Muito estimado Dr. Rafael
Viva Cristo!
Há um certo tempo visito o Salvem a Liturgia e parabenizo pelo seu conteúdo fiel aos ensinamentos da Igreja.
Conforme conversamos há pouco por telefone, no dia 13 de dezembro próximo passado, celebrei a missa de aniversário de minha ordenação presbiteral, acontecida no dia 13/12/2003. Estiveram presentes dois padres amigos: Pe Osvaldo Carballosa González e Pe Sergio Girardello e o Bispo Diocesano de Vacaria Dom Frei Irineu Gassen, que optou por concelebrar a missa.
Trabalho na Paróquia de Esmeralda e Pinhal da Serra, na Diocese de Vacaria RS. Pertenço ao Clero Secular dessa Diocese e exerço o cargo de Pároco em Esmeralda.
Envio duas fotos da Matriz e outras duas da missa celebrada e o texto da homilia. Peço ao senhor para avaliar se é viável ou não a publicação no Salvem a Liturgia. Qualquer que seja a resolução, agradeço!
Que o Bom Deus abençoe o trabalho do senhor! Bom Natal e Próstero Ano Novo!
Pe João Carlos Zanella
Texo da homilia
Homilia na Santa Missa de Comemoração do 8º ano de Ordenação Sacerdotal do Pe João Carlos Zanella – 13/12/2003 – 13/12/2011
Caros irmãos e irmãs! As palavras da Oração da Coleta que a pouco pronunciamos, nos introduziram no acontecimento que fazemos memória: o oitavo ano de nossa Ordenação Presbiteral recebida no Santuário N. S. de Caravágio de Paim Filho aos 13 de dezembro de 2003, pelas mãos do Ex.mo e Rev.mo Dom Pedro Sbalchiero Neto, de feliz memória. Santa Luzia (280-304), mártir dos primeiros séculos, continua interceder por nosso ministério e iluminar nossas ações com seu corajoso testemunho.
A Oração da Coleta (pelo próprio sacerdote, c. no aniversário da própria ordenação) recorda que o chamado é sempre realizado pelo Pai Santo, sem mérito algum de nossa parte. Não é qualquer chamado: é um chamado à comunhão no eterno sacerdócio de Cristo, a serviço da Igreja. Reconhecemos a sublimidade dessa graça que nos foi participada e, ao mesmo tempo, reconhecemos a miséria, a fraqueza, a falta de jeito e nossa debilidade diante da excelência do sacerdócio. Dessa forma, pedimos com a Oração da Coleta, a mansidão e a coragem para anunciar o evangelho e distribuir os sacramentos de forma fiel.
A fim de melhor nos preparar para esta data - nesse ano de 2011 - resolvemos escolher o decreto do Concílio Vaticano II Presbyterorum Ordinis- PO (promulgado em 07 de dezembro de 1965) para relermos e meditarmos com calma em nossa oração pessoal, nos últimos dias, à semelhança de um tríduo ou retiro espiritual. Esse documento nos ajudou a aprofundar alguns dos muitíssimos aspectos da vida sacerdotal que agora, brevemente, queremos contemplar.
Pela Sagrada Ordenação, o padre participa do ministério de Cristo Sacerdote, Mestre e Rei, em favor do Povo de Deus e da Igreja (PO 1/1142). Qual seria a finalidade do ministério presbiteral? O documento é claro: “ocupar-se da gloria de Deus Pai, em Cristo” (PO 2/1146). Em que consiste essa gloria e de que forma podemos ocupar-nos dela?
A gloria de Deus Pai consiste em que as pessoas aceitem a Obra de Deus, aceitem o sacrifício redentor de Jesus de maneira consciente, livre e agradecida, correspondendo por uma vida adequada a essa graça. O padre, por meio da oração e da adoração, da pregação da palavra, do oferecimento do Sacrifício de Cristo: a missa, da administração dos demais sacramentos, contribui para aumentar a gloria de Deus e, ao mesmo tempo, para conduzir as pessoas à vida divina, ou seja, à santidade.
