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sábado, 23 de agosto de 2014

Oração Eucarística: "Qual o momento adequado para nos ajoelharmos?"

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Dando sequência à série de dúvidas litúrgicas dos nossos leitores, respondemos e publicamos uma comum: Na Oração Eucarística, qual o momento adequado para nos ajoelharmos?

"Na Oração Eucarística I (Cânon Romano), em qual momento ajoelhar-se? Vi explicações que não se deve ajoelhar quando se pronuncia "abençoai estas oferendas" e sim quando se diz "santificai estas oferendas". Nesse caso seria após os "comunicantes próprios". Mas essa explicação não é geral, pois na Oração Eucarística V (Congresso de Manaus) não há "santificai essas oferendas". Logo, a resposta que encontro com frequência não me convenceu. Por outro lado, é no "abençoeis estas oferendas" que o sacerdote traça o sinal da cruz sobre o pão e o cálice ao mesmo tempo. Esse poderia ser o sinal do momento adequado para ajoelharmo-nos. Essa regra se encaixa em todas as 14 orações eucarísticas. Se assim o for, na Oração Eucarística I, o momento adequado seria logo após o prefácio. Resta-me, portanto a dúvida sobre o momento certo, se é que ele existe, pois antigamente durante praticamente toda oração eucarística se ficava de joelhos." (Prof. Eduardo Wanderley)

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Primeiramente, é necessário saber que em todas as Orações Eucarísticas, o que se segue é o toque dos sinos, durante o gesto da Epiclese, isto é, daquele em que o sacerdote que preside, impõe as mãos sobre as oferendas, como que formando uma “pomba” e não é com o sinal do traçado da cruz, que vem seguida, mas pelo gesto e pelas palavras de invocação do Espírito Santo que, em todas as orações eucarísticas, acontece antes das palavras da consagração, com o verbo “santificar”, seja na forma infinitiva, imperativa ou, sobretudo, invocativa.



As exceções acontecem justamente a Oração Eucarística usada apenas no Brasil, do Congresso Eucarístico de Manaus (V), que não usa o verbo “santificar”, mas pede que “mande” o Espírito Santo. As outras, uma sobre a reconciliação e duas para missas com crianças usam de palavras que se referem à misericórdia divina e as outras duas à paternidade amorosa de Deus, também usam os verbos mandar, enviar, respectivamente.

Em todas elas, o “estender as mãos” e, só em seguida, traçar o sinal da cruz são os momentos apropriados e para os quais os coroinhas (ou acólitos instituídos) devem estar atentos, para poderem tocar os sinos, como sinal para que a assembleia se ajoelhe.

Na Oração Eucarística I ou Cânon Romano:

Dignai-vos, ó Pai, aceitar e santificar estas oferendas...

Na Oração Eucarística II:

Santificai, pois, estas oferendas, derramando sobre elas o vosso Espírito...

Na Oração Eucarística III:

Santificai pelo Espírito Santo as oferendas que vos apresentamos...

Na Oração Eucarística IV:

... nós vos pedimos que o mesmo Espírito Santo santifique estas oferendas...

Na Oração Eucarística V:

... mandai o vosso Espírito Santo, a fim de que as nossas ofertas se mudem...

Na Oração Eucarística VI-A (Para Diversas Circunstâncias):

... que envieis o vosso Espírito Santo para santificar estes dons...

Na Oração Eucarística VI-B (Para Diversas Circunstâncias):

... que envieis o vosso Espírito Santo para santificar estes dons...

Na Oração Eucarística VI-C (Para Diversas Circunstâncias):

... que envieis o vosso Espírito Santo para santificar estes dons...

Na Oração Eucarística VI-D (Para Diversas Circunstâncias):

... que envieis o vosso Espírito Santo para santificar estes dons...

Na Oração Eucarística VII (Sobre a Reconciliação I):

... olhai vosso povo aqui reunido e derramai a força do Espírito, para que estas ofertas se tornem...

Na Oração Eucarística VIII (Sobre a Reconciliação II):

Cumprindo o que ele nos mandou, vos pedimos: Santificai, por vosso Espírito, estas oferendas.

Na Oração Eucarística IX (Para Missas com crianças I):

... pedimos que mandeis vosso Espírito Santo para que estas ofertas e tornem...

Na Oração Eucarística X (Para Missas com crianças II):

Enviai, ó Deus nosso Pai, o vosso Espírito Santo para que este pão e este vinho...

Na Oração Eucarística XI (Para Missas com crianças III):

... mandai vosso Espírito Santo para santificar este pão e este vinho...
  
