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sexta-feira, 17 de julho de 2009

Minha Segunda Primeira Missa

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Presidindo a Liturgia no rito antigo

Em 23 de setembro cruzei o corridor central de nossa paróquia, fiz a genuflexão e o sinal da cruz enquanto dizia : “In nomine Patris, et Filii, et Spiritus Sancti.” Assim começou minha primeira Missa de acordo com o Missal Romano de 1962 mais de 22 anos depois de minha primeira experiência celebrando a Eucaristia.

Quando o Papa Bento XVI publicou a carta de 7 de julho eliminando a maioria das restrições para o uso da dita Missa Tridentina, minha reação oscilou entre uma leve irritação (Isso vai criar conflito? Como vamos prover tais Missas?) e vago interesse (Será que há algum tesouro escondido na Antiga Missa?).

Em uma semana, as cartas começaram a chegar. Alguns exigiam Missa em latim todo domingo, insistindo que o Papa havia “ordenado” sua celebração regular. Outros eram mais razoáveis. Em agosto, tive uma reunião com uma dúzia de paroquianos que queriam a Missa. O encontro “esquentou” quando eu expliquei a eles que nunca tinha celebrado a Missa “antiga” como sacerdote, e tinha servido nesse tipo de Missa como coroinha somente por dois anos antes que tudo mudasse. Alguns pensaram que eu estava fingindo ignorância para evitar atendê-los.

Alguns dias após o encontro, eu consegui um Missal de 1962, dei uma olhada e concluí, relutantemente, que eu sabia mais latim do que tinha imaginado. Minhas objeções e minha rabugice original desmontavam sob a força da minha própria auto-imagem pastoral, amplamente formada pelo Concílio Vaticano II. Como promotor da diversidade e do pluralismo na Igreja, como poderia eu me recusar a lidar com uma forma litúrgica aprovada? Como pároco que tenta dar uma resposta a pessoas alienadas pelo que eu percebia como um rígido conservadorismo da Igreja, como eu poderia dar as costas a pessoas alienadas por padres como eu – párocos progressistas do “baixo clero” sem ouvido para a piedade tradicional? Um exame de consciência revelou um desequilíbrio na minha abordagem pastoral: uma abertura de bom grado à esquerda (como feministas, defensores do ‘direito de escolha’, casais em união informal e católicos seculares) e um ceticismo instantâneo para com a direita (tradicionalistas).

Uma vez decidido a oferecer a Missa Tridentina, iniciei o árduo processo de recuperar – e reforçar – minha gramática latina e meu vocabulário para que eu pudesse celebrar a liturgia de uma forma inteligível e devota. Enquanto estudava os textos latinos e rituais intrincados nos quais nunca havia prestado atenção enquanto jovem, descobri que a teologia e a espiritualidade sacerdotal do rito antigo eram exatamente o oposto do que eu esperava. Enquanto eu procurava por uma espiritualidade do “sumo sacerdote / rei da paróquia”, encontrei, ao invés disso, uma espiritualidade do “instrumento indigno a serviço do povo”.

As rubricas excessivamente detalhadas do antigo Missal me fizeram sentir como uma mera máquina, esvaziada de personalidade; porém, pensei, isso é tão ruim assim? Eu de fato me senti liberado de uma constante necessidade de desempenhar, de estabelecer conexão, de ser sempre o celebrante “legal”. Quando eu vi uma foto da antiga Missa latina em nosso jornal local, eu subitamente reconheci a habilidade engenhosa do rito em “encolher” o sacerdote. Visto do balcão do coral, eu era uma mera mancha verde, pequena, perto do grande altar. O foco estava não no sacerdote, mas na reunião das pessoas. E essa não é uma imagem válida da Igreja, o povo de Deus?

O ato de rezar o Cânon Romano vagarosamente e em voz baixa reforçava minha própria pequenez e mera instrumentalidade mais que tudo. Arrastando-me pelas primeiras cinquenta e tantas palavras do Cânon, senti uma intensa solidão. Enquanto prosseguia, no entanto, também ouvia o absoluto silêncio atrás de mim, 450 pessoas de todas as idades rezando, todas ligadas misteriosamente às palavras que eu pronunciava e às ações rituais que eu hesitante e desajeitadamente desempenhava. Em seguida à consagração, eu tive uma experiência paradoxal de intensa solidão ao contemplar o Sacramento e um inexplicável sentimento de solidariedade me conectando à multidão atrás de mim.

