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quarta-feira, 8 de maio de 2013

Festa de São Domingos Sávio

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Santa Missa Solene, celebrada pelo Pe. Rafael Rodrigo Scolaro, na festa de São Domingos Sávio, Padroeiro do Seminário Menor (Ensino Médio) da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney, no último dia 06 de maio de 2013.    

Domingos nasceu no dia 2 de abril de 1842, na província de Turim, no norte da Itália, em uma família humilde mas, ao mesmo tempo, muito fervorosa. Já desde a mais tenra idade, decidiu imitar fielmente Jesus Cristo, aproximando-se dele tanto quanto podia. Com sete anos de idade, fez a primeira comunhão e, com doze, entrou no Oratório de São João Bosco. Sob a direção pessoal do grande santo salesiano, transformou-se em tabernáculo do Senhor e em modelo e exemplo de amor a Deus e ao próximo. Foi um verdadeiro apóstolo e missionário de Jesus, com a simples presença da sua vida.Quem o conheceu durante a sua vida disse que não era pequeno de estatura, mas magro, quase frágil. Preferia mais ouvir do que falar. Era humilde e respeitoso diante de todos e tinha a habilidade natural de apaziguar as discussões e as desavenças, que naquela época surgiam quase naturalmente entre os seus companheiros.

Seu único interesse era Deus e o modo como fazer com que os outros concentrassem as suas energias para servi-Lo melhor. Aquilo que lhe faltava a nível de força física, ele recuperava em excelência moral, em fortaleza de coração e em aceitação da vontade de Deus, qualquer que esta fosse.

A primeira biografía da vida de Domingos foi escrita pelo seu mestre, São João Bosco, e destas páginas nasceram muitas vocações, inclusive a do futuro Papa Bento XVI que, com tanta ternura, admirava a Obra da Infância Missionária.

Domingos faleceu com apenas quinze anos de idade, no dia 9 de março de 1857. Sua Santidade o Papa Pio XII canonizou-o no ano de 1954. Há exatamente 50 anos.

Veja algumas fotos da Missa solene abaixo:















Veja outras fotos, clicando AQUI!

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Espiritualidade pagã e espiritualidade cristã

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Todos nós conhecemos as críticas de Nosso Senhor Jesus Cristo aos fariseus por tratarem muitas vezes a observância da Lei cerimonial do Antigo Testamento de forma ritualista, supervalorizando o exterior e descuidando do interior. Creio eu que essa espiritualidade exterior possa ter sido influenciada pelo paganismo. Mas para isso, é necessário retrocedermos um pouco...

Em finais do século V a. C., o profeta Malaquias anunciava a indignação de Deus com relação ao desleixo dos sacerdotes judeus com o culto do Templo de Jerusalém (ofereciam pães profanados, animais coxos, enfermos ou com ossos quebrados, contrariando as prescrições levíticas do Pentateuco mosaico).  Logo após a repreensão, o Senhor anuncia, pela boca de Malaquias, uma nova e pura oblação. Os Padres da Igreja interpretaram essa oblação pura anunciada (a ser oferecida do nascer ao por do Sol em todo o lugar) como a Celebração Eucarística, a Santa Missa. Não é nosso objetivo nesse momento analisar a superioridade e plenitude do Sacrifício eucarístico da Nova Aliança com os sacrifícios da Lei antiga. O erro condenado por Deus na Profecia de Malaquias refere-se ao desleixo nos aspectos exteriores do culto, que muitas vezes torna-se reflexo do desleixo interior ou de uma compreensão errada da Misericórdia Divina e do dever de se fazer as coisas com empenho. Esse delito recorda-nos as banais oferendas de frutos de Caim, diferentes de Abel que buscava oferecer a Deus os melhores cordeiros de seu rebanho. A Deus devemos oferecer o que temos de melhor, sendo as pequenas coisas e as coisas exteriores reflexos de uma adoração interior.


Nos tempos de Jesus, ao que parece, o desleixo litúrgico havia decaído, sobrando talvez como centelha deste fenômeno apenas o comércio e câmbio monetário dentro dos átrios do Templo de Jerusalém. Flávio Josefo relata como o povo e os sacerdotes conservavam o silêncio durante os sacrifícios. No mundo pagão sob o Império de Roma, as coisas não pareciam estar tão diferentes: na passagem do séc. I a.C. para o I d.C. Otaviano César Augusto havia reformado a liturgia dos sacrifícios, restaurando os usos da tradição do povo romano, apoiando-se no caráter ritualista. O culto dos gregos e romanos (e de muitos povos idólatras com quem os judeus tiveram contato no Antigo Testamento) era ritualista, ou seja, baseava-se unicamente na perfeita execução dos elementos exteriores, dos ritos, nos seus mínimos detalhes (um único erro invalidava o sacrifício, tornando necessária sua completa repetição desde o início). Para isso é necessário que entendamos que na religião greco-romana a relação do home com a divindade era em sua essência uma relação de troca: o homem busacava agradar os deuses com sacrifícios, oferendas, libações, jogos, etc em troca de favores. A moral e as normas de conduta não integravam a religião, tendo sido objeto de reflexão dos filósofos e suas escolas. A religião era apenas mais um dos diversos departamentos da vida, tendo um aspecto doméstico (os deuses e ancestrais protetores da família e da casa) e o público (os deuses do universo, responsáveis pelo funcionamento do universo e de vários aspectos da vida). A religião pública era considerada um dos componentes das autoridades e magistrados, que legislavam sobre os ritos e sacrifícios, além de auxiliar materialmente a construção e preservação dos templos, santuários e altares públicos.

 
A mentalidade religiosa pagã pode ter penetrado com maior força entre os judeus sob o reinado de Herodes, o Grande. Herodes era filho de mãe judia e pai idumeu (os idumeus eram uma tribo árabe que havia sido submetida ao judaísmo sob a dinastia dos reis Asomneus) e parece não ter sido extamanete o que chamaríamos de um judeu convicto: quando esteve em Roma e recebeu a coroa da Judeia das mãos do triúnviro romano Marco Antônio, Herodes subiu ao templo do Monte Capitólio onde ofereceu um sacrifício a Júpiter. Embora Herodes tenha eliminado grande parte da aristocracia judaica que compunha o Sinédrio, conseguiu controlar o cargo de Sumo Sacerdote do Templo judaico o que fizeram também depois os governadores nomeados por Roma. Assim, a aristocracia do Templo era bastante influenciada pelos pagãos. Por outro lado, os fariseus buscavam acentuar a identidade judaica, pregando uma observância rigorista da Lei mosaica. Trata-se, naturalmente, do segundo erro extremo concernente ao culto: a supervalorização dos elementos exteriores em detrimento da vida interior. Opondo-se a isso, Nosso Senhor fala da verdadeira adoração como sendo "em espírito e verdade". A adoração deve refletir uma vida de santidade. 

