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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O "Último Evangelho" ou o Prólogo de João proclamado no fim da Missa

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Do blog Subsídios Litúrgicos, por Luís Augusto, membro da Associação Redemptionis Sacramentum

Pax et bonum!

Caríssimos, certamente há muitas pessoas que ainda não conhecem a Missa na Forma Extraordinária (usus antiquior) e outras podem ainda estar tendo seu primeiro contato. Outras já a conhecem, todavia podem ignorar a razão para aquela que é a última parte do Ordo Missæ de 1962: a proclamação do Prólogo do Evangelho segundo São João (Jo 1,1-14).

Pe. Jacques Olivier, da Fraternidade Sacerdotal São Pedro, escreveu um estudo sobre o assunto, donde tiro algumas citações. Algo mais pode ser conferido no artigo sobre o Evangelho na Liturgia, da Catholic Encyclopedia.

Sabemos que o uso do Evangelho e dos demais livros da Sagrada Escritura na Liturgia, onde são lidos e explicados, existe desde o início do cristianismo. Testemunho claro é o relato de São Justino (séc. II) explicando a Liturgia de seu tempo: "no dia chamado 'do sol' [que chamamos 'do Senhor' = Domingo], todos os que moram nas cidades ou nos campos se reúnem num mesmo lugar, e as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profeta são lidos, de acordo com o que o tempo permitir; então, quando o leitor termina, o presidente instrui com palavras, e exorta à imitação de tão bons conselhos".

Muitos outros dos antigos Padres da Igreja dão igual testemunho.

Antiga também é a divisão do culto cristão em um momento em que há a instrução e um momento em que há o sacrifício; uma Liturgia dos Catecúmenos e uma Liturgia dos Fiéis; a Liturgia da Palavra e a Liturgia da Eucaristia.

Há evidências de que a leitura era espontânea, tirada da Sagrada Escritura diretamente. "Nesse tempo, então, o texto era lido continuamente de uma Bíblia, até que o presidente (o bispo que estava celebrando) dissesse ao leitor que parasse. Esta leituras variavam em número. Uma prática comum era ler primeiramente do Antigo Testamento (Prophetia), depois uma Epístola (Apostolus) e por último de um Evangelho (Evangelium). Em todo caso, o Evangelho era lido por último, como consumação de todo o restante".

Passados alguns séculos as perícopes (trechos que compõem as leituras) foram sendo organizadas e daí foram surgindo gradativamente livros organizados como o Lecionário e o Evangeliário.

Sobre o Último Evangelho, retirado do Ordinário da Missa durante a Reforma pós-conciliar, diz-se que se trata de um desenvolvimento tardio, provavelmente do séc. XII-XIII.

As últimas palavras do rito eram Ite missa est. A oração Placeat tibi, a bênção e o Evangelho apareceram como devoção do sacerdote celebrante, mas foram sendo cada vez mais absorvidos até entrarem oficialmente no Ordo Missæ.

O prólogo de João era lido na celebração do Batismo, segundo alguns Sacramentários, por causa das palavras: "Quotquot autem receperunt eum, dedit eis potestatem filios Dei fieri, his, qui credunt in nomine eius: qui non ex sanguinibus, neque ex voluntate carnis, neque ex voluntate viri, sed ex Deo nati sunt". (Mas a todos aqueles que o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus.)

Igualmente adequado seria usar deste Prólogo no Santo Sacrifício pelo fato de dizer: "Et verbum caro factum est, et habitavit in nobis" (E o Verbo se fez carne e habitou entre nós), precisamente o que acontece na Oração Eucarística e na Comunhão, lembra-nos o Pe. Jacques.

No Missal dos jacobinos, de 1254, o Prólogo aparece como uma das preces do sacerdote para ser rezada após a Missa. No estudo, Pe. Jacques cita ainda outros exemplos de como este trecho do Evangelho aparece ou ao fim da Missa, ou no caminho entre o altar e a sacristia, ou como primeira oração após a Missa.

Foi com São Pio V que se tornou uniforme a proclamação do Prólogo junto do altar, no fim da Missa.