Por mais que eu valorize esta experiência, devo confessar que me senti desconfortável, duro, não eu mesmo. Algumas das rubricas, como não usar os polegares e indicadores depois da consagração, a não ser para tocar a hóstia, me paralisaram. Como estilo, realmente não combina comigo (também não me imagino usando renda). Mas, como padre, preciso me adaptar a muitos estilos e desempenhar muitas tarefas custosas. Porque nesse caso seria diferente? Talvez tenhamos aqui uma nova forma de ascética sacerdotal: adaptação pastoral pelo bem de poucos.

Meu relutante envolvimento com a Missa em Latim não minou minha espiritualidade sacerdotal, nascida do Vaticano II. Ao contrário, complementou e reforçou o ensinamento conciliar de que o padre é um instrumento de Cristo chamado a servir a todos, independentemente de estilo litúrgico ou teológico. No fim das contas, pouco importa se a Missa é em Latim ou Vernáculo, se vejo as pessoas rezando ou ouço o seu silêncio. Claro, tenho minha preferência, mas o serviço deve sempre vir à frente disso.

Pe. Michael Kerper é pároco da Paróquia Corpus Christi em Portsmouth, Diocese de Manchester, New Hampshire (NH).

Texto original em Inglês: americamagazine.org

quinta-feira, 16 de julho de 2009

BEATISSIMÆ VIRGINIS MARIÆ DE MONTE CARMELLO

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TITULARIS ET PATRONÆ TOTIUS ORDINIS CARMELITARUM



Flos Carmeli
vitis florigera,
splendor coeli,
Virgo puerpera, singularis.

Mater mitis,
sed viri nescia
,
Carmelitis

esto propitia, Stella maris.

Radix Iesse
germinans flosculum,
nos adesse
tecum in saeculum p
atiaris.

Inter spinas
quae crescis lilium
serva puras

mentes fragilium, tutelaris!

Armatura
fortis pugnantium
furunt bella,
tende praesidium scapularis.

Per incerta
prudens consilium,
per adversa
iuge solatium largiaris.

Mater dulcis
Carmeli domina,
plebem tuam
reple laetitia qua be
aris.

Paradisi

clavis et ianua,
fac nos duci
quo, Mater, gloria coronaris.
Amen.




Flor do Carmelo
Vinha florígera,
Celeste velo,
Virgem frutífera,
és singular.

Doce e bendita,
ó Mãe puríssima,
aos carmelitas,
sê tu propícia,
Estrela do mar.

Raiz de Jessé,
de brotos floridos,
queiras, feliz,
ao céu dos séculos
nos elevar.

Entre os abrolhos,
viçoso lírio,
guarda de escolhos,
o frágil ânimo,
Mãe tutelar.

Forte armadura
Frente o adversário,
Na guerra dura,
o escapulário
vem nos guardar.

Nas incertezas,
conselho sábio;
nas asperezas,
consolo sólido
queira nos dar.

Mãe de doçura
do Carmo régio
sê a ventura
que o povo, em júbilo,
faz exultar.

Do paraíso,
és chave, és pórtico;
prudente guia,
a nós, de glória,
vem coroar. Amém.


Deus, qui beatíssimæ semper Vírginis et Genitrícis tuæ Maríæ singulári título Carméli Ordinem decorásti: concéde propítius; ut cuius hódie
Commemora-tiónem solémni celebrámus offício, eius muníti præsídiis, ad gáudia sempitérna perveníre mereámur. Qui vivis et regnas cum Deo Patri in unitate Spiritus Sancti Deus.


