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terça-feira, 13 de março de 2012

Rito dominicano em Nova York

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Via New Liturgical Movement:

Cantada pelo Pe. Austin Dominic Litke, OP, em honra de Santo Tomás de Aquino na Igreja de São Vicente Ferrer, Nova York, EUA.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Bispo promove ordem tradicional de administração dos Sacramentos da Iniciação

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Dom Aquila recebe elogio do Papa por “re-ordenar” sacramentos
     Por David Kerr

Dom Samuel Aquila, Bispo de Fargo, afirmou que ficou encantado por ter recebido em primeira-mão a aprovação papal por ter mudado a ordem segundo a qual as crianças recebem os sacramentos em sua diocese.

“Foi muito surpreendente o que o Papa me disse, em como ficou feliz que os sacramentos da iniciação tenham sido restaurados em sua ordem própria, ou seja, batismo, confirmação e, só então, Primeira Eucaristia”, disse Dom Aquila após se encontrar com o Papa Bento no dia 8 de março.

Dom Aquila foi um dos cinco bispos de Dakota do Norte e do Sul a se encontrar com o Papa Bento XVI no Vaticano como parte de sua visita “ad limina” a Roma, de 5 a 10 de março.

Nos últimos sete anos, a Diocese de Fargo mudou a ordem típica dos sacramentos da iniciação. Em vez de a confirmação vir em terceiro lugar e numa idade mais avançada, é agora conferido a crianças mais novas e antes da Primeira Comunhão.

Dom Aquila disse ter feito a mudança porque “na realidade ela põe a ênfase na Eucaristia como sendo aquilo que completa os sacramentos da iniciação” e na confirmação como “selo e complemento do batismo”.

Quando os sacramentos são conferidos nesta ordem, disse, torna-se mais óbvio que “tanto o batismo quanto a confirmação conduzem à Eucaristia”. Este auxílio sacramental ajuda os católicos a vivermos “como filhos e filhas amados do Pai em nosso dia-a-dia”, acrescentou.

O Bispo de Fargo disse ainda que a mudança afasta o Sacramento da Confirmação daquelas “falsas teologias que o vêem como sendo um sacramento da maturidade ou um sacramento do ‘eu escolho Deus’”.

Por sua vez, os mais jovens em Fargo têm agora “a plenitude do Espírito e de seus dons” para os assistirem nas “suas vidas no mundo”, especialmente “nos desafios que enfrentam no ensino fundamental e médio”.

Dom Aquila expôs seu pensamento teológico ao Papa Bento durante o encontro de hoje [ontem].

Em resposta, disse, o Papa perguntou se eu “havia começado a falar com outros bispos sobre isto”. Ele disse ao pontífice que sim e que “certamente outros bispos nas Dakotas já estão considerando a implementação da restauração da ordem dos sacramentos”.

Fonte: Catholic News Agency
Tradução: OBLATVS

sábado, 10 de março de 2012

A Quaresma, por Dom Beda Keckeisen, OSB

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Apresentamos aos nossos leitores uma transcrição da explicação do tempo da Quaresma por Dom Beda Keckeisen, OSB, em seu Missal Quotidiano (para a Forma Extraordinária do Rito Romano). Como se trata de um texto voltado mais para a espiritualidade deste tempo litúrgico, mantém-se adequado como preparação para a maior das festas católicas, a Páscoa de Nosso Senhor.


Devido à mudança para o novo Código de Direito Canônico, posterior à data de publicação deste missal, é preciso levar em conta que as normas atuais obrigam o jejum a partir dos 18 anos.


2. O TEMPO DA QUARESMA

1. Significação deste Tempo. Durante estes quarenta dias os Cristãos se unem intimamente aos sofrimentos e à morte do Divino Salvador, a fim de ressuscitarem com Ele para uma vida nova, nas grandes solenidades pascais.

