Nossos Parceiros

quarta-feira, 3 de março de 2010

Sacerdote Militar oferece simplicidade e dignidade nos pavilhões improvisados do Haiti

View Comments
O Capitão Capelão Pe. João Batista, membro da BRABATT 2 - Batalhão de Infantaria Brasileiro de Força de Paz, do 12º Contingente "BRAVO", mostra-nos que não há limite para quem ama o Senhor, presente em nossos altares. Com simplicidade e dignidade, superando os limites vigentes deste pobre e sofrido país, celebra para os militares dando-lhes o único alimento de suas almas: O PÃO DA VIDA!
Meu Senhor e meu DEUS!
OMNIS HONOR ET GLORIA

terça-feira, 2 de março de 2010

Missa Afro = Inculturação?

View Comments

Se fizermos uma pesquisa rápida no You Tube com os termos “Missa Afro”, teremos um retorno de várias páginas de vídeos, dentre os quais, destaquei, com indignação, os vídeos abaixo.

Os defensores da chamada “Missa Afro” dizem ser uma inculturação a fim de contemplar a cultura afro-brasileira, mas, e, nisso concordo com D. Estêvão Bettencourt, “o espetáculo daí resultante não atingiu a sua finalidade, que era elevar as mentes a Deus em atitude de oração; lembrou muito mais os festejos folclóricos do nosso povo, associados a Carnaval e a cultos não cristãos”.

A inculturação tem como finalidade transmitir as verdades do evangelho, apresentando-as de forma que os destinatários as possam compreender e viver, aproveitando as expressões culturais de povos não-europeus, que guardam, assim, sua identidade. Não é tarefa das mais fáceis, podendo fácilmente descambar para o abuso, como se pode verificar dos vídeos.

Inculturar é assumir, dentre os elementos da cultura (linguagem, gastos, símbolos…) de cada povo, aqueles que possam ser veículos fiéis e dignos da fé católica, não deteriorada nem adulterada. (…)Quaisquer que sejam os gestos e sinais aplicados à Liturgia, deverão sempre contribuir para que se levem as mentes a Deus numa atitude de oração e adoração. Caso este objetivo não seja atingido, mas, ao contrário, se provoque dispersão e perplexidade entre os fiéis, os símbolos não podem ser considerados autênticos.*

Não, o Concílio Vaticano II não chancela a – desculpem o termo, mas é o que cabe na minha indignação – palhaçada que são as Missas Afro:

“A Igreja não deseja impor na Liturgia uma forma rígida e única para aquelas coisas que não dizem respeito à fé (para aquelas coisas que dizem respeito a fé, não pode haver flexibilização) ou ao bem de toda a comunidade. Antes, cultiva e desenvolve os valores e os dotes de espírito das várias nações e povos. O que quer que nos costumes dos povos não esteja ligado indissoluvelmente a superstições e erros, Ela o examina com benevolência e, se pode, o conserva intato. Até, por vezes, admite-o na própria Liturgia, contanto que esteja de acordo com as normas do verdadeiro e autêntico espírito litúrgico (ou seja, o que é superstição, erro e contrário à fé e ao espírito litúrgico, não pode ser inserido na liturgia !)” (Constituição Sacrosanctum Concilium n° 38).

Importante ainda destacar o que diz a Instrução Varietates Legitimae, que trata do assunto (n° 30 e 37):

Para preparar una inculturación de los ritos, las Conferencias episcopales deberán contar con personas expertas tanto en la tradición litúrgica del rito romano como en el conocimiento de los valores culturales locales. Hay que hacer estudios previos de carácter histórico, antropológico, exegético y teológico. Además, hay que confrontarlos con la experiencia pastoral del clero local, especialmente el autóctono . El criterio de los «sabios» del país cuya sabiduría se ha iluminado con la luz del Evangelio, se rá también muy valioso. Asimismo la inculturación tendrá que satisfacer las exigencias de la cultura tradicional aun teniendo en cuenta las poblaciones de cultura urbana e industrial.