Allelúia, allelúia. Glória Líbani dáta est éi: décor Carméli, et Sáron. Allelúia.



quarta-feira, 15 de julho de 2009

Espiritualidade Sacerdotal

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"Sentai-vos no confessionário todos os dias, ou pelo menos duas ou três vezes por semana, esperando ali as almas como o pescador espera os peixes. A princípio, talvez não venha ninguém. Levai o breviário, um livro de leitura espiritual ou alguma coisa para meditar. Nos primeiros dias podereis aprovietá-los; depois virá uma velhinha e lhe ensinareis que não basta que ela seja boa, que deve trazer os netos pequeninos. Quatro ou cinco dias depois virão duas menininhas, e depois um rapazote, e depois um homem, um pouco às escondidas...Ao cabo de dois meses,não podereis rezar nada no confessionário, porque as vossas mãos ungidas, como as de Cristo - confundidas com elas, porque sois Cristo -, estarão dizendo:EU TE ABSOLVO"

"E a alegria de deixá-Lo ali, realmente presente, com o seu Corpo, com o seu Sangue, com a sua Alma e com a sua Divindade, a presidir a toda a vida cristã da paróquia, à espera de que vamos até Ele a dizer-Lhe que O amamos? Sim, o Sacrário tem de ser um ponto importante na vida do sacerdote; a limpeza, as flores, os paramentos sagrados:tudo, tudo. É preciso ir até li com carinho, com amor de mãe e, além disso, com fortaleza de pai, e como crianças pequenas que necessitam de ajuda emprestada de seu Pai-Deus."





São Josemaría Escrivá. in PRADA, O Fundador do Opus Dei

terça-feira, 14 de julho de 2009

Semana Santa em Belém, PA

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Lindíssimas liturgias, de acordo com as rubricas, no rito moderno (forma ordinária do rito romano), celebradas, pelo Pe. Carlos Augusto, na Paróquia Santa Maria Goretti, em Belém do Pará.






















domingo, 12 de julho de 2009

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Rubricas da forma extraordinária na forma ordinária?

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Certas cerimônias que fazem parte de nossa tradição litúrgica podem ser mantidas sem previsão nas rubricas atuais, mas aí não seria uma mistura, e sim a preservação de gestos de devoção: abençoar a água que se misturará ao vinho, o modo de incensar o altar e as oblatas, os polegares unidos aos indicadores desde a consagração da hóstia até a purificação, a voz mais baixa (mas não "vox submissa", por causa da norma explícita da IGMR) e mais pausada na consagração, os modos de soar a campainha etc.

Dizer as orações ao pé do altar de modo privado (mas não em vox secreta, pois isso requeriria mexer os lábios, ao menos) soa-me artificial, pois isso demoraria uns 2 minutos, no mínimo, além de duplicar o Confiteor, que será dito depois. Se ele quiser fazer as tais orações por devoção, o lugar correto, no rito moderno, é na sacristia. Até porque, na Idade Média, era na sacristia que se as rezava, sendo incorporada ao rito da Missa só depois, com São Gregório Magno. Ora, se a reforma de Paulo VI pretende ser um resgate do uso primitivo do rito romano, as orações ao pé do altar devem ser recitadas é no seu lugar igualmente primitivo: na sacristia.

Quanto ao ofertório, não se trata de gestos cerimoniais diferentes apenas, mas de textos distintos, o que implica em tumulto do rito.

Uma coisa é conservar certos detalhes não mais previstos, outra é trazer verdadeiras cerimônias do rito antigo para dentro do rito novo.

Na verdade, não se trata nem de solenizar mais. O fato é que as rubricas de 1969/2002 deixam algumas cerimônias sem descrição precisa de modo proposital: pensa-se que o sacerdote, ao executá-las, irá fazê-lo com base na tradição litúrgica anterior. Não descreve com precisão porque na mente do legislador os padres iriam, por si só, manter os gestos.

Na prática sabemos que não é bem assim, e também, pela falta de norma preceptiva escrita, nem mesmo estão constrangidos a isso. Mas o sentido de certas omissões é esse.

Tanto é assim que o Cerimonial dos Bispos no rito moderno, cuja edição é de 1985, se não me engano, traz, em suas notas de rodapé, citações do Cerimonial dos Bispos do rito tradicional, como referência para certos gestos. Está claro, assim, a continuidade litúrgica.

Agora, transplantar cerimônias inteiras de uma forma para dentro de outra me parece artificial e ilícito.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

A estrutura da Missa no rito romano

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Teologicamente, a essência da Missa é a Consagração, o sacrifício de Cristo oferecido na Cruz e tornado real e novamente presente sobre o altar mediante a conversão do pão e do vinho no Corpo e no Sangue do Senhor. À Consagração se unem sua preparação – o Ofertório – e sua consumação – a Comunhão. Desse modo, podemos dizer que essas três cerimônias são o centro e ápice da Missa, e isso em qualquer rito litúrgico.