Nos primeiros tempos do Cristianismo esta idéia fundamental achava sua aplicação no Batismo dos catecúmenos e na reconciliação dos penitentes. Por toda a liturgia da Quaresma, a Igreja instruía os pagãos que se preparavam para o Batismo. No Sábado Santo mergulhava-os nas fontes batismais, de onde saíam para uma vida nova, como o Cristo, do túmulo. Por sua vez os fiéis, gravemente culpados, deviam fazer penitência pública e cobrir-se de cinzas (Quarta-feira de Cinzas) para acharem uma vida nova em Jesus Cristo. Convém reparar nestes dois elementos, para compreender a liturgia da Quaresma e a escolha de muitos textos sagrados.


2. Nossa participação neste Tempo. No ofício das Matinas do I domingo, lemos o sermão que o Papa S. Leão Magno, no século V, dirigiu ao povo, explicando a liturgia da Quaresma: "Sem dúvida, diz ele, os Cristãos nunca deveriam perder de vista estes grandes Mistérios... porém, esta virtude é de poucos. É preciso, contudo, que os Cristãos sacudam a poeira do mundo. A sabedoria divina estabeleceu este tempo propício de quarenta dias, a fim de que as nossas almas se pudessem purificar, e por meio de boas obras e jejuns, expiassem as faltas de outros tempos. Inúteis seriam, porém, os nossos jejuns, se neste tempo os nossos corações se não desapegassem do pecado”.

Lendo estas palavras, parece-nos assistir à abertura de um retiro. Com efeito, a Quaresma é o grande retiro anual de toda a família cristã, sob a direção maternal e segundo o método da Santa Igreja. Este retiro terminará pela confissão e comunhão geral de todos os seus filhos, associados assim, realmente, à Ressurreição do Divino Mestre, e ressurgindo por sua vez a uma vida nova.

As práticas exteriores que devem desenvolver em nós o espírito do Cristo e unir-nos a seus sofrimentos, são o jejum, a oração e a esmola.

O jejum é imposto pela santa Igreja a todos os fiéis, depois de 21 anos completos até atingirem os 60 anos. Seria um engano pernicioso não reconhecer a utilidade desta mortificação corporal. Seria menosprezar o exemplo do próprio Cristo e pecar gravemente contra a au­toridade de sua Igreja. O prefácio da Quaresma nos descreve os efei­tos salutares do jejum, e aqueles que por motivos justos são dele dispensados não o estarão do jejum espiritual, isto é, de se privarem de festas, teatros, leituras puramente recreativas, etc.

A oração. Assim como a palavra jejum abrange todas as mortifi­cações corporais, da mesma maneira compreende a palavra oração todos os exercícios de piedade feitos neste tempo, com um recolhi­mento particular, como sejam: a assistência à santa Missa, a Comu­nhão freqüente, a leitura de bons livros, a meditação especialmente da Paixão de Jesus Cristo, a Via Sacra e a assistência às pregações qua­resmais.

A esmola compreende as obras de misericórdia para com o pró­ximo. Já no Antigo Testamento está dito: "Mais vale a oração acompanhada do jejum e da esmola do que amontoar tesouros" (Tob. 12, 8).

Praticando essas obras preparavam-se antigamente os catecúmenos para o Batismo que iam receber no Sábado de Aleluia, enquanto os penitentes públicos se submeteram a elas com espírito de dor e arrependimento de coração.

Saibamos também nós que aquele que não faz penitência perecerá por toda a eternidade (Luc. 13, 3).

Renovemos em nós a graça do Batismo e façamos dignos frutos de penitência. Os textos das Missas, a cada passo nos exortam a isto.

Convém, entretanto, evitar que a nossa piedade seja exercida por compaixão sentimental ou tristeza exagerada. Sim, é um combate, uma morte terrível que vamos contemplar, mas é também, e sobre­tudo, uma vitória, um triunfo. Em verdade assistiremos a uma luta gigantesca do homem novo; ouviremos os seus gemidos, seguiremos os seus passos sangrentos, contaremos todos os seus ossos; mas isso é apenas um episódio de sua vida; o desenlace é um grito de vitória, um canto de triunfo.



3. Particularidades deste Tempo. A cor dos paramentos é a violácea.

Omite-se completamente o Aleluia, e o Glória só se canta nas festas dos Santos. Os altares são despojados dos seus enfeites e o órgão se cala, menos no IV. domingo.