A Lei mosaica era composta de dois elementos: prescrições morais (princípios de conduta com relação a Deus e ao próximo, do qual o centro é o Decálogo, os 10 mandamentos) e prescrições cerimoniais (alguns costumes, hábitos e formas de celebrar o Culto). Contudo, o historiador Paul Veyne aponta que o Cristianismo fora recebido no mundo romano com um certo ar de novidade ao combinar uma religião (relação homem-Deus, culto) com uma filosofia de vida (moral, normas de conduta). Tal fato pode nos levar a corroborar a veracidade das críticas de Jesus aos fariseus, corrente predominante nas diversas comunidades judaicas então espalhadas pelo Império. Ao mundo romano, a observância farisaica da Lei pode ter sido visto de forma muito semelhante a sua forma ritualista de encarar a religião. Basta lembrarmos que os Césares ordenavam oferecer em seu nome ocasionalmente sacrifícios no Templo de Jerusalém.

A liturgia deve estar unida a nossa vida: os ritos exteriores devem ser executados com amor e cuidado, mas sendo esse amor e cuidado um gesto de amor e carinho para com Deus, tal como um filho que prepara com toda dedicação um presente para seus pais, ainda que dentro de suas limitações. Tal como as nossas boas obras obras devem ser reflexo de uma Fé reta, a celebração da Sagrada Liturgia da Igreja deve ser um reflexo de uma vida santa de seus membros. No Ofertório da Missa, oferecemos nossos trabalhos, obras, orações, sacrifícios, afetos, intenções e nosso ser por inteiro juntamente com o Sacrifício de Cristo que se torna presente debaixo das aparências do Pão e do Vinho eucarístico
s. São Josemaría Escrivá escreveu que deveríamos amar a Santa Missa como sendo o centro de nosso dia, onde oferecêssemos nosso trabalho, apostolado, obras, intenções e ações de graças e onde nos muniríamos das graças necessárias para continuar nossos afazeres e dar testemunho cristão durante o dia, de forma que o dia tornasse um prolongamento da Missa celebrada. Tal pensamento vale igualmente para os que assistem missa diária quanto para os que assistem somenta a missa dominical.


Porventura não agem às vezes muitos cristãos como os maus sacerdotes do Antigo Testamento, desprezando o aspecto exterior do culto? Não agem outros no extremo contrário, achando que rendas e brocados e o barroco em larga escala converterão o mundo? Em nossas orações e participação da Missa não agimos muitas vezes com uma mentalidade de troca? Não estão em muitas almas as devoções corrompidas por essa barganha pagã? Que façamos essas perguntas em nosso exame de consciência e possamos cada vez mais ao participarmos da Liturgia unirmo-nos às intenções de toda a Igreja, buscando como Jesus no jardim das oliveiras aquele desejo de que "faça-se a Tua vontade e não a minha". E que esse participação ativa seja também frutuosa, refletindo em uma santificação de todas as nossas atividades cotidianas e de nossa relação com o próximo.


quarta-feira, 1 de maio de 2013

A Alma Concorde com a Voz

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Homilia da Santa Missa na Forma Extraordinária celebrada pelo nosso querido Padre Demétrio Gomes na Comunidade Canção Nova. "Experimentar aqui na terra um pouco daquilo que nos espera no céu, isto é Liturgia", completou Padre Demétrio. 

Vale ressaltar que foram 400 jovens em um acampamento assistindo a uma Missa celebrada na Forma Extraordinária, ou seja, o Belo também atrai os nossos jovens.


Segue a transcrição adaptada da homilia:

“O Salmo 42, que rezamos no início desta Santa Missa, é aquele que os sacerdotes antigamente rezavam todos os dias quando se aproximavam ao pé do altar: “Subirei ao altar de Deus. Do Deus que é a alegria da minha juventude”. E assim passavam-se anos e anos e aqueles sacerdotes, já com seus cabelos brancos, continuavam a subir ao altar de Deus, dizendo o mesmo refrão: “Subirei ao altar de Deus. Do Deus que é a alegria da minha juventude”. O altar de Deus nos renova. O altar de Deus nos mantém nessa juventude sempre viva e sempre atual. É a fonte da nossa vida. A que nos alegramos infinitamente porque toda alegria do Céu é derramada sobre nós. E nos impressiona ver aqui, nessa manhã de domingo, essa nossa “Igreja”, por que não dizer, (A Santa Missa foi celebrada no Centro de Evangelização da Canção Nova) cheia de almas que querem experimentar aqui na Terra um pouco daquilo que nos espera no Céu! Isto é Liturgia: Viver essa comunhão de oração com todos aqueles que contemplam o Senhor face a face no Céu, diante do trono do Cordeiro, e aqueles que estão aqui na Terra pelejando, lutando, para que um dia contemplemos ao Senhor, face a face.

Mas teria sentido celebrar no meio de um acampamento de jovens uma Missa Tridentina? Uma Missa que nossos avós participavam no seu tempo…! Será que isso não é um pouco anacrônico? Será que isso não é um pouco fora do tempo? Não deveríamos ter uma missa mais adaptada aos nossos tempos? Qual o sentido de celebrar esta Santa Missa aqui, hoje, precisamente nesse lugar? Por que o Senhor permitiu que isso acontecesse? Vamos tentar responder a essa pergunta no final.

Fala-se muito hoje em Liturgia, discute-se muito acerca da Liturgia, e isso não é algo acidental, por mais que pareça ser. A tentação que dá é fazer entrar também em nossas discussões aquilo que o Papa Bento XVI condenava como ditadura do relativismo: cada um celebra do jeito que quiser e todo mundo encontra o seu lugar, todo mundo tem o seu posto na Igreja. Mas será que é assim? Será que somos nós, os homens, que determinamos como deve ser a oração da Igreja?

O mesmo Papa Bento XVI, como comentava nas suas catequeses sobre a oração, dizia, citando o Catecismo da Igreja Católica, que uma das fontes da nossa oração é a Sagrada Liturgia. O Papa mencionava ali uma expressão da Regra de São Bento, que dizia assim: “mens concordet voce”: “A alma concorde com a voz”. E o Papa utilizava essa expressão para falar como deve ser a oração litúrgica, a fonte da nossa oração, a fonte da nossa vida interior. Ele dizia que na oração acontece aquilo que é contrário ao que acontece cotidianamente, nos nossos diálogos comuns com os homens. O que acontece com nossos diálogos comuns com os homens? Primeiro nós pensamos aquilo que vamos falar. Geralmente a maioria das pessoas faz isso, embora nem todas pensem antes de falar. Mas o normal é que a pessoa pense e, depois, fale. Ela imagina aquilo que quer falar. A sua alma forja o conteúdo que ela quer falar, e a voz concorda com a alma: isso é o comum. Mas na Liturgia passa o contrário, é o revés: a alma concorda com aquilo que nós pronunciamos. E o que nós pronunciamos não é o que queremos pronunciar, mas é o que a Igreja coloca em nossos lábios.