Las adaptaciones del rito romano, también en el campo de la inculturación, dependen únicamente de la autoridad de la Iglesia. Autoridad que reside en la Sede apostólica, la ejerce por me dio de la Congregación para el culto divino y la disciplina de los sacramentos (Somente a Santa Sé, pela Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos pode autorizar a inculturação) (78); y, en los límites fijados por el derecho, en las Conferencias episcopales (79) y el obispo diocesano (80). «Nadie, aunque sea sacerdote, añada, quite o cambie cosa alguna por iniciativa propia en la liturgia»** (81). La inculturación, por tanto, no queda a la iniciativa personal de los celebrantes, o a la iniciativa colectiva de la asamblea (82) (Ou seja, não é assim, à la vonté !).

As Missas Afro que se vêem aos montes por aí não cumprem nenhum dos requisitos para a inculturação, não podendo ser consideradas como tal. São fruto do desconhecimento do verdadeiro espírito da liturgia e da desobediência das normas prescritas pela Santa Sé.

Voltando à pesquisa no YouTube, o que mais revolta é que muitos dos vídeos postados o foram por padres, ou seja, aqueles que deveriam ser os guardiões da Sagrada Liturgia são os primeiros a promover os abusos. Nesse Ano Sacerdotal, rezemos pelos nossos sacerdotes e cuidemos dos nossos seminários, para que sejam formados sacerdotes mais conscientes de sua responsabilidade com a Liturgia.

*Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS” – D. Estevão Bettencourt, osb. – Nº 403 – Ano 1995 – Pág. 560

**Ninguém, ainda que seja sacerdote, adicione, retire ou modifique coisa alguma por iniciativa própria na liturgia.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

O que é a Missa Pontifical?

View Comments
Normas gerais

É a Missa solene cantada pelo Bispo, ou a concelebração cantada presidida pelo Bispo. Pelo novo Cerimonial dos Bispos pós-conciliar, essa Missa é chamada agora “Missa estacional”. Mantivemos, entretanto, a denominação “Missa pontifical” para melhor compreensão do assunto, e por ser mais conforme a tradição litúrgica.

Há, como visto, dois tipos de Missa pontifical: concelebrada ou não. A concelebrada não precisa ser solene, i.e., não requer a presença de diácono, mas que não for concelebrada necessita ser. Em outras palavras, a Missa pontifical pode ser concelebrada (simples ou solene), e não-concelebrada (solene apenas).

Em qualquer dos casos, ela é cantada. Sempre cantada.[i] Se não for cantada, ainda que solene, não será pontifical. E se for cantada, porém não solene, também não será pontifical, exceto se for concelebrada. A única forma de uma Missa simples, i.e., sem diáconos, cantada pelo Bispo ser pontifical se dá quando houver concelebração, quando, então, alguns sacerdotes fazem suas vezes e sempre concelebram. Podem, claro, alguns sacerdotes só assistir, desde que outros concelebrem para fazer as vezes do diácono. Se houver diáconos, não é preciso ter sacerdotes concelebrando.

-> Tipos de Missa pontifical: solene e cantada; concelebrada (solene ou simples) e cantada.

-> Ministros. Atentar para os diáconos que o acompanham, ou, em sua falta, os sacerdotes auxiliares. Assistentes ao livro (librífero), ao báculo (baculífero) e à mitra (mitrífero), com vimpas. Na falta de vimpas, que não são fáceis de achar em face da enorme crise litúrgica em que vivemos, alguns cerimoniários sugeriram que os assistentes podem usar luvas brancas para segurar a mitra, o báculo e os livros.

