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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O que é o Graduale Simplex?



Para respondermos à pergunta que dá título a este texto, precisamos conhecer primeiro um livro chamado Graduale Romanum.

O Graduale Romanum é um livro litúrgico cujo conteúdo é exclusivamente de partituras de canto gregoriano, quer dizer: ele contém apenas música. Apenas música, e toda a música necessária para a celebração de qualquer Missa do ano litúrgico.

Este livro já existia no Rito Tridentino, e depois da reforma litúrgica de 1969-1970 recebeu alguns ajustes para funcionar no Rito Novo. A edição de 1974 é essa, usada na Forma Ordinária. A edição de 1961 se utiliza na Forma Extraordinária.

Se o leitor quer o Graduale Romanum de 1974, deve comprá-lo; se quer o de 1961, encontra-o para download na internet.

Ambos contêm um “Kyriale”, isto é: peças musicais para o Ordinário da Missa (Kyrie, Gloria, Credo, Sanctus e Agnus Dei, junto com as antífonas de aspersão Asperges me e Vidi aquam); e além dele também o Próprio (Introito, Gradual, Ofertório, Comunhão, Trato, Aleluia, Seqüência) para o ano inteiro, incluindo as comemorações dos santos e da Santíssima Virgem Maria.

É preciso estudo para cantar as peças musicais do Graduale Romanum. São cantos generosamente ornamentados, pedindo muita concentração e perícia.

Se a paróquia (ou casa religiosa ou qualquer outra igreja) abriga cantores treinados, tem a possibilidade de utilizar integralmente o Graduale Romanum em cada Missa, o que inclui a Comunhão. Claro que nem todo lugar tem esses cantores. Não podemos pensar que antes da reforma litúrgica a Missa Tridentina fosse celebrada em todos os lugares com canto gregoriano do Graduale Romanum. Isso acontecia onde havia recursos para isso: os cantores; se não havia, o Próprio era cantado em tons salmódicos (com abundantes notas repetidas), pois as rubricas só permitiam o Graduale Romanum ou tons salmódicos. No Rito Tridentino continua sendo assim, havendo ainda a terceira possibilidade, a polifonia; mas se não há cantores treinados para o gregoriano, ainda mais improvável é que os haja para a polifonia. Por esta razão, havia muitas Missas sem música, missas “baixas”; ou então os fiéis cantavam cantos devocionais, tanto em vernáculo como em latim; mas era (e continua sendo) proibido que esses cantos usem os textos do Próprio; esses cantos durante a Missa não fazem parte dela, sendo uma maneira piedosa (e legítima) de se unir ao sacrifício da mesma forma que recitar o Rosário. Esses cantos devocionais são chamados “hinos”; na Liturgia das Horas (mesmo antes da reforma litúrgica), os hinos são realmente parte integrante, constando dos livros litúrgicos, contando entre seus espécimes peças como “Veni Creator Spiritus”, “Pange lingua” e muitos outros. Na Missa não.

Rezar o Rosário na Missa do Rito Novo, a Forma Ordinária, continua sendo uma forma legítima de se unir ao sacrifício. Os hinos, mais ou menos. Não são proibidos, mas ocupam o último lugar na lista de opções, lembrando que o pop litúrgico não está na lista nem no mais absurdo sonho (ou pesadelo). A reforma litúrgica colocou mais opções onde o Rito Tridentino oferecia três. O leitor perceba que não estou dizendo que o Rito Tridentino seja mau por causa disso. Na verdade, o Rito Novo também oferece apenas essas mesmas três opções, diferindo apenas ao expandir as fontes de onde se tomam os cantos. O Rito Tridentino nos dava o Graduale Romanum. O Rito Novo nos dá o Graduale Romanum e o Graduale Simplex, abrindo ainda a possibilidade de uso do vernáculo para a qual confia nos compositores da Igreja. Se existem um Graduale Romanum e um Graduale Simplex em latim, a lógica nos leva à necessidade de livros similares nas línguas vernáculas, contendo música que siga o rastro do gregoriano. Mas não marchinhas, nem forrós, nem chamamés, nem guarânias, nem rock, nem reggae.

Repetindo, os livros litúrgicos de música em latim já existem; se há permissão para o vernáculo, também são necessários livros em vernáculo; mas o gênero musical precisa ser aparentado ao gregoriano, precisa continuá-lo, de alguma forma; precisa beber da sua tradição e da sua influência.

Se há pretexto para se usar um gênero folclórico ou popular moderno como os da lista dada mais acima, se se usa rock, marchinha, reggae, pop meloso ou sem mel, há também pretexto para modificar os textos litúrgicos, e assim se inventa um rito que não é da Igreja e não tem a sua aprovação.

Assim, o Graduale Simplex foi organizado para que as igrejas possam ter canto gregoriano mesmo que o Graduale Romanum seja difícil demais para seus cantores. Antes, a dificuldade impunha que o Próprio fosse cantado em tons salmódicos ou que a Missa não fosse cantada; agora existe o Graduale Simplex, com melodias mais simples e Próprios que se podem repetir dentro do mesmo tempo litúrgico.

A elaboração desse livro atende a um mandato do Concílio Vaticano II constante de Sacrosanctum Concilium, 117:

117. Procure terminar-se a edição típica dos livros de canto gregoriano; prepare-se uma edição mais crítica dos livros já editados depois da reforma de S. Pio X.
Convirá preparar uma edição com melodias mais simples para uso das igrejas menores.

A ênfase é nossa. Com efeito, na capa do livro lemos Graduale Simplex in usum minorum ecclesiarum - repetindo exatamente o texto do documento conciliar.

Numa situação mais próxima da ideal, as catedrais, por exemplo, usariam o Graduale Romanum, e mesmo as grandes paróquias. Entretanto, como o leitor sabe, a situação da Liturgia é diferente, e até mesmo em celebrações do papa na Basílica de São Pedro, em Roma, às vezes se utiliza... o Graduale Simplex.

De maneira nenhuma quero dizer que o Graduale Simplex seja proibido para grandes igrejas. Essa proibição não existe e, se a minha opinião vale qualquer coisa, acredito que não faria sentido proibir. Até porque quando existe o desejo de transformar a Liturgia naquilo que ela não deve ser, usar o Graduale Simplex é arma completamente ineficiente; para tal se deve introduzir música pop, folclórica etc. O material do Graduale Simplex é muito bom, e mesmo que uma igreja não chegue nunca a usar o Graduale Romanum, estará muito bem com o Simplex. Teoricamente as catedrais usariam o Romanum, mas se elas usassem sempre o Simplex, já seria um avanço espantoso...

Ademais, o próprio prefácio do Graduale Simplex sugere que este livro seja usado também como fonte de variação do repertório; isto é, além de ser acessível às igrejas pequenas, é também de interesse para as igrejas grandes e catedrais, onde seu uso pode enriquecer a Liturgia.

O Graduale Simplex é mais acessível inclusive no nível paroquial, mesmo às pequenas paróquias. É sempre importante lembrar que quando um fiel faz uma leitura na Missa, ele está usando um conhecimento (a leitura) para cuja aquisição precisou ir à escola ou, mesmo tendo aprendido em casa, não adquiriu da noite para o dia. Para o Graduale Simplex temos a mesma situação. Deve-se valorizar o livro e a função do músico na Liturgia, tratar a celebração com respeito e dedicar-se ao estudo dos rudimentos da notação gregoriana, cuja dificuldade talvez seja igual à de aprender as letras do alfabeto - ou menor.
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