Assim definem alguns autores.

É sabido que o Batismo e a Crisma conferem o Sacerdócio Comum dos fiéis (1Pd2,4-6); todos os fiéis são cooferentes do sacrifício do Cristo Sacerdote e são cooferecidos com Cristo Hóstia em cada Eucaristia.

É sabido também que a Doxologia Final é o verdadeiro e próprio ofertório da missa.

Logo, o gesto de levantar as mãos nesse momento tem sentido. Pode não estar previsto no Missal, mas sentido tem.

Por essa tua definição, o sacerdócio comum dos fiéis em nada se diferencia do sacerdócio hierárquico.

Reitero que não há sentido em elevar as mãos no "Por Cristo", nem em nome do sacerdócio comum dos fiéis, dado que tal ato é próprio do sacerdócio hierárquico. O "Por Cristo" nada mais é do que o oferecimento do sacrifício recém efetuado. Ora, é próprio do sacerdócio oferecer o sacrifício da Missa, que com a Cruz possui uma identidade substancial.

Entender que o gesto tem sentido à luz do sacerdócio comum dos fiéis é desvalorizar o sacramento da Ordem, e dessacralizar a Missa, já tão pouco crida e entendida como sacrifício. Os ritos da Missa devem apontar para a sua substância sacrifical e, para tal, colabora a previsão de palavras, gestos e cerimônias que ressaltem o sacerdócio hierárquico, o poder de tornar presente a Cruz durante a Missa, a ação in Persona Christi.

O modo pelo qual oferecemos, com o sacerdote, o sacrifício da Missa, é distinto. Tanto é assim que, em latim, o celebrante convida os fiéis, antes da Oração sobre as Oferendas: "Ora, irmãos, para que o meu e o vosso sacrifício sejam aceitos por Deus Pai onipotente." Não bastaria dizer "nosso" em vez de "meu"+"vosso"? Não. Pois essa distinção de termos implica na distinção de sacrifícios, na distinção de modos de participação no sacrifício. O padre sacrifica, oferecendo a substância do sacrifício da Cruz, tornando-a realmente presente. Nós sacrificamos pelo sacrifício de louvor, i.e., pela união com os sentimentos, a inteligência e a vontade de Cristo que no altar renova, de modo incruento, seu sacrifício.

É lícito ao sacerdote omitir as 2 leituras e o salmo da Missa de Domingo quando esta é a chamada Missa das Crianças?

A Liturgia da Palavra não pode ser mutilada. A supressão de leituras só ocorre, dentro das regras, e com suficiente motivo, na Solene Vigília Pascal.

Missa com Crianças NÃO tem rito próprio: apenas muda-se a Oração Eucarística, utilizando-se uma das duas que estão no Missal especialmente para tal.

A prática de suprimir leituras, embora comum, é proibida.

Na minha paróquia era comum o seminarista presidir a celebração da missa das 17h.

Se não é sacerdote, não é Missa. Missa é o sacrifício de Cristo na Cruz tornado novamente presente. Sacrifício pressupõe sacerdote. Sem sacerdote, não há sacrifício. Sem sacrifício não há Missa.

Insisto que não se trata de decorar regras litúrgicas, mas de entender a teologia por trás disso.

celebração pode ser feita por um seminarista??

Bem, ordinariamente, o Rito da Sagrada Comunhão com Celebração da Palavra de Deus, que é composto da Liturgia da Palavra e da distribuição da Santíssima Eucaristia, só pode ser feito quando não se pode celebrar Missa (seja porque o padre já celebrou no dia e não pode binar, seja porque não há tempo, seja porque o padre está suspenso da autorização de celebrar Missa, seja por qualquer outro motivo). Mesmo esse rito, que se chama, popularmente, de "celebração", deve ser feito por sacerdote e diácono. O leigo só pode presidi-lo em casos excepcionais, de falta de sacerdote mesmo.

Já uma celebração sem distribuição da Comunhão é um rito não-litúrgico e, como tal, pode ser presidido por leigos.

Sempre entendi que a Santa Ceia remete ao sacrifício da cruz. Entretanto já ouvi alguns defenderem a idéia de que já naquela última refeição Jesus ofertava realmente seu corpo e sangue, como se naquela ceia tivesse acontecido a primeira transubstanciação. Não entendo essa hipótese, porque o sacrifício ainda não havia acontecido.

Então pergunto, na última ceia, o que os apóstolos comeram e beberam já era o corpo e sangue de Cristo, ou era vinho e pão? Se já era corpo e sangue, como isso foi posível antes do sacrifício da cruz?

Assim como a Missa atualiza o Sacrifício da Cruz, a Santa Ceia o antecipa.

Missa, Cruz e Ceia são uma só realidade, com a mesma identidade substancial. Assim como o Corpo e o Sangue de Cristo tornam-se presentes na Missa pela perpetuação da Cruz, igualmente tornaram-se presentes na Última Ceia pela antecipação da Cruz.

Por isso, os elementos foram, sim, transubstanciados.

Tenho dúvidas quanto ao momento em que dizemos: "Cordeiro de Deus que tirais..." 1. Ele pode ser cantado? Porque dependendo de onde assisto a missa, a equipe de música embala logo após o cumprimento da "Paz de Cristo".

Existem cantos na Missa e cantar a Missa. Toda a Missa pode ser cantada. Infelizmente, isso é raro no Brasil, ainda mais em latim.

O Cordeiro não é um canto de Missa, mas uma parte do Ordinário da Missa. Como tal, pode ser recitado ou cantado.

2. No momento em que proclamamos "Cordeiro de Deus..." não devemos estar virados para o altar? Complementando a primeira questão: porque ou quando o Padre diz "Cordeiro de Deus..." as pessoas ficam se abraçando ou quando a equipe de música canta as pessoas continuam dispersas...

Pois é... Aí um dos problemas da tal "música de paz", que não existe!