-> Diáconos assistentes (dois) – ou sacerdotes auxiliares que concelebrarão e se apresentarão vestidos com paramentos sacerdotais –, diácono (um ou dois: do altar e da Palavra), sacerdotes concelebrantes (se não houver diáconos, esses concelebrantes fazem as vezes quer dos diáconos assistentes, quer dos diáconos propriamente ditos, mas vestidos com paramentos sacerdotais), turiferário, naveteiro, tocheiros etc (listar todos). Os sacerdotes concelebrantes (inclusive auxiliares, se não houver diáconos) poderão ser Bispos, aliás. Quando a Missa Pontifical for celebrada pelo Papa, os diáconos-assistentes podem ser Cardeais-diáconos, ainda que Bispos ou presbíteros (lembremos que a divisão do cardinalato em Cardeais-Bispos, Cardeais-presbíteros e Cardeais-diáconos tem a ver com a precedência e a honra, e não com o fato de serem de tal ou qual graus do sacramento da Ordem; assim, um Cardeal-Bispo só pode ser Bispo, mas um Cardeal-presbítero pode ser presbítero ou Bispo, e um Cardeal-diácono pode ser diácono, presbítero ou Bispo; nos dias de hoje, a esmagadora maioria dos Cardeais, mesmo Cardeais-presbíteros e Cardeais-diáconos, são Bispos). Os Cardais-diáconos, portando-se como diáconos-assistentes na Missa Pontifical celebrada pelo Papa, usam alva (e cíngulo e amito), com estola e dalmática, como qualquer diácono-assistente, mas por serem Bispos levarão também a mitra simples. A cena é muito interessante: dois personagens vestidos como diáconos, exceto pelo fato de usarem mitra!

-> Cerimoniário: obrigatório!

Na igreja catedral, se estiver presente o Cabido, convém que todos os cônegos concelebrem com o Bispo a Missa estacional, sem com isto excluir os outros presbíteros.

Os Bispos porventura presentes e os cônegos não concelebrantes devem apresentar-se de hábito coral.[ii]

-> Clero em vestes corais, especialmente os Bispos presentes não-concelebrantes, os cônegos do Cabido Catedralício e os monsenhores. Demais clérigos em vestes corais: presbíteros e diáconos.

-> Pontificalia: dalmática pontifical, cruz peitoral, mitra, anel, báculo e luvas. Dalmática e luvas são facultativas, mas a primeira é vivamente recomendada e vem prevista, como sugestão, nos livros litúrgicos, enquanto as segundas apenas se podem usar para manter a tradição milenar do rito romano. http://rubricsandritual.blogspot.com/2007/09/episcopal-gloves.html

-> Na Missa pontifical em sua catedral, o Bispo Diocesano senta na cátedra, também chamada de trono. Bispo auxiliar, coadjutor, emérito, ou de outra Diocese, senta no faldistório ou alguma outra cadeira sem aspecto de cátedra,[iii] ou, com autorização do Bispo Diocesano, no trono. Quando um Bispo visita uma igreja, oratório ou capela, pela ausência da cátedra, senta no faldistório ou em uma cadeira presidencial mais bonita e especialmente arranjada.

-> Pode-se manter o costume de unir a Missa Pontifical a um ofício da Liturgia das Horas, sobretudo a hora canônica de Terça.

-> A Missa Pontifical “ideal”: Bispo, cerimoniário, diácono do altar, diácono da Palavra, dois diáconos assistentes, todos os acólitos, incluindo ceroferários e tocheiros, com ou sem concelebrantes, clérigos em veste coral, librífero, baculífero, mitrífero.

O que se deve preparar

Se for uma igreja que não seja a catedral, prepare-se um trono ou uma cadeira digna que a ele se assemelhe, ou, então, um faldistório. O trono fica ou atrás do altar, em posição destacada, ou ao seu lado (quer em direção ao altar, quer em direção ao povo), ou ainda à sua frente. O faldistório ao lado do altar ou, preferencialmente, à frente.

-> Credência de onde partirá a procissão das oferendas.

-> Paramentos do Bispo: amito, alva, cíngulo, estola, dalmática pontifical, cruz peitoral, casula, báculo e anel, mitra (ornada ou simples, dependendo da situação), e, eventualmente, luvas pontificais.

-> Paramentos dos demais sacerdotes, diáconos e acólitos.

-> Paramentos do cerimoniário.

-> Vestes corais dos clérigos e religiosos. Vestes corais do Bispo, se houver solene recepção, vestição e procissão.


[i] cf. CB, 121.

[ii] ibidem, 123

[iii] cf. ibidem, 47

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Segundo Domingo da Quaresma - Tibi dixit cor meum

View Comments
O Salmo 26, em seus versículos 8 e 9, fala da face e do semblante de Deus.