Tudo na vida da Igreja e na vida do Padre se liga à Eucaristia e tudo à Ela se ordena (PO 5/1151). A missa produz a Eucaristia, que contém o bem espiritual da Igreja, que é o próprio Cristo, Pão Vivo descido do céu. As atividades pastorais (todas elas necessárias) convergem para a Eucaristia. Ela é a fonte e o ápice de toda evangelização (PO 5/1151). O padre é chamado a oferecer-se a si mesmo como vítima agradável a Deus. E, de forma semelhante, precisa convidar o povo a fazer de suas vidas, hóstias agradáveis a Deus (PO 5/1152).
Tudo se ordena à Eucaristia. O padre é chamado a cultivar retamente a ciência e a arte litúrgicas, para que, por seu ministério, Deus Pai e Filho e Espírito Santo seja louvado com mais perfeição pelas comunidades cristãs e ele confiadas (PO 5/1154). Nesse sentido, o Sumo Pontífice Bento XVI, nos últimos anos, por meio de sua palavra, mas, sobretudo, de seu exemplo, mostrou à Igreja como se pode restaurar a sacralidade da liturgia pelo viés da observância das normas e da continuidade à Tradição litúrgica dos séculos. O Papa sugere o entendimento, não só da liturgia, mas da moral, do dogma e também dos escritos do Concílio Vaticano II, sob a ótica da hermenêutica da continuidade: não há rupturas com o passado (Bento XVI, 22 de dezembro de 2005). A Igreja é a mesma ontem hoje e sempre porque Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre. Queremos estar em plena sintonia com o pensamento do Santo Padre e ajuda-lo nessa obra em tudo o que estiver ao nosso alcance.
A missa precisa ser celebrada com ciência e arte. O Papa Bento XVI sublinha a necessidade da “ars celebrandi” (elemento fundamental para o sacerdote é entrar em comunhão com o Senhor/ Castelcandolfo em 31 de agosto de 2006). A Igreja e nela, a liturgia, não é propriamente território humano, local de protagonismo humano: a Igreja é território divino que, por sua vez, acolhe generosamente o ser humano. A pessoa é chamada por Deus a entrar em seu seio, descansar e restaurar suas forças. Não se pode lidar de qualquer jeito com aquilo que não nos pertence. Com as coisas sobrenaturais se lida de forma respeitosa e, o quanto possível, sobrenatural. O Concílio Vaticano II insiste nesses pontos: arte, e não aparência; verdade, e não representação (cf. PO 5/1154). Celebrar a liturgia corretamente é apontar para a veracidade de Deus, que é a Suprema Beleza.
O documento PO, na esteira dos Concílios anteriores, continua convidando o padre à santidade (12/1181): pelo seu batismo e ordenação é chamado a ser santo, em meio às peripécias e contingências da vida humana e crescer na santidade por meio do exercício da caridade, que na Igreja é a lei maior (Rm 13,10); da celebração diária e piedosa da santa missa; da récita do ofício divino; do terço e outras práticas devocionais. Mesmo que a graça de Deus possa operar pelas mãos de padres infiéis, Deus prefere homens santos para distribuir seus dons (PO 12/1183).
A caridade, que é o vínculo de perfeição (Col 3,14), à qual como sacerdotes somos chamados, evoca o aspecto de Cristo Bom Pastor (PO 13/1188), que é capaz de morrer para si mesmo e dar a vida pelas ovelhas. A santidade que cresce na dinâmica da caridade aponta também e, sobretudo, ao Sacrifício Eucarístico, que é o centro e raiz da vida do padre. E, conforme PO (14/1190), o padre deverá se esforçar por interiorizar o que na ara sacrifical se passe. É preciso muita, muita, muita intimidade com o Senhor.
Essa recomendação do Concílio, a propósito, remeteu-nos às palavras do ritual de ordenação, palavras que nos marcaram, particularmente, naquele dia 13, quando Dom Pedro nos entregou a patena com o pão e o cálice com vinho e água: “recebe a oferenda do povo santo para apresenta-la a Deus. Toma consciência do que vais fazer e põe em prática o que vais celebrar conformando tua vida ao mistério da cruz do Senhor” (Ritual de Ordenação, 163). Sim, essas palavras nos convidam à seriedade com as coisas de Deus, ao cultivo de uma vida interior que se exteriorize em caridade para com o próximo. Nesse sentido, o padre precisa cultivar também uma disponibilidade interior para não procurar sua própria vontade, mas a vontade daquele que o chamou e enviou. Humildade e obediência fazem-se necessárias (PO 15/1192).