Mas não é algo tão simples de responder assim. Esta temática já foi (e ainda é) causa de grandes debates teológicos e litúrgicos. Há diferenças entre os ritos latinos (ocidentais) e os orientais, de diversos ritos.



A Instrução Geral do Missal Romano, por exemplo, determina que “os fiéis se ajoelhem durante a consagração” (nº 43). E no nº 79, alínea c, explica: “… a epiclese, na qual a Igreja implora por meio de invocações especiais a força do Espírito Santo, para que os dons oferecidos pelo ser humano sejam consagrados, isto é, se tornem o Corpo e o Sangue de Cristo”.

O ficar de joelhos é uma norma invariável e aplicada a todos os fiéis e para os clérigos abaixo e a partir do grau de Diácono: A Instrução Geral sobre o Missal Romano (IGMR) assim se expressa na sua última edição (2003):  “A partir da epiclese até a apresentação (elevação) do cálice, o diácono normalmente permanece de joelhos” (n. 179b).

O Papa Bento XVI, na Exortação Apostólica Sacramentum caritatis, no número13, nos ensina que: “neste horizonte, compreende-se a função decisiva que tem o Espírito Santo na celebração eucarística e, de modo particular, no que se refere à transubstanciação. É fácil de comprovar a consciência disto mesmo nos Padres da Igreja; nas suas Catequeses, São Cirilo de Jerusalém recorda que “invocamos Deus misericordioso para que envie o seu Santo Espírito sobre as oblações que apresentamos a fim de Ele transformar o pão em corpo de Cristo e o vinho em sangue de Cristo. O que o Espírito Santo toca, é santificado e transformado totalmente”.(Catequese 23, 7: Patrologia Grega 33, 1114s.) Também São João Crisóstomo assinala que o sacerdote invoca o Espírito Santo quando celebra o Sacrifício: (Cf. Sobre o sacerdócio, 6, 4: PG 48, 681.) à semelhança de Elias, o ministro atrai o Espírito Santo para que, “descendo a graça sobre a vítima, se incendeiem por meio dela as almas de todos”.(Ibid., 3, 4: o.c., 48, 642.) É extremamente necessária, para a vida espiritual dos fiéis, uma consciência mais clara da riqueza da anáfora: esta, juntamente com as palavras pronunciadas por Cristo na Última Ceia, contém a epiclese, que é invocação ao Pai para que faça descer o dom do Espírito a fim de o pão e o vinho se tornarem o corpo e o sangue de Jesus Cristo, e para que “a comunidade inteira se torne cada vez mais corpo de Cristo”.(Propositio 22.) O Espírito, invocado pelo celebrante sobre os dons do pão e do vinho colocados sobre o altar, é o mesmo que reúne os fiéis “num só corpo”, tornando-os uma oferta espiritual agradável ao Pai.”(Cf. Propositio 42: “Este encontro eucarístico realiza-se no Espírito Santo, que nos transforma e santifica. Ele desperta no discípulo a vontade decidida de anunciar aos outros, com desassombro, tudo o que ouviu e viveu, para conduzi-los, também a eles, ao mesmo encontro com Cristo. Deste modo o discípulo, enviado pela Igreja, abre-se a uma missão sem fronteiras”.).

Mas, afinal o que é a Epiclese? A Epiclese ou Epíclese (do grego antigo: ἐπίκλησις - epíklesis, fusão das palavras pí e kaleô: "chamar sobre") é a oração de invocação que pede a descida do Espírito Santo nos sacramentos. É a invocação que se eleva a Deus para que envie o seu Espírito Santo e transforme as coisas ou as pessoas. Também do latim, in-vocare.

Na Oração Eucarística da Missa há duas epicleses (cf. IGMR 79c):

a) a que o sacerdote pronuncia sobre os dons do pão e do vinho, com as mãos estendidas sobre eles, dizendo, por exemplo: “Santificai estes dons, derramando sobre eles o Vosso Espírito, de modo que se convertam, para nós, no Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Oração II) – e a epiclese “consacratória”; outras Orações Eucarísticas pedem que o Espírito “torne”, “abençoe”, “santifique”, “transforme” o pão e o vinho;