Por que é que nós chegamos aqui e já temos uma Liturgia pronta? Será que isso não fere a espontaneidade que nós queremos ter no trato com Deus? 

Certamente não. Todas essas orações que nós estamos pronunciando são orações que a Igreja não criou de um dia para o outro. São orações que a Igreja veio forjando, ela, que é esposa do Cordeiro, ao longo de muitos séculos. Foi preparando, através da vida de muitos santos, de muitos mártires. Temos aqui no altar relíquias de mártires que deram sua vida pelo Senhor. Celebramos em cima das relíquias desses homens que morreram derramando seu sangue por Cristo. Toda uma história, todo um peso de dois mil anos de Igreja em cada palavra pronunciada. E a nossa alma é chamada a adaptar-se àquilo que nossa boca pronuncia. Se a nossa boca pronuncia o que a nossa alma não concorda, vivemos uma hipocrisia. Nosso corpo diz algo e nossa alma está em outro lugar. Daí é necessário aprender a mergulhar fundo no mistério de Deus, e eu penso que essa Santa Missa pode nos ajudar muito.

Desde 2007, com o Motu Próprio Summorum Pontificum, o Papa Bento XVI permitiu que todos os sacerdotes que quisessem poderiam celebrar a agora chamada Forma Extraordinária do Rito Romano. Existem vários ritos na Igreja. Todos eles partiram da primeira Missa: a antecipação do Calvário, a última ceia do Senhor com seus discípulos. Daquela noite derradeira, onde o Senhor descia para o seu sacrifício na Cruz, e, a partir dali, como o Senhor diz: “Fazei isto em memória de Mim”, a Igreja obedeceu à voz do seu Senhor, e foi realizando todos os dias, ao longo desses dois mil anos, o mesmo sacrifício do Calvário, atualizando o seu sacrifício redentor. E ao longo do tempo, com a expansão da Igreja, essa oração que o Senhor confiou aos seus foi adquirindo expressões diferentes. Daí vão nascendo os diversos ritos, de acordo com as culturas por onde a Igreja vai se espalhando. E nós temos mais de 20 ritos na Igreja Católica.

O nosso rito é o Rito Romano, que agora tem duas formas: a forma ordinária, com a qual todos nós estamos talvez mais habituados, e a forma extraordinária, que é essa. Talvez alguns daqui presentes estejam participando pela primeira vez, e é uma riqueza extraordinária para cada um de nós. O Papa Bento XVI lembrava que esse rito nunca foi abolido da Igreja. E nós, quando realizamos esse rito, estamos querendo secundar esse desejo do Santo Padre, o Papa, de querer viver aquilo que ele chama de Hermenêutica da Continuidade, ou seja, que nós entendamos o Concílio Vaticano II, o vigésimo primeiro Concílio Ecumênico da Igreja, como continuidade de toda a tradição da Igreja. O Vaticano II não veio nos apresentar uma Igreja nova. Veio nos apresentar umas novidades, sim, mas dentro do grande tronco da Igreja, daquilo que o Espírito Santo vem suscitando, desde os primórdios, nos corações dos fiéis. E só entendendo esse Concílio e tudo o que veio depois, legitimamente, em continuidade com a tradição da Igreja, é que viveremos o espírito que a Igreja quer que nós vivamos, o espírito da continuidade. É o mesmo espírito que continuava antes do Concílio Vaticano II e continua depois. Não é uma nova Igreja; é a mesma Igreja Católica que nasce do lado aberto do Senhor morto na Cruz.

Existem alguns elementos que nos chamam a atenção logo à primeira vista quando a gente vem participar dessa missa. Não me toca aqui agora esgotar todos esses elementos, até porque nosso tempo é curto e não é ocasião, mas eu gostaria apenas de dar uma pincelada, sobretudo naqueles que saltam à nossa vista. Talvez não sejam os mais relevantes teologicamente, mas aqueles que chamam a nossa atenção.

Talvez o primeiro deles seja o fato de o padre estar de costas pra gente. E algumas pessoas, inclusive alguns dos liturgistas, falam “Nossa! Mas que coisa mal-educada! A gente vem participar da missa e o padre dá as costas pra gente!” Como entender isso? Como a Igreja viveu isso durante tanto tempo? Será que os padres eram pessoas mal-educadas, que davam as costas para os fiéis? Nada mais longe da realidade. O padre não está de costas para os fiéis: o padre está de frente para Deus, junto com os fiéis. A Igreja entendeu isso. Desde o princípio celebrava as suas Santas Missas virada ao Oriente: o Oriente de onde virá o Ressuscitado, o sol nascente que nos veio visitar. Toda a Igreja se volta na expectativa do Senhor que vem ao nosso encontro. “Maranathá, vem, Senhor Jesus!”. E o padre, como um grande capitão do navio, vai à frente dos seus. O pastor não é aquele que empurra as ovelhas por trás, mas é aquele que vai à frente dando a vida por elas. O pastor sobe ao Calvário e aí convida todas as suas ovelhas a subir o Calvário junto a si.

Quando Bento XVI era ainda o Cardeal Ratzinger, no seu livro “Introdução ao Espírito da Liturgia”, falava do risco que se tem, quando a Missa é celebrada de frente para o povo, de darmos uma concepção de que a Missa é um diálogo entre o padre e o povo, um círculo fechado, como se a celebração fosse esse diálogo horizontal, onde o padre fala e o povo responde a ele. Essa concepção não é a concepção da Liturgia da Igreja. A Liturgia da Igreja é um diálogo, sobretudo, da Igreja com o Senhor. É um diálogo vertical. Quando o padre se volta para o crucifixo ou se volta para o Sacrário, quando temos a ocasião de tê-lo, toda a Igreja se volta para o seu Senhor. Isso nos mostra que a Liturgia se abre para o Céu, não é um círculo fechado aqui entre nós. Todos nós nos elevamos a Deus.

E pra remediar um pouco quando a missa é celebrada de frente para o povo, o Papa pediu que se colocasse - e demonstrava isso com seu exemplo - um crucifixo no altar. Aqui vocês já percebem isso nas Santas Missas. Em quantas paróquias isso tem sido realizado! E algumas pessoas acham que isso tapa a visão do padre, “queria ver o rosto do padre!”. Mas o mais importante não é o rosto do padre: o mais importante é o Senhor. E quando o padre olha pro Senhor ele lembra aos fiéis isso: o mais importante é Ele. É para Ele que nós devemos olhar.

