Nossos Parceiros

sábado, 17 de julho de 2010

Crisma da Juliana Fragetti, na forma extraordinária

View Comments
No dia 4 de julho último, nossa amiga e leitora Juliana Fragetti, fiel da Administração Apostólica São João Maria Vianney, e ex-protestante, recebeu, de seu Bispo, D. Fernando Arêas Rifan, o sacramento da Confirmação, segundo o rito próprio dessa circunscrição eclesiástica: o romano na sua forma clássica. A celebração foi na Igreja Nossa Senhora da Boa Morte.

Abaixo, um texto da mesma Juliana, do seu blog, e algumas fotos.

Hoje foi um dia verdadeiramente especial. Em uma linda cerimônia, recebi(emos) a Crisma das mãos de D. Fernando Arêas Rifan, onde fomos selados com o Espírito Santo, tendo recebido a plenitude de seus dons e da sua graça. O que recebemos no Batismo, em flor, em botão, se torna pleno e vivo agora. Somos doravante soldados de Cristo e da Santa Igreja.

Algumas coisas fazem esse dia mais especial ainda: como o dia de São Pedro e São Paulo caiu numa terça (29/06), a Igreja desloca a festa e a solenidade para o domingo seguinte, onde pode-se celebrar esses dois grandes apóstolos com toda a honra merecida e os fiéis podem vivenciar e participar desse dia lindo.

Antes da cerimônia começar, tivemos um momento muito gostoso de confraternização com S. Excia: um gostoso café da manhã onde comemos e conversamos descontraidamente.

Um bom café da manhã... por Jú R. Lima.

Ele é verdadeiramente uma pessoa muito especial e é um prazer imenso ter esse sucessor dos apóstoslos como amigo - que sei que ele é - e o fato de ter sido crismada por ele me deixa muito lisonjeada, já que ele é um dos bispos mais fieis ao Santo Padre que conheço, além de ser o único bispo ligado ao rito tradicional no mundo, hoje.

Pouco antes de começar a cerimônia (a Crisma foi durante a Missa), ele dá uma palavrinha conosco e nos lembra que agora a coisa é mais séria. Que o fato de recebermos a Crisma das mãos do bispo mostra a comunhão que temos que ter com a Igreja hierárquica, já que o óleo do Crisma é ungido pelo Bispo na Quinta-Feira Santa. Uma missa linda, pois foi toda cantada pelo coro, gregoriano, linda mesmo.

Mais rico ainda foi o sermão de Dom Fernando, que por ser a comemoração de S. Pedro e S. Paulo, nos lembrou da importância da Igreja. Uma Igreja divina e humana como o próprio Cristo, lembra-nos e também isso é-nos recordado em S. Pedro. O seu lado humano é conhecido de nós: falhou, etc. E, ao mesmo tempo, ele tinha a certeza, dada pelo próprio Cristo, de que "as portas do Inferno não prevalecerão". As chaves foram dadas a ele, num sinal de poder e autoridade. Ainda nos lembrou da analogia usada por S. Paulo, onde a Igreja pe um corpo, em que seus membros tem "mais" ou "menos" importancia, mas que todos são irrigados pelo mesmo sangue. E quem irriga a Igreja é o Espírito Santo, que estávamos a receber logo em seguida.

Ainda ele nos trouxe a São Paulo o seu último livro sobre a missa. Muito bom. Ele não irá agradar a muitos, tanto de um lado como de outro, mas a verdade está dita ali.

Ponho abaixo algumas fotos da cerimônia para que vocês vejam como foi lindo.

Os paramentos do bispo por Jú R. Lima.

Detalhes por Jú R. Lima.

Tudo em ordem por Jú R. Lima.

Só conferindo por Jú R. Lima.

O altar por Jú R. Lima.

Nós juntas por Jú R. Lima.
A crismanda e sua madrinha

Rezando por Jú R. Lima.
Antes da Missa, D. Fernando Rifan reza o breviário

Uma palavra por Jú R. Lima.
Uma pequena palestra aos crismandos antes da Missa

Chamada... por Jú R. Lima.
Pe. Jonas faz a chamada dos crismandos

Começa a missa por Jú R. Lima.

Confiteor do bispo por Jú R. Lima.

Confiteor dos fieis. por Jú R. Lima.

Oremus por Jú R. Lima.

Epístola por Jú R. Lima.

Incenso por Jú R. Lima.

Homilia por Jú R. Lima.

Imposição das mãos (Crisma) por Jú R. Lima.
O Bispo impçoe as mãos sobre os crismandos

Dom Fernando impõe as mãos sobre mim por Jú R. Lima.

"confirmo te crismate salutis" por Jú R. Lima.
"confirmo te crismate salutis"

Lavando as mãos por Jú R. Lima.

Orando pelos crismandos por Jú R. Lima.

Bênção por Jú R. Lima.
Bênção sobre os crismados

Preparando o altar por Jú R. Lima.
Preparação para o ofertório

Ofertório por Jú R. Lima.

"Hoc est corpus meum" por Jú R. Lima.

"Hic est enim calix sanguinis meum" por Jú R. Lima.

Todos rezam novamente o confiteor por Jú R. Lima.

Ecce Agnus Dei por Jú R. Lima.

Guardando por Jú R. Lima.

Segundo lavabo por Jú R. Lima.

Todos juntos por Jú R. Lima.