b) a que o sacerdote diz na mesma Oração Eucarística, depois do memorial e da oferenda, pedindo a Deus que de novo envie o seu Espírito, desta vez sobre a comunidade que vai participar da Eucaristia, para que também ela se transforme, ou se vá construindo na unidade: “humildemente Vos suplicamos que, participando do Corpo e Sangue de Cristo, sejamos pelo Espírito Santo congregados na unidade” (Oração II) – e a epiclese “de comunhão”, que, noutras Orações Eucarísticas, pede que “sejamos em Cristo um só corpo e um só espírito”; “Derramai sobre nós o Espírito… fortalecei o vosso povo com o Corpo e o Sangue do vosso Filho e renovai-nos a todos à sua imagem”… Estas duas epicleses, nas Anáforas orientais e na da liturgia hispano-moçárabe, estão unidas e dizem-se depois do relato da instituição. Enquanto que na liturgia romana – e em algumas das orientais, como a alexandrina – situam-se uma antes da consagração e a outra depois. Foi um enriquecimento que, agora, no rito romano, se tenha decidido nomear claramente o Espírito na primeira epiclese, nas novas Orações Eucarísticas: no cânon romano, existe a invocação a Deus, mas sem, explicitamente, nomear o Espírito. A epiclese não faz só parte da Eucaristia. A oração consacratória central de todos os sacramentos, depois da anamnese ou memória de louvor a Deus, contém sempre a oração de epiclese, pois, invocando a força do Espírito nos sacramentos, estamos reconhecendo que é Deus quem salva e que o protagonismo é da ação do seu Espírito santificador. 


• pede-se-lhe que santifique a água do Batismo: “Receba esta água, pelo Espírito Santo, a graça de vosso Filho Unigênito, para que o homem, criado à vossa imagem, no sacramento do Batismo seja purificado das velhas impurezas e ressuscite homem novo pela água e pelo Espírito Santo”;
• na Missa Crismal invoca-se o Espírito sobre os óleos para os sacramentos e, a seguir, na Confirmação, pede-se a Deus que envie o seu Espírito sobre os confirmandos para que os encha de seus dons;
• no sacramento da Reconciliação também se nomeia o Espírito: “enviou o Espírito Santo para remissão dos pecados”;
• na Unção dos Doentes o sacerdote ora pelo doente na fé da Igreja: “é a epiclese própria deste sacramento” (CIC 1519);
• no sacramento da ordem é onde, talvez, com maior expressividade o bispo, impondo as mãos sobre a cabeça dos ordenandos e pronunciando a seguir a invocação do Espírito, põe em relevo a força da epiclese;
• e, finalmente, no Matrimônio: “Na epiclese deste sacramento, os esposos recebem o Espírito Santo como comunhão do amor de Cristo e da Igreja” (CIC 1624).

Como dizia São Cirilo de Jerusalém, no século IV: “Depois de santificados por esses hinos espirituais, suplicamos ao Deus benigno que envie o Espírito Santo sobre os dons colocados, para fazer do pão corpo de Cristo e do vinho sangue de Cristo. Pois tudo o que o Espírito Santo toca é santificado e transformado” (Catequeses Mistagógicas V,7). “O Pai atende sempre a oração da Igreja do seu Filho, a qual, na epiclese de cada sacramento, exprime a sua fé no poder do Espírito. Tal como o fogo transforma em si tudo quanto atinge, assim o Espírito Santo transforma em vida divina tudo quanto se submete ao seu poder” (CIC 1127). (Cf.: VAGAGGINI, Cipriano. O sentido teológico da liturgia. São Paulo: Loyola, 2009. pp. 210-226.)

No Catecismo da Igreja Católica (CIC), a epiclese também é explicitada:

§1105 A epiclese ("invocação sobre") é a intercessão na qual o sacerdote suplica ao Pai que envie o Espírito Santificador para que as oferendas se tornem o Corpo e o Sangue de Cristo, e para que ao recebê-los os fiéis se tomem eles mesmos uma oferenda viva para Deus.

§1353 Na epiclese ela pede ao Pai que envie seu Espírito Santo (ou o poder de sua bênção) sobre o pão e o vinho, para que se tornem, por seu poder, o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, e para que aqueles que tomam parte na Eucaristia sejam um só corpo e um só espírito (certas tradições litúrgicas colocam a epiclese depois da anamnese). No relato da instituição, a força das palavras e da ação de Cristo e o poder do Espírito Santo tornam sacramentalmente presentes, sob as espécies do pão e do vinho, o Corpo e o Sangue de Cristo, seu sacrifício oferecido na cruz uma vez por todas.

Atentos ao gesto de impor as mãos sobre as oferendas, os acólitos tocam os sinos (ou sinetas) na igreja e todos se ajoelham, pois é a descida do Espírito Santo sobre as espécies do pão e do vinho sobre o altar.