Cada dia deste Tempo tem a sua "estação", com Indulgências especiais e uma liturgia própria, cujos Cânticos e Leituras nos incitam à penitência e à conversão, enquanto as Orações imploram para nós o perdão e a graça.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Card. Cañizares comenta a natureza da concelebração eucarística

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Publicamos a íntegra do interessantíssimo discurso proferido pelo Cardeal Antonio Cañizares tratando da concelebração eucarística. O discurso apresentava o livro A concelebração eucarística - Do símbolo à realidade, de dom Guillaume Derville, que já concedeu uma entrevista sobre este mesmo livro, publicada aqui. O cardeal, em sua breve exposição, toca alguns pontos fundamentais. Se a beleza é um elemento constitutivo da liturgia, e, portanto, a liturgia deve ser bela para que resplandeça e respeite sua própria natureza, também a concelebração deve ser bela, verdadeira e autêntica, e isto implica em conservar a liturgia como dom recebido de Deus.

Segundo o cardeal, dado que o grande significado da concelebração é expressar a unidade do sacerdócio, e se foi por este motivo que  os padres conciliares quiseram reabilitá-la no Ocidente, é preciso que a pergunta feita pelo Papa Bento XVI seja retomada: a concelebração massiva não acaba por prejudicar a unidade - mesmo que por elementos visíveis, como os paramentos dos celebrantes -, de forma que pode-se acabar não mantendo a estrutura que o Senhor quis e assim impedir uma participação ativa dos fiéis? É uma pergunta atual e cuja resposta, de acordo com o Papa - ainda não temos.

Segue o discurso (os grifos são nossos):

A CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA: DO SÍMBOLO À REALIDADE