Ao contrário do Evangelho normal, da Liturgia dos Catecúmenos ou da Palavra, este Evangelho nunca é solenizado: sempre é lido (sem canto), do altar (do lado norte = lado do Evangelho), sem incenso ou castiçais. E mesmo estando presente um diácono, é sempre o sacerdote quem o lê.

No Ritual Romano antigo, usado como Forma Extraordinária, o mesmo Prólogo de João aparece como última ação antes da bênção e aspersão de um enfermo, durante uma visita. Este uso remonta a um costume muito antigo, que era o de rezar este Evangelho no leito dos enfermos. Houve até mesmo usos supersticiosos deste trecho do Evangelho.

O Evangelho normal é o Prólogo de João, mas em algumas poucas ocasiões o texto é outro.

O estudo do Pe. Jacques segue com uma explicação de cada expressão deste Evangelho, recordando, por fim, o ânimo agradecido que é suscitado pelo testemunho da bondade tamanha de Deus neste belíssimo Prólogo de João.

Por último, cito o Servo de Deus Pe. Reus, que diz, em seu Curso de Liturgia: "O último evangelho de São João é a parte mais recente da missa. Encontra-se no século XIII, tornou-se geral no século XV. Motivos para recitá-lo no fim da missa seriam: a) grande confiança que o povo tinha e tem nele por causa da sua eficácia, para proteger contra os demônios e as suas infestações. Pois é um exorcismo (Rit. XI, c. 2, n. 3), usado também nas famílias. Em caso de trovoada violenta, acende-se uma vela e reza-se o evangelho de São João, contra os demônios. Por isto explica-se o desejo dos fiéis que este exorcismo se rezasse no fim da missa, para proteger os frutos da agricultura. b) a devoção do celebrante. Pois é uma ação de graças muito própria, pela profissão de fé na divindade de Jesus Cristo; pelas palavras: In propria venit et sui eum non receperunt, inciso este que exprime a humildade do celebrante, em cujo coração Nosso Senhor entrou; pelas palavras: Et Verbum caro factum est, cuja recitação depois da comunhão estava prescrita por missais medievais".

Referências:

FORTESCUE, Adrian. GOSPEL IN THE LITURGY. The last gospel. New York. 1909. Disponível em:

http://www.newadvent.org/cathen/06659a.htm

OLIVIER, Pe. Jacques. L'IMPORTANCE DU DERNIER ÉVANGILE. Disponível em: http://www.salve-regina.com/salve/L'importance_du_dernier_%C3%A9vangile_par_l'abb%C3%A9_J._Olivier_(%C3%A9tudes_critiques)

REUS, Pe. João Baptista. CURSO DE LITURGIA. Pp. 263-264. Petrópolis-RJ. 1944. Disponível em:

http://www.saopiov.com/formacao/cursodeliturgiareus.pdf

sábado, 20 de agosto de 2011

Reforma da reforma: Novus Ordo em latim, em Seberi, RS

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Recebi o relato abaixo, com fotos, do Pe. Jacson, de Seberi, na Diocese de Frederico Westphalen, RS:


Dr. Rafael

Pax!

Há alguns meses recebi um valioso presente: um Missal em latim. De fato, uma grande graça para quem somente há quase um ano começou a estudar latim no meu mestrado em Londrina/PR. Um estudo difícil para quem tem apenas três ou quatro horas durante uma semana por mês, mas procuro conhecê-la cada vez mais. E poder celebrar em latim faz-me amá-la mais.

Uma vez por semana, exceto a semana em que estou em Londrina, temos Missa em latim na Paróquia. Participam regularmente dois jovens vocacionados e mais cinco pessoas, sendo que outras não com tanta regularidade. É algo de tamanha riqueza, que ficou mais bela na medida em que estas pessoas estão entoando cantos na lingua latina (duas delas recordam do que cantavam antigamente e os jovens estão procurando as letras e cds, sendo que um deles está se propondo a tocar órgão, já que se trata de um prodígio em certos instrumentos).