Outra coisa que talvez chame a atenção, certamente chamará, é a língua. A língua latina, que é a língua da nossa Igreja. Que orgulho devemos ter dessa língua! Mesmo que não entendamos todas as palavras que o padre reza em latim ou que se canta, nem sempre a língua vernácula, a língua que nós entendemos e vivemos habitualmente, é a língua que todas as pessoas entendem. Hoje a missa é rezada em português e muitas pessoas não entendem nada, absolutamente nada da Santa Missa.

Pero Vaz de Caminha, quando narra a primeira missa realizada no Brasil, na Corte Portuguesa, diz que os índios ficavam pasmados ali olhando aquela missa. Não entendiam nada. Imagine os índios vendo a sua primeira missa ali, em latim! Uma missa como essa que nós celebramos hoje! E ficavam ali, maravilhados! E, de repente, durante a Santa Missa, aparece um outro grupo de índios, que chega atrasado. E aquele grupo de índios que chega depois começa a perguntar ao grupo anterior o que está acontecendo ali. Certamente os índios que aí estavam não iam explicar que estava acontecendo a atualização do sacrifício de Cristo no Calvário. Mas eles fizeram uma coisa: apontaram o altar, e apontaram o céu… Apontaram o altar, e apontaram o céu! Aqueles homens brutos, que não entendiam nada de teologia, sabiam, misteriosamente, pela ação do Espírito Santo, sem conhecer exatamente o que acontecia ali, que algo de misterioso unia a Terra ao céu! Sem entender absolutamente uma palavra do latim!

Outra característica que pode também nos ajudar bastante - certamente nos ajuda -, e nos choca, sobretudo na cultura barulhenta em que nós vivemos hoje, é o silêncio.

Aqui na Santa Missa nós somos chamados a participar vivendo no silêncio. O Concílio Vaticano II fala da necessidade de uma participação ativa na Liturgia, e nós frequentemente associamos participação ativa ao “fazer coisas”. Se eu não cantar, se eu não falar, se eu não me mover, parece que eu sou um sujeito passivo na Liturgia. O mesmo Papa Bento XVI lembrava que o silêncio é também uma participação ativa. Porque para fazer silêncio é necessário muito combate espiritual. Nós sabemos como é difícil fazer silêncio em nossa oração. Não tanto o silêncio exterior, que é um pouco mais fácil, mas silenciar as potências da nossa alma, para que Deus possa falar como falou outrora a Elias na mansidão da brisa. É assim que o Senhor quer falar aos nossos corações. E, se não aprendermos a silenciar diante do mistério de Deus, não vamos estar aptos para escutar sua voz. O silêncio é a atitude daquele que fica sem palavras diante de algo de extraordinário que acontece diante de si.

Na Santa Missa, daqui a pouco, no Cânon Romano, quando o padre consagrar o Corpo e o Sangue do Senhor, nós cairemos de joelhos. E as palavras emudecem, porque, diante do mistério de Deus, toda palavra é muito pobre, sempre fica aquém daquilo que nós gostaríamos de falar diante de Deus. Nos calamos, maravilhados, com aquilo que se realiza diante de nós. O padre, antes da missa, pede perdão dos seus pecados; o povo reza para que Deus perdoe o padre; depois, o povo pede perdão e o padre reza para que Deus perdoe o povo. Que bonita a vivência da intercessão dentro da Santa Missa! O povo rezando para que Deus tenha misericórdia do padre, o padre rezando para que Deus tenha misericórdia dos seus… Isso aconteceu agora a pouco, e, novamente, antes da comunhão, acontecerá. O padre só rompe o silêncio do Cânon Romano, o grande silêncio, pra dizer uma palavra: “e a nós, pecadores”. Tudo é em silêncio, mas quando o padre diz “e a todos nós, pecadores”, “nobis quoque peccatoribus”, o padre fala em voz alta, pra que todos se lembrem que aquele homem que sobe ao altar também é indigno de estar ali. Ele é um pecador, como todos os outros. E, se sobe ao altar do Deus que é a alegria da sua juventude, é por pura misericórdia de Deus. Essa Santa Missa também nos ensina a obedecer às rubricas litúrgicas, aquilo que a Igreja propõe para que nós rezemos. A Liturgia não é minha, a Liturgia não é do padre, eu não posso mudá-la a meu bel-prazer. Nós estamos vivendo uma antropocentrização da Liturgia: o homem tem sido colocado no centro. O mais importante torna-se o homem, que deveria ser colocado de lado. Em nome de uma suposta inculturação nós estamos fazendo uma verdadeira baderna litúrgica. E a Liturgia, ao invés de ser uma imagem da Jerusalém celeste, passa a ser uma imagem da nossa vida cotidiana, da nossa vida habitual. E não é isso que a Igreja quer para cada um de nós. Quando o padre coloca essas roupas tão distintas do nosso dia-a-dia (nós não usamos uma casula para sair andando por aí… Uma estola, uma alva…), o padre se reveste de paramentos sagrados fazendo a oração que cada paramento expressa para sua vida espiritual. Ele está dizendo com esse gesto “eu vou agora viver um momento que não é um momento habitual da minha vida. Eu vou viver agora um pedaço do Céu.” E as vestes sagradas, as músicas distintas das músicas populares que nós ouvimos, nos revelam que aquilo que é vivido aqui é muito diferente, é extraordinariamente superior àquilo que nós vivemos na nossa vida habitual na Terra. Isso aqui é o Céu, por isso tudo é diferente.

Nós não precisamos copiar as coisas que nós temos aí fora e trazê-las para a Liturgia, porque nós esvaziaremos o seu conteúdo. É a esposa que nos ensina como se deve rezar. Quando eu obedeço aquilo que a Igreja me pede, eu me aniquilo. Qualquer sacerdote que vier celebrar a missa, se ele celebrar conforme a Igreja pede, a sua personalidade desaparece, e aparece somente a Cristo, não importa se é o Pe. Demétrio, não importa se é o Pe. Roger, se é o Mons. Jonas… Se se segue a Liturgia da Igreja, aquele padre desaparece e só aparece Cristo nele. É isso que nós queremos! De um padre não se espera outra coisa senão Jesus Cristo, e, quando eu começo a inventar coisas, a colocar algo que é meu, Cristo desaparece e o que aparece é a minha personalidade. Está errado. O padre deve diminuir, para que só Cristo cresça, como ouvimos no Evangelho de ontem. 