Eu com D. Fernando por Jú R. Lima.






sexta-feira, 16 de julho de 2010

Características da espiritualidade litúrgica

View Comments
A Igreja manifesta na liturgia uma espiritualidade própria e as características peculiares desta espiritualidade pertencem ao tesouro da vida espiritual cristã. Examinemos quais são as características principais desta espiritualidade:

1- Espiritualidade bíblica

A espiritualidade litúrgica é fundamentalmente bíblica. A liturgia não somente se serve constantemente da Sagrada Escritura, mas não pode prescindir dela, porque é a Palavra de Deus que prepara e explica a ação litúrgica no seu sentido e no seu valor eminentemente salvífico. O que é anunciado pela Palavra é levado a termo no ato sacramental. A Palavra de Deus na liturgia deixa de ser uma 'palavra escrita', morta, para assumir sempre mais a função de anúncio-proclamação de um acontecimento salvífico. Em outras palavras, o acontecimento que 'se lê' na Escritura é o mesmo que 'se realiza' na liturgia. Portanto, o Lecionário da Missa e o da Liturgia das Horas, além de serem os principais livros de meditação e de oração propostos à comunidade dos fiéis, são o anúncio permanente da salvação presente e atuante no mistério litúrgico.
Precisamente porque bíblica, a espiritualidade litúrgica é histórica e profética. Ela é sensível ao sentido salvífico dos acontecimentos da história do povo de Deus, especialmente da vida de Cristo, na qual continua a atuar o mistério divino da salvação (cf. Ef 3, 3-11). De fato, a liturgia repropõe o acontecimento salvífico, que tem como centro o Cristo morto e ressuscitado, com as suas leis objetivas de preparação, de crescimento na vida do homem, de remate e de projeção para o Reino. O fato histórico proposto não está fechado em si mesmo e proposto como tal, mas é oferecido em vista do seu envolvimento na situação existencial do crente; isto é, o acontecimento histórico tem a sua especificidade soteriológica , sua finalidade histórica.

2- Espiritualidade cristológica

A liturgia abrange todas as dimensões da história salvífica reunidas e centradas em Cristo. Todo o acontecimento Cristo é levado em consideração, da Encarnação até a sua volta gloriosa, no fim da história. O mistério de Jesus não pode ficar reduzido aos acontecimentos da sua vida terrestre. Jesus está vivo na glória do Pai. Cristo está presente na Igreja que Ele vivifica e conserva no Espírito Santo. A Liturgia cristã é, portanto, uma cristologia 'extensiva', que recapitula em si toda a história humana e cósmica. A liturgia, manifestando fielmente essa visão do Mistério de Cristo, revela, anuncia e torna presente no tempo e no espaço a sua força salvífica.



Parte-se de Cristo, mas atinge-se necessariamente a Trindade inteira. O Pai de quem Cristo é Revelador; o Espírito que Ele promete e envia. A espiritualidade litúrgica manisfesta continuamente, desta forma, a dimensão trinitária do Mistério da Salvação. Por conseguinte, a liturgia é uma escola na qual se aprende o Plano de Salvação que existe desde a eternidade em Deus e o modo da sua atuação, antes em Cristo e depois, por meio do Espírito, em nós.

3- Espiritualidade eclesial e sacramental

Na assembléia litúrgica a Igreja encontra a sua forma concreta de localização, pela qual nós, batizados, reunidos em assembléia, tomamos consciência e nos realizamos como Igreja que existe em determinado lugar e que aí tem o dever do testemunho e da missão. A Igreja destaca a dimensão comunitária da experiência cristã com a frequente referência a uma multiplicidade de imagens: povo, rebanho, família, etc. Além disso, os textos litúrgicos nos introduzem no caráter 'mistérico' da Igreja, já definida por Pio XII como Corpo Místico de Cristo. Ela é também Esposa de Cristo, nossa Mãe, nova Eva, Cidade Santa, Jerusalém Celeste, Reino de Deus, Casa de Deus, etc. A dimensão eclesiológica da liturgia torna-se evidente, especialmente na celebração dos sacramentos, dos quais a Igreja é depositária e dispensadora.

Os sacramentos da Igreja, que constituem a liturgia, são meios de participação direta e eficaz (ex opere operato) nos atos redentores de Cristo, especialmente pela sua morte e ressurreição. Deles nasce uma assimilação com a pessoa de Cristo, ou 'imitação' na própria vida dos mistérios celebrados na liturgia. É um assunto que aparece em muitas orações: imitar ou testemunhar nas obras o que é celebrado no sacramento. Assim, por exemplo, a oração da Coleta da sexta-feira na Oitava da Páscoa: "Concede-nos testemunhar na vida o mistério que celebramos na fé". Neste sentido, a espiritualidade litúrgica se transforma num estímulo permanente para o fiel tornar conforme à sua vida aquilo que está celebrando. Esta verdade é assimilada corretamente somente se considerarmos o sacramento como um encontro objetivo e eficaz de salvação com Cristo, encontro que transforma e renova o cristão. De fato, o cristão pode completar a Paixão de Cristo (ação moral) porque ela já existe inicialmente nele como realidade sacramental (ser cristão). O sacramento, portanto, não deve ser considerado principalmente como um meio para realizar um contato, de qualquer modo, com a pessoa de Cristo, especialmente com o objetivo de estabelecer um 'colóquio' interior com ele, dimensão procurada em certa espécie de espiritualidade; mas, é considerado como o ponto de inserção, que, ao mesmo tempo, é a comunicação do Mistério e razão de assimilação a Cristo justamente na perspectiva do Mistério comunicado.

4- A espiritualidade pascal

A espiritualidade litúrgica se baseia no Mistério Pascal enquanto ele é a síntese de toda a revelação-salvação. De fato, sob o denominador comum de "Páscoa" na Sagrada Escritura, praticamente, aparece, toda a revelação-atuação, tanto profética quanto definitiva, do plano da salvação humana, existente no desígnio de Deus desde toda a eternidade. A História da Salvação, que se concretizou no Mistério de Cristo, encontra o seu acabamento, a sua realização e o seu centro na Páscoa. Esta visão unitária do mistério salvífico, que tem como centro a Páscoa, não existe somente na Bíblia e na história salvífica por ela narrada, mas está presente na liturgia, que sempre é celebração do Mistério Pascal.