Sentindo-me na obrigação de lhe enviar fotos, conciliei isto com um pedido dos seminaristas que cursam filosofia, dos quais sou o Diretor Espiritual. Há muito me insistiam em participar de uma Missa em latim. Marquei com eles uns dias de convivência num sítio em minha paróquia e numa tarde nos encontramos na Igreja Matriz para a Santa Missa. Foi muito bonita. Meu Vigário Paroquial, Pe. Ademir, se fez presente, como pode perceber nas fotos.

Ah! Era a memória de Santa Marta (29/07), por isso a casula romana (que resgatamos dos "porões" de nossa Igreja; umas das raras em bom estado).

Partilho estas fotos pois fiquei muito feliz com o pedido dos seminaristas que acompanho.

Em Cristo,
Pe. Jacson Rodrigo Pinheiro

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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

JMJ 2011, Madrid: Missa de abertura

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Palestra sobre o Preciosíssimo Sangue de Cristo, o sacrifício do Cordeiro e a Santa Missa, em Santa Vitória do Palmar, RS

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No dia 29 de julho passado, estive em uma pequena comunidade daqui de Santa Vitória do Palmar, RS, que está construindo sua capela (com altar a ser consagrado e tudo o mais), para, aproveitando o fechamento do mês do Preciosíssimo Sangue, lhes ministrar uma palestra sobre esse tema.

Fiz reflexões teológicas e espirituais sobre o mistério de nossa Redenção pelo Sangue do Cordeiro, tocando também em pontos de introdução à teologia da Missa, à noção de sacrifício.
Mostrei-lhes, por fim, que embora devam se organizar na nascente comunidade para a catequese, grupos de terço e pastorais, quando não tiverem Missa (e frisei a distinção entre Missa e meros ritos para distribuição da Comunhão) aos Domingos, devem ir na matriz. Que a Missa mensal em dia de semana não lhes supre o preceito, e que o mandamento ordena que se "vá à Missa", não que se "vá à Missa na minha comunidade"... Para minha surpresa, TODOS já iam à Missa dominical na igreja matriz, graças a Deus!

Já é a segunda palestra que dou para os fiéis da paróquia de Santa Vitória que se reúnem em torno desta comunidade, cuja futura igreja (ainda que não-paroquial, e sim, como se chama no popular, "capela pública", embora uma expressão canonicamente imprópria), cuja futura igreja, como dizia, será dedica ao Apóstolo São Pedro.

Outras virão.

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terça-feira, 16 de agosto de 2011

Reforma da reforma: Missa com D. Antonio Keller, no Rio – XVIII Domingo do Tempo Comum

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Na forma ordinária, em vernáculo. Antes, uma palestra com o Bispo de Frederico Westphalen, RS.

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sábado, 13 de agosto de 2011

Convite para a Festa da Assunção: Forma extraordinária em Fortaleza, CE

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Santa Missa na

Forma Extraordinária do Rito Romano

ou

Rito Gregoriano

Festa da Assunção da Santíssima Virgem Maria

15 de Agosto de 2011

às 9h30min

PARÓQUIA SÃO JOÃO BATISTA DO TAUAPE

Rua Capitão Gustavo, 3940
Fortaleza - CE - Brasil

Música

Schola Cantorum Cor Mariae Immaculatum

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

"Rede de Comunidades" e Missa Dominical, ideias para o debate

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Do excelente Oblatvs:


O mais recente tema pastoral tem sido a formação de “rede de comunidades”. Entre os objetivos da estratégia pastoral estão a formação de pequenos grupos eclesiais, a descentralização de serviços pastorais e a criação de “comunidades” fisicamente mais próximas das casas das pessoas. Supondo uma área pastoral extensa e populosa, teríamos dezenas de núcleos ou pequenas comunidades eclesiais. Evidentemente os padres não se multiplicariam, como que por encanto, na mesma proporção; logo, tais comunidades formariam habitualmente um movimento dos sem missa.

Formar pequenos grupos, sem que se perca de vista a unidade e a indivisibilidade da Igreja de Cristo; descentralizar os serviços pastorais, que nem sempre requerem a presença física ou contínua do sacerdote; e aproximar a Igreja das pessoas parecem justificativas mais do que razoáveis para um projeto de setorização, criação de células, ou outro nome que se lhe queira dar. Mas e a Eucaristia?