Bom, poderíamos enumerar várias características desta Missa e iríamos gastar horas e horas, mas, que ao menos, isso que nós ouvimos e aquilo que nós vamos ver, já nos dê um gostinho, já ajude a mudar a nossa concepção da oração da Igreja. Nos ajude a rezar como a esposa quer que nós rezemos, nos ajude a caminhar em sintonia com ela.

Tem sentido, então, celebrar uma Missa assim num acampamento pra jovens? Será que isso não aprisiona a nossa espontaneidade na vida de oração? Claro que não!

O mesmo Espírito Santo que suscita os carismas na Igreja, o mesmo Espírito Santo que suscita as diversas expressões lícitas que existem na Igreja, é o mesmo Espírito que guia o Magistério da Igreja. O Espírito Santo não poderia dizer para o Magistério propor uma série de normas litúrgicas e para os fiéis, dizer algo diferente. E, se há uma contraposição aqui, nós diríamos que é uma contradição com o próprio Espírito Santo. É o próprio Espírito que guia o Magistério e os carismas. No dia em que houver uma contraposição entre os carismas e o Magistério, não tenham dúvida, aqueles carismas são falsos. Porque é ao Magistério da Igreja que o Senhor confiou sua assistência infalível, Nós queremos acompanhar tudo aquilo que a Igreja nos ensina. Nós queremos ser um com ela, para que glorifiquemos a Deus como Ele quer ser glorificado. Do jeito que Ele nos ensinou, do jeito que Ele confiou à Sua Igreja, a Sua esposa.”

Transcrição: Cristiano Ramos.

terça-feira, 30 de abril de 2013

O Belo também atrai os mais novos

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Fofo, legal, engraçado, divino, maravilhoso, poderíamos usar muitos adjetivos para descrever o vídeo de Samuel Jamarillo, uma criança, de não mais do que uns dez anos de idade, que "brinca" de celebrar a Missa. Alguns pontos, precisam ser ressaltados sobre este vídeo:

1. Parabéns à família da criança que desde cedo leva-o a Missa.
2. Parabéns ao pároco porque o pequeno Samuel só consegue celebrar tão bem, porque tem como exemplo um padre que zela pela Liturgia!
3. A "Missa" do pequenino Samuel é melhor celebrada que muitas que existem por aí!
4. Muitos argumentam que modificam a Missa, porque esta é muito lenta, não atrai aos jovens, bem, este vídeo desmistifica este argumento, já que prova que o belo também atrai os mais novos!


Nos comentários, gostaríamos que vocês respondessem a seguinte pergunta: Se até uma criança consegue, porque os nossos padres "não conseguem?"

Fiquem com Deus!



sexta-feira, 19 de abril de 2013

Manifesto Pelo Novo Movimento Litúrgico

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A História da Sagrada Liturgia tem nos mostrado que, na imensa maioria das  vezes, são os Sumo Pontífices que iniciam os processos de adaptação e reforma ritual da  Igreja. Foi assim com a compilação que mandou fazer o papa Gregório Magno dos  textos até então usados, foi assim com os textos litúrgicos que foram levados e  difundidos ao Norte dos Alpes pelos francos, também o foi assim quando o Concílio de  Trento quis que os ritos de menos de duzentos anos de uso comprovado fossem postos de lados ou quando o Rito Romano consolidou-se, cristalizou-se, com o Missale  Romanum, promulgado por São Pio V.

Também vieram dos pontífices, por exemplo, a ideia que o Cardeal Quignonez colocou em ordem: resumir o Breviário Romano e adaptá-lo para um uso mais ligeiro  dos sacerdotes. Uma ideia que, felizmente, foi abandonada assim que se percebeu o  tamanho do problema que se havia criado, simplificando o rito litúrgico para se adaptar  a realidade da Idade Moderna.

No século XIX há um movimento que, de certa forma, atinge a Igreja, mas que  não vem dela, chamado Positivismo. De maneira geral, é por causa dele que,  atualmente, temos as Ciências em formas tão variadas, mas também de forma bastante estanques, quase como que compartimentadas e, infelizmente, algumas vezes sem que  uma interaja com a outra. É do século XIX, nas Ciências Humanas principalmente, que  nasce o desejo pela redescoberta e catalogação de fontes históricas, especialmente  documentos régios e burocráticos, que não apenas acrescentassem pontos novos à  História e ao pesquisador, mas que também acabassem por legitimar o ambiente social  da época. 

Vastas bibliotecas de manuscritos foram catalogadas e expostas à luz do dia  depois de centenas (alguns, milhares) de anos. Foram lidos e datilografados, depois  publicados em vastas bibliotecas de fontes ainda hoje existentes e de extrema  importância para qualquer pesquisador sério. A Ciência Histórica conseguiu, talvez  mais que em qualquer momento antes ou depois em sua trajetória, atingir uma crescente  onda de novas produções e de novas interpretações graças a esses documentos.

Também a Igreja não passaria imune por essa fase histórica, ainda que sofrendo  indiretamente seus efeitos. A começar que o século XIX, ainda que tenha sido um  século de grandes papas, um Concílio Ecumênico, uma definição dogmática e várias  aparições famosas e importantes de Nossa Santa Mãe, também foi o século que  começou mergulhado nas sombras do Iluminismo de Napoleão, de um crescente  Racionalismo antirreligioso, de uma arte que passa a valorizar a sensualidade, de  anticlericalismo destacado e apoiado por vastos estados e, por fim, com a unificação da  Itália e o papa que se faz prisioneiro do Vaticano. A Igreja ainda não saíra de todo de uma crise no século XVIII. O galicanismo  permeava grande parte das igrejas francesas, com padres e bispos apoiando doutrinas  contrárias ao que pedia Roma, inclusive o conciliarismo e teses ligadas a independência da Igreja católica francesa de Roma. Para piorar, a época foi de certa confusão doutrinal  e moral, pois muitos padres “galicanos” afastavam os fiéis da Santíssima Eucaristia,  julgando que a maioria deles era, simplesmente, de segunda classe e que, com toda  certeza, o ato de receber Nosso Senhor Eucarístico seria um sacrilégio. Um dos padres  da época chegou a proclamar: “Orgulho-me em dizer que este domingo não houve  nenhuma Comunhão sacrílega em minha igreja, porque nenhum dos fiéis comungou”.

Eram momento difíceis para a Igreja que precisava lidar com a Revolução burguesa, os  ideias liberais e com crises internas. Porém, mesmo nos momentos mais escuros, nasce  a luz. Foi na França que o remédio para o próprio Galicanismo nasceu. E veio de um  mosteiro e de um monge. Era dom Gueranger, no século XIX, que é conhecido, antes de  qualquer coisa, como o incentivador e renovador do canto gregoriano em sua abadia,  São Pedro de Solesmes. Porém, para além do incentivo ao santo gregoriano, o abade  trabalho em grande programa de explicação, difusão e incentivo do calendário romano  (e que tornou-se seu famoso “O ano litúrgico”), com uma forma de se voltar França à  Roma. Como? Levando o povo de volta à própria Liturgia romana e dando a esta seu  devido lugar na vida dos fiéis.

