Nossos Parceiros

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Comentários do Pe. Clécio por ocasião da publicação da Universae Ecclesiae

Excelente reflexão do Pe. Clécio, de seu Oblatvs:

Foi publicada hoje a instrução Universae Ecclesiae (UE) da Pontifícia Comissão Ecclesia Dei sobre a aplicação da Constituição Apostólica Summorum Pontificum (SP) do Papa Bento XVI.

Volto então a um tema que suscita caloroso debate e dá azo a variadas conclusões: são o Missal de 1962 e o Missal de 1970 (e os demais Livros Litúrgicos) o mesmo e único Rito Romano?

Na Summorum Pontificum, Bento XVI afirma que são "dois usos do único Rito Romano" (art. 1º) e, na carta aos bispos que acompanha a constituição apostólica, diz que "não é apropriado" falar em dois ritos. Por outro lado, a própria existência da Summorum Pontificum denota o exato contrário. Se o Missal de 1970 é apenas um "uso mais recente" do Missal anterior, ele o teria ab-rogado, como o Missal de 1962 ab-rogou as edições anteriores do mesmo Missal. Se o Missal de 1970 não ab-rogou nunca o Missal anterior, como se afirma no mesmo artigo primeiro, é porque não é o mesmo Rito Romano.

Por que o documento parece contradizer-se?

Penso que estamos diante de duas categorias distintas, ainda que interrelacionadas: a litúrgica e a jurídica. No âmbito litúrgico é impossível afirmar que os dois missais sejam o mesmo Rito Romano. No plano canônico, já que a compreensão de rito não diz respeito apenas à liturgia, são o mesmo Rito Romano porque se encontram no seio da Igreja Romana.

Tudo indica que Paulo VI, que pretendia ab-rogar o Missal anterior, tinha uma compreensão equivocada de sua própria reforma. É provável que visse seu Missal como uma continuidade do anterior. Não é o que pensa Bento XVI, desde os tempos em que foi constituída uma comissão cardinalícia para julgar se os novos livros litúrgicos haviam ab-rogado os anteriores.

Temos assim, na Summorum Pontificum, um juízo sobre a reforma litúrgica. Reafirmando sua validade e licitude, Bento XVI afirma que a liturgia reformada foi somente em parte renovada. Daí que a reforma, no conjunto e nas partes, foi uma criação ex nihilo. Não é bastante, para que tenha havido continuidade, que o Missal de 1970 mantenha alguns elementos do Missal anterior.

É uma nova liturgia, válida e lícita, mas outra! É um Rito Romano, mas outro!

Há evidentemente semelhanças entre os dois ritos, mas semelhanças não fazem um de dois. O Rito Ambrosiano reformado, por exemplo, é bem semelhante ao Rito Romano reformado. São tão parecidos que, certa feita em Milão, eu mesmo não tive dificuldade para celebrar com o Missal Ambrosiano reformado; e são dois ritos distintos.

Os usos distintos de um mesmo Rito Romano são os antigos missais das ordens religiosas que, aliás, viram seu direito ser reestabelecido na Igreja com a Summorum Pontificum. Dois ou mais usos são perfeitamente coexistentes, já dois ritos são uma espécie de esquizofrenia litúrgica.

Por isso, urge uma verdadeira reforma dos livros de 1970, sobretudo do Missal, se os queremos de fato como mais um uso do mesmo Rito Romano. O próprio Papa Bento XVI acena para isto na carta aos bispos que acompanha a Summorum Pontificum, quando fala de enriquecimento recíproco. Também por isso o Papa Bento XVI expressa claramente seu desejo, na presente instrução, de que o Rito Romano antigo chegue a todos os fiéis, e não apenas a uns poucos saudosistas. Pede aos bispos, inclusive, que formem nas antigas formas litúrgicas os seminaristas. É uma tarefa imensa que se desenvolverá nas próximas décadas, sem os métodos e a precipitação que marcaram a última reforma.

Não penso que se deva esperar a ab-rogação do Rito Romano reformado. Há conquistas ali permanentemente estabelecidas, entre as quais o amplo uso do vernáculo. Mas não se pode considerar intocável um Rito de apenas 40 anos, quando não se poupou um outro de 1500 anos! Seria até curioso assistir a certos bispos e padres rasgando as vestes diante de algumas primeiras correções do Rito de Paulo VI, defendendo seu patrimônio de uns poucos anos.

blog comments powered by Disqus
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Parceiros