Não se trata da “celebração dominical com a distribuição da Sagrada Comunhão”, mas da Santa Missa, do Sacrifício que só o sacerdote pode oferecer. Trata-se do Domingo, do Culto, da própria natureza da Igreja de Cristo que não se confunde com a dos grupos protestantes. Pode uma estratégia pastoral que se pretenda católica inspirar-se numa protestante quando a concepção eclesial subjacente à ultima é incompatível com as notas da Igreja fundada por Nosso Senhor?

As comunidades surgem naturalmente e, na maioria das vezes, não podem contar desde o início com Missas regulares, menos ainda com a Missa Dominical. Tais comunidades, entretanto, privadas da Missa, estão sempre na expectativa desta; sua situação está longe de ser considerada normativa do ponto de vista católico. A criação artificial de comunidades que antes se congregavam num único lugar de culto poderia ter como consequência o afastamento gradual e definitivo da Santa Missa Dominical.

Já em 1985, o então Cardeal Ratzinger falara indiretamente do tema numa conferência dada em Essen (RATZINGER, J. Sul Significato della Domenica per la preghiera e la vita del cristiano: Liturgia dominicali senza sacerdote. In: ______. Opera Omnia: Teologia della Liturgia, Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2011. p. 287-291). O cardeal coloca questões que precisam ser consideradas na elaboração de um plano pastoral que contemple a formação da chamada “rede de comunidades” nas paróquias, pois seria frustrante se um projeto de evangelização tão bem intencionado servisse à fragmentação social, à descaracterização eclesial e à evasão sacramental.

Eis uma parte da conferência que interessa (tradução e negritos são meus):

LITURGIAS DOMINICAIS SEM SACERDOTE

São dois os princípios que, consequentemente às nossas reflexões, devem guiar o nosso agir na prática.

1. Vale a prioridade do Sacramento sobre a psicologia. Vale a prioridade da Igreja sobre o grupo.

2. Com o pressuposto desta ordem hierárquica, as Igrejas locais devem procurar a resposta correta para as respectivas situações, sabendo que seu dever essencial é a salvação dos homens (salus animarum). Em tal orientação de todo seu trabalho se reencontram tanto o seu vínculo quanto sua liberdade.

Consideremos agora ambos os princípios mais de perto. Nas terras de missão, na diáspora, em situações de perseguição, não há nada de novo no fato de que aos Domingos a Celebração Eucarística seja inacessível e que então se deva tentar, na medida do possível, sintonizar-se interiormente com a celebração dominical da Igreja. Entre nós a queda das vocações sacerdotais suscita sempre mais sensivelmente situações de tal gênero que até então eram em grande parte insólitas. Infelizmente, a busca da solução justa é frequentemente ofuscada por ideologias de caráter coletivista que servem mais de obstáculo que de ajuda para as reais exigências. Diz-se, por exemplo: toda igreja que antes tinha um pároco ou então uma regular celebração dominical deve continuar a ser lugar de reunião festiva da comunidade local. Apenas assim a igreja permaneceria sendo o ponto central do lugar; apenas assim a comunidade permaneceria viva como comunidade. Por este motivo seria mais importante para ela reunir-se exatamente ali ouvindo e celebrando a Palavra de Deus do que aproveitar a oportunidade, que existe de fato, de participar da própria Celebração Eucarística numa igreja situada na vizinhança.

