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segunda-feira, 14 de abril de 2014

Procissão e Missa do Domingo de Ramos Projeto Paroquial de São Francisco de Assis - Currais Novos/RN

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Procissão e Missa do Domingo de Ramos no Projeto Paroquial de São Francisco de Assis - Currais Novos/RN. Fotos enviadas pelo nosso leitor, Petterson Dantas, a quem aproveitamos para agradecer.













domingo, 13 de abril de 2014

Uma breve reflexão sobre os Ramos no Domingo de Ramos

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Chegados mais uma vez ao Domingo de Ramos, achei pertinente visar, para uma pequena reflexão, um – se não o - elemento proeminente dos santos mistérios deste dia. Creio que o seu significado, talvez devido à familiaridade, seja ignorado por muitos Católicos. Refiro-me, obviamente, aos ramos, que são abençoados e distribuídos neste dia.


Donde a presença dos ramos neste dia? Ora, encontramo-los no Novo Testamento, dirão com certeza, e estão presentes na entrada de Jesus em Jerusalém dias antes da Sua Paixão. Mas a pergunta que coloco aqui é: por que ramos, especificamente? Olhemos para as perícopes da entrada, em especial para aquelas que mencionam a existência de ramos – São Mateus, São Marcos, e São João. Porque nos falam os evangelistas da presença de ramos? Olhemos, não com familiaridade para estes textos, mas com olhos “novos”, de quem os lê (ou melhor, ouve) pela primeira vez. Convido a encarar este texto, não como um Católico do séc. XXI, mas como um Judeu do séc. I. O que a nós poderá passar despercebido como um “mero detalhe” que dá origem a um sacramental neste dia, para um judeu contemporâneo de Jesus encerava um significado profundo. Creio que conhecendo o seu significado para um judeu nos ajudará a entrar mais profundamente nos santos mistérios deste domingo.

A existência de ramos e gritos de Hosanna remetem-nos para o festival de Sucot, geralmente referido como Festa das/dos Tendas/Tabernáculos no Novo Testamento.

A observância de Sucot, cuja duração é uma oitava, foi estabelecida por Deus aquando do estabelecimento da Aliança com Israel no Monte Sinai, sendo uma das três festas de peregrinação obrigatória a Jerusalém. A festa era, grosso modo, uma festa de natureza agrícola, pois calhava na época da colheita (cf. Ex 23,16; 34,22); mas como toda a festa agrícola judaica, estava revestida de significado religioso também. Servia para “fazer memória” do tempo em que Israel vagueou pelo deserto, vivendo em tendas, antes de entrar na Terra Prometida, quando Deus os fez sair da casa do Egito:
«Habitareis nas tendas durante sete dias; todos os que nasceram em Israel deverão habitar em tendas, para que os vossos descendentes saibam que fiz habitar em tendas os filhos de Israel, quando os fiz sair da terra do Egipto.»
Estava prescrito a leitura da Lei durante a festa a cada sete anos: 
«Ao fim de sete anos, na Assembleia do Ano da remissão, pela festa das Tendas, quando todo o Israel comparecer diante do SENHOR, teu Deus, no lugar que Ele tiver escolhido, farás a proclamação desta Lei a todo o Israel. Reunirás o povo, homens, mulheres e crianças, e o estrangeiro que estiver nas tuas cidades, a fim de que escutem, aprendam e reverenciem o SENHOR, vosso Deus, e cumpram todas as palavras desta Lei. Os filhos deles, que ainda não conhecem, ouvirão e aprenderão a reverenciar o SENHOR, vosso Deus, enquanto viverdes na terra de que ides tomar posse, depois de passardes o Jordão.» 
Era também uma festa que prefigurava/antecipava a “colheita final” de Israel, quando este reuniria todas as nações em Deus. Dada a grandiosidade da festa, e da alegria a ela associada, começou a ter ligações à linhagem real: por exemplo, durante esta festa Salomão dedicou o Templo (1 Rs 8). Após o regresso do exílio na Babilônia, e com a ausência dum rei, a festa foi ganhando conotações messiânicas. Já o profeta Zacarias nos fala do dia em que as nações haverão de vir celebrar o Sucot a Jerusalém:
Os que restarem de todas as nações, que tiverem marchado contra Jerusalém, irão todos os anos adorar o Rei, o Senhor do universo, e celebrar a festa das Tendas. 
Era uma festa caracterizada por: alegria, “tendas”, ofertas, e ramos. São estes últimos que nos interessam hoje. 
No primeiro dia, apanhareis belos frutos, ramos de palmeira, ramos de árvores frondosas e dos salgueiros do rio; e regozijar-vos-eis na presença do SENHOR, vosso Deus, durante sete dias.
Os ramos – lulav, em hebraico – seriam de tamareira, e teriam murta e salgueiro atados juntamente. Crê-se que estas plantas serviriam de recordação do tempo passado no deserto, uma vez que correspondem a espécies comuns nesse ambiente. O lulav deveria ser apresentado pelos fiéis no Templo todos os sete dias que durava a celebração de Sucot, e as crianças eram obrigadas a levá-lo a partir do momento em que já conseguissem abaná-lo. Durante as celebrações no Templo (cujos símbolos Jesus identificou consigo mesmo em São João), o coro cantaria os salmos de Hallel (de louvor) – os Salmos 113 a 118. Quando eram cantados os Hosannas no Salmo 118 toda a assembleia abanava os seus ramos em direção ao altar.

