O Domingo de Ramos desse ano foi muito importante pra mim pois pela primeira vez eu acolitei o rito tridentino. Quando estava no altar segurando a casula do padre enquanto ele oferecia o Sacríficio fiquei pensando quantos jovens acólitos já não estiveram ali como eu naquele momento, levando em conta que a Igreja da Antiga Sé Nossa Senhora do Carmo tem 300 anos.
No dia seguinte fui devolver os paramentos que usei para o padre João Jefferson que gentilmente me emprestou, e aproveitei e conheci a sua paróquia que está passando por uma restauração tanto na estética como espiritualmente.
Ao chegar na paróquia fui bem atendido e recomendado a esperar o padre na igreja, e ao encontrá-lo e cumprimentá-lo o mesmo me informou que em uma hora ele celebraria o Novus Ordo em latim após o terço, e resolvi ficar para fechar o dia em oração aproveitando o tempo da Semana Santa.
Durante o terço, a igreja ia se enchendo para a Missa, o público foi variado levando em conta que se tratava de uma Missa de 7º dia, reparei que entre os membros da paróquia ali presente que estava arrumando o presbitério com as toalhas, credência, velas etc havia jovens, crianças e idosos.
Assim que terminou o terço o padre pediu a atenção de todos e mencionou que a Santa Missa ali celebrada seria em lingua latina, e ainda fez uma pequena catequese dizendo que a Liturgia da Igreja sempre adotou as três linguas que estavam na placa de condenação na Cruz de Nosso Senhor, o latim em seu corpo principal, o grego no Kyrie Eleison e o hebraico no Hosana e no Halleluia. Focou também que o Concílio Vaticano II jamais aboliu o latim e que houve uma concessão apenas para o uso da lingua local, mas que a idioma sagrado que os Santos sempre falavam com Deus era e continua sendo o latim.
Também foi distribuido entre a assembléia um missal encadernado bilíngue, todos ali poderia acompanhar a Missa tendo noção do que está sendo rezado e dito. As leituras e o Evangelho seriam lidos em português.
Para a minha surpresa, mesmo depois de toda a explicação catequética do padre, uma senhora que estava sentada no banco a minha frente guardando o lugar para sua conhecida, assim que ela chegou disse num tom de ironia: "Fulana, hoje a Missa vai ser rezada numa lingua que ninguém entende! "
E a senhora não fez outra coisa a não ser reclamar, confesso que deu medo a cara feia dela enquanto estava murmurando com sua colega, mais feia ainda quando ela me olhou assim que me ouviu dizer em alto com som quando o padre rezou o Orater frates: Suscipiat Dominus sacrificium de manibus tuis ad laudem et gloriam nòminis sui, ad utilitatem quoque nostram totius que Ecclesiæ suae sanctae.
Os olhares dos idosos, na maioria dos que estavam ali, era de desconforto e derrota. Enquanto que o semblante da juventude era de contemplação ascética do momento sacro que a ocasião estava proporcionando para as nossas almas. Após o Oremus final o padre mencionou nos avisos que a paróquia teria a Forma Extraordinária do Rito Romano semanalmente, celebrada pelo próprio padre João que diga-se de passagem, é profundamente apaixonado pela Liturgia, herança recebida pelo Santo Padre Bento XVI
Não pude deixar de olhar para o bico que a mesma senhora fez diante do aviso do padre, foi tão assustador que mais um pouco pela força da musculatura facial para fazer a careta que a dentadura não foi para fora, parece que se sossegou quando o ecoou nos seus ouvidos: "A Missa das 7h aos domingos continuará em português... "
O fato, é que não foi uma situação particular, já ouvi queixas de vários idosos quando entravam na Antiga Sé e ao ver o folheto da Missa nos bancos me indagavam o por quê do latim, e quando mencionava que foi a Missa da sua infância e juventude reagiam sempre com um sonoro e pejorativo "Hunf! Ah!". E até mesmo conversando com eles no ônibus, fila de bancos, etc falando da Missa tradicional e do Motu Proprio, nenhum, salvo raríssimas exeções demonstravam sequer um pingo de interesse ou saudosismo.
Como pode? Um filho fazer pouco de sua Mãe? Como pode uma geração que nasceu, recebeu os primeiros sacramentos da iniciação cristã e viveu de forma ordinária da Missa de São Pio V não demonstrar amor por esse rito? E nem pelos seus elementos sacros, como constatei pelo latim celebrada no Novus Ordo.
E essa esfera é somente exclusiva na religião. Não conheci nenhum idoso que tenha dito "Hunf! Ah!" para as músicas de Roberto Carlos ou para as novelas em preto e branco da TV Tupi.
Com isso, se repete a famosa pergunta que vejo em muitos blogs e sites católicos: Por que leigos e o clero idoso tem uma aversão com a Missa que santificou a Igreja por mais de mil anos?
Na verdade, isso serve apenas para uma reflexão. Porque resposta mesmo acredito que nunca conseguiremos obter.
E ficará apenas como um parágrafo na história da restauração litúrgica promovida por Bento XVI e seu Colégio Cardinalício.
terça-feira, 19 de abril de 2011
O Rito de São Pio V e a velharada rabugenta
Por
Rafael Vitola Brodbeck
Relato do amigo e leitor David Conceição:
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