Os historiadores da Liturgia têm o costume de colocar Dom Prosper Gueranger  como o iniciador do “Movimento Litúrgico”. Esse Movimento, não muito depois de  Dom Prosper, também se aproximou das fontes principais da própria liturgia que,  devagar, iam sendo publicadas. Era de entendimento geral que a Liturgia não deveria,  simplesmente, ser um mundo arcano e afastado das realidades dos fiéis. Os fiéis deveriam ser conduzidos à Liturgia e levados a um profundo conhecimento e amor por  ela. A religião não deveria ser apenas uma sequência de preceitos, mas de um amor  grande pelo Senhor e centralizar a vida dos fiéis na Santíssima Eucaristia, Nosso Senhor  Jesus Cristo presente no pão e no vinho em Seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade.

Durante todo a segunda metade século XIX e a primeira do século XX houve um  movimento gradativo, mas bastante forte, para tornar a Liturgia central na vida dos fiéis.  Apareceram os primeiros missais para aproximar os leigos do ritual, livros sobre a  vivência dos diversos tempos do ano litúrgico, além de dezenas de eventos dentro do  âmbito acadêmico voltado ao estudo da Liturgia. Parecia ser uma primavera litúrgica na  Igreja, trazendo o Cristo para o centro dos olhares e atenções dos fiéis. Porém, nem tudo foram luzes no “Movimento Litúrgico”. Foi depois da II  Guerra Mundial que algo mudou dentro dele. Os clamores por “simplificações” e  “adaptações ao espírito do homem moderno” começaram a ser ouvidos mais altos.

Surgiram teorias sérias que diziam que a liturgia estava degradada e, consequentemente,  precisava ser refeita. E o “Movimento Litúrgico”, ainda que ganhando cada vez mais  força, perdeu seu rumo original. Se a questão original era melhor formar o homem à  Liturgia, a partir desta segunda fase dele há uma mudança de rumo e clama-se para que  a Liturgia se adapte ao homem.

O Concílio Vaticano II, talvez o mais importante evento da Igreja do século XX,  dá centralidade à Santa Missa, à Liturgia, respondendo aos apelos dos peritos do  “Movimento Litúrgico”, inclusive muitos deles estando presentes no próprio evento. E é  dele que sai a Liturgia Reformada pelo papa Paulo VI que chamaremos aqui de “Novus  Ordo”.  O período que segue o Concílio, ainda que se esperasse um período de nova  primavera para a Igreja, liturgicamente foi de quase total e completo caos, sendo também um período complicado, não apenas fora, mas dentro da Igreja. A mídia cria  um Concílio que não é o mesmo Concílio da Igreja. O Concílio da mídia é aquele que  interpretou os documentos eclesiais como bem lhe aprouve, querendo adaptar a Igreja  ao homem moderno e não a linguagem da doutrina de sempre para a sociedade atual.

Explodiu a experimentação dentro da Liturgia, porque o homem moderno é dado a  novidades. O que era anterior ao Concílio, muitas vezes, foi considerado menor, errado  ou estragado, doutrina que, infelizmente, ainda hoje é ouvida por muitas pessoas e  pregada por tantas outras. Muitos homens da Igreja apaixonaram-se pela novidade. O  Missal promulgado pelo papa Paulo VI tantas vezes foi esquecido, tornando-se apenas o  lugar para as orações próprias do dia, todo o resto da Santa Missa, muitas vezes, foi  diminuído ou esquecido. Pululou o invencionismo. Pululou o relativismo. A Igreja sempre manteve a vigilância sobre a Santa Liturgia, mas poucas vezes foi ouvida.  Porém, algo novo aconteceu após o Concílio. Também os leigos entraram na luta pela Santa Liturgia. Frente ao complicado espetáculo que, algumas vezes, se delineava  em certas igrejas, foram também os leigos que pediram fidelidade às normas litúrgicas.  Surgiram, assim, movimentos devotados à correta celebração da Santa Liturgia vindo de  sacerdotes e de leigos. Com o beato papa João Paulo II vimos grandes documentos sobre a Eucaristia e  instruções de como bem celebrar a missa, mas, talvez, o ápice deste movimento foi o pontificado do papa Bento XVI, já no começo do século XXI. O papa Bento XVI não  foi um legislador sobre a Liturgia, nem um legislador sobre nenhuma outra matéria  dentro da Igreja. Legislou sobre a Liturgia, sim, porém uma única vez. Basta nos  voltarmos ao Motu Proprio “Summorum Pontificum” que delineia as normas para o uso  do Missale Romanum do beato papa João XXIII e que chamaremos de “Usus  Antiquior”. 

Mas, com toda certeza, a imagem do santo padre estará, sempre, associada à  Santa Liturgia. Não apenas por ter sido sempre um grande apaixonado pela Santa  Liturgia, devotando muitas páginas sobre o assunto, como o seu já clássico livro  “Introdução ao Espírito da Liturgia”, mas também porque ele deu-nos o exemplo, com  celebrações solenes e dignas. Também foi ele a dizer que não devemos interpretar o  Concílio de forma errônea e, igualmente, apontar-nos que precisamos de um novo  movimento litúrgico. Porém, este novo Movimento Litúrgico não deve sair de seu  âmbito, assomando a si as ferramentas para julgar e mudar a Liturgia. Isso é  experimentalismo e nem mesmo a Igreja tem feito isso com a Liturgia. O novo  Movimento Litúrgico, antes de mais nada, deve ser a ferramenta de transformação do  homem para bem viver a Santa Liturgia, muitas vezes tirando o próprio homem do centro da celebração e colocando nela Jesus, o Verbo de Deus. Além disso, deve ser base desse novo Movimento Litúrgico a fidelidade às normas e às especificações do  Magistério, cuidando para que os desvios litúrgicos não sejam mais realizados.

O amor pela Santa Liturgia do santo padre Bento XVI contagiou muitas pessoas. Aqui é importante pensarmos que precisamos salvar a liturgia para salvar o mundo. A  Liturgia não é uma sequência de normas dispostas a esmo, como também não é um  mundo sem norma alguma. A Liturgia é o espaço privilegiado de encontro com o  Senhor que vem, do Emanuel Deus Conosco, que se faz presente no meio dos seus. É na  Liturgia que o Esposo vem visitar a Esposa em um encontro íntimo, tão íntimo que nas  antigas igrejas se poderia separar a nave do presbitério no momento da Consagração por uma cortina, fazendo com que os fiéis não vissem o Esposo apresentando-se a esposa.  Salvar a Liturgia dos excessos, dos experimentalismos, dos gostos pessoais, é colocá-la  em seu lugar de direito: como centro da vida dos fiéis, é respeitar suas normas e promover a restituição de sentido do sagrado do mundo. 