Como já referi, na época de Jesus, esta festa já não estava associada ao rei “atual”, da casa de Davi, mas ao Filho de Davi que haveria de vir. Sucot haveria de ser a única festa que perduraria no final dos tempos, após a vinda do Messias; a grande festa de louvor em que Israel finalmente consumaria as núpcias com o Seu Senhor. Não é por acaso que no livro do Apocalipse nos surge a imagem da multidão composta por pessoas de todas as nações diante do trono do Cordeiro, com ramos nas mãos: 
Depois disto, apareceu na visão uma multidão enorme que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé com túnicas brancas diante do trono e diante do Cordeiro, e com palmas na mão.
Todo este simbolismo estaria presente na mente dum judeu do primeiro século. A presença destes sinais na entrada triunfal não implica a celebração da festa, mas o reconhecimento por parte do povo israelita, em quem estas imagens estariam bem presentes, de que o Filho de Davi tinha chegado, e que se iniciava o Sucot derradeiro (tal como São Pedro perguntou se deveria montar tendas aquando da Transfiguração).

Chegado ao fim desta breve exposição histórica, o que são para nós, então, os ramos que recebemos no Domingo de Ramos, que levamos em nossas mãos em procissão, e que eventualmente levaremos para casa? Estes ramos são testemunhos da nossa fé no Messias. São sinal de que o Filho de Davi salva. São reconhecimento do Cristo Rei. A liturgia bracarense demonstra isto duma forma sutil na procissão, através da cruz processional. Enquanto que no rito romano tradicional a cruz está velada, uma vez que nos encontramos já dentro do tempo litúrgico conhecido como "Tempo da Paixão", no rito bracarense a cruz é desvelada para a procissão, demonstrando que esta é uma entrada triunfal, de alegria. Estes ramos são uma lembrança de que, apesar de dentro de alguns dias o Senhor sofrer a Sua Paixão, “Christus vincit, Christus regnat, Christus imperat”. São sinais escatológicos na medida em que revelam a nossa fé e esperança no Rei dos Reis que há de vir no fim dos tempos, para consumar as núpcias com a Sua Noiva, a Igreja,  enxugando as nossas lágrimas.


segunda-feira, 7 de abril de 2014

Ordenações Diaconais de Franciscanos Conventuais em Roma

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No último dia 25 de março, Solenidade da Anunciação do Senhor, na Basílica dos Ss. XII Apóstolos (dos Franciscanos Conventuais), foram ordenados Diáconos os Freis Jozef Sukeník e Pablo Fan.

Frei Jozef é da Custódia da Eslováquia, enquanto Frei Pablo, que é chinês, pertence à Custódia de Assis. 

Frei Jozef chegou em Roma há dois anos, como professo temporário, e começou a estudar Cristologia na Faculdade Seraphicum e fez a profissão solene em outubro passado, na Eslováquia.

Frei Pablo Fan terminou os estudos teológicos em Assis e foi para Roma também em outubro passado,  para começar a licenciatura na Universidade Salesiana.

A celebração foi presidida com muita beleza e sobriedade pelo Bispo Conventual, Dom Frei Gianfranco Girotti. Os professos temporários serviram na Liturgia. Ressaltamos o detalhe dos paramentos romanos envergados pelo Bispo e pelos neo-diáconos.

