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quinta-feira, 7 de junho de 2012

A adoração eucarística é uma invenção medieval?



Alguns teólogos sustentam que o suposto desvirtuamento da crença eucarística no segundo milênio da era cristã fez com que a Hóstia e o vinho consagrados fossem guardados longe do povo em armários chamados sacrários. É bem verdade que os receptáculos para armazenar a Sagrada Eucaristia, que hoje chamamos de sacrário ou tabernáculo, mudou de forma, material e local conforme os tempos, mas sempre teve o mesmo propósito: o de guardar a Santíssima Eucaristia em locais seguros e dignos.[1]  

O zelo pela Eucaristia era o motivo pela qual os primeiros cristãos muitas vezes calavam ou ocultavam suas celebrações dos pagãos e dos catecúmenos (aos quais era permitido assistirem somente a Liturgia da Palavra): evitar que o conhecimento do mistério eucarístico pelos inimigos da Igreja causasse profanações e sacrilégios contra o santíssimo dom do Corpo e Sangue de Cristo. As espécies eucarísticas eram objeto de adoração direta já nos primeiros séculos da Igreja. Temos o testemunho das disposições de um bispo de Corinto, escritas antes da Pax Constantiniana (313) e recolhidas nos estudos litúrgicos do Cardeal De Bona que permitem a comunhão em casa (haja vista ser difícil pelas circunstâncias das perseguições que todos os fiéis conseguissem tomar parte nas celebrações eucarísticas). O mencionado texto dispõe que o fiel deposite a Eucaristia em um altar (ou mesa comum com toalha, caso não haja oratório em casa), queime incenso, cante o Trisagion (a oração “Santo Deus, Santo Poderoso, Santo Imortal, tende piedade de nós!”), recite o Credo, ajoelhe e, somente depois destes gestos de clara adoração, poderia então comungar do Corpo de Cristo.[2] 

A Liturgia da Igreja sempre procurou incrementar os gestos, palavras e demais elementos externos que pudessem colocar em evidência a presença real de Jesus no pão e no vinho consagrados. E foi com esse propósito que a Igreja instituiu a festa de Corpus Christi no século XIII.[3]

Desde os primeiros séculos da Igreja, os escritos buscavam realçar a identidade do corpo eucarístico com o corpo de Jesus, que padeceu na cruz.[4] Assim, Cristo está inteiramente presente nas espécies eucarísticas, inclusive com seu corpo e sangue que assumiu ao tomar natureza humana e que foi glorificado em Sua Ressurreição. Devemos, pois evitar a tese de certos teólogos de uma presença vaga e indefinida de Cristo na celebração eucarística, relegando à Eucaristia o aspecto de mera refeição de pacto entre amigos. A Eucaristia é um banquete sacrifical, na qual o pão e vinho transformados no próprio Cristo substituem o cordeiro pascal da Antiga Aliança. Verdadeiro Sacrifício, Sacrifício perfeito. Os ditos teólogos acusam-nos de termos uma crença em uma presença meramente biológica de Cristo na Eucaristia, dizendo que o vocábulo "corpo" usado nos Evangelhos significa a totalidade da Pessoa de Cristo. Ora, se Ele está presente com toda a Sua Pessoa na Eucaristia, não pode estar separado de Seu Corpo glorioso ressuscitado.

Neste Corpus Christi, renovemos nossa fé em que, debaixo das frágeis aparências do pão e do vinho está o próprio Jesus Cristo: o mesmo Jesus que nasceu em Belém sob o reinado de Herodes, que viveu e pregou na Palestina, que padeceu e foi crucificado sob Pôncio Pilatos, que ressucitou dos mortos, que subiu aos Céus com Seu Corpo Glorioso e está sentado à Direita do Deus Pai Todo-Poderoso.


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Notas de Referência:

[1] Para mais informações sobre a História do Sacrário, vide: DIEHL, Rafael de Mesquita. A História e o sentido do Sacrário na Liturgia. In: http://www.salvemaliturgia.com/2010/07/historia-e-sentido-do-sacrario-na.html

[2] “O cardeal Bona, em seu Rerum liturgicarum, no nº 17, cita o texto das disposições emitidas por um bispo de Corinto, que permitem conhecer o rito de uma comunhão doméstica. “Se vossa casa for dotada de um oratório, depositareis sobre o altar o vaso que contém a Eucaristia. Se faltar o oratório, sobre uma mesa decente. Estendereis um pequeno véu sobre a mesa e lá depositareis as sagradas partículas; queimareis alguns grãos de incenso e cantareis o trisagion [o nosso Sanctus, ndr.] e o Símbolo; então, depois de terdes feito as genuflexões, em sinal de adoração, absorvereis religiosamente o Corpo de Jesus Cristo”.” PIACENZA, Mauro. O receptáculo da Eucaristia. In: Revista 30 Dias. Junho de 2005. In: http://www.30giorni.it/articoli_id_9093_l6.htm?id=9093

[3] "Embora a Eucaristia seja celebrada solenemente todos os dias, na nossa opinião é justo que, pelo menos uma vez por ano, se lhe reserve mais honra e solene memória. Com efeito, as outras coisas que comemoramos, compreendemo-las com o espírito e com a mente, mas não por isso alcançamos a sua presença real. Ao contrário, nesta comemoração sacramental de Cristo, ainda que seja de outra forma, Jesus Cristo está presente no meio de nós na sua própria substância. Com efeito, quando estava prestes a subir ao Céu, Ele disse: “Eis que Eu estou convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (Mt 28, 20)" URBANO IV, Papa. Bula Transiturus de hoc mundo. 11 de agosto de 1264. Citado em: http://www.pt.josemariaescriva.info/artigo/porquea-a-festa-do-corpo-de-deus3f

[4] Este texto do Pe. Wagner recolhe diversas citações de várias épocas sobre a Eucaristia como presença real de Cristo: http://pewagner.blogspot.com.br/2010/04/eucaristia-pao-da-vida-em-deus.html


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