Segundo o Novo Testamento e a mistagogia dos Padres da Igreja, a vida cristã consiste na realização da vivência cotidiana da morte e ressureição de Cristo, que se realizou em nós, sacramentalmente na imersão e na emersão batismal e da qual nos nutrimos no banquete pascal, renunciando cada dia ao pecado para viver em novidade de liberdade (cf. Rm 6, 3-11). A liturgia, portanto, na sua essência, nos transmite a tendência para fazer-nos viver a salvação-mistério pascal em cada um dos seus momentos e consegue isso realizando em nós mesmo Mistério Pascal reproduzido no seu momento culminante: morte e ressurreição de Cristo.

O dinamismo pascal projeta, por sua vez, a nossa vida para o completo aperfeiçoamento da obra redentora. Daqui, origina-se também a dimensão escatológica da espiritualidade litúrgica.

5- A espiritualidade mistagógica

A liturgia não é a ocasião para apresentar uma idéia para despertar a atenção dos participantes ou para oferecer a eles um exemplo moral a ser imitado, mas é o momento indicado para entrar em contato com o 'mysterium salutis' de Deus, o Mistério de Cristo, chamado a tranformar nossa vida. Neste sentido, afirmamos que a liturgia é mistagogia. De fato, para os Padres da Igreja, a mistagogia é "um ensinamento destinado a provocar a compreensão do que os sacramentos significam para a vida, mas que pressupõe a iluminação da fé, que brota dos próprios sacramentos; é o que se aprende na celebração ritual dos sacramentos e o que se aprende vivendo conforme aquilo que os sacramentos significam para a vida". O método mistagógico usado pelos Padres da Igreja, identifica, portanto, três elementos: a valorização dos sinais na liturgia; a interpretação dos ritos à luz da Sagrada Escritura, na perspectiva da história da salvação; a abertura para o compromisso cristão e eclesial, expressão da vida nova em Cristo.

As celebrações litúrgicas que sucedem ao longo do ano litúrgico objetivam permitir-nos compreender e viver sempre em mais profunda plenitude o mistério de Cristo, atualizado pelos sacramentos. Daqui resulta a dimensão mística da espiritualidade litúrgica no sentido mais autêntico da palavra, isto é, como atualização do mistério celebrado na vida do cristão. O mistério que celebramos na liturgia é o dom da vida , escondido nos séculos em Deus, que ele quis manifestar e comunicar aos homens no seu Filho, morto e ressuscitado, com a efusão do Espírito Santo.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Arcebispo de Olinda e Recife apóia a celebração da Missa na Forma Extraordinária

View Comments
Na manhã de hoje (quinta-feira, 15 de julho de 2010), um grupo de fiéis leigos foi recebido em audiência pelo Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido. Estes fiéis assistiam regularmente à Santa Missa na Forma Extraordinária do Rito Romano celebrada pelo pe. Nildo Leal de Sá, pároco da Imbiribeira. O padre havia comunicado, no domingo passado, que "por razões particulares" não mais a iria celebrar, fato que provocou angústia e perplexidade entre os fiéis que, para poderem continuar assistindo a esta Missa, recorreram ao seu Arcebispo.

Sua Excelência recebeu amavelmente a comissão (que era formada por jovens, casais com crianças de colo e senhores) designada para pedir-lhe pela continuidade da celebração da Missa. Garantiu-lhes a sua solicitude paternal e o seu apoio às justas reivindicações do grupo. Prometeu-lhes que iria intervir para que a Santa Missa continuasse a ser celebrada, o que deixou aliviados e felizes os fiéis que foram à Cúria com este propósito.

Os católicos de Olinda e Recife agradecem de coração a Dom Fernando Saburido pelo apoio concedido aos fiéis que assistem à Missa na Forma Extraordinária do Rito Romano, e pela garantia dada a estes de que esta Missa não deixaria de ser celebrada na Arquidiocese.

Mais no site Deus lo Vult!

Forma extraordinária em Curitiba - III

View Comments

Desta vez, as fotos, também cedidas pelo Marcos Vinícius Mattke, são do Mons. Luiz Gonzaga, na Igreja da Ordem.

image

image

image

image

image

image

image

image

image

image

image

image

image

quarta-feira, 14 de julho de 2010

A função da beleza na religião

View Comments
A recentes discussões em nosso blog sobre a suposta superficialidade dos adornos e demais sinais de decoro nos locais sagrados e nas celebrações litúrgicas me recordou uma reflexão sobre o escritor católico alemão Dietrich von Hildebrand (1889-1977) acerca da função da beleza no culto religioso. O texto abaixo é um trecho do livro "Cavalo de Tróia na Cidade de Deus", de autoria do próprio Dietrich von Hildebrand, e encontra-se disponível também neste link: http://philocalia.com.br/pastoralis/?p=634

"A beleza desempenha importante papel no culto religioso. O ato mesmo de adoração à divindade encerra o desejo de envolver o culto com a beleza. Estigmatizar a preocupação com o belo no culto religioso como “esteticismo” — como fizeram recentemente, com crescente acrimônia, alguns católicos — é revelar uma concepção deformada do culto religioso e da natureza do belo.


É o que se vê claramente quando se considera a natureza do “esteticismo”, em vez de se usar o termo apenas com slogan destruidor.

O esteticismo é uma perversão na maneira de considerar a beleza. O esteta saboreia coisas belas como quem saboreia vinho. Não as trata com o respeito e a compreensão do valor intrínseco que requer uma resposta adequada, mas como fontes de satisfação meramente subjetiva. Mesmo dotado de refinado bom gosto, mesmo que seja um notável connaisseur, o tratamento do esteta não pode fazer de maneira alguma justiça à natureza do belo. Acima de tudo, é indiferente a todos os demais valores inerentes ao objeto. Qualquer que seja o tema de uma situação, vê-o somente do seu ponto de vista da satisfação e do prazer estético. Não consiste sua falha em superestimar o valor da beleza, mas em ignorar os outros valores fundamentais, sobretudo os morais.


