segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Altar de Nossa Senhora Aparecida em Roma
Novo brasão Papal: volta o uso da Tiara
Eis ai:
domingo, 10 de outubro de 2010
Solenidade externa da Exaltação da Santa Cruz, em mosteiro austríaco
No Domingo que segue à Festa da Exaltação da Santa Cruz, o mosteiro cisterciense de Heiligenkreuz (justamente, Santa Cruz), na Áustria, celebra a sua solenidade externa.
Neste ano, a festa foi particularmente solene. Após a Santa Missa Pontifical, celebrada com canto gregoriano e em latim, na forma ordinária, o que se nota pela presença de concelebrantes em casula, fez-se uma procissão com a relíquia da Vera Cruz (sim, relíquia autêntica da verdadeira Cruz onde Cristo pendeu por nossa salvação). O Cardeal Arcebispo de Viena, Christoph Schönborn, presidiu a Pontifical, ao lado do abade, D. Gregor Henckel-Donnersmarck, OCist, e de sacerdotes do mosteiro, e, após, carregou a relíquia com pluvial e umeral vermelho (próprio para as relíquias da Cruz e dos mártires).
Abaixo, algumas fotos, tiradas da internet:
Visão da igreja preparada para a Missa Pontifical
D. Bernhard Vošicky, OCist, carrega as relíquias para a Missa
O abade recebe o Cardeal Schönborn
Aspersão da água benta no rito da recepção de Prelado
Procissão para a Missa
O rito da paramentação pontifical no altar, facultativo na forma ordinária
Dom Abade mostra o relicário da Vera Cruz
Início da procissão final com a relíquia
Adoração (relativa) à relíquia da Cruz
O Cardeal dando a bênção de despedida
sábado, 9 de outubro de 2010
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
O rito cartuxo
Nem todos sabem, por conta do sacro mistério que envolve esse instituto religioso tão importante para a nossa vida espiritual, mas os cartuxos possuem um rito próprio para a celebração de sua liturgia. O chamado rito cartuxo difere, pois, do romano, quer em sua forma ordinária, quer na extraordinária - que com ele convivia nos primórdios da Ordem.
Basicamente, o rito cartuxo é um desenvolvimento do antigo rito lionês, praticado na região francesa onde a primeira Cartuxa - assim se chamam seus mosteiros - se instaurou.
Alguns aspectos desse rito, diferenciando-o do rito romano, serão por nós abordados no presente e despretensioso artigo, que publicamos nesta semana em que celebramos a memória de São Bruno, fundador da Ordem.
A Missa conventual é sempre cantada. Antes da mesma, como que formando parte do rito, há uma adoração do Santíssimo Sacramento, diante do qual se canta a Ladainha de Todos os Santos, incluindo o nome do fundador, São Bruno. Essa adoração se faz sem ostensório, dado que é um objeto desconhecido da liturgia cartusiana.
Durante a Missa, mesmo a cantada e conventual, não há acólitos. Não há, como no rito romano tradicional, três tipos básicos - rezada (simples), cantada e solene -, e sim apenas a privada (rezada, simples), e a conventual (que é sempre cantada e solene). Na Missa cantada, solene, conventual, o sacerdote celebrante é ajudado por um diácono, mas sem subdiácono e, como dissemos, sem acólitos. A simplicidade é marca da Ordem e se reflete também na liturgia. Não é uma Missa para o fausto e o esplendor, ainda que eles sejam legítimos, e isso porque suas igrejas são fechadas. Ninguém penetra na solidão da Cartuxa, nem para assistir Missa. O Santo Sacrifício é parte de seu silêncio, de sua espiritualidade, misto de cenóbio e eremitério...
Pois bem, nessa Missa conventual, com diácono, há diferenças para com o rito romano. O diácono, por exemplo, não usa dalmática nem alva, cíngulo ou amito. Ele está trajado somente com o hábito religioso cartuxo e uma túnica, sem qualquer paramento. Quando vai cantar o Evangelho, o diácono põe uma estola por cima de seu hábito, retirando-a depois dessa cerimônia. É uma tradição curiosa, bastante distinta de nossa liturgia romana a que estamos acostumados. No Ofertório, sem a estola, o diácono, por cima do hábito, veste uma espécie de véu umeral menor, chamado de syndon. Ele não coloca o vinho no Cálice no Ofertório, nem o padre o faz, pois já foi feito no início da Missa, como no rito dominicano e em ritos orientais. Ademais, no Ofertório, as oblatas do pão e do vinho são cobertas com um corporal: não há pala sobre o cálice, mas um corporal.
O diácono só entra no presbitério quando for desempenhar suas funções. Fora disso, permanece no coro.
O subdiácono também não fica no presbitério, permanecendo no coro, de cujo meio, sem qualquer paramento, revestindo-se apenas do hábito, canta a Epístola. Aliás, a igreja cartuxa tem apenas coro e presbitério, sem nave, pois não há fiéis que não os monges.
Nas leituras, aliás, em certas festas, os cartuxos utilizam três leituras, como no rito romano moderno. Aliás, também como no rito moderno, o cartusiano termina com o "Ite, Missa est", e não como, no rito tridentino, com a bênção. Isso parece demonstrar o costume medieval, antes da codificação de São Pio V, e que foi retomado, sabiamente, pela comissão pós-conciliar que reformou a liturgia romana.