8. Fala-vos meu coração, minha face vos busca; a vossa face, ó Senhor, eu a procuro.
9. Não escondais de mim vosso semblante, não afasteis com ira o vosso servo. Vós sois o meu amparo, não me rejeiteis. Nem me abandoneis, ó Deus, meu Salvador.
Utilizo aqui a edição Ave Maria da Bíblia, peço que o leitor leia estes versículos também na sua boa versão preferida da Escritura. Este texto é utilizado no Introito da Festa da Transfiguração do Senhor, 6 de Agosto.

No Segundo Domingo da Quaresma é lida do Evangelho precisamente a passagem que narra este acontecimento maravilhoso presenciado pelos santos apóstolos. O Introito prescrito pela Igreja para esta data litúrgica, assim, é o mesmo da Festa da Transfiguração. Em latim seu nome é Tibi dixit.

O leitor talvez já tenha percebido que o “nome” dado aos Introitos (e também aos Ofertórios e Comunhões) é o da primeira ou primeiras palavras do seu texto (costume adotado também para documentos papais e conciliares).

Não há identificação do cantor deste vídeo; se alguém tiver essa informação, com prazer eu a adicionarei aqui.

O rapaz canta o antífona; adiciona um versículo do Salmo 26 (versículo 1); repete o antífona; canta o Gloria Patri (Glória ao Pai) e a antífona novamente. Abaixo do vídeo, um pequeno guia.



0:09 – 0:50 – a antífona.Tibi dixit cor meum, quaesivi vultum tuum, vultum tuum Domine requiram: ne avertas faciem tuam a me. São os versículos 8 e 9 do Salmo 26 (um pouco abreviados).

0:51 – 1:06 – aqui o cantor já adiciona um versículo do salmo 26, o versículo 1. Isto não é obrigatório, mas se trata de um costume já muito tradicional; com freqüência será conveniente adicionar um ou mais versículos para cobrir toda a ação da procissão de entrada. Se o cantor não souber cantar versículos adicionais, pode-se repetir a antífona. O versículo: Dominus illuminatio mea et salus mea: quem timebo? – o Senhor é minha luz e salvação; a quem temerei?

1:07 – 1:47 – a antífona é cantada novamente. Tibi dixit...

1:49 – 2:14 – a doxologia: Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo...

2:15 – final – a antífona é cantada novamente.

Certas sutilezas de interpretação e de afinação presentes nesta execução do canto que vemos no vídeo acima nos fazem pensar numa influência oriental, além da própria filiação oriental do canto gregoriano. Ele provavelmente seja derivado de música cantada na liturgia judaica de antes do Messias.

No vídeo abaixo, o professor Giovanni Vianini, de Milão, canta o mesmo Tibi dixit. Antífona, versículo e antífona de novo, sem o Gloria Patri.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Missa em rito bizantino, na paróquia pessoal dos russos católicos orientais do Brasil

View Comments
Texto e fotos do excelente blog: http://opulentiamonachicus.blogspot.com/

Essas fotos foram tiradas durante a Divina Liturgia, da solenidade da Natividade de Nosso Senhor Jesus Cristo, na capela Nossa Senhora da Anunciação, paróquia pessoal dos Católicos Russos, de Rito Bizantino.

Essa capela é a unica no Brasil destinada aos russos que professam a religião Católica.

A Igreja Russa, é um grande exemplo da correta inculturação dentro da liturgia, como por exemplo, o bom uso da lingua vernácula (o eslavônio), e dos ícones russos.






Procissão do Evangelho




Comunhão dos fiéis
Benção da agua

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Música Litúrgica - o Salmo Responsorial

View Comments
Dando seqüência às nossas sessões de compreensão do Próprio da Santa Missa, chegamos agora ao seu segundo item: o Salmo Responsorial. Se o primeiro item que vimos, o Introito, é desconhecido de muitos, o mesmo não pode ser dito do Salmo Responsorial que, bem ou mal, parece ser feito na maioria das igrejas.