Tratar uma situação de um ponto de vista que não corresponde ao seu tema objetivo é sempre uma grande perversão. Por exemplo, é perverso que um homem trate de um drama humano que exige compaixão, simpatia e ajuda, como se fosse mero objeto de estudo psicológico. Fazer da análise científica o único ponto de vista em qualquer assunto é radicalmente antiobjetivo e até mesmo repulsivo; é desrespeitar e anular o tema objetivo. Além de ignorar qualquer ponto de vista que não seja o “estético” e qualquer outro tema que não seja o da beleza, o esteta também deforma a natureza real da beleza em sua profundidade e grandeza. Como já mostramos em outros livros, toda idolatria de um bem necessariamente exclui a compreensão de seu verdadeiro valor. A maior e mais autêntica apreciação de um bem somente é possível se o vemos em seu lugar objetivo na hierarquia dos seres, disposta por Deus.

Se alguém se recusasse a ir à missa porque a igreja é feia e a música medíocre, seria culpado de esteticismo, pois estaria substituindo o ponto de vista estético ao ponto de vista religioso. Antítese do esteticismo é apreciar a elevada função da beleza na religião, é compreender o legítimo papel que lhe cabe desempenhar no culto e o desejo das pessoas religiosas em revestir de grande beleza tudo o que se refere ao culto divino. Esta apreciação justa da beleza é até um c
rescimento orgânico da reverência, do amor a Cristo, do ato mesmo de adoração.
Infelizmente alguns católicos dizem, hoje, que o desejo de dotar de beleza o culto se opõe à pobreza evangélica. É um erro grave e que parece freqüentemente inspirado em sentimento de culpa por terem eles sido indiferentes às injustiças sociais e negligenciado os legítimos reclamos da pobreza. É então em nome da pobreza evangélica que nos dizem que as igrejas devem ser graves, simples, despojadas de todos os adornos necessários.

Os católicos que fazem essa sugestão confundem a pobreza evangélica com o caráter prosaico e monótono do mundo moderno. Deixaram de ver que a substituição da beleza pelo conforto, e do luxo que muitas vezes o acompanha, é muito mais antitético à pobreza evangélica do que a beleza — mesmo esta em sua forma mais exuberante. A noção funcionalista do que é supérfluo é muito ambígua, simples seqüela do utilitarismo. Contradiz as palavras do Senhor: Nem só de pão vive o homem. No livro Nova Torre de Babel, procuramos mostrar que a cultura é um bem superabundante, algo que necessariamente parece supérfluo à mentalidade utilitarista. Graças a Deus, esta não foi a atitude da Igreja e dos fiéis através dos séculos. São Francisco, que em sua própria vida praticou a pobreza evangélica ao extremo, jamais afirmou que as igrejas devessem ser vazias, despojadas, sem beleza. Pelo contrário, igreja e altar nunca seriam suficientemente belos para ele. Diga-se o mesmo de Cura d’Ars, São João Batista Vianney.

Acontece um ridículo paradoxo quando, em nome da pobreza evangélica, são demolidas e substituídas as igrejas mais preciosas artisticamente — e a que custo! — por igrejas prosaicas e monótonas. Não é a beleza e o esplendor da igreja, a casa de Deus, que são incompatíveis com o espírito de pobreza evangélica e que escandalizam o pobre; são muito mais o luxo e o conforto desnecessários, hoje tão em voga. Se o clero deseja retornar à pobreza evangélica, deve reconhecer que em regiões como nos Estados Unidos e na Alemanha o clero possui os carros mais elegantes, as melhores máquinas fotográficas, os aparelhos mais modernos de TV. Beber e fumar muito é, certamente, oposto à pobreza evangélica; mas não, decerto, a beleza e o esplendor das igrejas.

De um lado, afirmar-se que as igrejas deveriam ser despojadas, porém, ao mesmo tempo, paróquias e campus de escolas católicas estão levantando feios edifícios para assuntos sociais, dotados de todo tipo de luxo desnecessário. Isto é feito em nome de problemas sociais e do espírito de comunidade. Até mesmo nos conventos verifica-se desenvolvimento análogo. Essas novas estruturas não são apenas opostas à pobreza evangélica; criam, também, uma atmosfera tipicamente mundana. Cadeiras reclináveis e tapetes espessos com maciez não muito saudável. Esses edifícios reúnem, artificialmente, três propriedades negativas: dispendiosos (o que diretamente se opõe à pobreza evangélica), feios e convidativos a concessões pessoais, típicas da degeneração que, hoje, ameaça os homens.

Por vezes os argumentos iconoclastas tomam outra feição. Ouve-se, ocasionalmente, algum vigário dizer que a missa é algo abstrato e que as igrejas, especialmente o altar, deveriam ser despojados. Na verdade, a Santa Missa é um mistério surpreendente e que transcende a toda compreensão pela só razão, mas não é, absolutamente, abstrato.

Abstrato é algo especificamente racional; opõe-se a real, concreto, individual. O mundo do sobrenatural, a realidade revelada, transcende o mundo da razão, mas não implica nenhuma oposição ao real e ao concreto. É, pelo contrário, realidade definitiva e absoluta, se bem que invisível. A Missa é, assim, um epítome da realidade concreta, do nunc (agora), pois o próprio Cristo se faz verdadeiramente presente.


A força e o impacto existencial da Sagrada Liturgia têm suas raízes exatamente no fato de não ser abstrato e dirigir-se não só à nossa inteligência ou simplesmente à fé, mas, sobretudo, de falar, de inúmeras maneiras, à totalidade da pessoa humana. Imerge o fiel na sagrada atmosfera do Cristo, pela beleza e esplendor sagrado das igrejas, pelo colorido e beleza das vestimentas, pelo estilo de linguagem e sublimidade musical do Cantochão.