Outra coisa que me incomoda muuuuuuito é quando inventam de cantar: "Em nome do Pai, em nome do Filho, em nome do Espírito Santo..."

(erguendo os braços)
"Para louvar e agradecer, bendizer e adorar, te aclamar, (salva de palmas) Deus Trino de Amor!"

De fato, é antilitúrgico, e ainda um erro teológico, pois a invocação tradicional diz apenas uma vez "em nome de", para significar que, embora três Pessoas, é um só Deus.

Ou então quando alguém toma o microfone depois da oração pós-comunhão e começa com as invenções: "Agora eu queria..."

Se for depois da pós-comunhão não pode. Mas na Ação de Graças, é possível, sim, rezar orações em voz alta, e mesmo espontâneas, desde que ordenadas, calmas, sem euforia.

Não gosto nem quando

Não é nem questão de gostar, caríssimo. É desobediência mesmo.

em vez da invocação à Ssma. Trindade, o padre diz: "Bom dia".

Sim. A Missa não é para o povo, mas para Deus. Não é o padre falando com o povo, e sim o padre, com o povo, falando para Deus. Logo, o "bom dia" deve ser para Deus, hehehe, e esse "bom dia" é dado nas diferentes orações litúrgicas previstas. A saudação ao povo é dada no início, após o sinal-da-cruz, e é com ela que o padre deve saudar o povo.

Há um tempo li num site não-tradicionalista um professor dizendo que mulheres não devem fazer as leituras. Isto é correto?

Não. A IGMR não proíbe, a Cúria Romana já disse que pode, os maiores especialistas em liturgia (entre eles, o Mons. Peter Elliott, que é minha fonte de consulta permanente) dizem que pode. Aliás, nas Missas do Papa seguidamente mulheres fazem leituras.

O que não pode é uma mulher receber o ministério ("ordem menor") de leitor. Mas servir como leitora em Missas, sem o ministério instituído, pode.

O momento imediatamente depois que comungamos, o que fazer? Uma oração de agradecimento? Pedidos? Um Pai-Nosso? Alguma outra oração específica para o momento? Ou essa parte é livre e de escolha individual?

Fazer uma ação de graças, conforme a piedade de cada um. Agradece-se a Deus pelo dom recebido da presença de Cristo na alma. Pode-se pedir algo, contemplar, simplesmente, agradecer por outros favores, dialogar com Jesus.

Comunidades (paróquias, movimentos, associações) podem, após o período de silêncio necessário à ação de graças pessoal, ter um momento de ação de graças comum: um canto, uma oração etc.

Os membros do Regnum Christi, por exemplo, sempre rezam, individualmente, algumas das muitas orações sugeridas em nosso Manual: "Oração a Jesus Crucificado", "Oração de Clemente XI", "Oferecimento de Santo Inácio de Loyola", "Alma de Cristo", "Oração a Cristo Rei" etc. E, nas nossas Missas, além dessa ação de graças pessoal, rezamos, em comum e em voz alta, a "Oração pelo Papa" e a "Oração pelo Diretor Geral". Em determinadas solenidades, a "Oração pela fidelidade dos membros do RC e dos Legionários de Cristo".


O breviário (o livro que contém a Liturgia das Horas, Ofício Divino) do rito novo (não sei se no antigo há) traz, como apêndice, algumas orações sugeridas para o sacerdote após a Comunhão (algumas delas são as que usamos no Manual de Orações do RC).

Eu fiz um encontro de formação com o Frei Joaquim Fonseca, Coordenador de música-litúrgica da CNBB, ele nos ensinou bater palmas no Glória, além de ensaiarmos uns minutos antes com a Assembléia, para q todos cantem. E eu 'sabia' que só na Quarema não podia bater palmas. Mas com o que escrevestes, pposso concluir que na Missa palmas não debem existir de maneira alguma?

Na Missa não se bate palma. Missa é Cruz. Diante da Cruz, quem bateria palmas?

O tal frei pode ser assessor de liturgia da CNBB, mas continua errado. Aliás, isso só explica o motivo do estado lamentável de nossas celebrações. Aqueles que deveriam ensinar o certo são os primeiros a fazer o errado.



quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Formação histórica do rito romano e "reforma da reforma"

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Os ritos litúrgicos refletem a mentalidade própria da cultura onde se desenvolveram. Assim, é natural que os ritos das Igrejas Orientais demonstrem mais expressividade poética e caracteres explicitamente místicos. Seu esplendor pode soar exagerado a olhos ocidentais, mas, no fundo, não o é: apenas deriva do natural temperamento e estado anímico dos orientais. Seu ethos é mais místico, mais esplendoroso, mais simbólico, mais exuberante.

Ao contrário, a cultura ocidental, baseada, claro, nos valores gregos, mas temperados pelo aspecto quase taciturno dos romanos, é marcadamente simples. O espírito romano, latino, é sóbrio por excelência. Para os orientais, seríamos “frios”, assim como eles, para nós, soariam “exagerados” em sua pompa. São apenas os modos como os ritos se desenvolvem e tal é uma bênção para todos, uma prova da catolicidade da Igreja, cuja única doutrina se expressa, em mentalidades culturais distintas, por sinais igualmente distintos. A Igreja, desde cedo, chamou esse rico mosaico de “unidade na diversidade”.

O rito romano, então, por ter nascido da cultura do Ocidente, mescla ideal entre Roma, os celtas e os germanos, herdou a idiossincrasia própria desses povos, em um amálgama muito bem feito. A Civilização Ocidental e o rito romano possuem, pois, os mesmos princípios, pois são, um e outro, manifestações da mesma alma cultural.

Como o espírito romano (a que se somaram os celtas originários e os invasores germanos), assim é o rito que em Roma se desenvolveu e mais tarde ganhou a Europa. Aliás, o rito avançou pela Europa na mesma medida em que a cultura romana também o fez.