Cada um desses ritos tem a sua particularidade na combinação dos elementos que antecedem à Consagração e que a seguem, e mesmo sua diferença quanto ao que se deve dizer, como se deve dizer, o que vestir, o que fazer, quem deve fazer e assim por diante.


No rito romano – e aqui falamos da sua estrutura básica que, vindo desde os tempos de São Gregório, foi sistematizada por São Pio V e permanece, sim, na reforma de Paulo VI e João Paulo II (com certa perda de alguns elementos, o que lamentamos, é preciso dizer) –, a Missa consta de vários textos e cerimônias: orações, antífonas, hinos, momentos de silêncio, cânticos, procissões, gestos, monições, responsórios, leituras bíblicas. Alguns dos textos se dizem em voz alta, outros em voz submissa. Uns constituem o rito ou cerimônia por si mesmo (como o Agnus Dei, o Kyrie etc), enquanto outros se destinam a acompanhar o rito (como os cantos de Entrada e de Comunhão).


§ 1. Liturgia da Palavra e Liturgia Eucarística


O centro da Missa, em qualquer rito, é o conjunto de ações de oferecer os dons, consagrá-los (ou seja, torná-los o Corpo e o Sangue de Cristo, realizando o sacrifício da Cruz), e consumi-los. O Ofertório é a preparação para um ato e a Comunhão é a consumação desse ato: a Consagração. Dos três elementos, um é aquele em torno do qual gravitam os demais. À Consagração chegamos pelo Ofertório, e da Consagração chegamos à Comunhão. Esses três momentos e uma série de outras cerimônias e ações litúrgicas previstas nas rubricas formam, no rito romano, a parte da Missa que chamamos Liturgia Eucarística. É a Missa propriamente dita, o sacrifício e seus adjetivos principais. Também é chamada Missa dos Fiéis e, como tal, era designada oficialmente na antiga forma litúrgica romana.


Preparando a Liturgia Eucarística, encontramos a Ante-Missa, a Missa dos Catecúmenos, ou, conforme a denominação atual, a Liturgia da Palavra. É ela que nos prepara para o sacrifício.


Anexos à Liturgia da Palavra, como uma sua introdução, estão os Ritos Iniciais. E anexos à Liturgia Eucarística, como uma sua conclusão, estão os Ritos Finais.


Desse modo, podemos dizer que cada Missa está dividida em duas grandes partes. A primeira é aquela que abrange os Ritos Iniciais e a Liturgia da Palavra. E a segunda a Liturgia Eucarística e os Ritos Finais. Em um sentido amplo, podemos até dizer que a Liturgia da Palavra engloba os Ritos Iniciais, e a Liturgia Eucarística os Ritos Finais, de modo a termos as duas partes bem definidas.


§ 2. Ordinário e Próprio


Os elementos presentes tanto na Liturgia da Palavra quanto na Liturgia Eucarística são de variados tipos. Uns são fixos, presentes em todas as Missas, e outros variam conforme a Missa que se celebra.


A Missa em rito romano, portanto, tem uma estrutura de fácil entendimento, e os seus textos e cerimônias, sejam os da Liturgia da Palavra ou da Liturgia Eucarística, estão agrupados em duas grandes categorias. À parte fixa da Missa, invariável (ou, melhor dizendo, pouco variável, pois existem algumas coisas que mudam nos diversos tipos de Missa), chamamos Ordinário. Nele estão as orações, monições e outros textos que se devem dizer em todas ou em quase todas as Missas, de um modo geral. Já a outra categoria é o Próprio, do qual constam os textos, orações, antífonas específicos de cada Missa.


Quem vai à Missa, ao menos todos os Domingos, conhece o Ordinário quase de cor. E o normal é que aconteça isso mesmo. Aliás, o normal seria que o fiel católico conhecesse o Ordinário da Missa de cor tanto em vernáculo quanto em latim, respondendo a todas as partes da Missa dialogada.