Caros irmãos! Estes são alguns aspectos dos vários elementos que o Vaticano II nos oferece no decreto PO. Essa meditação nos trouxe, por um lado, uma imensa alegria: a certeza de que, mesmo entre mil situações que aconteceram e acontecerão conosco, temos a absoluta convicção de que somos sacerdotes para sempre. Por outro lado, nos advertiu sobre tantos outros aspectos que precisam melhorar em nosso ministério, para que seja mais eficaz à nossa própria salvação e ao bem do Povo de Deus a nós confiado. Parece ouvirmos a admoestação e o convite de São Francisco de Assis que nos torna a dizer: “precisamos recomeçar, pois até agora pouco ou nada fizemos” (cf. 1 Cel, 103).
Entregamos ao Senhor nosso ministério, as missas e demais sacramentos que administramos, entregamos nossas atividades pastorais, nossa família, nosso pai que hoje completa mais um ano de vida: 59, nossa sobrinha Ana Lívia, entregamos nossos amigos e benfeitores, nosso Bispo Diocesano e Bispos amigos, colegas padres e lugares que tivemos a graça de exercer o ministério sacerdotal, de modo especial essa Paróquia de Esmeralda e Pinhal da Serra. Enfim, tudo entregamos ao Senhor, pois a Ele tudo pertence. Ficamos com nossos pecados e o dever de nos emendar por uma vida nova. Não temos méritos. Diante do Calvário somos pó e nada mais. Os méritos são de Jesus.
Confiemo-nos a Nossa Senhora e peçamos sua ajuda. Escolhemos, há oito anos, as palavras Sempre com Maria para marcar nosso ministério. Desde o primeiro dia de seminário, ou melhor, desde que fazemos uso da razão, temos um amor especial por Ela. Sim, foi Ela que nos amparou. Se no Calvário, aquele João foi confortado pela boa Mãe, agora, Ela - a boa Mãe - sustenta esse pobre João ao pé da mesma cruz do Senhor. No deserto da vida e da solidão humana o padre encontra um oásis belo e radiante: o altar de qualquer igreja é a mesma cruz donde jorra a água que mata verdadeiramente a sede. Aí continuam presentes a Virgem Maria e o apóstolo João. O padre, então, nunca estará sozinho no altar: Sempre com Maria, ao pé da cruz, renovando o único sacrifício da redenção! A mãe do sumo e eterno sacerdote, como refere PO (18/1204), além de proteger o ministério do padre, é sua mãe também. Obrigado Jesus pela vossa Mãe, a Mãe que nos destes!
Retornando às palavras da Oração da Coleta podemos agora rezar com insistência e consciência ainda maior: “Pai Santo, que me chamastes à comunhão do eterno sacerdócio do vosso Cristo e ao serviço da Igreja, sem mérito algum de minha parte, fazei que eu anuncie o vosso evangelho com mansidão e coragem e distribua fielmente vossos sacramentos. Por nosso Senhor Jesus vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém”.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Esmeralda, 13 de dezembro de 2011, Memória de Santa Luzia.
Pe João Carlos Zanella,
do Clero Secular de Vacaria RS,
Pároco de Esmeralda e Pinhal da Serra
O Bispo, todavia, talvez movido pela melhor das intenções em concelebrar a Missa de aniversário do padre, está equivocado. Se o Bispo concelebra, ele necessariamente preside! E se ele preside, é ele quem deveria incensar, e também deveria usar a casula (bem como a mitra, dado que toda a concelebração presidida por Bispo é solene). Um Bispo simplesmente não pode concelebrar sem presidir, como se um simples padre fosse.
Entendo que ele não queira presidir para não tirar o destaque, no clero, do padre aniversariante, mas para isso também há uma solução: o Bispo poderia assistir em veste coral, presidindo a Liturgia da Palavra, sem celebrar a Missa. É a chamada Missa diante de um Prelado ou Missa com assistência pontifical, que existe tanto na forma ordinária quanto na extraordinária. Aliás, fotos de uma assim postamos faz poucos dias: http://www.salvemaliturgia.com/2012/01/missa-tridentina-com-assistencia.html
Errou o Bispo, o que demonstra o desconhecimento ou o desprezo pelas mais simples normas de liturgia e um dos mais tradicionais modos de celebrar a Missa. Que um leigo desconheça a Missa com assistência pontifical é perfeitamente possível. Mas um Bispo?