Daí que os princípios que regem o rito romano, o modo como celebramos a liturgia, seja muito adequado à civilização à qual pertencemos, à cultura em que estamos inseridos. As características dessa cultura ocidental é que informam o rito romano: praticidade, nobre simplicidade, sabedoria na solenização gradual das cerimônias, detalhamento legislativo (já que Roma é a pátria do Direito tal como o conhecemos).

O rito romano, então, é muito prático. Tudo nele tem uma função clara, não há aspectos etéreos como os ritos orientais, pois à alma ocidental não agrada riqueza de simbolismos profundamente escondidos (belos em si mesmos, mas que falam a outra cultura, não à nossa). A casula de corte romano, por exemplo, surgiu do encurtamento da gótica, para que o sacerdote pudesse incensar o altar com maior mobilidade (assim como o costume do acólito ou do diácono erguer levemente a barra da casula gótica para a mesma finalidade). O próprio incensamento é muito prático, com regras precisas e claras. A Comunhão dada, ordinariamente, em uma só espécie também deriva desse espírito de praticidade do rito romano.

Outro princípio do rito, e talvez sua mais acentuada característica, é o da nobre simplicidade. É por ele que temos na liturgia a elegância sem afetação, o esplendor do culto temperado pela discrição. A nobre simplicidade, que poderia ser entendida como austeridade, garante um cerimonial digno, distinto, com aspecto sacro, sem perder um certo e sadio pragmatismo da cultura romana. O rito romano é sóbrio, é grave. E essa sobriedade, essa gravidade, se vê nos próprios gestos: o sinal-da-cruz é feito de modo muito reverente, mas também simples e natural; a maneira de carregar a cruz processional, embora altaneira e, de certa forma, licitamente orgulhosa, é calma, sem pressa; os ministros no altar ocupam lugares previamente determinados sem precipitação, sem multiplicação de atos desnecessários, sem ênfases demasiadas. Há um comedimento nas cerimônias. Tudo é moderado, casto, continente, austero.

É bem romano, também, o modo de rezar, com as mãos unidas, uma à outra e, detalhe de beleza resultante da elegância simples do rito, sobrepor o polegar direito ao esquerdo. As genuflexões são, por sua vez, igualmente características do rito romano, uma vez que esse era o costume do tempo do Império ao saudar César e os superiores militares e civis de Roma. No Oriente, as genuflexões são desconhecidas, pois ela é tipicamente ocidental e, como tal, penetrou, por informação de nossa cultura, em nossa liturgia.

Tais características próprias do rito romano em nada desmerecem a natureza das celebrações nos outros ritos orientais e ocidentais. Cada um reflete a marca da sua própria cultura.

Aliás, mesmo as sub-culturas ocidentais, todas derivadas, pela expansão européia, da mesma matriz céltico-romana, porém misturadas com o elemento autóctone das Américas, da Oceania e de certos lugares da Ásia e da África, podem ter suas características respeitadas inclusive na liturgia. É o que se chama inculturação. Entretanto, tal processo não deve ser feito de modo a obscurecer a unidade substancial do rito romano. A inculturação não pode ser pretexto para modificar arbitrariamente cerimônias e ações rituais, ou para a criação ilícita de novos ritos. Além disso, qualquer alteração no rito romano para atender a desejos de inculturação, deve obedecer a um processo harmônico, natural, e ser aprovado pelo Sumo Pontífice, como foi o caso do uso zairense (na região do Congo) e do uso anglicano (para ex-membros da Comunhão Anglicana convertidos ao catolicismo), ambos formas distintas do único rito romano.

Um dos princípios da reforma de Paulo VI foi justamente tornar o rito romano mais romano ainda. Diziam alguns que o rito romano tal qual codificado por São Pio V continha muitos elementos gálicos (de origem oriental), e isso precisava ser extirpado. Assim, para eles, o rito romano moderno é mais fiel ao rito romano puro, e o rito romano tradicional é um misto de rito romano com usos gálicos.

Discordo. Com o Mons. Klaus Gamber e D. Alcuin Reid, OSB, penso que o rito romano tradicional, ao incorporar os elementos gálicos, não perdeu sua característica de sobriedade. Claro, ganhou mais colorido, mais esplendor, mas a nobre simplicidade não foi perdida. É preciso que os princípios não sejam tão absolutos a ponto de impedir o sadio desenvolvimento do rito. Claro que a incorporação dos elementos gálicos tirou a pureza do rito romano e ele não permaneceu tão austero, tão simples. Ainda assim, foi um processo natural. A meu ver, desprezar esse desenvolvimento e pretender uma simples volta à pureza primitiva é cair no erro do arqueologismo (ou antiquarianismo).

Isso não é uma crítica à reforma nem à autoridade de Paulo VI, tampouco ao rito moderno, mas uma discordância lícita e pontual ao modo como certos aspectos da reforma foram postos em ação.

Reconheço que o rito romano moderno, advindo da reforma, é mais fiel ao rito romano primitivo, puro, antes da incorporação dos elementos gálicos. Aliás, o rito romano moderno também vai beber no rito dominicano, que conservava a pureza original do rito romano. De qualquer modo, os novos elementos não tiraram do rito a sua característica.

Certas coisas na reforma foram excelentes: removeram a duplicação dos textos (na Missa cantada, por exemplo, o padre lia em voz submissa o que estava sendo cantado pelo coro e os fiéis; hoje, ele canta junto), a sobreposição de coletas foi extinta (permanecendo, opcionalmente, apenas no Ofício Divino), a gradação das festas foi simplificada.

O rito romano desenvolveu-se, basicamente, a partir da liturgia celebrada pelo Papa em Roma. Suas características de Missa solene pontifical logo foram adaptadas a todas as celebrações na urbe e, gradualmente, passaram à toda a zona de influência do Império.