Discurso do cardeal Cañizares na Universidade da Santa Cruz de Roma

ROMA, terça-feira, 6 de março de 2012 (ZENIT.org)- Reproduzimos o discurso do cardeal Antonio Cañizares, feito ontem (5), durante a apresentação do livro A concelebração eucarística - Do símbolo à realidade, de dom Guillaume Derville, na Universidade Pontifícia da Santa Cruz, em Roma.
***
“Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e os levou até um monte alto, onde se transfigurou diante deles. Suas vestes se tornaram extraordinariamente brancas, a ponto de ninguém na terra podê-las deixar com tal brancura. E eis que apareceram Elias e Moisés, que conversavam com Jesus. Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: Mestre, como estamos bem aqui! Façamos três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias” (Mc 9, 2-5).
Ontem, segundo domingo da quaresma, a liturgia proclamava as palavras que acabo de ler. Palavras que podem servir de marco, de introdução, nesta apresentação do livro de dom Guillaume Derville, A concelebração eucarística - Do símbolo à realidade [tradução livre do título original em francês, ndr].
Quando evocamos o relato da transfiguração, brotam espontâneas em nossa mente as palavras glória, fulgor, beleza. São expressões que se aplicam diretamente à liturgia. Como Bento XVI nos lembra, a liturgia é intrinsecamente vinculada com a beleza. “A verdadeira beleza é o amor de Deus, que se revelou definitivamente no mistério pascal” (BENTO XVI, Sacramentum caritatis, 3).
A expressão “mistério pascal” sintetiza o núcleo essencial do processo da Redenção, é o cume da obra de Jesus. Por sua vez, a liturgia tem como conteúdo próprio essa “obra” de Jesus, porque nela se atualiza a obra da nossa Redenção. Daí que a liturgia, como parte do mistério pascal, seja uma “expressão eminente da glória de Deus e, de certa forma, um aproximar-se do céu à terra. O memorial do sacrifício redentor carrega em si os traços daquele resplendor de Jesus, do qual Pedro, Tiago e João nos deram testemunho quando o Mestre quis se transfigurar diante deles, a caminho de Jerusalém (cf. Mc 9,2). A beleza, portanto, não é um elemento decorativo da ação litúrgica; é um elemento constitutivo, já que é um atributo do próprio Deus e da sua revelação. Conscientes disso tudo, precisamos manter uma grande atenção para que a ação litúrgica resplandeça de acordo com a sua própria natureza” (ibidem).
Eu gostaria de ressaltar precisamente as últimas palavras do texto que acabo de citar, porque, na minha opinião, elas introduzem um tema delicado, que, ao mesmo tempo, é o centro do estudo de dom Derville. Vamos relê-las: “A beleza, portanto, não é um elemento decorativo da ação litúrgica; é um elemento constitutivo, já que é um atributo do próprio Deus e da sua revelação. Conscientes disso tudo, precisamos manter uma grande atenção para que a ação litúrgica resplandeça de acordo com a sua própria natureza”.
Isto quer dizer que a liturgia, e, dentro dela, a concelebração, será bela quando for verdadeira e autêntica, quando nela resplandecer a sua própria natureza. Este é contexto da questão colocada pelo Romano Pontífice diante das grandes concelebrações: “Para mim”, diz o papa, “permanece um problema, porque a comunhão concreta na celebração é fundamental; por isso, eu acredito que ainda não se encontramos realmente a resposta definitiva. Também suscitei esta pergunta no sínodo passado, mas a resposta não foi encontrada. Fiz ainda com que levantassem outra questão sobre a concelebração massiva, porque, por exemplo, se mil sacerdotes concelebram, não se sabe se ainda fica mantida a estrutura que o Senhor quis” (BENTO XVI, Encontro com os sacerdotes da diocese de Roma, 7 de fevereiro de 2008).
Trata-se precisamente de manter “a estrutura que o Senhor quis”, porque a liturgia é um dom de Deus. Não é fabricada por nós, homens. Não está à nossa disposição. Aliás, “com o mandamento ‘Fazei isto em memória de mim’ (cf. Lc 22,19; 1 Co 11,25), ele nos pede corresponder ao seu dom e representá-lo sacramentalmente. O Senhor expressa com estas palavras, por dizê-lo assim, a esperança de que a sua Igreja, nascida do seu sacrifício, acolha este dom, desenvolvendo sob a luz do Espírito Santo a forma litúrgica do sacramento” (BENTO XVI, Sacramentum caritatis, 11).
Por este motivo, “devemos aprender a compreender a estrutura da liturgia e por que ela é articulada assim. A liturgia se desenvolveu ao longo de dois milênios e, mesmo depois da reforma, não é algo elaborado apenas por alguns liturgistas. Ela é a continuação de um desenvolvimento permanente da adoração e do anúncio. Assim, para sintonizá-la bem, nós precisamos entender essa estrutura desenvolvida ao longo do tempo e entrar com a nossa mens na vox da Igreja” (BENTO XVI, Encontro com os sacerdotes da diocese de Albano, 31 de agosto de 2006).
O estudo completo de dom Derville se posiciona neste contexto. Ele nos ajuda a escutar o Concílio Vaticano II, cujos textos, de acordo com as palavras do beato João Paulo II, “não perdem o seu valor nem o seu esplendor. É necessário lê-los de maneira apropriada. Que eles sejam conhecidos e assimilados como textos qualificados e normativos do magistério, dentro da tradição da Igreja” (JOÃO PAULO II, Carta ap. Novo millennio ineunte, 6 de janeiro de 2001, 57).
O concílio decidiu ampliar a faculdade de concelebrar com base em dois princípios: esta forma de celebração da Santa Missa manifesta adequadamente a unidade do sacerdócio e, ao mesmo tempo, foi praticada até agora na Igreja tanto do Oriente quanto do Ocidente. Daí que a concelebração, como indica ainda a Sacrosanctum Concilium, se encontraria entre aqueles ritos que convinha restabelecer “de acordo com a primitiva norma dos santos padres” (CONCÍLIO VATICANO II, Sacrosanctum Concilium, 50).