Católicos progressistas dizem, às vezes, que aqueles que combatem a iconoclastia, se ocupam do “inessencial”.

De fato, não é essencial que seja bonita a igreja, onde se celebra a Santa Missa e distribui a Comunhão aos fiéis. São essenciais apenas as palavras que perfazem a transubstanciação. Sendo este o sentido da frase, nada objetaremos. Se o termo “inessencial” significar “sem significação”, então se está querendo dizer que coisas como a beleza das igrejas, a Liturgia e a música são “triviais” e a acusação é completamente errada, porque existe uma relação profunda entre a essência de alguma coisa e sua expressão adequada. A respeito da Santa Missa esta observação é particularmente verdadeira.

O modo como é apresentado esse mistério, sua visível manifestação, desempenha papel definido e não pode ser considerado sujeito a mudanças arbitrárias, apesar de ser incomparavelmente mais importante aquilo que se expressa do que sua expressão. Se bem que o tema efetivo da Missa seja tornar presente o mistério do Sacrifício de Cristo na Cruz e o Mistério da Eucaristia, deve-se dar grande peso à atmosfera sagrada criada pelas palavras, ações, acompanhamento musical e igreja onde se celebra. nada disso pode ser considerado de interesse meramente estético.

Contrapõe-se a todo esse menosprezo gnóstico do conteúdo e da forma externa o princípio especificamente cristão de que as atitudes espirituais devem encontrar também expressão adequada na conduta do corpo, nos seus movimentos e no estilo de nossas palavras. A Liturgia inteira está penetrada desse princípio.

Analogamente, o salão e o edifício onde se desenrolam cerimônias sagradas devem irradiar uma atmosfera que lhe corresponda. É certo que a realidade dos mistérios nada sofre se a sua expressão for inadequada. Há, contudo, um valor específico em dar-lhe expressão adequada.

Como se erra, portanto, ao considerar a beleza das igrejas e da Liturgia como coisas que nos podem distrair e afastar do tema real dos mistérios litúrgicos para algo superficial! Quem diz que igreja não é museu e que o homem realmente piedoso é indiferente a essas coisas acidentais, apenas revela sua cegueira à magnífica função desempenhada pela expressão adequada (e bela). Em última análise, trata-se de uma cegueira à própria natureza humana. Mesmo que essas pessoas se proclamem “existencialistas”, continuam muito abstratas. Esquecem que a beleza autêntica encerra mensagem específica de Deus, que nos eleva as almas. Como dizia Platão: “À vista da beleza, crescem asas às nossas almas”. Mais ainda: da beleza sagrada relacionada à Liturgia nunca se afirma que seja temática, como nas obras de arte; pelo contrário, como expressão, têm a função de servir. Longe de obnubilar ou de se substituir ao tema religioso da Liturgia, ajuda a torná-lo fulgurante.

Valor não é sinônimo de “ser indispensável”. O princípio básico da superabundância em toda a criação e em todas as culturas manifesta-se, exatamente, nos valores não indispensáveis a certa finalidade ou tema. A beleza da natureza não é indispensável à economia da natureza. Nem a beleza da arquitetura é indispensável para nossas vidas. Mas, o valor da beleza, na natureza e na arquitetura não é diminuído pelo fato de ser um dom, que de muito transcende a mera utilidade. Desse modo, a beleza é importante não só quando é ela mesma o tema (caso da obra de arte), mas também quando a serviço de outro tema. Destacar que a Liturgia deve ser bela não é colorir religião com tratamento estético. A aspiração pela beleza, na Liturgia, nasce do sentido do valor específico que se apóia na adequação da expressão.

A beleza e a sagrada atmosfera da Liturgia são algo não só precioso e valioso por si mesmo (na qualidade de expressões adequadas dos atos religiosos de adoração), mas são, também, de grande importância para o desenvolvimento espiritual das almas e dos fiéis. Repetimos: aqueles que, no movimento litúrgico, têm insistido na afirmação de que orações e hinos cansativos denominam o ethos religioso dos fiéis, apelando para o que no interior humano está longe do que é religioso, lançam-no em uma atmosfera que obscurece e embaça o semblante de Cristo. É de enorme importância a beleza sagrada para a formação do verdadeiro ethos do fiel.

No livro Liturgia e Personalidade, falamos em detalhe da função profunda da Liturgia em nossa santificação, sem sacrifício de ser o culto de Deus seu tema central. Na Liturgia louvamos e agradecemos a Deus, associamo-nos ao sacrifício e à prece do Cristo. Convidando-nos a orar a Deus com o Cristo, a Liturgia exerce papel fundamental em nossa transformação em Cristo. Esse papel não se restringe ao aspecto sobrenatural da Liturgia. Integra, também, sua forma, a sagrada beleza que toma corpo nas palavras e na música da Santa Missa ou do Ofício Divino. Desprezar esse fato é sinal de grande primitivismo, mediocridade e falta de realismo.

Um dos maiores objetivos do movimento litúrgico tem sido o de substituir orações e hinos inadequados por textos sagrados das preces litúrgicas oficiais e pelo Canto Gregoriano. Assistimos, hoje, a uma deformação do movimento litúrgico quando muitos tentam substituir os sublimes textos latinos da Liturgia por traduções nativas, com gírias. Chegam mesmo a mudar, arbitrariamente, a Liturgia no intuito de “adaptá-la aos nossos tempos”. O Canto Gregoriano vai dando lugar, na melhor hipótese, à música medíocre, quando não ao jazz ou ao rock and roll. Essas grotescas substituições empanam o espírito de Cristo incomparavelmente mais do que o fizeram certos tipos antigos e sentimentais de devoção. Esses eram inadequados. Aqueles, além de inadequados, são antitéticos à sagrada atmosfera da Liturgia. É mais do que uma deformação; isso lança o homem em uma atmosfera tipicamente mundana. Apela no homem para algo que o torna surdo à mensagem de Cristo.

