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quarta-feira, 27 de março de 2013

Latim e Atabaque


Nos três vídeos que se seguem podemos ver um belo exemplo de inculturação. Antes, contudo, é necessária uma breve contextualização. Os Missionários de Nossa Senhora da África, mais conhecidos como Padres Brancos, foram fundados pelo Cardeal Lavigerie com o intuito de evangelizar o continente africano. O Fundador, até como reflexo da sua estima pelos ritos orientais, levava em consideração as facetas culturais próprias dos povos evangelizados. Historicamente os Padres Brancos sempre foram liturgicamente flexíveis, sem que isso fosse visto como sinônimo de banalização da celebração. Muitos deles celebram em outras formas, como no rito malabar, no rito copta-etíope, no rito bizantino etc. 

Na África houve a necessidade de se adaptar alguns aspectos acidentais da celebração à sensibilidade típica. É importante destacar, entretanto, que esse processo de amadurecimento litúrgico não pode ser visto como uma negociação. O que está em jogo é a centralidade do mistério celebrado e, ao mesmo tempo, a milenar sabedoria da Igreja ao tratar das normas que regem a liturgia. Foi assim que os Padres Brancos começaram a introduzir instrumentos típicos africanos na Santa Missa, já bem antes do Concílio Vaticano II, sem que os ritmos distorcessem o ethos próprio.


Ademais, é importante destacar que nessa discussão a respeito da inculturação estamos tratando da cultura em seu aspecto mais essencial, isto é, como fundamento do modo como o homem se relaciona consigo e com o outro. Vale destacar, além disso, que o processo de adaptação cultural na liturgia, usando da chave de leitura apontada pela fenomenologia das religiões, parte da força simbólica de expressões do sagrado. Por isso que, para exemplificar, as palmas que em certas tribos africanas estão acrescidas de um marca sacral, no Brasil não passam de um gesto banal e cotidiano. O mesmo vale para instrumentos, como a percussão em geral. 


Tendo em vista todo esse o processo, os cantos em latim acompanhados de ritmos africanos, como os que podem ouvir nesses vídeos, são expressões singulares da inculturação. Não apenas existe um natural processo de inter-relação cultural entre os povos locais e os missionários estrangeiros, mas há,e muito principalmente, a elevação da cultura local em Cristo. Destarte, a inculturação não pode ser dissociada do reconhecimento das sementes do Verbo.


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