O adjetivo responsorial deriva da palavra responsório, por sua vez ligada à palavra resposta. Esta “resposta”, entretanto, não é resposta à leitura bíblica que precede o Salmo Responsorial, e sim o refrão. A maioria dos fiéis sabe que o Salmo Responsorial possui um refrão que, geralmente, é cantado ou recitado pela assembleia.

Os salmos, em seu texto original, não trazem refrão; porém, na Liturgia um refrão é introduzido, selecionado entre os versículos do próprio salmo. Serve para sublinhar, por assim dizer, o caráter e o espírito daquele salmo específico.

Nos Domingos e solenidades sabemos que, além do Evangelho, são feitas duas leituras. O Salmo Responsorial, nestes casos, posiciona-se entre elas. Nos outros dias litúrgicos, além do Evangelho é feita somente uma leitura; quando é assim, o Salmo Responsorial posiciona-se depois dessa leitura única.

Assim, estamos habituados, nas Missas dominicais, a ter o Salmo Responsorial intercalado; quando ele termina, ainda temos a segunda leitura antes de ficarmos em pé para o Evangelho. Nos dias de semana, porém, terminado o Salmo Responsorial, já nos levantamos para o Evangelho – ou melhor: para o terceiro item do Próprio, comumente chamada “aclamação ao Evangelho”.

No Brasil os textos usados para o Salmo Responsorial, impressos no Lecionário, são metrificados. É muito importante que o caro leitor compreenda o que significa isto. A quantidade de sílabas é medida, assim como os seus acentos. Isto não acontece num texto como, digamos, as Cartas de São Paulo, ou uma notícia de jornal, ou este artigo. Estas quantidades medidas são características da poesia. Em sua infância o leitor certamente aprendeu estes versos:

Batatinha quando nasce / se esparrama pelo chão

Mesmo que tenha sido na versão espalha a rama pelo chão. Intuitivamente, o leitor aprendeu que esses versos não podem ser proferidos de qualquer jeito. É necessário fazer a correta acentuação; não só a correta acentuação de cada palavra, mas a correta acentuação de um verso inteiro. Portanto, posso apostar em que o leitor pronuncia com ênfase as sílabas que coloco em destaque:

Batatinha quando nasce / se esparrama pelo chão

Qualquer outra acentuação fica antinatural. Os acentos e as quantidades são um aspecto musical da poesia – pois bem; falei do acento, mas ainda não da quantidade. Então repare o leitor que os acentos caem precisamente na terceira e na sétima sílabas de cada verso.

Ba-ta-ti-nha quan-do nas-ce / s’es-par-ra-ma pe-lo chão

Veja que no início do segundo verso juntei duas sílabas (“se es-...”) em uma (“s’es”), que é como pronunciamos.

Lembrando também que as sílabas poéticas devem ser contadas somente até a última sílaba tônica, temos ali versos de sete sílabas.

Mas que tem isso a ver com o Salmo Responsorial? Tudo, pois usamos uma versão metrificada do Saltério (o livro dos Salmos), impressa, a propósito, com o nome de Saltério Litúrgico, pelas Edições Lumen Christi. É a tradução oficial da CNBB. Ainda que o Salmo Responsorial seja só recitado, na Missa (e não cantado), este conhecimento é importante para proferi-lo com beleza.

Para mostrar um exemplo ao leitor, tomo o Salmo 1. Seu primeiro versículo é assim traduzido pela Bíblia Ave Maria:

Feliz o homem que não procede conforme o conselho dos ímpios, não trilha o caminho dos pecadores, nem se assenta entre os escarnecedores.

Não é um texto metrificado. Nem precisa ser, isto é importante lembrar. Na Liturgia, a princípio, também não existe esta obrigatoriedade. Entretanto, em alguns países existe este hábito de metrificar os salmos, e este hábito não é novo. É uma escolha tão legítima quanto não metrificar.

O Saltério Litúrgico, cujas traduções metrificadas são as utilizadas pelo Lecionário, traduz assim o primeiro versículo do Salmo 1:

Feliz é todo aquele que não anda
Conforme os conselhos dos perversos
Que não entra no caminho dos malvados
Nem junto aos zombadores vai sentar-se.