Neste sentido, é importante entrarmos, ainda que brevemente, na história da concelebração. A panorâmica histórica de dom Derville, embora seja um breve resumo, como ele modestamente observa, nos basta para enxergarmos lacunas, que manifestam a ausência de dados definitivos sobre a celebração eucarística nos primeiros tempos da Igreja. Ao mesmo tempo, e sem se deixar levar por um ingênuo “arqueologismo”, ele oferece suficientes elementos para afirmarmos que a concelebração, segundo a genuína tradição da Igreja, tanto oriental quanto ocidental, é um rito extraordinário, solene e público, ordinariamente presidido pelo bispo ou por seu delegado, rodeado pelo seu presbyterium e por toda a comunidade dos fiéis. Por outro lado, a concelebração cotidiana, em uso entre os orientais, e na qual concelebram somente presbíteros, assim como a concelebração “privada” em substituição das missas celebradas individualmente ou more privato, não se encontram na tradição litúrgica latina.
Por outro lado, eu considero que o autor acerta plenamente ao abordar as razões de fundo que o concílio menciona para a extensão da concelebração. Uma ampliação da faculdade de concelebrar, que deveria ser moderada como descobrimos ao ler os textos conciliares. E é lógico que seja assim, já que a concelebração não tem por objetivo resolver problemas logísticos nem de organização, mas tornar presente o mistério pascal manifestando a unidade do sacerdócio que nasce da eucaristia. A beleza da concelebração, como dizíamos no começo, implica a sua celebração na verdade. E assim, a sua força significativa depende do respeito e da vivência das exigências que a própria concelebração comporta.
Quando o número de concelebrantes é muito alto, um aspecto essencial da concelebração fica velado. A quase impossibilidade de sincronizar as palavras e os gestos, que não são reservados ao celebrante principal, o afastamento do altar e das ofertas, a falta de ornamentos para alguns concelebrantes, a ausência de harmonia de cores e de formas, tudo isso pode obscurecer a manifestação da unidade do sacerdócio. E não podemos esquecer que é precisamente esta manifestação o que justificou a ampliação da faculdade de concelebrar.
No distante ano de 1965, o cardeal Lercaro, presidente do Consilium ad exsequendam constitutionem de sacra liturgia, enviou uma carta aos presidentes das Conferências Episcopais alertando sobre este perigo: considerar a concelebração como um modo de superar dificuldades práticas. E recordou o quanto podia ser oportuno promovê-la se ela favorecesse a piedade dos fiéis e dos sacerdotes (Notitiae 1, 1965, 257-264).
É este o último aspecto que eu gostaria de mencionar, muito brevemente. Como afirma Bento XVI, “recomendo aos sacerdotes a celebração diária da santa missa, mesmo sem participação de fiéis. Esta recomendação está em consonância com o valor objetivamente infinito de cada celebração eucarística. Além disso, é motivada pela sua singular eficácia espiritual, porque, se a santa missa é vivida com atenção e com fé, ela é formativa no sentido mais profundo da palavra, já que promove a configuração com Cristo e consolida o sacerdote na sua vocação” (BENTO XVI, Sacramentum caritatis, 80).
Para cada sacerdote, a celebração da santa missa é a razão da sua existência. Ela é, ela tem que ser, um encontro personalíssimo com o Senhor e com a sua obra redentora. Ao mesmo tempo, cada sacerdote, na celebração eucarística, é Cristo mesmo presente na Igreja como Cabeça do seu corpo, e age em nome de toda a Igreja “quando apresenta a oração da Igreja e quando oferece o sacrifício eucarístico” (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 1552). Diante da maravilha do dom eucarístico, que transforma e configura com Cristo, só nos cabe a atitude do estupor, da gratidão e da obediência.
O autor nos ajuda a captar com mais profundidade e clareza esta realidade admirável. Ao mesmo tempo, com a leitura deste livro, ele nos lembra e nos motiva a levar sempre em conta que, além da concelebração, existe a possibilidade da celebração individual e a participação na eucaristia como sacerdotes, mas sem concelebrar. Em cada circunstância, a questão é entrar na liturgia, procurar a opção que mais facilite o diálogo com o Senhor, respeitando a estrutura da própria liturgia. Encontramos aqui os limites de um direito a concelebrar ou não, que diz respeito também ao direito dos fiéis de participar em uma liturgia em que a ars celebrandi torna possível a sua actuosa participatio. Tocamos pontos que têm a ver com o que é justo ou não. O autor, aliás, faz referência também ao Código de Direito Canônico.
Não me resta mais que agradecer a dom Derville e às editoras Palabra e Wilson & Lafleur pelo livro que hoje tenho o prazer de apresentar. Acho que esta leitura oferece um exemplo da justa hermenêutica do Concílio Vaticano II. “Trata-se de ler as mudanças indicadas pelo concílio dentro da unidade que caracteriza o desenvolvimento histórico do rito, sem introduzir rupturas artificiosas” (BENTO XVI, Sacramentum caritatis, 3). E constitui uma ajuda e um estímulo para a meta que o Santo Padre recordou recentemente à Congregação que presido: “Dedique-se principalmente a dar um novo impulso à promoção da Sagrada Liturgia na Igreja, conforme a renovação querida pelo Concílio Vaticano II a partir da constituição Sacrosanctum Concilium” (BENTO XVI, Motu proprio Quaerit semper, 30 de agosto de 2011).
Tenho certeza de que este livro contribuirá para que o Ano da Fé “seja uma ocasião propícia para intensificar a celebração da fé na liturgia, de modo particular na Eucaristia” (BENTO XVI, Motu proprio Porta fide, 9).
Antonio Card. Cañizares Llovera
Prefeito da Congregação para o Culto Divino e para a Disciplina dos Sacramentos
***