Essa liturgia papal era, notadamente, a Missa descrita por Santo Hipólito, no século III, acrescentada de caracteres mais solenes, como o amplo uso do incenso, o canto durante todas as funções, os ministros auxiliares. O esquema da Missa já em Santo Hipólito é basicamente o mesmo que viria a alastrar-se pelo período medieval.

Com São Vítor I, Papa contemporâneo de Hipólito, a liturgia passou a ser celebrada em latim, ainda que certos resquícios de grego continuassem (perdurando até hoje, como, por exemplo, o Kyrie e, nas Missas papais, o Evangelho cantado).

Aos poucos, alguns elementos existentes na liturgia descrita por Santo Hipólito foram caindo em desuso, como as preces dos fiéis na chamada Oração Universal e a Procissão do Ofertório. O beijo da paz foi deslocado para depois do Cânon, e o número de leituras bíblicas reduzido. Nesse tempo, também, um calendário litúrgico foi sendo uniformizado, com lições para cada dia, e mesmo textos específicos para os Próprios (Coleta, Secreta e Pós-comunhão, além do Prefácio e das Antífonas) que variavam conforme a época ou a festa. O Cânon Romano começou a fixar-se também por esse período que vai do terceiro ao quinto séculos.

Começaram, desde cedo, a aparecer coleções do que viria mais tarde a ser chamado Próprio da Missa, as partes variáveis. Assim, temos os sacramentários de São Leão Magno e de São Gelásio I, importantes documentos medievais. Outros livros esparsos foram, aos poucos, se disseminando, contendo ora o Ordinário da Missa, ora figuras específicas da liturgia pontifícia, notadamente a celebrada na manhã do Domingo de Páscoa na Basílica de Santa Maria Maior.

Enfim, os decretos de São Gregório Magno estabeleceram um Ordinário para a Missa no rito romano, confirmando as modificações operadas na liturgia após a descrição de Santo Hipólito. Com a reforma gregoriana, as orações variáveis foram reduzidas a três em cada Missa, e o Cânon Romano ganhou sua redação fundamental definitiva.

Basicamente, a Missa celebrada pelo Papa era o modelo para as demais celebrações tanto em Roma, quanto no restante da Itália e mesmo, mediante os missionários que partiam como enviados do Sumo Pontífice, em outras regiões da Europa. Mesmo assim, permaneciam variações locais desse rito romano puro.

Ainda na Idade Média, os sacramentários e a reforma gregoriana começaram a se difundir pela Gália e pela Inglaterra, quer pela autoridade e prestígio da Igreja Romana, quer pela ausência de grandes sés primaciais que pudessem estabelecer uniformidades litúrgicas rituais, exceto Roma. Enfim, a cultura romana era a base da Europa, de modo que a aceitação do rito que a representava foi um processo bastante coerente e natural. Certo é que aquelas regiões tinham já seus ritos próprios, amoldados à mentalidade céltica, com seus mistérios e, diríamos até, extravagâncias (parecido seu ethos com o dos orientais bizantinos, com um amor muito característico à linguagem simbólica e à suntuosidade). Entretanto, eles passaram a absorver, alguns mais, outros menos, os elementos do incipiente rito romano. Outras utilizavam já o rito romano, mas em suas variações locais.

Esses ritos galicanos e ingleses passaram a conviver, lado a lado, com o rito romano puro e este, por sua vez, foi influenciado pelos primeiros. Assim, não só certos elementos romanos foram emprestados aos ritos galicanos, como elementos da esplendorosa liturgia original da Gália foram incorporados ao rito romano: o ritual da Semana Santa (especialmente a dramaticidade do Ofício de Trevas), a imposição das cinzas, as longas procissões antes da Missa em determinadas festas, a bênção dos ramos no Domingo da Paixão, o uso mais abundante de velas e tochas com acólitos específicos para portá-las, a incensação de pessoas e não só de objetos etc. Isso em nada prejudicou a nobre simplicidade do rito romano, mas o fez ganhar um colorido mais simbólico, mais suntuoso, até mesmo porque o povo ocidental não era apenas originário da antiga Roma, porém conservava também o elemento celta, mais afeito às maravilhas religiosas e pompas litúrgicas. O esplendor e a exuberância dos elementos orientais que se incorporaram ao rito romano mediante as liturgias galicanas foram perfeitamente amoldados à mente ocidental.

Essa situação perdurou até que Carlos Magno, Imperador do Ocidente e Rei dos Francos, determinou que a Gália, e, posteriormente, todos os seus domínios, seguissem exclusivamente o rito romano. A liturgia imposta por Carlos Magno foi aquela que constava do Sacramentarium Adrianum, compilação do Papa Adriano I, dos sacramentários Leonino, Gelasiano e outros.

Caía, assim, o rito galicano, mas alguns dos seus elementos, como visto, perduraram, pois o próprio rito romano já os tinha incorporados, bem como Alcuíno, monge inglês que auxiliou o Imperador no estabelecimento do rito romano, introduziu, no Adrianum os elementos locais do Sacramentário Gelasiano em uso nas Gálias. Certo é que dizer que, a partir desses anos, teríamos não um Ordinário romano, mas franco-romano, ou gálico-romano. E esse rito franco-romano é que se desenvolveria como a liturgia própria do Ocidente: mais nobre, mais simbólico do que o rito romano puro, original, todavia, sem perder sua simplicidade. Os monarcas que sucederam Carlos Magno consolidaram essa unidade litúrgica, e o rito romano seguiu incorporando novos dados.

Desse modo, a Missa que antes começava com o Intróito e a Saudação, agora passava a ter as Orações ao Pé do Altar, durante as quais se recitava o Confiteor. Eram preces privadas previstas para o sacerdote e os acólitos e, aos poucos, foram de tal sorte incorporadas no Ordinário que passaram a ser litúrgicas. A homilia passou a ser opcional, mesmo nos Domingos e festas. Enfim, a Missa passou a ser, comumente, rezada ao invés de cantada, deixando-se essa última opção para algumas mais importantes nas igrejas paroquiais e catedrais. Com o tempo, outrossim, o Ofertório perdeu a sua procissão.