Emocionante, como sempre, o canto da ladainha, com os candidatos prostrados em terra, antes de que o Bispo lhes impusesse as mãos. Após a celebração, como de costume, a fraternidade, parentes e amigos saudaram os novos Diáconos.

OFMConv. | Trad. Adapt. Cleiton Robsonn.
Por Frei Paolo M. Carola | Fotos dos Freis: F. Czarnowski, R. Wróbel e Breski, OFMConv.





































domingo, 6 de abril de 2014

Summorum Pontificum em Santa Maria: Missa na Forma Extraordinária em Pinhal Grande - RS

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Recebemos este relato e estas fotos do leitor Clécio Almeida:
No dia 4 de dezembro de 2013, a Paróquia São José - Pinhal Grande, RS, da Arquidiocese de Santa Maria, viveu a primeira noite do Tríduo em honra da Imaculada Conceição na Forma Extraordinária do Rito Romano.
A convite do revmo Pe. Pablo Zanini, o revmo Pe. Rodrigo Cabrera da Paróquia Nossa Senhora dos Remédios – Quevedos, RS, celebrou a Missa do Commune Festorum B. Mariae Virginae diante de uma igreja repleta de fiéis.
Na ocasião, cinco seminaristas do Seminário Maior São João Maria Vianney, da Arquidiocese de Santa Maria, auxiliaram na elaboração de folhetos para o povo, que foram utilizados tanto para as respostas da Missa como para os cânticos. 
Foi a segunda vez que o revmo Pe. Rodrigo Cabrera celebrou a Santa Missa na Forma Extraordinária do Rito Romano na Paróquia São José de Pinhal Grande. 
Convidamos a todos para curtirem nossa página no facebook: Summorum Pontificum em Santa Maria.

Breve catequese antes da Missa
Orações ao pé do altar
Evangelho
Sermão
Consagração

quarta-feira, 26 de março de 2014

Liturgia da Ostentação (ou: A função da beleza na Liturgia)

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A Era da Ostentação

Vivemos no que poderia, tranquilamente, ser chamado de Era da Ostentação. Que uma das notas da modernidade seja o materialismo, isto vem sendo facilmente observado há um bom tempo e continua muito válido. Recentemente, recordou-nos disto o Papa Francisco, ao dizer que "a ambição do poder e do ter não conhece limites" (Papa Francisco, Evangelii Gaudium, n. 56). Agora, porém, não basta ao homem ter cada vez mais posses materiais e possuir um poder crescente - subentenda-se aqui as mais diversas formas de poder: influências sociais, status, e mesmo a posse de conhecimento. Não! O homem de hoje precisa também ostentar seus bens, materiais e imateriais, perante os outros.

Pode-se perceber manifestações deste fenômeno nas redes sociais: perfis recheados de fotos selfie - em sua maioria de pessoas exibindo seus corpos e seus bens materiais -, de fotos de viagens luxuosas e também de certas disputas de influência. Infelizmente, mesmo no meio católico, nota-se uma disputa pelo número de seguidores e a presença constante do vanglorioso hábito de escrachar alguém num debate e publicar a captura de tela em diversos grupos. Outras manifestações podem ser vistas nos programas de reality show - o sonho de ficar famoso da noite para o dia pela simples ostentação de sua imagem pública (de seus corpos, principalmente) e viver da fama - e, como exemplo mais atual, na moda de se colocar aparelhos ortodônticos mesmo quando não há necessidade.

Num mundo em que tudo precisa ser ostentado, não é de se espantar que este fenômeno afetasse o culto litúrgico. Enquanto na maioria do orbe católico seu aspecto divino foi de há muito diminuído, cresceu demasiadamente, por outro lado, seu papel social. Sendo a Liturgia entendida como uma atividade (quase que) puramente humana, acaba ela por refletir o comportamento humano, ao passo que podemos falar de uma "Liturgia da Ostentação".