Porém, já nos deveria ser claro que o papa Bento XVI não seria papa para  sempre e que aquele que o sucedesse no Trono de Pedro poderia ter outras obrigações e  planos que não a continuação das propostas litúrgicas de Bento XVI. Isso não leva os papas a serem melhores sou piores, mas nos leva a agradecer aos Céus por termos pessoas diferentes em tempos diferentes e que governam a Igreja segundo as suas necessidades. Assim, chegou a hora de o Movimento Litúrgico que vimos delineando-se no pontificado do papa Bento XVI deixar a internet que, até agora, tem sido também seu  campo privilegiado. Sim, há muita gente que trabalha arduamente para que haja o  desenvolvimento e aplicação das normas na Liturgia e de sua correta celebração, porém, um grande celeiro de conhecedores da Liturgia está no meio virtual. Chegou a hora de deixarmos os teclados de lado e arregaçarmos as mangas, usando, sim, do meio virtual para evangelizar e discutir, mas também precisamos de mãos para trabalhar. Cada uma de nossas igrejas, por menores que sejam, contam agora com nossas mãos. O pouco que temos, bem aplicado, tornar-se-á muito.

Neste espírito, abaixo, sugerimos algumas das possíveis linhas de ação a serem seguidas pelo Novo Movimento Litúrgico. São de fáceis aplicações e, igualmente,  pensadas para serem bastante práticas.
1. Os beneditinos, assim também a Milícia de Santa Maria, não desenvolvem votos de pobreza ou de obediência ao santo padre, mas são obrigados ao voto de “Conversão dos costumes” (conversatio morum) ao entrarem nos mosteiros (ou assumirem a Associação como parte de suas vidas). Trabalhar em prol da Liturgia é muito mais do que criticar a posição das mãos deste sacerdote ou dizer que tais objetos são mais dignos que outros para a Santa Missa. A conversão dos costumes é a base de todo apostolado. Ninguém que queira seguir adiante com o menor apostolado católico  deve se esquecer que a ação, sem a oração, é e será sempre infrutífera, ou pelo menos  efêmera. Se quisermos lutar pela Santa Liturgia, devemos procurar todos os meios possíveis para nossa santificação: buscarmos um bom diretor de consciências, rezar o santo rosário, participar dignamente dos Santos Mistérios, ter uma vida de oração e buscar sempre o Sacramento da Reconciliação. Porém, devemos nos entregar ao Senhor totalmente, esperando que Ele faça de nós seus instrumentos. Sem a conversão de  nossos costumes, o sincero desejo de sermos verdadeiramente santos como o Pai é santo, podemos cair não apenas nas ações vazias, mas em fazer ações que seriam boas tornarem-se más pela nossa soberba. Sem dobrar os joelhos em fervorosa oração, o  Novo Movimento Litúrgico tenderá a falhar desde seu início e a conduzir aqueles que dele tomarem parte a um fim bastante ruim.
2. Não se ama o que não se conhece e, infelizmente, atualmente as pessoas tendem a serem mais espertas que outras. Infelizmente, certos grupos tomam o lugar onde o discurso é feito e discursam qualquer coisa que não o correto, passando-o pelo correto. Devemos retomar o lugar do discurso sobre a Liturgia, ensinando e repetindo o que ensina a Igreja. Assim, a próxima ação é promover o estudo da liturgia, em sua forma mais geral. Não apenas as normas, mas seu sentido, sua teologia e sua espiritualidade. Os mitos devem ser desfeitos e a clareza da Igreja deve brilhar. O material ruim deve dar lugar ao bom material de estudo litúrgico. Opiniões pessoais devem estar em seus devidos lugares e não parecer que estas são as ações em si. A promoção pode ser feita de várias maneiras, a começar pela própria internet, mas também em reuniões em grupos de amigos e paroquianos.