Para a popularização do rito romano nos vários países, não nos esqueçamos da contribuição dos franciscanos, que levaram o Missal por todas as regiões do Ocidente por onde pregavam.

Pretendia-se com essa maior unidade litúrgica impedir que as heresias, sobretudo as de corte protestante, se alastrassem pelos missais locais. Muitos missais igualmente romanos estavam em vigor nas diferentes Dioceses do Ocidente, e as variações poderiam facilitar com que certas expressões heréticas pudessem ser incorporadas em livros litúrgicos usados naqueles locais que contassem com Bispos favoráveis aos erros de então. Para prevenir esse dano à fé católica, e também defender o rito, ameaçado de nova fragmentação, São Pio V ordenou que todas as Dioceses latinas utilizassem o Missal Romano tal qual ele reformara e codificara. Em suma, tratava-se do rito que nos veio de São Gregório Magno, acrescido dos elementos galicanos incorporados na época de Carlos Magno. Apenas os missais dos ritos e usos que tivessem mais de duzentos anos seriam permitidos junto da nova codificação pontifícia.

É por isso que sobreviveram, ao lado do rito romano, o mozárabe, o bracarense, o lionês e o ambrosiano, além das variações do rito romano adotadas por algumas Ordens religiosas, como os carmelitas, os dominicanos e os cartuxos.

Certas regiões da Inglaterra, pela falta de efetiva comunicação e pelo continuar da revolta do rei Henrique VIII, mantiveram os ritos celtas e o uso de Sarum, os quais formaram a base da futura liturgia da Comunhão Anglicana proposta por Thomas Cranmer no Livro de Oração Comum – Book of Common Prayer. O uso de Sarum também era usado pelos católicos no período entre o cisma anglicano, em 1530, e a publicação do Missal tridentino, em 1570. Na restauração católica da rainha Maria, mesmo após 1570, o Missal de Sarum continuou a ser utilizado pela dificuldade em se conseguir exemplares dos livros litúrgicos do rito romano seguido no Continente.

O que percebo é que, realmente, a reforma de Paulo VI fez o rito ficar mais simples, e mais fiel à sua primitiva forma, configurando, desse modo, o Missal e os demais livros litúrgicos ao princípio que informa a liturgia romana: a nobre simplicidade.

Todavia, não se pode afirmar isso como se o rito tradicional, tal como codificado em Trento e em uso, ordinariamente, até 1970 (hoje, forma extraordinária), tivesse perdido a simplicidade, ou desobedecido ao princípio informador. Com efeito, o rito moderno é mais simples, torna mais claro o princípio da cultura romana, todavia, o rito tradicional, em que pese o acréscimo de cerimônias mais rebuscadas, estranhas, até, ao ethos romano primitivo, não perdeu a sua simplicidade. O rito romano moderno é mais simples, mas o tradicional, menos simples, ainda é, entretanto, (perdoem-me a repetição) "suficientemente simples".

Ademais, temos que entender que a cultura européia não era apenas a romana clássica, simples por natureza, mas uma amálgama de elementos célticos e bárbaros, cuja alma religiosa estava muito mais próxima dos orientais do que da România. Desse modo, a incorporação de elementos mais "esplendorosos", que sacrificaram certa simplicidade mais pura do rito primitivo, foi um processo natural, resultante também da incorporação, pelos romanos, das demais culturas européias que formaram a Cristandade.

O rito romano primitivo falava aos romanos. O rito romano tradicional, com os elementos gálicos, falava ao europeu (mistura de romano com celta e germânico). Portanto, falava a nós, que descendemos dessa cultura amalgamada e harmoniosamente composta.

Se o rito romano moderno pretende ser uma simples cópia do rito romano primitivo, em nome da pureza original, ele acaba falando só para os romanos imperiais, que não existem mais. Nós não somos romanos puros, mas romanos, celtas e germânicos. Portanto, o rito tradicional nos fala mais, digamos assim.

A nobre simplicidade mais pura não tem sentido para a nossa alma amalgamada. Essa nobre simplicidade precisa ser temperada com elementos mais "majestosos", como também a nossa austeridade romana é temperada pelas culturas célticas e barbáricas.

É por isso que se fala em uma "reforma da reforma" que mantenha a intenção do rito romano moderno (com suas excelentes simplificações em certos elementos acidentais: gradação mais simples das festas, rubricas cerimoniais menos rebuscadas, rito menos fechado, diminuição de oitavas, extinção, na Missa, da sobreposição de coletas; e também com seu resgate de elementos medievais que se perderam na composição dos Próprios gálico-romanos, como alguns Prefácios, algumas coletas presentes nos sacramentários Leonino, Gregoriano e Gelasiano, que não constavam da codificação de São Pio V), mas traga de volta, por outro lado, elementos "menos simples" (mas conforme o ethos não puramente romano de nossa cultura) que se foram incorporando, por influência gálica, de modo natural e orgânico, no rito: orações ao pé do altar, ofertório com ar mais sacrifical.

Aliás, se for para manter a simplicidade do rito romano primitivo, por que usar outras Orações Eucarísticas, além do Cânon Romano, que era o original? Não condeno as demais Orações Eucarísticas, e defendo que sua promulgação não só é lícita (pois foram dadas pelo Papa) como conveniente (dado que são belíssimas e, sobretudo a II, nos vem de São Justino e Santo Hipólito, testemunhas do rito romano anterior à própria reforma de São Gregório Magno), mas sua junção no novo Missal de Paulo VI desmente a própria "volta à pureza".