O Ordinário reúne, por exemplo, a Saudação, o Ato Penitencial, o Kyrie, o Gloria, o Credo, a Oração Universal (é verdade que as preces variam não só conforme o dia, mas segundo a igreja e o celebrante, pois são livres para que cada comunidade componha a sua, mas a estrutura da oração e os exemplos de responsórios estão previstos no Missal de modo fixo), o Ofertório, o Sanctus, as Orações Eucarísticas (algumas das quais possuem prefácio fixo, outras variável), o Pai Nosso, a Oração da Paz, o Agnus Dei, e as diversas cerimônias como bênção, distribuição da Comunhão, procissões etc.


São definidas pelo Próprio, ou seja, são variáveis, as antífonas (de Entrada e de Comunhão e, se for usado o canto gregoriano, a prevista no Gradual para o Ofertório), as três orações coletas (Oração do Dia ou Coleta propriamente dita, Oração sobre as Oferendas, e Oração depois da Comunhão), o Prefácio (mesmo quando ele é fixo a uma Oração Eucarística específica, faz parte do Próprio, eis que definido conforme a escolha da Missa do dia), e as leituras. Nesse sentido, quando falamos “Próprio de Nossa Senhora de Guadalupe” ou “Próprio de Matrimônio” ou “Próprio do II Domingo do Advento”, estamos nos referindo às partes do Missal que estão previstas especificamente para essas três Missas. A Oração do Dia do IV Domingo de Páscoa, por exemplo, é distinta daquela prevista para a XXXII Semana do Tempo Comum, que, por sua vez, difere da específica da Terça-feira da II Semana de Quaresma, e das que se devem rezar em Missas de Matrimônio, de Crisma, pela Eleição de um Papa, pelos Defuntos etc. O Próprio, enfim, é o conjunto das especificidades de uma Missa. Justamente por isso o nome: “próprio”.


Alguns Próprios são propositalmente incompletos. Falta-lhes algum elemento (uma antífona, uma oração, uma leitura etc). Nesse caso, o elemento faltante é tirado do chamado Comum. Assim como há um Próprio para as diversas festividades de Nossa Senhora, há um Comum de Nossa Senhora, com os elementos que servem para encaixar naqueles Próprios que não os têm em sua integralidade. Há, por sua vez, Comum dos Mártires, Comum dos Pastores, Comum dos Doutores da Igreja, Comum das Virgens etc.


O conjunto dos Próprios, i.e., daqueles elementos que caracterizam uma determinada Missa e a individualizam, acaba por formar os dois grandes ciclos do calendário, segundo veremos no Cap. 21: o Próprio do Tempo ou Temporal (com as celebrações ao longo do Ano Litúrgico e seus diferentes Tempos litúrgicos) e o Próprio dos Santos ou Santoral.


§ 2. Visão geral da estrutura da Missa


A Missa, no rito romano moderno, começa com os Ritos Iniciais, vai pela Liturgia da Palavra, culmina na Liturgia Eucarística e se encerra pelos Ritos Finais.


Os Ritos Iniciais compreendem a ida do sacerdote, com seus ministros, ao altar em procissão (partindo da sacristia ou do fundo da igreja), durante a qual se canta o Intróito – do Próprio, i.e., variável – ou outro canto adequado (ou se reza o Intróito), bem como o sinal-da-cruz, a Saudação, o Ato Penitencial, o Kyrie, o Gloria (nos Domingos fora do Advento e da Quaresma, nas Solenidades e festas, e, facultativamente, em outras ocasiões mais solenes a critério do celebrante), a Coleta (ou Oração do Dia, do Próprio). Nos Domingos, pode-se realizar antes da Missa, somente nas igrejas e oratórios, a Aspersão da Água Benta, que substitui o Ato Penitencial.


A Liturgia da Palavra, por sua vez, compreende as leituras, que variam conforme a Missa que é celebrada (há um elenco das leituras para cada dia do ano, para cada Domingo, Solenidade, festa e Missa votiva ou para diversas necessidades), o Aleluia e o Salmo (também variáveis), o Evangelho (idem), e, quando indicados, a Homilia, o Credo e a Profissão de Fé.