Quando o Salmo 1 é o Salmo Responsorial da Missa, é isto mesmo que vemos. Cada verso tem dez sílabas poéticas, com acentos na segunda, na sexta e na décima sílabas (o terceiro verso tem onze sílabas, basta considerá-lo como verso de dez sílabas com uma sílaba extra no início).

O mesmo que transcrevi acima escrevo de novo, marcando as sílabas fortes, acentuadas, de cada verso.

Feliz é todo aquele que não anda
Conforme os conselhos dos perversos
Que não entra no caminho dos malvados
Nem junto aos zombadores vai sentar-se.

Os livros litúrgicos costumam imprimir os Salmos com as sílabas fortes de cada verso em negrito. No meu exemplo também sublinhei, para chamar mais atenção.

É comum que me perguntem por que nos livros da Liturgia das Horas existem essas sílabas impressas em negrito. É justamente por isso. Posicionar corretamente os acentos na recitação do salmo é fundamental para uma realização bela da Liturgia.

Outra pergunta comum a respeito destes salmos metrificados faz menção a alguns símbolos que costumam ser usados nelas. Um deles é o asterisco, que aparece no fim de alguns versos.

Feliz é todo aquele que não anda *
Conforme os conselhos dos perversos
Que não entra no caminho dos malvados *
Nem junto aos zombadores vai sentar-se.

Neste tipo de tradução os versos dos salmos são agrupados de dois em dois e, às vezes, de três em três. O asterisco indica o final do primeiro verso de um grupo de dois versos; no exemplo acima, são dois grupos de dois versos.

Quando aparece um grupo de três versos, o asterisco indica o final do segundo, e uma cruz indica o final do primeiro. No Salmo 58, os versículos 3 e 4 são traduzidos como uma estrofe de cinco versos: um grupo de dois e um grupo de três:

Eis que ficam espreitando a minha vida, *
Poderosos armam tramas contra mim.
Mas eu, Senhor, não cometi pecado ou crime;
Eles investem contra mim sem eu ter culpa: *
Despertai e vindo logo ao meu encontro!

Esses símbolos ajudam o salmista a cantar o salmo segundo as fórmulas gregorianas. Ao ver o asterisco, ele sabe que cantará a terminação de um grupo de dois versos; ao ver a cruz, ele sabe que cantará a terminação do primeiro verso de um grupo de três versos.

As “fórmulas gregorianas” a que me refiro são também chamadas de tons salmódicos; são “clichês” melódicos (sem conotação negativa da palavra “clichê”) utilizados, por exemplo, para cantar versos adicionais do Introito e de outras partes do Próprio da Missa. Na Liturgia das Horas, pode-se usar uma dessas fórmulas para todo um salmo; elas são também apropriadas para o Salmo Responsorial da Missa, tanto para o refrão como para os versos. Não são, entretanto, a única possibilidade.

Pode-se perfeitamente compor música para o Salmo Responsorial. O mais comum é que se utilize uma melodia para o refrão e, para os versos, algum tipo de fórmula gregoriana ou parecida com as fórmulas gregorianas. Em alguns lugares existe a prática de a assembleia cantar o refrão e o salmista ler os versos. Pessoalmente, não gosto, mas a IGMR parece aprovar: (...)De preferência, o salmo responsorial será cantado, ao menos no que se refere ao refrão do povo. (...) (IGMR, 61). De qualquer modo, a IGMR fala em “preferência”, o que indica um ideal, mas não uma obrigação.

Fica claro, pela instrução do Missal, que o refrão cabe à assembleia. Ao mesmo tempo, a natureza do Salmo Responsorial permite concluir que a música composta para esse mesmo refrão deve ser relativamente simples. Com “relativamente” tento dizer que precisa ser compreensível para os fiéis, de modo que possam repeti-lo imediatamente. É costume que o Salmo Responsorial comece com o refrão cantado pelo cantor sozinho, após o que os fiéis o repetem. Parece-me ideal que este refrão não precise ser “ensaiado” antes da Missa, mas devo enfatizar que isto se trata de uma opinião pessoal. Uma assembleia que tenha noções de escrita musical pode aprender um refrão menos óbvio com mais rapidez, situação que acontece em alguns países. Porém, mesmo sem este conhecimento, há inúmeras fórmulas e melodias simples que dispensam ensaios com os fiéis.