Bem, é com base nesse pensamento e nos princípios do rito romano que se pode pensar em uma eventual "reforma da reforma", que mantivesse o que de bom a reforma de Paulo VI fez (em nome da simplicidade: extinção da duplicação de ritos na Missa cantada, simplificação da gradação das festas, simplificação das regras para a Missa rezada de modo que possa ter trechos cantados, extinção da sobreposição de coletas, rubricas mais abertas, uso do incenso mais livre inclusive na Missa simples, diminuição do número de vigílias e oitavas, simplificação da Liturgia das Horas, extinção de certas cerimônias - beijo nos objetos quando o sacerdote os entrega ao acólito, por exemplo; em nome da antiguidade: procissão do ofertório, saudação da paz, preces dos fiéis; em nome da adaptação aos tempos atuais: lecionário dominical trienal e ferial bienal), mas resgatasse aquilo que, embora não tão simples (o que, num primeiro momento, se poderia opor como não sendo próprio do rito romano, mas que já vimos não ser verdade), foi amalgamado a ele de modo natural (orações ao pé do altar, ofertório mais sacrifical) e constava do rito até a reforma de Paulo VI, mas que infelizmente se perdeu. Além, é claro, de outras regras como a obrigatoriedade da celebração versus Deum e um uso mais generoso do latim e do canto gregoriano.

Não se trata de criar um terceiro rito, mas de incorporar, naturalmente, elementos do rito antigo ao rito moderno, e isso de modo a que, com o tempo, ambas as formas do rito romano não se distingam tanto externamente, ao menos não para um leigo "não iniciado".

A Missa é realidade, mas a realidade não é perceptível porque é invisível. Não se vê a graça. Além do mais, o sacrifício é o mesmo que o da Cruz, mas oferecido de modo distinto: incruento. E porque é incruento, precisa de um "meio" para que se torne visível.

Daí o símbolo. A Missa é cheia de símbolos, sim.

E não estamos falando dos símbolos em si mesmos. Esse tema é inegável.

A diferença entre o rito romano e os ritos orientais está em que estes são mais ricos na sua simbologia, justamente porque a nossa cultura ocidental é mais simples, sem deixar a nobreza.

Na reforma de Paulo VI, buscou-se resgatar certa simplicidade perdida pelo acúmulo de determinadas rubricas que não representavam a autenticidade do ato (por exemplo, os sacerdotes oficiando como diáconos e vestindo paramentos diaconais; a anomalia de o celebrante recitar do altar os textos que o coro canto, ao mesmo tempo em que este, nas Missas cantadas; o Ite Missa est ANTES da Bênção etc). Esse um ponto positivo da reforma (ao lado do resgate de certos elementos primitivos, como a procissão do ofertório, as preces, a permissão para uso do incenso em todas as Missas, a concelebração, o RICA, a homilia como parte da Missa, a prevalência do Temporal sobre o Santoral, Próprios e Prefácios medievais pré-tridentinos etc; e ao lado de rubricas que facilitassem uma maior participação dos fiéis, maior pastoralidade e mesmo um saudável e contínuo desenvolvimento orgânico a partir do rito anterior).

Mas não esqueçamos que, para alcançar esses pontos positivos, algumas coisas foram, equivocadamente, julgadas "excedentes" ou "atentatórias à pureza do rito romano primitivo" (o que significa ignorar o desenvolvimento orgânico do rito, que incorporou os elementos célticos de modo natural; i.e., um certo arqueologismo), e assim se perderam: as orações ao pé do altar, o ofertório tradicional, o último Evangelho, o Ofício de Trevas tradicional, o uso do pluvial no Asperges (e não da casula, como é hoje), o "Dies Irae" como seqüência da Missa pelos mortos.

Além do mais, certos elementos que sempre foram do rito romano, mesmo desse que os reformadores chamam "puro" ou "primitivo", em contraposição ao codificado por São Pio V, se perderam com a reforma também: a abjuração na recepção de convertidos, o manípulo, a data fixa para as Têmporas e para as Rogações, a obrigatoriedade do preto como cor de defuntos, a forma tradicional da Crisma, a obrigatoridade do versus Deum, a exclusividade do Cânon Romano.

ealmente, a forma do rito romano codificado por São Pio V ficou como que praticamente congelada.

Todavia, já desconfiava que não era bem assim a história, e que reformas ocorreram de modo vigoroso entre Trento e Paulo VI. Lendo "The organic development of the liturgy", de D. Alcuin Reid, edição de 2005, da Ignatius Press (prefaciado e elogiadíssimo pelo Cardeal Ratzinger), confirmei essa minha desconfiança.

A reforma de São Pio X (sim, o "X", não o "V") no breviário foi bem radical. E a reforma de Pio XII na Semana Santa igualmente. A Semana Santa, antes de 1951, era muito diferente, e acumulava uma série de anomalias e inconveniências (a duplicação das leituras - leitor ou coro no ambão em voz alta, e sacerdote, no altar, em voz submissa -, uma vigília noturna antes do Domingo celebrada no sábado pela manhã, ausência de intervalos silenciosos entre o "flectamus genua" e o "levate", Missa da Ceia do Senhor celebrada na manhã de Quinta-feira Santa - o que impedia, na prática, a concelebração na Missa Crismal, e era totalmente desconexa com o símbolo da Ceia derradeira, à noite -, celebração de Sexta-feira Santa pela manhã, referência ao Sacro Imperador Romano-Germânico no "Exultet" - sendo que o Império havia caído há mais de cem anos etc). A nova Semana Santa, de 1951, além de corrigir essas anomalias, resgatou, com muita propriedade, certos elementos do rito primitivo (a incisão do alfa e do ômega no Círio Pascal, por exemplo), além de simplificar algumas cerimônias (diminuição de três para uma prece no Fogo Novo, e extinção dos candelabros auxiliares do Círio etc), e de, e é aí que quero chegar, permitir um desenvolvimento orgânico do rito (introdução da renovação das promessas do Batismo, para que os demais crentes se unissem ao Mistério Pascal celebrado no Batismo dos catecúmenos, bênção da água versus populum para que o povo visse a cerimônia, as velas dos fiéis acesas no Círio).