De outra sorte, a Liturgia Eucarística compreende o Ofertório (com ou sem procissão, com ou sem Antífona – do Próprio –, e, caso não haja antífona, com ou sem outro canto apropriado), a Oração sobre as Oferendas – do Próprio –, a Oração Eucarística ou Cânon (com o Diálogo antes do Prefácio, o Prefácio mesmo – Próprio –, o Sanctus, a Consagração, as intercessões, a doxologia), o Pai Nosso, a Oração da Paz, o Agnus Dei, a Apresentação do Corpo do Senhor, a Comunhão (com uma Antífona, rezada ou cantada – do Próprio –, ou outro canto apropriado), o silêncio que a ela se segue (com ou sem cantos, com ou sem orações devocionais), e a Oração depois da Comunhão – que consta do Próprio.


Os Ritos Finais, enfim, englobam eventuais avisos, a Bênção e o Ite Missa Est – Despedida. Algumas Missas possuem a opção de uma Bênção Solene ou de uma Oração sobre o Povo antes da Bênção. Outras não pedem Despedida, conjugando-se outro rito após.


Dito isto, passemos a outro ponto.


Aprofundemos um pouco mais, não em relação às regras para o canto, que foram estudadas em outro post, porém em seu desenvolvimento desde o Missal de 1962 até a promulgação do Novus Ordo Missae.


Pelas rubricas anteriores, de São Pio V ao Beato João XXIII, que cessaram com a reforma litúrgica de Paulo VI, havia três tipos básicos de Missa: a Missa dita (Missa dicta, ou rezada, ou lida, ou baixa – Low Mass, em inglês), a Missa cantada (Missa cantata, ou alta – High Mass ou Sung Mass), e a Missa solene (Missa solemnisSolemn High Mass ou Solemn Sung Mass).


A Missa dita era celebrada por um sacerdote sem o auxílio de diácono e subdiácono. Apenas um acólito o ajudava. Não podia ser cantada em nenhum trecho. Música e canto poderiam acompanhar a Missa, mas o Ordinário e o Próprio nunca eram cantados. Por exemplo, não se cantava o Gloria ou o Kyrie, nem a Antífona da Comunhão. Mas, durante a Comunhão, poderia ser cantado um canto qualquer piedoso que servisse no lugar da antífona – que era, então, lida pelo celebrante. Para resumir, poderia existia um canto que acompanhasse um rito, mas não um canto que fosse o próprio rito.


Já a Missa cantada era aquela celebrada igualmente sem diácono e subdiácono, mas, por outro lado, tinha o Próprio e o Ordinário cantados, como o nome diz. Todas as partes da Missa (ou, ao menos, como veremos mais adiante, a grande maioria) eram cantadas. Se a Missa rezada não admitia que os trechos da Missa fossem cantados – embora admitisse cantos durante a Missa –, a Missa cantada não admitia, salvo raríssimas exceções, que houvesse trechos lidos.


Enfim, a Missa solene era aquela celebrada com a ajuda de um diácono e um subdiácono. Sempre era cantada.


Resumindo, há dois grandes tipos de Missa, sendo que um deles se divide em dois outros. O número 271 das Rubricas Gerais do Missal Romano promulgadas pelo Beato João XXIII, equivalentes à atual Instrução Geral sobre o Missal Romano, bem especificava: há a Missa lida e a cantada, e esta última, quando tem a assistência de diácono e subdiácono, chama-se solene.


Tratava-se, como visto, de uma hierarquia de solenização. Em ordem crescente: Missa rezada, Missa cantada, Missa solene.


Não se deve olvidar, outrossim, da chamada Missa pontifical, que nada mais era do que a Missa solene – cantada e com a assistência de diácono e subdiácono – celebrada pelo Bispo ou por algum Prelado com as mesmas faculdades episcopais, e com observância de uma série de cerimônias previstas nos livros litúrgicos.


Contudo, via-se, nisso, uma série de problemas. Um deles era a rigidez demasiada das rubricas, que impediam, por exemplo, que houvesse uma Missa solene, i.e., com diácono e subdiácono, rezada – e isso, por vezes, é necessário quando o clero não sabe bem cantar certas partes da Missa, mas o povo não pode se ver privado da beleza de um ofício tão bonito quanto aquele em que o diácono e o subdiácono atuam junto do sacerdote. A Missa rezada, outrossim, não admitia, como vimos, nenhum rito cantado – outra vez, poderia dar-se o caso de, em uma situação, na haver tempo ou circunstâncias que dessem causa a uma Missa toda cantada, mas certos ritos cantados talvez fossem convenientes, o que não era possível. Se houvesse diácono, então, sempre teria a Missa que ser cantada; e, se fosse rezada, nenhum rito poderia ser cantado.