Pelo que percebo da situação corrente, as concelebrações não são utilizadas hoje tanto como um "modo de superar dificuldades práticas"; antes, foram difundidas sem um real questionamento sobre o seu fundamento, sua natureza própria, que, como nos recorda o Cardeal Cañizares, é de um rito extraordinário e solene, que manifesta a unidade e a comunhão do presbitério com seu bispo e com os fiéis. Sem essa reflexão sobre sua essência, a simples aplicação da concelebração eucarística em qualquer ocasião, porque a legislação vigente assim permite, não deixa de refletir também uma espécie de legalismo, o que é contrário ao espírito litúrgico católico.

quinta-feira, 8 de março de 2012

À venda, o ótimo livro "Liturgia da Semana Santa", pelo Pe. Everaldo Bon Robert

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O leitor Edino Apolinário, da Gráfica Dom Licínio, em Bom Jesus, RJ, e fiel da Administração Apostólica São João Maria Vianney, nos informa que possui 2.000 exemplares do livro "Liturgia da Semana Santa", de autoria do Pe. Everaldo Bon Robert, do clero da mesma Administração Apostólica.

A obra é de 2005 e com a apresentação e aprovação da obra por S. Excia. Revma, o Bispo Dom Fernando Arêas Rifan.

Consta no livro dentre outra o Ordinário da Santa Missa (Latim - Português), todas as Missas da Semana Santa, a começar pelo Domingo de Ramos com a Bênção dos Ramos até o Domingo de Páscoa inclusive a Missa Crismal. Também a Hora Santa de adoração para a Quinta Feira Santa, Via Sacra e Hinos Populares.

Número de páginas:242

Tamanho do livro:13,5 x 20,5

Preço: R$ 15,00 + frete

Para adquirir o livro é só enviar o pedido para:

Grafica Dom Licínio

domlicinio@gmail.com

Tel 22-3831-0074

Após a confirmação de depósito será enviado o livro. (pedido máximo 100 livros)

quarta-feira, 7 de março de 2012

Museu de Arte Sacra de São Paulo: entrevista com Pablo Neves

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Pablo Neves
O Museu de Arte Sacra de São Paulo conserva uma das mais importantes coleções de arte sacra do Brasil. Mas o que caracteriza a arte sacra? Segundo o designer especialista em arte sacra, Pablo Neves [leitor e colaborador do Salvem a Liturgia!], a arte só é considerada sacra "quando interage diretamente com o que é divino, ou seja, quando serve ao culto sagrado”. Ele ainda complementa que "o objeto em si não é sagrado, mas a divindade com a qual ele se envolve é que o sacraliza”.

Confira abaixo a entrevista com Pablo Neves: 
Qual a diferença entre arte sacra e arte religiosa?

PN: Tanto a arte, quanto a arquitetura e o design são definidos como sacros quando tangenciam ou interagem diretamente com o que é divino, ou seja, quando servem ao culto sagrado. Logo, não é o objeto em si que é sagrado, mas sim a divindade com a qual ele se envolve que o sacraliza. Um cálice usado para Santa Missa só é um objeto sacro porque nele será colocado o verdadeiro e preciosíssimo sangue de Cristo, presente naquele sangue em Corpo, Alma e Divindade. Já a arte religiosa é aquela que de fato possui relação com a fé, conduz a uma espiritualidade ou a uma mensagem sagrada, mas que não tangencia diretamente o divino em si. A arte religiosa pode muitas vezes também expressar a forma de ver o sagrado por parte do artista, sua opinião pessoal, o que não necessariamente será condizente com a Tradição da Igreja e, obviamente, poderá não ser adequada para servir à liturgia.
 