Liturgia da Ostentação

Na Liturgia da Ostentação não faltam belas alfaias, lindos paramentos com brocados e, principalmente, batinas para acólitos e cerimoniários feitas de tecido importado e sobrepelizes com rendas francesas caríssimas. Não que estas coisas sejam per se más. A própria tradição anglicana - e agora dos católicos dos Ordinariatos, conversos do anglicanismo - do smells and bells é um exemplo de como, se devidamente ordenada, a beleza exterior pode levar a uma maior participação dos fiéis no culto. Não obstante, vemos outra coisa: estes elementos todos foram desvirtuados de seu real objetivo, a maior glória de Deus, a adoração perfeita a Ele.


Destarte, pode-se definir a Liturgia da Ostentação como a beleza por ela mesma, para a vanglória do homem. Seus adeptos frequentam a Pastoral do Pano, que se encontra em franca expansão: não se restringe apenas aos "seminaristas do pano", mas aos "acólitos e cerimoniários do pano". O conhecimento a respeito dos diversos tipos de tecidos e rendas é tamanho, que poderiam tranquilamente organizar - trocadilhando importante evento de moda no Brasil - a Renda Fashion Week.

Renda Fashion Week?
A ostentação na Liturgia se enquadra como uma das muitas formas de mundanismo espiritual, referida pelo Papa Francisco como uma das tentações dos agentes pastorais. Deste perigo, disse o Santo Padre:
"O mundanismo espiritual, que se esconde por detrás de aparências de religiosidade e até mesmo de amor à Igreja, é buscar, em vez da glória do Senhor, a glória humana e o bem-estar pessoal. É aquilo que o Senhor censurava aos fariseus: «Como vos é possível acreditar, se andais à procura da glória uns dos outros, e não procurais a glória que vem do Deus único?» (Jo 5, 44). É uma maneira subtil de procurar «os próprios interesses, não os interesses de Jesus Cristo» (Fl 2, 21). Reveste-se de muitas formas, de acordo com o tipo de pessoas e situações em que penetra. Por cultivar o cuidado da aparência, nem sempre suscita pecados de domínio público, pelo que externamente tudo parece correcto. Mas, se invadisse a Igreja, «seria infinitamente mais desastroso do que qualquer outro mundanismo meramente moral»". (ibidem, n. 93)
Pouco mais adiante, fala o Sumo Pontífice que  "há um cuidado exibicionista da liturgia, da doutrina e do prestígio da Igreja, mas não se preocupam que o Evangelho adquira uma real inserção no povo fiel de Deus e nas necessidades concretas da história" (ibidemn. 95). E logo depois fala sobre a ostentação de bens, que já mencionei anteriormente:
"Noutros, o próprio mundanismo espiritual esconde-se por detrás do fascínio de poder mostrar conquistas sociais e políticas, ou numa vanglória ligada à gestão de assuntos práticos, ou numa atracção pelas dinâmicas de auto-estima e de realização autoreferencial. Também se pode traduzir em várias formas de se apresentar a si mesmo envolvido numa densa vida social cheia de viagens, reuniões, jantares, recepções. [..] Já não há ardor evangélico, mas o gozo espúrio duma autocomplacência egocêntrica." (ibidem, loc. cit.)
Ostentação na liturgia e ostentação na vida. Um leva ao outro e, neste círculo fechado, Cristo acaba ficando de fora.

É preciso ter em vista que os adeptos da ostentação litúrgica não se deram conta do perigo que esta inversão de valores oferece. Em verdade, creio que a imensa maioria - se não sua totalidade - não se apercebeu disto. Ao minimalismo e à feiura da arte e da arquitetura pós-modernas, buscam na exacerbação da beleza uma resposta. Acabam, porém, saindo de um excesso para cair no excesso do lado oposto, que configura uma espécie de idolatria da beleza.

No tocante aos acólitos e cerimoniários do pano, vejo que dois de seus comportamentos típicos precisam de correção, ao que, fraternalmente e humildemente, me proponho aqui. Primeiramente, não é apropriado que leigos usem fotos suas trajando batinas como avatares em redes sociais. A batina é um traje propriamente clerical, cujo uso, da parte de um leigo, é reservado apenas para as celebração litúrgicas (cf. Sagrada Congregação dos Ritos, consulta de número 4194, par. 2). Se usar batina fora da celebração litúrgica é clericalização do leigo, representar-se a si mesmo numa rede social desta forma também o é.