Mesmo quando se substitui a beleza sagrada, já não pela vulgaridade profana, mas por abstração neutra, incorre-se em sérias conseqüências para as vidas dos fiéis, pois, como indicamos, a Liturgia católica se dirige à personalidade total do fiel. O fiel não é atraído ao mundo de Cristo apenas por sua crença ou por símbolos estritos. São levados a um mundo mais alto pela beleza do altar, pelo ritmo dos textos litúrgicos, pela sublimidade do Canto Gregoriano ou por músicas verdadeiramente sacras, tais como a Missa de Mozart ou de Bach. Até mesmo o perfume do incenso tem função significativa, nesse sentido. O emprego de todos os canais capazes de introduzir-nos no Santuário é profundamente realista e profundamente católico. É autenticamente existencial e realiza função notável em ajudar-nos a elevar nossos corações.

Se é verdade que considerações de cunho pastoral poderão recomendar como desejável o uso do vernáculo, o Latim da Missa — na missa silenciosa, dialogada e, especialmente, cantada com o Gregoriano — jamais deveria ser abandonado. Não se trata de guardar o latim de Missa por certo tempo até que os fiéis se habituem à missa em vernáculo. Como a Constituição da Sagrada Liturgia claramente determina, é permitido o uso do vernáculo, mas a Missa em Latim e o Canto Gregoriano conservam toda sua importância. Foi essa a intenção do motu proprio de São Pio X, que afirmou ser o Latim da missa, como o Canto Gregoriano, responsável também pela formação da piedade dos fiéis, através da atmosfera sagrada e única gerada por sua dicção. Assim, os anseios de muitos católicos e do movimento Una Voce não se dirigem contra o uso do vernáculo, mas contra a eliminação da Missa em Latim e do Canto Gregoriano. Eles apenas estão pedindo que se cumpra, realmente, a Constituição da Sagrada Litugia.

Contudo, certos católicos de hoje manifestam o desejo de mudar a forma exterior da Liturgia, adaptando-a ao estilo de vida de nossa época dessacralizada. Esse desejo denota cegueira com relação à natureza da Liturgia, bem como ausência de respeito reverencial e gratidão pelos dons sublimes de dois mil anos de vida cristã. Acreditar que as formas tradicionais podem ceder o lugar a algo melhor é dar provas de uma ridícula auto-suficiência. E esse conceito é particularmente incongruente nos que acusam a Igreja de “triunfalismo”. De um lado, eles consideram falta de humildade a Igreja proclamar que Ela só é detentora da plena revelação divina (em vez de perceber que essa proclamação se fundamenta da natureza da Igreja e decorre de sua missão divina). De outro lado, demonstram ridículo orgulho quando simplesmente assumem que nossa época moderna é superior às anteriores.

Podem-se ouvir, hoje, razões de protesto declarando, por exemplo, que o texto do Glória e de outras partes da Missa estão repleto de expressões cansativas de louvor e glorificação a Deus, quando deveriam fazer mais referências a nossas vidas. É um contra-senso que revela como tinha razão Lichtemberg ao dizer que, se fosse dado a um macaco ler as epístolas de São Paulo, ele veria sua própria imagem refletida nelas.
Admiram-se os nossos “teólogos” modernos não apresentarem, dentro em breve, uma nova versão do “Pai Nosso”, como o fez Hitler. O “Pai Nosso” claramente enfatiza o primado absoluto de Deus, tão distante da mentalidade típica moderna. Um único pedido diz respeito ao bem-estar terrestre: “o pão nosso de cada dia”… O restante diz respeito ao próprio Deus, a seu Reino, a nosso bem-estar eterno."

terça-feira, 13 de julho de 2010

Beato Cardeal Schuster: Poesia e música nas sinaxes eucarísticas, parte II, final

View Comments
Continua e termina aqui o texto Poesia e música nas sinaxes eucarísticas, do Beato Ildefonso Cardeal Schuster. A primeira está publicada neste link. Comunicamos aos amigos que estão sendo preparadas novas traduções de escritos do Beato Schuster, as quais esperamos publicar em breve.

Imagem de liberius.net
Ildefonso SCHUSTER
Beneditino
Cardeal-Arcebispo de Milão
(1880-1954)
*

D-)

Aparentada à salmodia antifonada e responsorial é aquela que poderíamos quase chamar de litânica, isto é, de versículos alternados entre o sacerdote e a assembleia, e cujos traços Baumer crê poder encontrar desde o primeiro século. Os antigos comumente lhe davam o nome de Litania. Diferentemente das formas salmódicas precedentes, a litania não tomava seu texto exclusivamente do Saltério; e, mesmo quando dependia dele, era com tanta liberdade que a composição salmódica perdia sua unidade literária (mantida inalterada pela antifonia e pelo responsorius) para se tornar um vivo diálogo entre o povo e o celebrante. Emancipando-se do texto do Saltério, a litania representou novo frescor de inspiração, um excelente senso de atualidade e crescimento do vigor espiritual.

A última parte de nossa Litania Maior, ou litania dos santos, e as preces do Breviário na Hora Prima e nas Completas, estão entre os mais belos exemplos desta litania, que era antigamente como a fórmula de transição entre a vigilia e a Missa que seguia, na aurora. A coleta caracterizava a litania, cujo pensamento geral resumia e determinava. O Gloria que agora, na Missa, se interpõe entre a oração litânica e a coleta, representa uma interpolação de origem mais recente.