Juntamente com o momento seguinte, no qual o sacerdote toma em suas mãos, primeiro o pão e, depois, o cálice com o vinho, repetindo as mesmas palavras que o Senhor pronunciou durante a Última Ceia, a epiclese atualiza o momento sagrado, no tempo e no espaço, em que a Hóstia sobre o Altar se transforma no Corpo de Cristo, e o Vinho dentro do Cálice se transforma no Sangue de Cristo.

Este é um momento sacratíssimo! Nossos olhos e nossos corações devem estar fixos para o altar. Ali, a poucos metros de nós, está acontecendo o maior milagre da face da terra: o Nosso Deus mais uma vez se digna descer do Céu e vir até nós, pobres pecadores, para dar-Se a nós como Alimento e Penhor da Eternidade!

Jamais nos deixemos levar pelas distrações, ou pelo cansaço, ou pelas preocupações, ou por qualquer outra situação. Estejamos atentos com os olhos do corpo e da alma!

Na Forma Extraordinária (“Tridentina”):


Na chamada "Missa Tridentina", o momento de ajoelhar-se acontece após o canto do Sanctus e no  sequente início do Cânon, às palavras “Te igitur...” (A Vós...). Porém, esta é uma das orações em voz baixa. Então, é necessário os acólitos estarem atentos ao término do Sanctus, para tocarem as sinetas, pois, apenas eles verão este momento. 

Após o “Communicantes” – memória dos Santos – às palavras “Hanc igitur” (Esta oblação), em preparação à consagração, o celebrante estende as mãos sobre as oblatas à semelhança do gesto que outrora fazia o sumo sacerdote, que estendia as mãos sobre a vítima que se imolava em expiação dos pecados. Significa, na Nova Lei, que Jesus Cristo se substitui a nós, como vítima imolada.

Como é o próprio Espírito Santo que opera a mudança do pão e do vinho no Corpo e Sangue de Nosso Senhor, no Santo Sacrifício da Missa, é justo que seja mencionado no correr deste sacrifício. A Igreja o invoca, a fim de que, assim como ele formou Nosso Senhor no seio da Virgem Maria, digne-se apresentá-lo de novo sobre o altar.

Este gesto é muito importante de ser notado, ele nos vem da antiga Lei. Quando se apresentava no templo uma vítima para ser oferecida, o rito de imposição das mãos tinha um sentido duplo e uma dupla eficácia. A vítima era, mediante o rito, isolada, separada para sempre do uso profano e posta a serviço e honra de Deus. O Senhor tomava possessão da hóstia, qualquer que fosse. Ora, a Igreja, depois de ter separado o pão e o vinho do uso profano, no Ofertório, e tê-los apresentado a Deus, insiste, agora que a Consagração está próxima. Na santa impaciência de sua espera quase realizada, para que a oblação seja favoravelmente acolhida diante de Deus, o padre estende as mãos sobre o pão e o vinho e diz estas palavras:

Hanc igitur oblationem servitutis nostrae, sed et cunctae familiae tuae, quaesumus, Domine, ut placatus accipias: diesque nostros in tua pace disponas, atque ab aeterna damnatione nos eripi, et in electorum tuorum jubeas grege numerari(Esta oblação que nós, vossos servos, e toda a vossa família, Vos oferecemos, aceitai-a, Senhor, benignamente; firmai na paz os dias da nossa vida, livrai-nos da eterna condenação e ordenai sejamos contados na sociedade dos vossos eleitos.).

O Papa Bento XVI, com o Motu proprio Summmorum Pontificum, ressaltou que esta forma é "um duplo uso do único e mesmo Rito [romano]". Portanto, nos dois usos é permitido que nos ajoelhemos nos momentos apropriados. 

Assim, oferecendo o Santo Sacrifício da Missa, neste momento em que designa tão especialmente sua oferta, o padre reza por si mesmo, por todos aqueles que estão presentes e por todos os que lhe estão unidos, e pede que a paz nos seja dada neste mundo, que evitemos o inferno e que nos alegremos com os eleitos na glória do céu.


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Bibliografia:

ALDAZÁBAL, José. A Eucaristia. Petrópolis: Ed. Vozes, 2002.
AUGÉ, Matias. Liturgia – História, Celebração, Teologia, Espiritualidade. São Paulo: Ed. Ave Maria, 1996.
BENTO XVI. Summorum Pontificum. São Paulo: Ed. Paulinas. Nº 191, 2007.
__________. Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis. São Paulo: Ed. Paulinas. Nº 190. 2007.
CERIMONIAL DOS BISPOS. São Paulo: Ed. Paulus, 1988.
Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Ed. Loyola, 2000.
CNBB. Instrução Geral do Missal Romano e Introdução ao Lecionário. Brasília: Ed. CNBB, 2008.
COELHO, Dom António. Curso de Liturgia Romana. Braga – Portugal: Ed. Pax, 1943.
GUÉRANGER, Dom Prosper. Missa Tridentina – Explicações das orações e das cerimônias da Santa Missa. Rio de Janeiro: Ed. Permanência, 2010.
JOÃO PAULO II. Encíclica Ecclesia de Eucharistia. São Paulo: Ed. Paulinas. Nº 185, 2003.
JUNGMANN, Josef Andreas. Missarum Sollemnia. São Paulo: Paulus, 2009.
Ordo Missae. Campinas: Ed. Ecclesiae, 2014.
RATZINGER, Joseph. Introdução ao espírito da Liturgia. Prior Velho –Portugal: Ed. Paulinas. 2010.
VAGAGGINI, Cipriano. O sentido teológico da liturgia. São Paulo: Ed. Loyola, 2009.





  

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Dúvidas sobre liturgia? O Salvem a Liturgia responde - Parte 2

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“Olá, equipe do Salvem a Liturgia! Gostaria de saber se cantar as orações eucarísticas e o cordeiro é obrigatório. O ministério de música onde canto tem sido "corrigido" quando, em certas celebrações, não cantamos pois as melodias que cantam aqui não são piedosas eu disse que a IGMR não nos obriga e me disseram que se é uma cultura da paróquia, eu tenho que fazer. O que faço?” (Igor Teles)

Prezado Igor,

Nenhum canto na Missa é obrigatório, pois a Igreja sempre nos obriga ao mínimo. Imagine se fosse exigido um coro como o da Capela Sistina em todas as Missas. Ai de nós!

Já participei de Missas dominicais que, mesmo sem cantos, foram muito mais piedosas do que muita Missa por aí cheia de instrumentos e animações. Contudo, a Igreja reconhece a importância do canto na Liturgia (IGMR, 39-41) e por isso recomenda fortemente que haja canto nos domingos e dias de preceito:

Ainda que não seja necessário cantar sempre todos os textos de per si destinados ao canto, por exemplo nas Missas dos dias de semana, deve-se zelar para que não falte o canto dos ministros e do povo nas celebrações dos domingos e festas de preceito. (IGMR, 40)

Não é necessário, contudo, que todas as partes "cantáveis" sejam de fato cantadas:

Na escolha das partes que de fato são cantadas, deve-se dar preferência às mais importantes e sobretudo àquelas que o sacerdote, o diácono, o leitor cantam com respostas do povo; ou então àquelas que o sacerdote e o povo devem proferir simultaneamente. (IGMR, 40)

Dentre estas partes estão certamente aquelas que compõem as partes fixas (Ordinário) da Missa (i.e. Kyrie, Gloria, Sanctus, Agnus Dei, também o Credo e o Pater Noster) e aquelas que acompanham algum rito (como a Procissão de Entrada, do Ofertório, da Comunhão). Faz-se necessário deixar claro que não é preciso que todas sejam cantadas.

Quanto às Orações Eucarísticas, você fala em cantá-las. Como quem canta a Oração Eucarística é o sacerdote e eventuais concelebrantes), imagino que esteja se referindo a cantar as respostas para os diversos parágrafos das Orações Eucarísticas, que foram aprovadas em forma experimental para o Brasil. Sendo este o caso, minha opinião pessoal é que só deveriam ser cantadas quando o sacerdote também canta o trecho que antecede a resposta.


Fique com Deus,
Daniel Volpato


“Meus amigos do Salve a Liturgia gostaria de saber onde posso encontrar o Missal Cotidiano à venda? De preferência não muito velho. Desde Já agradeço.” (Wesley Almeida)

Prezado Wesley,

O autor da pergunta não especificou se o Missal é para a Forma Ordinária ou Extraordinária do Rito Romano. No primeiro caso é possível encontrá-lo em livrarias católicas, sob o título de Missal da Assembléia Cristã, publicado pela Paulus. E em ambos os casos é possível encontrá-lo em sebos físicos e virtuais como o Estante Virtual. No caso específico do Usus Antiquior ele pode ser encomendado pelo site Missa Tridentina.

Fique com Deus,
Daniel Volpato


“Se uma pessoa se confessar a um sacerdote e, ao invés desse sacerdote dar a fórmula da absorvição: "Eu te absorvo, em nome do Pai e do filho e do Espírito Santo". Ele diz com reta intenção: "Filho, teus pecados estão perdoados em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo". Essa confissão foi válida?” (Lucas Lima)

Prezado Lucas,


Infelizmente não. Um dos requisitos para a validade de um sacramento é a forma. No caso da Reconciliação, o mínimo para a validade é que o sacerdote diga:  “E eu te absolvo dos teus pecados, em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo.”