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Procissão e Coroação na diocese de Senhor do Bonfim - BA

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A Diocese de Senhor do Bonfim - BA comemorou seu jubileu nesse Domingo, dia 2 de Agosto. Um dos momentos marcantes dos festejos foi a procissão com a imagem de Nossa Senhora de Fátima, doada pelo Reitor do Santuário de Fátima, em Portugal, Pe. Virgílio Antunes, seguida da coroação feita por Dom Francisco Canindé Palhano, Bispo diocesano.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Cantus Selecti - do mosteiro beneditino de São Paulo, SP

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  • Adoro te devote (3m33.0s - 1457 kb)
  • Alleluia, psallite (1m13.3s - 571 kb)
  • Alma Redemptoris Mater (59.5s - 464 kb)
  • Ave, Maria (53.8s - 419 kb)
  • Offertorium Ave, Maria... et benedictus (2m03.4s - 1933 kb)
  • Ave Regina Cælorum (45.9s - 358 kb)
  • Hymnus Christe Redemptor (3m00.9s - 1237 kb)
  • Ecce nomen Domini Emmanuel (58.8s - 458 kb)
  • Antiphona Hodie Christus Natus est (56.4s - 386 kb)
  • Iesu dulcis memoria (1m40.0s - 685 kb)
  • Psalm 112, Laudate pueri, cum antiphona a solis ortu (2m12.5s - 778 kb)
  • Sequence Lauda, Sion, da Missa de Corpus Christi (5m49.8s - 2052 kb)
  • Litaniae sanctorum (6m11.4s - 5805kb)
  • Magnificat - 1D solemnis (6m58.3s - 2860 kb) (antiphona Exsultet omnium turba fidelium)
  • Magnificat - 8G2 solemnis (5m33.3s - 4558 kb) (das II Vésperas da Assunção)
  • Misericordias Domini (1m32.3s - 718 kb)
  • Panis angelicus I (1m15.5s - 1182 kb)
  • Pater noster (A) (56.0s - 437 kb)
  • Regina Cæli (34.2s - 267 kb)
  • Rorate Cæli (4m17.8s - 1763 kb)
  • Salve Regina (1m33.7s - 729 kb)
  • Tantum ergo I (1m10.9s - 485 kb)
  • Tantum ergo II (1m06.1s - 388 kb)
  • Tantum ergo III (1m09.9s - 410 kb)
  • Tantum ergo VII (1m09.6 - 476 kb)
  • Te Deum (Roman) (5m44.4s - 2679 kb)
  • Hymnus Veni, creator (2m30.1s - 1168 kb)
  • Sequentia Veni Sancte Spiritus da Missa de Pentecostes (2m29.7s - 2341 kb)
  • Responsorium Verbum caro factum est (1m55.3s - 789 kb)
  • Vexilla Regis (3m22.7s - 3168 kb)
  • Sequentia Victimæ paschali da Missa do Domingo de Páscoa (1m36.6s - 1510 kb)
  • sábado, 1 de agosto de 2009

    Fé em cores

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    Palma Giovane - Pasquale Cicogna celebrando a Santa Missa no Oratório de Crociferi
    1568-1587
    Óleo sobre tela
    Veneza


    Francisco Ribalta - Cristo abraçando São Bernardo
    1625-1627
    Óleo sobre tela
    Museu do Prado - Madri


    Velázques - Santo Ildefonso recebendo a casula da Virgem Maria
    1620
    Óleo sobre tela
    Museu de Belas Artes - Sevilha


    Exposição e Bênção do Santíssimo Sacramento - modo correto de realizar

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    Convém, antes de tudo, notar que a adoração ao Santíssimo NÃO é um ato litúrgico. Ela pode ser INSERIDA em um ato litúrgico, isso sim.

    Tanto é verdade que se pode adorar o Santíssimo no tabernáculo, em uma visita eucarística etc.

    Pois bem, passemos aditante.

    O Rito da Exposição e Bênção do Santíssimo Sacramento, previsto no Ritual Romano, consta de duas formas: a exposição simples e a exposição solene. Diferem-se porque a simples é feita com o Santíssimo no cibório, enquanto a solene é feita com o Santíssimo no ostensório, e também porque a solene pede pluvial, enquanto a simples não. Na forma solene, o incenso é obrigatório. Na simples, facultativo.

    Em ambas as formas, segue-se o mesmo esquema: exposição, adoração, bênção, reposição.

    A exposição simples pode ser feita por um sacerdote, por um diácono, ou, em casos extraordinários, por um leigo. Sendo feita por um leigo, não dá a bênção, terminando o rito com a mera reposição.

    Já a exposição solene só pode ser feita por sacerdote e diácono.

    Servem ao ministro da exposição alguns acólitos, idealmente, na forma solene, em número de três (podendo ser dois ou até um, em caso de necessidade).

    O sacerdote e o diácono, ministros ordinários da Exposição do Santíssimo, usarão ou ALVA (com ou sem CÍNGULO, com ou sem AMITO), caso não estejam de veste talar, ou, quando com ela estiverem, vestirão por cima a SOBREPELIZ. Quer usem alva, quer usem veste talar com sobrepeliz, sempre estarão com a ESTOLA de cor branca. A veste talar do Bispo pode ser tanto a violeta quanto a preta com faixa violeta.

    No fim da adoração, o sacerdote e o diácono vestirão o PLUVIAL de cor branca e, se for Exposição Solene, i.e., com ostensório, usarão o VÉU UMERAL, também branco, para segurá-lo ao dar a bênção. Na Exposição Simples, com cibório, não estará o ministro ordinário de pluvial, apenas com o véu umeral. Também se usa véu umeral para buscar o Santíssimo Sacramento quando se encontrar em outro local que não o da Exposição. Em qualquer procissão com o Santíssimo Sacramento no ostensório, o sacerdote ou diácono usará o pluvial.