Com base em situações que já presenciei, eu gostaria também de dizer que me parece ideal que o salmista, ao proceder ao canto ou à leitura do Salmo Responsorial, limite-se a este encargo. São péssimas quaisquer outras falas como “vamos cantar o Salmo”, ou “nossa resposta ao salmo é...”, ou “todos deverão repetir...” etc.

No mais, convém observar o nº102 da IGMR: Compete ao salmista proclamar o salmo ou outro cântico bíblico colocado entre as leituras. Para bem exercer a sua função é necessário que o salmista saiba salmodiar e tenha boa pronúncia e dicção. “Saber salmodiar” inclui conhecer (mesmo que intuitivamente, em certos casos) as questões métricas de que falei anteriormente e, no caso do canto, conhecer as fórmulas gregorianas e, sendo possível outras fórmulas e melodias.

Por que o nº102 da IGMR fala em “salmo ou outro cântico bíblico”? Em alguns casos, o Salmo Responsorial toma seu texto não dos salmos, mas de algum cântico como o Magnificat (do Evangelho segundo São Lucas), de um dos vários cânticos do Livro do Profeta Isaías etc. E aqui falo da Missa: na Liturgia das Horas são usados muitos cânticos bíblicos que não são salmos, e sua tradução também aparece no Saltério Litúrgico, sendo em número de setenta e cinco!

Vários compositores de música litúrgica se têm debruçado sobre a tarefa de compor refrãos de Salmo Responsorial. Mostro aqui vídeos de dois exemplos. O primeiro é do padre francês Joseph Gelineau (1920-2008), cujo trabalho foi adaptado em outras línguas. Aqui vemos seu uso numa igreja da Carolina do Sul; trata-se do tão conhecido Salmo 22 (ou 23).



No vídeo seguinte, o mesmo salmo, desta vez com refrão de Jeff Ostrowski (nascido em 1981). Jeff conduz o projeto Chabanel Psalms, para o qual compôs e reuniu refrãos de Salmo Responsorial para todos os Domingos e festas do ano litúrgico. Num momento oportuno falarei deste importantíssimo projeto de música litúrgica, com o qual tenho contribuído com algumas peças; por outro lado, também tenho adaptado algumas composições de Jeff para o português. O vídeo é demonstrativo, e não foi feito durante a Missa.



Estou certo de que há no Brasil igrejas em que o Salmo Responsorial é bem realizado, mas não tenho encontrado vídeos. Minha ideia era a de encontrar também vídeos de Salmos Responsoriais em outros idiomas (que não português nem inglês) para trazer variedade, mas também não os tenho encontrado.

*

No lugar do Salmo Responsorial pode ser usado o Gradual. Falarei dele na próxima vez.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O rito extraordinário e a reforma da reforma

View Comments

Com o Motu Proprio Summorum Pontificum, Papa denominou o rito romano antigo de “forma extraordinária do rito romano”. Qual o sentido dessa expressão?

Antes de tudo, cumpre salientar que a forma extraordinária, ou rito antigo, ou rito tradicional, ou Missa tridentina, está em pé de igualdade com a forma ordinária, assegura o mesmo Papa. Segundo a Cúria Romana e pronunciamentos do Pontífice, ela deve ser amplamente promovida e difundida, os Bispos não lhe podem empecilhos, todos são convidados a celebrá-la ou assisti-la etc.

É lícito, ademais, argüir que essa forma extraordinária contém elementos que talvez não devessem ter sido removidos quando da reforma litúrgica de Paulo VI, ou que ela representa melhor a nossa cultura que não é puramente romanas, mas mesclada com os elementos culturais galicanos e, enfim, se encaixa mais perfeitamente na esteira do desenvolvimento harmônico da liturgia...

Todavia, esse modo de celebrar o rito romano como celebrava a Igreja latina até 1970 é hoje uma forma extraordinária, não a ordinária. O que quer dizer o Papa com isso?

