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domingo, 6 de dezembro de 2009

O erro racionalista e a reforma litúrgica

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Quando se fala em algumas impropriedades da forma moderna do rito romano, é comum levantar-se o argumento de que não se observou o princípio do desenvolvimento harmônico da liturgia, ou o de que, em nome de uma suposta pureza do rito, a partir de um erro denominado “arqueologismo”, eliminou-se uma série de acréscimos (legítimos!) de origem galicana ou mesmo oriundos da piedade individual. Tudo isso está absolutamente certo, é verdade, mas creio que um outro viés deveria ser mais trabalhado: o de que alguns aspectos da reforma litúrgica levada a cabo por Mons. Anibale Bugnini, e sua implantação prática nas paróquias, foram influenciados pelo racionalismo.

O sacerdote australiano Pe. John Parsons, vivamente empenhado na chamada “reforma da reforma”, explica, em um apêndice da grande obra do Pe. Thomas M. Kocik sobre o tema, o quanto o racionalismo está na gênese da ânsia por uma Missa “ideal”. De fato, o idealismo das formas “puras” corresponde à mesma matriz ideológica do racionalismo, do Iluminismo, que rechaça a tradição por vê-la envolvida no que entende ser um repositório de superstições.

Ademais, certas simplificações feitas por Bugnini não estavam na linha da eliminação de duplicidades superficiais pedida pelo Concílio, mas obedeciam a uma agenda que não conseguia entender o valor dos símbolos, dos sinais. Se o homo modernus não entende os símbolos profundos da liturgia romana tradicional, eles devem ser retirados: eis o mote que acompanhou boa parte dos executores da reforma. Ora, isso é uma sandice. Então, em um país de esmagadora maioria de analfabetos, iríamos eliminar as letras, os sinais de pontuação, a gramática? Se a resposta ao analfabetismo é a alfabetização, a resposta a um século que não lê os símbolos é ensinar-lhes o seu significado, não propor seu banimento!

O homem advindo do racionalismo não entende os símbolos, não é capaz de aprofundar no belo, vê o fausto e o esplendor como farisaísmo estéril ou triunfalismo e, diante desse quadro, certos membros do Concilium de Bugnini, propuseram o aniquilamento de tudo aquilo que a modernidade não entenderia. Daí, a exclusão dos altares laterais, a falta de ênfase no dogma da transubstanciação, a eliminação de certos sinais que davam o claro caráter sacrifical da Missa, a mentalidade de que a liturgia bem feita excluiria a devoção popular, a obrigatoriedade prática de celebrar versus populum, o impedimento de recitar o Cânon em vox submissa, a verdadeira cruzada contra o latim etc.

Com efeito, embora muitos desses pontos não estejam presentes no código de rubricas do Missale Romanum de 1970, estavam no ethos dos que implementaram a reforma. O racionalismo é a origem de muitas daquelas posturas já identificadas com o arqueologismo litúrgico.

Para o racionalismo, disseminado mesmo entre católicos a partir do jansenismo do século XVIII – e o herético Sínodo de Pistóia, com suas proposições litúrgicas condenadas, está aí para provar –, a multiplicação de altares laterais era produto do sentimentalismo, as Missas votivas eram uma forma de superstição, o Cânon em silêncio um obscurantismo, o padre a celebrar versus Deum estaria “de costas para o povo” – eis aqui também uma distorção dos valores democráticos. Tudo isso deveria ser reprimido.

Finalmente, após a primeira e a segunda fases do movimento litúrgico de Dom Guéranger, OSB, que muito contribuíram para uma vivência mais apurada, entre os fiéis, do dom de nossa liturgia romana, os racionalistas, imbuídos desses conceitos amalgamados com um estilo peculiar de catolicismo, e alimentados pelo arqueologismo, propuseram sua revolução. Foi a terceira fase do movimento litúrgico que, ao lado de excelentes contribuições, que nos deram os valiosos pontos positivos da reforma de Paulo VI (como um maior ciclo de leituras bíblicas no lecionário, a possibilidade de se usar canto gregoriano e incenso mesmo em Missas rezadas, um tesouro de hinos, antífonas, coletas e prefácios pré-tridentinos e que não constavam do Missal compilado por São Pio V, a procissão do ofertório, um mais amplo uso do vernáculo, a ênfase no gregoriano como canto oficial do rito romano, a restauração das preces dos fiéis, a recolocação do Ite Missa est para depois da bênção, a homilia ou sermão como cerimônia integrante da liturgia e não uma interrupção da Missa, a simplificação na gradação de festividades, a mudança mesmo em Missas simples e rezadas, como ensina o Mons. Peter Elliott, de um tablado restrito no qual ficava o padre para um espaço aberto de celebração no presbitério, etc), trouxe enormes desvantagens ao culto católico. Esses racionalistas e arqueologistas se aproveitaram das diretivas do Concílio Vaticano II e da depressão de Paulo VI, ocasionada por sua quebra de autoridade diante de um episcopado rebelde que não aceitou sua reafirmação da ortodoxia em matéria de moral sexual, e da sua confiança nos oficiais do comitê para a reforma litúrgica, para colocar o cavalo de Tróia dentro dos muros da Igreja.