E-)

Bem diferente da salmodia alternada era o salmo in directum ou tractus, confiado exclusivamente à habilidade de um solista. Cassiano conta que os monges do Egito celebravam suas vigílias noturnas recitando doze salmos in directum: parili pronunciatione, contiguis versibus; e São Bento prescreveu a salmodia in directum nos ofícios diurnos, quando o pequeno número de monges os desobrigava da salmodia antifonada. O in directum é o gênero salmódico mais fácil e mais cômodo, e acabou por prevalecer universalmente no uso eclesiástico. Tanto Cassiano como São Bento observaram que era o único gênero de salmodia indicado para comunidades pouco numerosas, cujos membros já estivessem exaustos pelas tarefas do dia.

O in directum é assim chamado tractus, e no entanto tractus não indica nenhum gênero especial de salmodia in directum supostamente mais grave ou ornada de melodias mais ricas. Alguns querem atribuir sua origem ao andamento lento da execução; outros pensam que significa simplesmente a continuidade salmódica que lhe é própria, isto é, sem nenhum refrão intercalado.

O fato é que o directaneum do solista, precisamente por ser mais ágil e menos fatigante, era preferido pelos antigos monges egípcios; o subtrahendo, prescrito para o invitatório responsorial das vigílias é, ao contrário, na Regra de São Bento, sinônimo de morose, e indica uma execução bem diferente.

Mais recentemente alguns liturgistas quiseram reconhecer no tractus um caráter quase lúgubre, próprio, portanto, aos tempos penitenciais. Observemos, enquanto isso, que o tractus Laudate Dominum da Vigília Pascal, e o oitavo tom gregoriano ao qual pertencem muitos tractus não são nada inspirados pela tristeza nem pelo luto; veremos que o tractus era mesmo o cântico dos Domingos e das Festas da Liturgia Romana, antes da introdução do versículo aleluiático para todos os Domingos fora da Quaresma.

O solo do cantor e a continuidade da modulação salmódica, sem nenhuma interrupção nem refrão da assembleia, eram as características do tractus. Menos importante, ao contrário, nos parece o fato de que, na Liturgia Eucarística, o tractus seja coordenado intimamente à lição escriturística que o prece (Cf. Cantemus Domino do Sábado Santo e as Benedictiones do Sábado das Têmporas, depois da lição dos três jovens na fornalha).

F-)

O psalmus gradualis não é, propriamente falando, um gênero salmódico distinto, mas indica simplesmente um cântico responsorial cujos solos são executados nos degraus do ambão. Alguns autores dizem que deriva de uma transformação do tractus, depois de este se haver revestido de uma forma melódica muito mais ornamentada e de caráter antifônico, tornando-se assim uma verdadeira antifonia responsorial. Sabemos, porém, que o responsorius-gradualis já estava em uso antes de São Leão I e coexistia com o gradual.

Mas antes de terminar esta rápida revisão das diversas formas salmódicas utilizadas pelos antigos, devemos ao menos mencionar a lei que mede e determina a estética de todos esses prolongamentos melódicos e refrãos. Queremos falar do paralelismo, que é como um eco entre dois membros de um mesmo versículo salmódico.

O paralelismo bíblico foi definido por Dom Cabrol como a rima dos pensamentos e dos sentimentos; ela nos conserva como o último traço da forma poética primitiva dos salmos e dos cânticos, compostos segundo leis métricas que estudos recentes nos revelaram pela primeira vez.

A redundância dos paralelismos é comparável a um sereno equilíbrio da alma sobre as pias afeições, cuja suavidade o espírito inebriado evoca; é o efeito de um pensamento intenso, complexo, que deseja ser traduzido em partes e repetições, prolongando assim o deleite espiritual da alma.

O paralelismo antitético, ao contrário, diferentemente da redundância, se oferece como um violento contraste de sombra e luz, e por vezes por elevar o lirismo religioso a uma altura que nenhum outro gênero literário profano atingiria com facilidade. Mas nestes dois paralelismos o elemento característico que nos importa aqui é a ligação recíproca e o apelo mútuo dos diversos membros do versículo ou das partes de um salmo; é precisamente o que constitui o fundamento estético da salmodia em estrofes e em forma responsorial. Enquanto o Salmo 70 nos oferece numerosos exemplos de paralelismo em semiversículos, o Salmo 106 nos apresenta quatro medalhões de incomparável candura, separados entre si por um mesmo versículo eucarístico: Confiteantur Domino misericordiae eius, et mirabilia eius filiis hominum [Agradeçam ao Senhor por sua misericórdia, e pelas maravilhas em favor dos homens].

[Os "quatro medalhões" são: um pobre perdido no deserto, que vai morrer de fome; um prisioneiro; um enfermo; um navio agitado pela tempestade prestes a submergir nas águas. O versículo eucarístico de que fala o Beato Schuster se repete nos versículos 8, 15, 21, 31 deste Salmo 106]

Reencontramos, assim, as origens de nossas formas salmódicas menos nos costumes da sinagoga do que nas próprias leis da estética literária dos povos semitas, dos quais nós, aedificati super fundamentum Apostolorum et Prophetarum [edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas], herdamos, com pleno direito, não apenas o depósito bíblico, mas também o veículo artístico que o envolve. É, pois, momento de examinar o emprego que dele fez a Igreja, a qual, como a esposa mística prefigurada no Cântico de Débora, distribui, toda jubilosa, aos fiéis, o tesouro com a qual é enriquecida por seu Divino Esposo em regresso do combate, vencedor da morte e do inferno.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Jubileu da Ordem da Visitação de Santa Maria

View Comments
VIVA + JESUS!

1610 - 2010

A Igreja este ano se alegra por um especial acontecimento, o 4º Centenário de fundação da Ordem da Visitação. A Ordem é formada por religiosas contemplativas de estrita clausura, normalmente chamadas de visitandinas ou filhas de Santa Maria.