    O acólito, quer atue como auxiliar do ministro ordinário, quer como ministro extraordinário – nos casos previstos pela lei litúrgica –, usará ou a alva (e o cíngulo e o amito) ou a sobrepeliz sobre a veste a talar. Os demais leigos podem tanto vestir-se como o acólito, quanto se apresentar com sua roupa civil comum, mas adequada à solenidade da celebração litúrgica, ou ainda usar uma veste litúrgica aprovada pelo Ordinário.

    Com base na Exposição Solene, sabe-se como fazer a simples, eis que basta tirar a obrigatoriedade do incenso, não usar pluvial, e mudar o ostensório pelo cibório.

    Rito explicado da Exposição Solene

    1. Exposição: O ministro, de alva e estola (ou batina, sobrepeliz e estola) abre o sacrário, com toda a reverência, e todos se ajoelham, em adoração ao Santíssimo Sacramento. Os acólitos vão ao seu lado. Entoa-se um canto eucarístico (exemplo: Ave verum Corpus, ou as primeiras estrofes do Pange Lingua, ou o Adoro te devote etc), enquanto o ministro coloca o Santíssimo Sacramento no ostensório, e este no local apropriado (um trono ou sobre o corporal que estará aberto no altar). O Santíssimo Sacramento é incensado, conforme o rito aprovado no Ritual Romano. O ministro, com o ministro e os acólitos versus Deum.

    2. Adoração: O ministro e os acólitos podem ficar em adoração, mas sempre versus Deum, não "escondidos" atrás do altar, versus populum. Podem também se retirar. A adoração é livre: pode-se rezar o terço, ficar em silêncio, ler o Evangelho, fazer uma meditação, pregar, cantar, louvar etc. Geralmente é a parte do rito em que as características próprias de uma espiritualidade específica são postas "em prática". Pode-se também rezar um ofício da Liturgia das Horas, mas nunca, no rito romano moderno, a Santa Missa. Finda a adoração, o ministro e os acólitos se aproximam para rezar em silêncio. O ministro estará com o pluvial por cima das demais vestes.

    3. Bênção: Todos cantam, de joelhos, diante do Santíssimo Sacramento, um hino eucarístico, de preferência o Tantum Ergo (i.e., as duas últimas estrofes do Pange Lingua), quer uma das suas melodias gregorianas, quer uma versão do mesmo hino em polifonia, quer ainda sua versão popular (em latim ou vernáculo). Na segunda estrofe, o ministro levanta-se e incensa o Santíssimo Sacramento, com o auxílio do acólito, se houver. Os demais fiéis permanecem de joelhos. Depois de incensar e cantar o Tantum Ergo, o ministro diz: "Do céu lhes destes o pão." E todos respondem: "Que contém todo o sabor." E o ministro: "Oremos: Senhor Jesus Cristo, que neste admirável sacramento...", terminando com "Vós que viveis e reinais pelos séculos dos séculos", ao que todos respondem: "Amém." O acólito coloca o véu umeral no ministro, por cima do pluvial. Segurando o ostensório com o véu umeral, o ministro, auxiliado pelo acólito, abençoa a todos com o Santíssimo Sacramento, que é incensado segundo as rubricas. Em seguida, podem-se rezar preces conforme a devoção pessoal ou estiver estabelecido a conferência episcopal: no Brasil, reza-se o "Bendito seja Deus", em português ou latim. Nessas preces, o ministro fica, novamente, ajoelhado.

    4. Reposição: O ministro e os acólitos se levantam. O ministro, então, abre a luneta do ostensório, e pega o Santíssimo, colocando-o no cibório, e guardando-o no tabernáculo, enquanto se pode cantar um canto eucarístico (por exemplo, o Adoremus in aeternum)

    Velas

    No mínimo duas, mas o normal são quatro para a exposição simples e seis para a solene.

    Pode-se apagar a luz, mas vejo sentido e vai contra a tradição litúrgica romana, além de criar um clima "emocional" demais. As trevas são características do Ofício de Leituras e Laudes celebrados conjuntamente na Quinta, Sexta e Sábado Santos, não da Exposição. Mas, se for pastoralmente conveniente, as rubricas não proíbem.

    Presença do ministro durante a adoração no Rito

    A exposição solene (i.e., com ostensório) é feita SEMPRE por diácono ou sacerdote. Mas ele não precisa ficar todo o tempo na adoração. O diácono ou sacerdote expõe, depois pode se retirar, e volta só na hora da reposição. Na adoração perpétua, essa reposição é feita por ocasião da Missa, se houver, ou quando não tiver mais ninguém em oração, ou ainda em momento determinado pelos costumes locais.

    Procissão com o Santíssimo

    Se houver procissão do Santíssimo, ela é feita antes da bênção, como forma de adoração, ou mesmo depois da bênção. O primeiro caso é o mais comum. Se o Santíssimo está em outro local, a procissão é o tempo que decorre de sua retirada até a colocação em exposição para adoração. Todas essas formas são lícitas.

    Mas é preciso atentar para uma coisa. Se na exposição sem procissão, o padre vai até o tabernáculo que está no próprio local e retira o Santíssimo para colocar no ostensório, sem estar com pluvial nem umeral (apenas alva e estola, ou batina, sobrepeliz e estola), no caso de estar o Santíssimo em outro local, já que há procissão, ele estará, desde o início dela, com pluvial e umeral. Não basta só um deles. Nem se pode deixar os dois. O mesmo para procissões antes ou depois da bênção: procissão eucarística sempre é com pluvial e umeral.

    Pode-se fazer em locais fechados ou abertos.

    Umbela e baldaquino

    A sombrinha é a umbela (isso, sem o "r", mas a origem etimológica é a mesma), também chamada pequeno pálio. Já a cobertura maior, com as hastes laterais, é o baldaquino móvel, dossel ou grande pálio.

    É obrigatório quando a procissão é feita em local aberto. Facultativa em local fechado.
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