Segundo, não podemos nos ocupar demasiado em qual o paramento mais bonito e questões do tipo. Se em dúvida sobre qual sobrepeliz ou renda é mais bela, peça-se ajuda a alguém com bom gosto (mulheres geralmente possuem melhor sensibilidade para isto). Mas fazer enquetes a este respeito em redes sociais é desnecessário. Deixemos de perder o tempo de si e dos outros com este tipo de pergunta; não é assim que se trabalha para salvar a Liturgia.

A função da beleza na Liturgia

Dado que a beleza na Liturgia não é um fim em si mesmo, qual é sua função na Liturgia e, em primeira instância, em nossas vidas? Responde-nos o Papa João Paulo II:
"A beleza é chave do mistério e apelo ao transcendente. É convite a saborear a vida e a sonhar o futuro. Por isso, a beleza das coisas criadas não pode saciar, e suscita aquela arcana saudade de Deus que um enamorado do belo, como S. Agostinho, soube interpretar com expressões incomparáveis: «Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei!»." (Papa João Paulo II, Carta aos Artistas, n. 16)

Esta saudade que sentimos de Deus, secreta para nós mesmos, porque, de tão íntima e profunda, está enraizada em nossa alma e disto não nos damos conta, é aquela inquietude perene que Santo Agostinho expressou tão bem e que o Papa João Paulo II explicitou:
"«Fizestes-nos, Senhor, para Vós, e o nosso coração está inquieto, até que não repouse em Vós». Nesta inquietude criativa bate e pulsa aquilo que é mais profundamente humano: a busca da verdade, a insaciável necessidade do bem, a fome da liberdade, a nostalgia do belo e a voz da consciência". (idemRedemptor Hominis,18)
O Papa Bento XVI entende a beleza como fundamental em toda a vida cristã, a ponto de podermos falar  em toda uma "teologia da beleza", que ele desenvolveu ainda quando cardeal:
"Para Platão a categoria do belo era determinante: o belo e o bom para ele coincidiam por último em Deus. Com a aparição do belo nós ficamos profundamente feridos, e essa ferida nos arrebata fora de nós mesmos, põe em movimento o vôo da saudade e nos impele ao encontro daquilo que é o verdadeiro belo, o próprio bem." (RATZINGER, Joseph. Introduzione allo spirito della liturgia, San Paolo, Cinisello Balsamo, 2000, p. 122, apud MOREROD, Charles. A beleza na Teologia de Joseph Ratzinger)
Não é por nada que, como bem disse Dostoiévski, "a beleza salvará o mundo". Tudo o que é verdadeiramente belo aponta para Deus. Dito de outro modo, na beleza contemplamos a Deus. Se sentimos saudade de Deus, também sentimos saudade do belo, e pelo belo chegamos a Deus. É o que se chama de Via Pulchritudinis, a Via da Beleza. Dela, o Pontifício Conselho para a Cultura disse o seguinte:
A via da beleza responde ao íntimo desejo por felicidade que reside no coração de cada pessoa. Abrindo horizontes infinitos, ela impele a pessoa humana a empurrar-se para fora de si mesma, da rotina da efêmera passagem do instante para o Transcendente e o Mistério, e a buscar, como fim último da jornada pelo bem-estar e nostalgia total, esta beleza original que é o próprio Deus, criador de toda beleza criada. (A Via Pulchritudinis, Caminho Privilegiado para a Evangelização e o Diálogo, tradução livre)

Falamos da beleza na vida. Mas e sua ligação com a liturgia, onde se encontra? Ora, basta pensarmos que na Liturgia temos a ação sagrada do homem por excelência, onde o próprio Deus permite que o homem ali o encontre e o receba dentro de si, como alimento espiritual. Se a beleza possui este dom de conduzir-nos para Deus, posto que é atributo do próprio Deus, e se na Liturgia devemos sempre encontrá-Lo, está aí a importância da beleza na Liturgia.
"De fato, a liturgia, como aliás a revelação cristã, tem uma ligação intrínseca com a beleza: é esplendor da verdade (veritatis splendor). [..] Referimo-nos aqui a este atributo da beleza, vista não enquanto mero esteticismo, mas como modalidade com que a verdade do amor de Deus em Cristo nos alcança, fascina e arrebata, fazendo-nos sair de nós mesmos e atraindo-nos assim para a nossa verdadeira vocação: o amor." (Papa Bento XVI, Sacramentum Caritatis, n. 35)
Digo mais: uma vez que a participação ativa - que é também espiritual, e não apenas um mero ativismo, um "fazer coisas" - consiste também em mergulhar mais profundamente nos mistérios celebrados, é fácil perceber que só haverá participação plena quando houver beleza na Liturgia, de modo que esta ajude nossa alma, por meio dos sentidos, a perceber que por trás daqueles mesmos gestos e palavras repetidos, daquelas vestimentas e vasos sagrados, ocorre algo do Mistério, que ultrapassa nossa capacidade de entendimento, que nos aproxima de Deus de um modo como nenhum outro.
"A verdadeira beleza é o amor de Deus que nos foi definitivamente revelado no mistério pascal.