A paz,
Daniel Volpato


“Por que na Sexta Feira Santa o rito litúrgico se chama "Adoração da Santa Cruz"? Se a cruz não é Deus?” (Victor da Silva Oliveira)

Prezado Victor,

É porque trata-se de culto relativo, não de culto absoluto. Este é dirigido às pessoas que são objeto de culto, enquanto aquele é prestado às imagens ou relíquias com as quais as pessoas se relacionam, sendo em última instância também dirigidos a elas. O delegado já respondeu essa no Veritatis: http://www.veritatis.com.br/inicio/espaco-leitor/5617-leitor-espanta-se-com-a-expressao-adoracao-da-cruz.

Fique com Deus,
Daniel Volpato

“É correto o leitor receber a Sagrada Comunhão no presbíterio?” (João Victor Rodrigues Santos)

Prezado João Victor,

Se ele já se encontra sentado no presbitério desde o início da Missa, me parece melhor que receba ali mesmo. Se ele se encontra na nave e sobe apenas para comungar no presbitério, definitivamente não.

Contudo, a pergunta a ser feita é qual o local ideal para o leitor sentar. Pelo fato de que a maioria dos leitores que vemos por aí servem como leitores extraordinários, não tendo sido instituídos para tal, e pela própria natureza do ministério instituído do leitorato e pelo papel que ele exerce na Liturgia, penso que é melhor que ele sente na nave, em bancos próximos ao presbitério. E, neste caso, comungue também na nave, juntamente com o povo.

A paz,
Daniel Volpato

“Um seminarista pode usar hábito eclesiástico?” (Guilherme Pimentel)

Prezado Guilherme,

Sim. Contudo, quem decide de fato a roupa dos seminaristas é o Ordinário local.

Fique com Deus,
Daniel Volpato

terça-feira, 28 de maio de 2013

Dúvidas sobre liturgia? O Salvem a Liturgia responde - Parte 1

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“Gostaria de saber se é Litúrgico levantar a mão direita para rezar o credo?”

Prezado leitor, Não. O que não está previsto, não se deve fazer. Não há sentido litúrgico no ato, além disso.


 A Paz!
Alex Camillo


Sacerdotes podem usar Solidéu? Há algum próprio para eles? (Lucas Gabriel)

Prezado Lucas, 


O solidéu é uma pequena calota que os clérigos usam na cabeça. Sendo preto para os padres, para todos os monsenhores é preto com frisos violáceos. Todo violeta para os bispos, vermelho para os cardeais e branco para o papa. Comuns a todos os clérigos são: a sobrepeliz, o amito, a alva com cordão, a capa de asperges, o barrete e o solidéu. Todos os outros paramentos são próprios só dos clérigos de ordens maiores e , usados principalmente na missa. Padre só pode usar solidéu na Missa se tiver indulto da Santa Sé. Fora da Missa pode.

Fique com Deus!
Rafael Vitola

“Quando um religioso, sendo apenas religioso, se aproxima do presbitério e chegando diante do altar ele pode beijá-lo como o sacerdote ou não?” (Frater Rodrigo Gibelato)

Prezado Rodrigo,

Não. Osculam o altar apenas os minitros ordenados; na missa, são o celebrante, on concelebrantes e os diáconos que oficiam na missa.


A Paz!
Kairo Neves


Gostaria de tirar uma dúvida a respeito do Ato Penitencial. Como é uma parte mal entendida por todos, desde sacerdotes a equipes de liturgia, gostaria de saber se existem fórmulas alternativas além daquelas 3 conhecidas e o asperges. Temos visto serem rezadas algumas com variações do texto da 3ª fórmula, que inclui o Senhor tende piedade. Pergunto, isso é permitido?” (Carlos Santana)

Prezado Carlos,


Após uma breve pausa, utiliza uma das três fórmulas: a) o Confiteor; b) o “Tende compaixão”; c) o Kyrie. Conclui com uma absolvição, que, por ser desprovida de força sacramental, não possui a eficácia do Sacramento da Penitência celebrado na confissão dos pecados ao sacerdote.

Podem ser cantadas músicas de Ato Penitencial, desde que a letra utilizada seja de alguma das formas prescritas. Quaisquer outros cantos, ainda que implorem o perdão de Deus e demonstrem arrependimento dos pecados, estão excluídos por não se encaixarem no ordinário da Missa, do qual o Ato Penitencial é integrante.