Não fosse o corajoso basta de Paulo VI, impedindo uma revolução ainda maior na liturgia, e desautorizando mudanças mais radicais que Bugnini – que foi mandado por Paulo VI para o Irã, em um ato que foi interpretado por cardeais mais ortodoxos como uma punição – e seus sequazes tentavam fazer passar, estaríamos hoje diante de um seco, frio e absolutamente racionalista culto católico.

A reforma teve elementos racionalistas, mas graças a Deus e ao Papa Paulo VI – e depois às correções de João Paulo II –, não tantos quanto os modernistas queriam. Todavia, se na própria reforma litúrgica, o radicalismo dos racionalistas foi barrado, na sua implementação em nossas paróquias, a crise atingiu proporções apocalípticas.

A frieza racionalista caiu como uma bomba no dia-a-dia dos fiéis católicos: de uma hora para outra, houve padres que até mesmo retiraram não só os altares laterais como removeram todas ou quase todas as imagens dos santos das igrejas; o órgão foi banido e trocado pelos violões da música romântica e folk; as piedosas letras dos cantos gregorianos, das polifonias sacras de forte inspiração bíblica, e dos cânticos populares mais tradicionais foram substituídas por outras de gosto duvidoso; o celebrante deu as caras para o povo como se fosse um animador de auditório – e, de fato, poucos são os padres que conseguem manter a concentração e a piedade versus populum. Com o tempo, a casula foi abandonada, à revelia das normas que obrigavam ao seu uso, os paramentos adquiriram uma simplicidade que beirava ao simplório e sem aquela nota de sacralidade e distinção próprias de nossa visão católica das coisas.

Claro que essas coisas todas na implementação da reforma não estavam por esta prevista. Em nenhum momento, mandou a Igreja que se aposentasse o canto gregoriano, a casula, as seis velas nas Missas solenes, o latim... Ocorre que o racionalismo não estava presente somente nas novas normas, mas em toda uma mentalidade que, ignorando as sadias normas que procuravam manter um mínimo de nossa tradição litúrgica romana, radicalizava a reforma. Não contentes com as rubricas, que já não estavam recheadas de arqueologismo e simplificações em demasia, os revolucionários fizeram, em cada paróquia, a sua própria reforma.

Se o novo rito tinha alguns defeitos, o modo como muitos o colocaram em prática foi ainda pior. Não se nega que há problemas na reforma litúrgica, porém o que temos em nossas igrejas não é culpa da reforma e nem mesmo pode ser chamado de Novus Ordo, de Missa nova: é uma sua distorção.

É bem possível celebrar a Missa do rito novo com toda a sobriedade e sacralidade, com canto gregoriano, incenso, versus Deum, toda ela em latim etc, atestando a continuidade do Missale de Paulo VI com o rito romano clássico. Sem embargo, não se pode negar a presença, como atestado, da mentalidade racionalista, ainda que ela esteja muito mais na criminosa implementação que alguns padres e Bispos puseram em marcha contra as orientações dos Papas e as normas de Roma.

Uma eventual e necessária “reforma da reforma”, que coloque como ponto de partida a co-existência dos dois ritos, o novo e o antigo, o moderno e o tradicional, e propugne, em harmônico desenvolvimento, por um acréscimo dos elementos positivos do Missal de Paulo VI ao Missal clássico de São Pio V, em uma unificação da liturgia romana, não poderá desconsiderar também a rejeição da ideologia por trás dos pontos negativos do novo Ordinário. E nessa ideologia, não poucos pontos da filosofia racionalista estão presentes.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Diversos grupos e soluções diante da crise litúrgica

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Diante da atual crise litúrgica, com aberrações gritantes, falsas concepções acerca da liturgia católica, bagunças nas Missas, debates quanto a mutilações e acréscimos feitos pela própria autoridade eclesiástica no texto do rito, levantam-se inúmeras propostas quanto ao que fazer. As sugestões, tendências teológicas, inclinações canônicas, e preferências pessoais (baseadas ou não na realidade dos fatos), são muitas. Podem, todavia, ser agrupadas, nesse quesito, em cinco grupos:

1. Os tradicionalistas

Segundo este grupo, a solução seria simplesmente retornar à última versão do Missale Romanum codificado por São Pio V, i.e., ao texto previsto em 1962, antes da reforma litúrgica de Paulo VI. Percebem os defensores de tal tese que os missais de 1962 e de 1970, embora conservem uma essência comum, são distintos por vários acréscimos feitos, bem como mutilações e adaptações, tanto no Ordinário quanto no Próprio. A linguagem, dizem, também teria mudado. Mais ainda: o modo como foi feita a reforma do Missale Romanum, em 1970, não teria respeitado o princípio do desenvolvimento harmônico, e, portanto, tratar-se-ia mais de um rito fabricado do que uma continuidade do rito romano clássico.

Parcela dos defensores dessa tese admitem que, enquanto não se chega à situação ideal de generalizar a prática da hoje chamada forma extraordinária a ponto de se tornar o rito normativo, possa-se tolerar o rito novo.

2. Os reformistas

São os que percebem que o rito novo possui várias lacunas, como, por exemplo, a exclusão das Orações ao Pé do Altar e do Último Evangelho, de certos paramentos como o manípulo ou o pluvial no Asperges antes da Missa Dominical, a simplificação por demais radical do Ofertório, a eliminação do lecionário de São Jerônimo, a mudança brusca no calendário e em certas orações do Próprio etc. Sabem também que o desenvolvimento harmônico não foi observado em sua confecção.

Todavia, vários pontos positivos existem no rito novo, segundo este grupo: a possibilidade de se usar canto gregoriano e incenso em todas as Missas e não só nas cantadas e solenes (embora, ironicamente, na prática, se tenha excluído de nossas paróquias tanto um quanto outro), a cessação da artificial duplicação de certas cerimônias, o Ite Missa Est depois da Bênção Final, as Orações dos Fiéis, a Procissão do Ofertório, o Salmo Responsorial como opção ao Gradual, o aumento de leituras bíblicas, o Próprio para os dias de semana do Advento e mesmo novas leituras nas férias do Tempo Comum, a simplificação na gradação das festas, a valorização do Domingo etc.

Alguns sentem falta também de rubricas mais precisas e duras, que eliminem qualquer possibilidade de dupla interpretação, para que não se as possa invocar para celebrar uma liturgia de qualquer modo. A exclusão prática do latim e a popularização do “versus populum” também são pontos negativos levantados pelos reformistas.

O que propõem com base em suas teses? A chamada “reforma da reforma”. Manter os pontos positivos da reforma de Paulo VI em seu Missale Romanum de 1970, mas incorporar aqueles elementos que não se deveriam ter perdido e que se encontravam no de 1962. E que isso seja feito de modo harmônico. Primeiramente, é preciso que o rito anterior tenha ampla liberdade e divulgação, e que os padres que celebram no novo se deixem influenciar pela mente do antigo, pelos costumes, pela piedade, pelo silêncio, e tais valores sejam transportados para o novo. Depois, que se obrigue a celebrar, mesmo no novo rito, “de costas”, “versus Deum”, e ao menos certos trechos em latim. Alguns clamam que uma Missa de Domingo seja em latim, no mínimo. Terceiro, que opções sejam dadas, pelo Papa, para incorporar, aos poucos algumas cerimônias que não se deveriam ter mudado por ocasião da reforma. O resultado será que o rito antigo será a base para um rito romano unificado e que tenha os pontos positivos do novo. Em um modo de falar, teríamos o desenvolvimento harmônico do rito antigo. Por outro ponto de vista, teríamos o novo indo beber no antigo.

Enquanto a “reforma da reforma” não é feita (ao menos não como implementação de um novo código de rubricas), dedicam-se a promover, num grau maior ou menor: a) a maior disseminação possível da forma extraordinária (rito romano antigo); b) a celebração da forma ordinária (rito romano moderno) em estrita obediência às rubricas atuais, com toda a solenidade possível (belos paramentos, cantos gregorianos, polifonia sacra, música popular mais sóbria e tradicional, diáconos, incenso, Missas pontificais com o Bispo de dalmática por baixo da casula e todo o cerimonial); c) a popularização do latim e do “versus Deum” mesmo nas Missas da forma ordinária, inclusive com eventuais Missas totalmente em latim.

3. Os idealistas

Para esses, o rito novo, de Paulo VI, não precisa de reforma alguma. Está perfeito. Tudo aquilo que tradicionalistas e reformistas enxergam como mutilações ou indevidas adaptações, foi bem feito. Nada de “Orações ao Pé do Altar” ou de “Último Evangelho” mesmo. Advogam um rito romano “puro”, medieval, desfeito de tudo o que consideram “estilo barroco” ou intromissão espúria do rito galicano. Alguns são fortemente influenciados pela heresia do arqueologismo, condenada por Pio XII, embora nem todos a ela prestem adesão.