3. Igualmente, caberá a todos nós promover e incentivar o canto sacro. Por definição, o canto sacro católico é o gregoriano, porém a Igreja nunca desprezou outros estilos musicais. Devemos retornar as nossas fontes identitárias em relação à música. O canto gregoriano é simples, ainda que melodioso; austero, ainda que espiritual; leve, ainda que profundo. É tempo de retomarmos nossas fontes e de nos despirmos dos preconceitos contra as formas cantuais tradicionais da Igreja. A volta do gregoriano, e da polifonia sacra, será uma forma de se recoroar o órgão como rei dos instrumentos musicais e das nossas celebrações litúrgicas. Igualmente, a busca por uma melhora constante no canto sacro, levará a criação de novas peças melhores que as atuais (e livres de, por um lado, canto de militância e, por outro, do canto sentimental extremado que gera individualismo).
4. Também, nos caberá promover o Novus Ordo bem celebrado, sem invenções, dentro do espirito característico do Rito Romano que é conhecido pela sua sobriedade. Devemos nos esforçar para que a forma comum de nossas celebrações seja primada não apenas pela sobriedade, mas por grande reverência dos fiéis. Todos aqueles que tomam parte em sua celebração devem primar pelo zelo litúrgico e amor a Nosso Senhor Sacramentado como, igualmente, os sacerdotes devem primar pela sua ars celebrandi. Que os paramentos e objetos sejam dignos, ajudando a elevar os corações  dos fieis ao alto, porém, que eles não sejam a parede ou a muleta onde escora-se a celebração. A Santa Missa bem celebrada pode, ou não, ter bons paramentos, mas terá devoção, boa homilia, zelo litúrgico, acolhida... Ainda que paramentos belos realcem o valor sagrado da Eucaristia, não poucas vezes eles podem transformar-se em uma muleta que leva os olhos ao espetáculo, mas mantem os corações vazios.
5. Igualmente, devemos promover, dando a conhecer e ajudando a desmistificar, o Usus Antiquior. Não devemos opor o anterior ao posterior do Concílio. Da mesma forma, devemos dar a conhecer o Uso Antigo do Rito Romano que foi instrumento de santificação de milhões de fiéis antes do nosso Novus Ordo. Nosso apostolado pode ocorrer de dezenas de formas, na internet com a divulgação de fotos, vídeos e textos. Igualmente, devemos dar a conhecer esta forma litúrgica aos sacerdotes e grupos de fiéis fora da internet. Não de forma abrupta e desrespeitosa, mas com amor e caridade. Os mitos que se desenvolveram em torno do Uso Antigo devem ser desfeitos com calma e caridade. Os grupos de fiéis que, por graça e benção de Deus, já celebramno devem empenhar-se na solenização do mesmo, que as Santas Missas na Forma Extraordinária do Rito Romano resplandeçam pela beleza, sobriedade e profundidade espiritual, tudo favorecendo para elevar o nosso coração ao Senhor.
6. Sabemos que enfrentaremos oposição, como também sabemos que, infelizmente, a situação da Forma Ordinária do Rito Romano em muitas igrejas pelo Brasil e o mundo não é boa, pois abundam a “criatividade” e certo subjetivismo. Então, aqueles que têm os documentos devem chegar e revolucionar o lugar? Ainda que pareça certo, isso é pastoralmente incorreto. A ideia aqui é transbordar o mal com excesso de bem, ou seja, muitos erros que parecem entranhados na comunidade, apenas são considerados certos porque foram ensinados como tal. As pessoas não cometeram erros por hipocrisia, mas pensam que fazem o certo porque foram ensinadas assim. Cabe-nos, com amor, paciência e formação, transbordar esse mal e esse erro em bem e que, antes de tudo, possamos fazer, em proporção, o bem muito mais que a quantidade de mal. Por fim, ficamos com a doutrina da Igreja que diz que dar bom conselho e corrigir o errado, dentro da caridade, são partes dos atos corporais de misericórdia.
7. Por fim, cabe lembrar que a base de todo movimento é a organização. Assim, deve-se organizar-se grupos coesos e com práticas de piedade. Os grupos ajudam a desenvolver a ideia de coesão, pode-se haver líderes e, por exemplo, vários grupos podem juntar-se em organizações maiores e, quiçá, organizarem até eventos de estudo e demonstração. A coesão e a relativa organização são necessárias para que o próprio Novo Movimento possa ser ouvido. Deve-se evitar que os grupos desenvolvam rivalidades, mas que haja um interessante e profícuo convívio fraterno entre eles. Por fim, que os membros de cada grupo lembrem-se que, antes de estudiosos ou acadêmicos, são católicos e como católicos devem se preocupar com suas almas, assim, grupos que não rezam e não entregam seus trabalhos para a maior glória de Deus devem reformar-se. Se cada membro do grupo rezar e o grupo, como unidade, rezar, com toda certeza o trabalho será santificado e irá encontrar um bom caminho.
8. Porém, como leigos, devemos lembrar sempre que, por mais sábios, acadêmicos ou estudiosos que somos, fazemos parte da Igreja discente. Não ensinamos, mas nos resumimos a repetir o que diz a Igreja. São apenas os bispos, pela sua dignidade, que podem ensinar. Assim, devemos buscar apoio eclesiástico, não apenas entre os bispos, mas também entre os sacerdotes, diáconos e religiosos e religiosas. Quanto mais apoios eclesiásticos o Novo Movimento Litúrgico conseguir, mais facilmente ele conseguirá penetrar na Igreja, retirando o que for danoso e, com caridade, consertá-lo, difundindo a todos a Santa Liturgia bem celebrada.
9. Ao contrário de certos expoentes do primeiro Movimento Litúrgico, não devemos nos entender apenas como sábios, mas como católicos que precisam da Igreja para a Salvação. Assim, é nosso dever, sempre e em todo momento, ser fiel ao Magistério da Igreja. Devemos conhecer e pregar a Sã Doutrina e, igualmente, acatar com amor os possíveis documentos que venham a juntar-se ao campo litúrgico. Não devemos, nunca, sermos rebeldes à Igreja, mas deixarmos nossa soberba e orgulhos de lado e sermos fiéis servos e filhos da Igreja.
10. Por fim, entendendo que o grande idealizador e incentivador do Novo Movimento Litúrgico foi o papa Bento XVI, o último passo, será sempre recordar e estudar o legado do papa Bento XVI. Dessa forma, teremos sempre em nossos corações o que este grande papa fez pela Santa Igreja em seus muitos anos de serviço e ministério, também ajudando a difundirmos a boa teologia realizada por ele.São medidas simples e que não são pensadas como um plano de ação fechado em si mesmo ou sem falhas. Linhas de ação delineiam planos e, se bem realizados, esses planos nos levam a metas cumpridas. Não pensem que escrevi sem pensar ou querendo colocar o jugo sobre os ombros alheios, reconheço que devo ser o primeiro a colocar essas atitudes em ação e, igualmente, começar com a minha conversatio morumpessoal. Mas, são pequenos passos dentro do tempo de Deus, que farão o novo Movimento Litúrgico caminhar segundo a vontade d'Ele.
Assim, nesta Páscoa do ano do Senhor de 2013, entrego esses planos nas Doces Mãos marcadas com as chagas de Nosso Senhor pelas Mãos de nossa Santíssima Mãe e Suserana, a Bem-aventura Sempre Virgem Maria. Que Ela, como mulher Eucarística, possa acompanhar a Igreja do Senhor e interceder por todos aqueles que buscam a sacralização da Santa Liturgia, porque é nela que o Filho se nos torna presente, deixando o homem de lado e ensinando que, na Santa Liturgia, devemos ser não como Lúcifer que quis ser como Deus, mas como Santa Maria e são João Batista que disse (Ioh 3,30): "Illum oportet crescere, me autem minui", a mim importa diminuir para o Cristo aparecer.

São Paulo, 31 de março de 2013.

Solenidade da Páscoa do Senhor.

Michel Pagiossi Silva.
Freire d´Armas da
Militia Sanctae Mariae

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Domingo do Bom Pastor em Bom Jesus do Itabapoana

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Visita do Seminário à Paróquia de Bom Jesus por ocasião do Domingo do Bom Pastor.

Fonte: Facebook





















segunda-feira, 15 de abril de 2013

Tríduo Pascal na Forma Extraordinária, em Brasília-DF

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Pelo fato de não ter sido possível as celebrações no local de costume (Santa Marcelina), reservou-se  a Casa de Cursilhos para as cerimônias, celebradas pelo Revmo. Pe. Daniel Pinheiro - Primeiro Sacerdote brasileiro ordenado no IBP. Houve todo um trabalho de deslocamento de todos os objetos e paramentos necessários em cada dia. No Domingo de Páscoa, houve finalmente uma confraternização (já na Capela Santa Marcelina) do Padre com todos os fiéis, quer dizer, para celebrar a Páscoa evidentemente, com Colombas pascais.
Quinta-feira Santa - Missa In Coena Domini:







Sexta-feira da Paixão do Senhor:










Sábado Santo - Vigília Pascal:


























 

 

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