Dentro da arte, o que é sagrado?
 
PN: Como disse, é sagrado tudo aquilo que é santificado pelo que é realmente santo. O contato com o divino sacraliza a arte, fazendo-a tomar parte das realidades do céu. Uma imagem, um altar ou um crucifixo, por exemplo, não são sacros simplesmente por seus elementos formais e simbólicos, mas por tornarem-se parte direta da presença de Deus entre nós, de Sua vontade e de seu Amor.
 
Quais são os maiores nomes da arte sacra?
 
PN: Gostaria de citar o primeiro, mas talvez não tão conhecido como tal: São Lucas, evangelista, que segundo a Tradição, foi o primeiro a escrever um ícone de Nossa Senhora. Mas a arte se fez sagrada do oriente ao ocidente, com destaque aos grandes mestres iconógrafos como Teófanes, o grego e o monge Andreij Rublev, além é claro, de mestres ocidentais como Michelangelo e Caravaggio. Mas faço questão de destacar ainda os grandes artistas sacros brasileiros, como Mestre Ataíde e Aleijadinho, além de nosso contemporâneo Cláudio Pastro.
 
Quais são as maiores obras da arte sacra?
 
PN: A Europa obviamente abriga as mais grandiosas e ricas obras de arte e arquitetura sacras da humanidade, em igrejas como a basílica de São Pedro, no Vaticano e Notre Dame na França. Contudo, seria tolice não citar a basílica de Santa Sofia, na Turquia ou a catedral de São Basílio, na Rússia. O fato é que toda obra verdadeiramente sacra é grandiosa e única, não pelo ouro nela contido ou pela técnica ou estilo empregado, mas pelo conteúdo simbólico a ela atribuído e ao seu serviço à liturgia.
  
Como é feita a conservação das obras de arte sacra?
 
PN: É um trabalho demorado, difícil e que exige grande aprimoramento técnico. Seja por seu valor histórico quanto por seu valor sagrado, as obras de arte sacra antigas passam por tratamentos químicos, controle de exposição à luz até o restauro de partes danificadas. Vale lembrar que tão importante quanto conservar o antigo, é garantir que as obras contemporâneas de arte também durem muito tempo, sendo importantes meios de espiritualidade por gerações.
 
O que pode ser feito e o que não pode ser feito numa restauração de arte sacra? Existe alguma regra para isso?
 
PN: Tecnicamente, as regras são as mesmas para qualquer obra de arte. Profissionais qualificados, instrumentos adequados, matérias primas precisas e zelo, muito zelo durante o trabalho. Há também a parte espiritual, pois vale lembrar que a arte sacra não é meramente decorativa, mas sim uma forma de alcançar o sagrado. Em outras palavras, temos que entender que as pessoas vão interagir com esses objetos, vendo, sentindo e vivenciando neles verdadeiros sinais de Deus em suas vidas. Particularmente, durante meu trabalho, costumo ficar em oração, agradecendo a Deus por me permitir servi-Lo e rogando para que meu trabalho possa, por menor que seja, ser um auxílio na construção do Reino de Deus. Tenho plena consciência de que estou lidando com algo muito maior do que meu próprio entendimento pode atingir.
 
Existe algum modelo, estilo ou referência que caracterize a arte sacra?
 
PN: Não. Esse é um questionamento comum durante os cursos e palestras que ministro e talvez deva-se ao fato das pessoas ainda ligarem a Arte Sacra a algo antigo, pertencente a um outro tempo. A Igreja, inclusive, fez questão de frisar isso durante o Concílio Vaticano II, na constituição conciliar Sacrosanctum Concilium, onde diz que "a Igreja nunca considerou um estilo como próprio seu”. No documento, que traz um capítulo dedicado somente à arte sacra, a Igreja afirma respeitar e valorizar a arte de todas as épocas e todos os povos, bem como as exigências dos vários ritos litúrgicos. Incentiva ainda a arte de nosso tempo, mas adverte que a arte só é válida "desde que sirva com a devida reverência e a devida honra às exigências dos edifícios e ritos sagrados”.
 
