A primeira parte deste texto está publicada neste link. Hoje publicamos a segunda. A terceira e a quarta (final) aparecerão nos próximos dois Sábados. Até lá, não deixe de visitar o Salvem a Liturgia, pois trazemos novidades diariamente.
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Na qualidade de ciência, a Liturgia tem seus cânones, suas leis, suas subdivisões, como todas as outras ciências, e particularmente como a teologia positiva, com a qual possui muitas afinidades, tanto por método como por objetivo. Ela se propõe, de fato, a estudar sistematicamente o culto cristão, ditinguindo e classificando as diferentes fórmulas litúrgicas de acordo com o tipo específico de cada família, ordenando-as de acordo com as diversas datas de redação, instituindo exames e comparações entre os diferentes tipos, a fim de descobrir nelas seu esquema de origem em comum. Somente assim é que se pode chegar a um tronco único das liturgias aparentemente irredutíveis, como, por exemplo, a romana, a galicana e a hispânica; e sem isto não se chegaria a compreender como a unidade do símbolo da Fé não teria como conseqüência imediata a unidade primitiva de sua expressão litúrgica. Ao contrário, estudos recentes e pesquisas minuciosas e pacientes descobriram em todas as liturgias, mesmo naquelas que se diferenciam muito umas das outras, um substrato comum. Às vezes um conceito idêntico se exprime por fórmulas rituais e numa linguagem completamente diferentes, mas não se pode mais duvidar que as liturgias orientais e ocidentais derivam, todas, de um tronco único, antiqüíssimo, que forma como a base e o ponto de apoio da unidade católica no culto eclesiástico.
Entre as fontes para o estudo da santa liturgia, umas são diretas, outras são indiretas. À primeira espécie pertencem as publicações antigas e recentes das anáforas orientais e os diferentes sacramentários latinos. Recentemente [NT: a edição que usamos do texto do beato é de 1925], o príncipe Maximiliano de Saxe empreendeu a publicação, em fascículos, de diversos textos das Missas orientais, siro-maronita, caldaica, grega, armênia, siríaco-antioquena, e não são escassos os bons estudos e comentários sobre quase todos os livros litúrgicos orientais editados até o presente.
Entre as fontes ocidentais, é preciso mencionar especialmente os sacramentários leonino, gelasiano e gregoriano; os Ordines Romani, o Missale gothicum, o galicano antigo e os livros litúrgicos moçárabes. Se nos damos conta de seu desenvolvimento cronológico e de suas relações etnográficas, podemos agrupá-los aproximadamente da seguinte maneira:
Fontes litúrgicas da era imediatamente posterior aos tempos apostólicos: Didaké, Primeira Epístola de São Clemente, Epístola de Santo Inácio
Século II: liturgias ocidentais, São Justino, fragmento latino palimpsesto de Verona, Tertuliano
Século III: Canones Hippolyti
Século IV: Liturgias:
1-) Orientais antioquenas:
Siríaca – catequeses de São Cirilo; constituições apostólicas; liturgia grega de São Tiago; liturgia siríaca de São Tiago; liturgia de São Basílio; litrugia de São João Crisóstomo (grega; armênia)
Nestoriana da Pérsia e da Mesopotâmia – anáfora de Bickell (século VI); liturgia dos Santos Adai e Mari; anáfora de Teodoro de Mopsuesto; de Nestório, etc.
2-) Alexandrina:
Eucologia de Serapion – liturgia grega de São Marcos.
Liturgias coptas – São Cirilo de Alexandria (liturgia abissínia; XII apóstolos); São Gregório de Nazianzo; São Basílio.
3-) Latinas:
Românica – milanesa (Áquila; Ravena); galicana; hispânica; céltica.
Este esquema apresenta exclusivamente as grandes linhas de classificação de diferentes famílias litúrgicas, e às vezes as aproximações não têm um valor exato, como quando se trata de fazer depender de Roma todas as outras liturgias latinas.
Os antigos sacramentários romanos merecem uma menção particular; estão às vezes bem longe de representar exatamente o estado da liturgia de Roma em seu período primitivo, pois quase todos sofreram, mais ou menos, retoques galicanos de adaptação local.