O Ato Penitencial é omitido quando se celebra, no início da Missa, o rito do Asperges, e também quando a celebração for imediatamente precedida de um ofício da Liturgia das Horas com caráter penitencial. Nos demais casos, muito mais comuns, é imprescindível!

Quando as invocações do Kyrie, “Senhor, tende piedade de nós...”, não forem utilizadas no Ato Penitencial, devem ser proferidas após a absolvição que se segue àquele. Isso significa que sempre que o Ato Penitencial consistir no Confiteor (“Confesso a Deus todo-poderoso...”) ou no “Tende compaixão”, o Kyrie é feito em um ato próprio.

“Depois do Ato Penitencial inicia-se sempre o ‘Senhor, tende piedade’, a não ser que já tenha sido rezado no próprio ato penitencial. Tratando-se de um canto em que os fiéis aclamam o Senhor e imploram a sua misericórdia, é executado normalmente por todos, tomando parte nele o povo e o grupo de cantores ou o cantor.” (Instrução Geral do Missal Romano, 52)

É possível que o Kyrie rezado seja substituído por uma música que tenha as invocações na letra.

Na prática

1. Esqueça-se o folhetinho de Missa. Use-se o Missal. Uma das três fórmulas, e só.
2. Não se use músicas de perdão. Diz-se o texto do Missal, quer rezado quer cantado, mas só ele e nada mais. Querem música? Cante-se o texto previsto no Missal, mas não “músicas de perdão”.


Fique com Deus!
Rafael Vitola

“Gostaria de saber se o véu de cálice preto pode ser usado na Forma Ordinária?”

Prezado leitor,

Para a Missa na Forma Extraordinária o véu é orbigatório e tem sempre a cor litúrgica usada.
Para a Missa na Forma Ordinária, o uso véu é louvável, embora não obrigatório no texto latino, e pode ser sempre da cor branca: "Calix laudabiliter cooperiatur velo, quod potest esse aut coloris diei aut coloris albi" - "o cálice, como convém, seja coberto com um véu, que pode ser da cor do dia ou de cor branca" (IGMR 80, no texto da segunda edição, ou 118, no texto da terceira edição).

A paz!
Alex Camillo

“Gostaria de saber onde está previsto que a Santa Missa pode ser celebrada junto com as Laudes ou as Vésperas (Hino como Cântico de entrada, Salmodia como Ato Penitencial e Cântico Evangélico após a Comunhão). É que isso é comum em vários Seminários e gostaria de saber se é correto.”

Prezado Leitor,


Não simultaneamente, usando partes do Ofício como se fossem partes da Missa. O que pode é fazer uma celebração contínua, por exemplo, Vésperas e Missa.

A Introdução Geral da Liturgia das Horas diz:

93. Em casos particulares, quando as circunstâncias o pedirem, na celebração pública ou comunitária, pode-se fazer uma ligação mais estreita da Missa com uma Hora do Ofício, dentro das normas a seguir indicadas, contanto que a Missa e a Hora pertençam ao mesmo Ofício. Evitar-se-á, porém, que isto redunde em prejuízo do bem pastoral, mormente aos domingos. 

94. Quando a Missa é precedida imediatamente das Laudes, celebradas no coro ou em comum, a ação litúrgica pode começar ou pelo versículo introdutório e o hino das Laudes, sobretudo nos dias feriais, ou pelo canto e procissão de entrada e saudação do celebrante, principalmente nos dias festivos. Num e noutro caso, omitir-se-á um destes dois ritos iniciais. Segue-se a salmodia das Laudes, na forma habitual, até à leitura breve exclusive. Terminada a salmodia, omitido o ato penitencial e eventualmente o Kýrie, diz-se o Gloria, segundo as rubricas, e o celebrante recita a oração da Missa. Segue-se a Liturgia da palavra, como de costume. 

A oração universal faz-se na devida altura e na forma acostumada para a Missa. Contudo, nos dias feriais, na Missa matutina, em vez dos formulários quotidianos da oração universal, podem-se dizer as preces matinais próprias de Laudes. Depois da comunhão, com o respectivo cântico, diz-se o Benedictus com sua antífona das Laudes. Segue-se a oração depois  da comunhão, e tudo o mais como de costume.

95. No caso de a Missa ser precedida imediatamente da celebração pública da Hora Média, quer dizer, Oração das Nove, das Doze e das Quinze Horas, a ação litúrgica pode igualmente começar ou pelo versículo introdutório e o hino da respectiva Hora, sobretudo nos dias feriais, ou pelo canto e procissão de entrada e saudação do celebrante, mormente nos dias festivos. Num e noutro caso, omitirse-á um destes dois ritos iniciais. 