Uns poucos, mais radicais, defendem o “versus populum” como a melhor das posições, e não admitem o latim em hipótese alguma nas Missas ordinárias. A maioria, entretanto, quer esse rito “puro”, mas com boas doses de latim, de gregoriano, de incenso, e “versus Deum”.

4. Os ultramontanos radicais

Para eles, o que o Papa decretar está correto, e não se preocupam com a profundidade da discussão. Não tanto por desinteresse ou por não serem experts na questão, mas por uma visão um tanto simplória e legalista das coisas. O Papa proibiu o rito antigo? Ótimo! O Papa liberou? Ótimo! O Papa reformou a liturgia? Ótimo! Não reformou? Ótimo!

É uma distorção da virtude da obediência e do princípio de andar no passo da Igreja.

5. Os revolucionários

Para eles, a crise litúrgica não é verdadeira crise. O problema é justamente a insistência dos conservadores (tradicionalistas, reformistas, idealistas e ultramontanos radicais).

Nesse grupo estão os liberais, os modernistas, os que acham que mesmo o Missale Romanum de 1970 fez pouco, e o tem apenas como um guia. Vão sempre além: aposentam a casula, ignoram o latim e o canto gregoriano, advogam o folk-pop e o rock romântico açucarado na Missa, sequer cogitam celebrar com incenso, consideram uma piada de mau gosto o “versus Deum”, colocam aqui e acolá elementos não previstos (cartazes na procissão de entrada, uma árvore no altar quando o Evangelho fala da videira e dos ramos, aplausos ritmados acompanhando as músicas), colocam leigos para fazer funções sacerdotais, rompem completamente com a tradição litúrgica, defendem a “Missa afro”, a “Missa crioula”, a “Missa funk”.

Claro que nem todos defendem todos esses bizarros elementos. Sua mentalidade é tão liberal que se dão ao luxo de escolher, entre os acima listados e outros mais (pois distorcem a sadia criatividade e mesmo o princípio da “actuosa participatio”), os elementos que vão adotar ou que acham corretos.

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Pessoalmente, estou no grupo 2, dos reformistas. E tu?

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Papa celebra Vésperas Pontificais no início do Advento

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Sábado passado, o Papa celebrou as I Vésperas Solenes Pontificais do I Domingo do Advento, na Basílica de São Pedro.

Abaixo, as fotos, retiradas do New Liturgical Movement.

Fica a pergunta: quando teremos, de modo mais corriqueiro, no Brasil, Vésperas Solenes Pontificais celebradas por Bispos (ou pelo menos Vésperas Solenes celebradas pelos padres)? Não precisa ser na forma extraordinária. Mas que seja na forma ordinária CONFORME AS RUBRICAS e, ao menos em algumas partes, com latim e canto gregoriano. Quando teremos o Ofício cantado com sua solenidade própria, com pluvial da cor do tempo, diáconos em dalmática, incenso no Cântico Evangélico?

Infelizmente, não tenho a resposta...













"Deus in adjutorium meum intende. R. Domine, ad adjuvandum me festina."




The Psalms; chanted and in Latin




The discourse of the Holy Father




"Magnificat anima mea Dominum..."

















terça-feira, 17 de novembro de 2009

Bispos brasileiros celebram Missa na forma ordinária VERSUS DEUM!

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Quando estiveram em visita ad limina, os Bispos brasileiros do Sudeste, celebraram versus Deum. Será que é porque estavam em Roma? Por que é, então, que alguns Bispos, quando estão aqui no Brasil, insistem em desrespeitar o patrimônio litúrgico, insistem em desobedecer às rubricas...

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Formação Litúrgica - Lista de E-mails

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O Salvem a Liturgia implantou um novo serviço. Trata-se do envio regular (a cada dois, três ou quatro dias), por e-mail, de um artigo de formação litúrgica, escrito por alguns de nossos membros ou tomado de outros sites e apostolados, bem como recomendações de livros sobre o tema.

Assinem em http://groups.google.com.br/group/salvemaliturgia-formacao

Missas belíssimas e corretas na forma ordinária

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Missa versus populum celebrada por Pe. Charles Johnson, Capelão militar, no porta-aviões USS Theodore Roosevelt:







Missa versus Deum celebrada em Detroit:


Missa conventual versus Deum celebrada pelos cistercienses no dia da Mãe de Deus:




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