O que compõe a arte sacra (música, moda, esculturas etc.)?
 
PN: Eis outra feliz pergunta. Há, é claro, aquilo que é clássico: pintura, escultura e música. Mas dentro deste contexto, há variáveis como o mobiliário, fundição de metais, o trabalho com as vestes sagradas, dentre outros. Hoje, com tantas novidades, sobretudo na arquitetura, projetos de iluminação e de design de móveis e objetos são exemplos de grandes parceiros para a arte sacra.
 
Qual foi a melhor época da arte sacra, para você? Por que?
 
PN: No oriente, desde o primeiro milênio, a arte sacra alcança seu potencial máximo através da iconografia bizantina. Uma verdadeira teologia em imagens tão sagrada que até hoje é a arte característica de todas as igrejas orientais, sejam católicas ou ortodoxas. No ocidente, vejo o gótico como o ápice do fazer artístico sacro. Realeza, leveza, pureza, claridade por todos os lados, linhas que nos fazer olhar para o alto e almejar o céu, enfim, a arte gótica é, no contexto ocidental, a arte sacra católica por excelência na minha opinião.
 
Quais religiões são as maiores produtoras de arte sacra?
 
PN: Praticamente todas as religiões possuem uma forte relação com a arte, pois o apelo visual e o simbolismo são elementos fortes na percepção humana. No catolicismo, assim como na ortodoxia oriental, a arte funde-se com a liturgia, a ponto de praticamente uma não existir sem a outra. Não é a toa que a Igreja pronuncia-se oficialmente sobre a arte sacra desde o segundo concílio de Nicéia, em 787 d.C. regulando a veneração às imagens e condenando os iconoclastas. Outras religiões, sobretudo as orientais, como o budismo, também utilizam da arte como elemento simbólico de suas crenças e de relação com suas divindades.
 
No seu artigo "O caráter sacro do design” você fala sobre a identificação de particularidades conceituais que definem a arte sacra. Que particularidades são essas?
 
PN: Tais particularidades estão ligadas às questões simbólicas dadas pela liturgia aos objetos sacros. Por exemplo: um altar é uma mesa? Sim, é uma mesa. Nele realiza-se o banquete pascal. Porém, neste banquete não se come qualquer alimento ou se ingere qualquer bebida. Comemos e bebemos verdadeiramente do Corpo e do Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, entregue por Amor na cruz para remissão de nossos pecados. Note que o altar, ainda que seja uma mesa, não é um mero apoio para que pessoas se alimentem, como as mesas de jantar comuns. O altar é então mesa de partilha, mas é sobretudo local de sacrifício, pois em cada Missa é atualizado o Santo Sacrifício de Cristo na cruz, pelas mãos do sacerdote, que age na pessoa de Cristo. Veja, analisando todo esse contexto, podemos compreender o porquê de um altar não poder ser visto como uma mesa qualquer. O artista deve então, na concepção de sua obra, trabalhar elementos que conduzam os fiéis à compreensão dessas realidades, para que algo tão divino como a liturgia não seja confundida com coisas comuns ou até mundanas.
 
Para realizar uma obra sacra é necessário utilizar um símbolo religioso, para caracterizá-la?
 
PN: Sempre. A arte sacra é sempre objetiva, quer sempre dizer algo concreto, quer sempre transmitir a mensagem evangélica. Qualquer obra, por mais bela que seja, mas que não tenha nenhum simbolismo relacionado à liturgia, não tem lugar dentro da Igreja. A igreja valoriza a arte "não sacra”, mas não pode dentro do espaço sagrado utilizar elementos que de alguma forma desviem o sentido e o olhar dos fiéis àquilo que é o centro da liturgia, que é o próprio Cristo na Eucaristia.
 
Saiba mais sobre Museu de Arte Sacra na reportagem de Paloma Maroni para a edição impressa da revista Ave Maria de março/2012
         Publicação original disponível AQUI.
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