A reforma de Paulo VI, ao mesmo tempo em que procurou resgatar o uso medieval do rito romano, em que a Missa mais comum era a cantada, autorizou que a Missa com diácono (não mais com subdiácono, dado que esta “ordem menor” ou “ministério” foi suprimida na mesma reforma) pudesse também ser lida, não somente cantada. De outra sorte, com vistas ao incentivo do canto gregoriano e da polifonia, para que, mesmo nas Missas mais simples algo dessa rica tradição musical ocidental pudesse ser mantida, fez constar que as celebrações lidas, meramente rezadas, pudessem não só ter cantos acompanhando os ritos, porém fossem alguns de seus trechos cantados. Bem o sabemos quanto essa intenção do Papa, na esteira do Concílio, foi solenemente ignorada pelos dessacralizadores “de plantão” – entre os quais padres e Bispos, e mesmo Cardeais: de uma simplificação de rubricas para permitir o gregoriano em todas as formas de Missa, passou-se a deixar o canto oficial da Igreja completamente esquecido, relegado aos mosteiros. A liberdade, que serviria para a maior sacralidade, foi invocada pelos progressistas para implantar sua baderna, sua babel litúrgica, totalmente na contramão do verdadeiro movimento litúrgico, que previa a popularização dos ritos – dando ao povo a chance de penetrar mais em seu espírito –, na medida em que se os solenizava. De qualquer modo, a ratio dessa simplificação era clara: flexibilizar as regras, de modo que mesmo nas Missas lidas algo de gregoriano pudesse ser cantado.


Nesse sentido, de três tipos básicos de Missa no uso tridentino, o rito romano moderno dispôs de quatro, combinando-se a Missa rezada/cantada e a Missa simples/solene. Se antes a Missa simples, sem diácono, podia ser rezada ou cantada, e a Missa solene só cantada, hoje pode haver: Missa simples rezada, Missa simples cantada, Missa solene rezada e Missa solene cantada. Cada uma delas com suas particularidades, conforme o quadro a seguir especifica:



Música

Ministros

Velas

Incenso

Missa simples rezada

Com ou sem cantos; com ou sem trechos cantos do Próprio e do Ordinário.

Sem diácono; pode haver todos os acólitos, menos o tocheiro.

No mínimo, duas. Possível de quatro a seis. Recomendado, seis, se for Domingo ou dia de preceito.

Possível.

Missa simples cantada

Toda cantada, ou quase toda cantada, exceto o trecho mais importante da Oração Eucarística, e/ou o Confiteor, e/ou trechos da Oração Universal, e/ou as leituras.

Sem diácono; pode haver todos os acólitos, menos o tocheiro.

No mínimo, duas. Recomendado de quatro a seis, em dias normais. Recomendado, seis, se for Domingo ou dia de preceito.

Recomendado.

Missa solene rezada

Com ou sem cantos; com ou sem trechos cantos do Próprio e do Ordinário.

Com diácono; pode haver todos os acólitos, inclusive o tocheiro. Presença de acólitos recomendada.

No mínimo, duas. Recomendado de quatro a seis, em dias normais. Recomendado, seis, se for Domingo ou dia de preceito.

Extremamente recomendado.

Missa solene cantada

Toda cantada, ou quase toda cantada, exceto o trecho mais importante da Oração Eucarística, e/ou o Confiteor, e/ou trechos da Oração Universal, e/ou as leituras.

Com diácono; pode haver todos os acólitos, inclusive o tocheiro. Presença de acólitos recomendada.

No mínimo, duas. Possível quatro. Recomendado seis.

Extremamente recomendado.

Missa pontifical

Toda cantada, ou quase toda cantada, exceto o trecho mais importante da Oração Eucarística, e/ou o Confiteor, e/ou trechos da Oração Universal, e/ou as leituras.

Com diácono (ou sacerdote concelebrante que lhe faça as vezes); com dois diáconos auxiliares (ou sacerdotes capelães que lhes façam as vezes). Presença de acólitos, inclusive o tocheiro, obrigatória.

Sete.

Obrigatório.


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