"A beleza da liturgia pertence a este mistério; é expressão excelsa da glória de Deus e, de certa forma, constitui o céu que desce à terra. O memorial do sacrifício redentor traz em si mesmo os traços daquela beleza de Jesus testemunhada por Pedro, Tiago e João, quando o Mestre, a caminho de Jerusalém, quis transfigurar-Se diante deles (Mc 9, 2). Concluindo, a beleza não é um fator decorativo da ação litúrgica, mas seu elemento constitutivo, enquanto atributo do próprio Deus e da sua revelação. Tudo isto nos há-de tornar conscientes da atenção que se deve prestar à acção litúrgica para que brilhe segundo a sua própria natureza." (ibidem, loc. cit.)
Coloca-se a beleza em seu devido lugar na Liturgia quando se entende que os paramentos litúrgicos "não são endossados pela aparência do padre, mas para dar glória a Deus. Por isso, devem ser tão esplêndidos quanto possível, porque na Liturgia se realiza a tarefa dos anjos, dos servos de Deus" (Mons. Nicola Bux, Conferenza al Convegno dei Francescani dell'Immacolata. Roma, 2010)

Coloca-se a beleza em seu devido lugar na Liturgia quando se compreende que toda liturgia terrestre aponta para a Liturgia celeste:
"As nossas liturgias da terra, inteiramente dedicadas a celebrar este ato único da história [o mistério da Redenção] não conseguirão nunca expressar totalmente a sua densidade infinita. Sem dúvida, a beleza dos ritos nunca será bastante procurada, nem suficientemente cuidada nem assaz elaborada, porque nada é demasiado belo para Deus, que é a Beleza infinita. As nossas liturgias terrestres não poderão ser senão um pálido reflexo da liturgia que se celebra na Jerusalém do céu, ponto de chegada da nossa peregrinação na terra." (Papa Bento XVI, Vésperas na Catedral de Paris, 12 de setembro de 2008)

 Finalizo trazendo à reflexão alguns trechos do pensamento do Cardeal Ratzinger sobre este assunto, todos compilados no artigo "A beleza na Teologia de Joseph Ratzinger", de autoria de Charles Morerod:
  • "A onda de esoterismo, a difusão das técnicas asiáticas de distensão e de auto-esvaziamento mostram que nas nossas liturgias falta algo. Justo no mundo de hoje temos necessidade do silêncio, do mistério para além do individual, da beleza." (“La Nuova Evangelizzazione”, L’Osservatore Romano, 11-12 dicembre 2000, 11)
  • "A liturgia existe para todos. Deve ser “católica”, ou seja, comunicável a todos os crentes, sem distinção de lugar, de proveniência, de cultura. Deve ser portanto “simples”. Mas simples não significa de baixo nível. Há a simplicidade do banal e a simplicidade que é a expressão da maturidade." (Joseph Ratzinger, La festa della fede, p. 97)
  • Em uma bela liturgia, “ainda que os participantes não entendam talvez todas as palavras individualmente, percebem o significado profundo, a presença do mistério que transcende todas as palavras” (“La nuova evangelizzazione”, L’Osservatore Romano, 11-12 dicembre 2000, 11)

  • "A Igreja deverá aprender novamente a celebrar as festas e a irradiar o esplendor. A sua submissão ao mundo racional nestes últimos anos foi muito profunda, debaixo deste ponto de vista, de tal maneira que a Igreja se despojou de algo que lhe era totalmente próprio. Ela deve nos conduzir às festas que conserva na sua fé, assim poderá em alguma medida deixar felizes aqueles para os quais o seu anúncio, se visto racionalmente, permanece inacessível." (Elementi di teologia fondamentale, p. 76-78)

Outras Referências:

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