Segue-se a salmodia da respectiva Hora, como de costume, até à leitura breve exclusive. Terminada a salmodia, omitido o ato penitencial e eventualmente o Kýrie, diz-se o Gloria, segundo as rubricas, e o celebrante recita a oração da Missa. 

96. Quando a Missa é precedida imediatamente das Vésperas, estas ligam-se à Missa da mesma forma que Laudes. Note-se, porém, que não se podem celebrar as primeiras Vésperas das solenidades, domingos e festas do Senhor que ocorram ao domingo, senão depois de celebrada a Missa do dia anterior ou sábado.

97. No caso de a Hora Média, quer dizer, Oração das Nove, das Doze e das Quinze Horas, ou as Vésperas, se seguirem à Missa, esta será celebrada na forma habitual até à oração depois da comunhão inclusive. 

Dita a oração depois da comunhão, começa imediatamente a salmodia da respectiva Hora. Na Hora Média, terminada a salmodia, omite-se a leitura breve e diz-se logo a oração; e faz-se a despedida tal e qual como na Missa. Nas Vésperas, terminada a salmodia, omite-se a leitura e diz-se logo o cântico Magnificat com a respectiva antífona; e, omitidas as preces e a oração dominical, diz-se a oração  conclusiva e dá-se a bênção ao povo. 

98. Com exceção do Natal do Senhor, não é permitido, regra geral, juntar a Missa com o Ofício das Leituras, pois a Missa tem já o seu ciclo de leituras que se deve distinguir do Ofício. Todavia, nalgum caso excepcional, se se vir que pode haver nisso vantagem, então, logo depois da segunda leitura do Ofício, com seu responsório, omitindo tudo o mais, inicia-se a Missa com o hino Gloria, caso se deva dizer; aliás, com a oração. 

99. No caso de o Ofício das Leituras se rezar imediatamente antes de outra Hora, pode-se dizer o hino da respectiva Hora a iniciar o Ofício  das Leituras. No fim do Ofício da Leitura, omite-se a oração e a conclusão; e, na Hora que vier a seguir, omite-se o versículo  introdutório e o Glória ao Pai.


Fique com Deus!
Alfredo Votta

“Uma dúvida: se um padre falta a uma missa, então um dos ministros pode fazer a celebração da palavra, certo!? E as hóstias consagradas em outro momento e guardadas no sacrario podem ser usadas!?!? E ainda assim são o corpo e o sangue de cristo!? Ouvi dizer que só realmente é corpo e sangue no momento da missa...podem explicar isso!? “(Caroline Sampaio)

Prezada Caroline,

Bem, entende-se que a liturgia celebrada na paróquia deve ser devidamente autorizada pelo padre. Se se entende que por conta do imprevisto o padre não pode comparecer e, ao menos supondo-se sua autorização, pode-se sim realizar uma celebração da palavra com distribuição da comunhão eucarística. Todavia se, por outro lado, isto causaria estranhamento ou confusão aos fiéis, se ninguém está previamente autorizado a proceder de tal forma ou sem autorização do pároco, não é conveniente realizar tal celebração.
As hóstias consagradas em outra celebração podem ser usadas; sendo que uma vez consagradas, as sagradas espécies são enquanto se mantiverem o aspecto de pão e de vinho, Corpo e Sangue de Nosso Senhor.


Fique com Deus!
Kairo Neves

“Olá, sou Pedro Henrique do Ceará, tenho uma curiosidade e se vocês puderem me responder ficaria muito grato. Vejo na TV, que logo após a oração pela paz se reza o "Cordeiro de Deus". Porque não acontece o momento do aperto/abraço da paz entre as pessoas? Isso é errado, é correto?”

Prezado Pedro Henrique,

Sim. O Rito da Paz consta de duas partes, uma é a oração "Senhor Jesus Cristo dissestes aos vossos apóstolos" e "A paz do Senhor esteja sempre convosco". A saudação entre os presentes faz parte da segunda parte deste rito, sendo esta opcional.


A paz!
Kairo Neves

“Bom dia! Eu gostaria que vcs pudessem me tirar uma dúvida. No presbitério da minha paróquia, além do altar quase fixo, existe ainda o altar fixo, colado à parede, o altar-mor. Se eu fosse celebrar a Missa Tridentina, poderia ser no altar-mor mesmo tendo a outra mesa presente?” (Giovanni Morais)

Prezado Giovanni,

Em qualquer uma das formas do rito romano se pode usar quaisquer um dos dois altares, dado que são altares dedicados.


Fique com Deus!
Kairo Neves

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