Missa Pontifical na Forma Extraordinária do Rito Romano, durante a Jornada Mundial da Juventude Rio2013 |
Normalmente ouvimos
dizer que os jovens são rebeldes, querem “romper” com a tradição, que
consideram anacrônica e retrógrada. Talvez não seja bem assim, talvez o
jovem só rejeite o que não compreende.
Recentemente, uma jovem de
minha comunidade fez 15 anos, e teve uma festa de aniversário muito
bonita, estilo debutante, com direito a troca de vestidos, valsa, tudo o
que tem direito.
Essas festas, que surgiram como um rito de
passagem para as meninas, em que eram apresentadas à sociedade (e
estavam, a partir daí, disponíveis para serem paqueradas, namorarem e
casarem), são bem antigas, remontando, no Brasil, ao tempo de D. Pedro
I, e na Europa, segundo algumas fontes, anteriores à Revolução Francesa.
As tradições e o roteiro da festa pouco mudaram: a debutante
inicia a festa com um vestido mais delicado, mais infantil, para, à
meia-noite, aparecer com um vestido mais sofisticado, receber jóias das
mãos do pai, que também faz a troca dos sapatos por saltos altos, num
visual mais adulto. Depois é a hora da valsa com o pai, com o avô, o
irmão, o padrinho, enfim, a(s) figura(s) masculina(s) presente(s) em sua
vida, a primeira dança em um evento social.
Se na década de 80, o
“cool” era recusar a festa, trocando-a por um presente, uma viagem, ou
fazendo uma festa de aniversário simples, sem conotação de debutante
(meu caso), a partir da década de 90 as festas de debutantes ressurgiram
com força total. Algumas meninas chegavam a contratar cantores famosos
ou galãs de novela para dançar a valsa, e faziam questão de um
cerimonial completo.
Em 2013, a tradição das festas de debutante
está mais viva que nunca. As meninas tomam a frente das escolhas, ditam
como querem os vestidos, os sapatos, decidem qual será a valsa, enfim,
são pró-ativas, sem deixar de lado a tradição.
Os jovens – não só
as aniversariantes, mas também os seus amigos – compreendem os
elementos da tradição que lá estão: a passagem de “menina” para
“mulher”, nos sinais exteriores do vestido, jóias, sapatos; a valsa, o
destaque para a debutante, que é o centro das atenções da festa.
Apreciam-lhes a beleza e o significado, porque através de memórias,
fotos e da vivência, aprenderam a valorizar os ritos.
O que
consigo concluir de tudo isso é que tradição e juventude não se opõem. O
jovem é atraído pela beleza, ainda mais quando ela é plena de
significação. Se quando vivencia a tradição, lhe explicam o sentido dos
ritos, é capaz de lhes compreender a profundidade e de participar deles
com a correta disposição de alma.
Creio que com a
liturgia da Santa Missa não é diferente. Nossos jovens são perfeitamente
capazes de apreciar a beleza do rito tridentino, assim como compreender
o significado dos vários elementos da forma extraordinária. Sem dúvida,
poderão se beneficiar muito da vivência, “afinando” a sua sensibilidade
para o Sagrado e o transcendente.
Entendo que conhecer a forma
extraordinária do rito romano - a partir de um correto ponto de vista,
sem vínculos com grupos sectários - pode levar os jovens a uma melhor
compreensão do sentido sacrificial da Missa, e, posteriormente, trazendo
esta disposição de alma para a forma ordinária, podem os jovens
participar dela com maior reverência.
Ninguém ama o que não
conhece. Pais, Párocos, catequistas e coordenadores de grupos jovens,
não tenham medo de apresentar a Missa Tridentina aos seus jovens. Essa
Missa é um tesouro de nossa fé e identidade católica, da qual eles serão
os guardiões. Para que nossos jovens possam amar e assumir essa fé e
identidade, devemos providenciar que conheçam o que celebram.
A
Sagrada Liturgia diz respeito ao culto a Deus prestado pelo próprio
Jesus Cristo, e a Santa Missa é a própria história da salvação que se
desenrola diante de nós na celebração, já que nela se atualiza (torna
presente) tudo o que Deus realizou ao longo dos séculos para salvar os
homens. Cabe aqui, ainda, destacar as palavras da Constituição
Sacrosanctum Concilium: “Toda celebração litúrgica, enquanto obra de
Cristo e do seu corpo, que é a Igreja, é ação sacra por excelência”
(n.7).
Por fim, importante lembrar que, durante séculos, muitos
se santificaram por esta forma da Missa, inclusive São Padre Pio e Santa
Teresinha do Menino Jesus, santos tão populares entre nossos jovens
atualmente. Se corretamente instruídos e motivados, nossos jovens com
certeza têm tudo para abraçar a Sagrada Liturgia, conservando a
integridade dos ritos e seu desenvolvimento orgânico.
Então,
voltando à reflexão inicial, “tradição e juventude combinam?”, creio que
a resposta é: SIM! Nossos jovens são especiais, disseram o seu “sim” a
Cristo e à Igreja, querem plenitude de significação, do Sagrado, de
Graça. Cabe a nós apresentar a Liturgia Tradicional de maneira que o
jovem a conheça, compreenda e ame, transportando seus significados para a
vivência litúrgica e eclesial em sua paróquia.