Podemos difundir a forma extraordinária. Podemos amar a forma extraordinária. Podemos querer que a forma extraordinária esteja em todas as dioceses. Mas, além disso, é preciso promover a forma ordinária bem celebrada, justamente porque ela é, ordinária, comum, usual, majoritária. Aliás, o Papa fala de mútua influência entre as formas, e um dos modos disso acontecer é justamente popularizando a Missa antiga para que aqueles que celebram mal a Missa nova possam fazer uma comparação e se empenhar na correta celebração também dessa nova.

Com o tempo, por uma “reforma da reforma” que seja orgânica, é bem possível que elementos antigos da Missa e extirpados nos anos 70, hoje encontrados na forma extraordinária, sejam reincorporados ao rito usual de Paulo VI. Teríamos, assim, no futuro, um rito romano unificado, com textos, rubricas e cerimônias das duas formas: “o melhor” dos dois Missais, diríamos em linguagem popular.

Antes que isso acontece, e independentemente de acontecer, o indulto universal para a forma extraordinária deve, além de favorecer um espírito de tolerância entre os diversos grupos presentes na Igreja – tolerância essa que deve conduzir à caridade fraterna e aceitação plena –, criar condições para que o esplendor e a sacralidade – normais na forma extraordinária justamente porque, além de contar com rubricas mais precisas e detalhadas, ela é a procurada por católicos insatisfeitos com a verdadeira bagunça ritual na maioria das paróquias – sejam “populares” também na forma ordinária.

Quem vê a Missa celebrada pelo Papa, ou as Missas dos Legionários de Cristo, dos padres do Opus Dei, dos Cônegos Regulares de São João Câncio, dos Missionários Franciscanos do Verbo Eterno, dos Franciscanos da Imaculada, e de uma série de mosteiros beneditinos e cistercienses, encontra uma forma ordinária, moderna, do rito romano, bem celebrada, com sacralidade, respeito às rubricas, latim, incenso, padre eventualmente versus Deum, e o adequado esplendor litúrgico. Uma Missa assim não afasta os que procuram a forma extraordinária para fugir ao caos – ainda que possam torcer o nariz também para ela alguns mais radicais daqueles que preferem a Missa antiga por razões teológicas, criticando a nova por supostos defeitos. Também não afasta os que preferem a Missa antiga e a consideram mais adequadamente transmissora do ensinamento eucarístico, mas respeitam a nova e sabem-na não só válida, como lícita, legítima e santificante – como é o caso da Administração Apostólica, da Fraternidade São Pedro, do Barroux, dos redentoristas transalpinos de Papa Stronsay, do Instituto Cristo Rei etc.

Promover que a Missa, na forma ordinária mesmo, seja celebrada conforme as rubricas – e isso não deixa de ser uma aproximação externa entre as duas formas – é também fazer o que pede o Papa.

O rito extraordinário é isso: extraordinário. Façamos sua promoção! Mas não esqueçamos de promover o ORDINÁRIO, o comum que encontramos nas nossas paróquias, para que seja melhor celebrado. Pouco adianta termos, lado a lado, uma excelente e piedosa Missa tridentina, e uma Missa nova mal celebrada, desdenhosa do latim, do incenso, do versus Deum e do gregoriano, com padres sem casula, sem sacralidade e sem amor às rubricas... A Missa antiga não é a “versão da Missa para conservadores” e a nova também não é a “versão para os que aceitam a bagunça”. Se a forma extraordinária deve ser difundida, a forma ordinária, tal como celebrada hoje na imensa maioria do Brasil, deve ser reconduzida ao lugar em que figura no Missal. Se a extraordinária precisa ser promovida, o modo como se oferece a ordinária na grande maioria das paróquias brasileiras deve ser corrigido.

Queremos não só a Missa tridentina... Queremos, na Missa nova, na forma ordinária, nessa que temos nas nossas paróquias, a Missa do Missal! Não é só em Roma, ou só os legionários, ou só a Obra, ou só monges, que devem celebrar a forma ordinária com sacralidade e fausto....

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Parceiros