A venerável Ordem foi fundada em 1610 em Annecy - França por São Francisco de Sales e Santa Joana de Chantal, a história da fundação reúne as melhores características dos dois fundadores. São Francisco de Sales bispo de Genebra, conhecido por sua habilidade em dirigir as almas nos caminhos da santidade e por seu grande zelo pastoral; Santa Joana de Chantal viúva e mãe de seis filhos depois de muito sofrer dentro do próprio lar encontrou em São Francisco de Sales um diretor espiritual que correspondia aos seus desejos. Mais tarde uma de suas filhas viria a ser também sua companheira na Ordem.

O desejo dos fundadores era no novo instituto acolher mulheres que não tivessem grandes forças físicas para as habituais mortificações, comum nas antigas ordens, mas um grande desejo de união com Deus através das mortificações interiores. Procurar cumprir somente a vontade de Deus e aceitar tudo como prova de seu Amor seriam as características distintivas da Ordem. Na nova comunidade São Francisco de Sales conseguiu perpetuar sua doutrina espiritual exemplificada na “Introdução á vida devota – Filotéia” e no “Tratado do Amor de Deus”.

O nome “Visitação” surgiu como sinal da vocação especifica das religiosas que como a Virgem Santíssima deveriam carregar com simplicidade, humildade, vida interior a presença de Deus dentro do próprio coração, como Ela fez indo a sua prima Santa Isabel levando no ventre o Verbo Encarnado.

O bispo de Genebra no início não tinha em mente constituir uma ordem, seu
desejo era um grupo de mulheres sem votos externos e sem clausura que livres deveriam viver seu carisma junto aos mais necessitados. A idéia de São Francisco viria a se realizar mais tarde nas Irmãs da Caridade fundadas por São Vicente de Paulo, o desejo de intensa vida contemplativa implicaria na redução do tempo dedicado aos pobres.

A Ordem começou suas atividades oficialmente em seis de
junho de 1610, Domingo da Santíssima Trindade. A viúva baronesa de Chantal foi designada como primeira superiora, com ela Jacqueline Marie-Favre, Charlotte Brechard e Anne-Jacqueline Coste que seria a primeira irmã conversa* da comunidade.

O primeiro convento da Ordem ficava no subúrbio de Annecy, logo após sua fundação o instituto foi alvo de severas críticas por sua “aparente” frouxidão na vida religiosa e por não seguir os antigos costumes. As primeiras noviças da Ordem foram Perrone-Marie de Chatel e Marie-Amee de Blonay.

Após perceber o aumento das religiosas o Arcebispo de Lyon exigiu que seguissem alguma regra aprovada pelo Concílio de Trento, diante da ordem do Arcebispo Marquemont São Francisco de Sales entregou para suas filhas a Regra de Santo Agostinho, fazendo alterações que caracterizassem a Ordem e sua espiritualidade.

A ousadia de Francisco e Joana não conhecia limites, decidiram aceitar sem reservas não somente as virgens, mas também viúvas com a condição de que os filhos pudessem viver sem dificuldades e também mulheres doentes ou com debilidades físicas seriam aceitas. O desejo de “união perfeita com o Amor Divino” era a única exigência da qual não se abria mão.

As austeridades do claustro foram ao máximo reduzidas, não recitavam o Ofício Divino de madrugada, não possuíam camas duras ou com utensílios mortificantes, não faziam abstinência perpetua de carne nem jejuns prolongados. A única mortificação aceita por São Francisco de Sales foi o uso da disciplina toda sexta-feira. A intenção de São Francisco, que conhecia profundamente as almas, era reduzir as mortificações exteriores para exigir uma profunda mortificação interior na observância das votos religiosos e da vida comunitária.

Os hábitos, cruzes, rosários, livros devocionais eram regularmente trocados entre as religiosas para que não se apegassem aos objetivos. A obediência para com a superiora deveria ser total e sem frivolidades, mas sempre sincera e cordial. O dia das monjas era dividido entre as orações no coro e leituras espirituais com momentos de recreação nos quais eram tratados temas espirituais de forma livre.

A Ordem da Visitação foi erigida canonicamente em 1618 pelo Papa Paulo V e louvada por seu testemunho em uma Bula de Urbano VIII de 1626. No primeiro centenário em 1710 foi definida como “admirável pela sabedoria, discernimento e moderação, elementos que tornam a perfeição religiosa mais acessível.” Quando São Francisco de Sales partiu para as alturas celestes suas filhas estavam reunidas em 13 conventos, ao morrer Santa Joana (1641) o número era de 86.

Deus cumulou a Ordem desde seu início através de São Francisco de Sales e Santa Joana de Chantal, santos notoriamente conhecidos por sua doutrina mística de fácil aprendizado e prática. Porém, seria para uma de suas filhas que Deus faria a mais tocante revelação: O amor presente em seu Sagrado Coração. Esta era Irmã Maria Margarida Alacoque, religiosa do mosteiro de Paray-le-Monial.

Outras religiosas ilustres testemunharam à vida e o amor dócil desejado pelos fundadores, entre elas Anne-Madeleine Rémuzat visitandina de Marselha responsável pela propagação do Sagrado Coração. Madre Marie de Sales Chappuis, religiosa suíça fo
i fundadora de vários mosteiros e dos Oblatos e Oblatas de São Francisco de Sales. A serva de Deus Marie-Marguerite Bogner testemunhou no século XX o amor de Deus e a segura via da doutrina salesiana.

Coroam a Ordem sete religiosas mártires em Madrid durante a guerra civil espanhola em 1936, todas elas fuziladas. O Papa João Paulo II, de louvável memória, beatificou as monjas em 1998.

*Monjas conversas: eram religiosas normalmente analfabetas que eram admitas dentro do claustro para executarem as atividades domésticas. Não possuiam direto ao voto no Capítulo.







Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Parceiros