Nesta argumentação há muitos elementos plausíveis e, indubitavelmente, também boas intenções. Mas são esquecidos critérios fundamentais da fé. Em tal visão, a experiência do estar juntos, o cuidado da comunidade local, está acima do dom do Sacramento. Sem dúvida, a experiência do estar juntos é mais diretamente acessível e mais facilmente explicável quando não há o Sacramento. Torna-se pois espontânea a migração da dimensão objetiva da Eucaristia para a subjetiva da experiência, da dimensão teológica àquelas sociológica e psicológica. Mas as consequências de um tal antepor a condivisão vivida à realidade sacramental são graves: a comunidade em tal caso celebra a si mesma. A igreja torna-se um veículo para um objetivo social; ademais, deste modo se torna escrava de um romantismo que na nossa sociedade caracterizada pela mobilidade é no mínimo anacrônico. É verdade que no início as pessoas, cheias de alegria, sentem-se valorizadas pelo fato de que agora elas próprias celebram na sua igreja, que podem “fazê-lo por si mesmas”. Mas logo percebem que agora não há outra coisa senão aquilo que fazem elas mesmas; que não recebem mais nada, mas celebram a si mesmas. Neste caso, porém, tudo se torna uma coisa que se pode igualmente fazer um pouco menos, já que agora o culto dominical, substancialmente, não vai além daquilo que se faz geralmente e sempre. Não mais diz respeito a uma ordem diversa; é também ele agora somente “produção própria”. É pois impossível que lhe possa ser inerente aquela “obrigação” absoluta de que a Igreja sempre falou. Tal critério, porém, estende-se depois com intrínseca lógica também à autêntica Celebração Eucarística. Uma vez que a Igreja mesma parece dizer que a assembleia é mais importante que a Eucaristia, então também a Eucaristia é, exatamente, somente “assembleia” – de outro modo, de fato, a equiparação não seria possível; e então a Igreja inteira se rebaixa ao nível do “faça por si mesmo” e ao fim se dá razão à triste visão de Durkheim, segundo o qual religião e culto não são outra coisa além de formas de estabilização social através da autoapresentação da sociedade. Mas tão logo se tome consciência disto, tal estabilização não funciona mais, já que ela somente se realiza quando se pensa que esteja em jogo algo a mais. Quem eleva a comunidade a um fim direto, é exatamente aquele que lhe dissolve os fundamentos. Aquilo que inicialmente parece tão piedoso e plausível, é na realidade uma reviravolta dos critérios e das ordens, que toca as raízes, e com o qual, depois de algum tempo, se obtém o contrário daquilo que se desejava. Somente conservando o seu caráter totalmente incondicionado e a sua absoluta prioridade sobre toda finalidade social e sobre toda intenção de edificação espiritual, o Sacramento cria comunidade e “edifica” o homem. Mesmo uma celebração sacramental psicologicamente menos rica e, do ponto de vista subjetivo, privada de esplendor e enfadonha, é incomparavelmente (se podemos exprimir de modo tão utilitarista) também “socialmente” mais eficaz que a auto-edificação psicológica e socialmente bem sucedida da comunidade. Trata-se, de fato, da questão fundamental, se aqui acontece algo que não provém de nós mesmos, ou se ao invés apenas estamos nós a projetar e a plasmar uma atmosfera de comunhão. Se não existe “a obrigação” superior do Sacramento, torna-se vazia a liberdade que agora se toma, porque permanece privada de seu conteúdo.

As coisas são completamente diversas quando se trata de um caso de verdadeira necessidade. Então, de fato, não é que com uma celebração sem sacerdote tudo se reduza à esfera somente humana; neste caso, esta representa sobretudo o gesto comum com o qual cada um se projeta para o “dominicus”, o Domingo da Igreja. Com esta ação, se vincula então ao comum dever e querer da Igreja e, portanto, ao próprio Senhor. A pergunta decisiva é: onde está o limite entre vontade pessoal e verdadeira necessidade? Este limite não pode ser traçado de modo abstratamente unívoco e será sempre flutuante também no detalhe. Ele deve ser encontrado nas situações particulares pela sensibilidade pastoral dos interessados, em sintonia com o Bispo. Existem regras que podem ser úteis. Que não seja lícito a um sacerdote celebrar mais de três vezes aos Domingos, não é uma fixação positiva do direito canônico, mas corresponde aos limites do que é realmente exequível. Esta é uma disposição do ponto de vista do celebrante; no que diz respeito aos fiéis, é preciso colocar-se a questão da razoabilidade das distâncias a serem superadas e da acessibilidade das celebrações em tempos convenientes. De tudo isto não se deveria tanto construir uma casuística pré-fabricada, mas deixar espaço à decisão conscienciosa em consideração das exigências. O essencial é que se respeite a ordem justa do grau de importância e que a Igreja não celebre a si mesma, mas o Senhor que ela recebe na Eucaristia – ao qual vai ao encontro nas situações em que a comunidade sem sacerdote se projeta para o dom que Ele constitui.

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