Durante a Comunhão, os monges recebem a Sagrada Eucaristia exclusivamente consagrada naquela Missa a que assistem. A reserva eucarística no tabernáculo, que contém apenas três hóstias pequenas, é para adoração e para os monges enfermos que não podem assistir Missa conventual. Desse modo, nunca se usam, para a Comunhão na Missa, as hóstias da reserva. Os monges comungam na boca, mas permanecem de pé. Como também estão de pé durante a Consagração.
É comum a postura do celebrante in modum Crucifixi, como forma de salientar o caráter sacrifical da Missa, como na imagem a seguir, atual e bem representativa do despojamento da liturgia cartuxa:
Durante a Missa, o sacerdote celebrante usa, por cima de seu hábito, o amito, a alva, o cíngulo, o manípulo, a estola, que nunca é cruzada - no que difere da forma extraordinária do rito romano -, e a casula. Quando está na sede (cadeira), usa um gremial. A vestição dos paramentos é feita diante do altar e não em uma sacristia, no que aproxima a Missa conventual cartuxa da Missa pontifical romana.
Os beijos cerimoniais são distintos de ambas as formas do rito romano: o padre beija o altar apenas no início e no fim da Missa, bem como no Credo cantado - na parte "Et homo factus est" -, no Supplices, e antes de beijar o instrumentum pacis, caso o Abraço da Paz seja distribuído entre os monges. Também se beija o Evangeliário, depois de cantar o Evangelho e, ao contrário do rito tridentino, isso se dá mesmo nas Missas de Réquiem.
O Asperges, feito aos Domingos, como no rito romano, é cantado não depois da Tércia e antes da Missa, mas antes mesmo da Tércia. Daí que a Missa conventual diária tem, como preparação, a adoração ao Santíssimo, a ladainha, a Tércia e a vestição; e a Missa conventual dominical, a adoração ao Santíssimo, a ladainha, a vestição, o Asperges e a Tércia.
O canto gregoriano cartuxo é bem menos elaborado, em suas melodias, do que o romano e beneditino. Para o Kyrie, por exemplo, há apenas três melodias, e para o Gloria somente duas. Falando em Gloria, uma das frases está invertida, sem tomarmos por referência o rito romano: em vez de "propter magnam gloriam tuam", o rito cartuxo traz "propter gloriam tuam magnam".
O Confiteor é cantado em reto tom, ao contrário do rito romano tradicional, em que é recitado - mas parecido com o rito romano moderno, em que pode ser cantado, semelhantemente à Missa Pontifical em qualquer das formas. Em vez de "mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa", o texto do Confiteor cartusiano dispõe, e apenas uma vez, "mea culpa per superbiam". Após o Confiteor, como parte das Orações ao Pé do Altar, o sacerdote reza um Pater Noster e uma Ave Maria.
A duplicidade de orações na Missa cantada (enquanto o coro, diácono ou subdiácono cantam uma parte, o sacerdote rezaria a mesma parte em vox submissa), característica das rubricas tradicionais do rito romano, inexiste na liturgia cartusiana.
Há diferenças, enfim, no Calendário Litúrgico, nos Próprios e suas antífonas, no Lecionário, nos sinais-da-cruz durante a Missa, e também na Liturgia das Horas. Desta última, a mais característica, é que cada Ofício é rezado duas vezes: uma conforme o dia, e outra, em seguida, tirada do Ofício da Bem-aventurada Virgem Maria. Assim, há duas Laudes, duas Vésperas, duas Completas etc. Ademais, os textos do Próprio, do Saltério e do Ordinário da Liturgia das Horas são diferentes do disposto no Breviário Romano.
Outra distinção, própria do rito, é que nas profissões religiosas solenes das monjas cartuxas, elas são revestidas de estola e de manípulo, conforme se vê na imagem a seguir:
No jubileu monástico, a religiosa cartuxa voltará a usar esses paramentos, bem como quando for velada e enterrada. Alguns vêem nessa prática um resquício da antiga cerimônia de instituição de diaconisas - as quais, entretanto, não recebiam o sacramento da Ordem, sendo antepassadas das religiosas de vida ativa.
Após a Missa, o sacerdote celebrante se prostra diante do altar, e faz sua ação de graças desse modo, durante quinze minutos. São quinze minutos de prostração, com um significado penitencial profundíssimo.
Ainda na questão dos paramentos, o pluvial é desconhecido dos cartuxos.
Enfim, quem quiser, pode ler o texto, em latim, do Ordo Missae cartuxo, que pode ser baixado, em formato Word, aqui.
A Missa privada é celebrada, por cada padre, após ter assistido a Missa conventual, e é sempre combinada com a hora canônica de Tércia.
Cabe lembrar que, após a reforma de Paulo VI em relação ao rito romano, o rito cartuxo também foi levemente modificado, a partir de 1981. As três novas Orações Eucarísticas, por exemplo, podem hoje ser usadas pelos cartuxos, porém apenas nas Missas "privadas", i.e., celebradas pelos padres do mosteiro com a presença de apenas um assistente ou sem ninguém. A Missa conventual diária, celebrada normalmente pelo prior, continua a usar apenas o Cânon Romano tradicional. Outra pequena modificação, após o Vaticano II, foi a introdução de novos santos e festas no calendário. A palavra "omissione" foi acrescida no Confiteor, como no rito romano moderno.